Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
O início de um novo ano costuma ser saudado com a louvação da modernidade, as previsões sobre assuntos variados e a projeção de estatísticas futuras com base nos números do ano que se encerra. Nesta primeira semana de janeiro, porém, a sombra de uma crise internacional impõe um clima diferente daquele que marcou a inauguração de 2011.
Há um ano, os jornais destacavam, com alguma estranheza, que os brasileiros eram o segundo povo mais otimista do mundo, entre 53 países pesquisados. Afinal, diziam os especialistas, o Brasil não escaparia das consequências da crise que já se instalava no hemisfério norte. Mas o mercado interno aquecido garantia a sensação de bem-estar e a esperança de um ano bom.
Neste começo de 2012, os futurólogos andam cautelosos. Segundo o Estado de S.Paulo de terça-feira (3/1), diante do cenário internacional complicado, nem mesmo o governo se arrisca a fazer adivinhações, especialmente no setor de exportações.
Aposta errada
O país fechou o ano com um acréscimo de US$ 63 bilhões em suas reservas, que agora totalizam US$ 352 bilhões, mantendo o 11º ano consecutivo de aumento na acumulação de moeda estrangeira, como forma de se garantir em caso de maiores turbulências no cenário global.
Esse dado é relevante para os especialistas que alimentam o planejamento estratégico de empresas, investidores e gestores públicos. Principalmente quando se tem uma percepção mais clara do estilo do governo.
Em agosto passado, quando o Banco Central inverteu a política de juros, surpreendendo os analistas, a imprensa constatou que há uma estratégia clara na condução da economia, e que as medidas emergenciais não representam necessariamente mudança de rumo. Talvez por essa razão, pode-se notar uma alteração na abordagem dos especialistas nos últimos meses do ano, em relação aos textos do primeiro semestre.
Mais do que especular, os analistas passaram a tentar entender as ações de curto prazo, como as medidas de incentivo à produção nacional de automóveis. Os setores industriais que ficaram amarrados pelas previsões mais pessimistas acabaram perdendo oportunidades.
Embora os números da produção industrial de 2011 ainda não tenham sido divulgados, dados preliminares indicam que, ao apostar num crescimento muito tímido do Produto Interno Bruto, a indústria acabou inibindo investimentos e perdendo oportunidades de receita.
Validade vencida
O Globo destaca que o comércio exterior bateu todas as expectativas e marcou novo recorde em 2011. Segundo o Estado de S.Paulo, esse foi um dos quesitos em que os analistas mais erraram nas previsões feitas há um ano. A aposta para o superávit comercial foi tímida – em torno de US$ 8 bilhões – e o ano terminou com um número quatro vezes maior, de quase US$ 30 bilhões.
O investimento estrangeiro direto foi outro item do desempenho da economia nacional em que os analistas erraram feio, por excesso de conservadorismo: em janeiro de 2011, a média prevista pelos especialistas era de um total de US$ 39,5 bilhões para os doze meses seguintes – e encerramos o ano com um número 60% superior, ou seja, os investidores estrangeiros apostaram US$ 63 bilhões no Brasil. Como diz o Estadão, “a realidade ganhou de goleada do mercado financeiro em 2011”.
Se os principais especialistas, aqueles que orientam as decisões do mercado, erram tanto, por que razão, todo início de ano, se arma o circo de apostas? Além disso, sabe-se que os orçamentos das empresas para o ano que se inicia já estão prontos desde outubro do ano anterior e que as previsões de janeiro têm pouca ou nenhuma influência nas escolhas dos gestores.
A resposta está na própria imprensa: há muito tempo o noticiário econômico vem sendo influenciado por um viés político que distorce a informação técnica. Além disso, persiste na maioria dos analistas uma visão parcial da economia, que não leva em conta certos fatores pouco tangíveis.
Um desses elementos é o chamado humor do mercado, ou seja, a disposição que os agentes econômicos manifestam para correr risco ou poupar recursos. Outro aspecto pouco considerado é a influência cada vez maior de elementos extraeconômicos no desempenho da economia – como, por exemplo, os fatores climáticos ou o estado de espírito de grupos sociais.
Numa sociedade altamente conectada, como é o ambiente em que vivemos, o analista precisa enxergar não apenas o aspecto linear das relações sociais e econômicas, mas também o conjunto das conexões e o todo da grande rede social.
Mas o mais provável é que a imprensa que conhecemos, por sua linguagem e seu formato limitados, não seja capaz de interpretar a complexidade do mundo contemporâneo.
O início de um novo ano costuma ser saudado com a louvação da modernidade, as previsões sobre assuntos variados e a projeção de estatísticas futuras com base nos números do ano que se encerra. Nesta primeira semana de janeiro, porém, a sombra de uma crise internacional impõe um clima diferente daquele que marcou a inauguração de 2011.
Há um ano, os jornais destacavam, com alguma estranheza, que os brasileiros eram o segundo povo mais otimista do mundo, entre 53 países pesquisados. Afinal, diziam os especialistas, o Brasil não escaparia das consequências da crise que já se instalava no hemisfério norte. Mas o mercado interno aquecido garantia a sensação de bem-estar e a esperança de um ano bom.
Neste começo de 2012, os futurólogos andam cautelosos. Segundo o Estado de S.Paulo de terça-feira (3/1), diante do cenário internacional complicado, nem mesmo o governo se arrisca a fazer adivinhações, especialmente no setor de exportações.
Aposta errada
O país fechou o ano com um acréscimo de US$ 63 bilhões em suas reservas, que agora totalizam US$ 352 bilhões, mantendo o 11º ano consecutivo de aumento na acumulação de moeda estrangeira, como forma de se garantir em caso de maiores turbulências no cenário global.
Esse dado é relevante para os especialistas que alimentam o planejamento estratégico de empresas, investidores e gestores públicos. Principalmente quando se tem uma percepção mais clara do estilo do governo.
Em agosto passado, quando o Banco Central inverteu a política de juros, surpreendendo os analistas, a imprensa constatou que há uma estratégia clara na condução da economia, e que as medidas emergenciais não representam necessariamente mudança de rumo. Talvez por essa razão, pode-se notar uma alteração na abordagem dos especialistas nos últimos meses do ano, em relação aos textos do primeiro semestre.
Mais do que especular, os analistas passaram a tentar entender as ações de curto prazo, como as medidas de incentivo à produção nacional de automóveis. Os setores industriais que ficaram amarrados pelas previsões mais pessimistas acabaram perdendo oportunidades.
Embora os números da produção industrial de 2011 ainda não tenham sido divulgados, dados preliminares indicam que, ao apostar num crescimento muito tímido do Produto Interno Bruto, a indústria acabou inibindo investimentos e perdendo oportunidades de receita.
Validade vencida
O Globo destaca que o comércio exterior bateu todas as expectativas e marcou novo recorde em 2011. Segundo o Estado de S.Paulo, esse foi um dos quesitos em que os analistas mais erraram nas previsões feitas há um ano. A aposta para o superávit comercial foi tímida – em torno de US$ 8 bilhões – e o ano terminou com um número quatro vezes maior, de quase US$ 30 bilhões.
O investimento estrangeiro direto foi outro item do desempenho da economia nacional em que os analistas erraram feio, por excesso de conservadorismo: em janeiro de 2011, a média prevista pelos especialistas era de um total de US$ 39,5 bilhões para os doze meses seguintes – e encerramos o ano com um número 60% superior, ou seja, os investidores estrangeiros apostaram US$ 63 bilhões no Brasil. Como diz o Estadão, “a realidade ganhou de goleada do mercado financeiro em 2011”.
Se os principais especialistas, aqueles que orientam as decisões do mercado, erram tanto, por que razão, todo início de ano, se arma o circo de apostas? Além disso, sabe-se que os orçamentos das empresas para o ano que se inicia já estão prontos desde outubro do ano anterior e que as previsões de janeiro têm pouca ou nenhuma influência nas escolhas dos gestores.
A resposta está na própria imprensa: há muito tempo o noticiário econômico vem sendo influenciado por um viés político que distorce a informação técnica. Além disso, persiste na maioria dos analistas uma visão parcial da economia, que não leva em conta certos fatores pouco tangíveis.
Um desses elementos é o chamado humor do mercado, ou seja, a disposição que os agentes econômicos manifestam para correr risco ou poupar recursos. Outro aspecto pouco considerado é a influência cada vez maior de elementos extraeconômicos no desempenho da economia – como, por exemplo, os fatores climáticos ou o estado de espírito de grupos sociais.
Numa sociedade altamente conectada, como é o ambiente em que vivemos, o analista precisa enxergar não apenas o aspecto linear das relações sociais e econômicas, mas também o conjunto das conexões e o todo da grande rede social.
Mas o mais provável é que a imprensa que conhecemos, por sua linguagem e seu formato limitados, não seja capaz de interpretar a complexidade do mundo contemporâneo.
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