Marcos Coimbra: Os mensalões, um comparativo
Fonte: Carta Capital
Por coincidência, justamente quando o julgamento do mais famoso “mensalão”, que alguns chamam “do PT”, foi marcado, a Procuradoria-Geral da República encaminhou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) sua denúncia contra os acusados de outro, o “mensalão do DEM” do Distrito Federal.
Processos contra os 40 réus do chamado mensalão. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Trata-se mesmo de um acaso, pois a única coisa que os dois compartilham é o nome. Equivocado por completo para caracterizar o primeiro e inadequado para o segundo.
Naquele “do PT”, nada foi provado que sugerisse haver “mensalão”, na acepção que a palavra adquiriu em nosso vocabulário político: o pagamento de (gordas, como indica o aumentativo) propinas mensais regulares a parlamentares para votar com o governo. No outro, essa é uma das partes menos importante da história.
Alguns acham legítimo – e até bonito – empregar a expressão como sinônimo genérico de “escândalo” ou “corrupção”, mas isso só distorce o entendimento. O que se ganha ao usar mal o português? No máximo, contundência na guerra ideológica. Chamar alguma coisa de “mensalão” (ou adotar neologismos como “mensaleiro”) tornou-se uma forma de ofender.
Fora o nome errado igual, os dois são diferentes.
Ninguém olha o “mensalão” de Brasília como se tivesse significado especial. É somente, o que não quer dizer que seja pouco, um caso de agentes políticos e funcionários públicos, associados a representantes de empresas privadas, suspeitos de irregularidades.
Por isso, se o STJ acolher a denúncia, o processo terá tramitação normal. Sem cobranças para que ande celeremente. Sem que seja pintado com cores mais fortes que aquelas que já possui. Sem que se crie em seu torno um clima de “julgamento do século” ou sequer do ano.
É provável que aconteça com ele o mesmo que com outro mais antigo, o “mensalão do PSDB”. Esse, que alguns dizem ser o “pai de todos”, veio a público no mesmo período daquele “do PT”, mas avança em câmera lenta. Está ainda na fase de instrução, sem qualquer perspectiva de julgamento.
Por que o que afeta o PT é mais importante?
A resposta é óbvia: porque atinge o PT. Se os “mensalões” da oposição são tratados como secundários e se outros são irrelevantes (como os que a toda hora são noticiados em estados e municípios), deveria existir no do PT algo que justifique tratamento diferente.
Há quem responda com uma frase feita, tão difundida, quanto vaga: seria o “maior escândalo da história política brasileira”. Repetida como um mantra pelos adversários do PT, não é substanciada por nenhuma evidência, mas circula como se fosse verdade comprovada.
“Maior” em que sentido? Os recursos públicos movimentados seriam maiores? Mais gente estaria envolvida?
É difícil para quem lê as alegações finais do Ministério Público Federal (MPF) compreender o montante que em sua opinião teria sido desviado e como. O documento é vago e impreciso em algo tão fundamental.
Essa indefinição pode ser, no entanto, positiva: deixa a imaginação livre. Qualquer um pode inventar o valor que quiser.
O “mensalão do DEM”, ao contrário, tem tamanho especificado: 110 milhões de reais. Nele, o MPF não se confundiu com as contas.
Se o critério para considerar maior o petista for a quantidade de envolvidos, temos um curioso empate: dos 40 acusados originais, número buscado pelo MPF apenas por seu simbolismo, restam 37, tantos quanto os denunciados no escândalo de Brasília.
E há diferenças notáveis. No “mensalão do DEM”, os agentes públicos foram citados por desviar dinheiro para enriquecimento pessoal, o que, em linguagem popular, significa roubar. No “do PT”, nenhum.
De um lado, valores certos, acusados em número real, motivações inaceitáveis. Do outro, o oposto.
Quando o procurador-geral declarou que “a instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso para a compra de votos dentro do Congresso Nacional”, esqueceu que nem sequer uma linha de suas alegações o demonstrou. Arrolou 12 deputados (quatro do PT), que equivalem a 2% da Câmara, número insuficiente para sequer presumir que houvesse “um esquema de cooptação de apoio político”, a menos que inteiramente inepto.
No caso de Brasília, nada está fantasiado, é tudo visível, o que não significa que tenha sido provado de forma juridicamente correta.
No fundo, essa é a questão e a grande diferença entre os dois. Quando a hora chegar, o “mensalão do DEM” deverá, ao que tudo indica, ser analisado de maneira técnica. Se o “do PT” o fosse, pouco da acusação se sustentaria.
Tomara que os ministros do STF consigam independência para julgá-lo de maneira isenta, livres das pressões dos que exigem veredictos condenatórios.
http://www.cartacapital.com.br/politica/os-mensaloes-um-comparativo/#.T_mec1TmoHw.facebook
Naquele “do PT”, nada foi provado que sugerisse haver “mensalão”, na acepção que a palavra adquiriu em nosso vocabulário político: o pagamento de (gordas, como indica o aumentativo) propinas mensais regulares a parlamentares para votar com o governo. No outro, essa é uma das partes menos importante da história.
Alguns acham legítimo – e até bonito – empregar a expressão como sinônimo genérico de “escândalo” ou “corrupção”, mas isso só distorce o entendimento. O que se ganha ao usar mal o português? No máximo, contundência na guerra ideológica. Chamar alguma coisa de “mensalão” (ou adotar neologismos como “mensaleiro”) tornou-se uma forma de ofender.
Fora o nome errado igual, os dois são diferentes.
Ninguém olha o “mensalão” de Brasília como se tivesse significado especial. É somente, o que não quer dizer que seja pouco, um caso de agentes políticos e funcionários públicos, associados a representantes de empresas privadas, suspeitos de irregularidades.
Por isso, se o STJ acolher a denúncia, o processo terá tramitação normal. Sem cobranças para que ande celeremente. Sem que seja pintado com cores mais fortes que aquelas que já possui. Sem que se crie em seu torno um clima de “julgamento do século” ou sequer do ano.
É provável que aconteça com ele o mesmo que com outro mais antigo, o “mensalão do PSDB”. Esse, que alguns dizem ser o “pai de todos”, veio a público no mesmo período daquele “do PT”, mas avança em câmera lenta. Está ainda na fase de instrução, sem qualquer perspectiva de julgamento.
Por que o que afeta o PT é mais importante?
A resposta é óbvia: porque atinge o PT. Se os “mensalões” da oposição são tratados como secundários e se outros são irrelevantes (como os que a toda hora são noticiados em estados e municípios), deveria existir no do PT algo que justifique tratamento diferente.
Há quem responda com uma frase feita, tão difundida, quanto vaga: seria o “maior escândalo da história política brasileira”. Repetida como um mantra pelos adversários do PT, não é substanciada por nenhuma evidência, mas circula como se fosse verdade comprovada.
“Maior” em que sentido? Os recursos públicos movimentados seriam maiores? Mais gente estaria envolvida?
É difícil para quem lê as alegações finais do Ministério Público Federal (MPF) compreender o montante que em sua opinião teria sido desviado e como. O documento é vago e impreciso em algo tão fundamental.
Essa indefinição pode ser, no entanto, positiva: deixa a imaginação livre. Qualquer um pode inventar o valor que quiser.
O “mensalão do DEM”, ao contrário, tem tamanho especificado: 110 milhões de reais. Nele, o MPF não se confundiu com as contas.
Se o critério para considerar maior o petista for a quantidade de envolvidos, temos um curioso empate: dos 40 acusados originais, número buscado pelo MPF apenas por seu simbolismo, restam 37, tantos quanto os denunciados no escândalo de Brasília.
E há diferenças notáveis. No “mensalão do DEM”, os agentes públicos foram citados por desviar dinheiro para enriquecimento pessoal, o que, em linguagem popular, significa roubar. No “do PT”, nenhum.
De um lado, valores certos, acusados em número real, motivações inaceitáveis. Do outro, o oposto.
Quando o procurador-geral declarou que “a instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso para a compra de votos dentro do Congresso Nacional”, esqueceu que nem sequer uma linha de suas alegações o demonstrou. Arrolou 12 deputados (quatro do PT), que equivalem a 2% da Câmara, número insuficiente para sequer presumir que houvesse “um esquema de cooptação de apoio político”, a menos que inteiramente inepto.
No caso de Brasília, nada está fantasiado, é tudo visível, o que não significa que tenha sido provado de forma juridicamente correta.
No fundo, essa é a questão e a grande diferença entre os dois. Quando a hora chegar, o “mensalão do DEM” deverá, ao que tudo indica, ser analisado de maneira técnica. Se o “do PT” o fosse, pouco da acusação se sustentaria.
Tomara que os ministros do STF consigam independência para julgá-lo de maneira isenta, livres das pressões dos que exigem veredictos condenatórios.
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Os segredinhos encomendados da colunista da Folha
A colunista Eliane Cantanhêde revela segredinhos da presidenta Dilma Rousseff em sua coluna “Sem paixão” de domingo, 8 de julho. Ninguém sabia, até esta altura, que ela era a confidente de Dilma. Revelar segredos tão importantes, que só se desvelam entre quatro paredes, sem filmagens secretas nem grampos dissimulados, só para os muito íntimos. Não consta que Eliane seja carne e unha da presidenta.Mas não é nenhum segredo fechado o que desvenda Cantanhêde quando diz que “Dilma trabalha seriamente com a possibilidade de derrota de ... Hugo Chávez na Venezuela, neste ano”. E argumenta: “Com Chávez, há duas questões para além da economia. Ao cercar o câncer de mistério, sua imagem tão forte passa a refletir fragilidade”. Ora, nem tão cercada de mistério está a enfermidade de Chávez, que ele mesmo tornou pública com bastante detalhe, nem sua imagem está enfraquecida.Fisicamente, o sociólogo argentino Atílio Borón, presente no Foro de São Paulo há pouco levado a cabo em Caracas, num amplo relato afirmou que Chávez demonstrou em seu discurso e manifestações pessoais que carrega suficiente energia para enfrentar os ossos do ofício de presidente e a carga da disputa eleitoral, apesar de o âncora da televisão norte-americana, Dan Rather ter lhe dado há pouco, com base em fontes altamente fidedignas, não mais que dois meses terminais. Já se passaram quatro.Politicamente, nada mostra que a doença o tenha enfraquecido. Georges Pompidou e François Mitterrand passaram os mandatos escondendo seus cânceres, apenas filtrados por segredinhos da imprensa, e não consta que tenham perdido relevância.A malícia do segredinho revelado de Cantanhêde se completa na frase “E, pela primeira vez desde 1999, a oposição cerrou fileiras com uma candidatura, a de Henrique Capriles. Chávez passou a conviver com uma novidade: um opositor para valer.”O grande objetivo da oligarquia, das forças reacionárias, da direita de nosso continente, apoiadas nos grandes meios de comunicação, para os próximos 90 dias, é a derrota de Chávez. Ao crescimento das forças democráticas, populares, progressistas e de esquerda na América Latina e Caribe, a direita e o imperialismo respondem de diversas formas, dentre outras com a agressão sistemática pelo governo de Estados Unidos, a manipulação e criminalização das demandas sociais, para gerar enfrentamentos violentos e uma contra-ofensiva golpista. O objetivo do império, a longo prazo, é controlar os recursos naturais. Não há outro continente que não a América do Sul a ostentar tantos e tão diversos recursos naturais - petróleo, água, biodiversidade ... - fundamentais para o desenvolvimento energético, industrial e agroalimentar. A contra-ofensiva estratégica de Washington é liquidar com Chávez porque ele é a grande liderança hoje das forças democráticas, progressistas, populares e de esquerda na defesa da soberania, independência e integração das nações latino-americanas e do Caribe.Ante a iminente possibilidade de derrota eleitoral, a oposição venezuelana, respaldada pelos grandes meios de comunicação locais e internacionais, passaram a desatar uma intensa campanha, apelando a todo tipo de recursos, que incluem atos de violência e de desestabilização, mas também circunlóquios sibilinos não para defender um resultado altamente improvável – a vitória de Capriles – e sim para contar na hora da verdade com o argumento da denúncia de fraude.O governo brasileiro, levando em conta os interesses legítimos do Brasil, sua política em favor da integração das nações latino-americanas, na defesa das recentes conquistas das massas de trabalhadores de nossa região, da nossa soberania e independência, está sim interessado – e muito – no resultado eleitoral de 7 de outubro na Venezuela. Para Dilma não “tanto faz como tanto fez”.Felizmente, a consciência política da grande maioria do povo venezuelano permite prever uma nova, crucial e histórica vitória para as forças progressistas.
Max Altman – 09 julho 2012Gráfico publicado pelo prestigioso Instituto Venezolano de Análisis de Datos (IVAD) em 08 de julho
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