Administrações de partidos tão distintos quanto PSDB, PT e PMDB nos níveis federal, estadual e municipal, uniram-se em um só discurso para enfrentar manifestações contra o aumento do preço das passagens do transporte público nas capitais.
Em São Paulo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad adotaram um discurso único, sempre negando qualquer possibilidade de capitulação frente aos protestos.
Enquanto isso, a mídia adotou um discurso razoavelmente equilibrado em relação a governos de todos os partidos, inclusive do PT.
Os conflitos entre polícia e manifestantes se espalharam por várias cidades de distintas regiões do país na última quinta-feira. E, apesar de os manifestantes terem reduzido o nível de depredações nesta última rodada de ações, a polícia aumentou a violência da repressão.
Aparentemente, a imagem de um policial ferido por manifestantes em São Paulo predispôs as polícias, sobretudo desse Estado, a agirem com maior violência e, nesta quinta-feira, a repressão foi exponencialmente mais dura.
Nesse processo, impressiona o número de jornalistas vitimados por aparatos como bombas de efeito moral, balas de borracha etc.
A cena de uma jornalista com um olho ferido, sentada no chão, correu a internet e provocou manifestações de sindicatos de jornalistas e até da Anistia Internacional, que condenou a violência dos manifestantes mas fez exortações às autoridades brasileiras para que moderem a repressão.
As redes sociais, por sua vez, induzem percepção que está fazendo militantes e expoentes dos partidos ligados ao movimento insurrecional exultarem. Contudo, podem ser manifestações equivocadas, iludidas por correntes na internet que não traduzem o sentimento popular.
No início do ato de São Paulo, o ex-candidato a presidente pelo PSOL Plínio Arruda Sampaio foi um dos raros políticos que se misturaram aos manifestantes, sendo recebido por estes com com ovações. Contudo, os manifestantes não podem ser confundidos com a coletividade.
Saindo do universo dos partidos de esquerda nas redes sociais e do caudaloso braço deles que está nas ruas tentando paralisar capitais, o que se vê nas ruas se coaduna com a percepção dos diversos níveis de governo que se deram as mãos contra os protestos.
Que ninguém se engane: a postura de políticos de variadas tendências de rejeitar capitulação diante dos protestos se coaduna com o desejo da maioria, que está assustada. Do contrário, já teriam cedido.
Entre cidadãos menos engajados – que são a grande maioria –, o que mais se ouve nas ruas são opiniões de que “Há algo estranho em tudo isso” e queixas contra os protestos, ainda que com ressalvas quanto à justeza da causa brandida pelos manifestantes.
A visão dessa maioria silenciosa, amedrontada com as cenas de guerra que se espalharam pelas cidades, portanto, reflete-se nas posturas homogêneas de políticos tão distintos quanto José Eduardo Cardozo, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad.
Vale notar que quem está acostumado com as redes sociais percebe que, entre os defensores dos protestos, não há apenas militantes de partidos que estão insuflando as manifestações – PSOL, PSTU e PCO.
Há muitos militantes petistas irmanados a militantes dos partidos que pretensamente estariam se beneficiando politicamente dos confrontos e que, com estes, tecem duras críticas, por exemplo, ao prefeito Fernando Haddad.
O governador do Rio e o de São Paulo, o prefeito da capital paulista e o ministro da Justiça, entre outras autoridades, não estão adotando um discurso tão homogêneo à toa. É certeza absoluta que não estão se suicidando politicamente.
Correm especulações de que esses políticos teriam dados que comprovam que a maioria se voltou contra um movimento que, inicialmente, desfrutou de grande apoio.
Apesar disso, a situação dos governadores e prefeitos das capitais atingidas pelos protestos, é delicada. As forças de repressão começam a demonstrar que estão psicologicamente afetadas pelo caráter interminável dos confrontos.
E estamos falando de forças armadas até os dentes…
Por outro lado, governos estaduais, municipais e até a união vão se vendo em um impasse, pois o movimento insurrecional não parece disposto a parar, denotando organização centralizada.
Já os governos, não têm mais como retroagir. Reduzir o preço das passagens iria desmoralizá-los, retirando o apoio que parecem acreditar ter entre a maioria silenciosa e amedrontada.
E apesar de governadores, prefeitos e até o ministro da Justiça estarem atribuindo caráter político ao movimento, até aqui não há certeza ou provas. E mesmo que a PF, que está entrando no caso, identifique motivações políticas, é inegável que há uma massa de manobra agindo de boa-fé.
Há o temor, portanto, de que o movimento insurrecional esteja almejando um desfecho muito específico e que teria o condão de converter uma imagem que acabou ficando negativa em imagem positiva.
Vai se solidificando, assim, uma certeza: é questão de tempo para que surja a primeira vítima fatal desses confrontos. Surgindo, o movimento insurrecional será beneficiado e os governos que resistem a ceder se verão fragilizados.
Com toda a carga dramática que a premissa encerra, a certeza é uma só: o que certamente reduzirá o preço das passagens, a esta altura do campeonato, será um cadáver, o qual, instantaneamente, transformar-se-á em mártir.
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