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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Messianismo, fundamentalismo religioso e poder para o mercado financeiro

Dilma fuzila os operadores de mercado de Marina: "É absolutamente inacreditável que alguém proponha reduzir o papel dos banco públicos"

O Jornal da Globo, cuja audiência se equipara à relevância de seu jornalismo, resolveu sair do anonimato 'denunciando' a ausência de Dilma em entrevista desta 3ª feira. Em tempo: a assessoria de Dilma avisou 4 dias antes que a candidata não compareceria

Globo admite que Dilma desmarcou a entrevista ao marcante telejornal do âncora William Waack: 'Nada disso desmente a realidade de que a candidata se recusou a dar a entrevista' afirmou a emissora. E quem disse que a candidata é obrigada a dar entrevista à Globo?

Acreditava que no Brasil não havia o risco de um novo salvador. Afinal, o momento em que Collor apareceu como candidato da nova política parece distante.

Flávia Biroli
Arquivo

A candidata do PSB, Marina Silva, se apresenta como a representante da “nova política”.

A política não seria feita de acordos e disputas entre partidos políticos e grupos na sociedade, mas de uma reunião das pessoas “de bem”. Quem define quem faz parte da “nova política” é a própria candidata, com uma sabedoria que, ao que parece, viria da pureza de quem está fora da política e imbuída de uma missão.

Acreditava que no Brasil de hoje não havia o risco de um novo salvador. Afinal, o momento em que Collor apareceu como candidato da “nova política”, contra a política dos marajás, parece não apenas distante, mas de algum modo aquém do patamar em que as disputas se colocaram desde então.

Estava enganada. Temos hoje novamente uma candidata que se apresenta como a representante da “nova política”.  A recusa da dinâmica política aparece como a solução, os partidos e as instituições são vistos como entraves, mas sua candidatura só foi possível porque seguiu a rota mais convencional do casuísmo, tomando carona em um partido que nada tem a ver com a agenda que parecia ser a sua. E tudo para garantir que não ficaria de fora da disputa eleitoral, mesmo não acreditando nos caminhos desta política.

Marina Silva também se apóia em concepções da economia que nada têm de novas, que são defendidas há décadas pelos banqueiros e pelos economistas que estão com ela – eles tiveram, aliás, lugares bem pagos e de prestígio em consultorias, bancos e em governos anteriores.

Maior controle do mercado sobre o Banco Central (a independência do BC), ajustes na economia para restabelecer a “confiança” dos investidores, é assim o “novo” de Marina Silva. Ela é “nova” financiada pelo Itaú, fazendo acordos com o agronegócio e com uma agenda econômica produzida por André Lara Resende (quem não se lembra dele, pode lançar no google confisco da poupança no governo Collor, grampo do BNDES, banco Matrix, privatização da Telebrás etc.) e Eduardo Gianetti (que repete a fórmula dos “ajustes duros” e da autonomia do Banco Central, além de elogios à política econômica de Fernando Henrique Cardoso).

O fundamentalismo religioso a coloca numa posição em que a crença supera os direitos individuais. Já falou a favor do criacionismo, recusando o conhecimento científico. É contrária aos direitos dos homossexuais e prefere diluir os problemas em noções vagas de diferença a enfrentar o fato de que sua posição colabora para a recusa da cidadania e para a violência contra tantas pessoas. É mulher na política, mas retirou a palavra “sexismo” do seu programa de governo. Afinal, conflitos são coisa do passado.

O que ela teria de distinto, sua identidade de ambientalista, vai rapidamente pelo ralo. Afinal, é preciso garantir a “confiança”. E como não há conflitos na sociedade dos discursos de Marina Silva, as dúvidas sobre os transgênicos se resolvem definindo áreas de plantio para transgênicos e não-transgênicos: um caminho para a paz entre o agronegócio e os ambientalistas, afinal! E o etanol se transforma em aliado do ambientalismo, garantindo um lugar para os usineiros no pacote da “nova política”.

O messianismo garante que Marina Silva seja “líder nata” sem propostas e com a entrada mais tradicional no jogo político. Ela está acima das disputas e dos conflitos. E os acordos… bem, os acordos são feitos à velha moda, nos bastidores, enquanto ela repete “nova política”, “nova política”, “nova política”.

Sabemos, no entanto, que os conflitos sociais não desaparecem e os apoios de banqueiros, investidores e empresários são cobrados depois. Sabemos também que por mais complicado que seja governar com instituições democráticas, sem elas nós todos nos tornamos reféns do que nos reservam as boas intenções ou a vontade de uma “iluminada”.

(*) Professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília

sábado, 16 de agosto de 2014

Um retrato 3×4 de Marina, por Nilson Lage.

clown
Não faz um ano, Marina Silva, o grande fenômeno eleitoral de hoje – e da próxima pesquisa, ao que se diz – não conseguiu reunir as assinaturas de meio milhão de brasileiros que a quisessem fazer chefe de um novo partido político.
Meio milhão de brasileiros é  0,35% dos eleitores deste país.
Traduzindo: 35 pessoas em cada 10 mil cidadãos.
Quem não servia para ser chefe de um partido, agora será apresentada como possível chefe de um país inteiro.
Faltava-lhe povo,  hoje -mais do que sempre – sobra-lhe mídia.
Soma-se agora  também a “indicação” do irmão, da mãe, da viúva e dos meninos que Eduardo Campos deixou.
A nova política toma como eixo o desejo de um clã. Apenas uma família, por mais respeito pessoal que mereçam, ainda mais no momento de luto.
Se os métodos são estes, o que é a personagem Marina?
Dela, traça um agudo e conciso retrato o meu para sempre professor Nílson Lage, em seu Facebook, que não posso deixar de partilhar:
Antes que se comece o papo de sempre, com uma porção de pessoas xingando as outras, defino minha visão pessoal consolidada sobre o objeto.
Marina Silva pode ser excelente pessoa, mas é o anti-Brasil. 
Nascida de esquerdismo primitivista e romântico, ostenta uma subcultura enfeitada com palavras difíceis e frases sem sentido.
Odeia o agronegócio. Não no sentido de enfrentar os herdeiros empresariais do velho coronelismo limitando suas ambições políticas, organizar agricultores em cooperativas para exploração de produtos em condições competitivas, ou criar arranjos produtivos que integrem a pequena propriedade em unidades industriais ou núcleos de armazenamento, processamento e comercialização. 
É contra o agronegócio em si, contra aquilo que sustenta o comércio externo do país. Extrativista, admite no máximo a agricultura de subsistência.
Esse aspecto de seu programa é que o mais agrada aos Estados Unidos, que têm no Brasil sério concorrente real – e principalmente potencial – no mercado de commodities agrícolas.
Esquerdista radical – no que esquerda e direita se abraçam, comovidas, ao som de um bolero – não é contra o capitalismo (tanto que a assessoram alguns de mais destacados intelectuais orgânicos do financismo bancário), mas contra a “sociedade industrial” – isto é, a Embraer, as siderúrgicas, as metalúrgicas… 
É dos que odeiam hidrelétricas e acham construí-las na Amazônia um crime contra os “povos da floresta”. Como termelétricas poluem e usinas nucleares são perigosas, sugerem iluminar e mover este país de 200 milhões de pessoas com cata-ventos, quando o vento sopra.
Tirando o criacionismo, o horror aos transgênicos (não ao patenteamento de novas espécies obtidas em laboratório, mas à ciência que permite criá-los) e o uso abusivo dos conceitos em ciências humanas, nada propõe em áreas do conhecimento.
Não tem suporte político além do aglomerado que se forma conjunturalmente para colocá-la no governo ou atrapalhar o “inimigo”. É contra “tudo que está aí”, pela gestão do Estado com a graça de Deus, espada da Justiça, a confiança da Fé, a pureza da Inocência e iluminação da Sabedoria. Fernando Collor, em 1989, era candidato bem mais consistente.
Muitos dos eleitores de Marina que conheço, principalmente aqui no Sul do país, vêm nos últimos anos buscando na história da família algum avô que lhes possa garantir uma “outra nacionalidade” . Pode até ser, então, que tenham oportunidade de usá-la.
Não há nada a acrescentar ao que diz Lage.
Mas não é demais completar o que isso significa com a observação do amigo que me enviou seu texto: Há horas em que certas  posições políticas são inocência ou cinismo.
“A inocência é prima da boa vontade, da ingenuidade e da ignorância. O cinismo tem parte com a má-fé, a astúcia e a arrogância. Em outras palavras: apoiar Marina é iludir – a si mesmo ou aos outros; dependendo apenas de como se é, se inocente ou cínico.”

quarta-feira, 16 de março de 2011

A fome e as finanças: um retrato da desigualdade


Atualmente, a população mundial conta com mais de 6,8 bilhões de pessoas. De acordo com dados da ONU e seu órgão para Agricultura e Alimentação (FAO), 925 milhões desse total passam fome. Trata-se de um contingente equivalente a 5 vezes o total da população brasileira! Além disso, vale registrar que as crianças são as que mais sofrem com tal quadro. Quase um terço das crianças nascidas no chamado Terceiro Mundo, ou seja, 180 milhões, apresentam problemas de desenvolvimento físico e intelectual em razão de problemas de subnutrição nos primeiros 5 anos de vida. O artigo é de Paulo Kliass.

Uma das armadilhas mais perigosas quando se analisam questões macro e de grande amplitude, como é o caso da fome no mundo, reside na tendência a considerar tais fenômenos como “fatalidades”, processos profundos e de longuíssimo prazo, praticamente sem solução à vista. Aquela estória de que “esse quadro está aí desde que o mundo é mundo” e por aí vai. Como os avanços não ocorrem no curto prazo e também não existem instrumentos efetivos de decisão no plano internacional, a coisa vai sendo empurrada com a barriga e a situação dramática continua a afetar a vida de boa parte da população do mundo.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos determina em seu Artigo 25, entre outros princípios, que toda pessoa “tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis” (GN). No entanto, a realidade está bem distante desses direitos básicos, em especial no que se refere à questão da fome.

Os números são realmente chocantes e o que mais impressiona é a passividade das elites políticas por todos os cantos do planeta, que pouco se movimentam na busca de soluções efetivas. A grosso modo, elas estão ausentes, seja no plano local, nacional, regional ou global. Na verdade, o Brasil é um dos poucos exemplos onde políticas públicas foram implementadas pelo Estado com algum grau de seriedade e resultados. Nesse quesito, desde o Comunidade Solidária e os sucessores Bolsa Família e Fome Zero, os programas governamentais brasileiros têm sido uma referência para os que se preocupam com o tema pelo mundo afora.

Atualmente, a população mundial conta com mais de 6,8 bilhões de pessoas. De acordo com dados da ONU e seu órgão para Agricultura e Alimentação (FAO), 925 milhões desse total passam fome (1). Trata-se de um contingente equivalente a 5 vezes o total da população brasileira! Além disso, vale registrar que as crianças são as que mais sofrem com tal quadro. Quase 1/3 das crianças nascidas no Terceiro Mundo, ou seja, 180 milhões, apresentam problemas de desenvolvimento físico e intelectual em razão de problemas de subnutrição nos primeiros 5 anos de vida. Pior ainda, a fome é responsável por 35% dos óbitos de crianças nessa faixa etária.

A distribuição regional do mapa da fome reforça ainda mais os aspectos da profunda desigualdade sócio-econômica em escala internacional. A absoluta maioria da população que passa fome está concentrada na Ásia e na África Subsaariana – ali estão 88% desse quase 1 bilhão de pessoas. A título de comparação, a América Latina e Caribe contêm 6% e os países desenvolvidos apenas 2% desse total.

Parece estar mais do que comprovado que a sociedade contemporânea tem plenas condições tecnológicas e econômicas de resolver esse drama. Assistimos a uma contínua e impressionante elevação nas taxas de produtividade em geral, inclusive no domínio da agropecuária. Existem terras agriculturáveis espalhadas pelos vários continentes. A questão, como sempre, esbarra nos problemas de ordem política e dos interesses econômicos existentes por trás dos governos, a orientar as políticas públicas na perspectiva do lucro privado e não no atendimento das necessidades da maioria da população.

A mercantilização generalizada e a crescente financeirização de todas as atividades em escala global podem contribuir para a explicação de tal comportamento. O desenvolvimento das atividades agrícolas e pecuárias - a base para a alimentação do ser humano – orienta-se como um setor a mais no extenso menu das opções oferecidas pelo mundo capitalista. Ao serem tratados apenas como mercadoria, itens como arroz, trigo, carne, soja, milho, dentre tantos outros, perdem a sua característica essencial e primeira. Qual seja, a de satisfazer uma das mais essenciais carências dos indivíduos em sociedade – alimentar-se.

A subordinação de tais necessidades sócias básicas à lógica da geração de lucro e da acumulação do capital provoca distorções graves, uma vez que as razões para produzir ou não tal alimento, para investir ou não na agropecuária em tal região, saem da esfera da política pública para a lógica do empreendimento privado. Ou, ainda que apoiada por algum mecanismo estatal (como nos casos de fortes subsídios concedidos nos países desenvolvidos), a lógica permanece restrita aos interesses daquele País e não leva em consideração as necessidades da alimentação da população em escala mundial.

Dessa forma, a dinâmica de preservação dos níveis de miséria e de desigualdade se mantém tanto nos sistemas políticos injustos e excludentes nos planos local e nacional, quanto no modelo desigual da distribuição da riqueza entre os países. As falsas desculpas de que as condições para produção agrícola e pecuária, em escala global, são insuficientes para atender ao crescimento populacional não se sustentam. 

A História e importantes pesquisadores, como o brilhante brasileiro Josué de Castro (2) , se encarregaram de mostrar que as hipóteses de Malthus estavam equivocadas. O ritmo de crescimento da população tem diminuído, a capacidade potencial de produção de alimentos tem crescido de forma significativa e mesmo assim a fome atinge um enorme contingente de indivíduos. E o mais grave: segundo os dados da própria ONU, 80% das pessoas que passam fome vivem em regiões e trabalham em atividades ligadas ao campo ou à pesca. Ou seja, numa perspectiva planetária, o problema não se restringe apenas aos movimentos migratórios do campo para as cidades, que estariam a explicar as dificuldades com a alimentação.

Por outro lado, a ampliação descontrolada das opções financeiras introduz uma dificuldade suplementar na dinâmica das atividades agropecuárias. Aos já existentes e antigos movimentos de especulação com os estoques de produtos e a manipulação de seus preços nos mercados nacionais e internacionais, veio somar-se a criação de títulos financeiros que se autonomizaram em sua dinâmica de comercialização e negociação. Isso significa dizer que tais papéis perderam toda e qualquer relação com a atividade produtiva do bem que leva impresso em seu nome – café, soja, carne bovina, trigo, milho. A criatividade do mercado financeiro em busca de novas alternativas de ganhos e movimentação passa a oferecer, assim, promessas de compra ou venda futura de toneladas de um ou outro produto. É o que o financês chama de “mercado a termo”, o mercado futuro de “commodities”. Outros ainda simplesmente operam títulos de cotação de preços de tais bens primários no horizonte de meses ou mesmo de anos. A opção pelo tipo de aposta “altista” ou “baixista” fica por conta do freguês...

O movimento especulativo sem controle dos órgãos governamentais ou dos organismos multilaterais tende a criar situações insustentáveis do ponto de vista da realidade da economia. Os papéis são lançados, comprados, vendidos, revendidos, de tal forma que o movimento só se sustenta nessa ilusão da dinâmica do mercado em movimento. Caso alguém resolva parar a roda da ciranda financeira por um instante, vem à tona a crise como a que o mundo conheceu recentemente. Tudo não passava de um conto de fadas. Os papéis viraram pó. Isso porque os mercados financeiros no mundo todo giram diariamente quantias de toneladas virtuais estupidamente superiores à capacidade efetiva dos países produzirem aquele volume de produtos agropecuários. Pura bolha, toda recheada de ar!

Outro aspecto agravante relaciona-se ao fato de que as atividades realizadas no campo cada vez mais se distanciam de sua função precípua. A lógica de “atender à demanda” provoca distorções estruturais no sistema, às quais acabamos por nos acostumar, nesse perigoso comportamento da passividade. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 40% da área plantada pelo milho destinam-se à produção de etanol. No caso brasileiro, sabe-se que boa parte da soja plantada e exportada é destinada à produção de ração animal. Os programas todos de substituição energética das fontes de combustível por fontes renováveis plantadas (como o nosso etanol e biodiesel) carregam em seu interior também essa contradição. São superfícies consideráveis de terras a produzir bens agrícolas que não se destinam a resolver o problema crucial da fome.

O ponto a ressaltar é que, desde haja vontade política e um pacto entre os principais países do planeta, não é muito difícil resolver a questão da fome nos tempos de hoje. Idéias e propostas não faltam. Porém, todas elas envolvem o debate de natureza redistributiva da renda e o reconhecimento da necessidade de uma ação reguladora sobre os chamados agentes econômicos para buscar a solução. Assim, observa-se uma enorme resistência por parte dos que detêm posições de comando e decisão no mundo político e empresarial.

Já comentei aqui a respeito da Taxa Tobin e da “Associação para a Taxação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos” (ATTAC) (3). Pois bem, trata-se da idéia do economista James Tobin e transformada em movimento internacional pela entidade no final da década de 1990. A proposta é de criar uma espécie de imposto sobre as operações financeiras internacionais, que seria destinado à constituição de um fundo internacional para erradicação da fome e da miséria no mundo. Apenas a título de ilustração, caso fossem atingidas apenas as operações cambiais e com uma alíquota irrisória de 0,005%, seriam arrecadados por volta de US$ 30 bilhões anualmente. O mundo financeiro resiste heroicamente. Mas não hesitaram um segundo em solicitar as centenas de bilhões de dólares destinados aos bancos e às grandes empresas transnacionais à beira de falência desde 2009 até hoje.

É também bastante antiga a proposta de constituição de fundos internacionais voltados a controlar os estoques reguladores de matérias-primas e produtos agrícolas em escala internacional. Concebidos para serem operados na forma de uma gestão compartilhada no interior de organismos multilaterais, tais instrumentos poderiam servir como anteparo de proteção aos movimentos especulativos nos mercados de tais produtos, além de permitir ações coordenadas em momentos de escassez de oferta causados por tragédias naturais.

Ganham força também nos espaços de debate, e mesmo na esfera diplomática, as propostas de maior regulação e fiscalização de instrumentos financeiros especulativos, em particular na área das “commodities”. Os bancos, as bolsas de mercadorias as demais instituições financeiras passariam a ser mais controlados e as distorções de natureza especulativa, que prejudicassem o atendimento das necessidades mundiais de produtos alimentícios, seriam coibidas. Esse tema já está na pauta do G-20.

Deveriam também ser fortalecidos os programas de reforma agrária e de agricultura familiar em todo o mundo, como forma de aumentar a oferta de bens alimentícios de utilização efetiva, além de estimular a fixação das famílias no campo e reduzir o luxo migratório para os ambientes urbanos. Ao mesmo tempo, poderiam ser implementadas medidas de estímulo à produção de alimentos, ao invés de utilização de terras para outros fins.

Enfim, é evidente que a solução da tragédia da fome passa por uma vontade política efetiva por parte dos tomadores de decisão no mundo contemporâneo. E que o universo financeiro teria uma grande contribuição a fornecer para reduzir esse e outros níveis de desigualdade atualmente existentes.

NOTAS 

(1) Ver: http://www.fao.org/docrep/013/i2050s/i2050s07.pdf

(2) Ver: http://www.josuedecastro.com.br/port/index.html

(3) Ver: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4718


(*) Doutor em economia pela Universidade de Paris 10 (Nanterre) e integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.