Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O “Palace 2″ da Chevron-Texaco e a mídia

A cobertura da imprensa sobre o acidente no poço do campo de Frade torna inevitável que se faça uma analogia com o acidente, ocorrido há quase 14 anos, quando desabou o edifício Palace 2, no Rio de Janeiro.
Hoje, quando em lugar de se discutir e investigar o acidente do poço, a discussão fica centrada na adequação dos planos de contingência – em si, um debate correto e necessário – temos uma inacreditável distorção.
Seria o mesmo que, naquela época, ficarmos tratando, essencialmente,  da qualidade da engenharia nacional e da atuação dos seus órgãos fiscalizadores, como o Crea e os departamentos de edificações da prefeitura.
E o prédio caiu não foi por isso, mas por um erro  na obra. Como o poço vazou por um erro na sua perfuração.
Existem milhares de prédios com os 22 andares do Palace 2 (ou muitos mais ainda)  e milhares de poços como o da Chevron. Nenhum prédio caiu e nenhum poço vazou.
Só que agora nenhum órgão de imprensa se interessa em saber se os executivos da Chevron, como fizeram Sergio Naya e seus auxiliares, reduziram a segurança construtiva  para fazer economia. Nem mesmo referir-se à informação, jamais contestada, feita pelo Wall Street Journal, há três anos, de que os planos originais de exploração do campo foram alterados  e substituídos por outro, que previa, segundo o jornal a perfuração de poços “mais rápidos e mais baratos”.
Isso foi perguntado pelo deputado Brizola Neto ao senhor Charles Buck, presidente da filial da Chevron-Texaco no Brasil e ele limitou-se a responder que a economia era apenas financeira, não na segurança.
A areia do Palace 2 também era econômica financeiramente.
A imprensa passou “batido” por isso e por outra declaração deste senhor, a de que se verificou que a cimentação da sapata (ao que parece, a única) de sustentação e selagem do poço não estava adequada.
Não se espera que os jornalistas sejam especialistas em engenharia de petróleo. Muito menos que cheguem a conclusões apressadas sobre se é praxe o que fez a Chevron  e está tecnicamente correto. Não faço nenhuma afirmação sobre isso, nem  espero que a imprensa a faça.  Mas, sim, que reúna as informações disponíveis – e cobre as ainda indisponíveis -  e as levem aos especialistas.
Em especial, aos independentes das petroleiras.
E existem ótimos profissionais no Brasil para analisa-las.
Mostro, como exemplo, o trabalho realizado pelos engenheiros Paul Richard Perdomo, que foi da PUC do Rio, e José Ricardo Pelaquim, da Unicamp, orientados pelo chefe do departamento de Engenharia de Petróleo da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, Celso Morooka.
Nele, estuda-se a metodologia de colocação de sapatas em poços de petróleo em águas profundas e define-se  a profundidade estimada para sua instalação capaz de as tornar eficientes diante da ocorrência de “kicks” como o que aconteceu no campo de Frade.
As profundidades, em todos os casos estimados no estudo, que você pode ver na imagem ao lado, clicando para ampliar,diferem em muito do que foi comunicado pela Chevron.
Lá está dito, literalmente e com meus grifos:
Segundo Adams (1985) a profundidade de assentamento do revestimento de superfície é calculada levando em conta as pressões de kick desenvolvidas durante as operações de controle de poço. A densidade equivalente da lama da coluna de fluidos no anular entre a coluna de perfuração e o diâmetro interno do poço gerada durante as operações de controle de kicks é a causa da maioria dos influxos subterrâneos. Quando acontecer um kick, a
pressão de fechamento (shut-in casing pressure) adicionada à pressão hidrostática equivalente da lama podem exceder a pressão de fratura da formação na sapata, portanto, induzindo uma fratura. Portanto, o objetivo do procedimento da seleção de profundidade de assentamento do revestimento de superfície será aquele que determina a profundidade da formação que possa suportar as pressões geradas por um volume de kick padrão,(mínimo volume de kick que uma sonda tem capacidade de detectar e o máximo volume que pode suportar).”
Não sei o que eles dirão, porque não consegui contato com eles . Mas a Veja foi ouvir o doutor Celso Morooka sobre o acidente no Golfo do México, mas não sobre o nosso, aqui.
Nenhum órgão de imprensa se mexeu para levar-lhe os dados. Quem quiser a imagem apresentada pela Chevron-Texaco na audiência da Câmara para mostrar aos especialistas, pode acessar aqui, já que nenhum jornalista se interessou em pegar uma cópia. A apresentação completa, para facilitar as coisas, está também aqui.
Como frisei, pode permitir a formulação de alguma hipótese de erro ou pode ser um procedimento normal.
Não sei e um jornalista não tem de possuir  competência técnica para saber. Mas tem e obrigação de  saber perguntar e o dever de reunir os elementos para que a pergunta possa ser feita.
Estão aí alguns que, se a mídia quiser, talvez lhe dê bom proveito.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O reino da quinta-essência

Brasil é um país surrealista.
Hoje, O Globo anuncia que “somente 16 dias após o início do vazamento de óleo no litoral do Rio, a Agência Nacional do Petróleo decidiu suspender as atividades de perfuração da empresa americana Chevron no Brasil”.
A crítica poderia ser adequada, se o jornal não tivesse levado “apenas” dez dias para noticiar, com destaque, o vazamento de petróleo. Como, aliás, quase toda a imprensa.
A notícia segue, dizendo que o Tribunal de Contas da União determinou uma auditoria na Petrobras, para “verificar se há previsão contratual de ressarcimento das despesas que a estatal teve com equipamentos e mão de obra próprios nas ações de contingência.”
Ou seja, se a Petrobras, diante da emergência de óleo vazando no mar, tinha um contratinho para “cobrir” o empréstimo de equipamentos e pessoal especializado para agir na contenção imediata do vazamento de óleo.
Meu Deus, será possível numa hora daquelas, parar para que alguns advogados e procuradores fizessem um documento dessa ordem? “Os senhores deixem aí o óleo vazando até o parecer da assessoria jurídica, está bem?”.
Francamente, isso lembra a história fantástica de Rabelais e o seu reino da Quinta-Essência, onde as pessoas se dedicavam a questões de alta indagação, mas de absoluta inutilidade.
Se o Tribunal de Contas quer averiguar as relações contratuais entre a Chevron e a Petrobras, deve recuar até 1999, no Governo Fernando Henrique, onde o controle do campo de Frade, descoberto em 1986 pela Petrobras, foi transferido para a petroleira americana.
Foi uma operação conhecida no mercado como farm-in/farm-out, quando é comprada e vendida uma concessão pública adquirida por uma empresa.
Isso, sim, é uma boa providência, que vai às entranhas do criminoso processo de privatização brasileiro, quando negócios bilionários foram fechados nas barbas do Tribunal e ninguém determinou uma “auditoria de emergência”.
Agora, ver se tinha um contrato de locação para os dois robôs submarinos da Petrobras usados para descobrir o vazamento da Chevron é realmente, como faziam os súditos daquele reino rabelaisiano, se dedicar a desenhar na água e a medir o salto das pulgas.
Por: Fernando Brito