Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Contra Dilma, valeu até gol de mão

REUTERS/Adriano Machado: <p>Presidente Dilma Rousseff chega para cerimônia no Palácio do Planalto 22/03/ 2016. REUTERS/Adriano Machado</p>


Paulo Moreira Leite
Considerando a já baixa credibilidade de nossos parlamentares, pode-se lamentar a maratona política realizada no Senado, que chegou as 2 e meia da madrugada desta quarta-feira.Para quem pode seguir ao menos uma parte das discussões, como fez este humilde blogueiro, foi uma noite didática, para se assistir a um espetáculo de cartas marcadas, um teatro ensaido com antecedência para se evitar debates reais e avançar o rolo compressor de uma maioria de momento, ocupada em revogar direitos e conquistas da última década e meia -- operação que passa pelo afastamento definitivo de Dilma Rousseff e pela cada vez mais complicada tentativa de dar alguma estabilidade ao governo Michel Temer.     

A longa jornada madrugada adentro foi uma celebração macabra contra a soberania do voto popular. Três dias depois das revelações contidas na delação premiada de Marcelo Odebrecht, que apontaram para as tratativas do próprio Temer para receber RS 10 milhões em dinheiro vivo e também de RS 23 milhões enviados para José Serra em contas no exterior, os aliados do golpe de março-abril conseguiram a proeza -- realmente espantosa -- de seguir a pauta dos trabalhos como se nada demais tivesse acontecido.

Mesmo assim, não foi possível impedir  momentos de indignação e denúncias que serviram para registrar até o aspecto ridículo de acusações apresentadas para incriminar a presidente. O placar final, que aprovou o parecer de Antonio Anastazia (PDSD-MB) por 59 votos a 21, mostra que a estrada para Dilma retornar ao Planalto segue muito difícil, mas não está resolvida. O Planalto atuou pesado para garantir uma votação favorável, numa marcação individual para impedir manifestações dissidentes, que a imprensa amiga fingiu não acompanhar. Foi neste ambiente que a presidente tornou-se ré. 

Ainda assim, o debate cumpriu a utilidade inegável de sublinhar incoerências que alimentam o pedido de afastamento definitivo de Dilma. Para revelar o absurdo da argumentação dos adversários da presidente eleita,  o senador Randolfe Rodrigues ( Rede-AP) foi atrás das despesas previstas por um decreto assinado para promover realocamento de verbas no interior do Ministério da Justiça.

A decisão envolveu recursos destinados a assegurar compra de equipamentos e despesas de operações da Polícia Federal, compensando cortes promovidos pelo contingenciamento de gastos realizado  depois que uma queda de receitas passou a ameaçar a previsão final de contas. "Esse decreto foi uma forma de garantir a continuidade da Lava Jato," explicou Randolfe, sublinhando a ironia da situação. Os senadores alinhados com Temer, que enchem a boca para fazer denúncias de corrupção,  pretendem punir Dilma por ter resolvido, mesmo em hora de extrema dificuldade financeira, assinar um descreto que sustentava uma operação que tem cortado sua própria carne.

O problema é que o governo fez isso dentro da lei, sem mexer no gasto total do governo, apenas com mudanças internas. Num debate sério, seria o caso de aplaudir a mudança  -- e não de condenar, ainda mais num país onde a "falta de verbas" sempre foi a desculpa favorita para autoridades que querem esconder a má vontade contra gastos que não fazem parte de suas prioridades políticas.   

Em outra intervenção instrutiva, Gleisi Hoffman (PT-PR), apontou outro decreto, que contém uma única despesa polêmica, de R$ 360 000 reais, quantia modestíssima num déficit reconhecido de R$ 116 bilhões. O questionamento, aqui, não resiste no volume dos recursos, mas em sua origem dos recursos. O decreto tratava de um excesso de arrecadação da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, destinando os recursos para a Centrais Elétricas de Minas Gerais, a Cemig, disse Gleisi, encarando Antonio 

Anastasia, que até 2014 respondia pelo governo de Minas Gerais, principal acionista da empresa. A maioria das pessoas não sabe mas, sem dar um destino aos recursos que recebe a mais, a administração pública não tem meios legais para gastá-los.

Apenas a certeza de que se trata de um debate que é pura formalidade explica a natureza -- no melhor estilo seria cômica se não fosse trágica -- das denúncias que conseguiram sobreviver ao escrutínio dos últimos meses, realizado por quem trabalha com dados reais e não construções ideológicas. A denúncia do Plano Safra do Banco do Brasil, um dos quatro motivos atuais para o afastamento, que chegou a ser inicialmente apontado como o caso mais grave, simplesmente não fica em pé.

Para começar, não é possivel apontar a responsabilidade da presidente pelo suporte a lavoura brasileira, tarefa que cabe ao ministros da área economica e a dirigentes da própria instituição, como foi reconhecido pelo Ministério Público Federal. Em segundo lugar, não é possível confundir o suporte a agricultura com operações de crédito aos agricultores. São ações diferentes, que envolvem  quantias muito diferentes, como esclareceu Katia Abreu (PMDB-MT), ontem. A senadora apresentou números que justificam o uso do crédito agrícola ao país: aumento de 10% da área plantada e 17% na produção; elevação para 60 000 no número de máquinas agrícolas, crescimento várias vezes maior do que nos anos anteriores.

Um ponto marcante das discussões coube a Cristovam Buarque (PPS-DF). Uma semana depois de anunciar que não tinha medo de ser chamado de golpista, Cristovam  marcou um clássico gol de mão, particularmente revelador para o argumento real empregado pela bancada dos aliados do golpe de abril-maio.

O Brasil vive sob um regime político "híbrido", disse Cristovam, numa tentativa de justificar o método empregado para se afastar Dilma pela visão de que nosso sistema de governo não é o presidencialismo, como acreditaram os 67 milhões de brasileiros que votaram no plebiscito de 1993, mas uma variante do parlamentarismo, vencido por uma maioria indiscutível, de 55% contra 24% dos votos. (Trinta anos antes, um primeiro plebiscito já havia confirmado a opção presidencialista dos brasileiros, por uma margem ainda maior).

Avançando no raciocínio, Cristovam chegou a falar em "voto de desconfiança" contra a presidente, recurso que seria inteiramente legítimo se o sistema assegurasse aos parlamentares a palavra final na definição do chefe de governo. Neste caso, são avaliações de natureza política e ideológica que podem justificar uma mudança no comando do Estado. O "voto de desconfiança"  não faz sentido num sistema onde o cidadão escolhe o presidente em urna, pelo voto direto, sem a mediação de uma elite de políticos. O gol de mão reside aí. O ludibriado está sendo o eleitor, chamado a fazer o mesmo papel de bobo cumprido pelos torcedores de Argentina e Peru na Copa de 1986, quando Diego Maradona fez um gol decisivo atribuído a "Mano de Diós."

O que está em curso, no Brasil de 2016, é a aplicação de um método socialmente elitista de disputa política, muito bem demonstrado pelo historiador Luiz Felipe Alencastro numa série de estudos sobre a ideia-fixa parlamentarista do conservadorismo verde-amarelo.

O impeachment, não contém um fato jurídico, como acontecia com as denúncias de crime de responsabilidade contra Fernando Collor, em 1992. Mas é uma decorrência oportunista da relação de forças estabelecida pelas eleições de 2014, quando Dilma obteve maioria de votos e, paralelamente, a oposição a seu governo fez maioria no Congresso de Eduardo Cunha.

Não foram os erros -- inúmeros e graves -- do governo Dilma que levaram ao impeachment, mas a oportunidade política aberta a uma oposição sem escrúpulos democráticos, a ponto de acusar primeiro e procurar uma denúncia depois. Essa realidade justifica a postura de Jorge Vianna (PT-AC) ontem, ao encerrar um encaminhamento  com um apelo: "preserve  o voto do povo,"disse aos adversários

terça-feira, 28 de junho de 2016

Tijolaço: E quem julga os “juízes” de Dilma?


Tijolaço: E quem julga os “juízes” de Dilma?

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"Não é preciso perícia de consultores do Senado (...) para que se veja que 'a ré' não tem nenhuma acusação de desonestidade e os 'juízes' chafurdam na lama de denúncias cada vez mais graves e generalizadas", diz o jornalista Fernando Brito sobre o novo delator da Lava Jato, Nelson Mello, que afirmou ter pago propina de R$ 30 milhões para a cúpula do PMDB; "É obvio que a turma que quer "estancar a sangria" da Lava Jato se prepara para oferecer o pescoço de uma mulher inocente como oferenda no altar do "mata e esfola" que se tornaram a política e a Justiça no Brasil" 

Fernando Brito, do Tijolaço - A nova "delação" da praça, a do ex-diretor do grupo Hypermarcas – dono de dezenas de marcas de produtos de alimentação, limpeza e cuidados pessoais -, o senhor Nelson Mello, atinge, de novo, a cúpula do PMDB.

Os dois lobistas que lhe teriam tomado R$ 30 milhões são, notoriamente, ligados a Eduardo Cunha (Lúcio Bolonha Funaro) e à cúpula do Senado (no caso de Milton Lyra, há mais de um ano apontado como agente de Renan Calheiros no fundo de pensão dos Correios). Além dele, o dinheiro teria ido para o notório Romero Jucá e Eduardo Braga, ambos peemedebistas).

Outra, tratada ainda com mais discrição, é a de que o Secretário do Ministério de Integração Nacional, Glauco Rogério de Araújo Mendes, teria recebido e "lavado" milhões de reais através da empresa de uma irmã, entre 2006 e 2012, quando os ministros eram, sucessivamente, Geddel Vieira Lima (hoje ministro de Temer), seu indicado baiano João Santana(nada a ver com o marqueteiro) e Fernando Bezerra Coelho (hoje senador e com o filho como Ministro das Minas e Energia).

Reparem que não é preciso perícia de consultores do Senado para que se veja que o "tribunal" que vai julgar se os votos da população devem ser revogados e Dilma Rousseff afastada definitivamente do cargo para o qual foi eleita para que se veja que "a ré" não tem nenhuma acusação de desonestidade e os "juízes" chafurdam na lama de denúncias cada vez mais graves e generalizadas.
Não é possível tratar disso separadamente.

Não é possível que uma coisa e outra sejam tratadas como se nada tivessem a ver entre si.
É obvio que a turma que quer "estancar a sangria" da Lava Jato se prepara para oferecer o pescoço de uma mulher inocente como oferenda no altar do "mata e esfola" que se tornaram a política e a Justiça no Brasil.
O fato de existirem denúncias e delações, claro, não é o bastante para fazer de ninguém culpado, mas não se pode crer que estas novas delações e descobertas não tenham documentos a prová-las.
Se existem, é preciso que sejam publicamente apresentados e a população possa também julgar os que vão julgar a Presidenta.

Ou existe algum jogo perverso em fazer com que estes casos apareçam e "desapareçam" em seguida, como parece estar acontecendo com as delações de Sérgio Machado? Ninguém movimenta dezenas de milhões de reais sem deixar rastros materiais, não são moedinhas que você dá a alguém que esteja passando.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

PARA SE SALVAR, CUNHA AMEAÇA TEMER COM IMPEACHMENT

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A grande pedalada do golpe

MARCELO ZERO

:
Os pretextos alegados para o golpe variam mais que biruta de aeroporto em tempestade.
Tem para todos os gostos e eles oscilam fortemente conforme a conjuntura. Quando um pretexto perde a sua força, imediatamente surge outro, muitas vezes de natureza distinta.
A variedade e a oscilação mostram o desespero dos derrotados nas últimas eleições em encontrar alguma escusa minimamente aceitável para o golpe indesculpável.
Apesar de sua diversidade, os pretextos podem ser divididos em dois grandes conjuntos: os pretextos não jurídicos, de um lado, e os pretextos pseudojurídicos, de outro.
O conjunto dos pretextos não jurídicos inclui as alegações relativas à recessão econômica e ao clima político deteriorado. Estão nele incluídos os argumentos de que "o Brasil está em recessão", "o Brasil está parado", "o Brasil passa por uma grande crise econômica e política, "a popularidade da presidenta está muito baixa", etc., etc.
O falso pressuposto de que esse tipo de alegação poderia servir de pretexto minimamente aceitável para um processo de impeachment é o de que o Brasil teria um regime parlamentarista, e não presidencialista. Provavelmente essa "ideia brilhante" saiu do mesmo think tank que instituiu o terceiro turno como estratégia política. Esqueceram-se, no entanto, de avisar à Constituição Federal e ao povo brasileiro, que rejeitou o parlamentarismo, no plebiscito de 1993.
Ao contrário do que ocorre no parlamentarismo, regime no qual no qual só há eleições parlamentares e o chefe de governo é uma espécie de cargo de confiança do Legislativo, no regime presidencialista, como o nosso, o presidente é eleito em pleito separado, o qual gera um mandato popular que não pode ser extinto por simples voto de desconfiança política do Parlamento.
No parlamentarismo, crises econômicas, crises políticas, baixos índices de popularidade, etc. são argumentos perfeitamente legais e normais para destituir o gabinete de governo, ainda que com regras rígidas, as quais asseguram a estabilidade política. Contudo, em nosso presidencialismo, o chefe de governo, figura que se confunde com o chefe de Estado, só pode perder o seu mandato popular específico se for comprovado, após devido processo legal, crime grave e doloso de responsabilidade.
Afora a total impropriedade e inconsistência desses argumentos não jurídicos, só aplicáveis a regimes parlamentaristas, eles pecam também pelo cinismo.
A crise atual do Brasil, ocasionada essencialmente pela intensificação recente da pior recessão internacional desde 1929, vem sendo muito agravada justamente pelo golpismo da oposição, que provoca um clima permanente de instabilidade política. Recorde-se que ajustes econômicos visam reverter expectativas dos investidores, algo difícil de se obter num clima político artificialmente deteriorado.
Assim, boa parte da recessão e da paralisia atuais advém do golpismo. Do golpismo e de uma Lava-Jato importante para o combate à corrupção, mas mal conduzida para os interesses do país. Com efeito, segundo as avaliações das mais importantes consultorias econômicas, a Lava-Jato, por ter paralisado setores importantíssimos da economia brasileira, como a construção civil e a cadeia do petróleo está, somada ao clima político, reduzindo o crescimento do Brasil, em aproximadamente 2,5% do PIB. Ou seja, mais de dois terços da recessão de 2015 provirão dessa operação e do golpismo oposicionista. A dupla Moro/Aécio causa muito mais dano econômico que Levi.
É muita cara-de-pau, diria Lula. Criam ou turbinam fortemente a crise, com a instabilidade política gerada por seu golpismo, e depois se queixam de que "o Brasil está parado". Ora, o Brasil está paralisado por causa, em grande parte, dessas "pedaladas políticas" da oposição.
O outro conjunto de argumentos tange aos argumentos pseudojurídicos, que tentam sustentar, do ponto de vista técnico, o canhestro pedido de impeachment acolhido por Cunha.
Na realidade, utilizar supostas pedaladas fiscais para sustentar um pedido de impeachment é uma clara pedalada jurídica.
Espremendo-se a argumentação do pedido de impeachment, o único arremedo de argumento jurídico se refere ao suposto fato de que o governo federal teria aberto créditos suplementares ao orçamento sem a devida autorização legal do Congresso.
Embora não caiba nesse breve artigo se fazer uma argumentação extensa sobre a precariedade das argumentações jurídicas pró-impedimento, vale lembrar que as contas de 2015 só se encerram em 31 de dezembro e, além disso, o Congresso aprovou a revisão da meta fiscal do ano.
Como bem afirmou Ricardo Lodi Pietro:
Mas, se o próprio Parlamento, durante o exercício, modifica a meta, está alterando o limite da autorização por ele concedida e convalidando tacitamente a abertura dos créditos suplementares até então efetivadas por Decreto. Foi assim em 2014, com a aprovação da Lei 12.952/14, e tudo indica que será em 2015, já que a Câmara dos Deputados aprovou, no mesmo dia em que o seu presidente acolheu o pedido de impeachment, o PLN 05/15. Assim, não há mais que se falar em abertura de créditos suplementares sem autorização legal em 2014. Em relação ao exercício de 2015, não é possível, antes do final do exercício, constatar se os decretos que já abriram créditos suplementares, extrapolam ou não os limites previstos no artigo 4º da LOA/15, dada a real possibilidade de alteração da meta fiscal que define os contornos desta autorização legislativa. E tudo indica que não haverá extrapolação da autorização legal, dada à aprovação do referido projeto de lei pela Câmara dos Deputados.
Ademais, mesmo que se conseguisse provar pedaladas fiscais em 2015, isso não justificaria o impeachment, tendo em vista que não se trata de atos atentatórios à Constituição Federal, nos termos do caput do art. 86 da Constituição Federal, configurando, no máximo, simples atos ilegais ou inconstitucionais saneáveis mediante controle administrativo, fiscal ou jurisdicional.
Dilma fez as mesmas operações contábeis que FHC fez e que os governadores do PSDB ainda fazem. E o fez não para desviar dinheiro público, como Cunha fez, mas para manter programas sociais imprescindíveis ao bem-estar do povo brasileiro.
O impeachment está previsto em nossa Constituição, mas esse pedido específico de impeachment não está previsto em lugar nenhum, a não ser nas cloacas onde navegam os interesses sombrios e malcheirosos dos derrotados e ressentidos que apostam no "quanto pior melhor" e contra a democracia brasileira e o Estado Democrático de Direito.
Ele nasce ilegítimo e, em consequência, com legalidade questionável, por ter sido iniciado por Cunha, em claro ato de vingança política motivada por interesses torpes e corruptos. Ele nasce ilegítimo e ilegal por não ter nenhuma base jurídica consistente. Nasce em meio a grotescas pedaladas político-partidárias e patéticas pedaladas jurídicas.
No fundo, trata-se de uma grande e suja pedalada imoral contra o Brasil.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Contra o golpe fiscal na democracia brasileira

O senador José Serra, fundamentado em dados técnicos completamente equivocados, propõe um projeto antinacional sem qualquer debate público.

Marcos Oliveira / Agência Senado













Um projeto de resolução do Senado Federal (PRS nº 84/2007), da maior gravidade para a democracia brasileira, pode ser aprovado brevemente, sem qualquer debate público. O senador José Serra é o responsável por emenda a esse projeto que pretende definir limites draconianos para a dívida pública da União, de modo a forçar a obtenção de superávit fiscais primários em torno de 3% do PIB por vários anos.

Assine aqui o manifesto contrário ao projeto

A manobra regulamenta a Lei de Responsabilidade Fiscal sem discussão pública e passa por cima das leis orçamentárias futuras, inutilizando o debate democrático sobre o valor dos recursos que devem ser transferidos dos impostos dos brasileiros para os portadores da dívida pública. Tais credores assegurariam, por pelo menos os próximos quinze anos, uma política econômica caracterizada por uma austeridade ainda mais profunda do que a realizada em 2015.

As consequências sobre o crescimento econômico, a justiça social e a própria arrecadação de impostos são deletérias. Significaria perenizar a crise econômica por que hoje passamos.

O próprio impacto recessivo da austeridade atual já obrigou a uma mudança no projeto de resolução. Há apenas um mês, propôs-se a definição de um limite muito menor para a dívida pública do que o valor verificado atualmente: uma razão de 4 vezes entre a Dívida Consolidada Bruta e a Receita Corrente Líquida, que estava, em julho de 2015, em cerca de 5,6 vezes. A diferença exigiria, considerando o valor da arrecadação tributária atual, a realização de um esforço fiscal de R$ 1,05 trilhão (um pouco mais de um trilhão e cinquenta bilhões de reais) ou 18% do PIB!

Assine aqui o manifesto contrário ao projeto

Em 15 de outubro, o projeto passou a admitir que a razão entre a Dívida Consolidada Bruta e a Receita Corrente Líquida deve subir a 7,1 nos próximos cinco anos. No entanto, exige que se reduza a 4,4 nos dez anos seguintes até 2030. Apenas para dar uma ideia do esforço em valores atuais, a redução envolveria cerca de 30% do PIB em apenas dez anos!

A enormidade desse valor representaria um peso insuportável para a política fiscal e para a própria economia: a elevação abrupta da meta de superávit primário impediria o crescimento econômico. De nada adianta diluir o esforço fiscal em 15 ou 10 anos como propõe o projeto. Um esforço fiscal bastante inferior a esse valor foi planejado para 2015, o que agravou a recessão e levou a uma queda da arrecadação tributária em termos reais.

O pior é que o projeto se fundamenta em argumentos tecnicamente equivocados. O projeto acusa o Banco Central de financiar o déficit público, cometendo crime de responsabilidade através de uma “pedalada” proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso supostamente ocorreria através das operações compromissadas realizadas pelo Banco Central para garantir o alcance da meta para os juros SELIC definida pelo Comitê de Política Monetária, o COPOM.

Assine aqui o manifesto contrário ao projeto

Isso é uma acusação grave, que repete equívoco de estudo feito pela Tendências Consultoria em 2013, já cabalmente refutado em nota pública do Banco Central. Se a justificativa técnica envolve uma denúncia de crime de responsabilidade, ela não deveria estar melhor fundamentada tecnicamente e envolver amplas audiências públicas sobre o tema?

Como o projeto inclui os títulos públicos usados pela política monetária e pela política de aquisição de reservas cambiais na definição do limite da dívida pública, sua aprovação forçaria o Banco Central a resgatar os títulos públicos com emissão de moeda, e vender reservas cambiais, com consequências tenebrosas sobre a inflação e a taxa de câmbio.

Em suma, o projeto engessaria as políticas fiscal, monetária e cambial do país, a partir de uma compreensão tecnicamente equivocada das relações entre o Tesouro Nacional e o Banco Central. Muito provavelmente engessaria o crescimento econômico necessário não apenas para gerar os empregos de que a sociedade brasileira carece, mas até mesmo para pagar a dívida pública.

Tamanha irresponsabilidade não pode resultar de um simples projeto de resolução que não será discutido pela Câmara dos Deputados nem poderá ser vetado pela Presidência da República, e que não foi sequer debatido pela sociedade brasileira. É urgente realizar esse debate para evitar a tragédia anunciada.

Assine aqui o manifesto contrário ao projeto
Maria da Conceição Tavares – UNICAMP/UFRJ
Carlos Lessa - Economista - UFRJ
Vagner Freitas - Presidente da CUT
Paul Israel Singer - Economista - USP
Marcio Pochmann – Economista - UNICAMP, Presidente da Fundação Perseu Abramo e membro do Fórum21
Niemeyer Almeida Filho – UFU – Presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) 
Pedro Paulo Zahluth Bastos – Economista - UNICAMP e membro do Fórum 21 
Ricardo Bielschowsky - Economista - UFRJ
Eduardo Fagnani - Economista - UNICAMP e membro do Fórum21
Ceci Vieira Juruá – Economista e membro do Fórum21
Pedro Rossi – UNICAMP e membro do Fórum21
Carlos Pinkusfeld Monteiro Bastos Economista – UFRJ
Mayra Juruá - Economista e membro do Fórum21
Paulo Kliass – Economista - EPPGG e membro do Fórum21
Julio Gomes de Almeida – Economista - UNICAMP 
Raul Pont - Economista e membro do Fórum 21
Hildete Pereira de Melo – Economista - UFF
Celia de Andrade Lessa Kerstenetzky - Economista - UFF
Jaques Kerstenetzky - Economista  - UFRJ
Maria de Lourdes Rollemberg Mollo – Economista - UNB
Esther Bemerguy de Albuquerque - Economista e membro do Fórum21
Francisco Lopreato - Economista - UNICAMP
Fernando Monteiro Rugitsky - Economista - USP
Carlos Aguiar de Medeiros - Economista - UFRJ 
Lena Lavinas - Economista - UFRJ
Valéria Moraes - economista e Jornal Brasil Popular
Rodrigo Octávio Orair - Economista e pesquisador do IPEA e PNUD
Alfredo Saad Filho – Economista - SOAS – Universidade de Londres
João Sicsú - Economista - UFRJ
José Carlos de Assis - Economista UFRJ
Ladislau Dowbor - Economista - PUC/SP e membro do Fórum21
Jorge Mattoso - Economista - Unicam
Róber Itturiet Ávila - Economista - UNISINOS/RS e membro do Fórum21
José Luís Fiori - Cientista Político, Pesquisador e Professor - UFRJ
Venicio A. de Lima - UNB e CEBRAS-UFMG e membro do Fórum21
José Gomes Temporão - Médico sanitarista - Ex-Ministro da Saúde do Governo Lula
Fernando Morais - Escritor e jornalista
José Carvalho de Noronha - Médico Sanitarista, consultor do CEBES - RJ
Alfredo Bosi - Universidade de São Paulo 
Marilena Chauí - Universidade de São Paulo
Celso Amorim - Embaixador
Andre Singer - USP
Maria Victoria de Mesquita Benevides - Socióloga e professora da USP
Saturnino Braga - Presidente do Centro Celso Furtado
Rosa Furtado - Diretora do Centro Celso Furtado
Tarso Genro - Ex-governador RS e membro do Fórum 21
Samuel Pinheiro Guimarães - Embaixador e membro do Fórum 21
Anivaldo Padilha – Presidente do Fórum 21 
Altamiro Borges – Jornalista e Secretario Geral do Fórum 21 
Joaquim Ernesto Palhares - Advogado e Secretario Geral do Fórum 21 
Wagner Nabuco – Jornalista e membro do Fórum 21 
Francisco Fonseca - Professor da FGV-SP e PUC-SP
Lincoln Secco - Professor de História da USP
Reginaldo Nasser - Departamento de Relações Internacionais da PUC/SP
Ricardo Musse - Sociólogo da Universidade de São Paulo
Gilberto Bercovici - advogado - USP  
Jacques Távora Alfonsin - Advogado - UNISINOS/RS
Sebastiao Velasco e Cruz – UNICAMP e membro do Fórum21
Juarez Tavares - Professor Titular da UERJ, Professor Visitante de Frankfurt e Subprocurador-Geral da República
Reginaldo Moraes - Filosofia na Universidade de São Paulo
Francisco Carlos Teixeira da Silva - Professor titular da UFRJ
Walquíria Leão Rego - UNICAMP - e membro do Fórum21
Rubem Murilo Leão Rego - UNICAMP e membro do Fórum21
Leonardo Avritzer - Cientista Social - Universidade Federal de Minas Gerais 
Antonio Lassance – Cientista Político, pesquisador do IPEA e DIEST e membro do Fórum21
Igor Felippe – Jornalista e membro do Fórum21
Luis Nassif - Jornalista
José Luiz Del Roio - Militante Político e membro do Fórum21
Laurindo Leal Filho - USP e membro do Fórum21
Rodrigo Vianna - Jornalista e membro do Fórum21 
Flavio Wolf Aguiar - escritor, jornalista e professor da USP
Guilherme Boulos - MTST
Maria Inês Nassif - Jornalista e membro do Fórum21
Breno Altman - Jornalista
Fábio Sá e Silva - Advogado e membro do Fórum21
Gonzalo Berrón - Cientista Político e membro do Fórum21
Laymert Garcia dos Santos - Comunicação - Universidade de São Paulo
Kiko Nogueira - Jornalista
Ricardo Maciel Kobaiachi - Ativista de Direitos Humanos e membro do Fórum21
Ana Melo Moraes - Coordenadora Nacional do MST e membro do Fórum21
Beto Almeida - TV Cidade Livre, Jornal Brasil Popular
José Augusto Valente - Engenheiro, Jornal Brasil Popular e membro do Fórum21
Osvaldo Maneschy - Jornalista, Jornal Brasil Popular
Elton Faxina - Jornalista - UFPR e Jornal Brasil Popular
Maria Auxiliadora César - Assistente Social e socióloga - Jornal Brasil Popular
Romário Schettino - Jornalista, Jornal Brasil Popular e membro do Fórum21
Jacy Afonso de Melo - Federação dos Bancários e membro do Fórum21
Valter Xéu - Jornalista, diretor e editor de Pátria Latina
Maria Luiza Franco Busse - Instituto Casa Grande
Maria Rita Loureiro - Professora da FEA e FGV/SP e membro do Fórum21
Helena Iono - Editora e produtora de TV
Erick Vargas da Silva - Historiador
Joaquim Soriano - Diretor da Fundação Perseu Abramo
Laura Carvalho - Economista
Pedro Estevam Serrano - PUC/SP
Rosa Maria Marques - Economista - PUC/SP e membro do Fórum21
Marcos Dantas - Comunicação URFJ
Gilberto Maringoni - Professor de Relações Internacionais da UFABC
Tania Bacelar - Cientista Social - Universidade de Paris I
Bernardo Cotrim - Secretário de Formação do PT/RJ e membro do Fórum21
Laura Tavares - Clacso Brasil e membro do Fórum 21