Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 18 de junho de 2013

O preço de deslegitimar o poder e a política


Estive ontem (17.6) na manifestação de São Paulo contra o preço das passagens no transporte público, no Largo da Batata, zona Oeste da cidade. Cheguei às 16 horas e permaneci entre os manifestantes até por volta das 19 horas, quando empreendi uma epopeia pra voltar pra casa.
Descendo a rua Cardeal Arcoverde de carro, acompanhei a procissão de jovens que se estendia por quarteirões. Todos no mesmo rumo, todos com o mesmo ar contrito e de determinação nos rostos.
Encontrei um estacionamento estrategicamente localizado a pouco mais de um quarteirão do Largo. “Fecha às 20 horas”, disse-me o manobrista, caixa e, provavelmente, tudo o mais naquele terreno descoberto, com chão de terra e convertido em estacionamento.
Já na Brigadeiro Faria Lima, a algumas centenas de metros do Largo, já não caminhavam pelas calçadas, mas no meio da rua. Um ou outro carro passava, desviando dos pedestres, agora donos da via, como se os motoristas pedissem desculpas por estarem onde não deviam.
Ao longe, grandes bandeiras brancas e vermelhas se erguiam de uma massa humana que me impressionou por ser tão grande a uma hora do horário previsto para o início da manifestação. Nas bandeiras brancas, as letras UJS (ou algo assim) e, nas vermelhas, PSTU.
Agora faltavam menos de cem metros pra chegar à aglomeração. Uma juventude bonita e evidentemente universitária. As idades variando entre 15 e 30 anos, no máximo. Aqui e ali, algumas pessoas maduras. Senhoras com cabelos loiros, homens grisalhos, todos com aparência próspera.
Os comerciantes iam fechando as portas e os trabalhadores da região passavam apressados. Pareciam assustados. Alguns comentavam que não sabiam como fariam pra chegar em casa, mas ninguém prestava atenção neles – além deste que escreve.
Para um carro grande, prateado, tinindo de novo, do qual não me ocupei de ver a marca. Desce um homem corpulento, cabelos grisalhos, calça social, camisa social com o botão do colarinho aberto, de onde pendia uma gravata afrouxada.
De repente, o veículo é cercado por um grupo de três garotas e cinco rapazes. O homem circunda o veículo e, com o porta-malas já aberto, tira dele vários quadros com uns 40 centímetros de largura por quase um metro de comprimento.
Os quadros de madeira recobertos por material gráfico de boa qualidade citam “corrupção”.
O motorista engravatado diz alguma coisa ao grupo de jovens e arranca com o veículo.
Chego ao limite da aglomeração. Grades de cerca de 1, 5 metro separam o extremo da calçada do Largo da via dos carros. Aproveito um poste metálico próximo pra subir nelas segurando-me nele, de forma a ter uma visão melhor da aglomeração e registrar imagens.
Um grupo de jovens passa por mim dizendo que fora “sacanagem” o que fizeram com o repórter da Globo Caco Barcelos, que seria “boa gente”. Decido ir atrás pra escutar mais, tomando cuidado em não ser percebido.
Descubro que o repórter foi expulso da manifestação e que havia um grupo que pretendia impedir o trabalho de qualquer um que fosse da Globo, porque a emissora “queima o filme” do protesto.
Percebo que as bandeiras do PSTU sumiram. Pergunto a uma garota se viu pra onde foram e ela me explica que os que as portavam foram convencidos a não exibi-las.
Presto mais atenção e vejo, a uns 50 metros, uma única bandeira vermelha, só que pequena. Olhando melhor, percebo ser do PT. Decido ir lá ver quem a carrega.
Ao chegar já não era uma bandeira, mas duas. Modestas em tamanho, diante das outras. Uma, empunhada por uma jovem negra, baixinha, que olhava assustada ao redor. A outra, por um rapaz loiro, cabelos longos e óculos. Também parecia tenso.
Começamos a conversar com os dois e logo aparece o deputado federal pelo PT paulista Paulo Teixeira, com mais duas pessoas. Fico sabendo que outros parlamentares, de vários partidos, foram ao protesto de modo a “garantir o direito dos manifestantes”.
Naquele momento, com a chegada do deputado, as pessoas em volta começam a entoar um refrão contra bandeiras partidárias. Algo como “Sem par-ti-do, sem par-ti-do”.
Os dois jovens permanecem impassíveis com suas bandeiras. Ao contrário dos que portavam as do PSTU, não foram convencidos. Foram apupados. Mas permaneciam impassíveis na missão que se impuseram.
Os gritos aumentam, mas os dois jovens continuam firmes. Uma aglomeração se forma em volta de nós. Ouço palavrões. Peço à moça e ao seu companheiro que baixem seus estandartes. O rapaz me atende, mas a moça não.
Começam empurrões e xingamentos. Ouço alguém dizer “blogueiro petralha, filho da puta”.
Alguém arranca a bandeira da mão da moça e a empurra, ela cai, seu companheiro reage, há chutes, mais palavrões. Os contrários às bandeiras são maioria esmagadora – ou melhor, são todos.
No empurra-empurra, sou separado do deputado petista e de seu grupo. E dos dois valentes porta-estandartes.
Nesse momento, uma quantidade imensa de pessoas – pareceram-me centenas – começam a entoar um cântico: “Hei, PT, vai tomar no cu!!”
Tento filmar, acredito ter filmado, mas quando chegou em casa percebo que o empurra-empurra interrompeu o vídeo, no qual só se pode ouvir “Hei, PT, vai tom (…)”.
Tudo pode ser assistido no vídeo ao fim do texto.
Ouço alguém falando em “blogueiro do PT” e percebo que é hora de uma retirada estratégica. Embrenho-me na multidão até chegar à rua, que atravesso. Dali em diante, decido acompanhar tudo de longe.
Já anoitece e vejo fumaça e luminosidade colorida no meio da massa. Parecem ser fogos de artifício ou coisa que o valha, mas não consigo me certificar.
Ouço mais cânticos contra o PT. Arrisco chegar perto e uma mulher branca, alta, aparentando uns trinta e poucos anos discursa contra “mensaleiros” e diz que “O PT tem mesmo que se ferrar”.
Decido sair dali. Contorno a manifestação. Um grupo bem menor, de umas dez pessoas, entoa “O povo não é bobo, abaixo a rede Globo”.
Contorno mais um pouco a manifestação e vejo mais movimentação. E gritam “Sem violência, sem violência”. Percebo que está havendo um enfrentamento físico.
Chego próximo a um grupo bem maior em que, lá no meio, vejo cartazes em que só consigo ler “Alckmin” e “PM”, por conta do empurra-empurra. Parece haver divergência ali também.
Decido que é hora de ir. Enquanto retorno ao estacionamento, vejo os trabalhadores passando rentes à parede, passo rápido. Mulheres de saias e cabelos longos, de mãos dadas com crianças, olhar no chão.
Um homem magro, de uns quarenta anos, de boné, malha de lã bege e puída, calça suja de tinta e de tudo mais que se possa imaginar carrega uma mochila, apressado. Decido tentar falar com ele.
Digo que sou jornalista e se poderíamos conversar. Pergunto se veio participar da manifestação.
– Não, senhor, não tenho nada a ver com isso.
Insisto. O que ele acha de tudo aquilo? Fica nervoso. Diz que não sabe de nada, principalmente como vai chegar em casa, em Ferraz de Vasconcelos.
As passarelas sobre a avenida estão lotadas de trabalhadores andando apressados. Parecem robôs. Nem olham pros lados e ninguém olha pra eles. Alguns estão sentados, outros de pé nas paradas. Olhares perdidos no espaço.
Volto ao estacionamento, percebo que não conseguirei ir em frente na Faria Lima, dobro à direita, faço uma opção errada e caio, de novo, no Largo da Batata, agora intransitável.
Carros, ônibus, caminhões e até uma legião de motocicletas parados, presos entre manifestantes à frente, atrás, dos lados.
Ouço a sirene de uma ambulância. Os carros começam a subir nas calçadas, fazendo o possível pra dar passagem. A ambulância só consegue chegar até os manifestantes e estanca. Alguns saem do caminho, mas a maioria não dá a menor bola.
Um senhor de uns sessenta anos, com uma mulher mais ou menos da mesma idade no banco do passageiro, desce do carro e começa a xingar os manifestantes, falando da ambulância. Um jovem forte se aproxima, desafiador, mas é dissuadido por outros manifestantes.
Consigo chegar à Marginal do Rio Pinheiros, totalmente parada. Já são mais de oito horas da noite. Começo a tentar cortar por ruas transversais, disparo por avenidas vazias e acabo indo parar no Alto da Lapa.
Tento me localizar, que não conheço bem a região. Apelo ao GPS do celular, mas a bateria acaba.
Paro em um posto de gasolina. Três frentistas conversam com um homem mais ou menos com os mesmos cinquenta e tantos anos que eu, dono de uma Pajero negra, novinha, sendo abastecida até a tampa.
Paro o carro na bomba, mando abastecer e peço pra deixarem eu carregar um pouco o celular. Sou prontamente atendido. Digo que vai demorar um pouco. Dizem-me que “hoje não adianta ter pressa”.
Começamos a conversar. O assunto, claro, o caos na cidade. O motorista da Pajero tem sotaque nordestino. Está muito bravo com a Polícia. Xinga de tudo quanto é nome. Fala da foto da repórter da Folha com o olho arrebentado por uma bala de borracha.
Os frentistas só olham, sorridentes, mas não dão palpite. Como se estivessem em uma aula, tentando aprender alguma coisa – talvez o que “bacanas” como eu e meu novo amigo nordestino esperam ouvir deles quando forem perguntados sobre o assunto.
Pergunto como sair dali e minhas opções imediatas, segundo dizem os frentistas, é a Lapa ou voltar ao Largo da Batata.
O motorista da Pajero diz que vai me ajudar, que sabe como ir cortando até a Cerro Corá. Dali posso pegar a Rebouças, diz, pra voltar à região da Paulista, onde resido.
– Vem atrás de mim. Vou te escoltar até lá. Quando eu ligar o pisca-alerta vou entrar à esquerda e você, à direita. Vai subindo, sempre pra cima, mas fica à sua esquerda. Vai cair na Cerro Corá. De lá você pergunta.
Explico que, de lá, eu me viro.
Sigo-o até que faça a manobra combinada. Buzino, ele buzina de volta e vamos cada um cuidar da própria vida.
Surpreendo-me com a Heitor Penteado e a Rebouças. Parece que estou em um domingo às sete da manhã. Vazia. Não se vê viva alma nas ruas. Nem gente, nem carros, ônibus, motos, nada.
Já são quase 21 horas. Duas horas pra chegar até lá.
Ouço na CBN que já há manifestantes na Paulista. Decido voltar pela Rebouças até a Oscar Freire, fazer o retorno e tomá-la em direção ao Paraíso.
Tudo vazio. Assustadoramente vazio.
Continuo ouvindo a rádio que toca – ou que, segundo dizem, “troca” – notícia. Agora falam que manifestantes estão passando em frente da Globo, na Berrini. E que outros tantos estão indo ao Palácio dos Bandeirantes.
Minha mulher me liga no celular recém-carregado, preocupada. Acalmada, relata que o Jornal Nacional disse que a Globo foi xingada pela manifestação.
PT, Alckmin, Globo…
Penso comigo que foi nisso que deu a mídia deslegitimar cotidianamente a política e o poder e seus críticos estimularem a descrença nela. Sobrou pra todo mundo. Pensando bem, era até previsível.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O tempo exausto (1) - Mauro Santayana

Santayana: o preço da sobrevivência é o conflito

Em todos os séculos houve a percepção de que o mundo chegava a seu fim, com a extinção da vida na Terra, como castigo divino ou inevitável cataclismo. Mas a vida, essa inexplicável rebelião da matéria, que encontra sua perfeição e perversão na existência do homem, consegue impor-se. O preço da sobrevivência é o  conflito.  Desde que o registro da vida da espécie existe, a existência tem sido a crônica da resistência contra as forças naturais,  os outros seres biológicos, feras, bactérias e vírus, e, sobretudo, contra parcelas da própria espécie.


Há uma tese, presente em vários pensadores, e de forma difusa, que explica o conflito básico do homem entre o predador e o solidário. O instinto de caça e de destruição, enfim, de canibalismo direto ou sutil, só consegue ser combatido pela inteligência. A inteligência conduziu o homem a se ver como ser frágil e precário que só poderia sobreviver em comunhão com os outros, multiplicando a força individual, certo de que sua proteção dependia da vida do companheiro. Mas houve o momento em que essa mesma inteligência, que indicava a solidariedade como necessária à existência individual e coletiva, passou a servir ao instinto predador.             Ora o homem é o lobo do homem, na definição de Plauto, ora o homem é o anjo do homem, como ocorre, quase todos os dias, no heroísmo de pessoas simples, que chegam a morrer para salvar a vida de outras. Os homens são construtores de sua História. E a História, não obstante a presunção de alguns acadêmicos parvos, como Fukuyama, nunca chegará a seu fim – a menos que o Sol esfrie de repente ou de repente estoure, na impaciência de seus gases comprimidos.


O tempo histórico de vez em quando entra em exaustão. São momentos, que podem durar décadas ou séculos, em que os ritos essenciais da vida são perturbados pelas superestruturas da sociedade, e o indivíduo redescobre a solidariedade, aquele sentimento de que a sua sobrevivência (e sua autonomia como ente, ou aquele que é) só pode ser defendida se contar com o outro. Nesses momentos, para o bem – e, algumas vezes, para o mal – surgem as grandes mudanças, com  novas normas de convivência da espécie. Embora possam identificar-se como religiosas ou étnicas, são necessariamente políticas, porque se referem à vida prática dos seres humanos.


Ontem, Londres entrava em seu terceiro dia de tumultos urbanos. Não é a primeira vez que isso ocorre. Além dos protestos sangrentos de Brixton, de há trinta anos, a cidade conheceu o conflito brutal de 1780, em que centenas de católicos foram massacrados pelos protestantes açulados por Lord George Gordon. Vivendo como cidadãos de segunda classe, desde Henrique VIII, os católicos recuperaram sua cidadania de acordo com o Catholic Relief Act, de 1778. Gordon, um nobre frustrado em sua tentativa de fazer carreira no Almirantado, encontrou sua chance para a demagogia, mobilizando os protestantes contra a lei e os levando a queimar propriedades de católicos e a assassiná-los em plena rua. Antes de ser condenado à prisão por rebeldia, Gordon se converteu ao judaísmo. Acabou morrendo na prisão de Newgate.


Há uma diferença entre as agitações urbanas e as revoluções. Como resumia um autor inconveniente, Lenine, sem teoria revolucionária não há revolução. Jean Tulard, um dos melhores historiadores contemporâneos, é seguro quando afirma que as rebeliões populares podem ser facilmente vencidas, seja pela repressão policial, seja pelo engodo por parte do poder. As revoluções necessitam de um esforço intelectual poderoso, de líderes que pensem uma nova ordem e a imponham no exercício da razão. Esses líderes podem surgir no desenvolvimento natural das rebeliões, como ocorreu na França de 1789, depois da Queda da Bastilha, ou em demoradas e pacientes carreiras políticas.


Londres repete, com a mesma impaciência, o que está ocorrendo em várias partes do mundo, e parece provável que virá a ocorrer nas regiões  ainda preservadas. O tempo, e nele, os homens, parecem exaustos do modelo da sociedade contemporânea, baseado na competitividade, na voracidade do consumo e do lucro. É uma sociedade contraditória. De um lado, a aplicação tecnológica das descobertas científicas torna a vida mais confortável e mais durável, mas não parece que isso responda aos anseios mais profundos da espécie. E, ainda pior: a tecnologia torna a crueldade mais organizada e mais eficaz. O nazismo foi a mais perfeita utilização da tecnologia para o assassinato em massa de toda a História. Os norte-americanos os repetem, desde a Guerra do Golfo, no Oriente Médio.


Como em outras épocas, a civilização se encontra diante de uma ruptura. O sistema econômico, submetido ao domínio do capital financeiro, entra em crises sucessivas, com a criminosa especulação dos operadores no mercado de capitais. Os indignados, com razões maiores ou menores, se multiplicam. A internet substitui – é outra das surpresas da tecnologia – os agitadores de rua, na condução dos protestos. Falta apenas a ideologia, a que se referem, entre outros, Lenine e Tulard.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Irã antecipa plano de lançar espaçonave tripulada


05/08/2010Comandante.MelkDeixar um comentárioIr para os comentários

TEERÃ (Reuters) – O Irã planeja lançar uma espaçonave tripulada dentro de sete anos, dois anos antes do previsto, disse nesta quinta-feira o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad.
“Num futuro próximo vamos enviar ao espaço uma sonda de comunicações, com vida útil de cerca de um ano”, declarou Ahmadinejad durante uma conversa ao vivo na televisão em Hamadan, oeste do Irã, segundo a agência semioficial de notícias Mehr.

“O governo iniciou planos que nos permitiriam mandar uma espaçonave tripulada para o espaço dentro de sete anos”, afirmou.

Ahmadinejad havia dito em julho que o Irã iria enviar sua primeira nave tripulada para o espaço em 2019. Em fevereiro, o Irã realizou o lançamento-teste de um satélite produzido no país, com o foguete Kavoshgar-3.

Países ocidentais suspeitam que o Irã esteja tentando construir bombas nucleares e temem que a tecnologia de mísseis de longo alcance, usada para colocar satélites em órbita, possa ser usada para o lançamento de ogivas.

O país é o quinto maior exportador mundial de petróleo e insiste que seu programa nuclear tem como objetivo gerar eletricidade.

Em 2009, o Irã lançou um satélite de fabricação própria e colocou-o em órbita pela primeira vez, informando que sua finalidade era de uso pacífico, para telecomunicações e pesquisas.

(Reportagem de Hashem Kalantari)