Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Estrangeiros descobrem que Globo ameaça a democracia; blindagem garante domínio dos Marinho sobre opinião e espaço públicos



Da Redação
A radiodifusão brasileira é regulamentada por uma lei de 1962, assinada pelo presidente João Goulart. Desde então, é a selva. Segundo a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), a selva favorece ao atuais radiodifusores, especialmente à Globo.
Não é, portanto, uma selva casual, já que na ausência de uma lei moderna a Globo faz o que quer. Se a legislação é desconexa, desatualizada, a Globo tem o poder de emplacar as mudanças administrativas ou mesmo legislativas que bem entende. Basta usar o poder de pressão que obteve graças aos favores recebidos durante a ditadura militar.
Neste sentido, a Globo é o maior dos entulhos autoritários que resta remover desde o fim formal da ditadura. A emissora reproduz, através de suas afiliadas locais, a coalizão de interesses econômicos que governa o Brasil desde 1964.
É o poder da Globo em relação ao Estado, sem qualquer tipo de controle, que permite à emissora usar espaço público para suas atividades sem pagar nada — das praias de Copacabana para os eventos de futebol de areia ao parque Ibirapuera para gravações de novela.
Em Nova York, a prefeitura cobra de emissoras de TV e produtoras de cinema todas as locações feitas nas ruas da cidade: da hora extra do policial ao eventual prejuízo dos comerciantes.
Livre de qualquer tipo de regulamentação, a Globo usa o poder de seu grupo — que inclui no mesmo mercado emissora de TV, jornal, portal e emissoras de rádio — para extorquir, ameaçar e “convencer” autoridades com mandato popular. Há vários exemplos:
1. Paula, herdeira da família Marinho, recebeu através do marido, como permissionária — sem concorrência pública — o estádio de remo em área nobre da cidade, adjacente à lagoa Rodrigo de Freitas, para montar cinemas, restaurantes e clube noturno; estava tudo formalmente em nome do marido, mas ela assinou um dos aditivos como fiadora e desfrutava de bens resultantes do contrato;
2. a Fundação Roberto Marinho administra museus construídos com dinheiro público, o que também faz em São Paulo no Pacaembu (Museu do Futebol) e na estação da Luz (Museu da Língua Portuguesa). Em todos os casos, a Globo entra apenas com a promoção. Os locais são públicos e o dinheiro para manutenção é levantado através da Lei Rouanet, ou seja, acaba saindo do bolso do contribuinte na forma de isenção fiscal;
3. Através de relação carnal com a CBF, a Globo tem controle dos direitos de transmissão dos principais eventos do futebol brasileiro e da FIFA, numa relação desenvolvida ao longo de décadas com dirigentes como Ricardo Teixeira, João Havelange e outros, todos implicados em escândalos que foram ou estão sob investigação de autoridades da Suiça e dos Estados Unidos.
4. No Rio, conforme denunciado pelo candidato a prefeito Marcelo Freixo, o modelo de ocupação do espaço público segue os princípios gerais da TV Globo: um modelo autoritário de cidade. Militarização das favelas, que atende ao projeto de estender os serviços de TV a cabo da emissora aos morros e grandes projetos privados financiados com dinheiro público, como o Porto Maravilha, onde fica o Museu do Amanhã, administrado pela Fundação Roberto Marinho. Em São Paulo, depois de construir seu prédio na avenida Berrini, a emissora conseguiu acelerar a construção de uma obra de prioridade duvidosa, a ponte Octávio Frias de Oliveira sobre o rio Pinheiros, com o objetivo de usá-la como backdrop para seu estúdio envidraçado.
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A ponte que teve construção acelerada para servir de cenário, a herdeira blindada e um dos museus que a Globo controla no Rio: dona do espaço construído com dinheiro público, tudo mantido com isenção fiscal
No plano mais geral da política, a Globo atua como o principal partido de oposição, filtrando seu noticiário de acordo com os interesses dos maiores bilionários do Brasil — os irmãos Marinho. Tais interesses são subordinados aos objetivos mais gerais da política externa dos Estados Unidos: privatização de bens públicos a preço de banana para investidores estrangeiros, entrega do patrimônio nacional para exploração pelo capital internacional — das minas de ferro de Carajás ao pré-sal — dominação do campo pelas empresas multinacionais — curiosamente, a Globo integra uma associação do agronegócio!
De outra parte, a política editorial da emissora criminaliza aqueles que se opõem a seus interesses, o que resulta em críticas constantes, distorcidas e infundadas à esquerda e aos movimentos sociais em geral e a líderes específicos que discordem de seus objetivos: de Leonel Brizola a João Pedro Stédile, do MST, do ex-presidente Lula ao deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
O conluio com outros donos de meios de comunicação, que jogam um papel subordinado ou têm negócios em sociedade com os Marinho, garante blindagem quase absoluta à emissora na mídia.
Para tratar apenas de três casos da atualidade:
1. Passou quase batido pelo noticiário o fato de que a Globo foi denunciada pela Receita Federal como autora de uma manobra para sonegar impostos no Brasil através da criação de uma empresa de papel nas ilhas Virgens Britânicas, a Empire. Os Marinho, sempre segundo inspetor da Receita, simularam investimento externo na empresa, que em seguida foi desmontada, com o capital transferido para a compra de direitos de transmissão. Isso resultou em multa de mais de R$ 600 milhões por sonegação de impostos no Brasil através de artifício contábil. O processo desapareceu de dentro de uma sede da Receita no Rio de Janeiro, o que retardou ação que poderia resultar em denúncia criminal dos Marinho — segundo nossas fontes, eles pagaram a multa que ascendeu a cerca de R$ 1 bilhão.
2. Embora não tenham sido citados na contabilidade paralela da empreiteira Odebrecht, os irmãos Marinho deixaram de noticiar em detalhes a existência de contribuições de campanha a seus aliados políticos. As justificativas: “faltaria tempo” no Jornal Nacional e era impossível determinar exatamente quais pagamentos tinham sido ilegais. No entanto, este mesmo cuidado nunca foi observado quando se tratava de delações que comprometiam o PT, Lula ou a presidente Dilma. O grampo entre Dilma e Lula, captado ilegalmente, foi reproduzido no mesmo Jornal Nacional sem qualquer tipo de observação que poderia macular seu conteúdo.
3. A neta xodó de Roberto Marinho, Paula, filha de João Roberto Marinho, teve o nome diretamente associado a três empresas offshore criadas pela panamenha Mossack & Fonseca. Paula, pelas anotações, teria pago taxas de manutenção das empresas Vaincre LLC, Juste International e A Plus Holdings. Os documentos, apreendidos no escritório da Mossack em São Paulo, nunca foram avaliados ou divulgados pela mídia corporativa. A família Marinho diz que Paula não tinha relação com as empresas, que pertenciam ao marido dela, Alexandre Chiappetta Azevedo. Porém, a investigação segue sem que haja vazamentos como aqueles que acompanharam outras investigações da Lava Jato. O juiz Sérgio Moro, herói promovido pela Globo, remeteu os dados da apreensão para análise do Supremo Tribunal Federal (STF), sem que se tenha determinado que as empresas pertencessem a pessoas com foro privilegiado.
Tal é o poder da Globo!
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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Plebiscito é a única chance de regular a mídia

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A nomeação do ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais Ricardo Berzoini para o Ministério das Comunicações reacendeu a esperança dos ativistas pela regulação da mídia devido às posições dele nessa questão. Todavia, um fato recente revela que ter nessa pasta um ministro simpático a essa regulação está longe de ser suficiente.
Em sua edição do segundo dia útil da semana, na coluna Painel, em uma nota diminuta, a Folha de São Paulo revela toda a dificuldade que envolve a mera discussão do assunto “regulação da mídia” no Congresso.
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Nada poderia ser mais emblemático do que o candidato do PT à Presidência da Câmara tirar o projeto de regulação da mídia de sua campanha para o cargo. Isso ocorreu porque a esmagadora maioria do Congresso não quer nem ouvir falar desse assunto, já que o sistema atual favorece a classe política, pois permite a parlamentares, chefes do poder Executivo etc. controlarem meios de comunicação, sobretudo rádios e tevês, o que lhes permite manter hegemonia política em seus Estados.
Segundo matéria do portal Vermelho publicada em novembro do ano passado, “Apesar da proibição Constitucional, atualmente, no Congresso Nacional, existem 271 políticos sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação”. A matéria ainda informa que “Desde 2013 o Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC) trabalha para coletar 1,3 milhão de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular para impedir, de fato, a propriedade de veículos de comunicação a parlamentares”, e que “A preocupação do FNDC é, também, o processo de democratização da produção e consumo do conteúdo veiculado”.
Se somarmos o tempo de duração de todos os fóruns e atos públicos pela regulação da mídia que já foram feitos desde que o tema começou a ser discutido mais intensamente no Brasil, lá pelo fim do primeiro governo Lula, encontraríamos uns dez anos de discussões do assunto. Para que? Para nada.
Porém, com um Congresso como o que foi eleito em outubro passado – considerado o mais conservador desde o fim da ditadura militar –, a possibilidade de passar um projeto como esse que persegue o FNDC, é praticamente nula. Se para se viabilizar como presidente da Câmara um candidato tem que renegar sequer a intenção de discutir o tema regulação da mídia, imagine só, leitor, o que seria votar um projeto nesse sentido.
Mesmo que fossem reunidas 1,3 milhão de assinaturas para apresentar ao Congresso um projeto de iniciativa popular pela regulação da mídia, não existe qualquer dúvida de que esse projeto de lei seria sumariamente engavetado.
Para que fique ainda mais clara a resistência dos parlamentares brasileiros a uma lei que colocaria a comunicação do país em um patamar civilizado como o dos Estados Unidos ou da Inglaterra, entre outros países nos quais a mídia eletrônica e até a impressa têm que obedecer regras, basta ver o que aconteceu com o projeto de lei que regulamenta o direito de resposta, de autoria do senador peemedebista Roberto Requião.
Confira, abaixo, a tramitação do projeto de lei 6446/2013, de autoria do senador Roberto Requião.
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Como se vê, o projeto, apresentado no ano retrasado, está parado desde abril do ano passado e não se vislumbra sequer possibilidade de voltar à pauta. E note, leitor, que não se trata de um projeto que busque suprimir direito de expressão. Pelo contrário, o projeto visa aumentar o direito de expressão, dando voz a quem for acusado ou detratado por algum meio de comunicação.
Ou seja: os políticos não querem que alguém que seja alvo de uma acusação de uma tevê ou jornal possa se defender no mesmo espaço em que foi acusado. Não é pouco…
Diante disso, toda a discussão que se faz sobre a questão regulação da mídia só não é inútil porque se ninguém tocar no assunto nem mesmo criaremos inteligência sobre ele. Mas, sendo realista, o que se vê é que regular a mídia ainda é um sonho distante para um país que, no tema comunicação, é um dos mais atrasados do mundo.
Em praticamente todos os países desenvolvidos a mídia obedece a um extenso arcabouço legal. Durante a década passada, países latino-americanos também conseguiram regular a mídia, alguns com legislações consideradas brilhantes pelos especialistas, como no caso da Argentina, cujo projeto de regulação foi elogiado pela ONU.
O Brasil sempre foi retardatário na adoção de legislações libertárias, como no caso da abolição da escravatura. Enquanto o mundo vai adequando leis à nova realidade das comunicações, após tantos avanços que vêm sofrendo, este país aferra-se a modelo arcaico, destinado a proteger os interesses dos velhos coronéis das comunicações – Globo, Folha, Estadão, Veja etc.
Quebrando a cabeça, porém, o blogueiro encontrou uma luz no fim do túnel.
O Congresso impede a mera discussão do assunto regulação da mídia porque sem regulação parlamentares e chefes do poder Executivo conseguem burlar uma lei malfeita e, assim, conseguem controlar tevês e rádios.
Apesar disso, uma minoria de parlamentares pode desencadear a discussão do assunto pela sociedade. Segundo aLEI Nº 9.709, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1998Art. 3º, “Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3o do art. 18 da Constituição Federal, o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de conformidade com esta Lei”.
A rigor, pode-se dizer que, hoje, partidos de esquerda mesmo, no Congresso, só há três: PT, PC do B e PSOL, que não somam nem 100 deputados. Porém, espremendo bem o que possa haver de esquerdistas em outras legendas, é possível chegar aos 171 deputados necessários à convocação do plebiscito.
Como se sabe, plebiscito é uma campanha eleitoral como qualquer outra, com tempo de rádio e tevê para que cada lado (contra e a favor do tema proposto) apresente seus argumentos. Ora, se houvesse, no país, uma campanha como essa, dificilmente seria derrotada, pois a quase totalidade dos brasileiros nem sonha que países como Estados Unidos, França, Inglaterra e tantos outros têm regulação da mídia.
Para finalizar, há que explicar por que se propõe plebiscito e não referendo. Para quem não sabe, plebiscito visa a elaboração de uma lei que atenda o fim para o qual a consulta popular foi convocada, e referendo visa o endosso popular a uma lei já formulada.
No caso, seria muito mais simples propor ao povo que endosse que o Congresso discuta e aprove uma lei de regulação da mídia. Afinal, o objetivo maior é levar essa discussão à sociedade, já que, por razões óbvias, a grande mídia censura esse debate, mantendo a quase totalidade do país na mais absoluta ignorância sobre o assunto.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Novo marco da mídia vai a consulta pública nos próximos dias

Paulo Bernardo (Comunicações) prepara-se para pedir aval à presidenta Dilma Rousseff para fechar data e iniciar consulta. Segundo ele, objetivo é adequar Código Brasileiro de Telecomunicações, que em agosto completa 50 anos, à Constituição de 1988. Em seminário, ministro diz que é contra controle de conteúdo e a favor de limitar capital estrangeiro na internet.

Brasília – A proposta de um novo marco regulatório para emissoras de rádio e TV, engavetada no ministério das Comunicações desde o início do governo Dilma, vai entrar em consulta pública nos próximos dias, informou nesta-terça (14) o ministro Paulo Bernardo. E já promete pelo menos duas grandes polêmicas. Criar ou não mecanismos de controle público do conteúdo das emissoras. E limitar ou não da presença de capital estrangeiro em portais de internet de conteúdo jornalístico.

Na abertura de um seminário sobre políticas de telecomunicações nesta terça-feira (14), Bernardo se alinhou, no caso da regulação de conteúdo, com o que pensam as empresas de radiodifusão, para as quais a única forma de controle deve ser o controle remoto. Para movimentos pela democratização da mídia, deveria haver critérios mais rígidos para a garantia da qualidade.

“A nossa Constituição não prevê o controle prévio de conteúdo, a não ser em casos bem específicos, como na proibição de propaganda de cigarros, bebidas alcoólicas e agrotóxicos, como já é feito hoje”, afirmou.

O ministro reconheceu que o setor de radiodifusão é capaz de fazer pressão suficiente para intimidar o governo, como tem ocorrido historicamente. “O setor tem um peso muito grande no Brasil, não só economicamente, já que movimenta R$ 20 bilhões, mas porque seus serviços são extremamente populares entre a população”.

Entretanto, Paulo Bernardo disse que o governo não vai se deixar acuar pela alegação de que regulamentar a mídia é tolher a liberdade de expressão. “Essa discussão de limitação da liberdade de expressão está fora. O que vamos fazer é readequar a legislação do setor, que é de 1962, dentro dos aspectos que estão na Constituição”, explicou.

Em relação à participação de capital estrangeiro em sites jornalísticos, o ministro também defendeu posição que agrada grandes veículos de comunicação, em oposição às gigantes multinacionais das telecomunicações. Para Paulo Bernardo, se a limitação de 30% serve para TVs, rádios, jornais e revistas, deve pautar também os veículos da internet.

“Nós teremos que discutir se um jornal eletrônico é veículo de comunicação. Eu acho que é. O governo ainda não tem posição, ainda não discutimos isso. Mas se ficar definido que é, vamos ter que fazer cumprir a lei”, explicou. Segundo ele, a Advocacia Geral da União (AGU) já foi acionada para emitir parecer sobre o assunto, que também será debatido em outras esferas do governo.

Para o ministro, a discussão será jurídica, mas também técnica. “Precisamos saber também se esse reconhecimento teria efetividade, já que as empresas de conteúdo internacionais, a princípio, podem simplesmente alojar seus sites em outros países”, acrescentou.

A limitação da presença de capital estrangeiro nos sites de conteúdo jornalístico interessa as grandes empresas jornalísticas, que já sofrem a restrição nos veículos impressos, de rádio e TV, mas é vista com maus olhos pelas multinacionais das telecomunicações, que exploram serviços de telefonia e internet no Brasil e querem continuar como acionistas principais dos veículos que operam.

Paulo Bernardo confirmou que o projeto de novo marco toma como base a proposta herdada do governo Lula, de autoria do ex-ministro da Comunicação Social da Presidência Franklin Martins. “Nós trabalhamos no projeto e conseguimos avançar em alguns pontos. Agora, estamos realizando conversas internas no governo para finalizá-lo”, acrescentou.

Segundo ele, já estão agendadas conversas com outros órgãos do governo, como Casa Civil e Ministério da Cultura. Depois, o projeto será debatido com a presidenta Dilma, que irá bater o martelo sobre prazo e formato para disponibilizar a consulta pública. Só depois as conversas envolverão o Congresso Nacional e, por fim, a sociedade civil organizada.




Os novos cães de guarda



“Por que os jornalistas não deveriam responder por suas palavras, dado que eles exercem um poder sobre o mundo social e sobre o próprio mundo do poder?” Assim o atual diretor do Le Monde Diplomatique francês, Sege Halimi, abre o seu livro “Os novos cães de guarda”. O livro retoma, no seu titulo, o livro de Paul Nizan, “Os cães de guarda”, publicado originalmente em 1932, e tornado famoso pela sua reedição em 1960, quando Sartre prefacia um outro livro de Nizan, Aden Arabie, relançando sua obra.

Nizan dizia que os intelectuais não devem ser os taquígrafos da ordem, mas aqueles que saibam a necessidade de superá-la, isto é, de subvertê-la. “O homem jamais produziu nada que testemunhasse a seu favor, senão com atos de cólera: seu sonho mais singular é sua principal grandeza, reverter o irreversível.” Recusar “esconder os mistérios da época, o vazio espiritual dos homens, a divisão fundamental de sua consciencia, e esta separação cada dia mais angustiante entre seus poderes e o limite real de sua realização”.

Halimi escreveu “Os novos cães de guarda” (Jorge Zahar, no Brasil), na coleção de combate dirigida por Pierre Bourdieu, para atualizar o fenômeno, que tornou-se um fenômenos essencialmente midiático nos nossos dias. A mercantilização neoliberal arrasou o campo midiático: “A informação tornou-se um produto como outro qualquer, comprável e destinado a ser vendido...”

Halmim faz um livro devastador, porque simplesmente retrata como são produzidas as informações e as interpretações a favor do poder e da riqueza. “Reverência diante do poder, prudência diante do dinheiro...”- resume ele, que revela as tramas de cumplicidade e de promiscuidade entre a velha mídia e os poderes economicos e políticos. E, também, como esses empregados das empresas de comunicação se promovem a si mesmos, alegremente, numa farsa de fabricação de opinião publica – expressão de Chomsky – de forma oligárquica e elitista.

Quem ousa romper com o consenso dominante é desqualificado como “populista”, “demagogo” pelos “cardeais do pensamento único”, que nos venderam suas mercadorias como a única via possível de “governos responsáveis”, afirmações pelas quais nao respondem hoje, quando essas certezas revelam suas misérias e os sofrimentos que causam para os povos cujos governos ainda se guiam por esses dogmas.

“Mídias cada vez mais concentradas, jornalistas cada vez mais dóceis, uma informação cada vez mais medíocre”, conclui Halimi. Perguntado pela razão de que a velha mídia não se reforma, não se renova, o ex-ministro da educação da França, Claude Alegre, político de direita, respondeu com franqueza: “Eu vou lhes dar uma resposta estritamente marxista, eu que nunca fui marxista: porque eles não têm interesse... Por que os beneficiários dessas situação não têm o menor interesse em mudá-la.”

O livro de Halimi foi transformado em documentário e é o filme mais interessante para se ver em Paris atualmente, com o mesmo titulo do livro: “Os novos cães de guarda”. Dirigido por Gilles Balbastre e Yannick Kergoat, com a participação do próprio Halimi no roteiro, o filme poderia ser transporto mecanicamente para o Brasil, a Argentina, a Veneuela, o México, qualquer país latino-americano, apenas mudando os nomes dos jornalistas, dos donos das empresas midiáticas e dos supostos especialistas entrevistados, representantes da riqueza e do poder nas nossas sociedades.

Entre outras informações sonegadas pela velha mídia, cada vez que alguém é entrevistado ou chamado para alguma reunião na velha mídia, aparecem os créditos da pessoa: seu cargo nas empresas privadas, sua participação em outras, as ações que dispõem, etc. Para que se saiba quem está falando, sem disfarçá-lo na qualidade de “especialista”, grande economista, etc, etc.

Mais informações sobre o filme podem ser obtidas em http://www.lesnouveauxchiensdegarde.com/.
Postado por Emir Sader às 16:05


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Lula disse que irá “resolver a história das telecomunicações de uma vez”

Rachel Duarte

Pela segunda semana consecutiva o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu representantes de veículos de comunicação não tradicionais. Na última semana, ele concedeu uma coletiva de imprensa para blogueiros progressistas de todo o país e, nesta quinta-feira (02), a conversa do presidente foi com as rádios comunitárias. Entre os pontos principais da pauta dos radialistas, estavam o Marco Regulatório das Comunicações e a reforma do Ministério das Comunicações no governo de Dilma Rousseff.
Durante a entrevista, que durou pouco mais de uma hora, o presidente falou sobre o preconceito que existe na política brasileira que o vitimou “a vida inteira” e que o assustou durante a campanha presidencial. “Tiveram perguntas de jornalistas do PSol, um partido de esquerda, que qualificavam a Dilma como guerrelheira, por exemplo. Temas que surgem desde o início da humanidade voltaram a tona só porque tínhamos uma mulher candidata”, argumentou. Lula ressaltou, entretanto, que acredita que prevalecerá o bom senso no governo da sua sucessora. “Vocês podem ter certeza de que Dilma Rousseff fará mais e melhor, porque encontrou um país muito mais desenvolvido e com a economia em amplo crescimento. Ela não veio de onde eu vim, mas ela vai para onde eu fui”, ressaltou.
Participaram da entrevista com o presidente Lula as rádios Maria Rosa, de Curitibanos (SC); Heliópolis, de São Paulo (SP); Líder Recanto, do Recanto das Emas (DF); Oito de Dezembro, de Vargem Grande Paulista (SP); Santa Luzia, de Santa Luzia (MG); Cidade, de Ouvidor (GO), Fercal, de Sobradinho (DF) e Comunitária Integração, de Santa Cruz do Sul (RS). A entrevista foi transmitida ao vivo pelo Blog do Planalto e também por diversos outros blogs do País.
Reforma do Ministério das Comunicações
O presidente Lula anunciou força total do próximo governo para com o debate sobre a mudança na regulação da comunicação no Brasil. Os ativistas da comunicação foram convocados no apelo de Lula aos representantes das rádios comunitárias. A promessa é de que o Ministério das Comunicações do governo Dilma priorize este debate, porque, segundo Lula, “a legislação brasileira é ultrapassada e não reflete o mundo altamente tecnológico e conectado à internet que temos hoje”.
Os representantes de mídias alternativas serão fundamentais para equalizar os interesses das mídias que detém as concessões públicas no Brasil. O debate será forte, uma vez que irá mexer também nos interesses dos proprietários de televisão, telefonia e internet. “Este será o principal desafio do novo Ministério das Comunicações e é preciso ser feito, custe o que custar”, diz Lula.
Marco Regulatório das Comunicações
Lula expressou a vontade de se dedicar às discussões a respeito do Marco Regulatório das Comunicações após o fim do mandato, já que, segundo disse, poderá ter um discurso que não podia ter na função de Presidente da República. Ele disse que, como militante político, exercerá um papel centralizador dos debates da sociedade brasileira para politizar a questão do marco regulatório e “resolver a história das telecomunicações de uma vez”. Para isso, ΅é preciso ter força política” e embasamento, para vencer “o monopólio”que existe atualmente nas comunicações.
O governo de Lula ampliou a distribuição das verbas para publicidade de 449 veículos para 8.010. Mas, na opinião do presidente, é preciso mudar urgentemente o padrão da comunicação brasileira, que ainda não reflete a pluralidade do país e não contribui para a difusão da diversidade cultural. Lula disse que não é mais possível que uma pessoa que mora na região Norte, por exemplo, só tenha acesso à programação de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na opinião dele, “sem querer tirar nada de ninguém”, é preciso que se dê a oportunidade para que moradores do Sudeste tenham acesso às informações de todo o país e para que todas as regiões estejam em contato com sua própria cultura.