Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Na terra de Lula, até os postes querem votar nele

Lula pernambuco capa
Na semana que finda estive em Recife em visita a filha que foi residir lá em 2014 com sua família por questões profissionais do marido. Em solo pernambucano, descobri um nível de apoio a Lula que explica a viagem do ex-presidente à região.
Contatos políticos que fiz durante a estadia em Recife confirmam a única pesquisa confiável sobre o apoio a Lula em Pernambuco.
Reportagem publicada no UOL em abril deste ano relata pesquisa na qual as intenções de voto do ex-presidente naquele Estado alcançam incríveis 65%, o que explica visita que ele está fazendo à região.
pernambuco 1
Lula terá direito a um terceiro mandato no que depender dos pernambucanos. De acordo o Instituto de Pesquisa Uninassau, ele tem 65% das intenções de voto no Estado. Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede) aparecem com 6% e Geraldo Alckmin (PSDB), Aécio Neves (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) têm 1%.
O levantamento foi feito nos dias 23 e 24 de março, com 2.014 entrevistas em todo o Estado. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de 2,2%.
Se for à Pernambuco, sobretudo ao Recife, você vai sentir essa realidade. Nos contatos que fiz por lá, pude obter análises apuradas não apenas sobre a aprovação a Lula em Pernambuco, mas em todo o Nordeste. A onda Lula engolfou a região.
Na última quarta-feira, 23 de agosto, palestrei na Universidade Católica de Pernambuco a convite da instituição. O contato com professores da Unicap me permitiu entender a razão pela qual Lula deve ter um apoio massacrante no Nordeste na eleição do ano que vem.
O Nordeste experimentou o maior crescimento da história durante os oito anos do governo Lula. Pernambuco, em especial, cresceu mais do que qualquer Estado na região ou no país. O povo nordestino sabe por que quer Lula na Presidência de novo.
A odiadores profissionais de Lula que visitarem a capital pernambucana, recomenda-se que permaneçam em Boa Viagem e redondezas. E, assim mesmo, não será uma boa ideia verter antipetismo e antilulismo por lá.
*
Enfim, convido você a assistir, no vídeo abaixo, trecho da palestra que proferi na quarta-feira (23) na Universidade Católica de Pernambuco.

domingo, 23 de outubro de 2016

Pesquisas comprovam que perseguição a Lula gerou desconfiança


pesquisas

Sim, o título deste texto é esse mesmo que você leu. E se está surpreso, é pelo que não leu. Por exemplo, não leu as recentes pesquisas Vox Populi e CNT/MDA. Elas mostram claramente que o tempo passou a ser amigo da esquerda e inimigo da direita.

Antes do burburinho dos últimos dias sobre a possibilidade de Lula ser preso proximamente, ele vinha sendo alvo de uma campanha paulatina de enfraquecimento.

Em 26 de agosto, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente em inquérito que investiga se ele é dono de um apartamento no Guarujá (SP).  Lula foi indiciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Em 15 de setembro, o cruzado do MPF, Deltan Dallagnol, fez a apoteótica apresentação em power point colocando Lula como o grande chefe da quadrilha do petrolão, “il capo di tutti capi”.

Em 20 de setembro, o juiz federal Sergio Moro aceitou a denúncia feita pelo MPF  contra o ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com a decisão, Lula virou réu na Operação Lava Jato. Ele já era réu em outra ação na Justiça do DF.

Em 14 de outubro, Lula virou réu pela terceira vez. A acusação foi ter beneficiado a Odebrecht em contratos do BNDES em troca de propina. A denúncia foi aceita pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília.

De agosto para cá, o ex-presidente Lula passou a ser réu em três ações penais, duas em Brasília e uma no Paraná. E foi alvo do show de Dallagnol, apresentado com pompa e circunstância pela máquina de moer global.

Enquanto isso, cresciam os boatos sobre sua prisão. Em Brasília não se falava de outra coisa: se Lula tivesse que ser preso o momento seria agora, após todos esses indiciamentos – que, em tese, deveriam fragilizar o ex-presidente – e a derrota fragorosa do PT nas urnas.

Contudo, de cerca de dez dias para cá o quadro mudou muito.

Tudo começou na sexta-feira retrasada, com a denúncia deste Blog de que o ex-presidente estava na mira imediata de Sergio Moro, que decidira aproveitar o “bom momento” para prender o ex-presidente – provavelmente, junto com Eduardo Cunha, o que tornaria a prisão de Lula mais “palatável”.

Apesar de não ter ocorrido nenhuma grande manifestação de rua, a comoção que tomou a esquerda, a direita e até a mídia diante da minha denúncia mostrou o que seria prender o ex-presidente.

Até na direita surgiram análises de que não havia nenhum “fato novo” que justificasse a prisão. Colunistas antipetistas da grande mídia como um Merval Pereira apressaram-se em “negar” a prisão iminente de Lula, demonstrando que a tese não lhes interessava.

Esse colunista e Diogo Mainardi trataram de me atacar por ter levantado essa bola…
Em seguida, duas pesquisas de fontes absolutamente independentes uma da outra mostram forte crescimento da popularidade de Lula. Uma feita pelo instituto Vox Populi e outra do instituto MDA, feita para a Confederação nacional dos transportes.

Nas duas pesquisas, o resultado foi surpreendente. E, em ambas, Lula vence todos os adversários no primeiro turno.

Na pesquisa Vox Populi, Lula vence o primeiro turno com 35% se adversário tucano for Alckmin (12%) e com 28% se for Aécio. Na pesquisa CNT/MDA, Lula vence o primeiro turno com 25,3% se o adversário tucano for Alckmin e com 24,8% se for Aécio.

O mais interessante é que as pesquisas vinham dando derrota de Lula para todos os candidatos (Marina, Alckmin, Aécio) no segundo turno e agora, justamente na pesquisa dos antipetistas da CNT, o mesmo Lula está em empate técnico com os adversários.

Lula empata tecnicamente com Aécio e Marina no segundo turno, segundo a CNT/MDA. Essa pesquisa não mensurou a disputa em segundo turno entre Lula e Alckmin e suspeita-se de que é porque Lula venceria.

Vale notar que Vox Populi e CNT/MDA são identificadas, respectivamente, com petistas e antipetistas. Vox Populi é considerado um instituto “petista” e as pesquisas feitas para a Confederação Nacional dos Transportes, do proto-tucano Clésio Andrade, são consideradas “antipetistas”.

Para a Lava Jato, esses números são terríveis. Mostram que as pessoas estão se solidarizando com Lula pelos ataques que vem sofrendo e pela virulência ditatorial dos processos contra si.

Se Lula, apesar do linchamento na mídia sob cortesia da Lava Jato, está ganhando eleitores e já tem metade dos votos válidos em todas as simulações de segundo turno, essa metade do eleitorado brasileiro deve achar que Moro e sua trupe não provaram nada com suas apresentações canhestras em power point.

O crescimento da popularidade de Lula também frustra a percepção de que este seria um “bom momento” para prendê-lo, pois está claro que, apesar do linchamento midiático, a opinião pública está achando que estão querendo impedi-lo de ser presidente de novo.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Ipsos: cai o apoio ao golpe e brasileiros preferem Dilma a Temer

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Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos, publicada nesta terça-feira pelo Valor Econômico, traz números importantes sobre como os brasileiros enxergam o golpe de 2016; entre março e julho deste ano, o percentual dos que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff caiu de 61% para 48%; além disso, o percentual de brasileiros que defendem que Dilma volte e conclua seu mandato é maior do que o dos que desejam a permanência do interino Michel Temer; ela tem 20% contra 16% do vice em exercício, que é rejeitado por 68% da população brasileira; a preferência, no entanto, é por novas eleições – tese defendida por 52%; portanto, como a realização de uma nova disputa presidencial depende da volta de Dilma, que faria uma consulta popular a respeito, os senadores não têm escolha, a não ser rejeitar o golpe 

247 – Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos, publicada nesta terça-feira pelo Valor Econômico (confira aqui), traz números importantes sobre como os brasileiros enxergam o golpe de 2016.

Entre março e julho deste ano, o percentual dos que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff caiu de 61% para 48%. Isso demonstra que, após atingir um pico com a histeria golpista provocada pela mídia tradicional, a adesão ao impeachment caiu à medida que a população se deu conta da natureza perversa do atual processo político.

Além disso, o percentual de brasileiros que defendem que Dilma volte e conclua seu mandato é maior do que o dos que desejam a permanência do interino Michel Temer. Ela tem 20% de apoio contra 16% do vice em exercício, que é rejeitado por 68% da população brasileira e aprovado por apenas 19%. Isso demonstra que manter Temer no poder contraria a vontade da ampla maioria dos brasileiros.

O que a pesquisa também demonstra é que a preferência é por novas eleições – tese defendida por 52%. Como a realização de uma nova disputa presidencial depende da volta de Dilma, que faria uma consulta popular a respeito, os senadores não têm escolha, a não ser rejeitar o golpe.

A pesquisa Ipsos também confirma a dimensão da fraude do último Datafolha, que chegou a divulgar que 50% dos brasileiros defendiam a permanência de Temer no poder, até ser desmascarado (saiba mais aqui).

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A voz das ruas: Fora, Temer!


A voz das ruas: Fora, Temer!

 
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 Emir Sader
 - Quero a verdade. Tragam-me números.

Essa ilusão quantitativa que por tanto tempo teve vigência na opinião pública não leva em conta o quanto os números escondem ou podem esconder a realidade. O desmascaramento das pesquisas do Datafalha escancara a manipulação feita pelas pesquisas e como trataram de influencias na opinião pública.

Por si só o fato de que os dois mais importantes institutos de pesquisas até aqui – o Ibope e o Datafolha – tivessem vínculos políticos muito diretos – um com a Globo, o outro com a Folha -, que tem posições partidárias claras há anos no Brasil, já demonstrava a falta de isenção deles. Ainda mais se sabemos que faziam as pesquisas quando lhes interessava, sobre os temas que lhes interessavam, com as perguntas voltadas para as respostas que lhes interessavam.

À luz desse desmascaramento do Datafalha, podemos olhar para tras e reconsiderar os consensos fabricados na opinião pública, que se tornaram verdades estabelecidas, embora forjadas na cozinha dos institutos de pesquisa. Passaram a ideia de um isolamento formidável do Lula em 2005, mas um ano depois o Lula foi reeleito. Massacram o Lula durante todo seu segundo mandato, mas ele o concluiu com popularidade de 87%.

Mais recentemente, as manipulações foram mais escandalosas. Imaginar que a Dilma poderia, em poucas semanas, baixar de mais de 50% de apoio a menos 10%. E se valer disso para propagar que a voz das ruas pedia o impeachment, o que serviu como argumento político para parlamentares que não tinham argumento sobre crimes de responsabilidade, mas que diziam estar sintonizados com as ruas. Mesmo quando obviamente as ruas passaram a ser ocupadas pelos movimentos populares, a mídia seguiu, nos seus editoriais, a se apropriar das ruas, como se as antigas pesquisas, manipuladas, lhes dessem esse direito.

Agora tanto as ruas, como as próprias pesquisas, feitas pelos mesmos órgãos da direita, apontam em outra direção: a voz das ruas quer Fora Temer. 81%, escondidos na pesquisa do Datafolha, não querem Temer, não querem o golpe, querem o Fora Temer.

Apesar de perderem todas as eleições presidenciais desde 2002, os editoriais da velha mídia usam plurais majestáticos para tentar passar seus interesses particulares pelos interesses do país. O Brasil não quer o golpe, não quer o Temer, não acredita mais na velha mídia.

Depois de intoxicar a cabeça dos brasileiros de que o problema fundamental do pais é a corrupção (do PT, claro), buscam confirmar isso nas suas pesquisas, com as formulações capciosas, que favorecam as respostas que lhes interessam, que serão destacadas devidamente nas manchetes.

Mas nessa mesma pesquisa já devidamente desmoralizada, se anunciar que a corrupção seria a principal preocupação dos brasileiros. Mas logo em seguida vem a saúde, o desemprego, a educação que, somados, superam a corrupção. Portanto os problemas sociais seguem sendo a maior preocupação dos brasileiros, ao contrário do que anunciam os arautos do golpe.

O país mudou muito desde aquele vergonhoso domingo circense preparado pela mídia, de que fazia parte uma suposta voz das ruas a favor do golpe. Agora a voz das ruas, vista nas ruas, e presente nas pesquisas, é outra: a grande maioria dos brasileiros, mais de 4 em 5, quer o Fora Temer.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Greenwald após resposta da Folha: “fraude jornalística é ainda pior”




Greenwald após resposta da Folha: “fraude jornalística é ainda pior”


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"Semanas antes da conclusão do conflito político mais virulento dos últimos anos – a votação final do impeachment de Dilma no Senado Federal – a Folha, maior e mais importante jornal do país, não apenas distorceu, mas efetivamente escondeu, dados cruciais da pesquisa que negam em gênero, número e grau a matéria original (...). Colocado de forma simples, esse é um dos casos de irresponsabilidade jornalística mais graves que se pode imaginar", escrevem os jornalistas Glenn Greenwald e Erick Dau, em novo artigo na The Intercept sobre a mentira publicada pela Folha de S. Paulo para favorecer Michel Temer; "O mais surpreendente é que todo esse esforço foi feito para negar o desejo de democracia: fazendo o país acreditar que a maioria dos brasileiros apoiam a figura política que tomou o poder de forma antidemocrática e que não há necessidade de realizarem-se novas eleições, quando a verdade é que a maioria do país quer a renúncia do "presidente interino" e a realização de novas eleições para escolha de um presidente legítimo", acrescentam

Por Glenn Greenwald e Erick Dau, da The Intercept

- Dados de pesquisa ocultados pela Folha mostram que a grande maioria dos eleitores quer a renúncia de Temer, o que contradiz categoricamente a matéria da Folha

- 62% dos brasileiros querem a renúncia de Dilma e Temer, e a realização de novas eleições: ao contrário dos 3% inicialmente mencionados pela Folha


- Dados cruciais da pesquisa foram publicados e, em seguida, retirados do ar pelo datafolha: encontrados por portal brasileiro


- Resposta do Diretor Executivo da Folha de São Paulo de que os dados ocultados não eram "jornalisticamente relevantes" não resiste a análise

 
NA QUARTA-FEIRA (20), a Intercept publicou um artigo documentando a incrível “fraude jornalística” cometida pelo maior jornal do país, Folha de São Paulo, contendo uma interpretação extremamente distorcida das respostas dos eleitores à pesquisa sobre a crise política atual. Mais especificamente, aFolha – em uma manchete que chocou grande parte do país – alegava que 50% dos brasileiros desejavam que o presidente interino, e extremamente impopular, Michel Temer, concluísse o mandato de Dilma e continuasse como presidente até 2018, enquanto apenas 3% do eleitorado era favorável a novas eleições, e apenas 4% desejava que Dilma e Temer renunciassem. Isso estava em flagrante desacordo com pesquisas anteriores que mostravam expressivas maiorias em oposição a Temer e favoráveis a novas eleições. Conforme escrevemos, os dados da pesquisa – somente publicados dois dias depois pelo instituto de pesquisa da Folha – estavam longe de confirmar tais alegações.

Depois da publicação de nosso artigo, foram encontrados ainda mais indícios – através de um trabalho colaborativo incrível de verdadeiros detetives da era digital – que revelam a gravidade da abordagem da Folha, incluindo a descoberta de um legítimo “smoking gun” comprovando que a situação eramuito pior do que achávamos quando publicamos nosso artigo ontem. É importante não deixar o aspecto estatístico e metodológico encubra a importância desse episódio:

Semanas antes da conclusão do conflito político mais virulento dos úlitmos anos – a votação final do impeachment de Dilma no Senado Federal –  aFolha, maior e mais importante jornal do país, não apenas distorceu, masefetivamente escondeu, dados cruciais da pesquisa que negam em gênero, número e grau a matéria original. Esses dados demonstram que a grande maioria dos brasileiros desejam a renúncia de Michel Temer, e não que o “presidente interino” permaneça no cargo, como informado pelo jornal. Colocado de forma simples, esse é um dos casos de irresponsabilidade jornalística mais graves que se pode imaginar.

A desconstrução completa da matéria da Folha começou quando Brad Brooks, Correspondente Chefe da Reuters no Brasil, observou uma enorme discrepância: enquanto a Folha anunciava em sua capa que apenas 3% dos brasileiros queriam novas eleições e que 50% queria a permanência de Temer, o instituto de pesquisa do jornal, Datafolha, havia publicado um comunicado à imprensa com os dados da pesquisa anunciando que 60% dos brasileiros queriam novas eleições. Observe essa impressionante contradição:


Como isso é possível? Nós entramos em contato com o Datafolha imediatamente para esclarecer a dúvida, mas como grande parte dos veículos de comunicação já havia lido nosso artigo e o assunto havia se tornado uma controvérsia nacional, o instituto se recusou a se manifestar. Eles simplesmente não queriam nos explicar a natureza da discrepância.

Mas essa revelação levou a outro mistério: nos dados e perguntas complementares publicados pelo Datafolha, não havia nenhuma informação mostrando que 60% dos brasileiros eram favoráveis a novas eleições, como dizia um dos enunciados da pesquisa do instituto. Parecia evidente que o Datafolha havia publicado apenas algumas das perguntas feitas aos entrevistados. Apesar das perguntas estarem numeradas, o documento contava apenas com as perguntas 7-10, 12-13 e 21. Isso não é necessariamente incomum ou incorreto (jornais tendem a omitir perguntas sobre tópicos menos relevantes ao publicar uma reportagem), mas era estranho que nenhuma das perguntas publicadas pelo Datafolha confirmasse ou tivesse relação com a afirmação do enunciado da pesquisa. De onde, então, saiu essa informação – 60% – que contradiz a reportagem de primeira página da Folha?

A resposta veio através do excelente esforço investigativo de Fernando Brito do site Tijolaço. Primeiro, a equipe do site observou que o endereço URL do documento do Datafolha com os dados e perguntas complementares à pesquisa que foi publicado na segunda-feira – documento citado em nosso artigo original mostrando que a manchete da Folha era falsa – terminava em “v2”, ou seja, era a segunda versão do documento publicado pelo Datafolha. A equipe procurou a versão original, mas não foi possível encontrá-la no sitedo instituto. Eles começaram a tentar adivinhar o endereço URL da versão original, até que acertaram. Embora a versão original tivesse sido retirada do ar pelo Datafolha, ainda se encontrava nos servidores do instituto, e ao acertar o endereço URL correto o Tijolaço teve acesso ao documento.

O que foi encontrado na versão original do documento – aparentemente retirada do ar de forma discreta pelo Datafolha – é de tirar o fôlego. Ficou comprovado que a matéria da Folha era uma fraude jornalística completa. A pergunta 14, encontrada na versão original, dizia:

“Uma situação em que poderia haver novas eleições presidenciais no Brasil seria em caso de renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer a seus cargos. Você é a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para a convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda neste ano?”

Os dados não publicados pelo Datafolha mostram que 62% dos brasileiros são favoráveis à renúncia de Dilma e Temer, e à realização de novas eleições, enquanto 30% são contrários a essa solução. Isso significa que, ao contrário da afirmação da Folha de que apenas 3% querem novas eleições e 50% dos brasileiros querem a permanência de Temer como presidente até 2018 – ao menos 62% dos brasileiros, uma ampla maioria, querem a renúncia imediata de Temer.


A situação é ainda pior para a Folha (e Temer): a porcentagem de eleitores que deseja a renúncia imediata de Temer é certamente muito maior do que esses 62%. A pergunta colocada pelo Datafolha era se os entrevistados eram favoráveis à renúncia de Temer /e Dilma/. Muitos dos que responderam “não” – conforme demonstrado pelos detalhes dos dados – são apoiadores do PT e/ou querem Lula como presidente em 2018, o que significa responderam que “não” porque querem que Dilma retorne, e não porque querem a permanência de Temer. Portanto – conforme concluído pelo Ibope em abril – apenas uma minoria dos eleitores querem Temer como presidente: exatamente o oposto da “informação” publicada pela Folha.

Essa não foi a única informação ausente que o Tijolaço descobriu quando encontrou a primeira versão dos dados publicados. Como explicam de maneira detalhada, havia dois parágrafos inteiros escritos pelo DataFolha resumindo os dados das respostas que também foram removidos da segunda versão publicada, inclusive a seguinte frase: “a maioria (62%) declarou ser a favor de uma nova votação para o cargo de presidente”

A equipe também descobriu uma pergunta não revelada – a pergunta 11 – que é provavelmente a mais favorável a Dilma e foi completamente omitida pela Folha. O DataFolha perguntou:
“Na sua opinião, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está seguindo a regras democráticas e a Constituição ou está desrespeitando as regras democráticas e a Constituição?”
Apenas 49% disseram que o impeachment cumpre as regras democráticas e respeita a Constituição, enquanto 37% disseram que não. Como a Folha pode omitir este dado tão surpreendente e importante quando, supostamente, quer descrever a visão dos eleitores sobre o impeachment?


Ontem, a Folha publicou uma “notícia” sobre o que chamou de “controvérsia” provocada por nosso artigo. 

O jornal se esquiva e, em muitos casos ignora a maioria destas questões importantes.

O artigo confirma que, ao contrário de sua afirmação anterior de que apenas 3% dos brasileiros querem novas eleições, “a porcentagem de favoráveis a novas eleições, no entanto, sobe para 62% nas respostas estimuladas, ou seja, quando o instituto pergunta explicitamente”. E incluiu as duas perguntas que havia mantido em segredo: uma demonstrando que a maioria quer a saída de Temer, e outra mostrando uma expressiva minoria que vê o impeachment como uma violação da democracia (a Folha deixou de mencionar que estes novos dados, na verdade, haviam sido publicados anteriormente pelo Tijolaço).



No entanto, o jornal insistiu que não havia nada de errado em esconder esses dados. Publicaram uma citação do próprio editor executivo, Sérgio Dávila, argumentando que é “prerrogativa da Redação escolher o que acha jornalisticamente mais relevante no momento em que decide publicar a pesquisa”. Dávila insistiu que “o resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não nos pareceu especialmente noticioso, por praticamente repetir a tendência de pesquisa anterior e pela mudança no atual cenário político, em que essa possibilidade não é mais levada em conta.”

Não se pode subestimar a desonestidade dessa resposta e quanto o editor executivo da Folha conta com a ingenuidade de seus leitores. O maior absurdo da reportagem da Folha foi dizer que o país deseja a permanência de Temer como presidente até 2018 e apenas uma pequena porcentagem quer novas eleições. Mas, ao mesmo tempo em que publicava isso, a Folhatinha em mãos os dados que provam que essas afirmações eram 100% falsas, mostrando que, na realidade, o oposto era verdadeiro. A grande maioria dos brasileiros querem que Temer saia do poder, e não que o interino permaneça como presidente. E uma expressiva maioria, não uma parcela ínfima, quer novas eleições.

Nenhuma das desculpas de Dávila resiste sequer ao menor questionamento. Se é jornalisticamente irrelevante saber a porcentagem de brasileiros favoráveis a novas eleições, por que a Folha encomendou a pergunta? Se essa pergunta sobre novas eleições é irrelevante, por que esse dado foi não apenas incluído, mas proeminentemente destacado pelo Datafolha no título do relatório original? Por que, se esse dado é irrelevante, o Datafolha o publicou originalmente e depois o retirou do ar em nova versão que excluía essa informação? E como esse dado pode ser considerado jornalisticamente irrelevante pela Folha quando ele contradiz diretamente as afirmações alardeadas na capa do jornal e, em seguida, reproduzidas pelos maiores jornais do país?

Outros meios de comunicação também consideraram esses dados relevantes. Ontem à noite, a edição brasileira do El País publicou um artigo de destaque com a manchete: “62% apoiam novas eleições, diz dado que Datafolha publica agora”. O El País aborda o ocorrido tanto como um escândalo jornalístico, quanto político, descrevendo como a Folha escondeu esses dados até serem encontrados em consequência de nosso artigo. O jornal também publicou outra matéria citando especialistas que corroboraram as posições de nossos entrevistados, criticando veementemente a Folha pelo uso impróprio dos dados da pesquisa.


Fica extremamente óbvio o que realmente aconteceu: a Folha de São Paulo fez alegações falsas sobre as questões políticas relevantes do país e, além disso, sabiam que eram falsas quando as publicou. A Folha tinha em mãos os dados que comprovam a falsidade das alegações, mas optou por efetivamente escondê-las de seus leitores. Ou melhor, alguém decidiu por tentar retirá-los da Internet.

O mais surpreendente é que todo esse esforço foi feito para negar o desejo de democracia: fazendo o país acreditar que a maioria dos brasileiros apoiam a figura política que tomou o poder de forma antidemocrática e que não há necessidade de realizarem-se novas eleições, quando a verdade é que a maioria do país quer a renúncia do “presidente interino” e a realização de novas eleições para escolha de um presidente legítimo.

Conforme dissemos ontem, é impossível estabelecer se a Folha agiu de forma proposital com o intuito de enganar seus leitores ou com extrema incompetência e negligência jornalísticas – embora as evidências sugerindo aquela possibilidade sejam mais abundantes hoje que ontem. Motivos à parte, é indiscutível que a Folha essencialmente enganou seus leitores no que diz respeito a questões políticas cruciais e escondeu provas fundamentais apenas publicadas após serem pegos em flagrante.

Traduzido por Inacio Vieira

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Datafolha admite erro pró-Temer em sua pesquisa

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O Instituto Datafolha confirma que cometeu uma "imprecisão", ao divulgar pesquisa, no último domingo, informando que 50% dos brasileiros querem que Michel Temer continue presidente e apenas 3% defendem novas eleições – quando o número real é próximo a 60%; a fraude foi apontada por 247 no último domingo e denunciada ontem pelo jornalista Glenn Greenwald; Folha chegou aos 50% pró-Temer ao excluir da questão "Dilma ou Temer" a hipótese de novas eleições; erro foi reconhecido por Luciana Schong, diretora do Datafolha, que afirmou, no entanto, que as perguntas foram determinadas pela Folha, de Otávio Frias Filho; segundo Greenwald, ao incitar um golpe e manipular informações para que ele se consolide, a mídia brasileira representa uma ameaça à democracia e à liberdade de expressão.

247 – No último domingo, a Folha de S. Paulo publicou uma pesquisa feita sob medida para legitimar o golpe parlamentar no Brasil. O levantamento informava que 50% dos brasileiros defendem que Michel Temer continue na presidência, 32% querem a volta da presidente Dilma Rousseff e apenas 3% são favoráveis à tese de novas eleições (leia aqui)

No mesmo dia, reportagem do 247 esclareceu que se tratava de uma evidente fraude estatística. O motivo: outros institutos, como o Ibope e o Paraná Pesquisa, haviam feito pesquisas indicando que 63% querem novas eleições – número próximo ao de uma pesquisa do próprio Datafolha realizada em abril (leia aqui). Como Temer não realizou nenhum milagre nos últimos dois meses, tendo inclusive perdido ministros por denúncias de corrupção e adotado medidas impopulares, como aumentos de servidores públicos, nada explicaria que os 63% a favor de novas eleições virassem 3% em tão pouco tempo.

Ontem, o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, publicou nova reportagem explicando como se deu a fraude. Ele informou que a pesquisa da Folha colocou apenas duas alternativas diante dos entrevistados: a permanência de Temer ou a volta de Dilma – ou seja, sem a possibilidade de novas eleições (argumento que Dilma tem usado para convencer senadores indecisos). 

Mais do que simplesmente indicar a fraude, a reportagem do The Intercept também afirmou que os meios de comunicação brasileiros representam uma ameaça à democracia e à liberdade de expressão, ao incitar golpes e manipular informações para que eles se consolidem (leia aqui).

Diante das evidências, o próprio Datafolha capitulou e admitiu ter cometido uma "imprecisão" no último domingo. 

"A gerente do Datafolha Luciana Schong afirma que as perguntas foram determinadas pela Folha. Ela reconheceu que é enganoso afirmar que 3% dos brasileiros querem novas eleições já que os entrevistados não foram questionados sobre isso. Schong também admitiu que declarar que 50% dos brasileiros querem Temer é uma imprecisão se não for esclarecido que a questão limitou as alternativas a apenas duas", informa reportagem do DCM sobre o caso (leia aqui).

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O lado positivo da diminuição da popularidade de Dilma

EduGuimarães.
Como todos os que apoiam o projeto político-administrativo conduzido pela presidente Dilma Rousseff, obviamente que não gostei da pesquisa Datafolha, divulgada no último sábado, que dá conta de queda de sua popularidade. Todavia, essa queda pode – apenas pode – impedir o que este espaço vinha considerando “suicídio político” da presidente.
Há pouco mais de uma semana, este Blog citou o “Bombardeio de saturação” contra o governo Dilma, praticamente antevendo o que sobreviria. Abaixo, trecho da matéria.

“(…) Vivemos uma situação preocupante. O mutismo da presidente Dilma Rousseff a está enfraquecendo politicamente e isso está se refletindo através dos problemas crescentes que o seu governo está enfrentando com a base aliada no Congresso. A ausência de contraponto, de reação ao bombardeio de saturação em curso, de mutismo que se baseia na tese de que o que o brasileiro sente no bolso e no cotidiano destoa do noticiário, é uma aposta perigosa (…)”.

Dito e feito. A pesquisa Datafolha em questão aponta queda de 8 pontos percentuais na popularidade da presidente. E, analisando os dados minuciosos da pesquisa, o que se vê é um tanto quanto desolador
Dilma perdeu popularidade entre homens e mulheres, em todas as regiões do país, em todas as faixas de renda, idade e escolaridade.
Como de costume, a queda foi maior entre os que ganham mais de dez salários mínimos (queda de 24 pontos), têm ensino superior (16 pontos) e são moradores da região Sul (13 pontos). Contudo, ocorreu, em maior ou menor grau, de forma generalizada.
A pesquisa relata que a grande motivação da queda de popularidade da presidente é produto de pessimismo em relação situação econômica do país. Os pesquisados relataram preocupação com a inflação e o desemprego, ainda que ambos estejam caindo mês a mês.
O mais incrível é que a própria pesquisa trata de atribuir esse medo do que não existe ao tal “bombardeio de saturação” da mídia contra o governo. Abaixo, trecho da matéria da Folha de São Paulo sobre a pesquisa Datafolha comprova esse dado.

“(…) O noticiário dos últimos dias também pode ter influenciado. Dois problemas tiveram grande repercussão: o tumulto no pagamento do Bolsa Família, não esclarecido, e a tensão com indígenas do Norte e do Mato Grosso do Sul (…)”

Sobre o caso dos índios, não creio que possa ter tido uma grande influência, mas o caso Bolsa Família pode ser o maior responsável – ainda que não seja o único –  pela redução inédita da popularidade de Dilma entre os mais pobres.
Nesse aspecto, este Blog cobrou da presidente, durante dias, uma atitude mais proativa em relação aos boatos que levaram centenas de milhares de beneficiários do Bolsa Família ao desespero, por medo de o programa ser extinto.
No dia 23 de maio último, aqui se publicou o post “Boato sobre o Bolsa Família exige pronunciamento de Dilma na TV”. O texto abordou a existência de matérias na imprensa que mostraram que mesmo após o desmentido do governo sobre o boato de que o programa seria extinto, muitos de seus beneficiários ainda não acreditavam que isso não ocorreria.
Como sempre, a presidente não deu bola àqueles que, como este Blog, perceberam que a principal base de apoio popular ao governo havia sido balançada em relação a ele de uma forma que exigia mais do que uma declaração de Dilma reproduzida durante segundos em telejornais que beneficiário do Bolsa Família dificilmente assiste.
Vendo o barco fazer água, o blogueiro procura fontes do Palácio do Planalto na tentativa de obter explicação sobre o que vem qualificando como “mutismo” da presidente diante de um verdadeiro “Bombardeio de saturação” contra seu governo.
O resultado dessas consultas resulta em post de 1º de junho intitulado “Tracking do Planalto explica sua indiferença a ataques da mídia”. Segundo fontes do governo, este acompanha as oscilações de popularidade da presidente via medições diárias e estaria “tudo bem”.
A conduta da presidente pareceu se coadunar com essa premissa. Mantendo-se olimpicamente indiferente aos ataques, dá a impressão de que eles não a preocupam.
Deixar de ir à televisão negar que o governo cogite extinguir o Bolsa Família deixou a impressão de que não haveria risco de os beneficiários do programa acreditarem que seria extinto. Contudo, várias matérias na imprensa mostraram o contrário. E foram solenemente ignoradas.
A pesquisa Datafolha relata, então, que a queda de popularidade da presidente atingiu inclusive os setores de baixa renda, sobretudo no Sul e no Sudeste. Justamente o setor beneficiado pelo Bolsa Família.
Nesse aspecto, o pior inimigo do governo Dilma, neste momento, é composto pelos seus apoiadores mais incondicionais, aqueles que aplaudem a tudo acriticamente. Alguns põem em dúvida a pesquisa e outros fazem malabarismos para tentar ver aspectos positivos em um estudo que se mostrou desastroso para o governo.
A tese mais bizarra é a de que se deveria somar a avaliação regular à avaliação boa e ótima dos pesquisados, o que conferiria uma aprovação à presidente de “90%”.
A tese ignora que se hoje o bom, o ótimo e o regular de Dilma somam esse percentual, na pesquisa anterior somavam “98%”, de forma que, por qualquer critério, ela sofreu uma forte perda de apoio, pois 8 pontos percentuais, em estatística, são uma enormidade.
Alguns põem em dúvida a pesquisa Datafolha. Nesse quesito, este blogueiro tem história.
Em 2010, fui o único brasileiro a duvidar tanto das pesquisas sobre a sucessão presidencial que, com o apoio dos leitores desta página, representei contra todos os maiores institutos de pesquisa do país, conseguindo arrancar da Procuradoria Geral Eleitoral determinação para que a Polícia Federal abrisse um inquérito contra eles, conforme comprova matéria do portal IG publicada à época.
Contudo, desta vez não duvido do Datafolha. Este Blog é um fórum de debates que já chega ao nono ano de existência. Através das manifestações de leitores que aqui acorrem vindo de todas as partes do país e até do exterior, venho notando uma mudança de clima em relação ao governo.
A presidente Dilma Rousseff é uma excelente gestora. Todos sabem, por informação do ex-presidente Lula, que ela foi o coração administrativo de seu exitoso governo. Contudo, politicamente ela vem se mostrando um desastre.
Dilma é inapetente para a política. Apesar de este Blog julgar que seu governo está mais à esquerda que o de Lula, ela se afastou dos movimentos sociais, do movimento sindical e passou a tratar a Blogosfera e a mídia alternativa, que foram tão importantes no governo anterior, como “personas non gratas”.
A comunicação do governo é muito ruim. Durante o governo Lula, cheguei a receber telefonemas da Secom, disparados por determinação do ex-ministro Franklin Martins, pedindo correção ou complementação de informações aqui publicadas.
Dilma, porém, foge da Blogosfera e da mídia alternativa como o diabo foge da cruz. Sepultou projeto de regulação da comunicação deixado por Lula. Tentou se entender com uma mídia que hoje a está triturando, chegando à beira da injúria, da difamação e da calúnia contra si.
Todos se lembram de quanto Dilma tentou estabelecer a paz com os barões da mídia. A célebre visita que fez à festa de comemoração dos 90 anos da Folha de São Paulo nos primeiros dias de seu governo simboliza uma crença incrivelmente ingênua em que poderia sepultar uma guerra política que muitos já sabiam que seria inevitável.
Os crescentes índices de popularidade da presidente a mantiveram nessa rota de suicídio político por dois anos e meio. A pesquisa Datafolha, porém, mostra que sua imobilidade diante do espancamento que vem sofrendo na mídia chegou ao seu limite.
Há um adágio popular que resume bem o que está acontecendo: “Quem cala, consente”.
Ao fim do primeiro turno da eleição presidencial de 2010, os apoiadores de Dilma e a própria foram tomados por uma surpresa que beirou o desalento. A vitória tranquila em primeiro turno não se concretizou e nos primeiros dias da campanha em segundo turno José Serra chegou a se aproximar do empate técnico com a adversária.
Dez dias após o primeiro turno, ocorre o primeiro debate entre a então candidata Dilma e seu adversário, Serra, na TV Bandeirantes. Eis que ela abandona a postura fleumática e olímpica com que se conduziu no primeiro turno e, naquele dia 10 de outubro, finalmente se dispõe a enfrentar o adversário nos termos em que ele estabelecera.
Abaixo, o primeiro bloco de um debate em que Dilma finalmente reagiu. Prossigo em seguida.

A partir daquele momento, a tendência de queda de Dilma nas pesquisas se reverteu. Durante todo o resto da campanha, ela se manteve “assertiva”, no que foi acompanhada pela propaganda política do PT no rádio e na televisão, que, no primeiro turno, como faz Dilma agora, ignorava os ataques tucanos. O resto da história todos conhecem.
O Brasil, neste momento, precisa da Dilma que você, leitor, acaba de ver no vídeo acima.
Concluo este texto reproduzindo, abaixo, pregação que fiz neste espaço nos primeiros dias do daquele novo governo, em 9 de janeiro de 2011, no post “A primeira semana do governo Dilma”, quando já se podia ver o que sobreviria dali em diante. O que escrevi naquele post se mostra incrivelmente atual.

“(…) É cedo para dizer que Dilma cometerá o erro de governar o Brasil como uma gerente. Mas, se fizer isso, será, sim, um erro. O cargo de presidente é político. Os brasileiros votaram nela seguindo um líder político – o maior da história brasileira, ao lado de Getúlio Vargas. Ninguém segue gerentes. E sem liderar politicamente, ela não se reelegerá”.

O post traz no título a possibilidade de existir um “lado positivo” na queda de popularidade da presidente. Trata-se de, eventualmente, despertá-la do sono político em que mergulhou já nos primeiros dias de seu governo e do qual ainda não despertou. É agora ou nunca. Se não reagir já, depois pode não haver mais tempo.

domingo, 24 de março de 2013

Agora eles tentam derrubar Lula da ex-Presidência da República


A frase que intitula este texto deriva de brincadeira que tomou as redes sociais na internet na última sexta-feira por conta de mais uma “denúncia” do jornal Folha de São Paulo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – sobre palestras que ele dá no exterior.
A tal “denúncia” virou motivo de piada porque pretendeu negar a um cidadão em pleno exercício de seus direitos constitucionais a prerrogativa de todo ex-presidente da República de ter apoio do Estado ao fim de seu mandato e o direito a atividades estritamente privadas que a outros ex-presidentes jamais foram negadas.
Aqui e em muitos outros países democráticos – como nos Estados Unidos, por exemplo – ex-presidentes se tornam instituições nacionais. Além de direito a segurança e a proventos, quase todos eles se tornam palestrantes e são remunerados por isso – com maior ou menor êxito.
De Bill Clinton a Fernando Henrique Cardoso, ex-presidentes fundam institutos que levam seus nomes e que reúnem acervos contando a história de suas passagens pela Presidência, além de desenvolverem estudos políticos, econômicos e sociais.
Outro ex-presidente norte-americano que têm um instituto que atua fortemente em consonância com seu patrono é o prêmio Nobel da Paz Jimmy Carter, que atua em direitos humanos e até em fiscalização de eleições em várias partes do mundo, além de o próprio Carter ser um renomado palestrante.
FHC deu muita palestra remunerada, tem direito a todos os benefícios do Estado concedidos a Lula, inclusive suporte em missões no exterior, pois não se imagina que quando um ex-presidente visita outro país a representação diplomática desse país o trate como qualquer um.
No entanto, no dia seguinte à denúncia da Folha de que Lula faz o que tantos outros ex-presidentes fazem em termos de palestrar no exterior com despesas e até honorários pagos pelos anfitriões, o jornal voltou à carga “denunciando” que as representações diplomáticas brasileiras lhe dão suporte quando visita os países em que estão sediadas.
Nunca se viu isso em relação a nenhum outro ex-presidente. Até uma doação de quase meio milhão de reais de dinheiro público ao ex-presidente FHC não mereceu da própria Folha mais do que uma notinha escondida nas páginas internas – e que após ser publicada nunca mais foi notícia.
A “denúncia” contra Lula, porém, além de ganhar destaque principal na primeira página do jornal na sexta-feira continuou sendo martelada no sábado, agora sob a “revelação bombástica” de que a visita de um ex-presidente a outros países gera custos às representações diplomáticas brasileiras sediadas neles.
Eis por que faz todo sentido a piada que surgiu na internet. O jornal em questão, bem como alguns outros veículos da imprensa escrita e eletrônica, passaram anos tentando derrubar Lula da Presidência da República e, agora, querem derrubá-lo da condição de ex-presidente.
Nesse ponto, vale uma reflexão: o que a última pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial de 2014 e a mais nova “denúncia” contra o ex-presidente têm a ver uma com a outra? Na opinião deste que escreve, pesquisa e denúncia têm tudo a ver.
As duas iniciativas de uma das quatro cabeças da hidra reacionária e despótica que há 500 anos aterroriza o Brasil decorrem da mesma obsessão da direita midiática em derrotar Lula através da arma mais poderosa de que ela sempre dispôs: a difamação.
E impedir a reeleição de Dilma Rousseff não passa de outro capítulo dessa odisseia reacionária, pois seu governo é produto do respeito, da admiração e da confiança que a maioria massacrante do povo brasileiro concedeu e continua concedendo ao ex-presidente.
A tal “principal arma” da dita “imprensa” que atua como partido político de oposição perdeu a eficácia contra Lula e não foi por acaso. Isso porque esses veículos ainda acreditam que podem inventar um cenário para o país e fazê-lo virar realidade.
Um dos fenômenos administrativos mais comentados é a preservação da condição de vida dos brasileiros em um momento em que o mundo padece sob a crise econômica mais grave da história. Contudo, a oposição brasileira e sua mídia insistem em tentar pintar uma realidade totalmente diferente.
Oposicionistas queridinhos da mídia vivem dizendo que o país “está em frangalhos” apesar de a qualidade de vida no Brasil ser hoje a melhor em toda sua história, com pleno emprego, crescimento e distribuição de renda a todo vapor. E a mídia endossa tal premissa oposicionista.
Sempre digo que quem votou em Lula em 2006 e em sua indicada em 2010 apesar da tempestade de acusações contra ele e ela durante aqueles processos eleitorais – e que hoje está sendo recompensado por isso –, dificilmente mudará de opinião.
Não existe nenhuma acusação a Lula hoje que não tenha sido feita até 2010, ano em que colheu sua terceira estrondosa vitória eleitoral consecutiva sobre seus inimigos políticos, que há muito deixaram de ser adversários.
Note-se que o período mais fértil para tais inimigos lograrem desmoralizá-lo e inflarem o anti-Lula da vez foi entre 2008 e 2009, quando o desemprego aumentou e a renda das famílias sofreu alguma queda devido à crise internacional.
Todavia, nem quando aquele período crítico lambeu a condição de vida dos brasileiros Lula sofreu perda de popularidade. Isso ocorreu porque ficou claro para a sociedade que o que ocorria era conjuntural e que o governo saberia reverter a situação, como de fato reverteu.
E é claro que as medidas populares que Dilma vem tomando, como reduzir os juros, o preço da energia elétrica, os impostos da cesta básica e tudo mais que vem fazendo em benefício da população, ajudam a aumentar ainda mais a aprovação da presidente.
Assim, ao menos mais da metade do eleitorado brasileiro está convencido de que a dita “grande imprensa” é inimiga de Lula e Dilma e aliada de seus opositores e, por conta disso, não leva em conta seus ataques a eles.
Não é pouca coisa que em plena tempestade de “notícias ruins” exageradas ou inventadas que a mídia oposicionista tenta contrapor à realidade concomitantemente com a glamourização de possíveis adversários de Dilma no ano que vem, que ela e Lula apareçam como virtualmente eleitos em primeiro turno naquele pleito.
E o que é mais: os adversários dos petistas que vêm sendo incensados por esses veículos – quais sejam, Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves, sem falar do imorredouro amor midiático por José Serra, que já virou obsessão – em vez de se beneficiarem da artilharia midiática antipetista, perderam votos.
O fato, portanto, é que uma crescente maioria dos brasileiros sabe direitinho que há em curso uma conspiração dos mais ricos contra os avanços sociais que a maioria empobrecida ou remediada vem experimentando.
É óbvio que não se pode cantar vitória antes do tempo, até porque golpes de última hora continuarão sendo engendrados até o fechamento das urnas em 2014. Contudo, está claro que a estratégia de inventar uma realidade sobre o país ou difamar Lula e Dilma, não vai funcionar.
Mas a pior notícia para a oposição vem agora: só como exercício, venho tentando engendrar uma estratégia mais inteligente contra os petistas e a conclusão a que chego é a de que a estratégia em curso é a única possível, a despeito de seus defeitos insanáveis.


* Argentina lembra os 37 anos do Golpe de Estado que matou 30 mil:

'Avós da Praça de Maio' pedem a 

democratização do Judiciário; Cristina evoca o mandato dos

 'desaparecidos '.

*Ditadura nos arquivos do Vaticano: Baltasar Garzón exorta o Papa Francisco a abrir os arquivos do Vaticano que guardam a memória das relações entre Igreja e Ditadura na Argentina.

*Dilma tem 58% e Lula 60%, diz Datafolha: em 1964 Jango tinha 49,8%  de intenções de voto. Poderia ser reeleito.Deram o golpe. Saudado pela mídia como 'democrático'. A mesma mídia que o governo hoje afaga e não regula, à espera de uma indulgência eleitoral que não terá (nesta pág)

*Campos cruzou o Rubicão conservador: neto de Arraes acha Serra progressista e se abraça aos afogados de 2002, 2006 e 2010. O que diria o avô?  ( leia 1 e 2)    

Especial /Slavoj Zizek : "A classe dominante está perdendo a capacidade de governar; Brasil não é  modelo, mas mostra que é possível ser diferente"(entrevista exclusiva; nesta pág.)

* Gabriel Palma :"O país  já cresceu antes, mas não deu o salto industrial  tecnológico: faltou Estado"  (entrevista a Marcelo Justo; de Londres) 

MÍDIA, DITADURA E REGULAÇÃO: QUEM É QUEM
Os que derrubaram o governo Jango e revogaram os direitos e a democracia no país, em 1964, escreveram o laudo da história com a caneta dos vencedores. Continuam a escrever, graças ao monopólio das comunicações, agora mais forte do que há 49 anos. Hoje são eles, os golpistas de ontem, que denunciam os 'grilhões dos regimes autoritários' nos projetos de regulação da mídia, que o governo Dilma decidiu engavetar na ingênua e temerária suposição de uma indulgência eleitoral que não terá. Quase 50 anos depois do golpe e uma década de experiência à frente do Estado deveriam ter sido suficientes para os governantes do PT aprenderem que a 'síndrome de Estocolmo' que rege a sua relação com a mídia, antes de ser uma forma de astúcia política, constitui uma doença letal para a democracia.(LEIA MAIS AQUI)