Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Conselho “reprova” 60% dos formandos em medicina. Mas não eram os estrangeiros os incapazes?

med
Saíram os resultados do exame de suficiência aplicado pelo Conselho de Medicina de São Paulo.
59,2% dos mais de 2.843 médicos formandos foram reprovados por não terem atingido 60% de acertos nas questões oferecidas, resultado pior do que o de 2012, quando 54,5% não atingiram o índice esperado.
Pediatria foi a área de pior desempenho: a média não atingiu mais que 47% de acertos entre os médicos formados em São Paulo.
Boa parte das questões pediátricas foram as de pior índice de acerto:
Transcrevo, sem alterações, o documento do próprio Cremesp:
“Questões que tiveram baixa proporção de acertos podem revelar a falta de conhecimento dos participantes na solução de eventos frequentes no cotidiano da prática médica. Muitos daqueles que participaram do Exame do Cremesp de
2013 demonstraram desconhecer o diagnóstico ou tratamento adequado de situações comuns e problemas de saúde frequentes, como pneumonia, tuberculose,hipertensão, atendimento em pronto-socorro, dentre outros. A seguir, alguns exemplos de questões com alto índice de erro:
  • 71% erraram qual é o ganho ponderal (em kg); crescimento de perímetro encefálico e de comprimento (ambos em cm) esperados em criança no primeiro e no segundo ano de vida: primeiro ano (7 kg; 12 cm. e 25 a 30 cm) e segundo ano(2,5 Kg; 2cm e 10 a 12 cm).
  • 67% erraram, no atendimento a menino de 8 anos, qual é o agente causador de tosse gradualmente progressiva num período de duas semanas: Mycoplasma pneumoniae.
  • 68% erraram o fato de que a bronquiolite tem seu pico de incidência em crianças entre 3 e 6 meses de idade.
  • 67% não souberam afirmar que o grau de redução da pressão arterial é o principal fator determinante na diminuição do risco cardiovascular em paciente hipertenso.
Nenhum destes médicos deixará de ter o registro concedido pelo Conselho.
Muitas de suas deficiências serão supridas na residência médica, pela prática  e pelo tempo.
Mas existe uma que, infelizmente, não foi medida na prova e não vai ser corrigida, ao contrário, tende a piorar.
O desinteresse pelo paciente e o mercantilismo com que se observa a saúde.
O resultado do exame do Cremesp não é razão para debochar ou desmerecer estes médicos, dos quais o país e as pessoas precisam.
É razão, sim, para olharmos o que está se tornando a medicina.
Quando os dirigentes da categoria parecem mais assustados com a chegada de médicos para atender pessoas que estão abandonadas e às quais os médicos brasileiros – nem mesmo os novos, recém formados – querem ir atender do que com mais da metade dos formandos não saber que reduzir a pressão arterial diminui o risco cardíaco num hipertenso, há algo muito mais sério que esta surpreendente ignorância.
Porque a ignorância se supre, com esforço. Um esforço que muito raramente vemos existir, infelizmente.
Mas a indiferença, o mercantilismo e a desumanidade, nem com muito esforço.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Mais Médicos: Médicos que não foram trabalhar, não iriam mesmo

torrico


Não posso, por óbvio, dizer que alguns médicos inscritos no “Mais Médicos” que abandonaram o programa no primeiro dia de “trabalho”, jamais pretenderam trabalhar e se inscreveram com o único objetivo de tumultuar o programa.
Mas que parece, parece.
Julgue você mesmo o caso destes quatro, citados hoje na num único trecho de matéria deO Globo:
Na cidade do Rio, dos 16 médicos selecionados, dez faltaram. Desses, três já desistiram de assumir a vaga. Um deles é o alergista Ulisses Linhares, de 54 anos.
— Desisti, achei que não valia a pena pelo salário. O programa é necessário, mas enquanto o governo não der garantias e estabilidade, ele não vai conseguir levar os médicos a essas áreas distantes. É uma utopia achar que o médico recém-formado vai para o interior. Com uma salinha qualquer, nesse mesmo interior, atendendo duas vezes por semana, cobrando R$ 60 a consulta, o médico já ganha muito mais — disse Linhares: — Enquanto o govemo não pagar de forma digna, o médico não vai ter condição de exercer Medicina com dignidade.
Linhares é casado com a pediatra Clarissa Rego Medeiros, que também havia se inscrito e desistiu anteontem.
Carlos Muylaert, alergista e imunologista com consultório na Barra, Zona Oeste, também desistiu. Ontem, ele disse estar de licença médica por conta de uma cirurgia na coluna.
Município que figura na lista dos prioritários, Japeri iria receber uma médica brasileira. No entanto, Andrea Santos Nunes avisou no último domingo à Secretaria municipal de Saúde que não ia assumir. Alegou que a cidade fica muito longe de Miguel Pereira, onde mora.”
Vamos a eles, um por um.
O alergista Ulisses Linhares, que se candidatou a trabalhar 40 horas,  é professor da Unirio, com jornada de 40 horas. Aparece na internet com consultórios na Tijuca e em Bento Ribeiro. Portanto, não deve ter dificuldade em, como ele mesmo diz, “com uma salinha qualquer, nesse mesmo interior, atendendo duas vezes por semana, cobrando R$ 60 a consulta”, ganhar os R$ 10 mil que acha pouco no “Mais Médicos”. Curioso é que, segundo o Portal da Transparência, ganha menos de R$ 4,5 mil na Unirio.
capitaSua mulher, a pediatra Clarissa Rego Medeiros, trabalha no Hospital Universitário Gafreé Guinle, com jornada de 60 horas, também é (ou era, pelo menos) oficial médica do Corpo de Bombeiros, tendo sido promovida a capitã, no Diário Oficial de 20/12/2011. Pode ser um caso de hominímia, mas a bombeira também é pediatra, o que torna isso quase impossível.(acréscimo às 18:42. É capitã e está ativa)
Carlos Muylaert Torrico, o terceiro médico, trabalha em Búzios, para a Prefeitura, num posto de saúde em Jacarepaguá e em seu consultório no Recreio dos Bandeirantes, onde atende o pessoal do Exército, conforme contrato publicado no Diário Oficial de 27 de setembro passado, no valor de R$ 350 mil! Aliás, contrato que vem sendo seguidamente prorrogado desde 2009 e que vai até o final deste ano. Como isso dá quase R$ 20 mil mensais, imagino que não lhe sobre muito tempo para as 40 h semanais do “Mais Médicos”.
Por fim, sobre a última personagem, Andrea Nunes Pereira, não se pode fazer afirmações por pesquisa na internet, pelo risco de homonímia. Mas para quem não sabe onde ficam os dois locais citados, informo que distam 40 km (24 km em linha reta), em estrada, o que dá menos de 40 minutos. Aliás, tem ônibus direto e a tarifa é R$ 7,50.
A nenhum deles se critica a qualificação profissional. Mas que a história de “desistência” não cola, não cola mesmo.
Por: Fernando Brito

domingo, 1 de setembro de 2013

Ombud da Folha diz ai, ai, ai para mentira do jornal

aiaiai

1 de setembro de 2013 | 07:48

A jornalista Suzana Werner, ombudswoman da Folha, critica neste domingo a matéria de pura propaganda do jornal ao anunciar em manchete, sexta-feira,  que “Prefeitos demitirão médicos locais para receber os de Dilma”.
Ela reconhece que “embora uma das regras básicas da Folha seja sempre ouvir o outro lado, o Ministério da Saúde não foi procurado e que se a reportagem tivesse ouvido antes o Ministério da Saúde, o jornal teria registrado que há um cadastro on-line que permite ao governo “monitorar mudanças de equipe e punir os municípios que fizerem trocas”.
Mais, D. Suzana: teria sabido que o convênio que as prefeituras assinaram proíbe clara e expressamente que isso aconteça, sob pena de anulação.
Ela diz que a chefia justificou-se por não ouvir o Ministério porque o “outro lado” seriam os prefeitos. Os médicos são “da Dilma” para a manchete, mas para a apuração do jornal são “do prefeito do interior”.
Ah, bom…
Quer ver como uma apuração de estagiário, com a simples preocupação de perguntar à Assessoria de Comunicação do Ministério – ou passar alguns minutos no Google, como fez este blog, “derruba” a matéria de manchete para notinha?
“Embora isso seja proibido pelo convênio que assinaram com o Ministério da Saúde, alguns prefeitos pretendem substituir profissionais de suas unidades de Saúde por aqueles que receberão no programa “Mais Médicos”…
Pronto, o escândalo nacional teria se reduzido ao que é, uma pretensão de esperteza de meia dúzia de prefeitos interioranos.
Folha sequer se deu ao trabalho de perguntar às supostas “vítimas” dos médicos cubanos onde trabalhavam, para saber se eram plausíveis as alegações de que faltavam sistematicamente ao serviço. A Dra. Junice Moreira, que Suzana reconhece ter recebido “grande destaque” do jornal, tem, segundo o cadastro do SUS, até primeiro de agosto deste ano, quatro empregos em prefeituras, distantes 442 quilômetros entre si, perfazendo uma carga horária de incríveis 128 horas semanais -18 horas e 15 minutos diários, se trabalhar de domingo a domingo, sem folga – , sem contar as viagens entre os seus plantões.
Isso é irrelevante, também? Basta dizer que saiu para dar lugar a um cubano e ajudar na histeria.
ombusdwoman da Folha, como se previu aqui, diz “ai, ai, ai, pessoal” para os repórteres, mas se omite de dizer que a definição de que essa má apuração passou por toda a cadeia de comando do jornal até ser definida como manchete. E que essa cadeia de comando não é composta de correspondentes no interior, mas de gente com capacidade mais que sobrante para avaliar o rigor da apuração.
Para eles, nem “ai, ai, ai”.
Com esse nível de jornalismo, é estranho que ela se limite a afirmar que o jornal “errou um pouco a mão”.
Levou ao leitores – e aos muito mais não-leitores, porque manchetes funcionam como cartazes afixados em dezenas de milhares de bancas de jornais – um não-fato.
E divulgar não-fatos como verdades é desastroso, como a Folha deveria ter aprendido no malsinado caso da Escola-Parque.
Mesmo que alguns prefeitos pretendessem tentar fraudar o programa, isso não poderia acontecer sem consequências.
Pior, generalizou uma eventual intenção de um ou dois secretários de saúde (uma delas ex-vereadora tucana) para torná-la um fenômeno nacional:”Prefeitos demitirão médicos locais para receber os de Dilma”!
Nestes tempos em que a Folha pretende discutir ética médica, tomara que não seja com os parâmetros de sua ética jornalística.
Mas quem somos nós para criticar, não é? O Tijolaço é apenas um “guerrilheiro cibernético”, segundo a ombudswoman.
Que seja, mas não age assim: “criando”  informação para sustentar opinião.
Por: Fernando Brito

Por que os médicos estrangeiros não podem fazer o Revalida

A discurseira do corporativismo médico tupiniquim contra o programa Mais Médicos, antes de ser mesquinha, arrogante e preconceituosa, é assustadora. O que assusta é a má-fé de hordas de médicos que tentam fazer um país inteiro de trouxa enquanto lutam para manter uma reserva de mercado que permite a quem estuda medicina (no Brasil) enriquecer rapidamente.
Além dos médicos espertalhões e mercenários – que, como se vê, existem às pencas –, os Conselhos Regionais de Medicina (CRM’s), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) têm desempenhado um papel de estelionatários, enganando a sociedade brasileira.
Primeiro, essa horda corporativista e estelionatária tentou vender ao país a teoria absurda de que um médico não pode fazer nada se não tiver à sua disposição equipamentos de última geração como tomógrafos e outros avanços da medicina, quando qualquer pessoa minimamente lúcida sabe que tal premissa não é só falsa, mas criminosa, porque incontáveis enfermidades podem ser eliminadas com uma simples consulta e alguns exames básicos.
Nesse aspecto, é imprescindível a leitura, logo abaixo, de artigo do médico brasileiro David Oliveira de Souza, professor do Instituto de Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês e ex-diretor da ONG Médicos Sem Fronteiras no Brasil (2007-2010) publicado pela Folha de São Paulo neste sábado (31.8). O post prossegue em seguida
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FOLHA DE SÃO PAULO
31 de agosto de 2013
David Oliveira de Souza
TENDÊNCIAS/DEBATES
A vinda de médicos cubanos ao Brasil é irregular?
Não
Bem-vindos, médicos cubanos. Vocês serão muito importantes para o Brasil. A falta de médicos em áreas remotas e periféricas tem deixado nossa população em situação difícil. Não se preocupem com a hostilidade de parte de nossos colegas. Ela será amplamente compensada pela acolhida calorosa nas comunidades das quais vocês vieram cuidar.
A sua chegada responde a um imperativo humanitário que não pode esperar. Em Sergipe, por exemplo, o menor Estado do Brasil, é fácil se deslocar da capital para o interior. Ainda assim, há centenas de postos de trabalho ociosos, mesmo em unidades de saúde equipadas e em boas condições.
Caros colegas de Cuba, é correto que nós médicos brasileiros lutemos por carreira de Estado, melhor estrutura de trabalho e mais financiamento para a saúde. É compreensível que muitos optemos por viver em grandes centros urbanos, e não em áreas rurais sem os mesmos atrativos. É aceitável que parte de nós não deseje transitar nas periferias inseguras e sem saneamento. O que não é justo é tentar impedir que vocês e outros colegas brasileiros que podem e desejam cuidar dessas pessoas façam isso. Essa postura nos diminui como corporação, causa vergonha e enfraquece nossas bandeiras junto à sociedade.
Talvez vocês já saibam que a principal causa de morte no Brasil são as doenças do aparelho circulatório. Temos um alto índice de internações hospitalares sensíveis à atenção primária, ou seja, que poderiam ter sido evitadas por um atendimento simples caso houvesse médico no posto de saúde.
Será bom vê-los diagnosticar apenas com estetoscópio, aparelho de pressão e exames básicos pais e mães de família hipertensos ou diabéticos e evitar, assim, que deixem seus filhos precocemente por derrame ou por infarto.
Será bom vê-los prevenindo a sífilis congênita, causa de graves sequelas em tantos bebês brasileiros somente porque suas mães não tiveram acesso a um médico que as tratasse com a secular penicilina.
Será bom ver o alívio que mães ribeirinhas ou das favelas sentirão ao vê-los prescrever antibiótico a seus filhos após diagnosticar uma pneumonia. O mesmo vale para gastroenterites, crises de asma e tantos diagnósticos para os quais bastam o médico e seu estetoscópio.
Não se pode negar que vocês também enfrentarão problemas. A chamada “atenção especializada de média complexidade” é um grande gargalo na saúde pública brasileira. A depender do local onde estejam, a dificuldade de se conseguir exame de imagem, cirurgias eletivas e consultas com especialista para casos mais complicados será imensa. Que isso não seja razão para desânimo. A presença de vocês criará demandas antes inexistentes e os governos serão mais pressionados pelas populações.
Para os que ainda não falam o português com perfeição, um consolo. Um médico paulistano ou carioca em certos locais do Nordeste também terá problemas. Vai precisar aprender que quando alguém diz que está com a testa “xuxando” tem, na verdade, uma dor de cabeça que pulsa. Ou ainda que um peito “afulviando” nada mais é do que asia. O útero é chamado de “dona do corpo”. A dor em pontada é uma dor “abiudando” (derivado de abelha).
Já atuei como médico estrangeiro em diversos países e vi muitas vezes a expressão de alívio no rosto de pessoas para as quais eu não sabia dizer sequer bom dia –situação muito diferente da de vocês, já que nossos idiomas são similares.
O mais recente argumento contra sua vinda ao nosso país é o fato de que estariam sendo explorados. Falou-se até em trabalho escravo. A Organização Pan-americana de Saúde (Opas) com um século de experiência, seria cúmplice, já que assinou termo de cooperação com o governo brasileiro.
Seus rostos sorridentes nos aeroportos negam com veemência essas hipóteses. Em nome de nosso povo e de boa parte de nossos médicos, só me resta dizer com convicção: Um abraço fraterno e muchas gracias.
DAVID OLIVEIRA DE SOUZA, 38, é médico e professor do Instituto de Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. Foi diretor médico do Médicos Sem Fronteiras no Brasil (2007-2010)
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Como se vê, é uma verdadeira safadeza tentar induzir as pessoas a acreditarem que médico só é útil se estiver em um hospital com equipamentos de última geração.
Vendo, portanto, que tal premissa não colou, os “nossos” médicos e entidades médicas espertalhões vieram com aquela história de “trabalho escravo”, por conta de um modelo de relação de trabalho dos médicos cubanos que existe inclusive no Brasil em cooperativas que não pagam direito trabalhista algum aos médicos cooperados.
Isso sem falar de que o modelo de contratação de cubanos que está sendo aplicado no Brasil é aceito até por países da União Europeia, para que se tenha uma ideia do nível de ridicularia desse discurso cretino.
Aliás, alguém já se perguntou por que, até agora, a parte da mídia que dá vazão a esse discurso criminoso sobre “escravidão” eximiu-se de ouvir os supostos “escravizados”? Não ouviu porque tem medo de que vejam que os médicos cubanos são pessoas preparadas, cultas e que, muito pelo contrário, estão felizes com o trabalho que farão no país.
Mas talvez o pior cavalo-de-batalha criado para cercear a vinda de médicos estrangeiros ao Brasil seja estarem exigindo que façam uma prova criada em 2011 para validar diplomas de profissionais formados no exterior que peca por ter um nível de dificuldade que mesmo os médicos formados aqui não conseguem superar.
Recentemente, apesar de incentivo de R$ 400 prometido pelo governo a estudantes de medicina brasileiros que quisessem participar do pré-teste do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), o Ministério da Educação não conseguiu o mínimo de participantes e adiou a realização da prova.
O pré-teste seria aplicado a concluintes do 6º ano de medicina a fim de “calibrar” o Revalida aplicado aos diplomados no exterior, mas o teste não ocorreu porque os estudantes brasileiros fugiram da raia. Assim, o Ministério da Educação tentará de novo no primeiro semestre do ano que vem.
As 32 faculdades de Medicina escolhidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que organiza o exame Revalida, inscreveram 2.353 alunos, mas, como a participação é voluntária, somente 505 deles confirmaram a participação e o número foi considerado insuficiente para uma amostragem eficiente.
Isso ocorre devido ao grau de dificuldade do Revalida. Recentemente, o portal Terra publicou matéria que mostra que nem os médicos brasileiros formados seriam capazes de passar em bom contingente em um teste elaborado para reprovar. Leia, abaixo, trecho da reportagem.
O Revalida é alvo de uma série de polêmicas. A mais antiga delas é a de ser um exame fora da realidade, de muito difícil aprovação, voltado para manter a reserva de mercado para médicos formados no Brasil. Coincidência ou não, a média de aprovação em 2012 foi de 10%. ‘Os maus resultados pioram ainda mais a reputação dos médicos formados fora, mas os professores do meu curso passaram provas do ano passado para médicos brasileiros com CRM que não conseguiram acertar nem a metade’, critica Daniel (os candidatos ao Revalida pediram para ter seus nomes alterados pela reportagem)
Mas o pior é um fato que vem sendo escandalosamente escamoteado pelos médicos e entidades médicas brasileiros que querem manter essa reserva de mercado para si. O Revalida não está sendo exigido pelo programa Mais Médicos porque se os médicos estrangeiros fizessem o teste, o programa fracassaria. Mas não por falta de conhecimentos deles.
O que ocorre é que todo estrangeiro que se submeter ao Revalida e for aprovado ganhará o direito de exercer a medicina no Brasil. Ora, se um médico cubano, espanhol, chinês ou seja de onde for tiver direito de atuar em nosso país, poderá dar uma banana ao Mais Médicos e passar a atuar onde achar melhor e não onde faltam médicos.
A segurança do governo brasileiro de que os médicos estrangeiros não tentarão usar o programa Mais Médicos como porta de entrada para se estabelecerem em um mercado em que não terão dificuldades para encontrar empregos porque faltam médicos no país, pois, é justamente a falta de permissão para exercerem a profissão como e onde quiserem.
Mas, pelo jeito, o país ainda terá que aturar essa polêmica imoral por muito tempo – ou enquanto durar o Mais Médicos. As entidades médicas, a mídia e a oposição ao governo Dilma sabem que o programa fará muito bem ao Brasil e, portanto, temem o efeito eleitoral que deverá provocar.
Contudo, a gritaria tende a diminuir conforme a Justiça for rejeitando as medidas que estão sendo interpostas pelas entidades médicas. Conforme o Judiciário for mandando os doutores se catarem por tentarem impedir medida crucial para a sociedade visando só seus interesses corporativos, a essa gente só restará a sabotagem. E ela ocorrerá, isso é certeza

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

MÉDICOS ESTRANGEIROS FAZEM O REVALIDA NO DOMINGO

Doutor Florentino, pior do que está não fica

drtiririca


O Dr. Florentino Cardoso, o presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), diz na Folhaque a população de baixa renda será a que mais vai sofrer com a vinda de médicos cubanos, anunciada ontem pelo Ministério da Saúde.
O motivo?
“”Muitos não vão nem saber se tiveram um atendimento satisfatório, ou se o procedimento adotado fazia sentido. Vai ser uma tragédia”.
Claro, porque os médicos cubanos são incompetentes, incapazes, nem se comparam aos médicos brasileiros, que recebem o registro e a autorização para clinicar sem passar pelo “Revalida” que se exige aos formados fora do Brasil.
Ele se esquece, porém, que estes médicos estão indo para onde os nossos doutores acham muito sujinho e atrasado para merecer sua presença.
Mas ainda que não fosse assim, o que o Dr. Florentino diz destes médicos brasileiros, que não seriam “uma tragédia” para as classes mais pobres?
Vejam só, no Estadão:
Se já consideramos o retrato da saúde pública como filme de guerra, vejamos o que mais há por aí. Nos últimos anos faculdades de medicina foram criadas às dezenas de norte a sul do País, a maioria escolas privadas (estarão visando somente o lucro?) sem estrutura mínima para formar bons médicos. Falamos de cursos sem hospital-escola, com corpo docente não adequadamente qualificado, bibliotecas precárias, grade pedagógica deficiente.
O resultado é o que vimos dias atrás, quando o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo apresentou o resultado das avaliações de prova facultativa com estudantes do último ano de Medicina. Quase metade deles não sabe interpretar uma radiografia, fazer um diagnóstico após receber as informações dos pacientes. Metade ainda faria o tratamento errado para infecção na garganta, meningite e sífilis e não é capaz de identificar uma febre alta como fator que eleva o risco de infecção grave em bebê. O que podemos esperar? E nossos filhos, pais, amigos e parentes de pessoas formadas com tamanha insuficiência de conhecimento? É, de fato, assustador.
Dr. Florentino, o senhor acha eu um médico formado em Tegucigalpa não sabe tratar uma infecçÑao de gargante, como diz o senhor metade dos médicos brasileiros não sabe?
Claro que não, não é? Pode crer, pior do que está não fica, até porque eles vão atender brasileiros que nem os incompetentes que o senhor diz que são a metade dos médicos brasileiros querem cuidar.
Por: Fernando Brito

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A grande marcha dos médicos, escriturários, telefonistas, secretárias, administradores, motoristas usando jalecos brancos pela Av. Paulista, contra a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil.


"Muitos dos que participaram do evento carregando cartazes, xingando Lula e Dilma e os médicos cubanos na noite de ontem na Avenida Paulista não eram nem médicos e nem médicas. Mas funcionários das entidades representativas do setor. Você pode ter visto na Avenida Paulista escriturários, telefonistas, secretárias, administradores, motoristas usando jalecos brancos e/ou carregando cartazes. "

Cremesp paga táxi e hora extra para funcionários irem a ato de médicos na Paulista
Blog do Rovai - 04/07/2013

Fábio Gomes, gerente operacional do Cremesp, enviou o seguinte e-mail, na tarde de ontem [3/7], para a lista de funcionários da entidade:
Senhores chefes, gerentes e funcionários,
Em virtude da mobilização geral dos médicos agendada para hoje (dia 3 de julho), às 16h00, na Associação Médica Brasileira (Rua São Carlos do Pinhal, 324), convocamos os funcionários interessados em ajudar na realização desta atividade extraordinária.
Os interessados deverão procurar os funcionários da Seção de Eventos que estão alocados em frente da Sede da AMB até as 16h00. Será concedida a utilização de boletos de táxi até a AMB.
Trajeto: O ponto de encontro será na Associação Médica Brasileira (Rua São Carlos do Pinhal, 324), de onde a passeata sairá, às 16h, rumo ao gabinete de representação da presidência da República, na Avenida Paulista, 2.163 (esquina com rua Augusta; prédio do Banco do Brasil).
Solicitamos às chefias que dispensem os funcionários interessados em participar desta atividade extraordinária, bem como para disponibilizar boletos de táxi aos funcionários participantes.
As papeletas de horas extraordinárias pela participação deste evento deverão ser encaminhadas à Seção de Eventos.
Ou seja, a entidade pagou táxi, dispensou seus funcionários mais cedo e ainda se dispôs a remunerar com hora extra quem participasse da atividade. Fábio Gomes diz textualmente no comunicado da convocação que “as papeletas de horas extraordinárias pela participação deste evento deverão ser encaminhadas à Seção de Eventos”.

Muitos dos que participaram do evento carregando cartazes, xingando Lula e Dilma e os médicos cubanos na noite de ontem na Avenida Paulista não eram nem médicos e nem médicas. Mas funcionários das entidades representativas do setor. Você pode ter visto na Avenida Paulista escriturários, telefonistas, secretárias, administradores, motoristas usando jalecos brancos e/ou carregando cartazes.

O blog procurou a assessoria de imprensa do Cremesp questionando se a entidade incentivou de alguma forma o ato dos médicos na noite de ontem. A assessora informou que, por decisão em assembleia, o Cremesp apoiou a manifestação. Indagada se isso significava que funcionários da entidade foram liberados e receberam horas extras para participar do ato, a assessora disse que não tinha essa informação.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Hipocrisia não faz bem à Saúde Guia para entender a vinda de médicos estrangeiros



É absolutamente compreensível que haja resistência da corporação médica à contratação de médicos estrangeiros pelo Governo brasileiro. Não há uma categoria, de qualquer espécie, no mundo, que não defenda o seu “mercado” de trabalho.
É compreensível, também, que a classe média e os mais ricos, que podem escolher seus médicos nos grossos caderninhos ou nos CDs dos planos de saúde achem que há médico sobrando. Nos grandes centros, para quem pode pagar, há, sim.
O que não é compreensível é que, para manter o status quo, a gente permita que milhões de brasileiros tenham menos médicos que os países mais atrasados do mundo, e isso não é retórica.
Ninguém pode perder de vista é que saúde é, constitucionalmente, direito de todos. Ricos ou pobres, morando ou não em metrópoles.
site do  médico Drauzio Varela publica uma reportagem que é extremamente esclarecedora sobre o assunto. E dá informações que estão ausentes da mídia, que prefere destacar até supostas dificuldades de comunicação de médicos que falem espanhol ou português de Portugal com eventuais pacientes aqui. Seria de rir, se não se tratasse do cuidado com a saúde, muitas vezes emergencial, de pessoas como eu ou você.
Vamos aos argumentos sérios, porque o assunto é sério.
Consigo naquele site o número de médicos de acordo com o porte de cada município. Nos 5282 municípios (ou quase 95% dos municípios brasileiros)  com menos de 50 mil habitantes, onde vivem, segundo o censo do IBGE, 63 milhões de pessoas, exatamente 29.519 médicos.
Ou seja, apenas 7,8% dos médicos são responsáveis pelo atendimento de um terço dos brasileiros.
O que dá um médico para 2.136 pessoas, em média, ou, para usar o índice da Organização Mundial da Saúde, 4,7 médicos para 10 mil habitantes.
Vamos ver como é o “padrão Fifa”?
São 48 médicos na Áustria a cada 10 mil cidadãos, contra 40 na Suíça, 37 na Bélgica, 34 na Dinamarca, 33 na França, 36 na Alemanha e 38 na Itália.
Nas grandes cidades estamos bem acima disso, com taxas da ordem de 45 ou 50 médicos por dez mil habitantes.
Mas o  nosso padrão, nos municípios menores – e nem tão menores, têm até 50 mil habitantes! –  é o de Botswana, Suriname, Vietnam…
Argumentar que a média nacional está acima dos padrões mínimos da OMS é uma hipocrisia, porque ninguém é atendido por um “doutor média”, mas por um profissional de carne e osso.
Gente como o Dr. Sérgio Perini, único médico de Santa Maria das Barreiras, no interior do Pará, com seus 18 mil habitantes, um rico exemplo trazido por Dráuzio Varela.
Perini é graduado pelo ISCM-VC (Instituto Superior de Ciências Médicas de Villa Clara), em Cuba, com o qual a Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu-SP mantém convênio desde 2002. Trocou sua cidade de São Simão, em Goiás, que tinha cerca de 15 médicos para seus 17 mil habitantes, para viver com a família no interior do Pará, mesmo por um salário menor. “Quando escuto o CFM falando que os médicos estrangeiros podem não ter formação suficiente, fico indignado. Me dá a impressão de que eles não fazem ideia do que aprendemos por lá”.
Ah, mas os e os médicos iriam para estas comunidades se houvesse incentivo e se houvesse lá um mínimo de condições de atendimento.
Santa Maria das Barreiras tem uma Unidade Mista de Atendimento (local para atendimento básico com pequeno centro cirúrgico). Mas como não tem médicos, além do Dr. Perini, ele tem de atender entre 40 e 50 pessoas por dia.
Mas porque não contratam médicos brasileiros?
Diz lá o site do Dráuzio Varela:
“O governo federal criou em 2011 o Provab (Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica), uma iniciativa para levar médicos recém-formados a regiões carentes oferecendo uma bolsa de R$8 mil. O incentivo, porém, não foi suficiente. O último levantamento, feito com base nos dados de 2012, mostrou que 2.856 prefeituras solicitaram 13 mil médicos. Menos da metade, 1.291, foi atendida por pelo menos um profissional, já que apenas 4.392 médicos se inscreveram e 3.800 assinaram contrato. O número equivale a 29% das vagas abertas.”
A verdade é que o custo de um curso de medicina no Brasil é algo tão proibitivo que representa, na prática, um “investimento” pelo qual se espera ser muito bem remunerado.
Passar para o curso de medicina, numa universidade pública, é para poucos, a maioria – dos fora das cotas – vindos do melhor ensino privado.
Nas faculdades particulares, as mensalidades variam entre R$ 2,3 mil e R$ 6,8 mil. Em Manaus e São Luiz, cidades grandes pobres, pode custar R$ 6 mil estudar medicina, confira.
Quem pode pagar isso por seis anos, sem trabalhar?
E mais os dois anos de residência, se desejar ser um especialista?
Quem investiu, entre mensalidades, transporte, livros e tempo, quase meio milhão de reais quer ir tratar de pobre? Há exceções, claro, vocações generosas.
Dos 13 mil médicos que o Brasil forma anualmente, quantos são estão dispostos a ir para esses lugares tão mal atendidos?
Será que supera o número dos filhos e filhas de médicos que vão seguir a tradição – e a clientela – dos pais? Não é ilegítimo, repito, mas é uma realidade visível a quem – como eu, infelizmente – é assíduo frequentador de consultórios médicos.
Se há médicos disposto a vir ocupar vagas que os médicos brasileiros não querem, qual é o erro?
Ah, mas são médicos sem qualidade, porque dos formados no exterior só 12% passaram no “Revalida”, prova de suficiência a que são obrigatoriamente submetidos.
Alguém pode dizer qual o grau de dificuldade destas provas? Alguém pode jurar que ele é adequado e não apenas restritivo?
Ou terá padrão “Dr. Zerbini”?
Precisamos de um “Dr. Zerbini” lá em Catitolé da Grota Funda ou de um médico que esteja lá,  que cure precocemente o que é corriqueiro (mas que pode virar grave) e encaminhe os casos mais complexos a unidades de referência?
Tomo o depoimento do médico brasileiro Pedro Saraiva, que é nefrologista e trabalha em Portugal. Lá, 60 médicos cubanos prestaram exame e 44 foram aprovados (73,3%). Aqui, 11%.
E os brasileiros? Em São Paulo, o Conselho Regional de Medicina faz um exame de suficiência profissional para os formandos em Medicina. Opcional, onde só 15% dos jovens médicos se inscrevem, e claro que os que sabem que estão mal de conhecimentos nem participam. Mesmo assim, quase a metade (46,7%) ficou reprovada.
Agora, o exame será obrigatório. Mas apenas fazer o exame. Mesmo que tire zero, o médico formado aqui terá seu registro e todo o direito de exercer a profissão.
Mas aí pode, não é?
Sem hipocrisia, por favor, doutores.
Porque se trata da saúde de milhões de Brasileiros.
Que precisam de saúde, que não se faz sem médico.
E sem médicos como o Dr. Perini, lá de Santa Maria das Barreiras, no interior do Pará.
Ele diz muito bem:
“Como médico, posso afirmar que a vinda de profissionais estrangeiros pode ‘ameaçar’ meu cargo, mas presenciando o dia a dia das pessoas que vivem em Santa Maria das Barreiras e não têm ninguém além de mim para socorrê-las, é um deslize se posicionar contra a vinda desses médicos. Erro é não ter ninguém para atender essa população”.
Diagnóstico preciso, Dr. Perini.
Por: Fernando Brito