Fábio Cesar dos Santos Oliveira (à dir.) foi indicado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para o cargo de secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça em novembro de 2012; mas desde agosto do ano passado cursa uma especialização de um ano na Columbia University; órgão disse que ele abriria mão da remuneração do cargo; no entanto, já recebeu R$ 28,7 mil durante "visita acadêmica"; Oliveira segue os passos do seu mentor, Joaquim Barbosa, que durante férias na Europa teve 11 diárias bancadas pelo STF, no total de R$ 14.142,60, sob a justificativa de agenda oficial
Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
O “rolé” de FHC com Regina Duarte. Com direito a filme de marqueteiro de Serra com Marcos Valério
Não sei se os amigos e amigas repararam que o modesto blogueiro aqui anda sem paciência.
Está demais aguentar a mediocridade que tomou conta da oposição e da mídia brasileira.
Dar de cara com uma publicação “oficial” do PSDB chamando de “rolezinhos” as viagens presidenciais e exigindo “transparência” nos gastos – até nos gastos pessoais! – de Dilma é dose para elefante…
Por isso, publico a seguir a lista dos “rolezinhos” de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
Uma longa lista que termina com uma viagem a Nova York com uma multidão de convidados para vê-lo receber um prêmio, inclusive a inefável Regina “Viúva Porcina” Duarte, com despesas pagas pelo dinheiro público.
Para recordar, Regina Duarte havia gravado, dois meses antes, o famoso “eu tô com medo” da campanha eleitoral de José Serra.
Foi, segundo a BBC, 99a. viagem de FHC.
E iriam, segundo o jornal, estourar ainda mais, com a produção de filmes promocionais do reconhecimento mundial ao Príncipe dos Sociologos, orçada, na época, entre R$ 3,5 e 4 milhões de reais, ou algo como R$ 7 milhões, hoje, corrigidos pela inflação.
A campanha foi produzida pelo publicitário Nizan Guanaes, que tinha acabado de dirigir a derrotada campanha de José Serra à Presidência, através da agência DMA, do onipresente Márcos Valério.
Infelizmente, não parece ninguém para peitar os tucanos, porque viraram todos uns coelhinhos assustados.
Abaixo, a lista dos “rolezinhos” de FHC, para quem tiver paciência de contar o número de dias fora do “Viajando Henrique Cardoso”.
28.02 a 04.03.1995 – Visita ao Uruguai para assistir às cerimônias de posse do Presidente Júlio Maria Sangüinetti e visita oficial à República do Chile. |
17 a 22.04.1995 – Visita oficial aos Estados Unidos da América. |
05 a 08.05.1995 – Participa das cerimônias oficiais de comemoração do Cinqüentenário do Término da Segunda Guerra Mundial, na cidade de Londres, no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. |
04 e 05.07.1995 – Visita à Venezuela para participar das comemorações da data nacional venezuelana e discutir uma ampla agenda bilateral. |
07 e 08.07.1995 – Visita à Argentina para assistir às cerimônias de posse do Presidente Carlos Saul Menem. |
18 a 23.07.1995 – Visita de Estado a Portugal. |
27 e 28.07.1995 – Visita ao Peru para assistir às cerimônias de posse do Presidente Alberto Fujimori. |
04 e 05.08.1995 – Participa da VIII Reunião do Conselho do Mercado Comum, na cidade de Assunção, República do Paraguai. |
13 a 22.09.1995 – Visitas oficiais ao Reino da Bélgica e à União Européia (14 a 16.09), e de Estado à República Federal da Alemanha (17 a 21.09) |
16 e 17.10.1995 – Participa da V cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, a realizar-se na cidade de San Carlos de Bariloche, Argentina. |
22 a 24.10.1995 – Participa da Sessão Especial da Assembléia Geral comemorativa do Cinqëntenário da Organização das Nações Unidas, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. |
06 e 07.12.1995 – Participa da IX Reunião do Conselho do Mercado Comum, em Punta del Este, Uruguai. |
10 a 21.12.1995 – Visitas oficiais à República Popular da China, a Macau, à Federação da Malásia e ao Reino da Espanha. |
22 a 28.01.1996 – Visita oficial à Índia. |
18 a 21.02.1996 – Visita de Estado ao México. |
09 a 17.03.1996 – Visita de Estado ao Japão, com escala em São Francisco, nos Estados Unidos da América, no período de 9 a 10 de março. |
07 a 10.04.1996 – Visita oficial à Argentina. |
24 e 25.06.1996 – Participa da X Reunião do Conselho do Mercado Comum, nas cidades de Buenos Aires e San Luis, República Argentina. |
16 a 18.07.1996 – Participa, em Lisboa, Portugal, da Reunião de Chefes de Estado e Governo dos Países de Língua Portuguesa, para tratar da instituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP. |
09 a 11.11.1996 – Participa da VI Reunião de Chefes de Estado e de Governo da Conferência Ibero-Americana, a realizar-se no Chile. |
24 a 28.11.1996 – Visitas oficiais às Repúblicas de Angola e da África do Sul. |
07 e 08.12.1996 – Participa da Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. |
08 a 14.02.1997 – Visita de trabalho ao Reino Unido – no período de 8 a 10, e de Estado à Itália e ao Vaticano, de 11 a 14. |
21 a 24.04.1997 – Visita de Estado ao Canadá. |
04 a 06.05.1997 – Visita de Estado à República Oriental do Uruguai. |
19.06.1997 – Participa da XII Reunião do Conselho do Mercado Comum, na cidade de Assunção, República do Paraguai. |
21 a 24.06.1997 – Participa da Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. |
25.07.1997 – Visita de trabalho à República da Bolívia. |
22 a 23.08.1997 – Participa da XI Reunião de Chefes de Estado e de Governo do Mecanismo Permanente de Consulta e Concertação Política (Grupo do Rio), em Assunção, Paraguai. |
30.09 a 02.10.1997 – Visita oficial à República do Chile. |
06 e 07.11.1997 – Encontro com o Presidente da Colômbia, na cidade de Cartagena das Índias (06.11) e participação, na Venezuela, da Cúpula Ibero-Americana (07.11). |
25.11.1997 – Encontro com o Presidente da República Francesa, Jacques Chirac, em Saint Georges de I ’Oyapock, fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa. |
01 a 05.12.1997 – Visita de Estado ao Reino Unido. |
14 e 15.12.1997 – Participa da XIII Reunião do Conselho do Mercosul na República Oriental do Uruguai. |
17 a 19.04.1998 – Encontro com o Presidente boliviano, Hugo Banzer, em Santa Cruz de la Sierra (17.04). Participa da II Cúpula das Américas, em Santiago, Chile (18 e 19.04). |
20 a 25.04.1998 – Visita de Estado ao Reino da Espanha. Observação: O Presidente da República antecipou seu retorno ao Brasil para o dia 22.04, a fim de assistir o sepultamento do Deputado Luís Eduardo Magalhães |
06 a 09.06.1998 – Visita de Trabalho aos Estados Unidos da América. |
23 e 24.07.1998 – Participa da XIV Reunião do Conselho do Mercado Comum e de Reunião de Cúpula do Mercosul, na cidade de Ushuaia, República Argentina. |
14 e 15.08.1998 – Visita oficial à República do Paraguai. |
16 a 19.10.1998 – Participa da VIII Reunião de Chefes de Estado e de Governo da Conferência Ibero-Americana, na cidade de Porto, Portugal. |
23.11.1998 – Visita de trabalho à República da Venezuela. |
09.02.1999 – Participa, na Bolívia, da cerimônia de descerramento da placa comemorativa da inauguração do gasoduto Brasil-Bolívia. |
14 a 21.04.1999 – Visitas de trabalho à República Federal da Alemanha, à República Portuguesa e ao Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. |
08 a 11.05.1999 – Visita de trabalho aos Estados Unidos da América. |
28 e 29.05.1999 – Participa da XIII Reunião dos Chefes de Estado e de Governo do Mecanismo Permanente de Consulta e Concertação Política – Grupo do Rio , na Cidade do México. |
06 e 07.06.1999 – Visita de trabalho à Argentina a convite do Presidente Carlos Menem. |
20 a 22.07.1999 – Visita oficial à República do Peru |
08.10.1999 – Encontro com o Presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, na cidade fronteiriça de Letícia. |
13 a 22.11.1999 – Participa do encerramento da VI Reunião Plenária do Círculo de Montevidéu, em São Domingos, República Dominicana (13/11). Participa da IX Reunião de Chefes de Estado e de Governo da Conferência Ibero-Americana, em Havana, Cuba (14 a 16/11). Viagem à Itália, onde manterá encontros com o Presidente Carlo Azeglio Ciampi e outros membros do Governo italiano. Além de ser recebido em audiência pelo Papa João Paulo II, no Vaticano (17 a 22/11). |
07 a 12.12.1999 – Participa da reunião de cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, Bolívia e Chile, na cidade de Montevidéu, e, posteriormente, da cerimônia de posse do Presidente da Argentina, Doutor Fernando de la Rúa, em Buenos Aires. |
07 a 09.03.2000 – Visita oficial à República Portuguesa. |
10 a 12.03.2000 – Visita ao Chile para participar da cerimônia de posse do Presidente-eleito Ricardo Escobar, em Santiago. |
03 a 07.04.2000 – Visitas à República da Costa Rica e à República Bolivariana da Venezuela. |
30.05 a 06.06.2000 – Visita de trabalho à República Federal da Alemanha à República Francesa. |
15 a 17.06.2000 – Participa da XIV Reunião de Chefes de Estado e de Governo do Mecanismo de Consulta e Concertação Política – Grupo do Rio, em Cartagena das Índias, Colômbia. |
28 a 30.06.2000 – Participa da XVIII Reunião do Conselho Mercado Comum e da Reunião dos Chefes de |
Estado do Mercosul, a realizar-se na cidade de Buenos Aires, Argentina. |
16 a 18.07.2000 – Participa da III Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos |
Países de Língua Portuguesa – CPLP, a realizar-se na cidade de Maputo, República de Moçambique. |
03 a 11.10.2000 – Visita à República Federal da Alemanha ( 3 a 7/10) e ao Reino dos Países Baixos (8 a 11/10). |
24 a 28.10.2000 – Visita ao Reino da Espanha. |
17 a 18.11.2000 – Visita Oficial à República do Panamá, a fim de participar da X Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Conferência Ibero-americana, a realizar-se na cidade do Panamá. |
29.11 a 02.12.2000 – Visita oficial aos Estados Unidos Mexicanos, a fim de participar das cerimônias de posse do Presidente eleito, Vicente Fox Quesada. |
08.12.2000 – Visita de trabalho à República da Bolívia. |
15 a 24.01.2001 – Visita de trabalho à Corea do Sul, Indonésia e Timor Leste. |
29 a 31.03.2001 – Visita de trabalho aos Estados Unidos da América. |
19 a 22.04.2001 – Participa da III Cúpula das Américas, em Quebec, Canadá |
21 e 22.06.2001 – Participa da XX Reunião do Conselho do Mercado Comum e da Reunião dos Chefes de Estado do Mercosul, a realizar-se na cidade de Assunção, Paraguai |
26 a 28.06.2001 – Visita de Estado à República da Bolívia |
27 a 29.07.2001 – Visita oficial à República do Peru para participar das cerimônias de posse do Presidente Alejandro Toledo |
13.08.2001 – Participa, juntamente com o Presidente Hugo Chavéz, da cerimônia de inauguração da interconexão elétrica entre Brasil e Venezuela, em Santa Elena do Uairen |
16 a 19.08.2001 – Participa da XV Reunião de Chefes de Estados e de Governo do Mecanismo de Consulta e Concertação Política – Grupo do Rio, em Santiago do Chile |
30.09 a 02.10.2001 – Visita oficial à República do Equador |
25.10 a 1º.11.2001 – Visita ao Reino Unido da Espanha e à República Francesa |
07 a 11.11.2001 – Visita de trabalho aos Estados Unidos da América e participação da abertura do Debate-Geral da 56ª Sessão da Assembléia-Geral das Nações Unidas. |
23 a 24.11.2001 – Visita oficial à República do Peru. |
20 e 21.12.2001 – Participa da XXI Reunião de Conselho do Mercado Comum e Cúpula de Chefes de |
Estado do Mercosul, em Montevidéu, Uruguai |
12 a 16.01.2002 – Visita Oficial à Federação da Rússia |
16 e 17.01.2002 – Visita Oficial à República da Ucrânia |
17 e 18.02.2002 – Participa da Cúpula de Presidentes do Mercosul, Bolívia e Chile, em Buenos Aires, Argentina. |
18 a 20.03.2002 – Visita de Estado à República do Chile |
09 a 16.11.2002 – Visita oficial à República Portuguesa, para participar da VI Cimeira Luso-Brasileira ( 9 a 13 ), visita de trabalho a Oxford, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte ( 13 e 14 ) e visita oficial à República Dominicana, para participar da XII Cúpula Ibero-Americana de chefes de Estados e de Governo (14 a 16) |
07 a 11/12/2002 – Visita de trabalho a Nova York para receber o Prêmio Mahbub U1 Haq 2002, por Contribuição Destacada ao Desenvolvimento Humano, conferido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD) |
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Diogo Mainardi paga mico na Globo News
Espalhou-se pela internet entrevista que a empresária paulista Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, atual presidente da rede de varejo Magazine Luiza, concedeu ao programa Manhattan Connection, da Globo News, e que foi ao ar na noite do último domingo.
Para o apresentador Lucas Mendes, a empresária é “Simplesmente Luiza”, pois “Assim ela é tratada pela presidente Dilma Rousseff e pelos próprios faxineiros” – supõe-se que de sua empresa.
Mendes qualificou Luiza como “Um fenômeno do comércio brasileiro pelas vendas e pela gestão” e, em sua primeira pergunta a ela, deu ao telespectador a impressão de que tinha diante de si um tipo raro de empresária, o tipo otimista.
Atente para a pergunta de Mendes, leitor. Deixa clara a razão pela qual a empresária foi convidada para um programa cujo objetivo, há anos, tem sido espalhar pessimismo com o Brasil.
Lucas Mendes: “Você não esconde seu otimismo pelo Brasil, nem pela outra presidente, e diz que a culpa desse pessimismo é nossa, da imprensa. Eu acho que esse economista sentado aí do seu lado discorda”.
Uau! Pensei que sobreviria um massacre. Até porque, Luiza é uma mulher de modos simples. Tem aquele sotaque meio caipira do interior paulista, fala um português coloquial, pois, apesar de ter nascido na capital, sua mãe – também Luiza, de quem herdou o negócio – fundou em Franca, interior de São Paulo, a primeira loja da rede que a filha edificaria.
O tal economista que parecia que iria demolir as posições de Luiza foi o também apresentador do programa Ricardo Amorim. Porém, a expectativa se frustrou. Perguntou apenas se o seu colega Caio Blinder, que na semana passada dissera que “O varejo brasileiro está em crise”, tinha razão.
Luiza, obviamente, disse que não. Citou dados do IDV (Instituto de Desenvolvimento do Varejo). Segundo o instituto, o comércio varejista brasileiro cresceu 5,9% em 2013 e só as redes de lojas vinculadas a esse instituto geraram 631 mil empregos.
Luiza ainda teve que explicar ao já titubeante Blinder que o Brasil é “Diferente dos Estados Unidos”. Nessa explicação, a vitoriosa empresária teve que fazer ver ao jornalista o que tem sido dito exaustivamente neste blog, que o atual modelo de desenvolvimento brasileiro, hoje intrinsecamente baseado no consumo de massas, não pode estar esgotado em um país em que apenas 7% ou 8% do povo têm televisão de tela plana, em que apenas 54% têm máquina de lavar…
Enfim, Luiza teve que explicar que, com tanto brasileiro sem produtos que nos EUA qualquer um tem, o modelo de consumo de massas não pode estar “esgotado”.
Blinder, meio atônito com a aula que recebeu de uma empresária que transformou uma pequena loja do interior de São Paulo numa holding que compete hoje com as grandes redes de varejo brasileiras, balbuciou alguma coisa sobre “bolha de consumo” e foi perguntar sobre “rolezinhos”.
Mais adiante, insatisfeito, Lucas Mendes passou a bola a ele, ao próprio, a ninguém mais, ninguém menos do que o “temível” Diogo Mainardi. Seria ele que conseguiria mostrar que aquela mega empresária tão otimista com o país não sabe o que fala?
Antes de prosseguir, devo dizer que esse programa praticou uma covardia. Não se coloca para debater economia pessoas que não têm o mesmo preparo.
Detalhe: a covardia foi com Mendes, Amorim, Blinder e Mainardi.
O expatriado em Veneza – sabe Deus por que – foi logo vestindo aquele seu pretenso estilo irônico, irreverente, desassombrado, mas que não passa de pretensão porque tal estilo requer atributos intelectuais que ele, ao longo do programa, deixou ver que não tem.
Em tom professoral, Mainardi começou a “explicar” a uma empresária desse quilate que “Todos os fatores que determinaram o crescimento do varejo” e que ela acabara de citar a Blinder teriam “Murchado” porque “Os juros estão subindo, o crédito diminui, a inadimplência aumentou pelo segundo ano consecutivo” etc., etc.
E tascou uma pergunta insolente, em sua tática de tentar intimidar quem não tinha condição: “Quando é que você vai vender suas lojas para a Amazon?”.
Luiza, com o semblante sério, questionou as informações que Mainardi acabara de divulgar e prometeu lhe passar os dados corretos por e-mail. Começou dizendo que “A inadimplência está totalmente sob controle”. Nesse momento, ouve-se sorriso de deboche de Mainardi, que a interrompe: “Aumentou em 2012 e aumentou em 2013”.
Mostrando concentração, Luiza desmentiu o interlocutor: “Não! O que o que aumentou foi a inadimplência geral focada”. Explicou que a inadimplência no varejo não aumentou, diminuiu. E que nunca tivemos, no Brasil, um índice de inadimplência tão bom quanto em 2013.
Mainardi insiste: “Na sua loja…”
Luiza rebate: “Não, não é na minha loja, é no Brasil”.
Mainardi não se dá por vencido e diz que os dados “da Serasa” seriam “diferentes”. Novamente, Luiza diz que ele está errado e que vai lhe passar os dados corretos.
A segunda parte desse debate que me é mais cara foi ela ter dito um fato mais do que evidente, mas que ninguém consegue dizer na grande imprensa. A declaração textual de Luiza, que vou reproduzir abaixo, tem sido repetida à exaustão neste blog:
“Como é que fala que a bolha acabou? Nós precisaremos construir 23 milhões de [unidades do programa] Minha Casa Minha Vida pro brasileiro ter um nível social adequado aos países desenvolvidos. Como que a gente fala que é bolha? Bolha são 23 milhões de casas para 23 milhões de pessoas que mora (sic) com o sogro, com a sogra pagando 400 reais de aluguel. Nós tivemos três década perdida (sic)”.
Luiza volta a prometer a Mainardi que irá lhe enviar os dados da inadimplência por email, ao que ele responde com um sorriso debochado e com a petulante frase “Me poupe (sic), Luiza”.
Aquela que o colega de Mainardi disse, no início do programa, ser “Um fenômeno do comércio brasileiro pelas vendas e pela gestão” não se abalou e continuou ensinando ao insolente especialista em nada que ninguém ia comprar suas lojas. E lhe deu mais algumas explicações técnicas sobre as mudanças que poderão ocorrer no mercado nos próximos anos e sobre como suas empresas irão enfrentá-las.
A artilharia contra Luiza ainda tentou prosseguir. Amorim, o economista, deu como “prova” do “desastre” que vive anunciando que as grandes redes de varejo brasileiras não figuram entre as maiores do mundo…
Foi aí que Luiza matou a pau explicando que o varejo no Brasil não era nada até “cinco, seis anos atrás”, que era “muito esquecido”, e que ainda está “engatinhando”, o que, claro, desmonta a tese de “esgotamento” do modelo de consumo de massas.
Amorim, o economista, ficou caladinho.
Foi nesse momento que Mendes, possivelmente após ter consultado a produção do programa, reconheceu que Luiza tem razão na questão da inadimplência. E mudou para assunto mais ameno.
De fato, Luiza tem razão. A inadimplência “focada” que ela admitiu a Mainardi que subiu é a inadimplência seca, que não leva em conta fatores sazonais. É a que mede a Serasa de Mainardi. São, porém, dados brutos.
Há que levar em conta, por exemplo, que naquela determinada época do ano há sempre um aumento da inadimplência. Se não se levar esse fator em conta realmente a taxa será considerada em alta, mas não é assim que os dados devem ser interpretados.
Para esclarecer melhor, vale ler, abaixo, trecho de boletim da Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
—–
13 janeiro, 2014
Os registros de inadimplência caíram 0,4% em 2013, em todo o país, conforme apuração da Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). Em dezembro, contra novembro de 2013, houve redução de 4,5%, descontados os efeitos sazonais.
Ao longo dos primeiros seis meses de 2013, os registros de inadimplência mantiveram a queda iniciada no final de 2012. Entretanto, a partir do segundo semestre, após uma reversão temporária desta tendência, o indicador encerrou o ano em queda, com nível menor que o registrado em dezembro do ano anterior.
A melhoria do quadro da inadimplência pode ser justificada pela continuidade de fatores como aumento dos rendimentos reais, baixo desemprego, queda dos juros (*), entre outros. Além disso, em 2013 houve um grande ajuste do mercado de crédito, tornando-o mais saudável, com credores mais seletivos e consumidores mais cautelosos (…)
—–
Como se vê, Mainardi disse bobagem – que a inadimplência aumentou pelo segundo ano consecutivo. A matéria da Boa Vista mostra que a inadimplência aumentou em 2012, mas caiu no ano passado. Mainardi pagou um mico.
Esse fato é extremamente eloquente porque deixa ver a falta de compromisso dessa mídia terrorista com os fatos. Põe gente que não entende nada do mercado para dizer o que o patrão quer que seja dito e o expectador desavisado compra como se fosse fato.
Fato mesmo é que ri muito ao ver a incrível Luiza surrar verbalmente Diogo Mainardi. Ria sozinho. Não só pelo que ela disse – e que reproduzi acima –, mas pela forma como disse – com sua linguagem coloquial e despretensiosa.
Toda essa conversa durou, mais ou menos, uns 15 minutos. Vale muito a pena assistir. Abaixo, o vídeo.
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domingo, 19 de janeiro de 2014
Quantos dias o Iguatemi aguentaria fechado?
Há 57 anos uma negra chamada Rosa Parks deu um rolezinho sobre as prerrogativas dos brancos no transporte coletivo de Montgomey, nos EUA.
O Museu Henry Ford, em Detroit, nos EUA, guarda inúmeras relíquias da história norte-americana sobre rodas.
O veículo no qual Kennedy foi baleado está lá.
Gigantescas locomotivas que desbravaram a expansão ferroviária do país no século XIX ilustram em toneladas de ferro e aço o sentido da expressão revolução metal-mecânica.
Perto delas os esqueléticos Fords-bigode que deram origem à indústria automobilística, de que Detroit foi a capital um dia, parecem moscas.
O museu abriga também um centenário ônibus da National City Lines, de número 2857, um GM com o número 1132, que fazia a linha da Cleveland Avenue na cidade de Montgomery, no Alabama, em 1 de dezembro de 1955.
A ocupação de um assento naquele ônibus mudaria a história dos direitos civis nos EUA promovendo um salto na luta pela igualdade entre negros e brancos no país.
O verdadeiro símbolo do episódio não é o velho GM, mas a costureira e ativista dos direitos dos negros, Rosa Park (1923-2005) que naquela noite se recusou a ceder o lugar a um branco.
Rosa tinha 40 quando desafiou a física do preconceito no Alabama dos anos 50, segundo a qual brancos e negros não poderiam usufruir coletivamente do mesmo espaço, ao mesmo tempo.
Rosa Parks viveria mais 50 anos para contar e recontar esse rolezinho sobre as prerrogativas dos brancos , que transformaria o velho GM em um centro de peregrinação política.
O último presidente a sentar-se no mesmo banco do qual ela só saiu presa foi Barak Obama.
Em 2012 depois de alguns segundo em silencio no mesmo lugar, ele disse: ‘É preciso um gesto de coragem das pessoas comuns para mudar a história’.
Rosa Parks era uma pessoa comum até dizer basta a uma regra sagrada da supremacia branca nos EUA.
Em pleno boom de crescimento do pós-guerra, quando negros se integravam ao mercado de trabalho e de consumo norte-americano, eles não dispunham de espaço equivalente nem no plano político, nem nos espaços públicos, como o interior de um veículo de passageiros.
No Alabama os bancos da frente dos ônibus eram exclusivos dos brancos; os do fundo destinavam-se aos negros.
Detalhes evitavam o contato entre as peles de cores distintas: os negros compravam seu bilhete ingressando pela porta da frente, mas deveriam descer e embarcar pela do fundo.
À medida em que os assentos da frente se esgotavam os negros deveriam ceder seu lugar a um novo passageiro branco que embarcasse no trajeto.
Rosa Parks estava fisicamente exausta aquela noite e há muitos anos cansada da desigualdade que humilhava sua gente.
Ela recusou a ordem do motorista e não cedeu o lugar mesmo ameaçada. Sua prisão gerou um boicote maciço dos negros de Montgomery.
Durante longos meses eles que se recusaram a utilizar o transporte coletivo da cidade provocando atrasos nos locais de trabalho e prejuízos às empresas de transporte.
Milhões de panfletos explicativos seriam distribuídos diariamente; de forma pacífica, grupos de ativistas vasculhavam os pontos de ônibus da cidade para convencer negros a aderi ao boicote.
Quase um ano depois a lei da segregação dentro dos ônibus foi extinta.
Neste sábado, um dos shoppings mais luxuosos de SP , o Iguatemi JK, cerrou as portas para impedir que movimentos sociais fizessem ali um protesto contra a discriminação em relação aos pobres.
O Iguatemi foi um dos pioneiros a obter liminar na Justiça de SP autorizando seguranças a selecionar o ingresso de clientes para barrar a juventude dos rolezinhos - marcadamente composta de jovens da periferia, pretos, mestiços e pobres.
A memória dos acontecimentos de 57 anos atrás em Montgomery anos convida a perguntar :
- A exemplo das transportadoras racistas do Alabama, quantos dias o Iguatemi de SP aguentaria de portas cerradas, cercado por manifestações pacíficas e desidratado pela fuga de seus clientes tradicionais?
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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Criminalização de “rolezinhos” gera explosão de racismo na internet
A criminalização de que o movimento desorganizado dito “rolezinhos” foi alvo por ação de textos recriminatórios da grande imprensa e da decisão judicial que permitiu aos shoppings de São Paulo promoverem, sob critérios obscuros, triagem de quem podia ou não ingressar nesses empreendimentos comerciais gerou uma onda de racismo nas redes sociais.
Essa mesma criminalização dos “rolezinhos” foi a senha a estimular jovens a postarem comentários com termos como “Negrada” e “baianada” (forma como classe média paulista se refere a nordestinos) naquelas redes sociais sem demonstrarem qualquer preocupação
Em 1951, foi promulgada a Lei 1390/51, mais conhecida como Lei Afonso Arinos. Proposta por Afonso Arinos de Melo Franco, proibia a discriminação racial e a separação de “raças” diferentes que, até então, era aceita.
A lei Afonso Arinos acabou se revelando ineficiente por faltar rigor nas punições que previa mesmo em casos explícitos de discriminação racial em locais de trabalho, em estabelecimentos comerciais, em escolas e nos serviços públicos.
Em 1989, o governo José Sarney promulgou a Lei 7716/89, mais conhecida como “Lei Caó”. Proposta pelo jornalista, ex-vereador e advogado Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, essa lei determinou a igualdade racial e o crime de intolerância religiosa.
Apesar de ser menos usada do que deveria, a lei 7716/89 inibiu fortemente o racismo explícito no país por tê-lo tornado inafiançável. Contudo, a leniência da Justiça mesmo com os casos mais graves continua estimulando o racismo aberto em vários setores da sociedade e, sobretudo, em regiões específicas do país – sobretudo no Sul e no Sudeste.
Onde andará o Ministério Público e a mesma Justiça que foi tão ágil em dar permissão aos shoppings para barrarem a entrada daqueles que essa “juventude” chama de “negrada” e de “baianada”? Com a palavra, o doutor Rodrigo Janot, Procurador Geral da República Federativa do Brasil.
*
Veja, abaixo, alguns dos milhares de crimes de racismo que estão sendo cometidos na internet enquanto você lê este texto.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
ALOYSIO NUNES: ROLEZINHO É COISA DE 'CAVALÃO'
UM DOS TREZENTOS PICARETAS COM ANEL DE
DOUTOR !!!
“Domingo, levei meus netos, de 5 e 4 anos, à exposição do "Gloob" no Shopping Morumbi. Imagino como eu e demais avós reagiríamos caso um bando de cavalões cismassem de dar um rolê por lá...” escreveu no Twitter o senador tucano; segundo ele, 'os bacaninhas de sempre fazem agora apologia da nova modalidade de inclusão da periferia'
16 DE JANEIRO DE 2014 ÀS 06:07
por Redação Rede Brasil Atual
São Paulo – O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) atacou hoje em sua conta no Twitter os rolezinhos em shoppings da cidade, feitos por jovens da periferia paulistana, que ele classificou como “cavalões”.
“Domingo, levei meus netos, de 5 e 4 anos, à exposição do "Gloob" no Shopping Morumbi. Imagino como eu e demais avós reagiríamos caso um bando de cavalões cismassem de dar um rolê por lá...”, escreveu ele, em duas postagens seguidas.
O “Gloob” a que o senador se refere é o canal infantil de TV paga que mantém uma programação de férias naquele shopping, com seus personagens.
Antes, o tucano já havia atacado as pessoas que defendem o direito de a juventude pobre ocupar espaços até então frequentados apenas por pessoas de classe média.
“Os bacaninhas de sempre fazem agora apologia da nova modalidade de inclusão da periferia, e dão pau na PM com vivas ao rolezinho”, afirmou.
No último fim de semana, a Polícia Militar de São Paulo reprimiu com balas de borracha e bombas de gás grupos de garotos que tentavam se aproximar do Shopping Itaquera para um rolezinho. A repressão ocorreu na rampa que liga o shopping ao metrô local e também no terminal de ônibus que fica na região.
Em outro shopping, no Campo Limpo, a polícia do governador Geraldo Alckmin (PSDB), também foi acionada para reprimir os jovens e proteger os interesses do centro comercial.
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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Daslu, Danuza e Dá o fora!
Haddad lança plano de resgate dos viciados em crack que inclui moradia, emprego e saúde
Haddad lança plano de resgate dos viciados em crack que inclui moradia, emprego e saúde
De 2014 a 2017, Brasil investirá R$ 458 bi em petróleo e gás; BNDES estima que a fatia do setor no investimento total do país crescerá de 10% para 14%
Os filhos do porteiro da Danuza resolveram ir ao shopping center. E a justiça de SP autorizou guardas a dizer-lhes: Dá o fora!.
O Brasil tem cerca de 500 shoppings centers.
O conjunto fatura R$ 184 bi por ano, ocupa mais de 11 milhões de m2 - uns 2. 200 campos de futebol; emprega 870 mil pessoas.
Em 40 anos, desde 1996 quando surgiu o primeiro até 2006, foram erguidos 350 shoppings no país; de lá para cá a expansão foi geométrica e ininterrupta. Nos últimos sete anos surgiram mais 120.
Outros 30 estão previstos para inauguração em 2014.
O país inteiro – capitais e interior — foi tricotado por esses centros de compra e lazer que tem a cara e a permeabilidade da estrutura social erguida pelo capitalismo por essas bandas.
A rede de shoppings foi planejada para nuclear um público alvo da ordem de 40 milhões de pessoas.
O Brasil tem mais de 190 milhões de habitantes: 150 milhões estão fora.
Uma parcela dos excluídos agora quer entrar.
O rolezinho é uma evidencia da pressão exercida na parede do dique.
Quem quer entrar entende (com ou sem razão) que o Brasil limpo, organizado, atraente, refrigerado, seguro, iluminado, rico, antenado, onde faísca la dernier cru do consumo e, vá lá, bonito, para os padrões dominantes, está lá dentro.
Não nas ruas desoladoras e escaldantes das periferias conflagradas onde vive a maioria dos integrantes do rolê.
Pode-se – deve-se - discordar da matriz de valores que atribui a um bunker do consumo o padrão de sociedade desejável para viver e se divertir.
Mas há razões para isso.
Um dado sugestivo: até o ano passado, apenas 13,5% dos municípios brasileiros dispunham de uma secretaria voltada exclusivamente para a cultura.
Tê-la não é garantia de grande coisa.
Mas a escala da ausência emite um sinal da atenção dispensada a uma área que fala diretamente à juventude --e poderia oferecer-lhe um ponto de fuga à pulsão consumista, diuturnamente martelada ao seu redor.
Esforços de investimento público tem sido feitos nessa direção.
O número de cidades com bibliotecas, por exemplo, saltou para 98% em 2012, praticamente universalizando esse equipamento, restrito a 70% delas até 1999.
Mas uma biblioteca convencional, de mobiliário imaginável e acervo presumível, em qualidade e quantidade, será um espaço suficiente para satisfazer as expectativas de desfrute, encontro e lazer de quem adere a um rolezinho?
Em 2007, o governo criou um Programa para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult).
Através do BNDES já financiou a construção ou a reforma de 259 salas de cinema.
Mas a maioria dos cinemas do país fugiu igualmente para o interior dos shoppings por conta da insegurança que também despovoou praças e jardins, capturados pelo consórcio drogas & desmazelo.
Apenas 10% dos municípios brasileiros dispõem de cinemas atualmente.
Pesquisa desta semana do Ibope informa que as ‘classes’ C e D bateram recorde de horas diante da televisão em 2013: média de seis horas e 40 minutos. Por dia.
E convenhamos, não dá para imaginar que todo mundo vá se reunir numa lan house, presente, aí sim, em 82% da malha urbana e, de fato, encontrável em qualquer bairro ou favela por mais pobre que seja.
O espaço virtual tem limites.
O rolezinho se vale da capilaridade digital para convocar os encontros , mas representa ele mesmo (felizmente) a insuficiência da realidade virtual na vida humana.
A dupla insuficiência – material e virtual - misturada a uma revolta difusa, temperada de hormônios e apimentada com o deboche e o anseio por identidade olha em volta e enxerga o quê?
Enxerga aquilo que distraidamente ou de forma deliberada foi sendo construído nas entranhas da velha malha urbana, e para cujo declínio contribuiu ao inocular a decadência no pequeno comércio, a escuridão no jardim, a solidão no centro velho e o sucateamento do (parco) equipamento público.
O shopping center, a nova cidade brasileira.
Prefiguração do sonho neoliberal, ela materializa um ordenamento coletivo onde tudo é privado (leia o blog do Emir, nesta pág).
Por definição, a cidade da mercadoria é o jazigo da cidadania.
Não só.
O anestesiante paradigma de ‘eficiência’ do shopping engorda o descompromisso com que a elite consumidora encara seus deveres em relação ao espaço coletivo ao seu redor.
Por que, enfim, pagar mais pelo IPTU se já tenho o que quero e o que a cidade numa terá no shopping –ainda que esse adicional corresponda, por dia, a uma fração do preço de um cafezinho do Starbucks no Iguatemi?
O rolezinho sacode o pilar dessa ordem excludente deixando aflorar um conflito que há muito incomoda o conforto das elites.
Quem não se lembra do ‘transtorno’ que a vizinha favela Funchal causava ao Vaticano dos shoppings centers no Brasil, a famosa Daslu – 20 mil m2 de pura ostentação, gastos médios de U$ 15 mil/mês por cliente e uma sonegação de imposto de estupendo R$ 1 bilhão?
Ou do desabafo da socialite Danuza Leão, na Folha, em dezembro de 2012?
Inconsolável com o Brasil do PT, a então colunista lamentava como ficou difícil “ser especial” nesses tempos em que “todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais” -- musicais na Broadway, por exemplo, que graça tem se “por R$50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir”.
Os filhos do porteiro da Danuza resolveram agora ir ao shopping.
E a justiça de SP autorizou seis deles a dizer-lhes: ‘Dá o fora!’.
Esse é o capítulo da novela brasileira nos dias que correm.
As raízes desse enredo de paralelas que agora se cruzam em conflito aberto na porta de santuários do consumo remetem à mutação inconclusa verificada no país desde 2003.
Qual seja, a pobreza caiu pela metade; o mercado de trabalho atingiu as franjas do pleno emprego; o salário mínimo ganhou quase 60% de poder de compra, acima da inflação.
A desigualdade continua obscena, mas as placas tectônicas se moveram.
Privilégios obcecados em preservar um ordenamento social patológico defendem como virtude macroeconômica restituir as fronteiras do conflito original aos marcos do cordão sanitário instituído nos anos 90.
O superávit fiscal ‘robusto’ para assegurar o ganho dos rentistas é um desses marcos.
Outro: o salto adicional nas taxas de juros, até encostar a faca recessiva na garganta da massa ignara.
A crispação em torno dos rolezinhos mostra o quanto será difícil devolver a pasta de dente ao tubo da história.
Nesse empurra-empurra, subjacente à disputa presidencial de outubro, há nuances que dizem respeito diretamente à esquerda.
O ‘rolezinho’ denuncia uma dimensão da luta política rebaixada nos últimos anos na conta da ilusão economicista de que o holerite e o crescimento resolviam o resto.
São imprescindíveis, diga-se.
Mas o discernimento histórico que requer a longa construção de uma sociedade justa e virtuosa nunca será um dote intrínseco à conquista do legítimo direito de viajar de avião, ou comprar bens duráveis a crédito, nem tampouco uma qualidade imanente a governantes eleitos pelos pobres.
Erguer essas linhas de passagem é tarefa das organizações progressistas que se propõem a mudar as formas de viver e de produzir em sociedade.
É delas a obrigação de associar à luta econômica sua contrapartida de ideias emancipadoras que ampliem o horizonte subjetivo para além do consumismo individualista.
Do contrário, o futuro ficará emparedado entre o horizonte do rolezinho e o interdito do dinheiro graúdo.
No limite, ambos poderão se unir em torno de um tênis Nike, contra uma repactuação mais arrojada do desenvolvimento que implique outra modulação do consumo.
O mais difícil na luta pelo desenvolvimento é produzir valores, dizia o saudoso Celso Furtado, em palavras de atualidade inexcedível.
Não apenas esse, mas sobretudo esse passo a esquerda deve ao Brasil.
E não parece recomendável adiá-lo mais uma vez ‘para depois da próxima eleição’.
O conjunto fatura R$ 184 bi por ano, ocupa mais de 11 milhões de m2 - uns 2. 200 campos de futebol; emprega 870 mil pessoas.
Em 40 anos, desde 1996 quando surgiu o primeiro até 2006, foram erguidos 350 shoppings no país; de lá para cá a expansão foi geométrica e ininterrupta. Nos últimos sete anos surgiram mais 120.
Outros 30 estão previstos para inauguração em 2014.
O país inteiro – capitais e interior — foi tricotado por esses centros de compra e lazer que tem a cara e a permeabilidade da estrutura social erguida pelo capitalismo por essas bandas.
A rede de shoppings foi planejada para nuclear um público alvo da ordem de 40 milhões de pessoas.
O Brasil tem mais de 190 milhões de habitantes: 150 milhões estão fora.
Uma parcela dos excluídos agora quer entrar.
O rolezinho é uma evidencia da pressão exercida na parede do dique.
Quem quer entrar entende (com ou sem razão) que o Brasil limpo, organizado, atraente, refrigerado, seguro, iluminado, rico, antenado, onde faísca la dernier cru do consumo e, vá lá, bonito, para os padrões dominantes, está lá dentro.
Não nas ruas desoladoras e escaldantes das periferias conflagradas onde vive a maioria dos integrantes do rolê.
Pode-se – deve-se - discordar da matriz de valores que atribui a um bunker do consumo o padrão de sociedade desejável para viver e se divertir.
Mas há razões para isso.
Um dado sugestivo: até o ano passado, apenas 13,5% dos municípios brasileiros dispunham de uma secretaria voltada exclusivamente para a cultura.
Tê-la não é garantia de grande coisa.
Mas a escala da ausência emite um sinal da atenção dispensada a uma área que fala diretamente à juventude --e poderia oferecer-lhe um ponto de fuga à pulsão consumista, diuturnamente martelada ao seu redor.
Esforços de investimento público tem sido feitos nessa direção.
O número de cidades com bibliotecas, por exemplo, saltou para 98% em 2012, praticamente universalizando esse equipamento, restrito a 70% delas até 1999.
Mas uma biblioteca convencional, de mobiliário imaginável e acervo presumível, em qualidade e quantidade, será um espaço suficiente para satisfazer as expectativas de desfrute, encontro e lazer de quem adere a um rolezinho?
Em 2007, o governo criou um Programa para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult).
Através do BNDES já financiou a construção ou a reforma de 259 salas de cinema.
Mas a maioria dos cinemas do país fugiu igualmente para o interior dos shoppings por conta da insegurança que também despovoou praças e jardins, capturados pelo consórcio drogas & desmazelo.
Apenas 10% dos municípios brasileiros dispõem de cinemas atualmente.
Pesquisa desta semana do Ibope informa que as ‘classes’ C e D bateram recorde de horas diante da televisão em 2013: média de seis horas e 40 minutos. Por dia.
E convenhamos, não dá para imaginar que todo mundo vá se reunir numa lan house, presente, aí sim, em 82% da malha urbana e, de fato, encontrável em qualquer bairro ou favela por mais pobre que seja.
O espaço virtual tem limites.
O rolezinho se vale da capilaridade digital para convocar os encontros , mas representa ele mesmo (felizmente) a insuficiência da realidade virtual na vida humana.
A dupla insuficiência – material e virtual - misturada a uma revolta difusa, temperada de hormônios e apimentada com o deboche e o anseio por identidade olha em volta e enxerga o quê?
Enxerga aquilo que distraidamente ou de forma deliberada foi sendo construído nas entranhas da velha malha urbana, e para cujo declínio contribuiu ao inocular a decadência no pequeno comércio, a escuridão no jardim, a solidão no centro velho e o sucateamento do (parco) equipamento público.
O shopping center, a nova cidade brasileira.
Prefiguração do sonho neoliberal, ela materializa um ordenamento coletivo onde tudo é privado (leia o blog do Emir, nesta pág).
Por definição, a cidade da mercadoria é o jazigo da cidadania.
Não só.
O anestesiante paradigma de ‘eficiência’ do shopping engorda o descompromisso com que a elite consumidora encara seus deveres em relação ao espaço coletivo ao seu redor.
Por que, enfim, pagar mais pelo IPTU se já tenho o que quero e o que a cidade numa terá no shopping –ainda que esse adicional corresponda, por dia, a uma fração do preço de um cafezinho do Starbucks no Iguatemi?
O rolezinho sacode o pilar dessa ordem excludente deixando aflorar um conflito que há muito incomoda o conforto das elites.
Quem não se lembra do ‘transtorno’ que a vizinha favela Funchal causava ao Vaticano dos shoppings centers no Brasil, a famosa Daslu – 20 mil m2 de pura ostentação, gastos médios de U$ 15 mil/mês por cliente e uma sonegação de imposto de estupendo R$ 1 bilhão?
Ou do desabafo da socialite Danuza Leão, na Folha, em dezembro de 2012?
Inconsolável com o Brasil do PT, a então colunista lamentava como ficou difícil “ser especial” nesses tempos em que “todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais” -- musicais na Broadway, por exemplo, que graça tem se “por R$50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir”.
Os filhos do porteiro da Danuza resolveram agora ir ao shopping.
E a justiça de SP autorizou seis deles a dizer-lhes: ‘Dá o fora!’.
Esse é o capítulo da novela brasileira nos dias que correm.
As raízes desse enredo de paralelas que agora se cruzam em conflito aberto na porta de santuários do consumo remetem à mutação inconclusa verificada no país desde 2003.
Qual seja, a pobreza caiu pela metade; o mercado de trabalho atingiu as franjas do pleno emprego; o salário mínimo ganhou quase 60% de poder de compra, acima da inflação.
A desigualdade continua obscena, mas as placas tectônicas se moveram.
Privilégios obcecados em preservar um ordenamento social patológico defendem como virtude macroeconômica restituir as fronteiras do conflito original aos marcos do cordão sanitário instituído nos anos 90.
O superávit fiscal ‘robusto’ para assegurar o ganho dos rentistas é um desses marcos.
Outro: o salto adicional nas taxas de juros, até encostar a faca recessiva na garganta da massa ignara.
A crispação em torno dos rolezinhos mostra o quanto será difícil devolver a pasta de dente ao tubo da história.
Nesse empurra-empurra, subjacente à disputa presidencial de outubro, há nuances que dizem respeito diretamente à esquerda.
O ‘rolezinho’ denuncia uma dimensão da luta política rebaixada nos últimos anos na conta da ilusão economicista de que o holerite e o crescimento resolviam o resto.
São imprescindíveis, diga-se.
Mas o discernimento histórico que requer a longa construção de uma sociedade justa e virtuosa nunca será um dote intrínseco à conquista do legítimo direito de viajar de avião, ou comprar bens duráveis a crédito, nem tampouco uma qualidade imanente a governantes eleitos pelos pobres.
Erguer essas linhas de passagem é tarefa das organizações progressistas que se propõem a mudar as formas de viver e de produzir em sociedade.
É delas a obrigação de associar à luta econômica sua contrapartida de ideias emancipadoras que ampliem o horizonte subjetivo para além do consumismo individualista.
Do contrário, o futuro ficará emparedado entre o horizonte do rolezinho e o interdito do dinheiro graúdo.
No limite, ambos poderão se unir em torno de um tênis Nike, contra uma repactuação mais arrojada do desenvolvimento que implique outra modulação do consumo.
O mais difícil na luta pelo desenvolvimento é produzir valores, dizia o saudoso Celso Furtado, em palavras de atualidade inexcedível.
Não apenas esse, mas sobretudo esse passo a esquerda deve ao Brasil.
E não parece recomendável adiá-lo mais uma vez ‘para depois da próxima eleição’.
RESPOSTA DO STF
CONFIRMA
MORDOMIAS DE
BARBOSA
Tribunal deu sua reposta à revelação feita pelo jornalista Felipe Recondo, aquele a quem o presidente do Supremo Tribunal Federal mandou "chafurdar no lixo"; disse que ministros do STF podem reduzir seus períodos de descanso a qualquer momento; ocorre que, durante as férias, o presidente da corte tem apenas dois eventos, mas, ainda assim, está recebendo 11 diárias; isso faz sentido?; detalhe: no fim do ano passado, Barbosa mandou distribuir material pago pelo CNJ que promovia sua gestão, com destaque para ações de combate à corrupção, medidas administrativas e até corte de gastos promovidos pelo órgão
15 DE JANEIRO DE 2014 ÀS 15:31
247 – A resposta dada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da revelação de que a corte irá pagar R$ 14.142,60 em 11 diárias para o ministro Joaquim Barbosa apenas confirmou as mordomias do presidente da corte. Entre os dias 20 e 30 de janeiro, Barbosa irá proferir duas palestras na Europa, agenda que fez o tribunal classificar todo o período como "missão oficial". A denúncia foi feita pelo jornalista Felipe Recondo, do jornal O Estado de S. Paulo, o mesmo profissional a quem Barbosa mandou "chafurdar no lixo" em razão de outras revelações sobre o apreço do presidente do STF por mordomias pessoais.
O tribunal justificou que "todos os ministros podem interromper o período de descanso durante o recesso do Judiciário". A frase quer dizer, portanto, que com exceção dos dias em que o ministro tem compromissos oficiais como representante do Judiciário brasileiro, 24 e 29 de janeiro, Joaquim Barbosa está em "período de descanso". E apesar de não ter divulgado a agenda de todo os dez dias, o STF bancou mais de R$ 14 mil por toda sua estadia na Europa. Segundo a assessoria do Supremo, Barbosa também deve se encontrar com ministros europeus durante a viagem.
A primeira palestra de Barbosa, ainda segundo informações da corte, acontecerá em Paris, no dia 24, onde Barbosa falará às 9h45 sobre a "influência da publicidade das deliberações do Supremo sobre a racionalidade das decisões da Corte". O evento é organizado pela Agência Nacional de Pesquisa da França. No evento seguinte, o do dia 29, o ministro irá discursar no Kings College, em Londres, na Inglaterra.
É válido relembrar que, no fim do ano passado, Barbosa, que também é presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mandou distribuir um material pago pelo órgão que promovia o primeiro ano de sua gestão, com destaque para ações de combate à corrupção e medidas administrativas tomada no Judiciário. Um dos tópicos ressaltados pelo ministro foi o corte de gastos promovido em 2013. O relatório aponta economia do órgão em combustíveis, passagens e diárias dos ministros (leia aqui).
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