Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Entrevista de Rossetto a blogueiros valeu pelo que ele não disse

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A entrevista que o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Miguel Rosseto, concedeu a blogueiros na última quinta-feira (29/01) deveria ser comemorada por todo aquele que vem reclamando do silêncio do governo diante de uma onda de ataques que vem sofrendo que congrega esquerda e direita, incluindo parcela significativa do PT.

Na primeira reunião da presidente Dilma Rousseff com o novo ministério, na semana que finda, ela quebrou o silêncio de algumas semanas – derivado da intensa agenda de trabalho gerada pela reorganização do governo, que formar esse novo ministério demandou – e deixou ver que o silêncio desse início de ano foi meramente estratégico e episódico.

Agora, o convite de Rossetto a blogueiros sinaliza a estratégia política do segundo mandato de Dilma. Aliado ao chamamento da presidente para que seus ministros “travem a batalha da comunicação”, o convite denota entendimento dela de que, sem priorizar essa comunicação, eventuais bons resultados de seu
governo poderão ser anulados e até revertidos.

Infelizmente, alguns que possam ter esperado demais da entrevista de Rossetto a blogueiros, acabaram se decepcionando. A repercussão da entrevista nas redes sociais não chegou a ser negativa, mas tampouco foi positiva devido à expectativa de que o ministro mais próximo da presidente da República desse esclarecimentos que sua posição não lhe permite.

Confira, abaixo, algumas opiniões sobre a entrevista que se viu nas redes sociais.
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A amostragem acima resume a forma como as respostas do ministro aos blogueiros foram recebidas. Até porque, o tom das perguntas foi de cobrança mesmo, inclusive por parte deste que escreve.

Este blogueiro tinha a obrigação de apresentar ao ministro os questionamentos que têm sido feitos não só à comunicação do governo, mas, também, à formação do novo ministério e às medidas da área econômica que, segundo a mídia tucana, a oposição e até setores do PT e dos movimentos sociais ligados ao partido têm feito em uníssono, como as mudanças no seguro-desemprego.

Além disso, questionei o tão alardeado desmonte de políticas anticíclicas que surgiram ao fim do governo Lula devido à crise econômica internacional, e que permearam os quatro primeiros anos do governo Dilma.
Para quem não sabe o que são políticas anticíclicas, para simplificar explico que são medidas destinadas a estimular a economia através de gasto público. Por exemplo, os juros subsidiados pelo BNDES, a grande oferta de crédito pelos bancos públicos, os programas de infraestrutura do PAC etc.

O ministro Rossetto, até pelo cargo que ocupa, não poderia avançar tanto no debate quanto seria esperável porque o que ele diz é imediatamente identificado com o que pensa a presidente, de modo que suas respostas foram mais protocolares do que se esperava – ainda que esperar mais não fosse correto.

Obviamente que ele negou desmonte das políticas anticíclicas que, aliás, chegou a ser anunciado pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega durante a campanha eleitoral do ano passado. Além disso, Rossetto negou supressão de direitos trabalhistas e adoção de políticas neoliberais pelo segundo governo Dilma.

Apesar disso, as medidas de austeridade estão sendo tomadas. Os cortes no orçamento estão ocorrendo, os juros estão subindo.

A situação que leva o governo a adotar tais medidas não é tão difícil de entender. E, para entender, temos que analisar dados recentes da economia brasileira divulgados ao longo da semana que finda.

A inadimplência segue baixíssima no país, ao redor de 3%; o desemprego despencou em 2014, em relação a 2013, ficando em 4,8%; o salário médio do trabalhador continua subindo sem parar, atingindo, em 2014, mais de 2,1 mil reais. O crescimento da massa salarial em 2014 foi de quase 3% em relação a 2013.

Ora, são dados positivos, pois não? Mais ou menos. Para que a situação dos brasileiros continue melhorando de forma tão impressionante, a economia precisa crescer. Como pode o salário médio ter uma valorização de 3% se a economia não deve crescer nem 0,5% neste ano? Como podemos continuar gerando tantos empregos se as empresas não estão tendo crescimento de faturamento?

O que acontece é que ao longo da crise econômica internacional os cofres públicos vêm financiando a boa situação do emprego e do salário, preservando os brasileiros da crise. Porém, tudo tem um limite.

Para que o leitor entenda o que está acontecendo, usemos uma metáfora. O seu salário está estagnado. Há sete anos você não recebe aumento. Porém, como tudo sobe – até porque, há inflação –, a cada ano você gasta mais para pagar suas contas. Chega um momento em que você começa a ter que tirar dinheiro da poupança para complementar o seu salário.

É isso que o Brasil tem feito. Tem descapitalizado os cofres públicos para impedir queda no padrão de vida da população.

O Brasil não precisaria estar nessa situação. Se não fosse a política, já poderíamos estar crescendo e financiando de forma mais sadia a manutenção da progressiva melhora de vida que os brasileiros vêm experimentando. Porém, o país vem sendo sabotado pelos mesmos que reclamam do governo.

A partir de meados de 2013, o Brasil foi tomado por uma convulsão social. As (mal)ditas “jornadas de junho” assustaram o capital, os investidores, que paralisaram projetos diante da incerteza política. Os escândalos de corrupção e o terrorismo o econômico aprofundaram essa afasia investidora dos grandes capitalistas.

Sem investimento, não há crescimento. E a necessidade política de financiar o bem-estar da população, a despeito da anemia econômica, ajudou a desestimular os investidores.

A indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda constituiu-se em uma senha aos investidores, no sentido de que o Brasil irá diminuir o uso da “poupança” ou do “cheque especial” para impedir que a população sinta a crise.

As centrais sindicais, os movimentos sociais e até setores do próprio partido do governo esperneiam com certa razão . Se formos olhar o quadro única e exclusivamente pela ótica do trabalhador, os cortes de gastos irão impedir que sua situação continue melhorando de forma tão veloz quanto indicaram os números recentes sobre emprego e salário.

A retomada do investimento, porém, não depende apenas da política econômica. Na semana que chega ao fim, um colunista do jornal Folha de São Paulo comparou a presidente Dilma à Geni da célebre canção do compositor e cantor Chico Buarque.

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!

Falar mal de Dilma Rousseff virou “cool”, coisa dos moderninhos, descolados. Até petistas aderiram. Enxovalhar a presidente virou uma espécie de “senha social”. Quem não malha é tido e havido como “adesista”, “governista”, “chapa-branca” etc.

Este blogueiro, nos últimos dias, chegou a ser chamado de “blogueiro governista” por ninguém mais, ninguém menos do que militantes do PT. É impressionante o linchamento que Dilma vem sofrendo.

Com essa situação política o investidor tem dúvidas sobre as condições do governo de implementar suas políticas de austeridade e investidor com dúvidas significa investidor que não investe, e sem investimento o país vai quebrar se continuar financiando melhora de salário e aumento do emprego.

Se a gritaria anti-Dilma ficar restrita à mídia oposicionista e à oposição, não é tão ruim. Há cerca de 12 anos que esse grupo político ataca de forma sistemática. É esperável. Mas quando supostos aliados do governo e até o partido da presidente atacam, a fraqueza desse governo torna proibitivo o investimento – há dúvida até sobre se Dilma conseguiria terminar seu mandato.

O fuzilamento público de Dilma, pois, é ruim para o país. Não estamos falando de críticas ponderadas, estamos falando do linchamento pessoal que ela vem sofrendo.

Nesse aspecto, a iniciativa do governo de entabular diálogo com setores que vêm se indispondo consigo revela que Dilma entende que precisa conseguir boa vontade onde é possível – não entre a oposição, não entre a grande mídia, mas entre a esquerda, entre os movimentos sociais etc.

Rossetto convidou um grupo plural de blogueiros. Entre os que estiveram consigo na última quinta-feira, alguns representam setores mais tolerantes e outros mais radicais da esquerda. Quem assistiu à entrevista, viu blogueiros que costumam ser chamados de “chapa-branca” criticando duramente as últimas medidas de austeridade.

A recente aproximação do governo com setores da esquerda que estão coonestando as críticas da direita busca fazer esses setores entenderem que aumentar o tom da gritaria anti-Dilma prejudica o país e não muda uma realidade: há que reativar os investimentos ou, do contrário, além de quebrar, o Brasil terá outro governo, que adotará medidas exponencialmente mais duras.

Rosseto não poderia fazer milagres em sua entrevista além de garantir que o governo fará tudo para que os ajustes sejam os menos duros que for possível. E, ao buscar o diálogo e admitir que algumas das medidas de austeridade poderão ser rediscutidas com a esquerda, abriu a porta para um entendimento de que o Brasil precisa desesperadamente.

quinta-feira, 27 de março de 2014

A “tempestade perfeita” é na política

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Durante um bom tempo ouvimos falar na “tempestade perfeita” que ameaçava a economia.
Dólar em alta, investidores fugindo, contas públicas dissolvendo-se em déficits.
Como se pode notar, termina o primeiro semestre com mais chuvas no Cantareira que nesta “tempestade econômica”.
Embora modesto, mas vão se avolumando os  indícios  de uma recuperação da economia brasileira, inclusive no que tange às contas públicas, vá lá que seja dentro da “cartilha do superávit” que o rentismo.
Emprego e consumo em alta, crédito idem, inadimplência em baixa.
Hoje à tarde, a divulgação do resultado primário do Governo Federal, salvo surpresas, deverá apontar um resultado bem melhor do que o de fevereiro do ano passado, embora bem próximo do zero, é esperável para meses como fevereiro. A arrecadação recorde e a redução em 30% – em valores reais – do déficit da Previdência autorizam a imaginar um resultado pelo menos próximo do zero.
Mas o que, então, afinal, cria o clima de pessimismo que, de fato, vem desanimando muitas pessoas?
É a política, estúpido.
Porque comunicação é política e este governo resolveu fingir que não existe no Brasil um sistema monstruoso de comunicação, que tem como tarefa destruir a credibilidade de sua política econômica.
Sistema que perdeu, até mesmo, qualquer pudor em deformar notícias.
A Folha consegue transformar em tragédia o menor desemprego da história para fevereiro:
Lá no finalzinho da matéria é que se vai ler, quando se chega lá, que esse registro de dispensas no comércio é típico desta época. Aliás, em 12 anos de pesquisa, o desemprego em fevereiro é ligeiramente maior do que em janeiro. Novidade zero.
Mas o Governo desapareceu do debate político.
As dirigentes que estão no centro da polêmica, neste momento, Dilma Rousseff e a presidente da Petrobras, Graça Foster, dão entrevistas onde só são duras e agressivas com os eventuais problemas internos de suas administrações.
Será que acreditam que as boas intenções e a transparência de seus atos e providências vão fazer com que a imprensa lhes bata palmas pela franqueza?
Será que não percebem que o mercado financeiro sequer disfarça mais sua intenção de destroçar o governo Dilma.
Entregar seu futuro político a pesquisas de opinião, porque estas, eventualmente, lhes sorriem é entregar o pescoço à faca do açougueiro.
Temos agora a CPI e uma nova onda de pesquisas.
As nuvens estão aí para quem quiser ver.
E algumas delas produzidas por quem vai se molhar nessa chuva.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

CAI AMANHÃ O ÚLTIMO PILAR DA "GUERRA PSICOLÓGICA"

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Corte de gastos públicos é fome. Vamos assumir isso?

 Autor: Fernando Brito

deficitA análise feita hoje por Gustavo Patu, na Folha, sobre o esboço de programa de governo que será lançado por Aécio Neves contém uma das mais cortantes – e menos ditas – verdades sobre a política econômica.
“A máquina estatal agigantou-se e passou a consumir recursos escassos que deveriam estar servindo à melhoria da qualidade de vida dos brasileiros”, nas palavras do documento tucano, é um diagnóstico fácil e falso.
Praticamente toda a expansão do gasto público nos últimos anos é explicada pela área social, o que torna o tema muito mais complexo politicamente.
Os principais responsáveis pela deterioração das contas públicas são os programas de transferência de renda –caso de aposentadorias, seguro-desemprego e Bolsa Família– e a educação.”
O Tijolaço  já tinha feito, duas semanas atrás, esta demonstração, com dados levantados pelo próprio Gustavo Patu.
A conversinha de reduzir o número de ministérios é pra boi dormir, pode economizar, no máximo, duas ou três dezenas de milhões  numa conta que sobe a centenas de bilhões de reais.
Corte nos gastos sociais, para valer, teria de ser feito em duas frentes.
A primeira, o fim do aumento real do salário-mínimo – e, com ele, das pensões e as aposentadorias e pensões.
A segunda, o fim das desonerações fiscais concedidas à indústria e do crédito aportado, via Tesouro Nacional, aos programas de financiamento de moradias e da indústria, realizado através de aportes à Caixa e ao BNDES .
É essa a questão essencial se desejam aumentar o superavit primário, esta perna da sacrossanta instituição do tripé econômico.
Não existe almoço grátis, já dizia o papa do neoliberalismo, Milton Friedman.
Neste caso, para cortar os gastos públicos em tal grau, será necessário tirar o almoço de milhões de pobres.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

MANTEGA APONTA SUPERÁVIT DE R$ 73 BILHÕES. É POUCO?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Rombo? Rombo são os juros que o mercado exige do Brasil

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3 de novembro de 2013 | 16:44

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A matéria, hoje, na Folha, onde se aponta que o Brasil paga, anualmente, 5,7% – ou 4,9%, que seria o patamar atual –  de seu PIB em juros  deveria ser um escândalo nacional.
É curioso, porém, que a matéria não mencione quanto isso representa em dinheiro que o país entrega ao rentismo.
Isso significa algo em torno de R$ 250 bilhões.
É como se entregássemos, a cada ano, mais do que gastamos com a educação, ou com a saúde.
Isso não entra no discurso do pessoal que fala em um Brasil “padrão Fifa”.
Não é possível sonhar se não se olha a corrente no pé.
Um corrente que não é possível romper, o que é o pior dela, sem romper a própria estabilidade econômica e política do país.
Mas que não pode ser esquecida ou tratada como “normal” na vida do país.
Dilma não mereceu um aplauso dos “sonháticos” quando baixou os juros.
Mas a mídia e o conservadorismo urraram:
“Intervencionista, interferindo no Banco Central!”
E desencadearam a campanha “inflacionista”
Depois, a da explosão do dólar, mesmo que esta tivesse evidentes  causas externas.
Agora, os idólatras do “tripé macroenômico” vêm com a história do “rombo”, do superavit primário que não vai ser atingido – e será.
Os juros brasileiros são uma hemorragia, que mal e mal tentamos estancar com a sua redução e a do montante da dívida, que a década Itamar-FHC tornou gigantesca.
É curioso, para não dizer chocante, que os arautos do “equilíbrio ” falem tanto em responsabilidades e controles, em dosar a torneira da despesa – a que paga serviços e obras públicas –  sem jamais mencionar o ralo da dívida.
Por: Fernando Brito

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

CIDADANIA: TIJOLO, CIMENTO E DEMOCRACIA.



** A mexicanização da seguraça pública em São Paulo : leia a coluna de estréia do jurista Luiz Flávio Gomes, presidente do Instituto Avante Brasil **os textos  que Obama precisaria ter lido para  ir além do discurso ornamental sobre a igualdade: leia os artigos de George Montbiot, Michael Hudson, Vicenç Navarro e Michael Roberts (nesta pág)


Cerca de 27 milhões de moradias terão que ser construídas no Brasil até 2023. Quase 6%  dos brasileiros, mais de 11,5 milhões de pessoas, vivem em favelas - 88% delas em regiões metropolitanas. São escalas que podem mudar o rosto de um país.Como já ocorreu no passado, pelo avesso.Durante 23 anos, desde a extinção do BNH, em 1986, o Estado brasileiro ignorou a sorte de famílias com até três salários de renda: 80% do déficit habitacional ficou fora da agenda. Agora isso mudou. Mas há uma escolha a fazer e São Paulo pode dar o exemplo. A opção é coletivizar o poder sobre a nova cidade em construção, ou terceirizar a travessia à lógica imobiliária. Poucas áreas reúnem massa crítica, recursos e legitimidade para imprimir um salto histórico na modulação do desenvolvimento brasileiro quanto o tripé indissociável da moradia, da cidade e da cidadania.Não se trata de substituir uma lacuna do processo econômico por um fetiche: a 'urbanização redentora'.Trata-se de afrontar um déficit político com aquilo que Henri Lefevbre denominou o 'direito à cidade'. Sua referência é a Comuna de Paris. (LEIA MAIS AQUI)




O neoliberalismo está acabado? Pense bem antes de responder

Observando, atônito, as lições desaprendidas na Grã-Bretanha, na Europa e nos Estados Unidos, me chama a atenção que toda a estrutura do pensamento neoliberal seja uma fraude. As demandas dos ultra-ricos se vestiram de teoria econômica sofisticada e foram aplicadas independentemente de seu resultado. O completo fracasso desta experiência em escala mundial não é impedimento para que se repita. Isto não tem nada a ver com a economia. Tem absolutamente a ver com o poder. A análise é de George Montbiot, do The Guardian


Londres - No ano 2012, as cem pessoas mais ricas do mundo enriqueceram 241.000 milhões de dólares a mais [veja nota 1]. Sua riqueza se estima agora em 1,9 trilhões de dólares, só um pouco menos que o PIB do Reino Unido.

Isto não é consequência do azar. O aumento das fortunas dos super-ricos é resultado direto de medidas políticas. Aqui vão algumas: a redução das taxas de impostos e da ação fiscal; a negativa dos Estados em recuperar uma porção dos ingressos procedentes dos minerais e da terra; a privatização de ativos públicos e a criação de uma economia de cabines de pedágio; a liberalização salarial e a destruição da negociação coletiva.

As medidas políticas que fizeram tão ricos os monarcas globais são aquelas medidas que estão espremendo todos os demais. Não é isto o que a teoria previa. Friedrich Hayek, Milton Friedman e seus discípulos – em mil escolas de negócios, o FMI, o Banco Mundial, a OCDE e mais ou menos todos os governos modernos – argumentaram que quanto menos os Estados acionem fiscalmente os ricos, menos defendam os trabalhadores e redistribuam a riqueza, mais próspero será todo o mundo. Toda tentativa de reduzir a desigualdade iria ferir a eficiência do mercado, impedindo que a maré ascendente elevasse todos os barcos [2]. Seus apóstolos levaram a cabo uma experiência global durante 30 anos e os resultados estão hoje à vista. Fracasso total.

Antes de continuar, deveria esclarecer que não acredito que o crescimento econômico perpétuo seja sustentável ou desejável [3]. Mas se o objetivo é o crescimento – um objetivo que todo governo diz perseguir –, não se pode organizar maior desatino no tocante a isso que liberando os super-ricos das restrições estabelecidas pela democracia.

O relatório anual do ano passado da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) deveria haver suposto um atestado de óbito do modelo neoliberal desenvolvido por Hayek, Friedman e seus discípulos [4]. Mostra, inequivocamente, que suas políticas conseguiram resultados opostos aos que previam. Na medida em que essas políticas (cortar impostos aos ricos, privatizar ativos do Estado, desregular o mercado de trabalho, reduzir a seguridade social) começavam a dar dentadas, dos anos 80 em diante, também passaram a cair as taxas de crescimento e a aumentar o desemprego.

O notável crescimento dos países ricos durante as décadas de 50, 60 e 70 se fez possível graças à destruição da riqueza e do poder da elite, como resultado da Depressão e da II Guerra Mundial. Sua escalada outorgou, aos 99% restante, uma oportunidade sem precedentes de exigir tudo o que tal crescimento estimulou em redistribuição, gasto público e seguridade social.

O neoliberalismo foi uma tentativa de inverter o sentido destas reformas. Generosamente financiado por milionários, seus defensores tiveram um êxito assustador: no político [5]. No econômico, fracassaram.

Em todos os países da OCDE, os impostos se fizeram mais regressivos: os ricos pagam menos, os pobres pagam mais [6]. O resultado, sustentavam os neoliberais, seria que aumentariam a eficiência econômica e o investimento, enriquecendo todos. Aconteceu o contrário. Enquanto diminuíam os impostos aos ricos e às empresas, caiu a capacidade de gasto, tanto do Estado como da população mais pobre, e se contraiu a demanda. O resultado foi que caíram as taxas de investimento, em sintonia com as expectativas de crescimento das empresas [7].

Os neoliberais insistiram também em que a desigualdade irrestrita em ingressos e os salários flexíveis reduziriam o desemprego. Mas em todo o mundo rico, tanto a desigualdade como o desemprego dispararam [8]. O recente salto do desemprego na maioria dos países desenvolvidos – pior que o de qualquer recessão prévia das últimas três décadas – se viu precedido da cota em proporção dos salários no PIB mais baixa desde a II Guerra Mundial [9]. Explode em migalhas a teoria. Fracassou pela mesma razão evidente: os baixos salários deprimem a demanda, que deprime o emprego.

Conforme os salários se estancavam, as pessoas complementavam seus ingressos endividando-se. O aumento da dívida alimentou os bancos desregulados, com as consequências que todos somos conscientes. Quanto maior a desigualdade, descobre o relatório das Nações Unidas, menos estável é a economia e mais reduzidas suas taxas de crescimento. As medidas políticas com as quais os governos neoliberais tratam de reduzir seu déficit e estimular sua economia são contraproducentes.

A eminente redução no degrau superior do imposto sobre a renda no Reino Unido (de 50% a 45%) não suporá um impulso para os ingressos do Estado ou da empresa privada [10], mas enriquecerá os especuladores que fizeram vir abaixo a economia: o Goldman Sachs e outros bancos estão agora pensando em como aproveitar-se disso [11].

A lei de bem-estar social aprovada pelo Parlamento britânico na semana passada não ajudará a limpar o déficit ou estimular o emprego: reduzirá a demanda, suprimindo a recuperação econômica. O mesmo vale para o teto posto às remunerações do setor público. “Voltar a aprender algumas antigas lições sobre justiça e participação”, afirma a ONU, “é a única forma de acabar superando a crise e prosseguir por um caminho de desenvolvimento econômico sustentável” [12].

Como disse antes, não tenho favorito nesta corrida, salvo a crença de que ninguém, neste oceano de riquezas, deveria ser pobre. Mas observando, atônito, as lições desaprendidas na Grã-Bretanha, na Europa e nos Estados Unidos, me chama a atenção que toda a estrutura do pensamento neoliberal seja uma fraude. As demandas dos ultra-ricos se vestiram de teoria econômica sofisticada e foram aplicadas independentemente de seu resultado. O completo fracasso desta experiência em escala mundial não é impedimento para que se repita. Isto não tem nada a ver com a economia. Tem absolutamente a ver com o poder.

Notas:

[1] http://www.bloomberg.com/news/2013-01-01/billionaires-worth-1-9-trillion-seek-advantage-im-2013.html

[2] Milton Friedman e Rose Friedman, 1980, Free to Choose, Secker & Warburg, Londres [Libertad en elegir, Grijalbo, Barcelona, 1992].

[3] Para uma visão alternativa, veja-se Tim Jackson, 2009, Prosperity Without Growth [Prosperidad sin crecimiento, Icaria, Barcelona, 2011], Sustaintable Development Commission, http://www.sd-commission.org.uk/data/fiis/publications/prosperity_without_growth_report.pdf

[4] UNCTAD, 2012, Trade and Development Report: Policies for Inclusive and Balanced Growth,http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/tdr2012_en.pdf

[5] Veja-se David Harvey, 2005, A Brief History of Neoliberalism, Oxford University Press [Breve historia del neoliberalismo, Akal, Madrid, 2007].

[6] Informa a ONU: “O efeito conjunto destas mudanças na estrutura fiscal fez mais regressivos os impostos. Um exame das reformas fiscais dos países da OCDE não encontrou nenhum país no qual o sistema fiscal se tornou mais progressivo (Steinmo, 2003: 223)”, UNCTAD, 2012, como supra.

[7] “A redistribuição por meio de medidas fiscais pode, portanto, dar-se em interesse da sociedade em seu conjunto, especialmente ali onde a desigualdade é especialmente elevada, como em muitos países em desenvolvimento. Apoia isto a experiência dos países desenvolvidos, pois as taxas de investimento não eram mais baixas – mas geralmente mais altas – nas primeiras três décadas da época de pós-guerra, ainda que os impostos sobre benefícios e os níveis superiores eram mais elevados que depois das amplas reformas fiscais aplicadas posteriormente. Existem fortes razões para acreditar que a disponibilidade dos empresários em investir em uma nova capacidade produtiva não depende primordialmente dos benefícios líquidos em um determinado período de tempo, mas em suas expectativas com respeito à futura demanda de bens e serviços que podem produzir com capacidade adicional. Isto acaba sendo de especial importância quando se considera o efeito conjunto de um aumento dos impostos empresariais. Sempre e quando os ingressos fiscais mais elevados sejam utilizados para gasto adicional do Estado, melhorarão as expectativas das empresas de crescimento da demanda. Este efeito de demanda é independente de se os gastos adicionais do Estado adotam a forma de consumo do Estado, investimento público ou transferências sociais. Quando o nível do investimento fixo se mantém como resultado de expectativas de demanda favorável, subirão os benefícios brutos, e geralmente também os benefícios líquidos, não obstante o aumento inicial de impostos. Nesse processo, se criarão ingressos e emprego adicionais para a economia em seu conjunto”, UNCTAD, 2012, como supra.

[8] “A proposição de que uma maior flexibilidade do nível salarial agregado e dos salários médios mais baixos é necessária para impulsionar o emprego, pois conduz à substituição de trabalho por capital na economia em seu conjunto, pode ser refutada diretamente, dada a forte correlação positiva entre investimento na formação de capital fixo bruto (FCFB) e a criação de emprego que existe nos países desenvolvidos (gráfico 6.3). Esta correlação contradiz o modelo neoclássico: no mundo real, as empresas investem e desinvestem em capital e trabalho ao mesmo tempo, e o nível de seu investimento depende do estado conjunto de suas expectativas de demanda. Isto implica que, no contexto macroeconômico, capital e trabalho podem se considerar substitutos apenas em uma medida muito limitada”, UNCTAD, 2012, como supra.

[9] “Justamente antes do último e enorme salto do desemprego nos países desenvolvidos – de menos de 6% em 2007 a cerca de 9% em 2010-2011 - a proporção dos salários no conjunto do PIB havia caído a seu nível mais baixo registrado desde o final da II Guerra Mundial (ou seja, a 57%, de mais de 61% em 1980). Isto deveria supor um sinal de alerta. Se o desemprego cresce mais que durante qualquer outra recessão ocorrida nas últimas três décadas, ainda que a parte dos salários no PIB tenha baixado, deve haver algo fundamentalmente errado em uma teoria econômica que justifica o aumento da igualdade principalmente em termos da necessidade de atacar um desemprego persistente”, UNCTAD, 2012, como supra.

[10] Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Stefanie Stantcheva calculam que o nível ótimo do degrau superior do imposto sobre a renda (para maximizar ingressos) se encontra entre 57 e 83%. Piketty, Saez e Stantcheva, 2011, Optimal taxatiom of top labor incomes: A tale of three elasticities, National Bureau of Economic Research, Cambridge, MA. http://www.nber.org/papers/w17616

[11] Patrick Jenkins, “Goldmam Eyes Tax Delay om UK Bonuses”, Financial Times, 14 de janeiro de 2013.

[12] UNCTAD, 2012, como supra.

*George Monbiot é um dos jornalistas ambientais britânicos mais respeitados, autor de livros como The Age of Consent: A Manifesto for a New World Order e Captive State: The Corporate Takeover of Britain, assim como de volumes de investigação e viagens como Poisoned Arrows, Amazon Watershed e No Man's Land. Viveu por dois anos no Brasil cobrindo a região amazônica.



Recuperação, recessão ou depressão?


Os governos capitalistas tem duas alternativas para enfrentar a austeridade. A primeira seria o não pagamento de dívidas com o setor privado, como na Grécia. Essa é a solução da escola austríaca de economia. Ou ainda podem forçar para baixo os juros da dívida para manter seus custos menores, esperando que a economia se recupere à frente. Ambas soluções, porém, implicam que os governos não honrarão suas dívidas. A análise é do economista Michael Roberts, do blog "The Next Recession"


O recente relatório do Banco Mundial (Bird) sobre as perspectivas econômicas mundiais (GEP13AFinalFullReport) é uma leitura sombria sobre a economia do planeta. O banco estima que a economia global crescerá apenas 2,4% este ano em todo o mundo, incluindo a Ásia, a China e as economias capitalistas em desenvolvimento de mais rápido crescimento. É mais ou menos o mesmo que aconteceu em 2012. O banco espera que chegue até 3,3% em 2014, mas não dá para confiar muito, uma vez que ele vem revisando para baixo suas previsões a cada ano. Em junho passado a instituição afirmava que o crescimento mundial se situaria em 3% este ano.

Enquanto para os EUA o Bird prognostica um crescimento real este ano de apenas 1,9% e de 1,1% para o Reino Unido, muito abaixo da maioria dos prognósticos de consenso, prediz que a zona do euro permanecerá em recessão. Portanto, o Banco Mundial espera que os EUA cresçam mais lentamente neste ano que no anterior. Entre as principais economias, acredita que só a China tenha um crescimento mais rápido em 2013 (8,4%) do que em 2012 (7,9%). De fato, as chamadas economias capitalistas em vias de desenvolvimento cresceram apenas 5,1% no ano de 2012 em seu conjunto, o crescimento mais lento em uma década.

Dei uma olhada nos dados sobre o crescimento econômico mundial do Banco Mundial, remontando até 1960. Voltei a lembrar da intensidade da Grande Recessão. O PIB real mundial se contraiu em 2009 em 2,2%, o único ano em que se produziu uma contração desde 1960! Apesar da profunda recessão de 1982, ainda houve um pequeno aumento no PIB mundial, e subiu mais de 1% na primeira recessão mundial do pós-guerra, em 1974.

Claro, o PIB real per capita (que leva em conta o aumento da população mundial) se contraiu nessas recessões anteriores, mas a queda do PIB real per capita em 2009 foi mais que o dobro de 1982.

E, quando chegamos na maior economia capitalista, os EUA, os dados mostram o mesmo. Doug Short, em seu excelente blog sobre dados dos EUA, segue quatro indicadores chave para a saúde da economia dos EUA: produção industrial, vendas no varejo, emprego e ingressos pessoais. Short considera que a Grande Recessão foi realmente enorme para a economia dos EUA, com um descenso médio da média agregada destes indicadores acima de 10%, quase o dobro da queda de 1974-5.

E, se olharmos mais de perto a grande recessão nos EUA e a posterior recuperação, Short constata que se produziu uma importante recuperação do piso de 2009, mas ainda há um longo caminho a percorrer para chegar de novo ao máximo anterior. Poder-se-ia argumentar, como fazem alguns, que a queda da Grande Recessão foi tal que se necessitará mais tempo para a recuperação que em recessões anteriores. Sem dúvida, mas, no ritmo atual de recuperação, poderia levar três anos mais, o que somaria oito anos no total. E Short encontrou indícios de que o ritmo da recuperação em 2012 estava debilitando-se. Como cantava Bruce Springsteen em seu último disco, Wrecking Ball, nesta depressão "estivemos abaixo, mas nunca tão abaixo".

E se aprofundamos nos setores produtivos da economia dos EUA, como a produção industrial, se observa uma desaceleração do crescimento. Não é um retorno à recessão, mas a recuperação está dando lugar a uma depressão em longo prazo.

E, como tenho demonstrado em muitas ocasiões anteriores, a recuperação do emprego de seu piso na Grande Recessão tem sido particularmente fraca nos EUA – a chamada recuperação sem emprego (em relação às anteriores recuperações das recessões).

Se a recuperação dos EUA é fraca em comparação com as anteriores, continua sendo muito melhor que na zona do euro. Depois de tudo, o PIB real de EUA em 2012 foi 7% superior ao de 2006, enquanto na zona do euro foi apenas 2%; ainda que provavelmente seja mais justo comparar o PIB real com seu último pico no final de 2007: nesse caso o PIB real de EUA é só 2,5% superior ao de cinco anos atrás.

Paolo Manasse estudou as diferenças entre os porcentuais de recuperação dos Estados Unidos e da zona do euro. Descobriu que o déficit público nos EUA aumentou muito mais que na zona do euro, 12%, em vez de 5% do PIB entre o piso e o teto. Argumenta que isso demonstra que na zona do euro a politica de austeridade foi aplicada com mais dureza e que isso explica a pior recuperação.

Talvez seja assim, mas a outra cara da moeda é que a relação da dívida com respeito ao PIB do governo dos EUA aumentou muito mais, provocando, em minha opinião, graves problemas para o crescimento nos EUA.

Em um relatório privado, os economistas do banco de investimentos Morgan Stanley analisaram o estado das finanças públicas nas economias capitalistas e argumentam que o financiamento da dívida atual e futura se transformará em uma carga significativa para a rentabilidade e o crescimento do setor privado.

Os governos capitalistas terão duas políticas alternativas para enfrentar a austeridade. A primeira seria o não pagamento de suas dívidas com o setor privado, como na Grécia. Essa é a "solução" da escola austríaca de economia: desfazer-se da dívida excessiva. Ou podem forçar para baixo os tipos de juros da dívida para manter seus custos baixos, com a esperança de que a economia se recupere nesse meio tempo (a chamada repressão financeira). Essa é a solução keynesiana. Mas esse caminho significa que não haverá benefícios para quem investe em bônus do Estado ou que seja "animado" a fazê-lo pelos governos.

Ambas "soluções" implicam que os governos não honrarão suas dívidas de uma maneira ou outra, a fim de que a futura carga do aumento dos impostos sobre os setores produtivos capitalistas possa reduzir-se. Entretanto, ambas as soluções são um problema para o setor financeiro que possui a maior parte da dívida pública. Preferem que todas as dívidas do governo sejam honradas e pagas, seja porque os setores produtivos assumem a fatura ou, melhor ainda, os trabalhadores pagam mais impostos e recebem menos serviços e gasto social.

Quer dizer que a austeridade continua pelo momento. O não pagamento significaria uma nova recessão. Mas a repressão financeira implicaria baixo crescimento durante muito tempo porque supõe que o setor produtivo privado, de alguma maneira, se livrará da carga de sua própria dívida com o setor financeiro, assim como a limitação de uma rentabilidade relativamente baixa - para assim restaurar o crescimento.

*Michael Roberts é um reconhecido economista marxista britânico que trabalhou 30 anos na City londrinense como analista econômico. Ele publica o blog The Next Recession