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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A grande vítima de Joaquim Barbosa é a democracia

 
Agora é a criminalização de Dilma? 
PAULO MOREIRA LEITE 
Muitas pessoas ficaram surpresas quando Joaquim Barbosa mencionou Dilma Rousseff no Supremo. Para reforçar a ideia de compra de votos, Joaquim citou um depoimento em que Dilma se confessou surpresa com a rapidez com que o Congresso aprovou o novo marco regulatório de energia elétrica.

A mensagem do voto do ministro, exaustivamente repetida pelas emissora de TV, tem um elemento malicioso.

A “surpresa” de Dilma seria, claro, era uma prova do mensalão. O ministro não disse, mas permitiu que todos ouvissem: sem o mensalão, o marco regulatório não teria saído com a rapidez que surpreendeu a ministra-presidente.

A resposta do Planalto, em nota oficial, foi rápida. Responsável pelas negociações do marco regulatório ocorridas no Senado, Aloizio Mercadante também se manifestou.

O fato é que essa insinuação me parece uma consequência lógica da visão que Joaquim Barbosa está imprimindo ao julgamento.

Ele acredita que encontrou crimes até onde não é possível demonstrar que tenham ocorrido.

Falando com franqueza: para entender a “surpresa” revelada pela ministra, não é preciso enxergar tudo com malícia. É preciso considerar o chamado contexto. Pensar em política como o exercício humano e insubstituível de negociar, avançar e ceder.

No início do governo Lula, a oposição tucana fazia o possível para criar problemas para os petistas, em várias áreas. Mesmo na Previdência, onde o PT deu continuidade a uma reforma planejada por FHC, o PSDB fingia que nada tinha a ver com o assunto. Queria dar o troco para Lula, criando dificuldades artificiais, como a antiga oposição lhe fizera. Mostrar boa vontade com iniciativas de Lula, naquele momento, era mostrar-se fraco e adesista diante de seus eleitores. Era quase uma traição perante cidadãos que haviam dado seu voto para candidaturas tucanas só por amor à causa, quando todo mundo sabia que não tinham a menor chance.

O marco de energia era especialmente delicado por uma razão política conhecida. No segundo mandato de FHC, a falta de energia impediu a retomada de crescimento econômico, submetendo os brasileiros a um vexame inesquecível de racionar o uso de energia num país com todo esse potencial elétrico que todos nós sabemos.

A surpresa vem daí. Depois de blefar e ameaçar, os tucanos também concordaram em votar com o governo na sala de Mercadante.

A política é assim. Não é engenharia. Não é equação matemática. Inclui dissimulação, esperteza, ações dissimuladas. Não é contabilidade.

Pode incluir a corrupção — como acontece em vários lugares, o que levou a Eliane Calmon a querer saber até o que acontecia na Justiça.

Mas é preciso apurar, investigar e esclarecer. No caso de crime, apurar, ouvir as partes e acusar. É errado apenas mencionar, não é mesmo?

Respeito Joaquim Barbosa. Conheço seus títulos e sua formação. Acredita no que fala e diz. Mesmo quando discordo, devo admitir que está longe de fazer denuncias “mequetrefes”, para empregar um termo que se tornou obrigatório no julgamento.

Mas eu acho que essa insinuação fora de lugar não ocorre por acaso.

A menção a Dilma foi apenas uma manifestação – um pouco exagerada, digamos – de uma atitude típica de um julgamento que avança numa imensa carga de subjetividade.

Várias vezes, Joaquim falou que é preciso examinar o contexto da denúncia, o contexto da ação dos acusados e assim por diante. Mas não considerou o contexto do apagão, este evento gigantesco, demolidor, humilhante para um país e sua população.

Imagino que, tecnicamente, o nome Dilma era uma menção até desnecessária. Tenho certeza de que num inquérito de milhares e milhares de páginas seria possível encontrar exemplos equivalentes e até mais enfáticos. Tenho certeza de que é possível demonstrar que houve compra de votos, em alguns casos, e apenas apoio político a um aliado, em outros.

A diferença é que nem sempre estes casos envolviam uma autoridade que, de ministra passou a presidente da República.

Politizando a justiça, pode-se dizer que a citação a Dilma jogou o julgamento para …2014.

O voto de Joaquim Barbosa, mais uma vez, foi aos telejornais. Foi repetido, reprisado…Sabe o que aconteceu?

Salomão Shwartzman, radialista e jornalista muito experiente, já lançou um comentário dizendo que o PSDB deveria convidar Joaquim para disputar a presidência da República.

Tudo é política. Mesmo o que não parece.

Na biografia de José Alencar, Eliane Cantanhede descreve o encontro entre Lula e seu vice, José Dirceu e Waldemar Costa Neto, onde se debate uma aliança política e a consequente coleta de recursos financeiros. Se fosse hoje, alguém mais afogado que estavam combinando um assalto.

Mas a descrição deste acordo político de campanha é tão bem feita, tão clara, que os advogados de Delúbio Soares incluíram vários parágrafos sobre o “rachuncho”—a expressão, bem humorada, é de Eliane – nas suas alegações finais de seu cliente.

Sabemos que a criminalização da política tornou-se parte da estratégia da acusação para condenar o maior número possível de acusados. Vamos combinar que ajuda a sustentar a tese de que não havia recursos para campanha eleitoral – mas compra de votos no Congresso.

Admito que eles simplesmente não conhecem os fatos que estão julgando, não tem familiaridade com o mundo das tratativas e negociações e acham tudo suspeito, estranho…

Considerando a baixa credibilidade dos políticos, apostar que todo mundo é ladrão pode ser uma vulgaridade – mas é uma forma de garantir, com facilidade, apoio popular a medidas que podem ser justas ou arbitrárias.

Minha experiência com a humanidade permite dizer que já tive contato com momentos de grandeza, coragem, solidariedade. Também tiver a infelicidade de testemunhar imensas baixezas.

Mas não me lembro de ter visto relatos – nem em ficção – de repulsa a linchamentos.

Acabo de ler a notícia de que alguns procuradores já estão preocupados com o indulto de Natal dos réus do mensalão. É assim: dando de barato que eles serão condenados, o que parece cada vez mais provável, a preocupação agora é impedir que passem o Natal com a família… Mais um pouco e teremos de acionar a Comissão da Verdade, que investiga crimes cometidos por representantes do Estado contra direitos humanos, para ver o que está acontecendo em nossa democracia…

É justiça, isso? Ou é vingança?

Como já disse aqui, eu acho que o mensalão produziu delitos de todo tipo. Também acho que havia caixa 2 e dinheiro publico desviado. São crimes diferentes, que a legislação trata de forma diferente porque lá atrás aquele personagem oculto e onipresente que os advogados chamam de O Legislador entendeu que era assim.

Ao ignorar as diferenças, quem perde é a democracia.


terça-feira, 26 de abril de 2011

Por que Ali Kamel não deu uma nota no Jornal Nacional sobre agenda do terror publicada no Globo?? Eu conto.



Réu O Jornal Nacional desta segunda-feira (25) não deu uma palavra sobre as reportagens de Chico Otavio e Alessandra Duarte publicadas em edições do jornalão das Organizações Globo.
Talvez porque sejam boas, bem feitas e com denúncias que não interessam ao doutrinador da Opus Dei (sei que ele só fez o curso, mas falo de ideologia e não de religiosidade).
Os repórteres de O Globo (os da TV Globo ficaram vendo Xuxa) tiveram acesso à agenda que estava no bolso do sargento Guilherme Pereira do Rosário, o agente que deixou que explodisse em seu colo a bomba que era para causar um pandemônio no show do Dia do Trabalhador de 1981, que vai completar 30 anos no próximo domingo, que ficou conhecido como a Bomba do Riocentro.
Na agenda, nomes e telefones de agentes da repressão, gente insatisfeita com a entrega do poder aos civis.
Na segunda metade dos anos 70, o governo Geisel determinou a desmobilização da máquina de torturar e matar nos porões do regime, que mudou de direção, indo da brutalidade para ações de inteligência, com a reestruturação dos DOIs. Descontentes com as mudanças, sargentos como Rosário, sobretudo os paraquedistas arregimentados anos antes pela repressão, transformaram-se em braços operacionais de grupos terroristas de extrema direita. Rosário e sua turma foram buscar na ação clandestina, fora da cadeia de comando, o poder gradativamente perdido.
Da comunidade de informações, a caderneta de telefones de Guilherme do Rosário trazia, por exemplo, o nome de Wilson Pinna, agente da Polícia Federal aposentado. Entre 1979 e 1985, Pinna trabalhava no Dops, na coleta e análise de informações. Era um dos que, por exemplo, iam a assembleias, protestos, comícios e outras reuniões para ver quem dizia o quê. Pinna chegou a, por exemplo, coordenar a análise de informações do movimento operário da época.
(...)
Aposentado da PF em 2003, Wilson Pinna foi exonerado, em 2009, de cargo comissionado que ocupava na assessoria de inteligência da Agência Nacional de Petróleo (ANP), após ter sido acusado pela Polícia Federal como o autor do falso dossiê contra o então diretor do órgão, Victor de Souza Martins, irmão do então ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Pinna foi denunciado na 2ª Vara Federal Criminal do Rio pelos crimes de interceptação telefônica ilegal e quebra de sigilo fiscal.[Leia a íntegra das reportagens aqui e aqui]
No trecho que destaquei em negrito está a explicação do motivo de Kamel não levar ao ar uma reportagem sobre o assunto. O JN comprou como verídica a armação contra o irmão de Franklin Martins (o alvo de Kamel e da Globo). Kamel sabia que a operação era ilegal, que vinha dos subterrâneos, mas colocou no ar mesmo assim.
Por que afirmo isso? Confira essa postagem aqui do blog de 29 de setembro de 2009:
Jornal Nacional faz reporcagens baseadas em relatório ilegal
 Réu connfesso, o JN em sua edição de ontem confirmou que todas as reportagens que vem fazendo a respeito de um suposto “escândalo dos royalties na Agência Nacional do Petróleo (ANP)” são reporcagens pois estão baseadas numrelatório ilegal (veja imagem acima):
Repórter Délis Ortiz: “A reportagem foi ao ar no dia 9 de abril. Com base em informações de fontes que garantem que o relatório foi elaborado por agentes da Polícia Federal que trabalham na assessoria de inteligência da ANP. Hoje, as mesmas fontes voltaram a confirmar as informações e reafirmaram que o relatório foi feito de forma ilegal”.
Repare que o verbo usado é reafirmar, o que, evidentemente, significa que a ilegalidade do relatório já havia sido assumida anteriormente. Pelo menos para eles. Mas, se o relatório é ilegal e apócrifo, por que colocar a reporcagem no ar? Apenas testando hipóteses para ver se conseguem atingir o ministro da Comunicação do governo Lula, Franklin Martins, que é irmão do suposto (como se usa a palavra suposto hoje em dia nessas reporcagens) acusado?
Tão grave quanto isso é a edição maliciosa da reporcagem, que confunde a cabeça do telespectador. O texto diz “relatório foi elaborado por agentes da Polícia Federal que trabalham na assessoria de inteligência da ANP”, mas as imagens que o ilustram são da sede e do símbolo oficiais da Polícia Federal. Ao final do trecho reproduzido, o que ilustra a palavra “ilegal” é a placa do prédio da ANP (Confira no vídeo acima).
Tudo isso para quê, se a reporcagem é um saco vazio que não para em pé, como demonstrou Victor Martins, que é o suposto acusado no relatório ilegal:
“Vi também, na imprensa, para ser mais exato no Jornal Nacional, que algumas das informações teriam vazado do setor de inteligência da própria ANP. O setor de inteligência é ligado ao diretor-geral, Haroldo Lima, que prontamente esclareceu que não houve nenhuma determinação nesse sentido. O responsável pelo setor também me disse que não fez nenhum trabalho nisso e me apresentou um documento de autoria do superintendente da Policia Federal do Rio de Janeiro em que ele negava que tivesse dado aquela declaração atribuindo a inteligência e dizia que estava em curso pra apurar autenticidade e veracidade daquela documentação.” [veja reporcagem completa do JN aqui]
Ou seja, a Polícia Federal passou a operar para ver há veracidade no que estava contido num relatório apócrifo realizado de forma ilegal...
Cuidado, Globo, porque a PF pode acabar chegando aí. Duvidam? Daniel Dantas também duvidava.
Não precisou nem da Polícia Federal. Repórteres de O Globo desmentem o Jornal Nacional. E fazem reportagem. Não a reporcagemque Kamel costuma servir no JN.
By: Blog do Mello