Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Quem vai fazer o serviço?

A sedimentação da agenda conservadora para 2014 envolve a adesão de um pedaço da esquerda e o silencio desfrutável de outro. O padrão é o cerco ao IPTU em SP.

por: Saul Leblon 

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Quem vai fazer o serviço?

A sedimentação da agenda conservadora para 2014 envolve a adesão de um pedaço da esquerda e o silencio desfrutável de outro.

O padrão foi testado e bem sucedido no cerco ao reajuste do IPTU em São Paulo. 

Os interesses atingidos só tiveram sucesso em sabotar  a medida graças à omissão dos que sabiam o que estava em jogo, mas preferiram silenciar.

É essa capacitação ao exercício da cumplicidade que a emissão conservadora  opera de forma explícita nos dias que correm.

Colunistas e editores espetam sinais  para ordenar o fluxo na direção almejada: a seringa do piquete onde se conta o rebanho.

Quantas cabeças  teremos para oferecer aos mercados?

Nas manchetes e fotos, mais que nos textos, espetam-se os ferros com as iniciais do dono.

O ponto de encontro tem data e local  definidos: 12 de junho de 2014, 17 hs, estádio do Itaquerão, onde o Brasil abre a Copa do Mundo diante da Croácia.

Durante um mês, até 13 de julho, novas oportunidades  se abrem: há jogos distribuídos nas principais  capitais do país.

Alguém duvida que a tabela será explorada na emissão conservadora como ponto de encontro de gente ansiosa para mostrar o seu valor a fotógrafos e cinegrafistas generosos?

Textos gordurosos como os autores, tortuosos como seus valores,  arregimentam as adversativas do léxico para  assegurar  o verniz ‘jornalístico’ à panfletagem.

Não importa o  tema da coluna.

O objetivo predefinido é dar suporte a logos,  títulos e manchetes que disseminem  ordem unida.

‘Em 2014, vem prá rua você também’, convocava-se na Folha no dia de Natal;  ou o soberbo, ‘Não vai ter Copa’, abraçado neste domingo por um vulgarizador do mercadismo  no mesmo  veículo.

À falta de projeto defensável à luz do dia – arrochar 70% do país para lubrificar  30% só rende votos em saraus elegantes--  escava-se o vazio em busca de chão firme.

De joelhos e com as unhas, se preciso for para satisfazer os sinais vindos das  direções de redação.

O tesouro cobiçado  é tanger multidões  à frente única em curso para enfrentar Dilma em outubro próximo. 

Procura-se, em suma, alguém que  faça o serviço que os cabedais do conservadorismo, sozinhos, são incapazes de entregar.

É esse vazio adicionado de urgência que reduz  colunistas à função rastaquera de insuflar a indignação sem explicar a fórmula do elixir  que vai contemplá-la.

Se quiser,  o público alvo –as organizações com capacidade de mobilização - tem elementos para confrontar  o aceno dos charlatães com os ingredientes da gororoba historicamente  despejada por eles na goela do país – não raro com funil e camisa e força. 

A sedimentação golpista de uma parte da opinião pública brasileira não ocorreu por acaso nos últimos anos.

Trata-se de obra deliberada de gente bem paga --e eficiente, diga-se, na arte de popularizar generais redentores, santificar consensos neoliberais, incensar  janios, collors, demóstenes , carlinhos cachoeira, joaquins, serras  e assemelhados.

O florescimento desse acervo não prosperaria sem o trabalho prestimoso dos que esculpem o seu busto em bronze de credibilidade e veneração.

É um equívoco  dissolver  essa assinatura numa edulcorada predisposição da sociedade ou de parte dela para ser canalha ou 'egoísta'.

Ainda que exista a receptividade estrutural em certas camadas, é  indispensável o fermento que transforme o instinto em história.

Incensar  os joaquins e  Demóstenes; satanizar os lulas e respectivas agendas é uma parte do bicarbonato  requerido  na receita. 

Sem ele a  massa não cresce.

Antecedentes  referenciais  testemunham o notável  desempenho da emissão conservadora  na tarefa de sovar a massa.

Escondidas até agora nos arquivos da Unicamp, para onde foram exiladas pelo próprio Ibope,  pesquisas de opinião feitas às vésperas do golpe de 1964 mostram, todavia, que o labor midiático sozinho não leva a receita ao ponto.

Os dados dissecadas em entrevista recente do pesquisador Luiz Antônio Dias à revista Carta Capital, transcrita no blog de Luis Nassif ,  detalham o paradoxo:

- em junho de 1963, Jango tinha 66% de aprovação em SP;

- em março de 1964, caso fosse candidato no ano seguinte, ele teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais;

- o apoio  à reforma agrária, então satanizada pelas elites, era superior a 70% em algumas capitais;

- na semana anterior ao golpe, as pesquisas mostravam que Jango tinha 72% de aprovação popular  –entre os mais pobres, o índice chegava a 86%.

O mesmo conservadorismo que  hoje torce por  protestos na Copa colocaria então milhares de pessoas  nas ruas de São Paulo, em 19 de março de 1964,  na Marcha da Família Com Deus pela Liberdade.

O movimento  ecoado na mídia como a evidência cabal do isolamento (inexistente) do governo  não saltou espontaneamente das páginas da imprensa para o asfalto.

Foi preciso organizá-lo meticulosamente.

A mídia cumpriu a sua parte, como o faz hoje, legitimando a ‘revolta da sociedade e da família contra o desgverno’.

Mas coube a Igreja e às ligas de senhoras católicas, com forte participação de esposas de empresários, botar a mão na massa.

Senhoras da elite  usaram sua ascendência para intimar  famílias operárias, sobretudo as mulheres, a integrarem  e divulgar o movimento.

Quase 50 anos depois, a regressão conservadora não dispõe mais da estrutura capilar de mobilização de que lançou mão às vésperas do golpe de Estado que prendeu, torturou, matou, decretou a censura à imprensa e às artes e colocou os partidos e sindicatos  na ilegalidade.

Escribas do jornalismo isento sugerem que podem superar as mais dilatadas expectativas no esforço para reeditar o mutirão cinquentenário na presente  intersecção entre a Copa do Mundo e as eleições presidenciais de outubro.

Para que ele signifique alguma coisa de equivalente ao papel legitimador desempenhado pela Marcha da Família, quando  Jango  tinha  mais da metade das intenções de votos –como Dilma as tem-- alguém terá que puxar o cordão.

A coalizão conservadora espera que cada um cumpra o seu dever.

Ou seja, que um pedaço dos setores progressistas  insatisfeitos com o governo  acenda o forno a 180º  e reforce a levedura na massa.

Uma vez pronto o bolo, vá para casa, e deixe a coisa com quem entende de comer o Brasil.

A ver.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

NY vai cobrar o cafezinho sabotado em SP

Novo prefeito de NY, Bill Blasio, prometeu taxar os endinheirados à razão de um cafezinho com leite no Starbucks por dia (US$ 3) para melhorar a vida dos pobres

por: Saul Leblon 

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Endinheirados nativos adoram elogiar os ares cosmopolitas de NY - embora  se sintam espiritualmente melhor em Miami.

A mídia irradia preferências semelhantes.

O democrata Bill de Blasio, recém empossado prefeito de NY, ganha espaços e confetes  por aqui  pela ecumênica trajetória pessoal.

Blasio, um progressista à esquerda de Obama, e cuja eleição teve o apoio do Partido da Família Trabalhadora, que se autodefine como uma espécie de PT dos EUA, é casado com uma poetiza negra.

Chirlane não escondeu na campanha a adesão ao lesbianismo nos anos 70.

A cerimonia de casamento entre ela e Blasio foi oficiada por pastores gays.

Filhos afrodescendentes, Dante e Chiara, fizeram do candidato, que apoiou a causa sandinista na juventude e escolheu a América Latina como objeto de estudo acadêmico,  um símbolo de afirmação dos valores multirraciais.

A cabeleira black power exuberante de Dante tornou-se uma espécie de certificado de garantia dos compromissos progressistas do pai.

O conjunto galvanizou a Nova Iorque.

Formada por 26% de latinos e 25% de negros, a metrópole de 8,7 milhões de habitantes está cindida em duas cidades pela linha da desigualdade.

Blasio prometeu acabar com o conto dickensiano de um povo repartido em dois pelo dinheiro e o urbanismo excludente.

Artistas de seriados famosos trabalharam com afinco para arrastar votos de um pedaço da classe média branca e  dar a esse projeto  o apoio esmagador de 73% do eleitorado.

Não é pouca coisa.

Desde 1993  a população de NY não entregava a prefeitura a um democrata.

Temas como o mergulho de Blasio no alcoolismo --após o suicídio do pai, ademais de vídeos da filha discutindo abertamente a questão das drogas, reforçaram o apelo contemporâneo da candidatura.

Mas não só.

Tido como bom administrador, seu antecessor, o bilionário Bloomberg, provou que é possível ser eficiente na gestão sem alterar o apartheid de uma metrópole.

Há cinco anos ele se alarga em NY e em toda a sociedade norte-americana mergulhada na pior crise do capitalismo desde 1929.

A relação da Forbes de 2013, que atualiza o ranking dos 400 norte-americanos mais ricos do país, ilustra a expansão do fosso.

A riqueza total dos ‘400’ aumentou quase 20% sobre 2012.

Passou de US$ 1,7 trilhão para US$ 2,02 trilhões de dólares em dezembro último.

Equivale ao valor do  PIB da Rússia.

Estamos falando de apenas  400 cidadãos e uma fortuna equiparável à oitava economia do globo, ou 15% do PIB dos EUA.

Mas a coisa é pior que isso.

Em 2012, pela primeira vez desde 1917, os 10% mais ricos passaram a abocanhar mais da metade de toda a renda norte-americana (50,4% , segundo pesquisa feita pela Universidade de Berkeley).

Só há dois precedentes históricos no gênero: antes da Depressão de 1929; e antes da falência do Lehman Brothers, em 2007, gatilho da presente crise mundial.

A política de injeção de liquidez de Obama –lapidada pelos interditos do Tea Party— paradoxalmente ajudou a consumar esse feito.

A renda média nos EUA cresceu 6% no triênio finalizado em 2012.

Dentro dessa média, os ganhos do 1% mais rico aumentaram mais de 31% no período (recuperando assim quase completamente as perdas decorrentes da crise, da ordem de 35%).

Os demais 99% tiveram um ganho de apenas 0,4% em três anos. Estão hoje 12% abaixo da soleira em que se encontravam antes do colapso neoliberal.

O Ocuppy Wall Street tinha razão.

Não surpreende que muitos de seus integrantes tenham se engajado na vitória a Blasi, que emerge assim como uma segunda aposta, mais à esquerda, depois do fiasco de Obama.

O cabelo black power de Dante deu confiabilidade a quem batia forte na tirania do 1% sobre os 99%.

Mas Blasio não foi eleito apenas pela fiança familiar.

Para investir em escolas e serviços destinados aos subúrbios –que empobreceram adicionalmente desde 2007, ele a prometeu elevar o imposto sobre os ricos que lucraram com a crise.

Quem ganha entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão pagará um adicional em taxas municipais de US$ 973 por ano em sua gestão.

Significa menos que US$ 3 por dia – ‘um cafezinho com leite no Starbucks’, alfinetou o novo prefeito.

Não há como não enxergar nessa aritmética um espelho do que se passa na São Paulo dirigida pelo prefeito  Fernando Haddad.

Financiar a tarifa congelada dos ônibus na capital, modernizar  o transporte coletivo com 150 kms de corredores exclusivos (as faixas já passam de 290 kms) e investir em educação e saúde exigiriam um aumento do IPTU com atualização de valores venais defasados pela supervalorizados nos últimos anos.

Aqui como lá os ricos arcariam com a maior fatia do adicional arrecadado.

1/3 dos moradores mais pobres  não pagariam nada, conforme a proposta original de Haddad.

Os demais, em média, contribuiriam com  um adicional de R$ 15,00 ao mês.

Cinquenta centavos ao dia.

Para somar o preço de um café com leite no Starbuscks em São Paulo ( R$ 3,90 no Shopping Eldorado, na capital), seriam necessários quase o equivalente a  oito dias de  IPTU.

O prefeito Haddad foi ao STF solicitar apoio a uma contribuição 12 vezes inferior a de NY, vetada aqui pelo matrimônio de interesses que uniu a  Fiesp, a mídia, endinheirados, senhorios e o PSDB.

Ao contrário da cumplicidade selada entre afrodescedentes e Blasio, Haddad encontrou na Suprema Corte alguém que age e pensa aqui como aqueles que, em passado sombrio, destinaram a seus semelhantes a senzala e a chibata.

E depois delas, as periferias  conflagradas das grandes metrópoles.

Cerca de R$ 100 milhões arrecadados com o novo IPTU iriam financiar a construção de creches nos bairros mais pobres de SP, onde 150 mil crianças aguardam na fila.

Continuarão a aguardar enquanto os endinheirados, seus ventríloquos e serviçais tomam seu cafezinho no Starbucks.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

São Paulo quer que Haddad faça milagre


Quem escreve este texto não é o blogueiro, mas o cidadão. E, mais do que um texto, isto é um compungido lamento.  Um lamento pela prova inconteste da própria estupidez que vem sendo dada pelo povo da cidade em que nasceram meus tetravós, meus bisavós, meus avós, meus pais, eu, meus filhos, meus netos e todos os que amo.
E pouco consola que não seja todo o povo de São Paulo que esteja demonstrando um comportamento infantil e irresponsável, mas que também decorre, em larga medida, da forma como os políticos brasileiros conduzem suas campanhas eleitorais, ou seja, mostrando realizações que sabem que custarão a se materializar, caso se materializem algum dia.
Contudo, um povo à altura da importância que São Paulo tem no cenário nacional deveria ter um pouquinho mais de maturidade. Ou será tão difícil entender que o que todos os candidatos apresentam em suas campanhas é marketing e que mesmo o mais bem-intencionado prefeito não tem como fazer tais melhorias acontecerem rapidamente?
O prefeito Fernando Haddad venceu há pouco mais de um ano a eleição que o guindou ao cargo que ocupa, mas não completou nem um ano de governo e, apesar de todo munícipe paulistano saber da situação que herdou, passou a exigir-lhe o que só seria cabível talvez ao fim deste seu mandato. Mas não é só – como se fosse pouco…
O mais impressionante é que a cobrança extremada que fazem ao prefeito começou quando ele ainda mal tinha “tomado pé” de sua administração. Após o QUINTO mês de governo, a cidade se inflamava exigindo que, pela primeira vez na história recente, a prefeitura arcasse sozinha com os reajustes dos contratos com o setor privado para o transporte público.
Endividada até o pescoço, suja, violenta, crescentemente congestionada por uma enxurrada de novos veículos que a indústria automobilística despeja a cada dia em suas ruas, só Jesus Cristo poderia operar o milagre de resolver os problemas de São Paulo em tão pouco tempo.
Com efeito, Haddad não prometeu nenhum milagre. O marketing político que TODOS os candidatos a TODOS os cargos eletivos usam não pode ser levado ao pé-da-letra por pessoas minimamente racionais. E o que é pior: esse povo cobra milagres de alguns governantes e não cobra de outros.
O paulistano, pois, não sabe valorizar nem o seu próprio bem-estar. Age como criança.
Ora, o PSDB está há praticamente vinte anos governando o Estado. Ao longo desse tempo, a mesma capital paulista que, em boa parte, tem sido capaz de comprar acusações ao atual prefeito por corrupção ocorrida no governo anterior demonstra ignorar quanto de culpa pela situação é do governo estadual.
E, como se não bastasse, o paulistano tem tido uma tolerância com os escândalos envolvendo o governo do Estado que só Freud explica. Ou a teoria da “Síndrome de Estocolmo”…
O fato, pois, é que o tesouro de São Paulo perdeu alguma coisa próxima a 600 milhões de reais por estar tendo que arcar sozinho com os vinte centavos que a população não quis pagar a mais pela passagem de ônibus. Então, o governo elabora um plano para cobrar mais IPTU de quem tem mais – e menos de quem tem menos – a fim de recuperar o orçamento desmontado.
E o que faz o povo? Diz que não paga.
Desse modo, se “as ruas” comeram uma quantidade tão expressiva de recursos vitais a uma administração tão endividada, a Justiça, novamente com os olhos no “clamor público”, impede o prefeito de tirar de algum lugar os recursos que impedem o orçamento da cidade de “fechar”.
O povo de São Paulo parece embriagado. Tira recursos da prefeitura e quer aumentar suas despesas. É como um condomínio em que os moradores exigem melhorias enquanto se recusam a pagar para que sejam feitas. E ainda retiram recursos do caixa desse condomínio. Ou seja, São Paulo quer que Haddad faça milagre.

Tocar fogo em SP: meta do conservadorismo em 2014

Haddad lidera reformas indispensáveis para tirar a cidade do caos. A velocidade dos ônibus já deu um salto de 45%. Mas o dinheiro grosso barra novos avanços.

por: Saul Leblon 

Divulgação















A velocidade dos ônibus em São Paulo registou um salto de 45% em 2013 (de 14,2 kms/h para 20,6 kms /h).

Três milhões de pessoas ganharam 38 minutos por dia fora das latas de sardinha, que agora pelo menos andam.

Embora a maioria ainda desperdice mais de duas horas diárias em deslocamentos pela cidade, é quase uma revolução quando se verifica a curva antecedente.

Ninguém pagou mais por isso: as tarifas estão congeladas desde junho sob a pressão de protestos legítimos liderados  pelo Movimento Passe Livre.

Financiar a tarifa e modernizar  o sistema com 150 kms de corredores exclusivos (as faixas já passam de 290 kms) , seria a tarefa do aumento progressivo do IPTU previsto pelo prefeito Fernando Haddad.

A coerência entre os meios e os fins  é irretocável.

1/3 dos moradores mais pobres de SP não pagariam nada de IPTU em 2014; os demais, em média, contribuiriam com  um adicional de R$ 15,00 ao mês. Os boletos dos mais ricos, naturalmente, transitariam acima da média.

O matrimônio de interesses expresso na aliança entre Fiesp, PSDB e a toga colérica  implodiu esse reajuste.

Como Nero, eles querem ver São Paulo pegar  fogo para culpar os adversários (os cristãos, no caso do imperador).

Em meio às labaredas emergiria o palanque conservador como a escada Magirus  que  os reconduziria com segurança  ao Bandeirantes e, quem sabe, ao Planalto.

O dinheiro grosso fornece a gasolina; o tucanato fino de Higienópolis entra com o maçarico.

‘Bum!’, diz a mídia obsequiosa que estampa a foto de Haddad com a legenda: o culpado é o oxigênio.

Depois de subtrair  R$ 40 bi por ano do sistema público de saúde, ao extinguir a CPMF, eles não hesitam agora em usar o sofrimento da população como recheio do seu pastel de vento eleitoral.
  
É o de sempre, ataca Haddad: a coalizão da casa-grande contra a senzala.

Eles retrucam estalando o chicote da mídia.

A rede de ônibus da capital (linha e fretados)  transporta 68% das população e ocupa somente 8% das vias urbanas.

A frota de automóveis transporta 28% e ocupa cerca de 80% do espaço das vias.

A informação é da urbanista Raquel Rolnik, em artigo reproduzido no Viomundo.

A rigor, portanto, a mobilidade melhorou  para a maioria dos habitantes da cidade, com uma redistribuição pontual do uso do espaço  viário.

Mas a emissão conservadora atiça o fim de ano da classe média com bordão do caos no trânsito –por culpa do privilégio concedido  aos ônibus.

Na edição de sábado (21/12), o jornal Folha de SP estampa a manchete  capciosa em seis colunas, no caderno  Cotidiano: ‘Trânsito piora, e ônibus anda mais rápido’.

No manual de redação dos Frias , trânsito é sinônimo de transporte individual.

Há um traço comum  entre esse entendimento do que seja interesse coletivo e individual   e o belicismo conservador  contra o programa ‘Mais Médicos’.

O programa  subverteu a lógica protelatória e alocou médicos estrangeiros, cubanos em sua maioria, ali onde os profissionais locais não querem trabalhar: periferias conflagradas e socavões distantes.

Produz-se assim uma mudança instantânea na vida de 16 milhões de brasileiros  até então desassistidos.

Quantos não morreriam  à espera do longo amanhecer incremental preconizado pelo conservadorismo?

A dimensão estrutural desse  antagonismo perpassa a luta pelo desenvolvimento brasileiro desde Getúlio.

Reformas de base ou a delegação do futuro da economia e do destino da sociedade aos mercados?

Em 1964 o pelourinho midiático, a Fiesp e o tucanismo, na versão udenista, resolveram a pendência da forma sabida.

Meio século depois, São Paulo reproduz  em ponto pequeno a mesma confluência de interesses que se reivindica o direito consuetudinário de tocar fogo no canavial e estalar o açoite para fazer a moenda girar.

Primeiro, a garapa; resto a gente conversa depois.

Com a tigrada guardada nas senzalas.

Ou imobilizada em ônibus-jaula.

A gestão Haddad precisa modular o timming de suas ações para discuti-las antes com a população.

Tem agora um inédito conselho de participação popular para isso.

Mas é indiscutível que o prefeito lidera hoje um conjunto de reformas  imperativas, as reformas de base da São Paulo do século XXI.

Sem elas a cidade afundará no destino que lhe reservou a elite brasileira branca e plutocrática: ser um exemplo de viabilidade  de uma das mais iníquas versões do capitalismo no planeta.

Esse é o embate dos dias que correm na metrópole.

Diante dele, o silêncio de quem liderou  os protestos de junho chega a ser desconcertante.

Mas não é inédito.

Há inúmeros antecedentes gravados na história com os predicados de cada época .
E nenhum deles é inocência.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

HADDAD: QUEM DERRUBOU A CPMF NÃO QUER AS CRECHES FHC, PSDB, Johhny Saad, Skaf é tudo a mesma sopa


Saiu no Globo:

PREFEITURA DE SP ENTRA NO STF PARA MANTER AUMENTO NO IPTU


Pedido será analisado pelo presidente do Supremo, Joaquim Barbosa.
Presidente do STJ decidiu manter decisão que barrou aumento do imposto.

(…)

“Eu cumpri meu dever de garantir mais recursos para a saúde e a educação, que levam mais de 50% do IPTU da cidade. Saúde e educação estão precisando de recursos. E nós procuramos demonstrar para o presidente do STF o impacto que teria nas áreas mais sensíveis da cidade, que são transporte público, saúde, educação e moradia. Trouxemos um arrazoado, uma revisão da planta genérica de valores. Não é aumento de tributo. A alíquota está sendo reduzida. Não aumentada. Estamos diluindo isso em 4 anos para que fique leve para todo mundo. Trata-se de um aumento médio de R$ 15 por mês apenas. “

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Skaf, autor da ação em São Paulo que barrou o aumento, também se reuniu com Joaquim Barbosa nesta tarde para pedir que seja mantida a liminar do TJ.


Na mesma entrevista em que anunciou que a Prefeitura de São Paulo passará a ter uma capacidade de investimento que não tem há uma década,Haddad demonstrou que:
- o aumento do IPTU recai sobre os ricos e alivia os pobres;
- o aumento do IPTU é uma obrigação legal;
- que o Cerra e o Kassab aumentaram o IPTU muito mais que ele e o PSDB e a FIE P (*) não fizeram nada;
(É como o MPL, o movimento dos acometidos da doença infantil do transportismo: só reclamaram de aumento de ônibus de prefeito trabalhista.)
- se não puder cumprir a lei e aumentar o IPTU, ele vai ter que cortar creches:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/144444-haddad-diz-que-sem-subir-iptu-cortara-gasto-social.shtml
Quem é contra o aumento do IPTU – além dos corvos do record de emprego ?
O Johnny Saad, da Bandeirantes, grande proprietário urbano de São Paulo, que ameaça o Haddad nas rádios e tevês (que não têm audiência).
A FIE P e o PSDB
Esses dois, a FIE P e o PSDB , são responsáveis por uma obra que as criancinhas e os velhinhos do Brasil não se cansam de agradecer.
Eles acabaram com a CPMF.
Aquele imposto do Dr Adib Jatene, aplicado no Governo do Principe da Privataria, que, além de levar dinheiro para as crianças e os velhinhos, permitia rastrear o Caixa Dois.
O PSDB e a FIE P, sob a liderança de Arthur Virgílio Cardoso e Fernando Henrique Cardoso, derrubaram a CPMF no Senado com o argumento de que os preços iam cair .
Quá, quá, quá !
Não caiu um único preço por causa da queda da CPMF.
Como diz o Lula, eles queriam atingir o Lula.
O Lula saiu do Governo com 88% de aprovação popular.
O Skaf não se elege vereador na Avenida Paulista e o Fernando Henrique, em Higienópolis.
E a Saúde padece de crônica falta de dinheiro (que o pré-sal vai minorar).
É tudo a mesma sopa, diria o Mino Carta: Skaf, Arthur Virgílio, FHC, Johnny Saad.
São os que querem impedir o Haddad de construir creches.
Clique aqui para ler “Haddad diz que Fiesp prejudicou saúde no Brasil”.
Paulo Henrique Amorim
(*) FIE P é a FIESP, para o Conversa Afiada. Desde a extinção da CPMF, o Conversa Afiada preferiu retirar o S de “$” da FIE P. É que o fim da CPMF significou o perdão ao caixa dois, ao “$”, que, em São Paulo e, talvez, na FIE P, se chama de “bahani”. E o Skaf é candidato a governador pelo PMDB ! Viva o Brasil !

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

SAAD DA BANDEIRANTES AMEAÇOU HADDAD Kassab deu a Johnny 25 anos para explorar os pontos de ônibus de São Paulo. Viva o Brasil !

Johnny é imparcial. Não toma partido !

Na entrevista aos blogueiros sujos, o prefeito Fernando Haddad contou que percebia que um certo “grupo de comunicação”, que tem tevês, rádios, cabo, e uns jornalecos gratuitos, fazia sistemática campanha contra o Governo dele, em todas as mídias.

Achou aquilo atípico, mesmo num ambiente em que o PiG (*) quer destrui-lo, pelo simples fato de ser do PT.

A perseguição se tornou tão aguda, que ele, Haddad, ligou para o dono do suposto “conglomerado” e perguntou se aquilo se devia a alguma falha do Governo, que não dava informação, não era transparente.

Queria saber a razão daquele cerco implacável.

A resposta foi simples.

Dei instruções a todos os veículos de minha propriedade para atacar você de forma sistemática, desde que você aumentou o IPTU, respondeu o falso Roberto Marinho.

Quem é o grande comunicador ?

Johnny Saad, dono da Bandeirantes.

Como se sabe, desde os bons tempos de Ademar de Barros, a família Saad é proprietária de muitos imóveis urbanos em São Paulo.

E a atualização da planilha do IPTU de Haddad é um Robin Hood: cobra mais dos ricos, como Saad.

É assim que funciona o PiG (*), amigo navegante.

A sorte é que Saad tem um pequeno problema.

Audiência.

A Bandeirantes, desde que saiu das mãos do velho, o seu João, para o primogênito é o que é: irrelevante.

Virou um braço desarmado da UDR.

Desarmado.

Como a TV Bandeirantes.

Uma empresa de negócios imobiliários.

Em tempo: Haddad fez questão de informar aos blogueiros que não ia identificar o Grande Comunicador, porque se tratava de uma conversa privada e ele não cometeria a grosseria. O grosseiro, no caso, é o ansioso blogueiro, que identificou Saad em outra fonte.

Em tempo2: ao deixar o Governo, Kassab assinou com Saad, por 25 anos – 25 anos !!! – um contrato de exclusividade para que Saad possa explorar a publicidade de TODOS os pontos de ônibus de São Paulo. Está aí um bom tópico para um cidadão paulistano empreender uma ação popular, não, amigo navegante ?


Paulo Henrique Amorim


(*)  Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A aposta na democracia contra o caos

São Paulo elegeu neste domingo 1.125 representantes para governar a cidade com Haddad, o maior conselho popular da história brasileira.

por: Saul Leblon 


Prefeitura de São Paulo













A cidade de São Paulo elegeu neste domingo o maior conselho popular da história brasileira. Com pouco espaço na imprensa e uma divulgação despolitizada de parte da própria prefeitura,  ele representa, paradoxalmente, talvez a resposta mais arrojada ao anseio de participação ecoado nas ruas de junho.

São Paulo reúne 32 sub-prefeituras.

A partir de 25 de janeiro - quando os conselheiros eleitos tomam posse - elas terão um organismo local de fiscalização, consulta e proposição reclamado há décadas como antídoto ao caos logístico e social na maior metrópole brasileira e uma das maiores do mudo.

Com um representante para cada 10 mil habitantes,  a cidade disporá  então de 1.125 vozes a falar por ela com conhecimento de causa e legitimidade.

É a aposta na democracia contra o caos. Se vingar, fará história e não apenas em São Paulo.

Embora a área de ação de cada conselheiro esteja circunscrita ao perímetro do bairro, nada impede que a Prefeitura institua fóruns regionais ou mesmo municipais, compostos por representações proporcionais destes conselhos, para debater e planejar grandes ações de interesse de toda a cidadania.

Na verdade, dada a natureza sistêmica dos grandes problemas urbanos de uma metrópole como São Paulo, essa progressão democrática é quase inevitável.

O recente reajuste do IPTU, que inflamou o espírito separatista de uma parcela da cidade  cujo horizonte comunitário começa e termina na garagem do prédio, por certo teria outro respaldo político fosse ele previamente discutido e sancionado por um fórum de representações proporcionais  ao mosaico paulistano.

O debate sobre o novo Plano Diretor de São Paulo, fomentado pela gestão Haddad, certamente teria uma densidade e  um discernimento diferenciados, se  estruturado  a partir dos conselhos municipais.

O grande risco é subestimar essa oportunidade democrática abastardando-a como um  simulacro do que deveria ser.

O que deveria ser passa pelas grandes questões que desafiam a democracia e o planejamento da sociedade em nosso tempo.

Marx disse que o ‘o capital nasce escorrendo sangue e lama por todos os poros  da cabeça aos pés’.

A imagem se aplica literalmente  à descrição do processo contínuo de valorização e exclusão  em uma cidade com o tamanho e o calibre dos interesses entranhados nos 1.500 km2  de São Paulo.

A ideia de que esse açougue possa ser administrado pelo livre curso dos interesses graúdos  que o dominam é o que de mais próximo se pode conceber  em termos de barbárie urbana.

É disso, do direito ao livre curso dos mercados sobre a cidade, que falam as entrelinhas das críticas despejada contra a gestão Haddad por parte da emissão conservadora.

Critica-se o prefeito pelos seus acertos.

A intrínseca barbárie apregoada na fuzilaria contra o IPTU progressivo, e contra o Plano Diretor  que coíbe o vale-tudo imobiliário,  deriva da mesma cepa que na esfera nacional ecoa o bombardeio  contra  o  ‘intervencionismo da Dilma’.

Os elevados custos humanos e materiais da internalização da crise mundial no sistema econômica brasileiro nunca são projetados  quando se trata de fuzilar  ‘a gastança’ das medidas federais  tomadas para evitá-los.

Providências equivalentes, em termos de vida urbana, deveriam ter sido adotadas em metrópoles fortemente conectadas aos humores globais, como é o caso de São Paulo.

O Minha Casa, Minha Vida, no entanto, lançado como medida  contracíclica no plano federal, teve na São Paulo dirigida pelo comodato Kassab/serrista, um dos seus piores desempenhos. O mesmo se pode dizer  no que diz respeito  à adesão  ao Brasil Sem Miséria.
 
É forçoso arguir se até mesmo prefeitos progressistas iriam além do fatalismo ortodoxo, desprovidos de um contrapeso democrático  que os conectasse diretamente ao metabolismo nervoso da cidade.

São Paulo não precisa de uma crise mundial para revelar as camadas majoritárias de sua  gente expostas a um cotidiano de abandono  e privação.

Num  espaço por excelência de exercício da cidadania,  a igualdade perante a lei aqui significa muito pouco à imensa maioria dos paulistanos desprovidos do poder econômico  que lhes dê acesso aos gabinetes onde a cidade é decidida.

A cidadania que se exerce assim, esporadicamente,  no comparecimento às urnas descarnado de outras instâncias de participação, revela-se um poder meramente formal  diante do bloco granítico no qual se fundem  a política e o dinheiro.

O gradiente dos direitos civis na metrópole é diretamente proporcional à quilometragem que separa bairros elegantes dos arruamentos suburbanos.

Ninguém escapa do inferno pelas mãos do  diabo.

O que se disputa no Brasil hoje – enevoado pela vaporosa endogamia  de togas e mídia--  é se o passo seguinte da história aqui será determinado pelos  impulsos cegos dos mercados ou pelo planejamento democrático dos cidadãos.

A  importância do conselho  eleito neste domingo em São Paulo deve ser avaliada dentro dessa disjuntiva

Com algum otimismo, até mais além dela.

A história ensina que a passagem de uma época para outra requer não apenas condições objetivas, mas rupturas de engajamento social que  reúnam a  energia da força e do consentimento para desbravar  novos caminhos.

O novo caminho no caso de São Paulo significa tornar  a democracia  na gestão da cidade  indissociável dos que dela sempre foram excluídos.

A gestão Haddad  tem um pedaço disso nas mãos a partir de agora. Cabe não desperdiçar  a colheita embutida na semente.

A ver.