Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 11 de março de 2016

Crise política que afunda a economia e a democracia custou 20 centavos

cretinos
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O país chegou a um ponto que era inimaginável até junho de 2013. Em breve, completar-se-ão três anos desde que um grupo de moleques de todas as idades biológicas – mas todos com a mesma idade mental – decidiu incendiar o Brasil por 20 centavos.
Escrevo isto após ler o bilionézimo texto dizendo que ainda não entendemos as “jornadas de junho” de 2013. Fenômeno que, ao que se saiba, ninguém entendeu, à exceção de alguns luminares que até hoje não conseguiram nos explicar nada.
Naquele ano, a economia, os salários e o nível de emprego estavam crescendo com força. O governo dispunha de “governabilidade” para manter a economia funcionando a contento. Dilma tinha mais de 60% de aprovação. E a vida de todos melhorava ano após ano.
De junho de 2013 para cá, o país começou a afundar de todas as formas. Em 30 dias, o Brasil deixou de ser uma promessa e para se transformar em um pesadelo no qual fascistas começaram a se levantar de suas tumbas e nada mais deu certo por aqui.
Hordas de doidos saíram à rua incendiando e depredando tudo que viam pela frente por não aceitarem um mísero aumento de alguns poucos centavos no preço das passagens de ônibus e metrô dos paulistanos.
Em questão de semanas, Dilma, Lula e o PT passaram a ser odiados como por mágica. As ações desses grupelhos com cérebros de 15 anos semearam a ascensão de uma direita hidrófoba cujo objetivo era pisotear a democracia. E esse objetivo foi atingido.
Hoje, passados três anos, o Brasil já não é uma democracia. A Operação Lava Jato tem nítido víés político. Persegue políticos de um só lado, ignora evidências e até provas contra o outro, persegue pessoas por suas convicções políticas.
Nas ruas, hordas fascistas caçam pessoas que tenham orientação ideológica que a mídia conseguiu tornar “proibidas”. Empresas fazem seleções ideológicas e perseguem ou até demitem acusados de terem opiniões políticas que foram sumariamente criminalizadas.
Se isso não é uma ditadura, não sei o que é uma ditadura.
Eu mesmo estou sendo alvo de uma armação da polícia política que junho de 2013 pariu. Não que esteja surpreso. Nos últimos nove anos, incomodei muito a direita e os barões da mídia.
Em 2007, quando o ministro do STF Ricardo Lewandowski disse que aquela Corte tinha aceitado processar José Dirceu porque a mídia lhe pôs a “faca na pescoço”, através deste Blog coloquei 300 pessoas para protestar diante da Folha de São Paulo contra a parcialidade midiática.
Em 2008, quando a mídia provocou mortes ao alardear que havia um surto de febre amarela urbana no país, o que levou pessoas a se sobre vacinarem, consegui abrir uma investigação no Ministério Público que fez Globos, Folhas, Vejas e Estadões gastarem muito dinheiro com advogados.
Em 2009, quando a Folha de São Paulo disse, em editorial, que a ditadura militar brasileira foi uma “ditabranda” porque matou “pouca gente”, através do Blog, de novo, coloquei 500 pessoas diante do jornal para protestar contra essa revisão histórica absurda.
Em 2010, usei o Blog e o apoio dos leitores para abrir na Polícia Federal uma investigação dos institutos de pesquisa Ibope, Datafolha, Sensus e Vox Populi, que se dividiram entre Dilma Rousseff e José Serra.
Nos anos seguintes continuei incomodando a mídia conservadora e a direitona. No ano passado, representei o juiz Sergio Moro ao Conselho Nacional de Justiça – o que explica muita coisa, não é mesmo? – e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, à Procuradoria Geral da República.
Ao denunciar, com provas, que a Lava Jato havia vazado para a mídia sua 24a fase eu sabia que corria riscos, assim como sabia em cada uma das outras vezes que incomodei poderes discricionários.
Cutuco essa onça com vara curta há muito tempo na esperança de mostrar às pessoas que qualquer cidadão pode fazer sua parte na luta contra essa direita hidrófoba que infelicita este país há 500 anos.
Não tenho medo de lutar, mas não suporto lembrar de que toda essa situação trágica que o país está vivendo se deve muito mais a setores da esquerda do que à direita. A esquerda ressuscitou o fascismo no Brasil. Isso é que dói.
ÍNTEGRA DO ATO EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Abaixo, o vídeo completo do ato que teve lugar na última segunda-feira no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Minha fala começa aos 2:15:25

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A convocação para 2014: Eliooo, o Heitor!

Em coluna natalina, neste 25 de dezembro, o jornalista Elio Gaspari convoca protestos de rua para 2014. O panfleto está encartado na Folha e assemelhados.

por: Saul Leblon 

Arquivo















Em sua coluna natalina, neste  25 de dezembro de 2013, na Folha, o jornalista Elio Gaspari convoca protestos de rua para  2014.

É a sua explícita contribuição à campanha conservadora  no próximo ano.

‘Em 2014 vem prá rua voce também’, diz o título da coluna que arremata com a seguinte exortação: ‘Em 2014 a turma que paga as contas irá às urnas. Elas poderão ser um bom corretivo, mas a experiência deste ano que está acabando mostra que surgiu outra forma de expressão, mais direta: "Vem pra rua você também".

Gaspari  engrossa o coro daqueles  que – a exemplo dele ,  sabem que só o impulso de acontecimentos anormais pode devolver o poder ao conservadorismo ao qual se filiam, nas eleições do próximo ano.

Reconheça-se no panfleto encartado na Folha o predicado da coerência:  Gaspari se mantém fiel  à cepa na qual foi cevado e graças a qual deixou o batente das redações para viver das memórias da ditadura.

O artigo é uma extensão  dessa trajetória.

É como se o autor psicografasse vozes e agendas às quais serviu como uma tubulação expressa quando a ditadura militar agônica buscava erguer a ponte dos anos 80,  para trocar o uniforme pela gravata, sem macular a essência do poder.
Gaspari, sub-chefão de Veja, então, ao lado de Roberto Guzzo,   aderiu ao esforço de erguer linhas de passagem sem rupturas de destino.

Secretárias pressurosas emitiam a convocação em sustenidos de urgência pelos corredores da revista  nos anos 80: 'Eliiooooo, o Heitor, o Heitor!.

Era algo religioso.

O telefonema-chave chegava invariavelmente um ou dois dias antes do fechamento da edição semanal.

'Heitor', mais especificamente, o coronel Heitor Aquino Ferreira, acumulava credenciais do outro lado da linha .

Elas justificavam a ansiedade incontida no trinado das secretárias.

Sua ficha corrida incluía o engajamento, cadete ainda, na conspiração para derrubar Juscelino, em 1955; a ativa participação golpista para derrubar Jango, em 64; a prestação de serviços para injetar músculos no SNI; a ação lubrificante à passagem de Daniel Ludwig, o bilionário do projeto Jari, pelos corredores do poder militar. E assim por diante.

Com base nesse saldo foi nomeado secretário de dois ditadores: Geisel e Figueiredo.

Elio e Heitor tinham mais que a cumplicidade  na missão específica da travessia do quartel para a urna.

Fluxo e  vertedouro  identificavam-se num traço de caráter, digamos, olfativo: ambos eram bons farejadores dos ventos da história.

Elio começou a carreira  no jornal Novos Rumos, ligado ao partidão (PCB); rápido sentiu a friagem vinda do polo oposto   e foi servir ao colunista social e reacionário de carteirinha, Ibrain Sued; pós golpe, ascendeu como turbojato na carreira.

A pretensiosidade  é outro traço que dá liga à parceria.

Na conspiração golpista de 64, o capitão  Aquino Ferreira  usava um codinome afetado: 'Conde de Oeiras'.

Nos telefonemas ao jornalista Elio Gaspari  --destinatário dos pressurosos arrulhos das secretárias de Veja nos anos 80, o já coronel Heitor considerava desnecessário o anonimato.

Tampouco Elio recomendava discrição às telefonistas.

Eram tempos em que pertencer a certos círculos fazia bem ao currículo e ao ego.

Ser o mensageiro, a tubulação dos bastidores da ditadura dava prestígio e holerite.
Ademais de alimentar uma sensação de impunidade quase cínica.

Quando  os telefonemas  de Brasília agitavam as pautas e o arremate dos fechamentos de Veja, Heitor servia como homem de confiançae porta-voz  do general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do ditador Geisel.

Foi nessa condição de emissário e serviçal  que ele reuniu as famosas 40 pastas  de documentos  da ditadura, entregues entre 1982 e 1987 ao jornalista  amigo selando um troca-troca feito de  empatia e propósitos comuns.

Os arquivos serviriam de lastro aos livros que  Gaspari  lançaria com a sua versão sobre o ciclo da ditadura. 

Era essa a carga simbólica que  os chamados de Heitor propagavam pelos corredores da Veja, um ou dois dias antes do fechamento. Às vezes no mesmo dia; não raro mais de uma vez ao dia.

O destinatário  dos  telefonemas das sombras, a exemplo de outros protagonistas de um enredo  à espera de um filme, agora convoca as massas às ruas  em 2014.

De certa maneira, presta-se ainda ao papel de duto  de Heitor, já morto, psicografando  lições, limites e agendas  à democracia brasileira.

Teimosa, ela  insiste em afrontar  os perímetros sociais e econômicos  delimitados  nos anos 80, nos gloriosos dias da transição segura e gradual, abraçada pela dupla de democratas.

O artigo deste Natal carrega a petulância abusada de quem vê nas urnas de 2014 a última chance de evitar  uma virada sem retorno aos bons  tempos em que repressão e megalomaníacos determinavam o destino do país e a sorte de seu povo.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Os efeitos políticos de novos protestos de rua em 2014


Estamos a menos de um mês do ano eleitoral de 2014 e, até aqui, ainda não houve uma discussão profunda sobre o que pode ocorrer caso os interesses políticos e econômicos que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas de todo o país em junho último consigam reeditar, naquele mesmo ano eleitoral, uma catarse que resultou em nada.
E o que é pior – ou melhor, para alguns – é que já existe um mote para levantar um novo movimento de massas análogo ao deste ano: a Copa do Mundo.
Em junho, sob o mote de impedir pequenas altas no preço das passagens de ônibus, metrô e trens de subúrbio – altas literalmente irrisórias, mas que induziram muitos a crer que seriam um castigo insuportável para a população –, conseguiu-se manipular a opinião pública a um ponto tão impressionante que parecia que estava sendo reeditada, por aqui, a “Primavera Árabe” – ou seja, a luta dos povos árabes para se libertarem de ditaduras longevas e cruéis.
Agora imaginemos quanto se pode fazer com uma matéria-prima como a Copa…
De fato, o país está gastando muito com a Copa. Mas é isso o que se tem que fazer para ganhar: há que gastar para, depois, obter o retorno – em turismo, em movimentação da economia e, ainda, deixando, após o evento, toda estrutura edificada para recebê-lo.
Contudo, em um país em que ainda vicejam tantos dramas sociais, em um país no qual falta dinheiro para Saúde, para Educação, para saneamento básico etc., é simples demonizar um evento como o que o país sediará em 2014 – ainda que o grosso dos gastos esteja a cargo do setor privado e que eles sejam precursores de lucro que o país irá auferir por tê-los feito.
Todas as estratégias políticas dos candidatos aos mais diversos cargos no Executivo e no Legislativo estão sendo traçadas sob um quadro de normalidade democrática. Desde a redemocratização do país, jamais tivemos uma eleição em que massas imensas foram às ruas protestar.
Quem seria o principal prejudicado pela reedição da catarse de junho, só que em pleno ano eleitoral? Quem governa, claro. Mas não só. Além de novos protestos poderem se tornar fatais para governadores e para a presidente da República, os candidatos ao Legislativo e seus partidos também serão afetados.
Nesse aspecto, uma carta de leitor publicada na quarta-feira em um dos jornais alinhados com a oposição ao governo Dilma Rousseff (a Folha de São Paulo) repete uma constatação que já se fez nesta página.
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O Datafolha acaba de mostrar que Dilma sobe em todos os cenários e que a oposição encolhe. Chego à triste conclusão que aquelas manifestações de junho aconteceram no ano errado. Deveriam ter eclodido em 2014, às vésperas das eleições, quando o governo não teria tempo hábil para reagir.
Ronaldo Gomes Ferraz (Rio de Janeiro, RJ)
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Alguns argumentarão que governantes de todos os partidos foram afetados pelos protestos de junho, mas não é bem assim. Em primeiro lugar, a perda de popularidade que afetou, por exemplo, Dilma, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad – só para ficarmos nos governantes mais importantes do país – atingiu muito mais aos petistas do que ao tucano.
Matéria da Folha de São Paulo sobre pesquisa Datafolha publicada em 1º de julho deste ano mostra que o prejuízo de imagem que os protestos do mês anterior causaram aos partidos da base aliada do governo Dilma e à titular desse governo foi bem maior do que os prejuízos que sofreram políticos da oposição demo-tucana.
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FOLHA DE SÃO PAULO
1º de julho de 2013
Após protestos, aprovação de Dilma, Alckmin e Haddad cai
Presidente perde 27 pontos, Governador perde 14 e prefeito, 16; Cabral e Paes também são afetados
Índice dos que acham gestão paulistana ruim ou péssima sobe de 21% para 40% em três semanas, diz Datafolha
DE SÃO PAULO
Não foi apenas a popularidade da presidente Dilma Rousseff que acabou corroída pela onda de protestos que tomou o país.
O movimento abalou os índices de aprovação dos governadores dos dois maiores Estados do país: Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo, e Sérgio Cabral (PMDB), do Rio; e ainda dos prefeitos das duas maiores cidades: Fernando Haddad (PT), o titular da capital paulista, e Eduardo Paes (PMDB), da capital fluminense.
Todos os dados são da pesquisa Datafolha finalizada na sexta-feira passada.
A aprovação de Alckmin caiu 14 pontos no intervalo de três semanas –Dilma perdeu 27 pontos no mesmo período. Os 52% de avaliação positiva do tucano em 7 de junho, pouco antes do início dos protestos, foram reduzidos para 38% na pesquisa recente.
Na semana do auge dos protestos, Alckmin foi criticado pelo comportamento da Polícia Militar, que num primeiro momento agiu com violência durante passeatas e depois, diante das críticas, teria reduzido o rigor no combate ao vandalismo.
O Estado também administra tarifas dos trens e do metrô, que também subiram, mas, mediante a pressão das ruas, acabaram tendo o reajuste cancelado.
Abalo ainda maior foi sentido por Haddad, cuja administração tem só seis meses.
Seu índice de aprovação caiu 16 pontos em três semanas, de 34% para 18%. A reprovação do petista (soma dos julgamentos ruim e péssimo) subiu de 21% para 40%.
Haddad se expôs no enfrentamento ao Movimento Passe Livre. No início, disse que não havia margem para negociação. Insistia no argumento de que as passagens de ônibus haviam subido abaixo da inflação. No fim, cedeu.
Na série histórica, a rejeição de Haddad é equivalente às de Jânio Quadros (43%), Marta Suplicy (42%) e Paulo Maluf (41%), quando se trata do mesmo período de gestão.
A aprovação também é parecida com as de outros ex-prefeitos. Em junho de 1986, Jânio tinha 16%. Em 1989, Luiza Erundina marcou os mesmos 16%. Maluf, o prefeito seguinte, fez 20%. Em junho de 2007, Celso Pitta tinha 19%. Quatro anos depois, Marta alcançou 20%. José Serra obteve 30% em julho de 2005.
O único que destoa é Gilberto Kassab, que antecedeu Haddad, com 46%.
Ao longo dos dias de protesto, os paulistanos foram ficando menos críticos com Alckmin e Haddad.
Em 18 de junho, 51% avaliavam o desempenho de Alckmin diante dos protestos como ruim ou péssimo. Esse índice caiu para 39% dia 21 de junho. E voltou a cair na última pesquisa, para 33%.
Com Haddad ocorreu o mesmo, mas em intensidade menor. A má avaliação de seu comportamento era compartilhada por 55%. Caiu para 50%. E depois para 44%.
RIO
Depois de atingir o pico de sua popularidade na série do Datafolha no Estado do Rio, em novembro de 2010, o governador Sérgio Cabral despencou 30 pontos.
No levantamento de sexta-feira, após seis anos e meio de mandato, ele obteve 25% de ótimo e bom, a menor pontuação da série. A soma de ruim e péssimo é maior, 36%.
Cabral foi alvo dos manifestantes, que acamparam na frente de seu apartamento.
A imagem do prefeito do Rio, Eduardo Paes, sai igualmente lesada.
Desde agosto de 2012, seu índice de aprovação caiu de 50% para 30%. A desaprovação fez a trajetória inversa. Subiu de 12% para 33%.
(RICARDO MENDONÇA)
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Note, leitor, que hoje, enquanto Dilma recuperou apenas parte da aprovação, segundo o último Datafolha, Alckmin, que caiu muito menos do que ela durante os protestos, já se refez quase totalmente. E Fernando Haddad nem se recuperou.
O mais interessante é que os protestos de junho foram tonificados pela truculência da polícia militar comandada por Alckmin. Antes de um verdadeiro massacre de manifestantes na avenida Paulista em meados de junho, o Movimento Passe Livre reunira um protesto até considerável, mas restrito quase que só a São Paulo e que não assustava ninguém.
Aquela violência policial fez o movimento se espraiar, levando mais de um milhão de pessoas às ruas de todas as partes do país. O que se poderia esperar, portanto, é que Alckmin e seu partido sofressem mais com aqueles protestos do que os seus adversários, mas foi o contrário. O partido que passou a ser hostilizado nas ruas foi, precipuamente, o PT.
Daí se pode imaginar a quem interessa que, ano que vem, sejam reeditados aqueles movimentos de massa sob a desculpa da Copa do Mundo, mas, obviamente, visando o processo eleitoral.
Quem teve o domínio do fato dos protestos de junho deste ano foram o PSOL e o PSTU sob a batuta de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e de José Serra (PSDB), sendo que o tucano, após a pesquisa que mostrou a monumental queda de Dilma na pesquisa citada acima, foi levado, em triunfo, ao programa Roda Viva para ser ovacionado por sua jogada “genial” – ou diabólica, como preferirão alguns.
Não é segredo para ninguém que os partidos de oposição que situam-se à esquerda do governo Dilma preferem mil vezes um Aécio Neves ou um José Serra ou um Eduardo Campos no Palácio do Planalto a uma Dilma. Esses partidos dificilmente colherão um benefício pessoal, mas consumarão a vendeta antilulista e antipetista que há anos os move politicamente.
Contudo, tampouco se pode desconsiderar que há, sim, gente boa, idealista e decente tanto no PSOL quanto no PSTU ou em qualquer partido de oposição à esquerda. Assim, para não dizerem que não propus nada, aqui, e para evitar que as eleições sejam alvo de uma trapaça como um movimento eleitoreiro que pode eclodir, indico esse caminho.
Recentemente, fiquei encantado com a postura do deputado Jean Wyllys, do PSOL. Durante o linchamento de José Genoino e de seus companheiros nas redes sociais, de uma forma impressionantemente corajosa ele se opôs ao que estavam fazendo sobretudo seus próprios correligionários. Há, sim, gente séria nesses partidos de esquerda.
Tais partidos, porém, por falta de visão ou por má fé mesmo consideram que não há diferença entre o PT e o PSDB e, assim, tanto faz um quanto o outro no poder. E se conseguirem desencadear novos protestos, um PSOL poderia passar de 3 deputados e um senador no Congresso para, quem sabe, 6 deputados e 2 senadores, se tanto.
O que proponho, pois, é uma aproximação de lideranças petistas com as lideranças lúcidas da oposição à esquerda para convencê-la a parar de fazer o jogo de uma direita que, se retomar o poder, será nefasta também para movimentos sociais que agem em consonância com esses partidos, pois a volta da direita demo-tucana ao poder seria uma catástrofe.
Fica, aqui, o aviso – com antecedência mais do que suficiente: desencadear protestos em 2014 sob desculpa de combater a Copa do Mundo e “gastos” que já terão sido feitos só irá beneficiar a direita. PSOL e PSTU – e os petistas e esquerdistas em geral que apoiaram os protestos de junho – têm que pensar o Brasil acima de suas idiossincrasias.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Cientistas sociais dizem que junho fez “a direita sair do armário”


patricinhas

Uma matéria em O Globo, hoje, revela a opinião de alguns cientistas sociais – claro que com o ascetismo que é peculiar em certos círculos acadêmicos – sobre o surgimento de uma “onda de direita”  no Brasil na esteira das manifestações de junho.

Na reportagem – certamente não nos estudos sociológicos dos entrevistados – faltou apontar que ela se dá nos mares da classe média, numa situação de afluxo econômico destas pessoas (é só olhar os dados de ontem sobre os gastos de brasileiros no exterior)  e numa camada geracional que não tem as referências mentais no período pré-Lula e, portanto, menos capaz de comparações.
Claro que o texto também não registra que o “mote” da jeunesse droit - o moralismo golpista velho como a UDN – é dado todos os dias por uma mídia superficial, monoliticamente conservadora e sem espaço para qualquer pensamento dissidente de seu comando.
De qualquer forma, é boa leitura e melhor ainda, um alerta para a preocupação necessária, sobretudo quando boa parte das forças progressistas se acomode e se confunde, seja porque deixa de mobilizar e pressionar o seu governo – e deixa o campo livre para que só o conservadorismo e a fisiologia política o façam – seja porque se confunde num idealismo pueril, que desconsidera os desafios reais de administrar o tamanho, as carências e as complexidades de um gigante como o Brasil.
E aí, claro, deixa de fazer um contraponto eficiente contra a “coxice”, porque fica prostrada na vala comum do “politicamente correto”, do “republicano”, do “gestor”.
Os pés são meios de caminhar. Olhar apenas para eles, porém, é a melhor maneira de perder o rumo.

Manifestações reforçaram discurso da 
direita no Brasil, dizem cientistas políticos

Tatiana Farah (O Globo)
Com o discurso dos “contra tudo isso que está aí” e uma característica antipartidos e anticorrupção, as manifestações que tomaram as ruas em junho abriram a porta do armário da direita no Brasil. A opinião foi compartilhada pela mesa redonda “Direita, Volver”, durante o 37º encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), nesta segunda-feira em Águas de Lindoia, no interior de São Paulo. Para os especialistas, a direita sempre se sentiu inibida por ter sua imagem associada ao militarismo e aos golpes de estado, mas agora mostra sua face.
— Hoje ela perdeu a vergonha social de se assumir como direita. Porque a direita no Brasil era em geral militar, do nazismo da segunda guerra mundial, fascismo, integralismo e autoritarismo. Agora a direita no Brasil é uma reação ética “contra tudo isso que está aí”, para utilizar a expressão — avaliou o cientista político Adriano Codato (UFPR).
Os especialistas levantaram os temas mais usados nos discursos de direita no Brasil, como combate à corrupção, a crítica à política de cotas e às políticas sociais, e a reclamação de que os eleitores pobres não saberiam votar. Segundo o cientista político Fernando Filgueira, da UFMG, a direita se apropriou do tema da corrupção. A esquerda, que tem o PT no governo, fica na defensiva e dificilmente tomará o assunto como pauta principal. Para Filgueira, a crítica à corrupção passa da esfera do agente público para a instituição:
— O discurso sai da corrupção “no” Estado para a corrupção “do” Estado — aponta Filgueira.
O cientista político Cláudio Couto (FGV) lembrou que o conservadorismo tem crescido em manifestações como a tentativa de se recriar a Arena e a criação do partido militar. Ele também apontou que o PSDB, partido que já esteve na Presidência da República, tem se aproximado de temas e figuras de direita, deixando a origem de centro-esquerda. Já Codato apontou que tem crescido o discurso antipartidos e a ideia, considerada por ele equivocada, de que o Brasil vive uma crise representativa:
— Há um ódio à política competitiva, de partidos, mas essa é uma reação não só de extrema direita como de extrema esquerda.
Para entender o desempenho da direita parlamentar no Brasil, o pesquisador Adriano Codato (UFPR) apresentou um estudo inédito sobre os sete mil parlamentares que passaram pela Câmara dos Deputados entre 1945 e 2010. Segundo a pesquisa, a direita se tornou mais urbana e os ruralistas perderam espaço para o empresariado. Por outro lado, a direita ganhou integrantes mais barulhentos, que fazem eco na sociedade, como pastores evangélicos e comunicadores.
— Você sai daquele perfil do coronel do Nordeste e do bacharel do Sudeste, de gravata-borboleta. Houve uma inversão na direita tipicamente ruralista. No passado, proprietário rural era o tipo dominante e empresário urbano era residual na direita. Agora, o empresariado é superior aos ruralistas.
Para Codato, a industrialização do Brasil ajuda a explicar a mudança de perfil durante as décadas, mas um fato recente também influencia na perda de poder dos “coronéis”: o Bolsa Família.
— O efeito do Bolsa Família, principalmente, está desordenando os currais eleitorais. À medida que se dá dinheiro para as pessoas, que estão sacando dinheiro no cartão, elas não dependem tanto do coronel — disse Codato, para quem o Bolsa Família não constrói um novo curral eleitoral em torno do PT, partido do governo: – Essas pessoas (eleitores pobres) são governistas, não são petistas. Elas votam de forma pragmática e racional. Se há alguém que sabe votar neste país é o pobre.
João Feres Júnior, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, concordou com os colegas e deu ênfase ao papel das manifestações de rua:
— Podemos dizer com tranquilidade que a direita saiu do armário. Se podemos dizer que as manifestações de junho fizeram alguma coisa, foi isso.
Depois da mesa redonda, os especialistas falaram com a imprensa e avaliaram o cenário eleitoral de 2014. Para Claudio Couto, a nota divulgada pelo PT anteontem, falando que a eleição será a defesa de dois modelos, um conservador e outro progressista, faz uma polarização que interessa aos petistas. Os especialistas falaram da saída do PSB do governo e de uma possível aliança entre socialistas e tucanos.
— Talvez a estratégia seja pulverizar os votos no primeiro turno para, em um eventual segundo turno, fazer um blocão — disse Codato.
Por: Fernando Brito