O programa Contraponto de junho (segunda-feira, 2 de junho)
entrevistou o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luis
Fernandes, o segundo na hierarquia da pasta. O tema da entrevista foi a
Copa do Mundo de 2014 e as controvérsias e até a comoção social que tem
suscitado. Essa entrevista permite uma conclusão surpreendente, porém
óbvia.
Antes de prosseguir, vale explicar, para quem não sabe, que esse
programa é uma iniciativa do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé
e do sindicato dos Bancários de São Paulo e vai ao ar mensalmente. Este
blogueiro integra sua produção e participou, como entrevistador, de
todas as suas edições, com exceção da edição de abril, que versou sobre o
Dia da Mulher. O Contraponto já entrevistou personalidades como o
prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o jurista Dalmo de Abreu Dallari
e o pré-candidato ao governo de São Paulo Alexandre Padilha. É
transmitido mensalmente pela Rede Brasil atual, via streaming.
Abaixo, o banner do último programa
A entrevista começou pelo custo do evento, se foi usado dinheiro
público destinado a saúde e educação e quanto desse tipo de recurso foi
gasto. Abordou, também, a suposta ociosidade que dizem que se abaterá
sobre os estádios após a competição. Também foi discutida a questão das
remoções de moradores e, por fim, a visível apatia dos brasileiros com a
Copa.
Deixemos a questão principal – a que intitula o texto – para o fim.
Tratemos, primeiro, do “Gasto de dinheiro público que deveria ter sido
usado em Saúde e Educação”. Quanto do orçamento da Copa é composto de
dinheiro público?
Em primeiro lugar, há que distinguir o que são gastos com a Copa e
gastos em obras que serão usadas no cotidiano dos brasileiros e que
teriam sido construídas com ou sem a realização do evento, tais como
aeroportos, portos, estradas, pontes, viadutos, metrô etc.
Comecemos pelos aeroportos. Quem se lembra do “caos aéreo”? Até a
eleição de 2010, o assunto não saía da mídia, que bradava pela
insuficiência de nossos aeroportos…
Este que escreve tem conversado com pessoas de diferentes posições
políticas que já usaram os novos terminais e aeroportos que vêm sendo
inaugurados e as críticas são quase nulas, enquanto elogios abundam.
Mesmo a mídia quase não tem batido nos aeroportos
Ora, o país precisava, sim, de aeroportos e a Copa praticamente os
dará ao país de graça, porque o faturamento do evento, estimado por
estudos encomendados pelo governo a consultoria feita em parceria entre a
Fundação Getúlio Vargas e a Ernest & Young, chega 142 bilhões de
reais
Essa dinheirama pagará pelos estádios. E não só. Pagará por todas as obras de mobilidade urbana que estão sendo inauguradas.
Abaixo, um vídeo que todos os que negam a quantidade de obras
entregues precisam assistir. Em 5 minutos, você descobrirá o que a mídia
esconde sobre onde foram empregados os recursos e sobre quantas obras
de porte o Brasil edificou nos últimos sete anos.
Como se vê, essa situação caótica que a mídia pinta é menos, bem menos…
Mas quanto custou tudo isso? Entre obras de mobilidade urbana e
estádios, aproximadamente 35 bilhões de reais. Porém, desse total 26
bilhões foram gastos com obras de mobilidade urbana, 8 bilhões com
estádios e cerca de 600 milhões com equipamentos complementares, como
portais detectores de metal etc., que só serão usados na Copa.
É justo dizer que os cerca de 35 bilhões de reais foram todos
investidos exclusivamente por causa da Copa? Não é justo, não é correto,
não é verdade. Dos 35 bilhões, só 8 bilhões foram gastos exclusivamente
com a Copa, para construir estádios. O resto se refere a obras que as
regiões em que foram executadas necessitavam.
Foi atendida a reclamação contra o “caos aéreo”, por exemplo.
Mas foram gastos 8 bilhões de reais de dinheiro público em Estádios?
Não, não foram. Primeiro porque, dos 12 estádios construídos para a
Copa, 9 são públicos e 3 são privados. E, dos 8 Bilhões, cerca de 4
foram financiados pelo BNDES, que cobrará os empréstimos com juros e
correção, devolvendo aos seus cofres, com lucro, o que foi investido
pelo banco estatal de fomento.
Dizer que o dinheiro do BNDES tem que ser usado em Saúde e Educação, é
mentira. Nunca houve financiamento desse banco de fomento a essas
rubricas da administração pública. O BNDES financia desde a Globo até o
açougue da esquina. Financia indústrias, financia shoppings…
Mas restam os outros 4 bilhões do custo dos estádios. Esses saíram
dos Estados e de grupos privados. Pode-se dizer que é dinheiro público,
sim. E que os empréstimos do BNDES dos outros 4 bilhões aos Estados
terão que ser pagos com dinheiro público e – em parte menor – privado.
Só que quem faz essa conta parte do princípio de que o Brasil não
lucrará nada com a Copa. Todavia, indústrias produziram equipamentos,
máquinas, material de construção e operários e demais trabalhadores
foram contratados. Tudo isso gerou impostos, gerou empregos, movimentou a
economia.
Além disso, há o faturamento direto da Copa com turismo, com ocupação
de hotéis, com lotação de restaurantes, com impostos, com venda de
ingressos. E impostos e mais impostos. Há, ainda, uma infinidade de
outras receitas que advirão de evento dessa magnitude.
Enfim, os cofres públicos dos Estados recuperarão com lucro cerca de
R$ 6 bilhões de dinheiro público investido em estádios, frente a um
orçamento federal com Saúde e Educação que, segundo o representante do
Ministério do Esporte, alcança mais de R$ 800 bilhões.
E os estádios, ficarão ociosos após a Copa? O caso mais emblemático é
o do estado Mané Garrincha, em Brasília. Bem, dados do representante do
ministério do esporte derrubam essa tese. Esse estádio, antes da
reforma, tinha ocupação anual de 300 mil pessoas e, após a reforma, o
número saltou para 800 mil pessoas. E não houve Copa no Brasil nos
últimos 12 meses.
Por fim, chegamos à questão das remoções de famílias das regiões
próximas aos estádios que receberam obras de mobilidade urbana. Há uma
forte grita contra essas “remoções”. Teriam ocorrido despejos
“desumanos” de famílias para dar lugar às obras da Copa.
Em primeiro lugar, o representante do Ministério do Esporte explicou
que as famílias “removidas” para construção de estádios foram muito
poucas e quase todas eram de classe média. Mas onde foram feitas obras
de mobilidade urbana, pessoas humildes foram “removidas”. Contudo,
Fernandes garante que não houve “desumanidade” e que essas famílias não
foram jogadas no meio da rua.
Aliás, ele relatou que houve até famílias que não precisavam ser
“removidas” para construção das obras de mobilidade e que pediram para
ser incluídas na “remoção” porque as áreas para onde os “removidos”
foram levados são melhores.
Seja como for, fiquei de entrar em contato com Fernandes para mais
informações. Assim, quem tiver algum questionamento sobre “remoções
desumanas” que por favor informe que vou verificar com o
secretário-executivo do Ministério do Esporte.
Por fim, chegamos ao fulcro do post. Todos têm lido nos jornais,
ouvido ou assistido na mídia eletrônica que esta é primeira Copa do
Mundo que o Brasil não pinta suas ruas de verde e amarelo, que os carros
não trafegam com as bandeirinhas do Brasil ou adesivos. E é verdade.
Aos 55 anos, nunca vi este país tão desanimado com a Copa. As ruas, os carros, não estão enfeitados como sempre foi. Por que?
Pesquisa Ibope recém-divulgada mostra que 51% da população está a
favor da realização da maior competição de futebol do mundo e que 42%
estão contra. Ora, se a maioria dos brasileiros é a favor da Copa, por
que toda essa gente não festeja?
A resposta é muito simples: medo. Este que escreve descobriu isso ao
longo de semanas, quando passou a pesquisar por que pessoas que em Copas
anteriores punham bandeirinhas do Brasil ou fitinhas verde-amarelas nos
seus carros ou que enfeitavam suas casas e ruas com as cores do Brasil,
quando a competição é realizada em nosso país mudam de comportamento.
Você também pode fazer essa pesquisa. É tão óbvio o que está
acontecendo que até o representante do Ministério do Esporte concordou
comigo: a maioria que quer a Copa não está festejando porque teme
represálias da minoria que não quer. Ou de parte ínfima dessa minoria
que não hesitaria em depredar um carro ou uma casa enfeitados com as
cores do Brasil.
É duro, mas é verdade. Imaginem aquele sujeito que vai para a rua
quebrar tudo por raiva da Copa passando por um veículo com uma
bandeirinha do Brasil. Se estiver sozinho, pode riscar ou danificar de
alguma forma aquele veículo dissimuladamente. Se estiver em turba, pode
até atacar o mesmíssimo veículo com seu (s) ocupantes (s) dentro.
O mesmo vale para uma casa enfeitada para a Copa que esteja no
caminho de uma manifestação contra a Copa, por exemplo. Então escolha
você, leitor, que nome se dá a grupos que impõem suas ideias pela força a
quem não concorda. Eu, por exemplo, chamo-os de grupos de fascistas.