Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Marcha contra Wall Street reúne milhares em Nova York


Cerca de 10 mil pessoas participaram, quinta-feira, de um protesto nas imediações do coração do mundo financiero: a Bolsa de Valores de Nova York. Os manifestantes marcharam pelas ruas da cidade para exigir que os bancos e os empresarios ricos paguem os custos da crise econômica que eles causaram, e não os trabalhadores que enfrentam uma onda de demissões e um ataque político em nível nacional contra seus direitos trabalhistas.Um grupo de professores que participou da manifestação garantiu: “esta é a última vez que nos comportamos bem; na próxima, tomaremos a cidade”. O artigo é de David Brooks, do La Jornada.

Nova York, 12 de maio“Fuck Wall Street”, gritava hoje um manifestante ao marchar pela área, enquanto que a polícia impedia que milhares de professores, funcionários públicos, de manutenção e de vários setores de serviços, imigrantes, estudantes e ativistas comunitários se aproximassem do monumento do mundo financeiro: a Bolsa de Valores de Nova York.

Os manifestantes – mais de 10 mil segundo alguns cálculos – marcharam pelas ruas ao redor do setor financeiro e político desta cidade para exigir que os bancos e os empresários ricos paguem os custos da crise econômica que eles mesmos detonaram, e não os trabalhadores que enfrentam uma onda de demissões e um ataque político em nível nacional contra seus direitos trabalhistas.

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, quer demitir mais de 5 mil professores, fechar várias estações de bombeiros, reduzir serviços para crianças e programas para habitantes da terceira idade, entre outras medidas para equilibrar o orçamento. Por outro lado, nega-se terminantemente a aumentar os impostos para os ricos, sobretudo para o setor financeiro, com o argumento de que isso teria um efeito negativo na economia.

Mais emprego e mais serviços públicos
"Ouça, Bloomberg, o que diz disso? Quantos cortes ordenaste hoje?", gritava uma parte da marcha enquanto outros caminhavam desde vários pontos para deixar quase cercada a famosa rua de Wall Street. Acompanhados por bandas de metais e tambores, gritavam palavras de ordem contra a avareza empresarial e carregavam cartazes com demandas de emprego, escolas, serviços públicos e que os ricos paguem pelo desastre que criaram. “Nós pagamos impostos. Por que vocês não pagam?” – gritavam ao passar na frente de luxuosos edifícios. Poucos antes de partir, um contingente de professores advertiu entre aplausos e gritos: “esta é a última vez que nos comportamos bem; na próxima, tomaremos a cidade”.

Os governos em nível municipal, estadual e federal estão aplicando a mesma receita de austeridade por todo o país, acompanhada de um ataque feroz contra os sindicatos e, em alguns casos, contra os imigrantes. A história é a mesma: para resolver o déficit orçamentário provocado pela pior crise financeira e econômica desde a Grande Depressão, a decisão política é repassar o custo para os trabalhadores.

Ao mesmo tempo, os executivos e suas empresas desfrutam de uma prosperidade sem precedentes. O Wall Street Journal reportou que a remuneração para os principais executivos das 350 maiores empresas do país aumentou 11% e, em valor médio, chega a 9,3 milhões de dólares, um prêmio por seu grande trabalho em reduzir custos e elevar os rendimentos de suas empresas. Os líderes em receita são Phillipe Dauman, da Viacom, com 84,3 milhões de dólares anuais, seguido por Lawrence Ellison, da Oracle, com 68,6 milhões de dólares, e Leslie Monnves, da CBS, com 53,9 milhões de dólares.

Essa receita econômica é acompanhada de uma feroz ofensiva política contra trabalhadores e seus sindicatos. Forças conservadoras, tanto no âmbito político como no empresarial, promovem medidas com o propósito explícito de destruir sindicatos, em particular os do setor público. Iniciativas neste sentido foram promovidas em estados como Wisconsin, Michigan, Indiana e Ohio, entre outros, onde além de propor reduções de salários e direitos dos trabalhadores, incluem-se medidas para anular os direitos de negociação de contratos coletivos.

Dois estados, New Hampshire e Missouri, promoveram projetos de lei para somar-se aos 22 estados que têm leis com o nome orwelliano de “direito a trabalhar”, que, na verdade, limitam severamente a sindicalização ao permitir que os trabalhadores optem por não se filiar a sindicatos estabelecidos no setor privado. No total, 18 estados impulsionaram esse tipo de iniciativa somente no último ano, todos com a justificativa de que são necessárias para diminuir o déficit e quase todas promovidas por legisladores ou governadores republicanos, relatou ainda o Wall Street Journal.

As leis têm o objetivo de debilitar o poder político dos sindicatos que costumam apoiar o Partido Democrata e iniciativas liberais no país.
Isso levou a uma rebelião que reuniu centenas de milhares de trabalhadores em Wisconsin no início do ano, a qual se somaram estudantes, agricultores, imigrantes e organizações comunitárias que, durante várias semanas, tomaram o Capitólio doestado como parte de uma mobilização popular que gerou esperança neste país, e que muitos – incluindo os manifestantes – compararam com o que estava ocorrendo no Egito.

“Protesta como um egípcio”, foi uma das consignas da mobilização.
“Estamos com Wisconsin”, lia-se em cartazes e ouvia-se nas palavras de ordem nesta quinta-feira em Nova York. Do mesmo modo, surgiram expressões de resistência em Michigan, Ohio e Indiana contra medidas para debilitar os sindicatos.

Na Califórnia, os professores da California Teachers Association lançaram esta semana um movimento chamado Estado de Emergência para pressionar os legisladores a por fim aos cortes na educação. O sistema educacional sofreu cortes de 20 bilhões de dólares em três anos e 30 mil professores foram demitidos neste Estado.

Esta semana uma funcionária federal que está por ser demitida enfrentou o
presidente Barack Obama em um fórum transmitido pela televisão e perguntou-lhe o que faria se estivesse em seu lugar. Obama respondeu que é um momento difícil e tentou dar explicações, mas não conseguiu responder a pergunta.

Noam Chomsky escreve que o que está ocorrendo nos Estados Unidos é parte de uma guerra entre Estado e corporações contra os sindicatos, que está sendo travada em nível mundial deixando os trabalhadores em uma condição de precariedade como resultado de programas de enfraquecimento dos sindicatos, flexibilização e desregulação.

Mas os manifestantes de Nova York, nesta quinta-feira, também falaram do surgimento de uma resposta de resistência e rebelião que, embora ainda não seja massiva, vem ganhando pouco a pouco dimensões surpreendentes. Tom Morelli, ex-integrante de Rage Agains the Machine (banda hardrock dos EUA, uma das mais influentes e polêmicas da década de 1990), afirmou que os sindicatos são um contraponto crucial contra a cobiça empresarial que afundou a economia e ameaça o meio ambiente e o futuro.

Depois de participar das mobilizações de trabalhadores na capital de Wisconsin, disse que, de Cairo a Madison, os trabalhadores estão resistindo e os tiranos estão caindo, e apresentou uma nova canção que, segundo ele, é uma trilha sonora para a luta nos EUA. A letra afirma: este é uma cidade dos sindicatos/mantenham a linha; se vocês vierem retirar nossos direitos/vamos enchê-los de porrada.

Tradução: Katarina Peixoto


Fotos: Elizabeth Coll/La Jornada

Leve cidadania a Higienópolis no próximo sábado


Com a velocidade de propagação da internet, grande parte dos que se dispuseram – ou disseram que se dispuseram – a ir para diante do Shopping Higienópolis no próximo sábado para um “Churrascão da Gente Diferenciada” certamente já tomou conhecimento de que o jovem Danilo Saraiva, que convocou o ato público, propôs seu cancelamento.
As razões alegadas por Danilo para tanto, são de medo. Depois alterou “cancelamento” para alguma outra coisa que não ficou clara, mas a chamada que pôs no Facebook foi “Churrascão Cancelado”.
O rapaz já tinha manifestado medo de manter a montagem com a foto de Serra no divertido convite que confeccionou e que foi o que desencadeou uma onda que contaminou quase 200 mil pessoas. Apesar de a grande imprensa e vários blogs – este, entre eles – terem mantido a imagem, ele abriu mão da própria obra.
Depois, sempre manifestando medo, o rapaz alegou que poderia haver “violência”, “falta de espaço”, “sujeira”. Por último, declarou que poderia não haver “autorização” da Polícia Militar e da CET, mostrando que não conhece a Constituição Federal, que garante o direito de reunião e manifestação que esses órgãos, inclusive, reconheceram em nota sobre o possível evento.
Antes de prosseguir, há que dizer que não se pode culpar o jovem Danilo. Retirou a foto de Serra da convocação, segundo ele mesmo, porque o PSDB o teria pressionado. E diz que desistiu do ato, em sua concepção original, por conta do “grande número de pessoas” que aderiram, mas é óbvio que seus medos vão além. As próprias autoridades podem tê-lo amedrontado.
Vejam, o jovem pode estar empregado e ter medo de demissão, pois estaria mexendo com gente poderosa, os ricaços que conseguiram fazer o governo do Estado desistir de uma obra do porte de uma estação do metrô apenas para não incomodá-los. Isso sem falar de ameaças que quem já promoveu atos públicos, como este blogueiro, sabe que costumam ocorrer.
Volto a insistir: a foto do Facebook mostra que Danilo é bem jovem. Ele e outros jovens que ele diz que o ajudaram certamente se deixaram intimidar e deles não se pode exigir mais. A juventude de hoje não está acostumada a lutar pelos seus direitos como a geração que a antecedeu.
Não atribuo aos autores do Churrascão da Gente Diferenciada, pois, um pingo de acusação de covardia ou seja lá  do que for. É cultural do brasileiro, essa afasia cívica. E esse, aliás, é um dos nossos problemas. Na Europa, por exemplo, onde o povo galgou condições de vida invejadas pelo mundo todo, os cidadãos vão reiteradamente à rua protestar.
Mas a pressão foi muito grande. Colunistas de grandes meios de comunicação como Sergio Malbergier e Reinaldo Azevedo escreveram textos criminalizando o protesto, deixando no ar uma ameaça, além de conceitos tortos sobre o “direito” de pessoas não quererem uma obra pública em seus bairros, direito que some quando essa obra beneficia toda a cidade e a maioria dos que freqüentam o bairro.
É apenas uma questão matemática: 3.500 pessoas não querem a estação de metrô e quase 200 mil querem e se manifestaram nesse sentido pelo Facebook tanto quanto o grupo minoritário o fez por “abaixo-assinado” prontamente acolhido pelo governo do Estado.
Eis, aí, a diferença de direitos de cidadania que oprime o país ao lado de prisão especial e outras aberrações genuinamente tupiniquins.
Por conta disso tudo, no sábado, às 14 horas, estarei no Shopping Higienópolis para aderir a uma eventual manifestação que por lá venha ocorrer. Pode ser Churrascão ou o vozeirão da imensa maioria que repudia as idéias tortas desses que não compreendem o direito constitucional de manifestação e reunião ou tampouco o conceito de Res Publica.
Se até às 14:30 hs. do próximo sábado não tiver ninguém por lá, irei ao restaurante Sujinho comer um belo churrasco para me compensar pela decepção com a determinação deste povo de lutar pelos seus direitos e contra o domínio de poucos sobre o que é de todos. Se alguém quiser me acompanhar pelo menos lá, será um prazer.
PS: este texto foi inserido no post comunicando o “cancelamento” do “Churrascão da gente diferenciada”, que pode ser lido a seguir.
PS2: no fim da quinta-feira, por volta das 22:30 hs., o Danilo cancelou o cancelamento do churrascão e, agora, diz que vai acontecer.
PS3: Para que não reste dúvida do ato diante do Shopping Higienópolis amanhã, sábado, publiquei um post no Facebook. Confirme presença lá. Acesse clicando AQUI
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O perfil de Danilo Saraiva no Facebook anuncia: “CHURRASCÃO CANCELADO”. Como motivo, diz temer “violência”, produção de “lixo”, “falta de espaço diante do shopping Higienópolis”  e afirma que “não sabe” se a PM e a CET “autorizariam” o ato. Na quarta-feira no fim da tarde, ele também havia retirado a foto de José Serra do convite para o evento  alegando “pressão” do PSDB.
Abaixo, o texto que o jovem Danilo postou no perfil do Facebook que atraiu quase duzentas mil pessoas. Em seguida, faço um último comentário.
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Caros,
As intenções são nobres, mas devido ao grande número de adeptos, infelizmente, tivemos que cancelar o churrascão e transformá-lo em um ato realmente bonito.
A Associação Defenda Higienópolis e os moradores do bairro, que participaram do abaixo-assinado, estão de cabelos em pé. Com o Churrascão, conseguimos também que o Ministério Público investigasse as intenções por trás do cancelamento da estação de metrô na Avenida Angélica e até um pronunciamento oficial do governador Geraldo Alckmin. Somente esses mais de 45 mil confirmados serviram para provar que o povo paulistano (e todo mundo de outras cidades) que participou não é mesquinho como dizem por aí. Somos humanos, temos voz e direitos. Tais direitos não são garantidos apenas a uma elite, mas sim a todos que trabalham, que estudam e que passeiam por essa grande cidade e pagam impostos. Não é a conta bancária de um que determina a dignidade (ou falta de) do outro.
O metrô, hoje, não atende a necessidade de quem mora nesta cidade. O transporte público é risível. Ônibus lotados a tarifas absurdas, veículos em situação precária, falta de corredores, atrasos em obras, acidentes, são apenas algumas das situações que tornam São Paulo ainda mais caótica do que ela deveria ser, graças ao seu número de habitantes.
A ideia de cancelar o evento partiu por duas razões: ainda que a subprefeitura da Sé não tivesse mostrado qualquer atitude contrária ao Churrascão, a Polícia Militar e a CET mostraram preocupação, uma vez que a avenida Higienópolis, onde o evento seria realizado, é muito estreita e mesmo que nos seja assegurado o livre direito de nos manifestar, ainda não podemos obstruir vias públicas e tampouco nos responsabilizar pelas atitudes de manifestantes mal-intencionados, que por vezes vão ao evento apenas com intuito de depreciar a propriedade pública e privada, além de agredir aqueles que, como eu e meus amigos que me ajudaram a organizar o flashmob, estão apenas tentando fazer sua voz valer, acima de tudo. Em poucas palavras, seria quase certo o uso de violência física contra os manifestantes, e arcando com essa possibilidade, não podemos deixar que ninguém saia ferido por conta de uma brincadeira.
Há de se levar em conta também a quantidade de lixo que iríamos produzir. Isso é um prejuízo grande não só ao povo paulista como à prefeitura, que, apesar de ser quase sempre incompetente no que se refere aos direitos dos cidadãos, tem problemas maiores para resolver.

Sendo assim, modificaremos o caráter do evento. Ele será realizado com o intuito de realmente ajudar a população carente, que não têm condições nem voz para arcar com as atitudes mesquinhas desses moradores do bairro de Higienópolis que assinaram a petição contra a estação de metrô.
- Ao invés de uma baderna, podemos organizar um ato público de ajuda aos mais necessitados.
- Estamos ainda conversando com os órgãos competentes para que esse evento faça realmente uma diferença e mostre a nossa voz ao governo, que tanto oprimiu quem nunca teve condições de dialogar e seu único direito, quase sempre falho, foi o voto.
- Daremos coordenadas sobre o que será feito no sábado, a partir das 14h, com concetração na Praça Villaboim.
- A princípio, reuniremos assinaturas e as encaminharemos ao governo do estado para que eles prestem esclarecimentos, planos concretos e datas sobre as novas estações e linhas do metrô.
- Pretendemos também, ao invés de uma festa, arrecadar agasalhos e alimentos durante a manifestação, mas para isso, ainda precisaremos fechar um acordo com ONGs que se interessem pelo material arrecadado.





- Aos manifestantes que expressaram preconceito contra os judeus moradores do bairro, fica meu lamento. Vocês são tão pobres de espírito quanto aqueles que assinaram a petição contra o metrô.
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Realizei alguns atos públicos, obviamente que nunca com tal quantidade de gente. Realmente é complicado, dá um frio na barriga.
Em 2009, durante o ato da Ditabranda, convocado por este blog, compareceram 500 pessoas e tudo deu certo. Contudo, temi que alguma coisa pudesse ocorrer. Recebi, aqui, várias ameaças, inclusive.
Deve ter sido o que aconteceu com Danilo.
Assim mesmo, surpreende que Danilo acredite que precisa de “autorização” da PM e da CET para se reunir e se manifestar na via pública.
Como em 2009, portanto, reproduzo, abaixo, o preceito constitucional que garante a cada brasileiro o direito de manifestação e reunião. É bom que a juventude conheça. Pelo sim, pelo não…
ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Dos direitos e garantias fundamentais
Inciso XVI
Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Viva o churrasquinho e viva o Brasil!

Los Angeles, o churrasquinho de Higienópolis e a civilização imperfeita! 
por Rodrigo Vianna, O Escrevinhador, de Los Angeles

Enquanto transitava feito alma penada pelas “freeways” de Los Angeles – essas avenidas assépticas, artérias de uma cidade estranha e dominada pelo automóvel -, recebi com alegria a notícia de que em São Paulo prepara-se um histórico churrasquinho em frente ao shopping Higienópolis.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Vou tentar explicar…

A gente tem mania de dizer que o brasileiro, e o paulistano em particular, é elitista, preconceituoso, excludente. Tudo isso tem uma ponta de verdade. Tudo isso encontra amparo na nossa história secular de desigualdade. Mas ao olhar para Los Angeles – para a tristeza e a pasmaceira dessa gente nas ruas limpas e vazias – senti uma ponta de orgulho de ser brasileiro.

Sim. Vamos lembrar…

Em Nova York e Washington, jovens foram às ruas duas semanas atrás para “comemorar” o assassinato de Bin Laden. Foi um espetáculo triste. E não vi outros jovens – nas universidades, nas escolas, nas associações ou Igrejas desse imenso país da América do Norte – terem a coragem de ir pra rua e dizer: “alto lá; Bin Laden é (ou era) um assassino; mas até os criminosos têm direito a um processo legal, essa é a base da democracia”.

Não. Os Estados Unidos abriram mão disso. Trocaram Justiça por Vingança. E quem ousou protestar ficou isolado. Os Estados Unidos são um gigante combalido. E um gigante combalido é perigoso.

O Império do Norte foi duramente golpeado em 2001, pelo ataque covarde às torres gêmeas. Depois, teve sua economia golpeada com a crise de 2008 (fruto de desregulação alucinada dos “mercados”, que tomaram de assalto o Estado fundado por George Washington). A eleição de Obama parecia redenção, enganou muita gente. Mas Obama já jogou no lixo o discurso (e a pose de) modernizador, e contentou-se com o papel de cowboy.

Vocês viram a cena insólita de Obama caminhando pela Casa Branca depois de anunciar que a “justiça foi feita”, logo após o ataque no Paquistão? Patético. Obama virou Bush. Um simulacro de Bush.

Comparemos com o Brasil. Nesse mesmo período, de 2002 pra cá, nosso país elegeu um operário. Depois, reelegeu o operário. Enterrou assim o complexo de vira-lata. Muita gente temia (e havia os que torciam descaradamente para que isso acontecesse) que um homem do povo não desse conta do recado. Lula deu conta. Mais que isso: tirou 20 milhões de brasileiros da miséria, fortaleceu o mercado interno, freou o processo de desmonte do Estado, pôs o Brasil no centro das decisões internacionais, devolveu auto-estima ao povo brasileiro.

Lula cometeu muitos erros. Sem dúvida. Mas ajudou a fundar um novo Brasil. E nosso ex-presidente é um líder conhecido e admirado no mundo inteiro. Ando por Los Angeles, e quando digo que sou do Brasil costumo ouvir: “Uau, it´s cool”. Algo como: “Uau, que bacana”.

Os Estados Unidos são uma potência. Ninguém duvida. Mas são uma potência triste.

O atual presidente deles é um negro que chegou ao poder carregando esperança de renovação. Afundou-se no conservadorismo dos cowboys. A nossa atual presidente é uma mulher, ex-guerrilheira – que segue os passos de Lula.

O último ex-presidente deles é Bush Jr. O nosso, é Lula.

E o churrasquinho? Ah, isso tem tudo a ver com Lula…
Edu Guimarães quer saber: Serra vai convidar FHC pro churrasquinho?

O churrasquinho, como se sabe, é a reação bem-humorada a esse bando de infelizes que fez lobby para não ter Metrô perto de casa, em São Paulo. Tudo aconteceu em Higienópolis, condado habitado (santa coincidência) por FHC. Uma senhora, moradora do condado de Higienópolis, chegou a explicar porque não queria o Metrô: é que isso traz gente “diferenciada” pro bairro.

Seguiram-se reações indignadas. Ótimo! O brasileiro indigna-se. Não aceitamos mais a boçalidade elitista. Vejam que o Prates (aquele comentarista tosco da RBS) perdeu o emprego ao dizer que qualquer “analfabeto” podia ter carro. Agora, a turma de Higienópolis apanha por ter feito a opção demofóbica. Isso é muito bom.

E digo mais. Ótimo que – em vez de agressões, pancadas ou cascudos – a turma elitista receba como contragolpe um churasquinho! Essa é uma lição para o mundo. É uma saída genial. Diante do preconceito, reagimos com escárnio, não com violência.

Nos Estados Unidos, isso seria impensável. Olho pras ruas tristes de Los Angeles, para os condomínios sem alma da cidade, para as calçadas limpíssimas de Santa Mônica (o balneário aqui bem próximo da capital do Cinema), e me orgulho do Brasil.

Podemos dar ao mundo o exemplo de uma civilização imperfeita, que não pretende (e nem consegue) ser limpa, higiênica, asséptica. Somos um país forte, que pode ser rico, mas seguirá cheio de defeitos.

Aceitá-los, como se aceita camelôs e gente “diferenciada” na porta de casa, é um exercício saudável para evitar nazismos, fascismos e bushismos.

Tantaz vezes confrontado pela elite brasileira que não aceitava ser governada por um “diferenciado”, Lula não partiu pro confronto, nem tentou derrubar a bastilha. Lula reagia sempre com o churrasquinho.

O churrasquinho é como se o povo, como fez Lula durante 8 anos, dissesse pra essa elite tosca: “não queremos ser iguais a vocês… Vocês é que deviam ser iguais a nós. Venham, sejam brasileiros! Venham pro nosso churrasquinho, aproximem-se! No Brasil, há espaço até para elitistas boçais.”

Somos uma civilização imperfeita. É o melhor que podemos oferecer ao mundo.

Somos um país que responde ao preconceito com churrasquinho! Viva o Brasil.


Leia mais em: Esquerdop̶a̶t̶a̶
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Governo atenta contra livre mercado e baixa preços!


Nenhuma destas duas “capas” da edição de hoje de O Globo é verdadeira. Mas uma das notícias em manchete aconteceu, a outra não.
A que aconteceu, não virou nem chamada de capa – aliás, também não saiu na Folha, e não tem a desculpa de que foi tardia a matéria, pois o Estadão a publicou na primeira página.
Claro que meu caro leitor e leitora já sabem que é a informação de que, por determinação do Governo, a BR Distribuidora está praticando os preços justos de comercialização, e não os inflacionados de um “mercado” ávido por lucros extraordinários.
Mas baixar os preços que estão artificialmente inflados, proteger a economia nacional, o cidadão e sustar a contaminação inflacionária de serviços e mercadorias não é algo que ajude a desgastar o governo, ao contrário.
Então, o critério jornalístico é esse: publicar bem discretamente, quase escondido.
Se tivesse ocorrido o inverso, de o Governo pressionar a distribuidora da Petrobras para elevar seus preços e aumentar seus lucros, a outra manchete imaginária só teria um defeito: está pequena e “moderada” demais. Teria, talvez, um rótulo tipo “A inflação explode” e uma referência a “especialistas” prevendo a elevação geral de preços que isso iria provocar.
Outro dia me lembraram de uma piada sobre O Globo, que me ocorreu com essa história.
O Papa João Paulo II visitava o Rio e fazia um passeio de barco pela Baía da Guanabara. O vento forte do mar carregou seu solidéu – aquele chapeuzinho de pano que religiosos usam sobre a cabeça. O governador do Estado, na época, pulou do barco, caminhou sobre as águas, deixando todos boquiabertos, apanhou o solidéu e o devolveu ao Papa.
Manchete de O Globo, no dia seguinte: ‘BRIZOLA NÃO SABE NADAR”
A gente ri, ouve piadas cariocas, mas isso é uma tragédia. Um povo que não pode contar com o mínimo de equilíbrio de seus grandes jornais e emissoras de televisão é um povo condenado a viver submergido na mentira e na manipulação.
Vocês verão que, logo, os figurões do jornalismo de economia estarão todos, como na piada, dizendo que o Governo cometeu uma heresia econômica, que atentou contra o livre mercado, que vai causar prejuízos imensos à Petrobras e seus acionistas. E, claro, dizendo que os combustíveis estão caros por causa da carga tributária, da voracidade fiscal do Governo. Alta ou baixa a carga tributária, lógico que ela não explica a alta dos combustíveis, por uma singela razão: não mudou em nada.
Onde está o jornalismo “investigativo” para acompanhar o que aconteceu com o litro do que saiu da usina  a R$ 1 e chegou na bomba a R$ 2,55? Quem, aonde, como e porque se ganhou tanto neste caminho?
Repito, entristecido: os grandes jornais tornaram-se simples máquinas de propaganda política. O interesse público é nada perto do interesse de criar um estado de ânimo na população que produza o objetivo político – quando não eleitoral – que almejam.

A empresa moderna ou “viva o seu Manoel da Padaria!”


O seu Manoel da Padaria, quando a padaria está com poucos clientes, chama o Zezinho e diz: “olha, Zezinho, eu gosto muito de você, mas você vê que nem as moscas estão vindo aqui na padaria, vou ter de te mandar embora, meu filho, você me perdoe”.
Quando a padaria está “bombando”, ele chama o Zezinho e diz: “escuta cá, tu não tens um irmão ou um amigo que possa vir ajudar no balcão?”
As empresas “modernas” não seguem a lógica do Seu Manoel. A Gol, por exemplo, teve lucro recorde no primeiro trimestre, de R$ 110 milhões, 362% a mais que no mesmo período no ano passado.
A razão? O recorde de passageiros no mercado interno. Aumento de 25,48% em março, depois de outro aumento de 9, 34% num fevereiro sem carnaval. E a Gol tem 39% do mercado interno de passagens aérea. Passagens que, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil aumentaram em até 65%.
Bom, e o que é que faz a Gol diante destes números espetaculares e da avalanche de Donas Regina nos aeroportos? Faz algo que o Seu Manoel da Padaria jamais faria.
Fechou, no primeiro trimestre,  1.100 postos de trabalho. E diz que isso vai economizar R$ 45 milhões para a empresa. Diz que boa parte estava vagas e que “só” cerca de 250 trabalhadores foram demitidos em fevereiro e março, não especifica se a cada mes ou em ambos.
A alegação é que precisa se proteger do aumento dos custos do petróleo. Mas como, se o lucro cresceu 362% e as despesas com combustíveis subiram 21,4%, no mesmo período
Espere aí, o que tem estes chefes de família a ver com este aumento do petróleo? Funcionário não bebe querosene de aviação, quem faz isso é o avião. Vão reduzir o número de vôos, com a passageirada “bombando” nos aeroportos? A taxa de ocupação, em março, foi 70,4%, maior que a do ano passado, que era de 65%, o que já é alto.
Então, em lugar de aumentar sua eficiência, fazer promoções especiais – a Gol sempre foi mestra nisso – a primeira providência é demitir. E piorar a vida dos passageiros.
Bem, o Seu Manoel da Padaria sabe que, com a padaria cheia, mandar o Zezinho embora é aumentar a confusão. E ver que o cliente, olhando a padaria em caos, pode ir parar na padaria do Seu Joaquim.
Mas a Gol, ao contrário do seu Manoel, pode por a culpa no Governo pelo caos nos aeroportos, não é?

Milhares de pessoas participam de greve geral na Grécia

O centro de Atenas encheu-se nesta quarta-feira de milhares de manifestantes que protestaram contra as medidas de austeridade implementadas pelo governo e contra um novo plano de ajuda externa. Trabalhadores de transportes públicos, serviços públicos, saúde e educação paralisaram suas atividades. Governo quer arrecadar cerca de 76 bilhões de euros até 2015 mediante a privatização de empresas estatais e a venda de bens públicos

A segunda greve geral promovida em 2011 surge no momento em que já se sabe que o governo pretende aplicar um novo plano de austeridade para arrecadar cerca de 76 bilhões de euros até 2015 mediante a privatização de empresas estatais e a venda de bens públicos, e em que surgem informações que apontam para a necessidade da Grécia reestruturar a sua dívida e solicitar um novo plano de ajuda externa.

Milhares de manifestantes concentraram-se no centro de Atenas em resposta ao apelo lançado pela Confederação de Trabalhadores da Grécia (GSEE), que representa 1,5 milhão de pessoas, e o Sindicato de Funcionários Civis (ADEDY), que representa outros 700 mil.

Empunhando cartazes contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia, os gregos exigem que “os ricos paguem a crise e não o povo”, e apelam ao povo para que não baixe a cabeça e não se deixe vencer.

Vassilis Xenakis, representante de um sindicato do setor público, afirmou à BBC Radio 4 que “há um ano, o governo anunciou e tomou algumas medidas contra os funcionários públicos, contra os trabalhadores, contra os salários” e “o resultado foi que a população ficou mais pobre, os mercados estão congelados, não há crescimento, não há produtividade e ninguém investe”. Agora, adianta Vassilis, “o governo volta a pedir mais medidas, mas quem é que pode aceitar novamente essas medidas sem resultados?”.

Lojas fechadas, vôos cancelados, transportes públicos paralisados, escolas encerradas e hospitais em serviços mínimos. Este foi o cenário com que se deparam os atenienses logo pela manhã.

Também os jornalistas aderiram à greve de 24 horas que juntou a função pública e o setor privado contra as políticas de austeridade e os planos de privatização do governo.

Segundo noticia do El Pais, as autoridades gregas utilizaram gás lacrimogéneo para dispersar alguns manifestantes, sendo que um agente ficou ligeiramente ferido e pelo menos cinco manifestantes foram transportados de ambulância para o hospital.

As autoridades gregas apontaram um total de 20.000 manifestantes em Atenas.


Fotos: Foto de Pantzartzi, EPA/Simela

Terror econômico: a dura vida dos trabalhadores nos EUA


A recuperação econômica sem criação de postos de trabalho nos EUA está se convertendo em uma recuperação sem trabalho e renda. Os salários se contraem, os postos de trabalho escasseiam, o auxílio desemprego acaba e o dólar despenca. Pode-se duvidar que os EUA estão em meio a uma depressão? Há 14 milhões de desempregados, 42 milhões dependendo dos cartões de alimentação, os sem teto não param de crescer, os despejos subiram para 2 milhões por ano. A notícia economicamente mais relevante deste primeiro semestre de 2011 é a da queda dos salários reais. A fim de manter os postos de trabalho, milhões de estadunidenses estão aceitando reduções salariais. O artigo é de Mike Whitney.

Na semana passada, o Gallup informava que “mais da metade dos estadunidenses diz que a economia está em recessão apesar dos dados oficiais, empenhados em mostrar uma recuperação moderada. A pesquisa Gallup de 20-23 de abril descobriu que só 27% diz que a economia cresce. Outros 29% dizem que a economia encontra-se em depressão, 26% que se trata de uma recessão, enquanto 16% acreditam que ela está em desaceleração”.

Assim, 55% dos estadunidenses acreditam que o país está em uma depressão ou em uma recessão, cinco anos depois do estouro da bolha imobiliária (2006) e três anos depois do colapso de Lehman Brothers (2008). Os resultados obtidos pelo Gallup batem com os de outras pesquisas que revelam um crescente desespero na opinião pública. Uma pesquisa Globescan, por exemplo, descobriu que uma boa quantidade de estadunidenses deixou totalmente de acreditar no capitalismo de livre mercado, enquanto que outras sondagens mostram uma confiança decrescente nas instituições governamentais, na Reserva Federal (FED), no Congresso, no sistema judiciário e nos meios de comunicação.

A propósito disso eis aqui o que foi dito no New York Times:

“De acordo com a última sondagem de opinião de New York Times/CBS News, os estadunidenses estão mais pessimistas do que em nenhum outro momento desde o segundo mês da presidência de Obama a respeito das perspectivas econômicas e dos rumos gerais da nação. Durante os primeiros meses de Obama, o país ainda estava imerso na Grande Recessão (...). Captando o que parece ser uma abrupta mudança de atitude, a pesquisa mostra que o número de estadunidenses que acreditando que a economia piorou saltou 13 pontos percentuais em apenas um mês”.

“A frustração a respeito dos rumos do crescimento econômico só tem aumentado: em outubro passado, 28% dos entrevistados dizia que a economia estava piorando; nesta última sondagem esse número saltou para 39%”. (Nation’s Mood at Lowest Level in Two Years, Poll Shows, New York Times).


Nem toda a propaganda produzida conseguiu alterar a opinião pública, que está convencida de que as coisas estão piorando. E as coisas estão, de fato, piorando, a não ser que você seja executivo de um fundo de investimentos ou pertença à nata de Goldman Sachs. Para estes, as coisas nunca foram melhores. A Reserva Federal inundou o mercado com o combustível supersônico das baixas taxas de juros e tudo vai bem no mundo da bolha de Wall Street. Mas se você for um dos 3 milhões de trabalhadores mais estropiados, o mais provável é que esteja cruzando os dedos no fim do mês à espera de que o crédito de seu cartão não tenha ultrapassado o limite na hora de pagar a mercearia, sob pena de sair envergonhado pela porta por onde entrou. Eis o que disse o Wall Street Journal, ao explicar os êxitos da FED:

“Desde o dia 27 de agosto do ano passado – dia em que Ben Bernanke lançou as bases de sua segunda “flexibilização quantitativa” – os investidores se lançaram a investimentos de maior risco. Desde o dia 26 de agosto, o índice Standard&Poor’s para 500 valores subiu 28%. Valores menores e geralmente de maior risco tiveram melhores resultados todavia com o índice Russell 2000 para pequenas empresas, produzindo lucros de 41% (...)”

“Os bônus das corporações empresariais dispararam e os preços das matérias primas também subiram espetacularmente. O ouro subiu 22% desde o dia 26 de agosto, e a prata 143%, batendo-se em ambos casos marcas nominais históricas. Até a demanda de títulos hipotecários subprime, tão injuriados como causadores da crise financeira, voltou a crescer” (“FED Searches for Next Step”, Wall Street Journal”).


Em alta, em alta e mais em alta. Tudo em alta. O índice S&P’s 28%; o índice Russell, 41%; e até se registra uma febril demanda de títulos hipotecariamente respaldados. Graças às alegres políticas monetárias de Bernanke, os mercados estão disparados, enquanto que os trabalhadores debilitam-se em um afundamento sem fim, capazes apenas de chegar ao fim do mês. A disparidade entre ricos e pobres é maior agora do que em nenhum outro momento desde a Era da Cobiça (a última terça parte do século XIX), e não há indícios de que essa situação será revertida. Os ricos se tornam mais ricos, e o resto segue despencando rumo à pauperização.

Entretanto, o dólar segue caindo ladeira abaixo, erodindo o poder de compra dos consumidores e forçando à população trabalhadora a optar entre o depósito de gasolina ou o dentista da pequena Jenny. A maioria opta pela gasolina. Assim, ao menos, podem chegar à fábrica na segunda-feira para arrebentar-se em outra semana de trabalhos penosos. Mais um trecho do Wall Street Journal:

“O dólar caiu a um de seus menores valores em muitos anos frente às principais moedas, debilitado por um amálgama de políticas monetárias frouxas e desequilíbrios fiscais que deixaram os investidores com uma cédula verde destroçada (...) A política monetária da Reserva Federal foi primordialmente negativa para o dólar. Em um mercado em que os investidores gravitam em torno de ativos de maiores rendimentos, o dólar foi abandonado pelos vendedores de títulos que parecem se sentir mais confortáveis com os euros, ainda que a Europa se ache em luta aberta para conter uma crise da dívida que vem ficando mais forte nos dois últimos anos”.

“A força diretriz é a política monetária (estadunidense) e o pé de página a política fiscal. Sabemos que se aproxima um trem descarrilhado e isso nos inquieta”, disse Andrew Bush, estrategista para política global de divisas em BMO Capital Markets” (“Dollar Tumbles With US Monetary, Fiscal Policy in Focus”, Wall Street Journal”).


“Trem descarrilhado”: é uma boa metáfora. A enfraquecida cédula verde está causando sofrimento real em lares que se encontram agora menos capazes de poupar, ou de devolver dívidas que herdaram do estouro da bolha imobiliária, quando o valor de sua casa começou a cair para níveis inferiores ao de sua dívida hipotecária. Agora pagam preços mais altos no posto de gasolina ou na mercearia e ficam sem dinheiro para outros usos, incluindo aí as emergências de saúde. Se Sammy cai no ginásio da escola e machuca a clavícula, o gasto resultante se acumulará no cartão Visa, isso no melhor dos casos, ou seja, se o limite do cartão não tiver sido ultrapassado. Que felizardo!

Mas o problema real são os postos de trabalho. Eles simplesmente não existem e ninguém em Washington quer fazer nada a respeito. Em sua coluna da semana passada, Paul Krugman escreveu:

“No mês passado, mais de 14 milhões de estadunidenses estavam desempregados, de acordo com a definição oficial (...) Alguns outros milhões trabalhavam em tempo parcial porque não conseguiam encontrar empregos de turno integral. E não estamos falando de privações temporais. O desemprego de longo prazo, outrora uma raridade neste país, converteu-se em algo demasiadamente normal: mais de quatro milhões de estadunidenses estão fora do mercado de trabalho há um ano ou mais”.

“Pode-se dizer que tudo isso, somado, constitui um argumento claro para que se aja mais. No entanto, o senhor Bernanke acaba de dizer que já fez tudo o que poderia ser feito. Por quê? (“The Intimidated Fed”, Paul Krugman, New York Times).


Sim. Por quê? Se o programa de Bernanke de compra de títulos públicos foi um êxito tão manifesto, por que então ele não dá prosseguimento a ele e consegue com que as pessoas voltem a trabalhar? É perguntar demais? Há 14 milhões de desempregados, 42 milhões dependendo dos cartões de alimentação, os sem teto não param de crescer, os despejos subiram para 2 milhões por ano e a maioria das pessoas acredita que estamos em uma depressão. Não acha que poderia nos dar uma mão, Benny?

Você tem alguma ideia do mal que é realmente o desemprego? Passe os olhos nisso que aparece em Calculated Risk:

“Há hoje (março de 2011) nos Estados Unidos, 130.738 milhões de postos de trabalho assalariado. Em janeiro de 2000 havia 130.781 milhões. Assim, passados onze anos, não houve nenhum aumento do volume de postos de trabalho assalariado. E a renda familiar média em dólares era de 49.777 em 2009. Apenas um pouco acima dos 43.309 dólares de 1997 e abaixo dos 51.100 dólares de 1998 (...)”.

“Há atualmente 7.25 milhões de postos de trabalho assalariado menos que antes do começo da recessão em 2007. Agora, temos 13,5 milhões de estadunidenses no desemprego; outros 8,4 milhões estão trabalhando em tempo parcial por razões econômicas e cerca de 4 milhões de trabalhadores abandonaram a força de trabalho. Dos desempregados, 6,1 milhões estão sem emprego há seis meses ou mais”. (“More than a Lost Decade”, Calculated Risk)


Uma década inteira sem criar postos de trabalho. Ninguém é contratado, os salários estão congelados e o transbordante déficit em conta corrente atual fornece a cada ano 500 bilhões de dólares para a criação de novos postos de trabalho no estrangeiro. E tudo o que Obama pretende fazer é discursar sobre a necessidade de reduzir os déficits.

E o que acontece com os postos de trabalho que desapareceram? Não eram bons postos de trabalho? Quero dizer, ao menos permitiam a alguém colocar comida na mesa e pagar as contas, não?

Pois a resposta é não. Agora mesmo, cerca de 65 milhões dos 130 milhões de postos de trabalho existentes em nosso país pagam entre 55 mil e 60 mil dólares por ano. Em outras, proporcionam um “salário para viver”, que permite às famílias não cair em uma situação de pobreza abjeta. Os outros 65 milhões de trabalhadores se arrastam com trabalhos de tempo parcial ou com pequenos trabalhos mal pagos, que rendem uma receita entre 20 e 25 mil dólares ao ano.

Esta é, pois, a situação (de acordo com David Stockman): desde 2007, perdemos 6,5 milhões de postos de trabalho bem remunerados, sem que tenhamos sido capazes de criar nenhum. Todo o crescimento se deu entre os postos de trabalho com baixos salários. Stockmnan diz:

“Na última década, perdemos cerca de 10% da economia de receitas médias e, mesmo considerando a suposta recuperação de agora, não conseguimos recuperar um só dos 6,5 milhões de postos de trabalho de classe média perdidos (...) Nesta economia, a distribuição de renda se converteu em um grande problema, e a situação está piorando, não melhorando”. (David Stockman: Lack of Middle Class Jobs plus Low Growth equals “Alleged Reovery”, Yahoo Finance)

Um antigo adepto de Reagan falando de “distribuição de renda”? Agora é um tipo de que provoca escândalo.

Pano de fundo: os postos de trabalho bem remunerados são exportados para ultramar, empurrando ao abismo as classes médias trabalhadoras estadunidenses. E a situação piora porque agora mesmo inclusive os postos de trabalho com baixo salário estão cada vez mais difíceis de encontrar. Olhem só isso, procedente de Bloomberg:

“O McDonald’s e suas franquias contrataram 62 mil pessoas nos EUA logo depois de receber mais de um milhão de solicitações de emprego, disse hoje a companhia com sede em Oak Brooks, Illinois, em uma declaração divulgada por correio eletrônico...” (Bloomberg News)

Um milhão de solicitações para servir hamburguers! Isso diz tudo.

Assim, em resumo, até os postos de trabalho mais servis e degradantes estão escasseando, o que dá uma prova adicional de que nos encontramos em uma depressão. As cifras de desemprego começaram a crescer de novo, lançando mais sombras sobre a suposta recuperação. Os novos casos registrados de desemprego chegaram a 25 mil na terceira semana de abril.

As empresas estão cortando custos para enfrentar a alta dos preços das matérias primas, que estão minguando os lucros. Uma vez mais, as cifras do desemprego bateram o recorde com 400 mil em três semanas, indicando uma maior debilidade da economia. No Wall Street Journal pode-se ler:

“No ano passado, cerca de um milhão de estadunidenses foram incapazes de encontrar trabalho após esgotar a cobertura do seguro desemprego, segundo dados divulgados pelo Departamento de Trabalho (...)”.

“Cerca de 8,2 milhões de trabalhadores desempregados recebiam uma cobertura de desemprego ao terminar a semana de 9 de abril, disse o Departamento do Trabalho, em seu informe semanal sobre o desemprego. Pode-se comparar essa cifra com os cerca de 10,5 milhões de indivíduos que no ano passado, na mesma época, recebiam subsídios: 2,3 milhões a menos!” (“One Million exhausted jobless benefits in past year”, Wall Street Journal)


Essa é a navalhada mais cruel. E também a que causa mais confusão. Por um lado, as pessoas que, sem comê-lo nem bebê-lo, perderam o emprego e foram jogadas nas filas de desempregados, aproximando-se de um mundo de pobreza demolidora. Por outro lado, ao perder o auxílio desemprego contribuíram para rebaixar as cifras de desemprego, o que dá à política do “não faça nada” de Obama uma aparência de eficácia. Um mal duplo, portanto.

Para terminar, esta nota sobre os salários do antigo Secretário do Trabalho, no governo Clinton, Robert Reich:

“A notícia economicamente mais relevante deste primeiro semestre de 2011 é a da queda dos salários reais (...) A fim de manter os postos de trabalho, milhões de estadunidenses estão aceitando reduções salariais. E se já foram despedidos a única maneira de encontrar um novo trabalho é aceitar salários ainda mais baixos”.

“A contração salarial está colocando as famílias estadunidenses em uma situação esquizoide de duplo vínculo. Antes da recessão eram capazes de pagar as faturas porque dispunham de dois salários. Agora, o mais provável é que disponham de um e meio, ou de somente um e em processo de contração (...)”.

“A recuperação econômica sem criação de postos de trabalho que os EUA estão experimentando está se convertendo em uma recuperação sem salários. O que aponta para uma probabilidade de nova recessão muito maior que o risco de inflação”. (“The Wageless recovery”, blog de Robert Reich)


Quem falou de “duplo mergulho na crise”?

Os salários se contraem, os postos de trabalho escasseiam, o auxílio desemprego acaba e o dólar despenca. Pode-se duvidar que estamos em meio a uma depressão?

(*) Mike Whitney é um analista político independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a revista CounterPunch.

(**) Tradução de Katarina Peixoto a partir da versão em língua espanhola publicada em Sin Permiso.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Churrascão da “Gente Diferenciada” em Higienópolis


A “sapiência” do eleitorado paulista mantém os tucanos no poder no Estado de São Paulo desde 1995. Detalhe: governarão até 2014. E agora, por razões que explico a seguir, o ex-Estado relativamente mais rico da federação, que as administrações tucanas conseguiram pôr em 3º lugar, abrigará um evento simbólico no próximo sábado, 14 de maio.
Conforme a imprensa noticiou amplamente nesta quarta-feira, o governador Geraldo Alckmin, atendendo ao abaixo-assinado da imensa multidão de 3.500 ricaços que moram na região do bairro paulistano de Higienópolis, não mais construirá estação de metrô na avenida Angélica, que abriga um fluxo de 750 mil pessoas por mês.
A obra contemplaria milhares de pessoas que trabalham na região, mas os moradores ricaços, entre os quais se perfila seu filho mais “nobre”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dizem que não querem ver aquela “gente diferenciada” (negros, nordestinos, enfim, pobres) sendo atraídos pela facilidade de chegar até lá. Como controlam o picolé de chuchu, foram atendidos.
Dizem, aliás, que a República de Higienópolis está pleiteando independência. Querem que o bairro da elite branca paulista seja transformado em Estado autônomo e que FHC seja coroado rei. Para ir lá, agora, só com passaporte e visto. Além disso, pedem que os serviçais que ali labutam sejam atirados de paraquedas diariamente. Não dizem como eles deixarão o local de trabalho…
Diante disso tudo, está sendo agendado um último evento popular no mais novo Estado autônomo da América Latina. Será o “Churrascão da Gente Diferenciada”.  Você que é de São Paulo, não perca a última chance de passear pelas alamedas arborizadas que quase 11 milhões de paulistanos pagam para ser mantida tão aprazível. Compareça.

Sem querer, blog de Serra explica crise da oposição


Farmaceuticas, Medicamentos E Patentes

PESADAS NUVENS PAIRAM NO HORIZONTE...............

Pré-sal ajudará a preservar Amazônia


Muito legal a matéria do jornal Brasil Econômico com as declarações do presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tomalsquim, de que o gás natural associado ao petróleo que será retirado das áreas de acumulação do pré-sal vai permitir, senão o cancelamento, pelo menos o adiamento da necessidade de explorar outras áreas de potencial de geração de energia elétrica na Amazônia, segundo decidiu o Conselho Nacional de Política Energética.
Com isso, ficam “na geladeira” cinco projetos de construção de usinas ao longo do curso do Rio Xingu, no Pará.
Quando a gente fala que petróleo é energia suja – e é mesmo – a gente tem de lembrar que, junto com ele, vem o gás, que é o combustível menos poluidor. Aí está um exemplo do que a gente fala quando diz que o assunto petróleo não pode ser tratado superficialmente do ponto de vista ambiental. Primeiro, porque ele é ainda é a chave de poder econômico. Depois, porque a pressão por energia, quando a gente tem diversidade de fontes, pode ser enfrentada com mais racionalidade.
E, sobretudo, usando os recursos do petróleo para ampliar e desenvolver o aproveitamento das energias da biomassa, do vento e do sol, que não agridem o planeta.

Enquanto isso na Liga da Justiça...

Vídeo: a máfia de São Paulo é mais perigosa que a Al Qaeda


inglês Robert Fisk é o mais respeitado jornalista de língua inglesa em assuntos do Oriente Médio.

Conversa Afiada recebeu de Gregório de Mattos, genial poeta baiano, o seguinte e-mail:

Cara Georgia,


Bom Dia,


Acho que é uma boa pauta para o Conversa Afiada.


Segue a colagem que fiz sobre a reportagem da GloboNews com o Robert Fisk. Esta colagem é exatamente o final da reportagem, onde Fisk, com um sorriso maroto, responde ao jornalista Mounir Safatli, que a máfia de São Paulo é mais perigosa que a Al-Qaeda.


Segue o link, da reportagem.


Abraços,


Gregório de Mattos


Assista a declaração a partir dos 23 minutos.

Chomsky


Dessa vez, Chomsky tá ótimo! Já pensaram se a Luftwaffe batizasse seus aviões, um de "O Judeu" outro de "O cigano"? A indignação 'ética' alcançaria os píncaros! Pois é exatamente o que fazem os EUA, que batizaram seus aviões de "Tomahawk" e "Apache": dois nomes de tribos perseguidas e vítimas de holocausto. Contudo... Cadê os sionistas solidários com os apaches? Ninguém sabe ninguém viu. Já pensaram o que aconteceria no mundo, se um bando de mascarados invadissem a Casa Branca, fuzilassem o Bush e jogassem o cadáver no mar?! Ruim por ruim, Bush fez muito mais mal ao mundo, que Osama. Mesmo assim, não ia ter lugar, nas televisões pro xororô dos 'civilizados' contra a 'barbárie'. Contudo... Cadê os indignados pelo assassinato de Osama? Ninguém sabe ninguém viu. Pra que, diabos, serve a Rede Globo?!





Noam Chomsky: “Minha reação ante a morte de Osama"

Do Vermelho - 9 de Maio de 2011 - 15h20

Poderiamos perguntar a nós mesmo como reagiríamos se um comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico.

Por Noam Chomsky* , no Guernica Magazine
Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se atirou contra eles.

Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.

O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas instantâneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Por tanto, Obama simplesmente mentiu quando disse sua declaração da Casa Branca, que "rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram realizados pela al-Qaida.

Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Bosto. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.

Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.

O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.

Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.

Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórica, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.

O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.

É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".

Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.

*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.

Fonte: Cubadebate
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Postado por celvio