Em nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda (12), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na liderança em todos os cenários de primeiro turno da disputa pelo Planalto em 2018; o petista, que já liderava no último levantamento do instituto, realizado em julho, ampliou sua vantagem nas simulações; Lula venceria no segundo turno todos os três potenciais candidatos do PSDB, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, mas perderia para Marina Silva
247 - Em nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda (12), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na liderança em todos os cenários de primeiro turno da disputa pelo Planalto em 2018. O petista, que já liderava no último levantamento do instituto, realizado em julho, ampliou sua vantagem nas simulações.
Em um cenário contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), Lula teria 25% das intenções de voto e o tucano, 11%. Com esse resultado, o mineiro fica atrás também da ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade), que aparece com 15% das intenções.
Contra Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, Lula tem 26%.
Lula também venceria em todos os cenários de segundo turno, com exceção de uma eventual disputa com Marina Silva. Nesta simulação, a ex-senadora teria 43%, contra 34% do petista.
Os três potenciais candidatos do PSDB —Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra— não venceriam em nenhum dos cenários analisados pelo Datafolha.
"Uma coisa é a mídia plutocrática brasileira incentivar e
incitar abertamente a queda de um governo democraticamente eleito. De
acordo com a Repórteres Sem Fronteira, esse comportamento representa uma
ameaça direta à democracia e à liberdade de imprensa. Mas é muito
diferente testemunhar a fabricação de manchetes e narrativas falsas
insinuando que uma grande parte do país apoia o indivíduo que tomou o
poder de forma antidemocrática, quando isso não é verdade", escrevem os
jornalistas Glenn Greenwald e Erick Dau, em texto que esmiúça a pesquisa
Datafolha feita para alavancar o apoio a Michel Temer
UM DOS MISTÉRIOS mais obscuros da crise política que atingiu o país nos últimos meses (conforme relatado inúmeras vezes pela Intercept )
tem sido a ausência completa de pesquisas de opinião nos grandes meios
de comunicação e órgãos de pesquisa do país. Há mais de três meses, no
dia 17 de abril, a Câmara dos Deputados votou em favor de enviar ao
Senado Federal o pedido de impeachment da presidente democraticamente
eleita, Dilma Rousseff, resultando na investidura temporária de seu
vice-presidente, Michel Temer, como “presidente interino”. Desde a posse de Temer, o Datafolha – instituto de pesquisa utilizado pelo maior jornal do país, Folha de São Paulo –
não havia publicado pesquisas de opinião sobre o impeachment da
presidente, nem sobre o impeachment de Temer, e nem mesmo sobre a
realização de novas eleições para presidente. Aúltima pesquisa do instituto antes
da votação do impeachment foi realizada em 9 de abril e apontava que
60% da população apoiava o impeachment de Dilma, enquanto 58% era
favorável ao impeachment de Temer. Além disso, a sondagem indicou que
60% dos entrevistados desejavam a renúncia de Temer após o impeachment
de Dilma, e 79% defendiam novas eleições após a saída de ambos.
A última pesquisa de outra grande empresa do setor,
o Ibope, foi publicada em 25 de abril, e concluiu que 62% desejavam que
Dilma e Temer saíssem e que novas eleições fossem realizadas; 25%
queriam a permanência de Dilma e a conclusão de seu mandato; e apenas 8%
eram favoráveis a situação atual: com suspensão de Dilma e Temer como
presidente interino. Essa pesquisa, mesmo sendo negativa para Temer, foi
realizada há algum tempo, em abril deste ano. De forma surpreendente, mesmo três meses depois da entrada de Temer, a
poucas semanas da votação final do impeachment de Dilma no Senado e com
toda a atenção do mundo voltada para o Brasil por conta das Olimpíadas,
nenhuma pesquisa havia sido publicada até o último final de semana. No
sábado, a Folha de São Pauloanunciou uma nova pesquisa realizada pelo Datafolha que
se demonstrou, ao mesmo tempo, surpreendente e positiva para o
presidente interino, Michel Temer, além de apresentar uma grande
variação com relação a pesquisas anteriores. A manchete principal
impressa pela Folha, que rapidamente se alastrou pelo país como era de se esperar, dizia que metade do país deseja que Temer permaneça como presidente até o fim do mandato que seria de Dilma no final de 2018. A IMINÊNCIA DA VOTAÇÃO FINAL DO IMPEACHMENT torna esse resultado (50%
dos brasileiros desejam que Temer conclua o mandato de Dilma)
extremamente significativo. Igualmente importante foi a afirmação da Folha de que apenas 4% disseram não querer nenhum dos dois presidentes, e somente 3% desejam a realização de novas eleições. O artigo on-line de destaque no sábado:
Esse resultado não foi apenas surpreendente por conta da ampla
hostilidade com relação a Temer revelada pelas pesquisas anteriores, mas
também porque simplesmente não faz sentido. Para começar, outras
perguntas foram colocadas aos eleitores pelo Datafolha sobre quem prefeririam que se tornasse presidente em 2018 e
os resultados apontaram que apenas 5% escolheriam Temer, enquanto o
líder da pesquisa, o ex-presidente Lula, obteve entre 21% e 23% das
intenções de voto, seguido por Marina Silva, com 18%. Apenas 14% aprovam
o governo de Temer, enquanto 31% o consideram ruim/péssimo e 41%, regular. Além disso, um terço dos eleitores não sabe o nome do
Presidente Temer. E, conforme observou um site de esquerda ao denunciar a recente manchete sobre a pesquisa da Folha como uma “fraude estatística”,
é simplesmente inconcebível que a porcentagem de brasileiros favoráveis
às novas eleições tenha caído de 60%, em abril, para apenas 3% agora,
enquanto a porcentagem da população que deseja a permanência de Temer na
Presidência da República tenha disparado de 8% para 50%. Considerando todos esses dados, fica extremamente difícil compreender como a manchete principal da Folha –
50% dos entrevistados querem que Temer continue como presidente até o
fim do mandato de Dilma – possa corresponder à realidade. Ela contradiz
todos os dados conhecidos. A Folha é o maior jornal do país e o
Datafolha é uma empresa de pesquisa de credibilidade considerável.
Ambos foram categóricos em sua manchete e gráfico principal a respeito
do resultado da pesquisa. Curiosamente, a Folhanão publicou no
artigo as perguntas realizadas, nem os dados de suporte,
impossibilitando a verificação dos fatos que sustentam as afirmações do
jornal. Como resultado disso, a manchete – que sugere que metade da população
deseja a permanência de Temer na Presidência até 2018 – foi reproduzida
por grande parte dos veículos de comunicação do país e rapidamente
passou a ser considerada uma verdade indiscutível: como um fato
decisivo, com potencial para selar o destino de Dilma. Afinal, se
literalmente 50% do país deseja que Temer permaneça na Presidência até
2018, é difícil acreditar que Senadores indecisos contrariem a vontade
de metade da população. MAS ONTEM, os dados completos e as perguntas complementares foram divulgados. Tornou-se evidente que, seja por desonestidade ou incompetência extrema, a Folha cometeu
uma fraude jornalística. Apenas 3% dos entrevistados disseram que
desejavam a realização de novas eleições, e apenas 4% disseram que não
queriam nem Temer nem Dilma como presidentes, porque nenhuma dessas opções de resposta encontrava-se disponível na pesquisa. Conforme observado pelo jornalista Alex Cuadros hoje,
a pergunta colocada deu aos entrevistados apenas duas opções de
resposta: (1) Dilma retornar à Presidência ou (2) Temer continuar como
presidente até 2018.
Portanto, fica evidente que os 50% de entrevistados não disseram
que seria melhor para o país se Temer continuasse até o fim do mandato
de Dilma em 2018: eles disseram apenas que essa seria a melhor opção se a única alternativa fosse o retorno de Dilma. Além disso, simplesmente não procede
alegar que apenas 3% dos entrevistados querem novas eleições, já que
essa pergunta não foi feita. O que aconteceu foi que 3% dos
entrevistados fizeram um esforço extra para responder dessa forma frente
a opção binária entre “Dilma retorna” ou “Temer fica”. É impossível
determinar com base nessa pesquisa a porcentagem real de eleitores que
desejam a permanência de Temer até 2018, novas eleições ou o retorno de
Dilma. Ao limitar de forma infundada as respostas a apenas duas opções,
a Folha gerou as amplas distorções observadas nos resultados. É totalmente injustificável, por inúmeras razões, que a pergunta
tenha sido colocada dessa maneira, excluindo todas as outras opções, com
exceção das duas respostas disponíveis. Primeiramente, o Supremo
Tribunal Federal já havia decidido que
a votação do impeachment de Temer deve prosseguir, visto que o interino
cometeu o mesmo ato que Dilma. Em segundo lugar, diversas figuras de
destaque político no país – incluindo o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, bem como um editorial da própria Folha–
se manifestaram em favor de novas eleições para presidente após o
impeachment de Dilma. Andréa Freitas, Professora de Ciência Política na
Unicamp, disse à Intercept: “como as novas eleições são uma opção viável, deveriam ter sido incluídas como uma das opções”. E como Cuadros observou, pesquisas anteriores sobre Dilma e Temer,
incluindo a pesquisa de 9 de abril do Datafolha, perguntaram
explicitamente aos entrevistados a respeito de novas eleições. Portanto,
é difícil entender por que essa pesquisa do Datafolha omitiria
propositadamente o impeachment de Temer e as novas eleições, e limitar
as opções a “Dilma volta” ou “Temer fica”. Mas o argumento a respeito de limitar as possíveis respostas a apenas
duas opções é simplesmente referente à metodologia da pesquisa. O que
aconteceu foi muito mais grave. Após ter decidido limitar as opções de
resposta dessa forma, a Folha não pode enganar o país fingindo
ter oferecido aos entrevistados todas as opções possíveis. Com a omissão
desse fato, a manchete e o gráfico principal do artigo da Folha se tornam enganosos e completamente falsos. É simplesmente incorreto alegar (como fez o gráfico da Folha)
que apenas 3% dos brasileiros acreditam que “novas eleições são o
melhor para o país”, já que a pesquisa não colocou essa pergunta aos
entrevistados. E ainda mais prejudicial: é completamente incorreto dizer
que “50% dos brasileiros acreditam que a permanência de Temer seja
melhor para o país” até o fim do mandato de Dilma. Só é possível afirmar
que 50% da população deseja a permanência de Temer sea única outra opção for o retorno de Dilma. Mas se outras opções forem incluídas – impeachment de Temer, renúncia
de Temer, novas eleições – é praticamente certo que a porcentagem de
brasileiros que desejam a permanência de Temer até 2018 caia
vertiginosamente. Como observou a Professora Andréa Freitas: “pode ser
que 50% da população prefira Temer a Dilma se essas forem as únicas
opções, mas parte desses 50% pode ser favorável a novas eleições. Com a
ausência dessa opção, não há como estabelecer que essas pessoas prefiram
o Temer”. ISSO NÃO É TRIVIAL. Não se pode subestimar o impacto dessa pesquisa. É
a única pesquisa de um instituto com credibilidade a ser publicada em
meses. Sua publicação se deu exatamente antes da votação final do
impeachment no Senado. E contém a extraordinária alegação de que metade
do país deseja que o Michel Temer permaneça na presidência até 2018: uma
manchete tão sensacionalista quanto falsa. Considere como os resultados dessa pesquisa foram reproduzidos de
forma incansável – como era de se esperar – em manchetes de outros
grandes veículos do país:
No primeiro parágrafo: “Pesquisa do Instituto Datafolha realizada nos
dias 14 e 15 aponta que 50% dos brasileiros preferem que o presidente
interino Michel Temer continue no poder até 2018. A volta da presidente
afastada Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto foi a opção de 32% dos
entrevistados. Os 18% restantes não escolheram nenhum dos dois, disseram
não saber ou que preferiam novas eleições”.
Em entrevista à Intercept, Luciana Schong do Datafolha insistiu que foi aFolha,
e não o instituto de pesquisa, quem estabeleceu as perguntas a serem
colocadas. Ela reconheceu o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos
brasileiros querem novas eleições “já que essa pergunta não foi feita
aos entrevistados”. Luciana Schong também conta que qualquer análise
desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como
presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de
resposta estavam limitadas a apenas duas. No fim de abril, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou seuranking anual de liberdade de imprensa e o Brasil caiu para a 104ª posição,
em parte devido à “propriedade dos meios de comunicação continuar
concentrada nas mãos de famílias dominantes vinculadas à classe
política”. Mais especificamente, o grupo observou que “de forma pouco
velada, a mídia nacional dominante encorajou o povo a ajudar a derrubar a
Presidente Dilma Rousseff” e “os jornalistas que trabalham nesses
grupos midiáticos estão evidentemente sujeitos à influência de
interesses privados e partidários, e esses conflitos de interesse
permanentes são obviamente prejudiciais à qualidade do jornalismo
produzido”.
Uma coisa é a mídia plutocrática brasileira incentivar e incitar
abertamente a queda de um governo democraticamente eleito. De acordo com
a RSF, esse comportamento representa uma ameaça direta à democracia e à
liberdade de imprensa. Mas é muito diferente testemunhar a fabricação
de manchetes e narrativas falsas insinuando que uma grande parte do país
apoia o indivíduo que tomou o poder de forma antidemocrática, quando
isso não é verdade.
Como o PT e o PCdoB não poderiam tomar essa iniciativa, foi o senador Roberto Requião, a face saudável do PMDB e do Paraná, quem deu a largada oficial para a campanha Eleições Diretas já, já!
A iniciativa para enviar ao Congresso uma mudança dessa natureza é exclusivamente da Presidenta Dilma.
É o que diz a Constituição.
Não adianta o Senador Paim, que passa a vida inteira calado, a fugir das questões centrais, como o Suplicy fugia, não adianta o senador Paim querer aprovar no Senado um projeto para realizar eleições.
Ele não tem poder para isso.
Quem tem é a Presidenta.
Ela deve cair no Senado lá pelos dias 12 ou 13 de maio.
Não adianta recorrer ao Supremo, porque o Supremo jamais reveria decisões das duas casas do Congresso.
O Golpe já houve.
Portanto, ela tem que tomar a iniciativa em nome da Democracia.
Do respeito à vontade popular.
O Cerra quer ser Ministro da Fazenda no Governo do Temer.
Ele queria ser Ministro da Fazenda no Governo do Idi Amin Dada e, depois, derrubá-lo, para ser ditador.
Ao contrário: o Temer e o Cunha acabarão por desmoralizar o PSDB.
Será uma batalha feroz aprovar as Diretas já, já!
A Globo não vai querer!
A Globo pretende ocupar, de novo, o Ministério das Comunicações e se sentar no caixa do BB, CEF e BNDES.
É sua única salvação.
Mas, as ruas podem querer!
Os sindicatos organizados podem querer.
O ansioso blogueiro foi ontem à Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, comprar “Poesia Russa Moderna”, de Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.
Uma atenciosa vendedora perguntou: mas, seu Paulo Henrique, não tem um jeito de impedir que a gente seja governado pelo Temer?
Um jovem estudante se aproximou e disse: Paulo Henrique, tem como fazer uma nova eleição?
No caminho de volta, no taxi, o motorista avisou logo: não confio em nenhum deles.
Há um fato incontroverso na “Operação Lava Jato”: o juiz Sérgio Moro, a pedido da Força Tarefa do MPF/PR, autorizou a interceptação do telefone celular de um dos advogados constituídos pelo ex-Presidente Luiz Inacio Lula da Silva e, ainda, autorizou a interceptação do ramal-tronco do escritório de advocacia, com o monitoramento de 25 advogados também constituídos pelo ex-Presidente.
A interceptação telefônica de advogados constituídos por pessoa que sofre persecução penal por parte do Estado, é um dos mais graves atentados ao Estado Democrático de Direito.
A sua ocorrência torna o procedimento ilegítimo e o macula de forma definitiva.
Há, nessa situação, clara violação à garantia constitucional da ampla defesa e, ainda, da inviolabilidade das comunicações telefônicas entre cliente e advogado, assegurada por lei.
O Brasil foi condenado em 2013 pela Corte Internacional de Direitos Humanos (caso Escher VS. Brazil) porque autoridades do País (do Paraná) fizeram interceptação telefônica de advogados e divulgaram o teor desse material – de forma análoga ao que fez o juiz Sérgio Moro em relação aos advogados do ex-Presidente Lula.
Na decisão proferida na Reclamação nº 23.457, o STF fez registrar, em análise preliminar, que o juiz Sérgio Moro autorizou a interceptação dos advogados constituídos pelo ex-Presidente Lula e somente depois foi — tentar — buscar uma justificativa para o ato.
Já foram diversas tentativas. Primeiro, o juiz tratou de incluir, de forma artificial e sem os requisitos legais, um dos advogados no rol de “investigados” – o que foi negado formalmente nos próprios autos do processo durante depoimento prestado pelo ex-Presidente Lula por ocasião de sua arbitrária condução coercitiva. De qualquer forma, a justificativa para o status de investigado e, ainda, para a interceptação telefônica seria um ato privativo da advocacia: assessoria jurídica em uma operação de compra e venda de imóvel.
No dia 29/03/2016, o Juiz Sérgio Moro afirmou ao STF que “desconhece este Juízo” a existência de interceptação no ramal-tronco do escritório Teixeira, Martins & Advogados. Depois dessa versão ter se mostrado incompatível com ofícios emitidos pela empresa Telefônica — relevando que Sérgio Moro foi informado em duas oportunidades de que a interceptação estava sendo feita no telefone de um escritório de advocacia —, agora o mesmo magistrado, com a ajuda do MPF, tenta construir uma nova versão.
Desta vez o Juiz Sérgio Moro afirma que somente teve conhecimento dos ofícios em 15/03/2016, embora o primeiro ofício da operadora de telefonia tenha sido a ele enviado em 23/02/2016, e o segundo em 07/03/2016. Não se pode cogitar que o juiz tenha autorizado o grampo por 15 dias e, ainda, autorizado a prorrogação da medida invasiva por outros 15 dias, sem ler os ofícios que lhe foram encaminhados pela empresa de telefonia. Se a nova versão fosse verdadeira, já seria possível identificar, em tese, o descumprimento da Resolução 59 do CNJ, que detalha todas as diligências que o juiz, necessariamente, deve adotar na hipótese de interceptação telefônica, inclusive em relação aos ofícios das empresas de telefonia.
Não é a primeira vez que o Juiz Sérgio Moro se vê envolvido no monitoramento de advogados. No julgamento do HC nº 95.518, o STF observou que “revelam-se abusivas as reiterações de prisões desconstituídas por instâncias superiores e as medidas excessivas tomadas para sua efetivação, principalmente o monitoramento dos patronos da defesa, sendo passíveis inclusive de sanção administrativa”.
O mesmo comportamento foi renovado pelo magistrado em relação aos advogados do ex-Presidente Lula, independentemente das inúmeras versões por ele já apresentadas — sem que qualquer delas tenha servido para descaracterizar esse grave atentado ao Estado Democrático de Direito.
Por isso, espera-se que o monitoramento telefônico de advogados autorizado pelo Juiz Sérgio Moro seja devidamente punido pelos órgãos de controle, sem prejuízo do reconhecimento dos vícios insuperáveis no próprio procedimento em que houve a prática desse ato inconstitucional e ilegal e, sem prejuízo, ainda, das medidas que podem ser adotadas pelos órgãos internacionais em virtude da violação do Tratado de San Jose da Costa Rica, dentre outros.
Imagino os golpistas entre aturdidos e desesperados ao ler e interpretar os dois principais dados da pesquisa Datafolha publicada neste fim de semana, que são os seguintes:
1) estourou no ar em pleno voo o balão golpista do impeachment da presidenta Dilma;
2) os candidatos tucanos (Aécio, Serra e Alckmin) despencam, enquanto Lula se mantém e consolida como principal alternativa factível de poder nas eleições de 2018. O jogo começou a virar para o nosso lado.
Derrotada a manobra do impeachment, a candidatura de Lula a presidente tenderá ao crescimento. Impressiona a resiliência popular da figura de Lula. Repetindo o bordão conhecido, nunca antes na historia desde país (e certamente do mundo), uma liderança política passou por um processo de linchamento midiático na dimensão do Lula. Tentaram transformá-lo, como eu disse ontem na tribuna do Senado, em um cidadão "aquém da lei", um homem que não pode ser ministro mesmo sem ser réu ou acusado em nenhum inquérito.
O linchamento fracassou. Lula não apenas sai vivo do linchamento, como lidera pesquisas das eleições presidenciais. Continua avaliado, em pesquisa espontânea, o melhor presidente da história do país (40%).
Em paralelo, cresceu nas últimas semanas um belo movimento social de valores progressistas de elevado grau de espontaneidade, nas redes sociais e nas ruas. Enquanto isso, os movimentos de direita declinam a olhos vistos. Ninguém aguenta mais ódio, rancor e ressentimento como estratégia de crescimento político.
Enquanto todas as atenções estavam voltadas para a crise política, a economia começou a dar sinais de reanimação. A inflação caiu, as bolsas subiram e a balança comercial emitiu sinais positivos. Acaso consolidado na próxima semana a vitória contra o impeachment, o governo Dilma se fortalece e passará a viver um novo momento. Literalmente, recomeça o governo, permitindo uma mudança de rumos que promova o reencontro com o programa vitorioso de outubro de 2014, reacendendo a chama do nosso projeto é acumulando forças para chegarmos as eleições de 2018 competitivos.
Não se trata mais de repetir êxitos do passado, dos tempos recentes em que Lula e o lulismo proporcionaram um momento mágico de formidável afluência social dos mais pobres, combinado com a manutenção da lucratividade das empresas e os rendimentos do capital financeiro. A realidade do ganha-ganha capital-trabalho mudou. Chegou a hora de um programa de reformas estruturais visando resolver a desigualdade do conflito distributivo do capitalismo brasileiro.
Todos os pré-candidatos tucanos despencam nas simulações do Datafolha. O instituto simulou dois cenários, Aécio e Alckmin. Embora não pesquisado, certamente o cenário contra Serra não seria diferente.
No confronto com Lula, que lidera com 21%, Aécio pontua ralos 17%, em queda livre desembalada de 9 pontos percentuais em relação aos 26% que angariava em dezembro de 2915; Alckmin declinou de 14% a 9% de dezembro para cá, ao passo que Lula obtém robustos 21%, em empate técnico com Marina.
Suprema ironia, após duas décadas, os tucanos começam a perder para outras forças políticas, a exemplo de Marina e a direita, o posto de antagonista na polarização contra Lula e o PT.
Outro fim de semana e outra onda de matérias na grande imprensa acusando Lula com base em uma estratégia extremamente esperta: setores partidarizados do MP abrem investigação contra o ex-presidente – o que qualquer procurador pode fazer devido à liberdade que a Constituição dá à instituição – e a mídia antipetista faz disso um “escândalo.
Recentemente, o MP de Brasília pediu ao Procurador Geral da República que pedisse ao STF permissão para inquirir Lula. Acuado pelas acusações da mídia e da oposição de ser “petista”, o PGR, Rodrigo Janot, temeu recusar, apesar da absoluta falta de uma única evidência concreta contra o ex-presidente, e pediu ao Supremo que autorizasse a oitiva do ex-presidente.
Mais uma vez, a intimidação da mídia funciona e o ministro do STF encarregado de deliberar sobre o tema, Teori Zavascki, preocupado com a pecha de ser “petista”, autoriza que Lula seja ouvido. Porém, não como testemunha ou acusado, mas como “informante”. Foi uma saída para não recusar a ordem da direita midiática e, ao mesmo tempo, não acusar um inocente – até prova em contrário.
No mesmo fim de semana, uma das revistas semanais antipetistas acusa Lula de ter tido pago pela empreiteira OAS as obras de um apartamento “tríplex” de “sua propriedade”, apesar de o apartamento não ser propriedade dele coisa alguma (Lula tem, apenas, opção de compra do imóvel) e de as obras no imóvel terem sido feitas pela empreiteira porque foi ela que construiu o prédio e, assim, é ela que tem que fazer as obras, pois o apartamento é seu.
A despeito disso, nas redes sociais, nas ruas, já se comenta que Lula será “interrogado pela polícia”, já que, hoje, não é necessário o amparo de fatos para acusar petistas ou o governo Dilma.
Vale, neste ponto, fazer uma digressão para relatar um fato ocorrido em um grupo de discussão na rede social Wats App do qual este blogueiro participa. O fato revela bem a insensatez do momento político.
Esse grupo de discussão é composto por pessoas de esquerda. Abriga juristas, políticos, jornalistas, blogueiros… O grupo discutia a questão do regime de exploração do pré-sal e eis que um jurista põe em pauta “informação” que disse ter recebido de “um professor” que afirmou que seria melhor que o pré-sal fosse explorado em regime de concessão porque a Petrobrás não terá capacidade de explorar essas reservas petrolíferas.
Como exemplo dessa “incapacidade” da Petrobrás de explorar o pré-sal, o tal professor afirmou que o campo de Libra (a maior reserva petrolífera do país) teria sido concedida à iniciativa privada por valor inferior ao apurado na concessão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
Veja bem o absurdo, leitor: o maior campo petrolífero do país – que ao ser concedido já estava começando a produzir e que, assim, não representa risco algum a quem o explorar – teria sido concedido por valor inferior ao de um imóvel com pistas de pouso, ou seja, um aeroporto – grande, mas, ainda assim, um aeroporto.
Segundo essa versão maluca, o Galeão teria sido concedido à iniciativa privada por R$ 19 bilhões e o campo de Libra, por US$ 15 bilhões.
Que loucura! Os R$ 15 bilhões pagos pelo consórcio vencedor do campo de Libra foram a título de bônus de assinatura do contrato. É óbvio que não representam o valor total da concessão, o qual reside no percentual de repasse à União do petróleo extraído, que é de 41,65%.
Esse percentual é líquido. O consórcio vencedor da concessão do campo de Libra – que inclui a Shell e petroleiras chinesas – terá que entregar à União centenas de bilhões de dólares em petróleo que vier a extrair, arcando sozinho com os custos de extração.
Ou seja: as pessoas dizem o que querem, hoje, pois ninguém vai checar nada em um momento em que a mídia, valendo-se dos problemas conjunturais da economia, conseguiu colocar a população contra o governo, contra o PT e, em bem menor parcela, contra o próprio Lula.
A artilharia contra o ex-presidente, porém, baseia-se no medo que a mídia tem, pois até a última sondagem cerca de um terço do eleitorado se dizia disposto a votar nele caso volte a se candidatar ao cargo que exerceu entre 2003 e 2010.
O pior é que para setores da esquerda pouco importa essas artimanhas contra Lula. Esses setores são os que fazem oposição ao governo Dilma, ao PT e até ao próprio Lula.
O único partido de oposição de esquerda com representação parlamentar é o PSOL, mas há vários outros partidos sem representação, como o PSTU. Esses grupos políticos querem mais é que Lula, Dilma e o PT se danem. Na verdade, gostariam de vê-lo desmoralizado e, se possível, até preso.
Esse é o erro mais fatal que a esquerda brasileira está cometendo. Desse erro, pode advir uma desmoralização dela inteirinha – PT, PSOL, PSTU e todos os movimentos sociais do entorno.
Se forem perguntar a um militante médio de partidos como PSOL (há exceções, nesse partido, como o lúcido Jean Wyllys) se Lula é de esquerda, tal militante dirá que não – ao mesmo passo que a mídia e a oposição de direita o consideram “comunista”. Porém, o fato é que Lula sempre foi e ainda é o grande símbolo da esquerda e do trabalhismo brasileiros.
Os grupos de ultradireita que perseguem Dilma, Lula e o PT não poupam os partidos de oposição de esquerda. Luciana Genro, por exemplo, a liderança mais radicalmente antipetista do PSOL e ex-candidata a presidente, é colocada pela ultradireita midiática no mesmo saco que os petistas.
O grosso do eleitorado brasileiro não faz essa separação entre esquerda governista e esquerda oposicionista. É tudo esquerda.
E é o conceito, o ideário, a imagem dessa ideologia política o grande alvo da oposição e da mídia conservadoras, bem como dos setores partidarizados e ideologizados do MP e da Polícia Federal que trabalham diuturnamente para destruir a esquerda brasileira.
Lula, porém, ainda é muito forte. Por ter sido ex-presidente, dezenas de milhões de brasileiros têm memória dos benefícios que colheram sob seu governo. Por isso essa campanha massacrante contra ele, com denúncias semanais mesmo quando não há fato novo algum.
Não sou a pessoa indicada para fazer apelos à oposição de esquerda, pois a venho criticando há anos. Este post, portanto, é um apelo aos setores da esquerda que mantém interlocução com o PT e que são contra o golpismo e o linchamento do partido, de Lula e de Dilma.
Esses setores têm que acordar o resto da esquerda, pois a caça a Lula não terá fim até 2018 e a direita não vai sossegar até arranjar um meio de produzir a imagem que tanto almeja: de Lula algemado ou preso.
Pode até não conseguir – não será tão fácil quanto pensam os fascistas –, mas ficarão dando um jeito para arrastarem o ex-presidente para circos como o que será montado em seu depoimento sobre a Lava Jato, o qual será cercado de uma cobertura de imprensa digno de um lançamento de nave espacial ou grande hecatombe.
Apelo, pois, à esquerda como um todo, seja “governista” ou oposicionista: acorde! O alvo não é Lula, é a imagem da esquerda brasileira. A direita quer associá-la à corrupção e à crise provocada, sobretudo, pela sabotagem midiático-oposicionista. Uma Luciana Genro da vida será igualada a Lula e um PSOL, ao PT. Que não haja a menor dúvida disso.
O conceito de Justiça se vale de simbolismos para fazer as sociedades acreditarem que juízes julgam sem se pautarem por pré-conceitos de qualquer espécie. O site do STF define a cegueira da estátua da Justiça que foi estrategicamente colocada à porta daquela Corte como “Símbolo da imparcialidade”.
Dia após dia, um dos ministros mais antigos do Supremo passa diante daquela estátua sem se dar conta do seu significado. Ou debochando dela.
Após todos os showzinhos que o ministro deu ao longo da tramitação da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4650, de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil e que versou sobre o financiamento de campanhas eleitorais, Mendes encerrou (?) sua participação naquele processo com um esperável “gran finale”.
Confira, abaixo, a última afronta de Mendes à estátua que desafia diariamente ao ir trabalhar.
Existirá algum entre o 1,5 milhão de filiados ao Partido dos Trabalhadores que Gilmar Mendes considere digno? Pelo visto, não.
Essa entrevista que, suarento e destemperado (como de costume), Mendes deu ao Jornal Nacional, manda uma mensagem à sociedade: qualquer cidadão que exerça seu direito constitucional de apoiar o Partido dos Trabalhadores – mesmo que não tenha ligação de qualquer espécie com o partido – estará ameaçado pela injustiça caso sua causa caia nas mãos desse juiz.
Aqueles que não entendem nem o conceito de democracia e, portanto, muito menos o de Justiça, acharão ótimo. Isso porque não se perguntam o que mais integra o cabedal de ojerizas de Mendes.
Será que você, que pensa assim, encaixa-se à perfeição no ideário desse magistrado sobre quais devem ser as posições e características gerais de um cidadão para lhe merecer um julgamento justo?
Um julgador que não se pauta pela premissa a que a estátua em frente ao STF conduz – a de que a Justiça deve ser “cega”, ou seja, não deve levar em conta as opiniões, a etnia, a religião, a condição social de alguém ao julgá-lo –, não tem como decidir de forma justa.
A incapacidade de um magistrado para deliberar com a cegueira conceitual da Justiça o inabilita para a função.
Ao abrigar um magistrado como Gilmar Mendes, o Supremo Tribunal Federal deveria mandar retirar da entrada de sua Sede a estátua de granito de mais de três metros de altura da deusa Themis, esculpida em 1961 por Alfredo Ceschiatti.
Enquanto ela estiver lá, constitui denúncia constante de que aquela Corte abriga um magistrado que desafia e conspurca o conceito de justiça com seu partidarismo suarento, debochado e constrangedoramente escrachado.
“Nosso Homem em Havana” é um livro de ficção do genial Graham Greene. Mais que uma novela de espionagem, a obra é uma sátira política coalhada de ironias e sarcasmos.
Nela, Greene conta a história de James Wormold, um vendedor britânico de aspiradores de pó, que reside em Havana. Abandonado pela mulher e com problemas financeiros, ele acaba recrutado pelo serviço secreto do Reino Unido.
Precisando do dinheiro extra, mas sem ter nada de relevante para reportar a Londres, Wormold cria uma rede fictícia de informantes, misturando personagens reais, muito dos quais ele sequer conhece, com nomes inventados. Gera relatórios com base em notícias requentadas de jornais e em muita imaginação para preencher as lacunas de tramas escabrosas.
Ao sentir a necessidade de apimentar suas informações e obter mais dinheiro, Wormold passa a remeter a Londres diagramas de peças de aspiradores de pó, apresentando-os como plantas de uma “base comunista secreta escondida nas montanhas”.
Num dos momentos mais hilariantes do livro, o chefe de Wormold em Londres, ao discutir os desenhos de aspiradores de pó, afirma: “Diabólico, não é? Acredito que podemos estar diante de algo tão grande que fará a Bomba H se tornar uma arma convencional”.
Não sei se os repórteres da revista Época que colocaram o título da obra de Greene em sua mais recente “reportagem” sobre Lula leram o livro. Provavelmente, não. Se tivessem lido, teriam percebido que o sarcasmo de Greene veste como luva de pelica em sua, assim digamos, “obra jornalística”.
A nova “reportagem” insiste em reapresentar as ações internacionais do ex-presidente Lula, que usa do seu enorme prestígio mundial para promover o Brasil, seus produtos e suas empresas no exterior, como algo escabroso e escuso.
Da mesma forma que o personagem de Greene, tentam vender desenhos de aspiradores de pó como se fossem uma nova superbomba, a qual, como de hábito, “implodirá a República”.
Como Wormold, a brava revista de “jornalismo investigativo” mistura verdades, meias verdades e uma alta dose de imaginação para criar uma precária peça de ficção policial, travestida de reportagem objetiva e imparcial.
Emulando Worlmold, a revista aposta na paranoia anticomunista para que suas informações prosaicas e anódinas se convertam numa trama diabólica. Com efeito, essa revista, assim como várias outras no Brasil, navega hoje nas revoltas e obscuras águas do anticomunismo, do “antibolivarianismo” e do antipetismo. Recriaram, em pleno início do século XXI, o mesmo clima da Guerra Fria que vigorava nos anos 50 e 60 do século passado.
Isso tudo no momento em que o próprio governo norte-americano aposta na aproximação à Cuba, no fim do embargo e, é claro, na realização de grandes negócios na ilha, com o providencial auxílio de poderosos lobbies políticos-empresariais.
A revista Época está definitivamente fora de época.
Aparentemente, está também um pouco fora de si. Só isso explica a ignorância abissal sobre o estratégico tema da exportações de serviços.
O setor de serviços representa, hoje, cerca de 80% do PIB dos países mais desenvolvidos e ao redor de 25% do comércio mundial, movimentando US$ 6 trilhões/ano. Somente o mercado mundial de serviços de engenharia movimenta cerca de US$ 400 bilhões anuais e as exportações correspondem a 30% desse mercado. É um segmento gigantesco, que cresce mais que o mercado de bens.
Infelizmente, apesar dos esforços recentes, o Brasil investe pouco nessas exportações.
Assim, enquanto que, no período de 2008 a 2012, o apoio financeiro do Brasil às suas empresas exportadoras de serviços foi, em média, de US$ 2,2 bilhões por ano, o apoio oficial da China às suas empresas exportadoras alcançou, nesse mesmo período, a média anual de US$ 45,2 bilhões; o dos Estados Unidos US$ 18,6 bilhões; o da Alemanha, US$ 15,6 bilhões; o da Índia, US$ 9,9 bilhões.
Na realidade, apenas cerca de 2% da carteira do BNDES vão para obras brasileiras no exterior. E, ao contrário do que dizem Época e outras revistas fora de época, não se trata aqui de “empréstimos camaradas” para Cuba e outros países “comunistas e bolivarianos”, protegidos por sigilo indevido com a finalidade de encobrir atos ilegais.
Em primeiro lugar, o país que mais recebeu empréstimos do BNDES para obras de empresas brasileiras no exterior foram os EUA.
Em segundo, nenhum centavo desses empréstimos foi para países ou governos estrangeiros. Os empréstimos são concedidos, por lei, às empresas brasileiras que fazem as obras, e o dinheiro só pode ser gasto com bens e serviços brasileiros. Como a construção civil possui uma longa cadeia, tais empréstimos têm um impacto muito positivo na economia nacional. Estima-se que, apenas em 2010, as exportações de serviços de engenharia tenham gerado cerca de 150 mil empregos diretos e indiretos no País. Além disso, os gastos com a importação de bens brasileiros em função de algumas dessas exportações financiadas pelo BNDES ascenderam a US$ 1,6 bilhão, no período 1998-2011. Entre tais bens, estão os aços, os cimentos, vidros, material elétrico, material plástico, metais, tintas e vários outros.
Em terceiro, os empréstimos não são “camaradas”. No caso dos empréstimos às empresas brasileiras para a construção do Porto de Mariel, o BNDES usou a Libor e mais um spread de 3,81%, juros superiores ao praticados pela OCDE, que usa, no mesmo caso, a CIRR mais um spread de 3,01%.
Em quarto, o sigilo parcial das operações financeiras visa proteger as informações privadas do tomador do empréstimo, conforme determina uma norma tucana, a Lei Complementar Nº 105, de 2001. Mesmo assim, o BNDES é considerado, pela insuspeita Open Society Foundations, como o banco de investimentos mais transparente do mundo. Ademais, qualquer juiz de primeira instância pode abrir totalmente as operações, se considerar que há algo suspeito nelas.
Em quarto,como o mercado mundial de obras é muito concorrido, os países fazem poderosos lobbies para obter contratos. Presidentes, primeiros-ministros, monarcas e ex-presidentes com prestígio se empenham para que as empresas de seus países consigam obras no exterior. Assim como se empenham também para que comprem os produtos de seus países.
Quanto à participação de Lula, só mesmo o mais completo mentecapto ou o mais irracional dos anticomunistas pode imaginar que o ex-presidente poderia ter feito algo de ilegal ou mesmo antiético em reuniões que contaram com a participação de diplomatas e que foram devidamente registradas em documentos oficiais do Itamaraty. Aliás, mesmo que quisesse, Lula jamais poderia ter influenciado tais empréstimos, os quais têm de passar por uma longa série de instância técnicas para serem aprovados e liberados.
Saliente-se que Época só teve acesso aos documentos sigilosos graças à Lei de Acesso à Informação, promulgada em 2012 por Dilma Rousseff.
Fosse nos áureos tempos do paleoliberalismo, tais empréstimos não teriam despertado a suspeita de Época. Como de fato não despertaram, quando FHC aprovou os primeiros empréstimos para o metrô de Caracas, já com a Venezuela presidida pelo “perigosíssimo” Hugo Chávez.
Na improvável eventualidade de que tivessem despertado suspeitas, Época não teria tido acesso a informações sigilosas. Caso tivesse tido acesso a informações sigilosas, por aquáticas vias de obscuras cachoeiras, duvidamos que Época tivesse publicado uma linha sequer. Caso tivesse publicado alguma coisa, duvidamos ainda mais que alguém tivesse levado a sério. Caso algum paranoico tivesse levado a sério, duvidamos que procuradores tivessem ensejado qualquer ação, para não cair no ridículo. Caso algum procurador tivesse caído na fácil tentação de se expor a holofotes desavergonhados, o providencial engavetador-geral teria feito o que sempre se fazia na época, com o apoio da Época.
Na época, nem mesmo os lobbies em prol de empresas estrangeiras nas alegres privatizações despertavam suspeitas. Mesmo hoje, quem se bate pela Chevron, pela Alstom, pela entrega do pré-sal e pela abertura do mercado brasileiro às construtoras estrangeiras curiosamente está acima de qualquer suspeita. Esses são “estadistas”. Só não se sabe bem de que país.
Mas vivemos em outra época. Na época do vale-tudo contra o “comunismo”, o “bolivarianismo” e o “lulopetismo”. Na época do vale–tudo contra o mandato popular. Na triste época do vale-tudo contra Lula, o melhor presidente da história recente do país. O ex-presidente que hoje é o rosto do Brasil no mundo. Na horrorosa época em que quem defende o Brasil e suas empresas, como Lula, é apresentado como criminoso.
Nesses tempos bicudos de Guerra Fria zumbi, vale até mesmo apresentar diagramas de aspiradores de pó como perigosíssimas instalações comunistas secretas.
Greene nunca imaginou que suas ironias e sarcasmos sobre a Guerra Fria seriam revividas na forma de “reportagens” que se levam a sério.