Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

“Eles chegaram lá”: um novo Brasil se desenha, longe do Fla-Flu da internet


rodrigo
É uma honra partilhar aqui no Tijolaço o trabalho de reportagem de Rodrigo Vianna, o Escrevinhador, feitas para o Jornal da Record.
A gente fica preso numa cadeira, diante de uma tela e precisa disso para não perder a ligação com o mundo real, aquele onde ideias viram fatos, mudam vias, trazem felicidade.
Sem isso, tudo aqui seria estéril, sem sentido.
Só estou aqui porque duas gerações antes a minha, o Brasil viveu políticas inclusivas e brasileiros se esforçaram por seus filhos.
O pior que poderia fazer por eles seria esquece-los como quem esquece um retrato antigo. E o melhor é vê-los, todo dia, em gente nova, que faz seu próprio caminho, soprada pelos mesmos ventos, caminhando por seus próprios pés e olhando para o mesmo destino.


Rodrigo Vianna

Esforço para mostrar um novo Brasil que se desenha: pais lavradores, em Goiás; o filho virou engenheiro
Durante mais de um mês, rodamos atrás de boas histórias por esse Brasil: Goiás (foto ao lado), Santa Catarina, Pernambuco, São Paulo.  O objetivo era encontrar famílias que, pela primeira vez, tivessem conseguido colocar um filho na Universidade.
Não foi difícil achar. Longe do Fla-Flu histérico na internet, há um novo Brasil que se desenha. O filho de pescadores virou advogado (e já trabalha num escritório – no centro de Florianópolis). A filha de um catador de latinhas estuda para se formar veterinária em São Paulo. O lavrador goiano conseguiu transformar o filho em engenheiro. O produtor rural pernambucano (a família vive no meio do sertão, em Bodocó) mandou a filha pra São Paulo, e hoje ela é dentista…
Tudo isso aconteceu nos últimos dez anos. Enquanto muita gente reclamava dos aeroportos lotados de “gente feia”, tripudiava do “Bolsa Esmola”, e falava mal do PROUNI (que enche as universidades de “vagabundos”)… Enquanto isso, o povão arregaçou as mangas e aproveitou as brechas que se abriram. Mas não venham os governistas mais empolgados achar que esse povo se ajoelha no chão pra agradecer Lula e o PT. Conversei com as famílias, entrei nas casas: a maioria está feliz, mas sabe dos imensos problemas do nosso país. E quer mudança. Mais mudança. O que não significa andar pra trás, com discurso de “menos Estado”…
Esse novo Brasil (construído pelas bordas, e longe dos holofotes) é resultado, sim, de políticas públicas claramente inclusivas. Mas se desenha também graças ao esforço individual, à solidariedade e à garra das famílias mais humildes. Esse povo brasileiro é admirável: longe das Sherazade, da violência policial, dos colunistas urubulinos e dos comentaristas que falam do Brasil sem sair da frente do computador, há um outro país que nos enche de esperança.
Pra começar, conheça a história de Almiro – o filho de lavradores na região de Anápolis (GO), que se formou em Engenharia; ele trabalha para indústrias importantes, dá aulas no SENAI e faz pós-graduação no ITA. O pai segue a plantar tomate e banana. Almiro estudou em faculdade particular, com bolsa do PROUNI.
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Djuliane é filha de um catador de latinhas em São Paulo. Na infância, rodava pelas ruas, no carrinho puxado pelo pai, cercada por papelão e garrafas. Hoje está na Universidade. Um amigo da família ajuda a pagar o curso, em faculdade particular. Você também vai conhecer o José – filho de empregada doméstica que só sabe assinar o nome (mas dotada de uma garra impressionante), ele acaba de se formar em Administração.
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O cenário é belíssimo: a praia da Pinheira, litoral catarinense. O pescador Manoel acorda todo dia às 4h da manhã. E vai pro mar. Isso há quase 50 anos. A novidade é que ele e a mulher (batalhadora, ao lado do marido) conseguiram colocar dois filhos na Universidade: Marcos estudou com bolsa do PROUNI, e já se formou em Direito. Marcelo está terminando o curso de Engenharia de Pesca, numa faculdade pública: a Universidade do Estado de Santa Catarina.
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O pai é pedreiro, a mãe é costureira. Os dois só estudaram o básico. O filho Neemias é pintor de paredes. E não aceitou o “destino” traçado. Com mais de 40 anos e 6 filhos pra criar, Neemias conseguiu entrar na faculdade particular, estuda Engenharia, graças a uma bolsa do Educafro – entidade que apóia o esforço de negros para chegar à Universidade. No Brasil, o número de negros no ensino superior saltou de pouco mais de 2%, para 15% nos últimos dez anos. Cotas, solidariedade, esforço individual: tudo fez diferença. Conheça também o Bruno:  filho de uma cozinheira, ele acaba de se formar em RH.
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A família vive em Bodocó, no meio da caatinga. Edivaldo, um dos filhos do casal de pequenos produtores rurais, migrou pra São Paulo: virou pedreiro, encarregado de obras. Anos depois, levou a irmã Elane pra São Paulo. Ela começou trabalhando como faxineira numa faculdade na zona leste. Conseguiu bolsa da universidade e, enquanto limpava salas e arrumava cadeiras, foi cursando Odontologia. Hoje, a filha do sertão é dentista em São Paulo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ali Kamel e a judicialização da política e do jornalismo


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O melhor indicador de que a dita grande imprensa e a blogosfera progressista se tornaram atrizes do palco político reside em um dos processos que o diretor de Jornalismo da Globo, Ali Kamel, moveu contra vários blogueiros por conta de um episódio que integra um processo de confrontação entre estes e aqueles mega veículos de comunicação e seus profissionais.
Todos os dias, na internet, centenas e até milhares de textos são postados em blogs, sites e em suas respectivas caixas de comentários contendo ataques muito mais graves do que aquele do qual reclama o diretor global. A profusão de ataques, mentiras, distorções, invenções e até ameaças graves à integridade física de pessoas é altamente significativa.
Todavia, ninguém leva essas coisas a sério, pois, do contrário, quem o fizesse não sairia do Judiciário.
Vasculhem-se as caixas de comentários e até os posts de blogs e sites progressistas ou corporativos e o resultado será matéria-prima inesgotável para milhares de ações por danos morais. Nenhum lado, portanto, pode se considerar a salvo de ações judiciais por ofensas a pessoas.
Se Ali Kamel for processar  a todos os que já falaram mal dele tanto de forma legítima – em forma de crítica política – quanto de forma ilegítima – em forma de meros xingamentos  –, irá monopolizar o Poder Judiciário e despender uma considerável fortuna. E o mesmo vale para este que escreve e para aqueles blogueiros que têm opiniões parecidas com a sua e que são alvos de constantes ataques de todo tipo.
Essa ação que move Kamel contra o blogueiro Rodrigo Vianna, conforme relata post deste segundo jornalista veiculado em sua página pessoal na internet e em outros blogs e sites, sugere que integra a esfera dasvendettas. O diretor da Globo pinçou, de uma infinidade de ataques similares que recebeu na internet, alguns poucos nomes.
Coincidentemente, como relata Vianna em seu texto (que será reproduzido a seguir), todos os processados pela razão das ironias com a homonímia entre o Kamel jornalista e um Ali Kamel que foi ator pornô nos anos 1970, ou são pessoas que trabalharam com o diretor de jornalismo da Globo ou são jornalistas de renome, à exceção, talvez, do signatário do blog Cloaca News, que, ao que se sabe, nunca trabalhou em um grande meio de comunicação.
Ainda na Globo, o jornalista Heraldo Pereira, um dos âncoras do Jornal Nacional, processou o blogueiro e apresentador da TV Record Paulo Henrique Amorim por uma frase que considerou racista, quando este jornalista o chamou de “negro de alma branca” por julgar que o apresentador do JN se conformou, passivamente, em ser exceção étnica no jornalismo da Globo.
Luis Nassif, por sua vez, também virou alvo e acusador no âmbito de um processo de escaramuças judiciais que teve início há alguns anos, sendo este jornalista, talvez, o primeiro de uma série de jornalistas que foi ao Judiciário discutir divergências.
Independentemente do mérito das demandas, o que se pode prever é que, a persistir esse quadro de judicialização, a prática de pinçar pessoas de um amplo contexto de confrontações políticas em que pululam exageros de parte a parte deve desembocar em uma guerra judicial, pois, se for para levar qualquer frase intempestiva a sério, não faltarão elementos para todos os contendores baterem às portas do Judiciário.
Recentemente, por exemplo, o jornalista da Veja Augusto Nunes elaborou uma lista de caráter depreciativo, contendo ilações sobre a honra dos que nela figuram – entre estes, este que escreve, acusado, desairosamente, de integrar um grupo que “trabalharia” para o PT e para o ex-presidente Lula.
Abaixo, a “lista” de Nunes, que mais parece denunciar pessoas por apoiarem o ex-presidente da República e por terem simpatia pelo PT.
Esse, acima, é só um dos exemplos de abusos que são cotidianamente praticados pelo lado que toma iniciativa de judicializar o debate político na internet. Há coisas infinitamente piores.
Aliás, vale dizer que não são apenas blogueiros ou jornalistas de grandes meios de comunicação que passam a ser passíveis de represálias judiciais, pois internautas desconhecidos tomam as dores dos dois lados e, frequentemente, ultrapassam o limite da crítica, inclusive chegando ao ponto de ofensas e ameaças muito mais graves do que aquela suposta ofensa que moveu Ali Kamel contra blogueiros.
Eis que a temperatura política vai subindo além do minimamente razoável, pois não estamos em guerra civil, neste país.
Assim, os setores do judiciário que estão abrindo as portas a essa guerra político-judicial, estão, também, abrindo-as a uma verdadeira invasão daquele Poder por ações dessa natureza, o que carece de sentido em um momento em que a mídia brande a “liberdade de expressão” para defender seu direito de criticar pesadamente seus desafetos políticos.
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Leia, abaixo, o post do jornalista Rodrigo Vianna sobre o assunto.
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Do O Escrevinhador
Justiça do Rio: a TV Globo joga em casa; mas Kamel está derrotado pela história
Na praça Clóvis/Minha carteira foi batida/Tinha vinte e cinco cruzeiros/E o teu retrato…
Vinte e cinco/Eu, francamente, achei barato/Pra me livrarem/Do meu atraso de vida
(Paulo Vanzolini, “Praça Clóvis”)
por Rodrigo Vianna
Um advogado amigo costuma dizer: “no Rio, a Globo joga em casa”.
Hoje, tivemos mais uma prova. Ano passado, fui condenado em primeira instância, num processo movido pelo diretor de Jornalismo da Globo, Ali Kamel. Importante dizer: a juíza na primeira instância não me permitiu apresentar testemunhas, laudos, coisa nenhuma. Acolheu na íntegra a argumentação do diretor da Globo – sem que eu tivesse sequer a chance de estar à frente da meritíssima para esclarecer minhas posições.
Recorremos ao Tribunal de Justiça, também no Rio. Antes de discutir o mérito da ação,pedimos que o TJ analisasse um “agravo retido” (espécie de recurso prévio) que obrigasse a primeira instância a ouvir as testemunhas de defesa e os especialistas de duas universidadesque gostaríamos de ver consultados na ação.
O Tribunal, em decisão proferida nessa terça-feira (15/01), ignorou quase integralmente nossa argumentação. Negou o agravo e, no mérito, deu provimento apenas parcial à nossa apelação – reduzindo o valor da indenização que a meritíssima de primeira instância fixara em absurdos 50 mil reais. Ato contínuo, certos blogs da direita midiática começaram a dar repercussão à decisão. Claro! São todos fidelíssimos aos patrões e ao diretor da Globo, na luta que estes travam contra outros jornalistas.
Sobre esse processo, gostaria de esclarecer alguns pontos. Primeiro, cabe recurso e vamos recorrer!
Segundo, está claro que Ali Kamel usa a Justiça para se vingar de todos aqueles que criticam o papel por ele exercido à frente da maior emissora de TV do país. Kamel foi derrotado duas vezes nas urnas: perdeu em 2006 (quando a Globo alinhou-se ao delegado Bruno na véspera do primeiro turno, num episódio muito bem narrado pela CartaCapital, naquela época) e perdeu em 2010 (quando o episódio da “bolinha de papel” foi desmascarado pelos blogs e redes sociais). Contra as quotas, contra o Bolsa-Família, contra os avanços dos anos Lula: Kamel é um dos ideólogos da direita derrotada. Por isso mesmo, era chamado na Globo de “Ratzinger”.
Em 2010, Ali Kamel virou alvo de críticas fortes (mas nem por isso injustas) na internet. Deveria estar preparado pra isso. Dirige o jornalismo de uma emissora acostumada a usar seu poder para influir em eleições. Passadas as eleições de 2010, Kamel muniu-se de uma espécie de “furor processório”. Iniciou ações judiciais contra esse escrevinhador, e também contra Azenha (VioMundo), Marco Aurélio (Doladodelá), CloacaNews, Nassif, PH Amorim… Todas praticamente simultâneas. Estava claro que Kamel pretendia mandar um recado: “utilizarei minhas armas para o contra-ataque; não farei o debate público, de conteúdo, partirei para a revanche judicial”.
Advogados costumam dizer que em casos assim “o processo já é a pena”. Ou seja: o processante tem apoio da maior emissora do país, conta com advogados bem pagos e uma estrutura gigantesca. O processado (ou os processados) são jornalistas e blogueiros “sujos”, sem eira nem beira. O objetivo é sufocar-nos (financeiramente) com os processos.
Está enganado o senhor Ali Kamel. Aqui desse lado há gente que não se intimida tão facilmente.
Não tenho contra Kamel nada pessoal. Conversei com ele sempre de forma civilizada quando trabalhei na Globo. Troquei com ele alguns emails cordiais – como costumo fazer com todos colegas ou chefes. Kamel utilizou um desses e-mails pessoais na ação judicial, como se quisesse afirmar: “ele gostava de mim quando estava na Globo, deixou de gostar quando saiu da Globo.”
Ora, a questão não é pessoal. Tinha por Kamel respeito, até que comprovei de perto algumas atitudes estranhas (vetos a matérias), culminando com a atuação dele na cobertura do caso dos “aloprados” na eleição de 2006. Na época, eu trabalhava na Globo. Saí da emissora por causa disso. E passei a não mais respeitar Ali Kamel  profissionalmente. O discurso que ele fazia na Redação antes de 2006 (“todos podem ser ouvidos, há espaço para crítica”) era falso. Quem criticou ou dissentiu foi colocado na “geladeira” e “expurgado”. Isso está claro. Azenha, Marco Aurelio Mello, Carlos Dornelles e Franklin Martins estão aí para mostrar…
De resto, a utilização de e-mails (estritamente pessoais) numa ação não é ilegal. Mas mostra o grau apurado de ética de quem os utiliza como ferramenta da luta política e judicial.
No meu caso, a acusação é de ter “espalhado” pela internet que ele seria um “ator pornográfico”. Quem lê os textos que escrevi neste blog sobre a infeliz homonímia (um ator pornô nos anos 80, aparentemente, usava o mesmo nome que ele – Ali Kamel) logo percebe: em nenhum momento disse que Ali Kamel (o jornalista) seria o Ali Kamel (ator pornográfico).Não afirmei que eram a mesma pessoa nem neguei que o fossem. Não sabia, e isso pouco importava. Apenas usei a coincidência como mote para a crítica, em textos claramente opinativos: pornográfico, sim, é o jornalismo que Ali Kamel pratica tantas vezes à frente da Globo. Foi essa a afirmação que fiz em seguidos textos. Muitas vezes, de forma bem-humorada.
Na apelação ao Tribunal, mostramos como seria importante a juíza de primeira instância ter consultado especialistas em Comunicação  (indicamos ao menos dois) para entender a diferença entre opinião e informação. E para entender a centralidade do uso do humor na crítica política.
Mostramos em nossa defesa, ainda, como o impoluto comentarista (e ex-cineasta) Arnaldo Jabor utilizou-se de mote parecido no título de um livro que fez publicar: “Pornopolítica”. Se há uma “pornopolítica”, por que não posso falar em “jornalismo pornográfico”?
Só a Globo e seus comentaristas podem recorrer a metáforas? Parece que sim. Especialmente no Rio de Janeiro. No Rio, a Globo joga em casa.
Vamos recorrer aos tribunais de Brasília. Não que eu tenha grandes esperanças de ver magistrados na capital federal a enfrentar o diretor de Jornalismo da Globo. Mas vou utilizar as armas que tenho.
Mais que isso: se Kamel pensava em calar ou intimidar seus críticos, vai se dar mal. Esse processo vai ajudar a mobilizar aqueles que lutam contra os monopólios de mídia no Brasil. Vai ajudar a escancarar a hipocrisia daqueles que na ANJ e na SIP pedem “ampla liberdade de crítica”, daqueles que usam Institutos Milleniuns para exigir “que não se criem travas ao humor como ferramenta de crítica”, mas que fazem tudo ao contrario quando são  eles os objetos da crítica e do humor.
Kamel pode até ganhar no Rio. Pode ganhar no STJ, STF, CNJ, SIP, ANJ, sei lá onde mais.  Mas perderá na história. Aliás, já perdeu. Na testa dele está o carimbo (justo ou injusto? o público pode julgar…) de “manipulador de eleições”. Manipulador frustrado, diga-se. Porque segue a perder. No Brasil, na Venezuela, na Argentina…
A Justiça quer que eu pague 20 mil, 30 mil ou 50 mil pro Ali Kamel? Acho absurda a condenação. Mas se for obrigado, eu pago até com certo gosto. Levo lá no Jardim Botânico o cheque pra ele. Ou entrego no apartamento onde ele vive, de frente pro mar na zona sul – palco, vez ou outra, de brigas com os vizinhos que também acabam na Justiça.
Essa condenação, que ainda lutarei para reverter, lembra-me a belíssima letra de Paulo Vanzolini – com a qual abri esse texto…
Tudo bem, Kamel, se você e a  Justiça fizerem questão, eu pago! Só que seguirei a fazer – aqui – o contraponto ao jornalismo que você dirige.
Tudo bem, Kamel, se você e a Justiça fizerem questão, esgotados todos os recursos, eu pago!
Eu pago. Vê-lo derrotado frente à história: não tem preço.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A caça às bruxas na Rede Globo


Por Marco Aurélio Mello, em blog DoLaDoDeLá:

Uma fonte na TV Globo conta que desde sexta-feira começou uma caça às bruxas na emissora. Eles querem saber quem foi que vazou para o Rodrigo Vianna o plano de desqualificar o novo ministro da defesa, Celso Amorim. Como era sigiloso e envolveu não mais do que 20 profissionais de três capitais, eles consideram que fazer o mapeamento e achar o "traidor" é questão de tempo.

Só que eles ignoram que este tipo de segredo é de polichinelo, não dá para ser guardado numa redação. Por uma razão simples: um editor tem sempre outro editor com quem troca confidências. Repórteres, mesmo que tenham sido poucos e confiáveis os acionados, sempre comentam com os cinegrafistas - afinal têm uma amizade muito longa. E, não raro, há alguém que ouve, um auxiliar, um motorista... Portanto, esqueçam, será impossível descobrir de onde partiu a notícia que caiu como uma bomba no colo dos gestores.

Dizem até que o Código de Princípios que estava planejado para ser divulgado depois de um Seminário, com pompa e circunstância, foi antecipado. Os principais apresentadores do Jornal Nacional, Wiliam Bonner e Fátima Bernardes teriam sido convocados para trabalhar no fim de semana, fato raríssimo. Tudo para tentar apagar o incêndio de proporções desastrosas.

Sinal de que há sim um grupo lá dentro muito insatisfeito com o comando do jornalismo. Na Avenida Chucri Zaidan, por exemplo, onde fica a sede da emissora em São Paulo, o clima é de tensão e medo. O vazamento é tratado como crime e ao traidor está reservada a forca, o esfolamento - como na pintura de Michelângelo na Capela Sistina - com consequente exibição de vísceras em praça pública. Ninguém mandou tratar jornalismo como se fosse mercadoria. Jornalismo é informação, sem viés ideológico, sem interesse econômico e político. Simples assim!