Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 23 de março de 2012

O segredo do Sgt. Bales e um impasse afegão

19/3/2012, M K Bhadrakumar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/South_Asia/NC20Df04.html
Apesar de Washington repetir e repetir que a matança em Kandahar, há uma semana, foi resultado de um “surto”, de alguém “aparentemente descompensado” ou “provavelmente desequilibrado”, o povo afegão acredita nas provas reunidas por seus parlamentares, segundo as quais entre 15 e 20 soldados dos EUA participaram dos crimes. O presidente do Afeganistão Hamid Karzai também concordou: a versão dos EUA “não é convincente”.

E dentro do establishment militar afegão predominará a opinião exposta publicamente pelo comandante do estado-maior do exército afegão, Sher Mohammad Karimi, que condenou os soldados dos EUA. O tenente-general Karimi, que visitou a cena do crime, disse que acontecera massacre premeditado consumado por vários soldados norte-americanos.

Com tudo isso, torna-se altamente problemática a assinatura de um tratado estratégico entre Washington e Kabul, prevista para acontecer antes da reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, em Chicago, em maio. Washington espera que Karzai assine na linha pontilhada antes de maio; e Karzai sabe que seu futuro político depende de seu desempenho.

Bernard-Henri Lévy
Em comentário surpreendente, publicado semana passada, o influente criador de casos Bernard-Henri Lévy já disse, em tom de ameaça, que a comunidade internacional jamais deveria ter-se tornado “cegamente dependente do governo corrupto de Hamid Karzai”.[1]

Fazendo eco às ideias de vários comandantes norte-americanos, Henri Lévy pôs-se a criticar furiosamente a retirada planejada para 2014, como “admissão de fracasso e impotência”. Mas disse que prolongar a presença militar além de 2014 também seria difícil, “considerando-se o custo humano”. Assim sendo, a única via possível seria “ficar e sair” – quer dizer: retirar as tropas de combate, “mas deixar lá as bases militares e os instrutores.”

Lévy tem a solução: “Admitir que o Afeganistão não pode ser reduzido (...) a um confronto desesperado entre assassinos Talibã e os membros corruptos do governo Karzai (...). Em Cabul (...) estão também os herdeiros de [o falecido comandante da Aliança do Norte, Ahmad Shah] Massoud. E antes talvez de retirarmos a escada, talvez seja aconselhável aproximar-se dele, numa última tentativa, numa derradeira operação.”

Barack Obama

Karzai mais uma vez volta a ser tratado como se seu sucessor potencial já estivesse pronto e paramentado, à espera, na sala ao lado. O ponto é que, ao longo de uma sequência macabra de eventos ao longo das últimas seis, oito semanas – soldados dos EUA que urinam sobre cadáveres dos Talibã, queimam livros do Corão, massacram civis –, a meta sempre presente é conseguir que Karzai assine um pacto estratégico, que garanta presença militar norte-americana de longo prazo no Afeganistão.

Na 3ª-feira passada, o presidente Barack Obama dos EUA disse, em conferência de imprensa ao lado do primeiro-ministro britânico David Cameron, que Karzai ouvira claramente o que tinha de ouvir.

Mas, depois de Panjwayi, já nada pode continuar reduzido a uma batalha de objetivos, só entre Obama e Karzai.

Moscou entra em cena

Em entrevista exclusiva de 30 minutos, a um canal da televisão afegã, ontem à noite[2], o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, repetiu, nem duas nem três, mas quatro vezes, que a Rússia espera um Afeganistão “neutro” – palavra em código para dizer “sem presença militar estrangeira”.

A política russa está andando por duas trilhas. Uma, Moscou espera trabalhar bem próxima de Karzai. “Diferentes de outros [quer dizer “Washington”], nós não ordenamos ao governo [de Cabul] como construir o processo de reconciliação nacional. Sabemos que, além de pashtuns, há uzbeques, tadjiques, hazaras. Todos esses devem encontrar seu caminho até o sistema político, para que se sintam incluídos, não isolados, no processo. Esse é o princípio geral; como aplicá-lo na prática, não cabe aos russos dizer às autoridades afegãs”.

Por outro lado, Lavrov questionou a ideia de que o governo Obama ou a OTAN possam decidir unilateralmente sobre questão de “transição” ou de “fim da missão de combate”.

Exigiu que a Força Internacional de Assistência à Segurança [orig. International Security Assistance Force (ISAF)] demonstre ao Conselho de Segurança da ONU que cumpriu a missão que lhe foi atribuída, antes, evidentemente, de falar sobre retirada dos soldados de EUA e OTAN sem prestar qualquer satisfação à ONU sobre o resultado de sua missão no Afeganistão.

Lavrov destacou que há contradição fundamental na posição dos EUA: de um lado, (1) Washington assume que, sim, a ISAF teria cumprido a missão que recebeu da ONU e diz que retirará os soldados; de outro lado, (2) Washington continua a discutir com Kabul, “muito empenhadamente, o estabelecimento de quatro ou cinco bases militares no mesmo espaço de onde ‘retira’ os soldados, para o período pós-2014.”

Falando firme, Lavrov demarcou o quadro geral:

“Não se entende por que isso deva ser encaminhado desse modo, porque, se você precisa de presença militar, é sinal de que o mandado do Conselho de Segurança ainda não foi satisfatoriamente cumprido. Se você não quer cumprir o mandado do Conselho de Segurança, ou se supõe que o mandato já foi cumprido... para que seriam necessárias as bases militares? Não me parece que haja aí qualquer lógica. Acho também que o território afegão não deve ser usado para implantar espaços militarizados, que evidentemente preocuparão outros povos.

“Não vejo que lógica haveria em supor que, em 2014, o mandado do Conselho de Segurança possa ser dado por cumprido... se ainda for necessário haver lá muitos soldados, dentro das bases militares. Não se entende que finalidade teriam as tais bases militares e, além disso, os EUA estão em contato com países da Ásia Central, pedindo que autorizem presença militar de longo prazo. NÓS [a Rússia] queremos entender o motivo disso tudo, por que as tais bases seriam necessárias. Não acreditamos que esse grande número de bases militares contribua para a estabilidade da região.”

Para Lavrov:

(1) O terrorismo não foi derrotado, no Afeganistão;

(2) Os terroristas estão sendo “empurrados” para regiões mais ao norte em relação aos pontos onde estão sendo infiltrados, “na direção de países vizinhos da Federação Russa na Ásia Central; e não se pode dizer que contribuam para aumentar a estabilidade nessa região”;

(3) As Forças Internacionais de Assistência, ISAF, estão usando para isso a chamada “Rede Norte de Distribuição”. E “nós [a Rússia] acreditamos que essa é nossa contribuição para que seja cumprido o mandado que as ISAF receberam do Conselho de Segurança da ONU. Assim sendo, “temos o direito de exigir” que as ISAF cumpram realmente a missão para a qual foram mandadas para lá, antes de as ISAF declararem, unilateralmente, que alguma “missão de combate” estaria cumprida.

O que Moscou está fazendo é declarar que o governo Obama já não pode ditar a trajetória dessa guerra. A entrevista de Lavrov foi cuidadosamente agendada: essa semana, o Conselho de Segurança da ONU examinará o mandado que deu às ISAF, para avaliar os resultados.

Moscou está acrescentando o Afeganistão à litania de questões em relação às quais adotará abordagem “muscular” – além do sistema de mísseis de defesa que os EUA planejam, da Síria e do Irã. Semana passada, Moscou anunciou que poderia oferecer à OTAN uma base militar em Ulyanovsk, no Volga, para ser usada como armazém temporário de trânsito ferroviário de suprimentos para os exércitos da OTAN-EUA.

Dempsey, comandante do Estado-maior das Forças Armadas dos EUA

O oferecimento dos russos mete o Pentágono e a OTAN num dilema. Do ponto de vista logístico, seria assegurar uma linha vital de suprimentos; mas do ponto de vista geopolítico, Washington ainda tentou considerar a única alternativa que restava. A alternativa era voltar a discutir com o Paquistão, tentando conseguir a reabertura de duas estradas cujo trânsito está fechado. Isso, exatamente, é o que o Comandante do Estado-maior dos EUA, Martin Dempsey acaba de fazer.

Dempsey disse, em entrevista ao “Charlie Rose Show” dia 16/3,[3] que Washington está em contato “diretamente” e “privadamente” com Rawalpindi e que “estou pessoalmente otimista, que podemos reset as relações, de modo que atenda às necessidades dos dois lados.” Mencionou o general Ashfaq Kayani, comandante do exército paquistanês, com o qual teria tido “conversas absolutamente francas, sinceras”. Kayani disse que “fará o que puder”.

Dempsey chegou a jogar até “a carta da Índia”. Disse que o principal desafio para os EUA seria conseguir que os militares paquistaneses cedessem na certeza, enraizada entre eles, de que a Índia é “grande ameaça existencial contra o Paquistão”. (O general nada disse sobre o que Washington planeja fazer para espantar os medos paquistaneses.)

Bem visivelmente, vários modelos sobrepõem-se essa semana. A Rússia planeja jogar a luva e desafiar a estratégia de Washington para o Afeganistão, no momento da avaliação/renovação, essa semana, do mandado que as ISAF-EUA obtiveram do Conselho de Segurança. Os EUA, por sua vez, esperam ansiosamente algum resultado positivo das eleições parlamentares em Islamabad, que leve o Paquistão a reassumir a parceria de sempre com os EUA. E enquanto isso, um terceiro vetor gira, pendurado no ar: a fúria dos afegãos contra o massacre de Panjwayi.

O melhor que pode acontecer é que os afegãos engulam a versão “Sargento Bales”. Bales permanece preso, confinado em cela solitária, no Fort Leavenworth, no Kansas. Por curiosa ironia, exatamente ali, naquele forte, os dois generais, Dempsey e Kayani, foram colegas de classe, na Escola de Estudos Militares Avançados – onde estudaram Teatro de Operações.

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[1] 13/3/2012, Huffington Post, Bernard-Henri Lévy, “In Afghanistan, Between Plague and Cholera, There's Dr. Abdullah”, em http://www.huffingtonpost.com/bernardhenri-levy/afghanistan-abdullah-abdullah_b_1341268.html

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O Zé Cardozo vai investigar a Veja ?


O ex-Ministro José Dirceu revelou que um repórter da Veja, o detrito de maré baixa, tentou por duas vezes invadir o apartamento dele num hotel de Brasília.

Dirceu registrou o BO.

Trata-se de uma denúncia gravíssima.

Um órgão dito de imprensa, de uma empresa que explora livros didáticos e compartilha uma empresa de TV a cabo tem o direito de fazer isso e sair, assim, de fininho ?

É para isso a liberdade de imprensa ?

Na Inglaterra, o Murdoch teve que fechar o tablóide sensacionalista News of the World debaixo da pressão do Primeiro Ministro, do Ministro da Justiça e da opinião pública.

Diretores e jornalistas do Murdoch foram em cana, porque realizavam ou coonestavam o grampo.

Murdoch fugiu para os Estados Unidos, contratou 1002 advogados e espera que nada aconteça com ele por lá.

Murdoch nasceu na Austrália, destruiu a imprensa da Inglaterra e se naturalizou americano.

Leonel Brizola se perguntava quantos passaportes tinha o Sr Civita, dono da Abril e que contribuiu para enlamear a imprensa brasileira.

Ele é americano, brasileiro ou italiano ?

Se o “invadido” fosse um ex-ministro tucano ?

Fosse, por exemplo, o Padim Pade Cerra, o maior Ministro da Saúde do Brasil segundo Nelson Johnbim.

Imagine, amigo navegante, se um repórter de um blog sujo tentasse invadir o apartamento do Padim, em Brasília.

Estaria em cana, já nesta manhã de sol, debaixo das pedradas do PiG (*) (que se calou diante da invasão ao apartamento do Dirceu).

A ANJ da dra. Judith Brito teria entrado ao vivo, por 28 minutos, no jornal nacional.

Como o José Dirceu não é tucano nem queridinho do PiG (*), pergunta-se: o que fará o Zé – clique aqui para saber por que e quem o chama de – Cardozo ?

Ele tem medo da Veja ?

O Cardozo vai se coçar ?


Não


Ele tem medo do PiG

Sim


Ele é ministro da JUSTIÇA



Clique aqui e vote !


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

terça-feira, 22 de março de 2011

FILME AMERICANO


Clique aqui para ver a especial Fome e Desordem Financeira Mundial
Seis civis líbios são metralhados por um helicóptero dos EUA nas proximidades de Benghazi; uma das vítimas corre o risco de ter a perna amputada. O helicóptero em voos rasantes estava em missão de resgate de dois tripulantes do caça F-15 Strike Eagle que caiu em circunstancias não esclarecidas  na noite da segunda-feira. O F-15E realizava bombardeios na cidade de Benghazi, supostamente um reduto de opositores de Kadafi. Um dos feridos, ouvido no hospital, afirma que os civis estavam comemorando a ação internacional quando os americanos abriram fogo... (Carta Maior, com informações Al-Jazira/ Channel 4 News). Fundo sonoro da cena: o discurso de Obama no Chile, nesta 3º feira, quando afirmou: 'Nossa ação militar ...tem como foco a ameaça humana que Khadafi está impondo a seu povo. Ele não apenas está assassinando os civis, mas também ameaçando fazer muito mais". Corta e volta para a cena do helicóptero, agora sem som. Closes alternados nos rostos dos americanos acionando as metralhadoras e nos dos líbios, que festejavam chegada das forças estrangeiras.
(Carta Maior; 4º feira, 23/03/2011)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Do urânio empobrecido em Faluja, Iraque


Em Faluja, no Iraque, uma quantidade bem acima do comum dos bebês nascem com deformidades. A causa suposta é o urânio empobrecido usado nas munições das forças de ocupação estadunidenses. (Imagens perturbadoras das deformidades em bebês causadas por urânio empobrecidoaqui.)


É o que diz a Hora do povo (via Blog do velho comunista), mencionando oInternational Journal of Environmental Research and Public Health.

Recentemente, esta revista publicou um número especial sobre metais pesados e saúde.

No artigo "Cancer, Infant Mortality and Birth Sex-Ratio in Fallujah, Iraq 2005–2009", citado na CMI, os autores de uma pesquisa feita no local dizem relatam "a existência de sérios efeitos de mutação relacionados à saúde em Faluja".

Há outras informações importantes e perturbadoras sobre o urânio empobrecido na revista.

  • O urânio empobrecido é um novo poluente que vem sendo introduzido no ambiente
  • O principal modo de introdução é a atividade militar
  • O urânio empobrecido é menos radioativo do que o urânio natural, mas é igualmente tóxico
  • O urânio empobrecido altera de maneira persistente o comportamento e o cérebro de adultos

Quem nos diz isso é o cientista Wayne Briner no seu artigo sobre a toxicidade do urânio empobrecido.

Assim, ao que parece, uma bala estadunidense mata um nascido, deforma um de cada x não nascidos, e compromete a saúde de diversos outros animais, incluindo humanos, além de poluir o ambiente com radiação. E Faluja, celebrada em videogames e seriadinhos de TV, é o campo onde se brincou com tudo isso. 

aNImOt

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A bandeira errada e a bandeira certa

DEBATE ABERTO

Na falta de um verdadeiro confronto militar na tomada de Bagdá, o embate se deu sob forma simbólica, através da derrubada de uma estátua de Saddam. Um militar pendurou uma bandeira dos EUA na cabeça da estátua, logo substituída por uma bandeira iraquiana. Era uma tentativa de projetar um fundo histórico que engrandecesse aquela cena ridícula.
Na manhã do dia 09/04/2003 eu estava sentado diante da televisão, em meu apartamento no bairro do Butantã, em São Paulo. Assistia ao vivo a entrada triunfal (à tarde lá, pela diferença de horário) das tropas norte-americanas em Bagdá. À noite, assisti as reportagens sobre o evento em vários canais de TV, nacionais e estrangeiros.

No dia seguinte, 10/04/2003, publiquei um artigo nesta Carta Maior (quando minha coluna ainda tinha o nome de “Cartas Ácidas”, pois eu substituía interinamente Bernardo Kucinski, convocado a colaborar com o Presidente Lula) chamado “A bandeira errada”, sobre a diferença entre o que eu vira à tarde e o que vira à noite.

O foco do título era uma atitude precipitada, descrita como “ato falho” de um militar norte-americano. Na falta de um verdadeiro confronto militar na tomada de Bagdá, o embate se deu sob forma simbólica, através da derrubada de uma estátua de Saddam Hussein, na praça Fildos. Um dos militares – que hoje sei se chamar o Cabo Edward Chin – pendurou uma bandeira norte-americana na cabeça da estátua. Ajudada pelo vento, ela se plantou em seu alvo de cabeça para baixo, o que, na linguagem internacional, é aviso de situação difícil e de pedido de socorro. A bandeira pertencia a outro militar – Tim Maclaughlin – que a levara com a esperança algo obsessiva de hasteá-la em algum lugar para compor uma cena histórica. Talvez o que o inspirasse fosse a famosa cena (montada e remontada algumas vezes) dos soldados soviéticos hasteando a bandeira vermelha no alto do Reichstag, em Berlim, no gesto que simbolizaria o fim da Segunda Guerra Mundial. Ou ainda a foto (também construída e reconstruída) dos soldados norte-americanos hasteando a bandeira de seu país em Iwo Jima.

A bandeira ficou naquele alvo pouco mais de um minuto. O suficiente para oficiais no local e até em Washington, que assistiam ao vivo a invasão, que nem eu, perceberem o “erro” que aquilo significava. A bandeira dos EUA foi retirada, e em seu lugar colocou-se uma do Iraque, na posição certa. Seguiu-se a derrubada da estátua, proeza feita por um buldozer do Exército norte-americano, puxando uma corda atada à sua cabeça.

O feito nada tivera de heróico, ao contrário, para quem o vira ao vivo soava e ainda soa como, sobretudo, ridículo. Mas o noticiário à noite apresentava a derrubada com ares épicos de uma guerra de libertação, no Ocidente; como uma invasão de conquista, no mundo árabe, como na Al Jazzeera. No primeiro, preferia-se a versão com a bandeira iraquiana na cabeça; no segundo, a imagem da bandeira norte-americana era incluída.

No primeiro, havia uma epopéia redentora de um povo; no segundo, uma manipulação grosseira de imagens, planejada desde o começo.

Pulemos 8 anos. Ao entardecer de 09/01/2011, navegando na internet a partir de meu apartamento em Berlim, deparei com interessante artigo do colunista de assuntos internacionais Marcos Guterman, do Estadão (publicado em 06/01). Nele o colunista reporta sob o título “A gênese de um factóide de guerra”, o conteúdo de outro artigo, desta vez do norte-americano Peter Maass, publicado no New Yorker (“The Toppling. How the media inflated a minor moment in a long war”).

Peter Maass estava lá, no dia 09/04/2003, em Bagdá, na praça Firdos. Talvez eu até o tenha visto, quem sabe? Fui até o seu artigo. De modo muito interessante, ele confirma a leitura do meu modesto “A bandeira errada”, mas acrescenta dados muito significativos. A tese principal de Maass é a de desmontar a argumentação, por exemplo, da Al Jazzeera, de que aquilo fora um factóide planejado e montado a priori pelas forças norte-americanas. Não: para ele, o que houve foi um suceder de fatos independentes um do outro. A obsessão do dono da bandeira; o impulso de fazer algo que desse significado a um ato, no fundo, decepcionante, para quem esperava um rude combate que glorificasse a “ação épica” de um exército “libertador”; a leitura do erro, in loco e à distância, que significara a cobertura da cabeça de Saddam com a bandeira norte-americana; sua substituição pela bandeira iraquiana. Para o repórter norte-americano, inclusive, a passagem pela praça Fildos foram inteiramente ocasional; o comandante da coluna blindada norte-americana procurava o Hotel Palestina, onde se concentrava a mídia internacional, e na busca de informações, já que não tinha um mapa detalhado daquele bairro em Bagdá, desembocara na praça onde estava a estátua. E tudo isso vem muito bem documentado e corroborado por entrevistas, testemunhos, etc.

Só que, ao fazer isso, Peter Maass torna explicitamente claro o papel da mídia ocidental, então 99% aderente, senão sua incitadora, à campanha invasora do Iraque, e à tese da posse, por Saddam Hussein, de armas de destruição em massa, tese que se comprovou fictícia e manipulada a partir da própria mídia e do governo Bush Filho. É discutível, mesmo lendo o artigo do New Yorker, que tudo tenha sido tão completamente fruto do acaso. Fica evidente que, no meio do tumulto, tanto na mídia como no escalão militar houve quem percebesse, no instante e a posteriori, o valor simbólico daquilo. Prova disso é o relato de alguns repórteres sobre como suas reportagens foram modificadas pelos editores, back home, para dar-lhe o realce épico que nossa mídia pró-ocidente no Brasil, provinciana e canhestramente ecoou.

Oito anos depois, o Estadão, mesmo inadvertidamente, dá o chapeau à Carta Maior. Mérito pessoal? Sim, guardo um, e com muita satisfação. O de ter assistido, ao vivo, aquelas transmissões, e ter podido, dessa forma, senão fazer um juízo preciso sobre os acontecimentos, detectar a exata medida sobre como as versões construídas depois eram deveras enganosas. Eram montadas para enganar, num crime jornalisticamente doloso, do lado do Ocidente.

Mas uma coisa é certa. Ainda me aferro à convicção de que o “ato falho” do cabo Edward Chin, hasteando a bandeira que o então soldado Maclaughlin levara, tinha em si a chave para o âmago do espetáculo, tenha sido ele planejado antes ou não: projetar um fundo histórico (advindo da Segunda Guerra, seja a soviética no Reichstag ou a norte-americana em Iwo Jima) que engrandecesse aquela cena ridícula.

Ou seja, para o olhar investigativo, a bandeira errada era a bandeira certa. Inclusive por estar de cabeça para baixo.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.