Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

RECESSÃO TEMER-MEIRELLES DERRUBA VENDAS DO NATAL

domingo, 25 de dezembro de 2016

A degradação do Judiciário

É certo que, ao compactuar com o golpe de 1964 e, assim, com a ditadura militar que durante mais de duas décadas assolou o Brasil, o Judiciário perdeu a identificação que parecia ter com o Estado de direito. Mas, ainda assim, especialmente depois do fim da ditadura, permanecia uma aura de respeitabilidade com o Judiciário brasileiro, uma expectativa de que fosse o guardião da Constituição democrática, dos direitos das pessoas, da democracia.
Junto com a perda da continuidade do processo democrático, o Brasil perdeu também, com o golpe de 2016, o respeito pelo Judiciário, a começar pela sua instância máxima, o STF. O mínimo que se pode dizer é que, diante da mais grave decisão tomada pelo Congresso brasileiro, a do impeachment, com versões polêmicas sobre os seus fundamentos, o STF assistiu tudo como se não tivesse nada a ver com ele. Como se não tivesse a responsabilidade de zelar pela Constituição, decidindo sobre se houve ou não crime de responsabilidade. Se não serve para isso, para que serve o STF?
Pior ainda. O silêncio foi acompanhado da vergonhosa negociação do aumento de 41% para o Judiciário. A FSP noticiou que, nos intervalos das gravíssimas sessões do Senado, que tomava a mais grave decisão da sua história, a do impeachment, o então presidente do STF fazia lobby a favor daquele aumento com os senadores, sem pudor, num troca-troca explícito. Buscava aumentar ainda mais os salários inconstitucionais de marajás que eles tinham recebido das mãos de Eduardo Cunha, em pleno processo de impeachment na Câmara de Deputados. Personagem poupado pelo STF até que ele tivesse feito o trabalho sujo de promover o impeachment da Dilma na Câmara.
Depois, uma vez aprovada a infundada decisão do impeachment pelo Congresso, o STF não se pronunciou sobre a sua constitucionalidade, questionada por tantos advogados. Seu papel, minimamente, de zelador da Constituição, seria o de abrir esse texto e definir se houver ou não crime de responsabilidade. Poderia até concordar com a decisão do Congresso, mas o que não poderia fazer, era ficar calado, deixando, com o seu silêncio cúmplice, que se terminasse com o mandato de uma presidente recém reeleita pelo voto popular, sem nenhum fundamento que justificasse esse ato de violência contra a democracia.
Mas fez e, com seu silêncio, sacramentou sua responsabilidade com a ruptura da democracia no Brasil, da qual deveria ser o zelador. Porém, mais do que isso, demonstrando que não se trata de um episódio fortuito, o STF participa ativamente do projeto do golpe. Impediu que o Lula, sem ser réu de qualquer processo, assumisse um cargo no governo da Dilma, mas permite que 15 ministros do governo Temer façam isso.
Aceita que a escandalosa parcialidade do Moro e dos seus comparsas, na ação unilateral contra o Lula, seja considerada "imparcial", permitindo que ele monte os processos contra o Lula, façam as acusações, julgue e provavelmente condene o ex-presidente. O STF aceita silenciosamente as monstruosidades cometidas contra o Lula, o único líder popular no Brasil, demonstrando que deseja romper qualquer traço de legitimidade do sistema político brasileiro, compactuando com sua exclusão.
Um STF como esse tornou-se uma vergonha para a democracia brasileira. Desonra a função que deveria ter de guardião da Constituição, violada semanalmente pelo governo golpista e por seu Congresso corrupto. Degrada a função do Judiciário. Provoca a necessidade de que a restauração democrática promova a reforma profunda do Judiciário brasileiro, sob o risco de impedir que a democracia volte a reinar no Brasil, através da decisão soberana do povo.

FALA DE TEMER FOI ALVO DE PANELAÇO EM VÁRIAS CIDADES

Jornal Nacional compara mercado de trabalho dos EUA com o do Brasil. Veja na ponta do lápis como a Globo está te enganando.

enviado por Sergio Luiz Bezerra, via Facebook
O Jornal da Desgraça Nacional começou a campanha para doutrinar os brasileiros sobre a necessidade da reforma nas leis trabalhistas.
Logicamente, para impressionar, decidiu fazer a comparação entre as leis aplicadas nos EUA e aqui.
Entretanto, vamos pensar, questionar e colocar na ponta do lápis.
A dinâmica econômica americana é igual à brasileira?
O salário mínimo nos EUA é de U$ 7,25 por hora, equivalente a R$ 23,70.
O salário mínimo nos Brasil é de R$ 5,00 por hora, equivalente a U$ 1,53.
44 horas por semana de trabalho nos EUA representam R$ 1.042,80.
44 horas por semana de trabalho no Brasil representam R$ 220,00.
Em quatro semanas de trabalho, representando um mês, o trabalhador americano ganha R$ 4.171,20.
Em quatro semanas de trabalho, representando um mês, o trabalhador brasileiro ganha R$ 880,00.
O salário mínimo nos EUA é a base, sendo pago para as funções mais comuns e que não exigem muita qualificação. Dificilmente o trabalhador americano ganha apenas isso.
O salário mínimo no Brasil é a base, mas grande parte das empresas utilizam essa base como teto, ou acrescentam uma pequena diferença que é denominada de Piso da Categoria.
O trabalhador americano ganha em média 4,7 vezes mais que o trabalhador brasileiro.
O trabalhador brasileiro ganha em média apenas 20,4% do que ganha um trabalhador americano.
A economia americana é baseada no consumo, que gera produção, desenvolvimento e emprego.
A economia brasileira é baseada na especulação, que gera recessão, juros, queda no consumo e desemprego.
O empresariado americano também explora o trabalhador, mas esse tem poder de compra.
O empresariado brasileiro explora o trabalhador e a grande maioria desses trabalhadores possui poder de compra apenas para subsistência.
A renda média familiar anual nos EUA para uma casa com quatro pessoas é de U$  51.939,00, equivalentes a R$ 169.840,53 (dados de 2013, pela cotação do dólar de hoje).
A renda média familiar anual no Brasil para uma casa com quatro pessoas é de R$ 53.424,00, equivalente a U$ 16.337,61 (dados de 2015, pela cotação do dólar de hoje).
Sendo assim, não somos os EUA. Nosso poder de compra, consumo e  dinâmica econômica não são iguais e nem devem ser tomadas como referências comparativas.
A proposta para a reforma das leis trabalhistas só tem por finalidade ampliar ainda mais as diferenças sociais no Brasil.
Ou você realmente acredita que o empresariado irá usar essa nova lei para gerar empregos e renda para os brasileiros?
Pense ou morra escravo e acreditando na TV.
PS do Viomundo: A charge abaixo resume o “mais poder aos sindicatos” da manchete de O Globo:
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Golpe fará você trabalhar 12 horas/dia ganhando a metade. Que tal?

reforma
Foi por pouco que o governo Temer não bancou no Congresso a reforma trabalhista criminosa que fará o a qualidade do trabalho assalariado no Brasil retroceder quase um século. A dita “minirreforma” trabalhista ia ser implementada via medida provisória, mas, vendo o tamanho da repercussão negativa, Temer recuou e enviou o desastre ao Congresso como projeto de lei.
Tudo isso aconteceu nesta quinta-feira 22 de dezembro.
No mesmo dia, os golpistas tentaram suavizar a paulada na sociedade com medidas paliativas como redução de juros do cartão de crédito que já não vinham sendo pagos pelo tamanho da extorsão, e que estavam gerando uma inadimplência sem precedentes.
Cobrar 30, 40, 50 vezes a inflação anual por atraso no cartão de crédito não estava ajudando as operadoras financeiras e ainda estava desorganizando ainda mais a economia. Daí que a tal “redução de juros” que a mídia está citando no lugar do retorno à escravidão em que se constitui a “reforma trabalhista” não passa de tática diversionista.
Quanto à liberação de 1 mil reais de contas inativas do FGTS, não há novidade nenhuma. Pouco gente sabe, mas é possível fazer o saque de FGTS de conta inativa. São consideradas contas inativas de FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) aquelas que não recebem nenhum tipo de movimentação de depósitos há mais de três anos.
Cada contrato de trabalho tem uma conta própria vinculada de FGTS. Nessa conta, são realizados os depósitos mensais realizados pela empresa. Quando o contrato acaba ou o profissional pede demissão, sem direito a sacar o fundo, a conta deixa de receber depósitos e se torna inativa. Ela, no entanto, continua pertencendo ao trabalhador e seu saldo está sujeito a recebimento de juros e correção monetária.
Existem duas regras básicas para a realização do saque de FGTS de conta inativa. A primeira delas legisla sobre rescisões de contratos de trabalhos que tenham ocorrido antes de 13 de julho de 1990. Nesse caso, o trabalhador tem direito a sacar o saldo do fundo imediatamente.
Para as contas referentes a rescisões de contrato posteriores a essa data, a legislação para o saque de FGTS de conta inativa é diferente. É preciso que o trabalhador fique, no mínimo, três anos seguidos fora do regime FGTS, sem trabalhar com carteira assinada e sem nenhuma contribuição, para que tenha direito ao saque.
Esse direito só é válido, no entanto, a partir do mês de aniversário do trabalhador. Um exemplo: o trabalhador pediu demissão em janeiro de 2012 e, desde então, não trabalhou mais sob o regime de carteira assinada. Nesse caso, ele pode solicitar o saque de FGTS de conta inativa a partir do primeiro dia útil do mês do seu aniversário em 2015.
Caso o trabalhador tenha pedido demissão em dezembro de 2012, os três anos fora do regime se completarão em dezembro de 2015. Se o aniversário desse trabalhador for em novembro, por exemplo, ele só poderá solicitar o saque do FGTS das contas inativas a partir de novembro de 2016.
Após os três anos fora do regime FGTS, o trabalhador tem direito a receber o saldo de todas as contas inativas que estiverem sob seu nome. O que Temer fez, portanto, foi antecipar um pouco um direito dos trabalhadores, mas em um valor ridiculamente baixo.
Já a reforma trabalhista, ah, essa vai ferrar todo mundo. A proposta é fazer prevalecer sobre a legislação a negociação entre patrões e empregados que tratem de casos como trabalho remoto (fora do ambiente da empresa), remuneração por produtividade e registro de ponto.
Ela permitirá também negociar, sem seguir a atual legislação, o parcelamento de férias anuais em até três vezes. Não, não é piada. Você não vai mais sair de férias com dinheiro no bolso. Mas isso não é o pior
Também terão força de lei, desde que incluídos em acordos coletivos, intervalo entre jornadas de trabalho. Ou seja: você passa o dia ou a semana à disposição da empresa, mas só receberá alguma coisa quando ela o chamar para trabalhar.
Gostou?
No caso do Programa Seguro-Emprego, as regras seguem permitindo uma redução de 30% da jornada de trabalho, sendo que 50% da perda salarial é bancada com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). O programa passará a ser permanente e será usado em períodos de recessão da economia, ou seja, quando você mais precisa.
E o pior é saber quem define o que são “períodos de recessão da economia”, porque esse conceito pode ser amplamente manipulável pelas empresas, que passariam a qualificar assim até períodos de baixa sazonal de suas atividades.
A medida deve fixar ainda em 120 dias o contrato temporário de trabalho, prorrogável uma vez, além do contrato parcial de trabalho, elevando de 25 para 30 horas semanais a jornada no sistema.
Aí é o inferno mesmo. Vá se acostumando a ter muita dificuldade para começar uma carreira, pois ser usado como trabalhador descartável – que a empresa usa e joga fora – vai se tornar uma regra para a maioria.
O mais incrível é ver a materialização do regime de trabalho de 12 horas que o ex-presidente da Fiesp Benjamin Steinbruch queria.
Em julho, o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson
Braga de Andrade, afirmou que o governo deveria promover “medidas muito duras” nas leis trabalhistas:
— Aqui no Brasil temos 44 horas de trabalho semanais. As centrais sindicais tentam passar esse número para 40. A França, que tem 36 horas, passou agora para 80
Em setembro deste ano, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, chegou comentar publicamente que o governo Temer estava estudando meios de fazer as pessoas terem que trabalhar 12 horas por dia. E se tiver uma hora de almoço, seu salário ficará suspenso nesse período.
Em qualquer país com um povo racional, proposta como essa seria sucedida por uma guerra civil ou pelo linchamento do propositor. No Brasil, os pilantras que fizeram essa proposta indecente dão uma explicaçãozinha singela e a massa de otários engole.
Segundo os golpistas, o trabalhador só vai ter todo esse prejuízo se ele mesmo quiser. É isso mesmo, minha gente! Você só vai ter que trabalhar o dobro ganhando a metade se quiser… Ou melhor, se o seu sindicato fizer um acordo com os patrões extinguindo seus direitos trabalhistas.
Por que o sindicato faria isso? Se for da Força Sindical, por exemplo, seria por receber propina dos patrões. Mas mesmo que seja um sindicato decente, esse acordo poderá ser feito se o patrão disser que sem o acordo vai demitir todo mundo. Aí o sindicato negocia para preservar os empregos.
Bem, dirá você, o patrão só fará isso se estiver com problemas muito sérios, se a economia estiver afundando, se a empresa estiver à beira da falência.
Vou chamar você de ingênuo para não chamar de idiota, ok?
Quer dizer que não há empresário inescrupuloso que mesmo ganhando os tubos vai dizer que não aguenta mais pagar os salários só para conseguir uma redução da folha de pagamento que pode chegar à metade sem ver diminuído seu contingente de empregados ou as horas trabalhadas?

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Veja quem premiou Temer! Mansão vai pro pau!

Moro e Aécio.jpg
O que ele diz? Não vem ao caso? Fica tranquilo? Vou ferrar o Lula sete vezes...
Magnífico trabalho de reportagem de Pedro Zambarda, do DCM, desnuda os moralistas sem moral da assim chamada QuantoÉ, que entregaram o Homem do Ano ao Traíra, criaram o clima para aquela cena que mais parece uma bolina entre o Mineirinho da relação de alcunhas da Odebrecht e o cachalote.
É a mais completa falta de vergonha, diria um noturno e volumoso tucano, cheio de pudor!
Por Pedro Zambarda
A casa de Domingo Alzugaray, dono da Três, que será leiloada
A mansão de Domingo Alzugaray, dono da Três, que será leiloada
Domingo Cecílio Alzugaray tem 84 anos e nasceu em Victoria, na província argentina de Entre Rios (em torno de 30 mil habitantes). Começou como ator de teatro, cinema e fotonovelas nos anos 50 e 60.
Naturalizou-se brasileiro em 1966 para nunca mais retornar à Argentina. Tornou-se diretor de revistas da Abril e participou do nascimento da revista Veja em 1968.
Segundo a biografia de Roberto Civita, escrita pelo jornalista Carlos Maranhão, Alzugaray surpreendeu “a família Civita, a empresa e o mercado” ao empreender em 1972. Ele fundou, com ajuda de Fabrizio Fasano e Luis Carta, a Editora Três.
Virou concorrente direto da Veja ao lançar a Istoé em 1976 com ajuda de Mino Carta, o irmão de Luis, que fora demitido da Abril.
Sua empresa e sua mansão estão hoje no centro de um imbroglio maciço.
Atualmente, a editora fica no bairro da Lapa de Baixo, na Rua William Speers, que é o endereço que Alzugaray declara por escrito em diferentes ações trabalhistas.
Num processo de 2007 movido por uma ex-funcionária que não recebeu seus salários no prazo, ele menciona outro endereço residencial, no Morumbi, em um dos documentos.
Trata-se de um casarão de 2 mil metros quadrados avaliado em R$ 2,8 milhões — o valor venal — na ação. A área construída corresponde a 726 metros quadrados. A metragem para venda foi calculada em R$ 3857 mil.
De acordo com uma arquiteta consultada pelo DCM, o valor de mercado é de R$ 5,5 milhões. Ela pertence ao casal Domingo e Cátia Alzugaray e foi adquirida em 24 de novembro de 1977.
Foi colocada em penhora, como determinado na 44ª Vara do Trabalho.
Por que Domingo Alzugaray terá que entregá-la?
A família a usa como garantia de pagamento das dívidas, apesar dos salários atrasados de funcionários na Editora Três. O 13º, por exemplo, foi fatiado em cinco parcelas, ao invés de duas segundo a lei, sendo a primeira de 50% até 30 de novembro. O restante deve ser fornecido obrigatoriamente até o dia 20 de dezembro.
Como no caso que Renan Calheiros consagrou, ninguém recebe o oficial de Justiça na mansão do Morumbi, exceto a governanta. Domingo Alzugaray também não apresentou documentação comprovando que de fato habita ali. Ele poderia comprovar através de uma conta de água ou de luz.
Os proprietários poderiam entrar com embargo de execução caso provassem que dependem daquele teto. Nada disso foi mostrado e nenhuma contestação por parte dos Alzugaray foi feita.
Domingo Alzugaray
Domingo Alzugaray
Na Justiça, Domingo declarou que mora na William Speers, a rua da Editora Três. Ele não explica ao oficial se mora no local e só teve a casa colocada em penhora porque arrastou o processo de pagamento de direitos e salários atrasados.
A situação levou a juíza Thatyana Cristina de Rezende Esteves a decidir por colocá-la em leilão.
No dia 6 de dezembro, a Istoé deu uma festança no Citibank Hall para dar a Michel Temer o trofeu de “Brasileiro do Ano”, na presença do juiz Sérgio Moro e de outros políticos barra suja. Três dias depois, o executivo Cláudio Mello Filho, da Odebrecht, denunciaria o presidente em sua delação premiada.
“É um acinte, uma ofensa, uma festa como aquela da Istoé envolvendo uma editora que está devendo na Justiça, em processo de recuperação. A Três está devendo milhões para muita gente e rompe com a integridade dos seus trabalhadores”, afirma Kiyomori Mori, o advogado da ex-funcionária.
A mansão tem um muro de 3 metros de altura e uma guarita no portão. Um poodle late para os estranhos no topo do muro. A governanta confirmou que o proprietário é Domingo Alzugaray, mas que ele não estava no local e não havia previsão do seu retorno.
A propriedade está numa região onde os apartamentos de 1,2 mil metros quadrados são comercializados por até R$ 24 milhões.
Na rua Ribeiro Lisboa há uma casa à venda por R$ 4,4 milhões com 4 suítes, 880 metros de área construída e 1200 metros quadrados de área total, além de ter 4 vagas para carros.
Outra, na rua Antonio de Andrade Rabelo, está disponível por R$ 8 milhões e também possui 4 quartos, 800 metros quadrados de área útil, além de 2500 metros de área total com espaço para 6 automóveis. Seu preço é mais alto porque o metro quadrado é vendido por R$ 10 mil.
Em abril, numa de várias “reportagens” sobre o apartamento de Lula no Guarujá, a Istoé escreveu o seguinte: “Desde que surgiram as suspeitas de ocultação de patrimônio, a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nega que seja proprietária do tríplex no Guarujá. A cada nova prova, lança uma versão. E foram muitas tentativas para se livrar de investigações e denúncias de crimes, como lavagem de dinheiro e falsidade ideológica”.
O prazo do embargo para evitar o leilão da mansão de Domingo Alzugaray acabou e ela vai para o prego após o próximo recesso. A dúvida é se o dono da Istoé sai antes ou depois que seu Brasileiro do Ano, Michel Temer, desocupar Brasília.
editora três - falência

Direita procura o anti-Lula

Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
EMIR SADER
A pesar da obsessão de  juízes marajás de acumular condenações sem fundamento contra Lula, a direita se prepara para enfrentá-lo nas eleições. E retoma a mesma busca iniciada em 1989: procurar o anti-Lula, quem quer que ele seja, venha de onde venha.
Naquele momento, no desespero de encontrar candidatos anti-Lula e anti-Brizola, a direita se jogou nos braços aventureiros de Fernando Collor. Fracassado Collor, cooptou a FHC para dar continuidade a seu modelo neoliberal.
Desde então o tucanato tem oferecido os candidatos sucessivamente derrotados por Lula e por Dilma. Marina funcionou, em algum momento da campanha de 2014, como a anti-Dilma, mas foi rapidamente desmascarada na sua demagogia e Aécio voltou a ser a esperança branca da direita brasileira.
Agora, apavorada pelo governo desastroso de Temer, duvidando que Moro e seus comparsas consigam tirar Lula da jogada, a direita brasileira reinicia sua árdua busca do anti-Lula. Posição que provisoriamente ocupa Marina, de plantão enquanto a campanha não se aquece e seu desempenho pífio atente fortemente contra ela.
A direita mostrou consciência de que Lula é o candidato favorito, por isso tenta tirá-lo da vida política ou, caso não consiga, a construção de um anti-Lula é sua tarefa mais importante e árdua. A tática é a de, por um lado, mediante denúncias diárias contra Lula, forjar um nível de rejeição que dificulte a vitória dele no segundo turno, dado que todos aceitam que no primeiro turno ele é amplamente favorito. Temem que na campanha, com Lula percorrendo o país, retomando sua relação direta com o povo, recordando as realizações do seu governo, contrapostas agora às desastrosas medidas do governo Temer, ele supere facilmente a rejeição e possa triunfar até com mais folga que nas eleições anteriores.
Quem pode ser o anti-Lula esta vez? Os candidatos tucanos tradicionais caem cada vez mais nas pesquisas, mesmo Alckmin. Marina tem voo curto. Juristas não têm nenhuma possibilidade de obter grande votação além dos setores de classe média. Será uma busca dura por figuras novas, apoiando-se na vitória de personagens vitoriosos nas eleições municipais, assumindo a linha da não política, da anti-política.
Um novo Collor é impossível. Jornalistas têm mostrado pouca capacidade de aguentar campanhas eleitorais densas pelos debates e propostas nacionais que requerem. Será uma busca de caras novas, sem rejeição, como elemento de força, para se contrapor à rejeição que pretendem poder manter contra Lula.
As propostas interessam menos. Atualmente campanha é campanha, governo é governo. O caso de Mauricio Macri, na Argentina, é significativo. No único debate na TV com seu opositor, ele negou absolutamente tudo que se lhe imputava que iria fazer, para depois fazer tudo o que ele negava. Na campanha os candidatos orientados pelo marketing tratam de dizer aquilo que as pesquisas dizem que os eleitores gostariam que ele dissesse. Um candidato de direita não pode revelar seus objetivos reais, porque se desgasta rapidamente. O caso de Marina nas eleições de 2014 foi significativo. Ela dizia que manteria as políticas sociais dos governos do PT, mas seu guru econômico desmentia, ao fazer afirmações que se contradiziam frontalmente com a manutenção das políticas sociais.
Lula se torna a variável fundamental do futuro do Brasil. Ou ele é candidato e tem grandes possibilidades de se eleger de novo presidente do Brasil, retomando um modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, aprovado sucessivamente pelos brasileiros nas últimas quatro eleições. Ou ele é impedido de se candidatar e apoiará um candidato que represente essa retomada, igualmente com grandes chances de ser eleito. Enquanto isso a direita tenta tirá-lo da campanha eleitoral, tenta forjar sua rejeição e tenta encontrar o anti-Lula.

Datafolha gera pânico na Lava Jato e onda de denúncias contra Lula

lula-datafolha
É tudo muito claro, muito escancarado, muito fácil de notar. Os playboys da Lava Jato não têm maiores preocupações com as aparências, donde se depreende que o alvo dessa overdose de denúncias contra Lula na Justiça, que as aceita em seguida, em questão de minutos após serem feitas, não visa a opinião pública, mas uma estratégia jurídica.
É tudo muito claro, muito escancarado, muito fácil de notar. Os playboys da Lava Jato não têm maiores preocupações com as aparências, donde se depreende que o alvo dessa overdose de denúncias contra Lula na Justiça, que as aceita em seguida, em questão de minutos após serem feitas, não visa a opinião pública, mas uma estratégia jurídica.
Não sejamos ingênuos. Os antipetistas da Lava Jato e da mídia sabem muito bem que não adianta multiplicarem por dez a quantidade de ações contra ele na Justiça. A população que até agora, de forma crescente, ignora o linchamento jurídico-midiático e apoia um terceiro mandato para o ex-presidente não vai dar bola a denúncias só por serem muitas.
Aliás, a estratégia da Lava Jato é de altíssimo risco.
Claro que se houver uma profusão de inquéritos e, futuramente, de condenações, será mais fácil para o Judiciário antipetista condenar Lula em algumas ações e absolver em outras, de modo que a perseguição judiciária não pareça o que é, mas, por outro lado, a perseguição mais evidente e imediatamente após pesquisa de intenção de voto em que o ex-presidente desponta como nova força eleitoral para 2018 vai dando consistência à acusação de motivação política da Lava Jato e da Justiça.
O tese sobre lawfare vai se fortalecendo e pode abrir processo formal na ONU, que passará a investigar o Brasil por usar o poder do Estado para perseguir Lula.
Na verdade, ainda que a mídia vá negar até a morte, ao menos a abertura do processo na ONU está praticamente garantida – e se o processo for aberto a condenação do Brasil será certa.
Está ficando cada vez mais claro que está havendo perseguição a Lula. A onda de denúncias contra ele na Justiça logo após a pesquisa em que ele aparece derrotando todos os adversários inclusive no segundo turno – menos Marina Silva, mas aproximando-se muito dela –, pôs o consórcio anti-Lula de cabelos em pé.
Vale a pena, para quem não assistiu ou mesmo para quem assistiu, ver ou rever o depoimento do porteiro do prédio no Guarujá em que fica o tal “tríplex” de 200 metros quadrados.
Antes de prosseguir, porém, um aviso. Esse porteiro, para combater a “corrupção” de Lula, filiou-se ao partido mais envolvido na Lava Jato, o PP, e tem hoje muitíssimo interesse em que Lula seja condenado para que sua carreira política avance.
Como se vê, Sergio Moro parece ter combinado a estratégia com o ex-porteiro. Impediu que o interesse dele em mentir para lucrar politicamente não pudesse ser questionado. É uma atitude criminosa, cerceando o direito de defesa.
Para mandar um ex-presidente para a cadeia no mínimo é exigível que a defesa dele tenha todas as condições de agir sem constrangimentos. Os renitentes choques da defesa de Lula com Sergio Moro faz dele um inimigo do ex-presidente e de seus advogados. É uma vergonha ele ser julgado por um juiz que já manifestou reiteradas vezes suas diferenças com o réu que irá sentenciar.
Sobre as denúncias contra Lula, o que está ocorrendo é uma estratégia muito clara de indiciá-lo em vários inquéritos para poder usar apenas alguns deles em condenação em segunda instância, de modo a enganar a sociedade quanto ao resultado desse julgamento.
O conclave antilulista não pode apenas desmoralizar Lula. Têm que fazer dele um exemplo, para que outros presidentes não ousem tentar melhorar a vida dos pobres na mesma velocidade. Ou até para que nem tentem melhorá-la.
No caminho dos carrascos de Lula, porém, existe uma muralha que Moro e seus asseclas vão considerar intransponível. Uma muralha chamada povo. Poderão derrubar essa muralha, mas serão soterrados por ela, se cair. Se Lula for preso ou tornado inelegível sem provas inquestionáveis, não podendo se candidatar elegerá quem quiser.
Ou Lula ou um “poste” por ele indicado vêm aí. Lula se converterá no preso político mais famoso do mundo, se tentarem condená-lo como condenaram os réus do mensalão. A crise político-econômica brasileira se estenderá por tempo e alcance indeterminados. Essa guerra insana contra Lula ainda vai afundar todos nós.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Assim a Globo derrubou a Dilma E a Dilma engordou a Globo

Globo Venda.jpg
Como a Rede Globo manipulou o impeachment da presidente do Brasil, Dilma Rousseff
Estudo mostra como o jornal O Globo e o Jornal Nacional demonizaram e deslegitimaram de maneira sistemática a então presidente Dilma Rousseff.
Por Teun A. van Dijk - Universidade Pompeu Fabra, Barcelona
Resumo
O presente artigo tem como objetivo demonstrar que o impeachment da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ocorrido em 2016, resultou de um golpe orquestrado pela elite oligárquica e conservadora contra o Partido dos Trabalhadores, que estava no poder desde 2002, no qual a imprensa de direita brasileira desempenhou um papel determinante ao manipular a opinião pública, além dos políticos que votaram contra Dilma. Destaca-se o envolvimento do poderoso conglomerado midiático Organizações Globo que, utilizando-se de seus veículos de comunicação, como o jornal O Globo e o noticiário televisivo de mais alta audiência no país, o Jornal Nacional, demonizou e deslegitimou de maneira sistemática a então presidente Dilma, o ex-presidente Lula e o PT em suas reportagens e editoriais ao seletivamente associá-los à corrupção disseminada e culpá-los pela séria recessão econômica. Após um resumo desse contexto sociopolítico, e uma breve definição de manipulação, serão analisadas algumas das estratégias de manipulação empregadas pelos editoriais do jornal O Globo, no período que compreende março e abril de 2016.
 
Introdução
 
Em 31 de agosto de 2016, o Senado brasileiro votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, pois ela teria feito ajustes no orçamento nacional por meio de operações financeiras “ilegais”. Tal fato ocorreu após meses de debate nacional acirrado, travado na grande imprensa, na internet e na Câmara dos Deputados. Após os bem-sucedidos oito anos de governo de seu mundialmente famoso antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), e quatro anos de seu primeiro mandato, Dilma foi re-eleita em 2014, com uma vitória apertada, mas uma taxa de aprovação geral de 60%. 
Como explicar que, em 2016, sua taxa de aprovação caiu drasticamente e mais de dois-terços da Câmara e do Senado decidiram acusá-la e condená-la por uma prática financeira comum entre seus antecessores?
 
Neste artigo, mostro que esse impeachment foi resultado de uma enorme manipulação feita pelas Organizações Globo, o maior conglomerado midiático do país, voz da classe-média conservadora e, de maneira mais geral, representante da elite oligárquica conservadora brasileira.
 
Juntamente com outros jornais e revistas, o jornal O Globo e, especialmente, a Rede Globo, com seu Jornal Nacional, o noticiário televisivo mais assistido no país, aumentaram de maneira acentuada, desde 2012, seus ataques a Lula, Dilma eu seu partido, o Partido dos Trabalhadores (ver Souza, 2011). A imprensa seletivamente os culpou pela pior crise econômica enfrentada pelo país em décadas, além de acusá-los de corrupção, como ocorreu no caso da Petrobrás.
 
A campanha midiática, exacerbando o descontentamento geral com relação à corrupção política disseminada e o ressentimento da direita contra a coalizão de esquerda liderada pelo PT, instigou, em março de 2016, enormes protestos feitos pela classe média conservadora. Nesse contexto sociopolítico, o parlamento usou as operações financeiras realizadas por Dilma Rousseff como pretexto para por fim em 13 anos de governo petista. 
 
Apesar de não ser nada surpreendente o fato de uma imprensa conservadora criticar um governo e uma presidente de esquerda, uma análise sistemática dos editoriais do jornal O Globo, publicados entre março e abril de 2016, mostra que a opinião pública, os protestos, e a subsequente decisão política tomada foram manipuladas por uma cobertura parcial e deturpada. Tratarei deste assunto com mais detalhe após um apresentar um resumo da teoria da manipulação, dentro do arcabouço da nossa abordagem multidisciplinar e sociocognitiva dos Estudos Críticos do Discurso.
 
Limitações
 
Há muitos elementos que, infelizmente, não são apresentados neste artigo. Em primeiro lugar, apenas ofereço um resumo de algumas propriedades teóricas da manipulação, e não uma nova teoria ou resenha de pesquisas anteriores sobre o tema – o que demandaria um estudo muito mais volumoso, um livro. Em segundo lugar, para entender os editoriais de O Globo, seria necessária uma seção dedicada ao contexto sociopolítico brasileiro, à grande imprensa brasileira e, especialmente, às Organizações Globo.
 
O contexto sociopolítico no Brasil
 
O impeachment da ex-presidente Rousseff (comumente chamada somente pelo primeiro nome, Dilma, conforme o costume brasileiro – refere-se a políticos e outros famosos da mesma maneira) deve ser analisado dentro de um contexto sociopolítico complexo de polarização entre a esquerda, liderada pelo PT, e a direita, liderada pelo PSDB (um dos partidos da oposição na época), cujo candidato, José Serra, perdeu as eleições de 2010 para Dilma (para análise a respeito do recente contexto sociopolítico do impeachment, ver, p.ex. Jinkings, Doria & Cleto, 2016; Souza, 2016; para um histórico político mais geral, ver, p.ex., Power, 2000; Hunter, 2010).
 
Desde a eleição do ex-presidente Lula em 2002, sua re-eleição em 2006 até os dias de hoje, a direita brasileira, em geral, e a imprensa, em particular, buscam deslegitimar tanto a ele quanto ao PT, apesar do sucesso espetacular e internacionalmente reconhecido que obtiveram na luta contra a pobreza, com as políticas do Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida – destinadas à população de baixa renda. Essa oposição se tornou mais evidente com a eleição de sua sucessora Dilma Rousseff, em 2010 e, especialmente, após sua re-eleição em 2014, quando ela ganhou (por pouco) do candidato da oposição Aécio Neves, do PSDB.
 
As políticas progressistas do PT e partidos aliados contribuíram para tirar milhões de brasileiros da pobreza e para aumentar a fama de Lula – motivos suficientes para gerar ressentimento entre partidos, políticos e mídia conservadores e neoliberais (ver Hunter, 2010). Além disso, em 2005, o PT – entre outros partidos – esteve envolvido no escândalo do Mensalão, um esquema de corrupção para compra de votos favorecendo propostas do governo. Apesar do envolvimento de outros partidos no escândalo do mensalão, a mídia seletivamente colocou seu foco no PT e nos políticos do PT, além do próprio Lula.
 
A intensidade dos editoriais e a parcialidade das reportagens do jornal O Globo em 2016 não devem ser explicadas apenas em termos da oposição ideológica, ou partidária, entre a direita e a esquerda. De diferentes maneiras, o discurso da direita e o da mídia demonstra um profundo ódio contra Lula, não apenas porque ele era a pessoa-símbolo do PT enquanto inimigo político, por causa de sua fama internacional e do sucesso de seus programas sociais, ou mesmo da corrupção da qual o PT participou, assim como os demais partidos. Conforme também mostrarei em nossa análise do discurso, há também uma questão de profundo ressentimento de classe, em um país com uma profunda e resiliente desigualdade social (e racial). Lula sempre foi visto pela elite (branca) conservadora como o metalúrgico pobre que conseguiu ganhas as eleições de 2002, finalmente derrotando o PSDB – o último presidente eleito pelo partido foi Fernando Henrique Cardoso (FHC), um conhecido professor de sociologia da Universidade de São Paulo. Em 2014, o candidato tucano Aécio Neves, ex-governador do estado de Minas Gerais, perdeu as eleições para Dilma.
 
Durante a presidência de Dilma Rousseff, a história se repetiu em um escândalo de corrupção muito maior (às vezes chamado de “Petrolão”) na estatal petrolífera Petrobras, além de outras grandes empresas, como a empreiteira Odebrecht, acusada de pagar propinas a políticos e partidos. A investigação desse escândalo de corrupção, chamada Operação Lava-Jato, foi (e ainda é) uma operação enorme que levou diversos empresários conhecidos, além de políticos de diversos partidos (ver verbete da Wikipedia sobre a Lava-Jato) a serem processados (e muitos! condenados). Mais uma vez, tanto a acusação, principalmente o juiz Sérgio Moro, da cidade de Curitiba, localizada no sul do país e centro da Operação Lava-Jato, e a mídia, voltaram mais sua atenção ao PT e a Lula do que a outros políticos e partidos. A própria Dilma, que já havia sido ex-diretora da Petrobras, nunca foi formalmente acusada de corrupção; mesmo assim, a mídia rotineiramente a associava ao escândalo, além de ter acusado a ela (e a Lula) repetidas vezes de obstruir as investigações da Operação. 
 
Principalmente por conta da intensa cobertura midiática dedicada a esses grandes escândalos, a opinião pública já tinha uma visão muito negativa da corrupção generalizada no Brasil, principalmente em relação aos políticos e, mais especificamente, ao PT, apesar da contínua popularidade de Lula e de Dilma entre milhões de brasileiros. Simultaneamente, em 2015, a crise financeira internacional também chegou ao Brasil, e a situação econômica do país se deteriorou rapidamente, contribuindo ainda mais para uma atmosfera geral de crise, afetando boa parte da população.
 
É nesse cenário complexo que a direita e sua mídia viram, em 2015 e 2016, uma oportunidade para finalmente acabar com o PT no poder e promover o impeachment de Dilma Rousseff, sob o pretexto das pedaladas fiscais, de esquemas financeiros (como empréstimos “ilegais” do Banco Central) para financiar programas sociais, a despeito do baixo orçamento nacional. Apesar de governos anteriores terem lançado mão de esquemas financeiros semelhantes, nesse caso a maioria dos políticos aproveitou a oportunidade para acusar a presidente de “crime de responsabilidade”, uma das condições formais para o impeachment no Brasil – uma democracia presidencialista.
 
Quando, em março de 2016, seu parceiro de coalizão, o PMDB e seu vice-presidente, Michel Temer (PMDB), deixaram o governo, tornou-se possível angariar votos para o início do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. O poderoso e manipulador presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), ele próprio acusado de corrupção e lavagem de dinheiro (e atualmente preso), tornou- se o principal inimigo da presidente, pois o PT não impediu que Cunha fosse investigado na Comissão de Ética da Câmara.
 
Uma das principais estratégias midiáticas, que pode ser observada nos editoriais de O Globo, é a de repetidamente enfatizar a legitimidade e constitucionalidade do impeachment – uma repetição que acaba por sugerir que poderia haver dúvidas sobre sua legitimidade, já muito questionada por juristas brasileiros renomados (ver também Carta Capital, /Intervozes, 16 de abril de 2016).
 
Enquanto isso, em meados de abril de 2016, principalmente por conta da influente manipulação feita pela mídia, manifestações enormes (cujos participantes, em sua grande maioria, da classe-média conservadora) contra o PT e contra Dilma foram realizadas em todo o país, obviamente infladas pela mesma mídia e usadas como argumento populista para persuadir parlamentares a votar contra a ex-presidente. Ocorreram também manifestações menores a favor de Dilma, mas foram minimizadas pela mídia. 
 
Um importante antecedente dessas manifestações, por exemplo, foram os protestos locais ocorridos em 2013 contra o aumento das tarifas de ônibus, cujos participantes foram muitas vezes descritos pela mídia como vândalos (ver também Silva & Marcondes, 2014). Isso significa que em 2016 já havia um potencial generalizado de ocorrência de protestos, que logo a mídia estendeu para todo o país, só que desta vez os participantes não eram “vândalos”, mas todo o povo Brasileiro. Obviamente, conforme discutirei mais adiante, os protagonistas dos protestos a favor de Dilma foram apenas descritos como militantes e não como parte do povo. É interessante notar que, já nas manifestações antiDilma de março de 2015, pedia-se o impeachment da ex-presidente (ver também Catozzo & Barcellos, 2016).
 
Por fim, após a aprovação na Câmara, presidida por Eduardo Cunha, e sem o impedimento da Suprema Corte (que deixou o parlamento decidir – ver também, Feres, 2016), era tarefa constitucional do Senado julgar a presidente e, com mais do que a necessária maioria de dois-terços, em 31 de agosto de 2016, o voto pelo impeachment venceu.
 
Apesar das grandes e constantes manifestações contra ele, e apesar não ser admirado ou amado por ninguém, o vice-presidente Michel Temer se tornou automaticamente presidente. Pela esquerda, era visto como um traidor do governo Dilma e também a figura do que foi, de maneira geral, visto como um golpe contra ela. Todos os opositores ao impeachment de Dilma chamaram-no de ‘golpista’, assim como seu governo, o conglomerado Globo, além de outros veículos midiáticos e políticos envolvidos no golpe.
 
Como se para contrabalancear o impeachment anterior contra Dilma, no dia 12 de setembro de 2016, a Câmara finalmente cassou o mandato parlamentar do poderoso, porém, odiado Eduardo Cunha (ele já havia sido suspenso do posto de presidente da Câmara), o que o fez perder foro privilegiado por prerrogativa de função. É óbvio que, após o processo de impeachment, ele deixou de ser útil e se tornou motivo de vergonha para a direita por conta de seus conhecidos atos de corrupção e lavagem de dinheiro, além de (ter mentido sobre) suas contas na Suíça.
 
O conglomerado Globo e mídia brasileira
 
A mídia brasileira é dominada por poucas (umas quatro ou cinco) famílias ricas e conservadoras cujas empresas detêm o monopólio dos jornais impressos, programas televisivos e outros serviços. Além do jornal O Globo, há a influente Folha de São Paulo, lida principalmente pela elite intelectual e empresarial, e o Estado de São Paulo (chamado de Estadão) que, juntamente com as Organizações Globo, apoiou a ditadura militar em 1964 – contudo, a Globo reconheceu que seu apoio à ditadura foi um “erro” (ver Costa, 2015; Magnolo & Pereira, 2016). Por conta de seu papel no impeachment de Dilma Rousseff, esses jornais foram, de maneira geral, chamados de ‘golpistas’ nos diversos protestos contra o impeachment. A venda desses jornais relativamente é baixa (entre cerca de 160.000, como O Globo, e 350,000 cópias, como a Folha) para um país tão grande com mais de 200 milhões de habitantes.
 
Além desses grandes jornais, existem as revistas semanais, como a Época, das Organizações Globo, a Isto É e, principalmente, a Veja (cuja venda é superior a 1 milhão de cópias) e todas participaram da demonização midiática generalizada de Dilma, Lula e do PT (ver, p.ex., Matos, 2008; Porto, 2012).
 
É impressionante o fato de um país tão vasto como o Brasil, e com uma forte tradição de esquerda, não ter um único jornal progressista, como é o caso da Argentina (Página 12) ou do México (La Jornada), e apenas uma revista semanal progressista, a Carta Capital, lida pela elite de esquerda (mas cujas vendas não ultrapassam cerca de 75,000 cópias). Contudo, muitos brasileiros (principalmente os jovens), têm acesso à internet e leem notícias e opiniões publicadas por veículos alternativos (em 2014, 55% dos brasileiros tinham acesso à internet e 45% usavam as redes sociais).   
 
A poderosa mídia conservadora brasileira é, às vezes, chamada de Partido da Imprensa Golpista (PIG) – ver página informativa da Wikipedia – por conta de suas ações políticas e influência nos processos de tomada de decisão do país. Seu principal objetivo era “não deixar o PT ganhar” (Mauricio Dias, in Carta Capital 19/05/2010). O mesmo texto crítico da Wikipedia, além de listar muitos exemplos de desinformação e abuso de poder por parte da mídia, cita a opinião de José Antonio Camargo, presidente do Sindicato Profissional dos Jornalistas do Estado de São Paulo, e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas:
 
Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade. Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.
 
A frase acima resume perfeitamente algumas das conclusões a que cheguei após analisar os editoriais publicados pelo jornal O Globo
 
Grupo Globo
 
De todos os conglomerados midiáticos conservadores, a Organizações Globo, além de ser o maior do Brasil, está entre os quatro maiores da América Latina. Mais relevante ao contexto deste estudo não é apenas o jornal O Globo e seus ataques contínuos a Lula, Dilma e o PT (ver, p.ex., Almeida & Lima, 2016), mas principalmente o noticiário diário Jornal Nacional (JN), que é transmitido pela televisão todas as noites por volta das 20.30, entre duas novelas de grande audiência. Apesar de sua audiência ter caído em cerca de 30%, ele permanece o noticiário televisivo mais influente, assistido por milhões de brasileiros – para muitos dos quais o JN é a única fonte de informação sobre o que ocorre no país em geral, e sobre o governo, corrupção e o processo de impeachment (ver, p.ex., Becker & Alves, 2015). Não há dúvidas de que a diminuição do apoio popular a Lula e a Dilma se deve, em boa parte, à demonização diária feita pelo Jornal Nacional.
 
Como será visto adiante, uma das características interessantes dos editoriais do jornal O Globo em 2016 foi sua reação à cobertura crítica ao impeachment feita pela imprensa internacional de qualidade, principalmente pelo jornal The Guardian, que chegou a usar o tempo golpe (ver os blogs Carta CapitalIntervozes, 28/4/2016; Comunidade PT, 12/5/2016).
 
Em 21 de abril de 2016, o The Guardian publicou um artigo de opinião do jornalista David Miranda, intitulado “The real reason Dilma Rousseff’s enemies want her impeached” [O verdadeiro motivo pelo qual os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment], no qual ele informa o público internacional a respeito do poder das Organizações Globo e de outros veículos midiáticos, de seus donos ricos e de como eles manipulam a opinião pública contra Dilma. O vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, imediatamente reagiu com uma carta ao The Guardian, afirmando que a mídia brasileira é independente e diversa, que a Globo não é um monopólio midiático, que não incitava os protestos contra Dilma e o PT. O próprio David Miranda fez uma análise irônica dos argumentos em um longo artigo de opinião publicado no website The Intercept(25 de abril de 2016), no qual ele detalha ainda mais o papel do Grupo na política nacional enquanto “o maior agente propagandista da oligarquia brasileira”. Ele lembrou que os Repórteres sem Fronteiras, em seu último ranking internacional sobre liberdade de imprensa, colocou a mídia brasileira na escandalosa baixa posição de número 104. Também mencionou uma matéria do The Economist, publicada em junho de 2014 e intitulada “Globo Domination” [A dominação da Globo], segundo a qual metade da população brasileira assiste ao Jornal Nacional diariamente. Talvez a estimativa seja muito alta, mas isso não quer dizer que o Jornal Nacional não domine e que não seja extremamente influente no Brasil.
 
Arcabouço Teórico: Manipulação
 
Como este estudo não tem como principal objetivo contribuir para a teoria da manipulação, fará apenas um breve resumo do arcabouço teórico aplicado a este artigo, com base em meu trabalho anterior sobre manipulação e discurso (Van Dijk, 2006), e em outros trabalhos aos quais fiz referência, mas não comentários, a seguir.
 
1) A manipulação é um fenômeno complexo que requer um arcabouço multidisciplinar (ver também De Saussure & Schultz, 2005), que inclui:
 
(a) um estudo filosófico da manipulação enquanto algo antiético ou ilegítimo, majoritariamente utilizado como termo crítico para descrever a conduta de outros, e dificilmente a nossa própria;
 
(b) um estudo sociológico da manipulação como forma de interação social e como forma de abuso de poder e, portanto, um objeto relevante aos Estudos Críticos do Discurso;
 
(c) um estudo político da manipulação por políticos ou governantes;
 
(d) um estudo comunicacional da manipulação pela grande mídia;
 
(e) um estudo analítico-discursivo da manipulação na forma de texto ou fala;
 
(f) um estudo cognitivo dos processos e representações mentais envolvidos na manipulação.
 
2) A manipulação pode ser interpessoal, quando indivíduos manipulam uns aos outros, ou social, quando organizações ou instituições poderosas manipulam coletivos de pessoas (como leitores de um jornal, eleitores ou a opinião pública de maneira geral). Neste estudo, eu apenas abordo a manipulação social, apesar de tal manipulação poder ser implantada localmente, ou exercida na interação diária entre membros de grupos ou instituições.
 
3) A maior parte dos estudos psicológicos da manipulação é experimental e com foco nas várias formas de engano interpessoal na interação e no discurso que, no entanto, não é o mesmo que manipulação. Tal engano pode ser descrito conforme as várias formas de violação do Princípio Cooperativo de Grice (1979), ex. por meio de implicações ocultas (ver, p.ex. McCornack, 1992; e uma versão atualizada em McCornack, Morrison, Paik, Wisner, & Zhu, 2014; ver também Jacobs, Dawson & Brashers, 1996; Van Swol, Braun & Malhotra, 2012).
 
4) A manipulação social, como forma de dominação ou abuso de poder, envolve organizações ou instituições enquanto agentes manipuladores se utilizando de recursos de poder, como acesso a, controle sobre conhecimento ou discurso público (ver, p.ex., Goodin, 1980; Kedar, 1987; Riker, 1986; Stuhr & Cochran, 1990). Os alvos da manipulação são normalmente caracterizados como tendo menos recursos (conhecimento, por exemplo) para resistir a tal dominação.
 
5) Corporações e outras organizações poderosas, assim como Estados, podem organizar seu poder comunicativo de várias maneiras, com departamentos de RP, coletivas de imprensa, notas à imprensa, entrevistas, campanhas, publicidade, propaganda etc. – todas voltadas para comunicar informações que geralmente interessam à organização, incluindo formas de autorrepresentação positiva (ver Adams, 2006; Day, 1999; Key, 1989; MacKenzie, 1984).
 
6) O primeiro objetivo cognitivo da manipulação é o controle da mente, ou seja, ter influênciar sobre o que elas acreditam, como, por exemplo, seus modelos mentais (incluindo a emoção) em relação a acontecimentos específicos ou seu conhecimento mais genérico, atitudes ou ideologias, em geral a respeito de questões sociais importantes. O objetivo secundário, indireto é controle da ação: fazer as pessoas agirem (votarem, comprarem, marcharem, lutarem etc.) a partir de tais crenças e emoções (ver também Hart, 2013; Van Dijk, 1998).
 
7) Mais especificamente, a manipulação discursiva não raro envolve a comunicação da definição preferida da situação, que é descrita como a formação ou mudança dos modelos de situação mental, como as identidades e os papéis dos participantes envolvidos em um acontecimento, além de qual ação ou acontecimento está ocorrendo e quais suas causas e consequências (Johnson-Laird, 1983; Van Dijk & Kintsch, 1983).
 
Por exemplo, o discurso manipulador pode esconder, obscurecer ou permanecer vago a respeito da identidade de agentes ou organizações de elite responsáveis. As frases na voz passiva ou nominações podem deixar implícito quem é responsável por uma ação (por exemplo, a palavra discriminação não expressa quem discrimina e quem sofre discriminação). (ver p.ex., Fowler, Hodge, Kress & Trew, 1979; Van Dijk, 2008). Da mesma maneira, ações ou acontecimentos negativos podem ser descritos com o uso de termos eufemísticos (ex. insatisfação popular em vez de racismo, ver Van Dijk, 1993). Essa análise cognitiva do papel dos modelos mentais na manipulação é muito diferente dos estudos populares a respeito de “controle da mente” (ver também Jones & Flaxman, 2015).
 
8) Diferentemente de formas legítimas de controle da mente e da ação, como educação ou persuasão, a manipulação geralmente se dá conforme os interesses do manipulador e não os do manipulado. É típico da manipulação que as motivações, as razões, os objetivos ou interesses do manipulador fiquem mais ou menos encobertos (ver, p.ex., Adams, 2006; Day, 1999; Key, 1989; Mackenzie, 1984).
 
9) Uma das características cruciais da manipulação discursiva, de acordo com o contexto comunicativo, é, por exemplo, o tipo e as características (identidade, papel, relações) dos participantes, os objetivos ou intenções do discurso ou interação, além de seus recursos sociais e cognitivos (Van Dijk, 2008,2009). Os estudos pragmáticos da manipulação têm como foco esses aspectos do contexto. Assim, Billig & Marinho (2005) fazem uma distinção entre a manipulação de informação e os atos de manipulação de pessoas (ver também De Saussure & Schulz; Vázquez Orta & Aldea Gimeno, 1991).
 
Manipulação e Discurso
 
Conforme vimos em alguns dos exemplos/afirmações(?) acima, o discurso manipulador pode, de diversas maneiras, influenciar ou controlar os modelos mentais dos receptores ao, por exemplo, esconder a identidade ou reponsabilidade de ações negativas, a natureza de ações ou acontecimentos, suas causas e consequências ou, ainda, por outro lado, atribuir ações negativas a opositores ou ‘grupos externos’ [outgroups].
 
Conforme veremos mais detalhadamente, há muitas estruturas e estratégias discursivas que podem ser usadas para controlar os modelos mentais desejados para além da estrutura gramatical das frases, como
 
. Itens lexicais parciais (ex. depreciativos) (ver, p.ex., Cheng & Lam, 2012; Li, 2010);
 
. Implicações e implicaturas (ver, p.ex., Jacobs, Dawson & Brashers, 1996);
 
. Generalizações (Bilmes, 2008; Van Dijk, 1984,1986);
 
. Formas de descrições de agentes (Van Leeuwen, 1996);
 
. Granularidade e outros modos de descrição de eventos que podem ser mais ou menos precisos ou completos, detalhados ou vagos, próximos ou distantes etc. (Bhatia, 2005; Van Dijk, 2014; Zhang, 2015);
 
. Storytelling [narração de histórias] (ver, p.ex., Auvinem, Lamsa, Sintonen & Takala, 2013; Van Dijk, 1984);
 
. Argumentação (Boix, 2007; Ilatov, 1993; Kienpointer, 2005; Nettel & Roque, 2012).
 
. Categorias superestruturais (esquemáticas), como manchetes em artigos jornalísticos (Van Dijk, 1988a, 1988b);
 
. Polarização ideológica geral entre ‘grupos internos’ [ingroups] (Nós) e ‘grupos externos’ (Eles) (Van Dijk, 1988).
 
Corpus
 
Meu corpus consiste em 18 editoriais sobre Dilma, Lula, o PT e o impeachment publicados no jornalO Globo, nos meses de março e abril de 2016, que estrategicamente precedem a decisão da Câmara dos Deputados de dar início ao processo de impeachment contra a presidente. Os editoriais acompanham milhares de matérias, tanto no O Globo quanto em outras mídias conservadoras, apresentando uma sistemática e grotesca desinformação parcial a respeito de Dilma, Lula e do PT. Os editoriais foram escolhidos para esta pesquisa porque formulam explicitamente as opiniões do jornal. Também farei uma breve análise das manchetes correspondentes às matérias de capa a respeito deles, pois essa informação é frequentemente presumida nos editoriais (uma análise completa da Epistêmica da informação presumida em editoriais seria um tema interessante a ser estudado).
 
Os editoriais, tradicionalmente publicados próximos do final (página 18) da primeira seção do jornal (onde ficam as notícias nacionais), têm, em geral, de 500 a 1000 palavras, quatro colunas, o marcador de gênero ‘Opinião’ acima do título e um breve resumo entre as colunas.
 
O gênero editorial
 
Enquanto gênero textual, os editoriais seguem um esquema canônico (superestrutura), que consiste em categorias, como: Resumo dos Acontecimentos, Comentários/Opinião sobre os Acontecimentos e Conclusão/Recomendação. Essas categorias, por sua vez, pode ser/são(?) organizadas em estruturas argumentativas ou (outros) marcadores do discurso de persuasão. Seu estilo é a relativamente formal linguagem jornalística (ver, p.ex., Bagnall, 1993; Simon-Vandenberg, 1985; Van Dijk, 1988b). Opiniões são expressas em vários tipos de avaliações (ex. julgamentos sobre Lula, Dilma, o PT ou o impeachment) (Martin & White, 2005). Uma análise mais aprofundada de um grande número de editoriais de O Globo pode revelar estruturas mais específicas relativas ao gênero ‘editorial’ em jornais brasileiros, e seria necessária pesquisa de campo para saber mais sobre o contexto comunicacional, como, por exemplo, quem os escreve.
 
Métodos
 
Uma análise sistemática do discurso global e local dos editoriais se concentrará principalmente nas propriedades que podem ter influência sobre os modelos mentais e as atitudes dos leitores de maneira não explícita e que, portanto, podem ser chamadas de manipuladoras. Tal influência pode consistir na formação dos modelos mentais preferidos dos acontecimentos, a formação ou confirmação de atitudes, que os leitores de O Globo já podem ter – e com as quais eles podem muito bem concordar. Neste caso, a influência também é crucial, pois opiniões negativas sobre a presidente ou sobre o PT podem ser legitimadas por esse ou aquele jornal, ou pelo conhecimento de opiniões e atitudes de outros leitores ou brasileiros, conforme veiculadas pelo jornal.
 
Desta forma, primeiro me concentrarei nas macroestruturas semânticas (temas) das manchetes de capa e, em seguida, nas dos editoriais para, depois, prosseguir à análise de estruturas locais, especialmente as semânticas, como a identificação e descrição dos agentes, além de várias estratégias de argumentação e legitimação. Editoriais consistem em um gênero persuasivo, então, é claro que nos concentraremos nas propriedades destinadas à manipulação de opinião.
 
Análise das Estratégias e Estruturas de Manipulação de O Globo
 
Manchetes
 
Para melhor entendimento dos editoriais, é necessária uma breve análise dos principais acontecimentos ocorridos nas semanas que antecederam o processo de impeachment, principalmente porque os editoriais não raro pressupõem conhecimento de tais acontecimentos e comentam sobre deles. No entanto, tal conhecimento pode derivar não apenas das notícias a respeito dos principais acontecimentos do dia, mas também, de maneira mais geral, da cobertura dos mesmos ou de fatos relacionados a eles nas últimas semanas, ou até meses. Tais notícias foram veiculadas em milhares de matérias, e também em colunas, reportagens, entrevistas, e outros gêneros – e, portanto, iriam requerer uma vasta análise epistêmica que vai muito além da abrangência do presente artigo. Portanto, limitarei minha análise a uma breve descrição das manchetes de todas as principais matérias de capa publicadas entre os meses de março a abril de 2016, conforme indicado pelo tamanho e posição da manchete. Por definição, uma das principais funções das manchetes é exprimir as mais elevadas macroestruturas semânticas da matéria jornalística, ou seja, seu tema principal (Van Dijk, 1988b). Porém, manchetes também têm a função de chamar a atenção e podem ser ideologicamente parciais. Por exemplo, se Lula é acusado de algum ato criminoso, tal fato pode ser colocado em evidência na manchete mesmo não se tratando do assunto principal. Isso se dá por conta da orientação ideológica de O Globo, que irá enfatizar os aspectos negativos de seu inimigo ou do ‘grupo externo’ em geral (o PT ou a esquerda etc.).
 
Quarenta e cinco das 60 principais manchetes publicadas de março e abril de 2016 tinham como tema Dilma, Lula, PT ou o impeachment de Dilma ou seu governo (um número impressionante). Apenas no final desse período, após o início do processo de impeachment na Câmara, algumas das principais manchetes de capa voltaram atenção para Temer (enquanto presidente interino) e seu governo. Com frequência, mais de uma matéria de capa tratam de Dilma ou Lula. Mesmo quando nenhum acontecimento importante relacionado a eles tenha ocorrido, eles podem ser mencionados em manchetes de matérias de capa menores. Dependendo da interpretação dada a elas (para a qual uma análise avaliadora detalhada do discurso seria necessária), a maior parte das manchetes explicitamente acusa ou associa Dilma e/ou Lula a atividades criminosas, geralmente por meio de acusações da Operação Lava-Jato ou de muitos delatores que assinaram acordo com a Operação. A seguir, alguns exemplos característicos (MdC significa Manchete de Capa).
 
MdC01 Delação de Delcídio põe Dilma no centro da Lava-Jato. Presidente é acusada de interferir em investigação. Lula mandou silêncio de Cerveró. (04/03/2016)
MdC02 Lava-Jato força Lula a depor e petista apela à militância. (05/03/2016)
MdC03 Lava-Jato desmente versão de Lula sobre tríplex. (06/03/2016)
MdC04 MP de São Paulo denuncia Lula por lavagem e falsidade. (10/03/2016)
MdC05 MP pede prisão de Lula. (11/03/2016)
MdC06 Brasil vai às ruas contra Lula e Dilma e a favor de Moto. Protesto pacífico reuniu 3,4 milhões de pessoas em 329 cidades de todos os estados e no Distrito Federal. (14/03/2016)
 
MdC07 Dilma pode dar a Lula superpoderes no governo. (15/03/2016)
MdC08 Diálogo ameaça Dilma. (17/03/2016)
MdC09 Aliados de Dilma e Lula fazem atos em todos os estados. (19/03/2016)
          PT reúne 275 mil. 7% do público das manifestações pelo impeachment. 
MdC10 Defesa de Lula pede ao STF que pare Moro. (21/03/2016)
MdC11 Supremo investiga se Dilma tentou obstruir Justiça. (24/03/2016)
MdC12 Dilma usará Bolsa Família contra impeachment. (04/04/2016)
MdC13 Procurador acusa Dilma de tentar obstruir a justiça. (08/04/2016)
MdC14 Comissão aprova relatório pelo impeachment de Dilma. (12/04/2016)
MdC15 Por 337 votos, 25 a mais do que o necessário, Câmara aprova autorização para processo de impeachment da presidente Dilma.
PERTO DO FIM (18/04/2016)
MdC16 Ministros do STF: Dilma ofende instituições ao falar em golpe. (21/04/2016)
 
Uma primeira análise mostra que a maioria das manchetes correspondentes às (principais) notícias publicadas em O Globo durante as duas semanas cruciais antecedentes à votação na Câmara apresenta Dilma e/ou Lula como participantes ativos ou passivos de acontecimentos ou atividades ligadas a questões legais ou penais. Ambos são representados como sendo ativamente envolvidos em algum crime, ou na Operação Lava-Jato ou, ainda, são acusados de crimes por terceiros. Nas manchetes publicadas mais tarde, o foco está nos acontecimentos ocorridos na Câmara, até 18 de abril, quando, detalhadamente, com precisão numérica, os votos da Câmara são noticiados e seguidos de uma enorme manchete que vai de ponta a ponta da página: PERTO DO FIM. Outras manchetes de capa, também contendo números, aparecem em 14 de abril, quando os enormes protestos contra Dilma foram noticiados. Nesse caso, contudo, as principais notícias da manifestação não ficam limitadas à primeira página; em vez disso, continuam por nove páginas inteiras, em muitas outras matérias, colunas e fotos. Comentarei a respeito dessas matérias na análise dos editoriais. Em 19 de março, os manifestantes a favor de Dilma também estão na capa, juntamente com números, mas nesse caso em uma comparação negativa com o número de manifestantes contra Dilma para minimizar a relevância dos pró-Dilma e enfatizar sua menor quantidade de apoiadores. Uma análise funcional da organização do tópico-comentário e das manchetes, em geral, coloca a Lava-Jato, delatores, a Polícia Federal (PF) ou o Supremo Tribunal Federal (STF) na posição de primeiro tema enquanto agentes (em sua maioria) acusadores que colocam Dilma e Lula em posição focal e de paciente semântico da acusação. Apenas em algumas manchetes, Dilma ocupa posição focal e de agente, como em situações em que ela é diretamente acusada de algum ato (negativo) – ex. quando ela possivelmente nomeará Lula e lhe dará poderes especiais, ou quando ela (ameaça) acabar com o Bolsa Família.
 
Durante essas semanas (e muitas semanas anteriores, desde 2014), todas as manchetes transmitiam de maneira geral a informação (repetida, portanto, como a principal informação no modelo mental do evento na memória dos leitores) de que: (a) Dilma e Lula (são acusados) de atividades criminosas e (b) que (portanto) Dilma tem de sofrer impeachment. Também crucial é a ênfase que se dá às repetidas informações negativas sobre Lula – o que condiz com a atitude de O Globo em relação a ele. A principal intenção de tal retrato é deslegitimá-lo perante os milhões de brasileiros que costumavam amá-lo ou adorá-lo. E o elemento mais relevante politicamente é a condenação de Lula por corrupção (uma empresa supostamente teria pagado uma reforma em seu apartamento), algo que o impossibilitaria de ser candidato à presidência em 2018 – o que seria uma ameaça à direita, por que Lula, pelo menos até então, permanecia sendo o político mais querido/popular(?) do país.
 
Os Editoriais
 
Principais temas e parcialidades
 
Os temas gerais dos editoriais são, como esperado, semelhantes àqueles das principais matérias do dia ou do dia anterior, como acusações contra Lula, Dilma ou o PT. A seguir, os principais tópicos dos 18 editoriais (ver Tabela 1): 

Data

Manchete

Temas principais

03/03/2016

PT descontente é promessa de mais pressão sobre Dilma

PT pressiona Dilma para mudar o Ministro da Justiça, mas resiste em limitar a autonomia da Polícia Federal.

05/03/2016

Uma reafirmação de princípios republicanos

Delatores acusam Lula de corrupção. Acusações também atingem Dilma. Operação Lava-Jato é independente.

06/03/2016

Em 13 anos de escândalos

Treze anos de desastres econômicos e escândalos de corrupção devido ao governo do PT.

15/03/2016

Um ‘basta’ das ruas a Dilma, Lula e PT

Milhões de manifestantes contra Lula, Dilma e o PT, e a favor do juiz Moro da Operação Lava-Jato. Processo de impeachment iniciado.

17/03/2016

Lula e Dilma apostam tudo para sobreviver

Dilma quer nomear lula como ministro para protegê-lo de acusação.

18/03/2016

Vale-tudo empurra Dilma e Lula à ilegalidade

Conversa telefônica mostra que Dilma e Lula estão obstruindo a justiça.

19/03/2016

O impeachment é uma saída institucional para a crise

As instituições, o parlamento, devem começar o processo de impeachment imediatamente.

22/03/2016

A preocupante ofensiva do governo contra a Lava-Jato

Dilma nomeia novo ministro da Justiça, que quer paralisar a Operação Lava-Jato. As instituições funcionam: a comissão de impeachment iniciou os trabalhos.

24/03/2016

Dilma radicaliza e fala de um país imaginário

Dilma compara o impeachment com o golpe militar de 1964 e quer apenas agitar os fãs.

30/03/2016

A farsa do ‘golpe’ construída pelo lulopetismo.

O PT manipula as pessoas com acusação absurda de ‘golpe’.

31/03/2016

Tentativa desesperada com o velho fisiologismo

Depois de o PMDB deixar governo, Dilma marca reuniões para angariar votos contra o impeachment.

06/04/2016

Tempo no impeachment corr


Sobre como a Dilma engordou a Globo com a "mídia técnica" (expressão que, segundo o Requião, soava como um naipe de violinos nos ouvidos da Globo...), veja o que o Viomundo e a Carta Maior demonstraram de forma insofismável.
Como disse o Dirceu ao Fernando Morais: delenda est Globo.
Ou como diz o professor Wanderley Guilherme dos Santos: a Globo é a questão central da Democracia brasileira!
PHA