Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 21 de abril de 2015

Comercial da Fiesp pró terceirização é abuso de poder econômico


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Quarta-feira, 22 de abril de 2015. Mais uma vez, os que supostamente seriam “representantes do povo” reúnem-se na Câmara dos Deputados para votar os destaques do projeto de lei 4330, que não votaram na semana passada devido à pressão que CUT, CTB, MST, MTST, UNE e outros vêm fazendo para impedir uma tragédia para o trabalhador brasileiro.
A aprovação do PL 4330 significa, na prática, que os empresários – sobretudo os grandes empresários – terão à disposição um meio de simplesmente ignorarem a Consolidação das Leis do Trabalho e para extinguir, com uma canetada do Poder Legislativo, a forte valorização que os salários dos trabalhadores experimentaram ao longo da última década.
A aprovação desse projeto de lei, da forma como está, fará a legislação trabalhista retroceder décadas no Brasil. O trabalho assalariado se tornará mais precário e o empregador terá um instrumento que lhe permitirá dar um golpe de morte no movimento sindical.
Eis que, na véspera dessa votação (21/4), no intervalo do Jornal Nacional, da Globo, – assim como em outras redes de televisão –, o país é atacado por uma peça publicitária que tenta ludibriar dezenas e dezenas de milhões de brasileiros.
Ao custo de uma quantidade formidável de dinheiro para veicular essa peça no horário mais caro da televisão brasileira, a Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) divulga essa enganação, aproveitando-se de sua riqueza extrema, auferida ao longo do século XX ao custo de uma literal exploração vil do trabalho assalariado.
Abaixo, a propaganda milionária da Fiesp para enganar o trabalhador brasileiro.


O garoto-propaganda da Fiesp, Paulo Skaf, candidato derrotado ao governo de São Paulo, mente. Como pode ser bom para o trabalhador colocar um intermediário entre ele e aquele que empregará sua mão-de-obra? Para esse intermediário ser remunerado, ou o empregador tem que pagar mais ou o empregado tem que ganhar menos.
A peça publicitária que você assistiu acima, mente.  Ela induz o expectador a crer que o projeto de lei da terceirização se destina aos que já são terceirizados, quando, na verdade, ela serve para permitir que quem não é terceirizado seja jogado nesse regime.
Se as centrais sindicais e os movimentos sociais que lutam contra a terceirização tivessem dinheiro como a Fiesp, poderiam fazer uma peça publicitária para contestar a da federação empresarial dando a explicação simples que você leu acima, perguntando ao público se cada um tem vontade de se tornar terceirizado, pois é isso que o PL 4330 irá gerar.
A Fiesp, uma associação de patrões, está se contrapondo a associações de trabalhadores. Pela lógica, como para cada empregador existem milhares de empregados, não deveria ser difícil impedir essa tragédia para a esmagadora maioria dos brasileiros. O que permite que tal absurdo aconteça é o dinheiro, que possibilita fazer pessoas apoiarem o que as prejudica.
Na verdade, as centrais sindicais deveriam ingressar na Justiça contra essa peça publicitária, que torna desigual a disputa por corações e mentes. Os atos públicos que ocorrerão nesta quarta-feira não terão como se contrapor à veiculação dessa farsa em horário nobre e no meio de difusão mais poderoso que existe: a televisão.
Só o que se pode fazer é tentar a guerrilha da informação, na internet e nas ruas. Nesta quarta-feira, faça a sua parte na rede, no espaço público. Divulgue os fatos, dê a quem puder essa explicação tão simples que figura neste texto. Até uma criança é capaz de entender, mas para alguém entender alguma coisa precisa de explicação.


CHEGA AO FIM O ATAQUE ESPECULATIVO À PETROBRAS

Doutor Janot, veja como seus meninos abriram as portas do inferno Autor: Fernando Brito

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É curioso como, de alguma forma, vivemos a tal “ditadura” que a direita alucinadamente aponta existir no Brasil.
Está à solta na mídia o mais desavergonhado macartismo já visto desde os tempos do “dedodurismo” que marcou os primeiros anos da ditadura militar.
E, legitimado por ele, a criação da onipotência policial .
A Polícia Federal, elevada à condição de altar de santos pela mídia, força o Ministério Público e negocia com o Congresso – especialmente com os parlamentares citados na própria Lava-Jato, uma mudança na Constituição que a torne “independente” do poder legítimo, aquele que é eleito.
Os delegados chegam ao ponto de “peitar” publicamente o Procurador-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, ao divulgarem nota em que “manifestam preocupação com os prejuízos à investigação criminal e o atraso de diligências em cerca de nove inquéritos da operação Lava Jato, que tramitam no STF, os quais estão muito aquém daqueles em andamento na Justiça Federal do Paraná”.
Delegado de polícia não manda em inquérito judicial, cumpre diligências que lhes são determinadas pelo Ministério Público ou pelo Ministro-relator.
Mas o presidente da Associação dos Delegados é ameaçadoramente explícito ao Estadão“A Polícia Federal quer trabalhar. Se o Supremo entender que tem que ser exclusivamente do jeito que o procurador-geral quer, a PF não assume a responsabilidade nem os riscos dos resultados. Se a PF não tiver como contribuir na forma como entender mais adequada e se o procurador-geral quiser assumir integralmente a responsabilidade, paciência.”
Mais afrontoso, impossível.
O Ministério Público, a esta altura, deveria estar vendo o que gerou a sua tolerância com a formação de uma cumplicidade total com a formação de um núcleo promíscuo de delegados, procuradores e um juiz que se arroga jurisdição sobre todos os fatos que desejar, em qualquer ponto do país e que não pode ser contestado, sob pena de execrar-se perante a opinião pública qualquer um que o contrarie.
As tragédias da democracia ocorrem assim: em nome da moralidade e da ordem, a vida de uma nação começa a ser dominada pela histeria policialesca, que há quase 50 anos fez Stanislaw Ponte Preta começar assim o seu “Festival da Besteira que Assola o País”, o imortal Febeapá.
“É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o País. Pouco depois da “redentora”, cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem “otoridades”, sentindo a oportunidade de aparecer, já que a “redentora”, entre outras coisas, incentivou a prática do dedurismo (corruptela do dedodurismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo enfim, como corrupto ou subversivo – alguns apontavam dois dedos duros para ambas as coisas) , iniciaram essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar”
O Estado Policial não é uma ferramenta da polícia, é da política.
A descrição do macartismo que Philip Roth faz, em seu romance “Casei com um Comunista” (Cia das Letras), é o mais duro retrato disso.
“O negócio de McCarthy, na verdade, nunca foi a perseguição de comunistas; se ninguém sabia, disse, ele sabia. A virtude dos julgamentos-espetáculo da cruzada patriótica de McCarthy era simplesmente a forma teatralizada. Ter câmaras voltadas para aquilo apenas lhe conferia a falsa autenticidade da vida real. McCarthy compreendeu melhor do que qualquer político americano anterior a ele que as pessoas cujo trabalho era legislar podiam fazer muito mais em benefício de si mesmas se representassem um espetáculo; McCarthy compreendeu o valor de entretenimento da desgraça e aprendeu como alimentar as delícias da paranoia. Ele nos levou de volta a nossas origens, de volta ao século XVII e a nossos antepassados. Foi assim que o país começou: a desgraça moral como entretenimento público. McCarthy era um empresários dos espetáculos e, quanto mais desvairados os pontos de vista, tanto mais ofensivas as acusações, maior a desorientação e melhor a diversão para todo mundo.“
A propósito: de homem mais temido dos EUA, Joseph McCarty morreu desacreditado.

O que tem o PSDB (Aécio) a declarar ?

E o Cerra vai correr atrás das repórteres do PiG para vender as bugigangas que leva na mochila.



A candidatura de Aecím foi a soma de dois equívocos.

O primeiro, não se candidatar em 2010, na sucessão do Lula, quando ele era governador, em plena atividade – e se escondia atrás da blindagem siderúrgica que a irmã montou em Minas.

O segundo, se candidatar em 2014, fora do Governo, desvalorizado em Minas – onde perdeu melancolicamente – e confiar, apenas, na força do PiG e nos votos de cabresto dos tucanos de São Paulo – esse pessoal que vai à Paulista e tem infinita indigência política.

O desgaste inevitável do primeiro Governo Dilma – diante da desaceleração mundial – foi seu maior trunfo.

Perdeu.

Só ele e o Luciano Huck achavam que ele ia ganhar.

Aí, o Machão do Leblão pirou.

Perdeu o rumo.

Ou, quem sabe, encontrou o genuíno rumo, aquele que sempre existiu sob a camada de proteção da irmã.

O aventureiro, o playboy irresponsável.

E queria levar o partido ao precipício do impítim.

Que o Otavím e o Ataulfo Merval (ver no ABC do C Af) insistam na tese … eles são de outro manicômio.

Otavím tem a detonar um jornal em extinção.

O Ataulfo tem a detonar uma reputação intelectual que nunca mereceu: a de pensador.

O Ataulfo só serve para revelar – às vêzes – o que pensam os filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio e não há certeza de que pensem.

Agora, o Farol de Alexandria e o Padim Pade Cerra (ambos no ABC do C Af), depois de se manifestar a inequívoca liderança do Eduardo Cunha, sepultaram a tese alucinada do impítim do Aecím.

Sem o impítim, o que sobra ao Aecím ?

A iminência de um processo sobre sua atividade em Furnas, porque, como se sabe, o Ministro Teori o livrou da forca, por enquanto

E o que sobra ao PSDB sem o impítim ?

Nada !

O combate infatigável à corrupção.

(Não deixe de ler o artigo sobre a Lava Jato como exercício egóico, do professor Rogerio Dultra dos Santos.)

Mas, isso, eles fazem desde o início dos tempos.

Foi assim que mataram Vargas, depuseram Jango, aderiram (tarde) ao Golpe e a ele se mantiveram unidos na carne e no  osso: para encher os bolsos da Globo e impedir que a corrupção contaminasse o Brasil !

Vão quebrar a Petrobras ?

Amanhã, quarta-feira 22/04, a Petrobras divulga o balanço devidamente auditado.

Os bancos confiam na robustez da Petrobras.

Não vão quebrar a Petrobras, nem as empreiteiras que interessam: porque os acordos de leniência serão feitos, queira a Urubóloga ou não.

No pôr do sol, lá pelo início do ano que vem, o PSDB estará no mesmo lugar.

À espera do nada.

Com as mesmas ideias de sempre.

Voto distrital, parlamentarismo, entrega da Petrobras à Chevron.

E o Consenso de Washington.

A Teoria da Dependência, que ninguém leu.

(O Mino Carta sustenta que ninguém leu nenhum livro do Fernando Henrique.)

O que o PSDB ainda não percebeu é que o Fernando Henrique não está minimamente interessado no destino do PSDB.

Mas, no seu – dele – lugar na História.

Por isso, ele precisa destruir o Lula.

Para que não haja a comparação.

E essa é a estrada de Damasco em que ele segue, incansavelmente.

Nem que seja preciso ir a esses encontros suspeitos, onde políticos são apresentados a ricos e ricos são apresentados a políticos.

Uma dessas invenções de engenhosidade paulista…

Quanto ao futuro do Cerra … isso depende do Alckmin.

Como se sabe, o Cerra é minoria até no PSDB de São Paulo.

Quem manda no PSDB de São Paulo é o Alckmin.

Que só não será candidato a Presidente se não quiser.

E o Cerra ficará em Brasília, atrás de repórteres do PiG para vender o que leva na mochila: voto distrital, parlamentarismo, Chevron, as bugigangas de sempre.

Em tempo: dizem que o João Dória, o empresário (sic) criador – ele inventou o vácuo – desses “encontros” ficou chateado, porque convidou centenas de petistas e ninguém foi. Chamou os petistas de “fujões”. Bem feito. Errados estavam aqueles que foram a “encontros” anteriores.


Paulo Henrique Amorim



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FEL-LHA VEJOU. É A VISÃO DO PRECIPÍCIO

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Ignacio Delgado: A trajetória de Aécio é uma tremenda fraude; golpista, entreguista e inimigo dos direitos dos trabalhadores


Aécio e Paulinho-001
Aécio e Paulinho da Força: Juntos a favor do PL da terceirização, contra os trabalhadores
Elementos para entender a trajetória de uma fraude chamada Aécio Neves
por Ignacio Godinho Delgado, especial para o Viomundo
A Rede Globo de Televisão construiu meticulosamente a imagem de Collor de Mello, o “caçador de marajás”, que, afinal, elegeu-se presidente em 1989.
O empenho na construção da imagem de Aécio Neves não foi tão sistemático, mas envolveu até a produção de umaminissérie inspirada no senador, que, em 2014, tentava se apresentar como um príncipe encantado a seduzir a nação brasileira.
Aécio não é Collor, mas a expectativa da Globo era que, caso vencesse as eleições em 2014, ele desse curso ao mesmo projeto que alimentava ao final da década de 1980: prevalência absoluta do mercado e do capital estrangeiro, o rechaço a políticas desenvolvimentistas e de inclusão social, o casamento do rentismo com o entreguismo.
Todavia, Aécio não é apenas portador de um projeto reacionário, elitista e antinacional. Toda sua trajetória é uma imensa fraude, em Minas ocultada por rigoroso controle sobre os meios de comunicação.
No plano nacional, por ser o representante de plantão da direita e de seu braço midiático, passou a contar com a complacência da maior parte da imprensa, ao mesmo tempo em que busca reeditar a política de cerceamento à liberdade de expressão levada adiante em Minas Gerais (aqui aqui)
Tudo na vida de Aécio Neves foi muito fácil. Surfou desde cedo nos seus vínculos com Tancredo Neves para desenvolver uma carreira política medíocre, ainda que sempre bem promovida.
Filho do deputado Aécio Cunha, do PFL, aos 17 anos de idade, Aécio era “secretário de gabinete parlamentar na Câmara dos Deputados” (1977-1981), embora morasse no Rio de JaneiroEm 1985, foi nomeado por Sarney diretor do setor de loterias da Caixa Econômica Federal, num momento em que veio à tona o escândalo da máfia da loteria esportiva, sobre o qual inexistem notícias de alguma atuação de Aécio para desvendá-lo e punir os responsáveis.
Eleito deputado constituinte em 1986, ainda no rastro da comoção causada pela morte de Tancredo Neves, Aécio foi considerado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), um deputado de pouca firmeza na defesa dos interesses dos trabalhadores, alcançando apenas a nota 5,5 na pontuação atribuída pelo instituto aos constituintes. Em 1991 ausentou-se por três meses da Câmara para tratar de problemas pessoais.
Aécio governou Minas Gerais de 2003 a 2010. Seu apregoado choque de gestão significou, entre outras coisas, odescumprimento das disposições legais de garantia de 25% do orçamento estadual para a educação e 12% para a saúde, salários miseráveis para professores e médicos, o esvaziamento crescente da economia mineira e a elevaçãoespetacular do endividamento do estado.
Apesar de alardear que gastou menos com o governo para gastar mais com as pessoas, até recentemente os mineiros só conseguiam lembrar da construção da cidade administrativa (envolta em diversas suspeitas de irregularidades) como uma obra de relevo da administração de Aécio.
Em 2014 vieram também a saber que Aécio construiu um aeroporto perto da fazenda de sua família.
Senador desde 2010, Aécio Neves acentuou o velho hábito de permanecer fundamentalmente no Rio de Janeiro, onde protagonizou cenas vexatórias para um representante do povo, como dirigir com carteira vencida e evitar oteste do bafômetro uma vez abordado pela polícia.
No PSDB Aécio participou de embates sangrentos com José Serra, que envolveram insinuações do jornalista Mauro Chaves, no jornal O Estado de São Paulo, de 28/02/2009, sobre hábitos heterodoxos do então governador mineiro.
revide de Aécio materializou-se na investigação de Amaury Junior sobre a participação de José Serra na farra das privatizações do governo do PSDB, de FHC, que resultou, depois, no livro A Privataria Tucana. Por linhas tortas, esta, talvez, seja a maior contribuição à pátria da atuação do senador da Zona Sul carioca, com domicílio eleitoral em Minas Gerais: sua disposição vingativa favoreceu a investigação do mais absurdo dolo já perpetrado contra o patrimônio público brasileiro, naturalmente ignorado pela mídia convencional.
Derrotado, Aécio Neves tem se empenhado em diversas iniciativas golpistas para tentar interromper o mandato que Dilma Roussef conquistou nas urnas, desde ações junto ao TSE para impedir a diplomação e a posse, passando pelo flerte com grupos fascistas que convocaram manifestações de rua (de onde brotaram, inclusive, apelos para a intervenção militar), até o anúncio da disposição de pedir o impeachment da presidenta.
Numa suprema ironia da história, Aécio Neves tornou-se o principal representante dos herdeiros da velha UDN. Adversária da Vargas, Goulart, mas também de Tancredo Neves, a UDN centrava seu discurso nas denúncias de corrupção, para dissimular seus propósitos reais de combate ao nacionalismo e ao trabalhismo, caracterizados com xenofobia e populismo, na expectativa de resolver pelo golpe o que não alcançava nas urnas.
Aécio completa sua conversão ao udenismo em sua expressão moderna ao defender a dissolução do regime de partilha do pré-sal, em favor do regime de concessão preferido das companhias de petróleo ocidentais, e ao repreender o próprio PSDB que, em acertos com o PT, buscou corrigir o PL-4330, que fere de morte a CLT, depois das repercussões negativas na rede e das manifestações contrárias das ruas ao propósito de se ampliar a terceirização no Brasil.
Golpista, entreguista e inimigo dos direitos dos trabalhadores, Aécio Neves não é o “democrata indignado” com a corrupção, sobre a qual, aliás, teria muito a dizer se não contasse com a complacência da mídia no tratamento de casos com a Lista de Furnas, do mensalão tucano, da distribuição de verbas para rádios da família, do aeroporto de Cláudio…
Aécio é, de fato, uma fraude embalada pela mídia, o porta voz do udenismo redivivo, desonrando a memória do próprio avô, sem qual, aliás, sua carreira nada seria.
Ignacio Godinho Delgado é professor de História e Ciência Política na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED). Doutorou-se em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1999, e foi Visiting Senior Fellow na London School of Economics and Political Science (LSE), entre 2011 e 2012.
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Repórteres da Folha acusam Alckmin de falta de “transparência” no caso “Implicante”

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Após dois dias da publicação de matéria dos jornalistas Ricardo Mendonça e Lucas Ferraz que deu conta de que o governo de São Paulo contratou pela bagatela de 70 mil reais por mês empresa que tem entre os sócios o autor do site “Implicante”, que produz conteúdo contra o Partido dos Trabalhadores e seus membros, a Folha de São Paulo publicou nesta segunda-feira, em sua seção de cartas de leitores, manifestação do governo paulista e da agência de publicidade que intermedeia sua relação com o site em questão.
As cartas são assinadas por um “assessor técnico de gabinete da Subsecretaria de Comunicação do Estado de São Paulo” e pelo vice-presidente da agência de publicidade que intermedeia o “negócio” milionário com a empresa do “Implicante”. Tanto a missiva do governo paulista quanto a da agência de publicidade usam o mesmo argumento que o autor do site “Implicante” usou para justificar os 21 pagamentos de 70 mil reais que, segundo a Folha, o site em questão recebeu entre junho de 2013 e março de 2015, totalizando  R$ 1,47 milhão: a empresa “Appendix” teria oferecido “o menor preço”.
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Em seu perfil no Facebook, “Gravatai Merengue” também apela ao suposto “menor preço” que teria lhe valido o contrato milionário com o governo paulista: “Essa contratação se deu porque a Appendix (APPX) ofereceu o MENOR PREÇO”.
Os repórteres da Folha, porém, em poucas linhas questionam o comportamento do “Executivo” paulista, ou seja, no fim das contas o comportamento do próprio governador Geraldo Alckmin, acusando-o de não ter fornecido detalhes da contratação da Appendix ao jornal após “reiterados pedidos”. E ao dizer que o “Executivo” paulista enviou 88 caixas cheias de “incontáveis papéis da publicidade oficial”, sugere uma estratégia do governo Alckmin para sonegar informações que são de domínio público.
Contratos de publicidade entre sites e órgãos de imprensa com o poder público são comuns e não se pode questioná-los simplesmente por aquele veículo de comunicação ter uma opinião política favorável a um grupo político ou desfavorável aos adversários desse grupo – fosse assim, o governo paulista não poderia colocar um anúncio na Veja, por exemplo, ou o governo federal não poderia ter um anúncio em um blog ou site que critica o PSDB. Porém, um contrato tão gordo e que, à diferença de um banner em uma publicação digital ou em papel, não é visível, merece explicações melhores que as dadas pelo governo Alckmin até aqui.
Por exemplo: a empresa do tal “Gravatai Merengue” foi fundada em janeiro de 2013 e cinco meses depois já estava embolsando o primeiro pagamento de setenta mil reais, o que sugere que foi criada já tendo em vista esse contrato, pois entre a efetivação da concorrência e o início dos pagamentos por serviços prestados passou-se muito pouco tempo.
Além disso, a julgar pelo que diz o próprio “Merengue” em seu perfil no Facebook, parece que a tal Appendix tem apenas três clientes: o governo do Estado de São Paulo, do PSDB, a empresa Copel, controlada pelo governo do Estado do Paraná, também do PSDB, e uma empresa chamada “Brasil Comunicação”, que nega ter negócios com a empresa do blogueiro antipetista apesar de este dizer que tem “contrato de prestação de serviços e uma nota fiscal” emitidos contra ela.
Diante da vultosa quantia paga pelo povo paulista à empresa tal “Merengue”, era de se esperar que tanto este quanto o governo tucano do Estado de São Paulo e, agora, também o governo tucano do Estado do Paraná apresentassem os documentos com os detalhes da negociação e até os detalhes das concorrências que a Appendix venceu em dois Estados governados pelo grupo político que tem interesse no que produz o site “Implicante”, já que o ajuda em sua guerra política com o PT.
A carta do tal “assessor técnico de gabinete da Subsecretaria de Comunicação do Estado de São Paulo”, secretaria que funciona sob responsabilidade do ex-jornalista da Veja Marcio Aith, é um deboche. E a resposta dos repórteres da Folha que apuraram esse negócio tão obscuro, é demolidora. Após “reiterados pedidos” o governo paulista envia à Folha quase nove dezenas de caixas cheias de documentos que não têm relação com o objeto da reportagem? Por que é tão difícil o governo Alckmin fornecer as informações solicitadas?
Além disso tudo, o que mais espanta é que, até aqui, não se tem notícia de uma única declaração da oposição ao governo Alckmin, na Assembleia Legislativa. Se esse caso envolvesse, por exemplo, o governo Haddad e um blogueiro que critica o PSDB, a oposição paulistana estaria cobrando CPI e dando declarações reiteradas à mídia, acusando o governo petista de estar financiando “blogs sujos”. Aí talvez esteja a explicação sobre por que o PT está perdendo tão feio o debate político.

domingo, 19 de abril de 2015

Os sete tipos de reacionários (e como debater com eles)

Se você já perdeu tempo tentando discutir política com reacionários, deve ter percebido que existem tipos diferentes desses indivíduos, cada um com um estilo particular de “argumentação”. Nesse artigo bem humorado tentaremos desvendar os sete tipos de reacionário, o que há de errado com eles e como devemos agir.
“Quem são os reaças? Onde vivem? De que se alimentam?” (Sérgio Chapelin, sobre reacionários)
Começaremos pelos mais inteligentes e depois seguiremos em direção aos de comunicação mais difícil.
Reacionários Educados
Esses são os mais raros. Eventualmente você esbarra em um em público ou num fórum on-line. Podem ser os mais difíceis de lidar. Eles aprenderam tudo o que há pra se aprender sobre suas posições (de uma perspectiva reacionária). Educaram-se sobre todas as razões que justificam seus posicionamentos como corretos, mas não estão interessados em nada que contradiga suas crenças.
O problema: Qualquer um com internet e cinco minutos livres consegue encontrar algo que descredite completamente sua versão dos “fatos”. Mesmo quando rebatidos, continuam a voltar aos argumentos iniciais, tentam mudar o assunto para algo onde se sintam mais confortáveis ou começam a expressar opiniões sem mérito factual.
Debatendo: Mantenha-os no assunto. Não deixe que ignorem seus contrapontos e mudem o assunto para você. São mestres nisso, mas se você conseguir mantê-los no assunto, começarão a expressar opiniões para as quais você poderá dizer “você tem fatos ou estatísticas que sustentem essa opinião?”.

Reacionários “Globais”
Estes estão entre os mais raivosos. Assistem aos jornais da Globo ou outras mídias de massa burguesas, leem a Veja e acreditam que isso os faz especialistas em política (do mesmo modo que acreditam que assistir ao jogo os faz técnicos e assistir à missa os faz santos). O único conhecimento político que apresentam é uma papagaiada sem base. Quando você os contrapõe, te chamam de “esquerdopata”, “comuna”, “socialista”, etc. Eles acham que todo revolucionário é um socialista que quer tirar seu dinheiro e entregar para pessoas que não merecem.
O problema: Eles não têm ideia do que estão falando. Geralmente estão repetindo coisas ditas pelo Arnaldo Jabor ou, com mais azar, pelo Olavo de Carvalho. Eles acreditam que movimentos anticapitalistas querem roubar sua liberdade (toda a liberdade que o dinheiro possa comprar), mas não compreendem o conceito de capitalismo, nem reconhecem como esses movimentos foram cruciais para que ele tivesse os direitos que têm hoje. Eles acham que o PT é comunista, e se você discorda dizem que você é um leitor da Carta Capital. Dizem que você é uma ovelha, mas esperam que você aceite cegamente tudo o que dizem, sem questionar.
Debatendo: Mantenha-se pedindo fatos e comprovações para as afirmações que fazem até que se desesperem e te chamem dos nomes já citados. Peça-os para enumerar quais os direitos que os movimentos anti-capitalistas já o roubaram (talvez eles digam que perderam o “direito de proibir a união homossexual” ou coisa do tipo, mantenha-se cobrando fatos). Eles tendem a ser violentos, então se estiver cara-a-cara, fique de olho em suas mãos.
Reacionários Cristãos
Estes reacionários são hipócritas. Eles fazem tudo em nome de Jesus, enquanto simultaneamente agem da maneira mais anticristã humanamente possível. Defendem armamento da população, são pró-militares, contrários à igualdade de direitos entre os sexos e à emancipação feminina e, principalmente, ignoram todos os trechos da bíblia que demonstram que Jesus era um personagem revolucionário (e libertário). As partes que mais esquecem são as de “amar o próximo como a si”, “não julgar” e a em que joga filhos contra pais e pais contra filhos. Porque o patriarcado não pode ser agredido, não é mesmo? Eles também acreditam que países em guerra estão assim por falta de Deus no coração, mesmo que quase a totalidade desses países seja de religião abraâmica e siga essencialmente o mesmo deus (com mais rigor!)… E eles odeiam os gays, claro.
O Problema: Eles fazem coisas horríveis em nome do Senhor. Eles acham que aqueles que discordam estão condenados ao inferno, porque são pessoas más. Eles acreditam que somos uma nação cristã, mesmo com uma influência inegável de cultos indígenas e afro-brasileiros em nossa cultura. E eles dizem defender a liberdade religiosa, mas condenam tudo o que não é cristão como “demoníaco”. Ah, eles também negam a evolução…
Debatendo: Insista na mensagem de “amor” cristão. Jesus os orientou a amar incondicionalmente e não julgar. Pergunte como eles acreditam que Cristo agiria no mundo de hoje frente à desigualdade social, e o que ele pensaria do dízimo que se paga às igrejas caça-níqueis. De qualquer forma, eles responderão com citações aleatórias e mostrarão que esse debate em específico é uma perda de tempo.
Reacionários “Contra a Corrupção”
Aqui estão os coleguinhas que vão aos protestos de branco, com a cara pintada de verde e amarelo, cantando o Hino Nacional ou a clássica do Geraldo Vandré. Eles querem um movimento bonito, higiênico, pacífico e, principalmente, passivo. Querem ir às ruas pra protestar por seus direitos, mas não conhecem seus direitos e menos ainda seus deveres. Acham que a polícia tem que sentar a borracha nos “vândalos” do Black Bloc, que eles nem sabem o que é. Dizem que a culpa do tráfico é do usuário, gostam de filmes como Tropa de Elite (alguns até citam Capitão Nascimento). O mais importante: defendem o fim da corrupção. Que corrupção? Não sabem. Mas quando dá preguiça de “vem pra rua”, eles ficam de “luto”.
O Problema: Esses indivíduos defendem pautas vazias. Aliás, eles querem enfiar essas pautas em qualquer lugar onde estejam, dizendo que as pessoas precisam ter foco (nas pautas vazias). São a pior praga dentro da Anonymous. Reproduzem-se como coelhos. Vão tentar levar qualquer debate para o eixo PT/PSDB, vão criminalizar movimentos sociais populares, mas vão defender reforma tributária (ignorando a transferência do poder do estado para o setor privado) e a reforma política (mesmo sem especificar o que é isso, significando, na prática, nada).
Debatendo: Peça que ele defina os conceitos que apresenta. Pergunte a que corrupção se refere, que reforma pretende. A melhor arma contra estes é a história. Tudo aquilo que eles almejam, na prática, até hoje foi conquistado com as práticas que eles condenam. Quando ironizarem o assistencialismo, traga estudos acadêmicos sobre seus resultados e deixe claro que esse é um pilar do capitalismo, para que ele mesmo não desabe em crise. Quando ele disser que o usuário financia o tráfico, pergunte se ele concorda que quem usa gasolina não é igualmente culpado pela guerra por petróleo no Oriente Médio.
Reacionários Xenófobos
Nessa categoria, incluem-se os que pensam que São Paulo é a locomotiva do Brasil, que defendem que o Sul se separe para formar um país de melhor IDH, que chamam tudo o que vive nas regiões Norte e Nordeste de “baiano” e os culpam pela crise urbana no Sudeste e, claro, as patricinhas e os mauricinhos que vão a aeroportos vaiar médicos cubanos. Esse tipo é complicado, porque é do tipo que tem medo de perder o pouquinho que tem pra “esses pobres”.
O Problema: Eles vão defender a superioridade de suas categorias. São meritocratas quando lhes convém, acham que um diploma te faz uma pessoa mais íntegra, mas colam em provas e compram carteiras de motorista. Eles acreditam que o êxodo rural encheu a cidade de gente “vagabunda”, mas dependem do serviço desses “vagabundos” até pra fazer um almoço. Quando você os contrariar, vão tentar te associar ao crime organizado ou ao terrorismo. E também vão dizer que “se usa chinelo não é índio”.
Debatendo: Desse grau pra baixo vai ficar difícil debater, já avisamos. Felizmente, as estatísticas atuam contra esses reacionários, assim como a política internacional, mas essas são esferas que eles não compreendem. E como eles também nunca “sentiram na pele” os problemas sociais, você vai ter que usar metáforas. Só não faça ironias com “Playstation” e “iPhone”, porque isso os deixa fora de controle.
Reacionários Racistas e Sexistas
Esses vêm quase por último por uma razão. Sabemos que racismo e sexismo não são exclusividade de reacionários. Sofremos muito com isso mesmo dentro dos grupos que se afirmam revolucionários. Mas essa junção funesta gera um dos piores tipos: o fascistóide. Eles não odeiam a Dilma pelas contradições de seu governo, mas essencialmente porque ela é mulher. Eles acreditam que liberdade de expressão é poder praticar ódio e discriminação sem sofrer consequências. Eles acreditam numa diferença “natural” fantasiosa entre homens e mulheres, entre brancos e negros, e entre heterossexuais e homossexuais que está muito distante da realidade científica. E por conta disso eles são máquinas de agressão e opressão, ainda que alguns de modo inconsciente.
O Problema: Eles são preconceituosos e discriminadores, mas quando você apontar isso, alegarão perseguição. Eles vão dizer que o dia da consciência negra e as cotas nas universidades é que são racistas, porque desprezam a história e a cultura do país, se pautando num silogismo pobre. Eles não sabem diferenciar a violência do opressor e a resistência do oprimido. Acima de tudo, eles não conseguem compreender porque as pessoas os chamam de machistas, racistas ou homofóbicos quando eles abriram um discurso com “eu tenho vários amigos gays, mas…” ou “eu respeito muito minha mulher e minhas filhas, mas…”. Pra finalizar, eles não entendem que democracia é o governo do povo. Todo o povo, e não só a maioria do povo.
Debatendo: Não se debate com fascistóides. Se os expurga. Você teria mais trabalho tentando convencer algum desses xucros sem educação do que são direitos humanos do que se tentasse convencer uma macieira a dar laranjas.
Reacionários Mal Educados
Esses reacionários são reacionários porque eles acham descolado. Eles têm amigos economistas, ou assistiram a uma meia dúzia de vídeos do Olavinho ou do Dâniel Fraga, então eles pensam que sabem do que estão falando. Eles têm uma gramática horrível, ignoram pontuações e têm uma tendência a escrever tudo em caixa alta (caps lock) e com vários pontos de exclamação, ASSIM!!! ACORDA BRASIL!!! ESSE É O PAÍS QUE VAI SEDIAR A COPA!!!???!!!. Irritante, não? Eles também esperam que você acredite em tudo o que eles dizem, só porque estão dizendo. E também citam vídeos de opinião quando você pede fontes que comprovem o que eles dizem.
O Problema: É difícil categorizar problemas num debate de ogros que não sabem se comunicar. Eles mal compreendem qual é seu posicionamento político, só repetem o que ouviram de um amigo ou viram num vídeo. Eventualmente, publicarão essas correntes mentirosas, com casos de um “famoso professor” que nunca existiu, ou do “grande economista” que nunca disse aquilo. Eles são 100% cegos aos fatos e só dão atenção ao que reforça suas crenças irracionais.
Debatendo: Não há lógica ou fatos que os vá convencer de nada. Você pode ser doutor na área, eles vão inventar uma desculpa do tipo “seu professor de história mentiu pra você” ou “esquerda e direita é coisa do passado”. No lugar de discutir com eles, tente explicar álgebra ao seu animal de estimação. Há mais chances de sucesso.
Esperamos que esse informativo lhes seja útil, ou ao menos que tenha servido como um desabafo coletivo. Lembrem-se disso antes de entrar em debates incansáveis nas redes sociais, pois nem sempre vale a pena. E saiba que esses grupos de reacionários reproduzem entre si e evoluem, como pokémons, então você poderá encontrar híbridos ou formas muito extremas de qualquer um deles.
Este artigo da @AnonymousFUEL foi inspirado no artigo “The 7 Types Of Republicans and How To Debate With Them”, de Matthew Desmond, na AddictingInfo.
http://www.addictinginfo.org/2013/08/01/the-seven-types-of-republicans-and-how-to-debate-them/