Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Trensalão: PF, Tóffoli, Marco Aurélio e Fux (claro) matam no peito


trensalão capa

Enquanto céus e terras se movem para inventar pagamento de propina com recibo, nas instâncias de investigação que julgam e condenam políticos só quando são petistas, tucanos envolvidos em escândalo que em tudo se assemelha ao da Petrobrás vão saindo à francesa, sob os auspícios da PF e do STF.
Esse caso é uma bofetada no rosto da sociedade, sobretudo da sociedade-zumbi que povoa São Paulo, ainda que esta não se manque.

Na última quinta-feira (4), a Polícia Federal concluiu o inquérito sobre o cartel de empresas fornecedoras de trens para o Metrô e para a CPTM, esquema que operou em São Paulo entre 1998 e 2008 (dez anos inteirinhos) sem que os então governadores Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra soubessem qualquer coisa.

Governante tucano tem direito de “não saber”, ao contrário de governante petista.

A PF indiciou 33 investigados por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de cartel e crime licitatório. Nenhum desses indiciados é político. Só laranjas foram acusados. Meros funcionários, tanto das empresas corruptoras quanto das corrompidas.

Alguns deles ainda trabalham nas empresas estatais paulistas, inclusive.

O perfil de indiciados é muito parecido com o do escândalo da Petrobrás. São servidores públicos, doleiros, empresários e executivos de grandes empresas que participaram de esquema de divisão de contratos com o Metrô de São Paulo e com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
As estatais “foram usadas, foram vítimas” do ajuste das empresas, diz a PF. Não são como a Petrobrás (SIC), que “sabia de tudo”…

O que difere em um esquema criminoso que teve início há 16 anos – e que só começou a ser investigado em 2008 – para o caso Petrobrás é que, de forma espantosa, essas empresas que corromperam funcionários públicos das estatais Metrô e CPTM fizeram tudo isso sem envolver um mísero político, segundo a PF.
José Serra, por exemplo, apesar de ter sido acusado por um ex-executivo da Siemens, Nelson Marchetti, de ter orientado a multinacional alemã a não entrar com ação na Justiça contestando a contratação da espanhola CAF na licitação para compra de 384 carros da CPTM, segundo a PF “não sabia” de nada.

Mas Serra não foi o único político investigado. Em outubro de 2013, a PF tomou depoimentos de dois ex-diretores da Siemens, em uma delação premiada igualzinha à do caso Petrobrás. Everton Rheinheimer, um dos delatores, citou deputados do PSDB, do DEM e do PPS como beneficiários de propinas do cartel.
Porém, alegando falta de indícios, o Supremo Tribunal Federal arquivou os inquéritos contra o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, e contra os deputados federais Arnaldo Jardim, do PPS, e Edson Aparecido, do PSDB.

Contudo, o escândalo que seria um esquema dessa envergadura não envolver um mísero político, tem chance (pequena) de não ocorrer. O Supremo ainda analisa suspeitas contra os deputados Rodrigo Garcia, do DEM, e José Anibal, do PSDB. Eles foram citados em delação premiada feita pelo ex-diretor da Siemens Everton Reinheimer.

Dois ministros já votaram para acabar com essa coisa incômoda de investigar demos e tucanos e decidiram-se pelo arquivamento da denúncia. Outros dois posicionaram-se a favor da continuidade da investigação. O julgamento, porém, foi interrompido por pedido de vista de um dos ministros.

O recurso de “acompanhamento processual” do site do STF mostra quem decidiu o que no STF após a escandalosa conclusão da PF, que age de forma tão diferenciada quando os envolvidos em escândalos são do PSDB. Confira, abaixo, o que diz o andamento do processo 3815 do Supremo.

trensalão

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Estelionato eleitoral: IDEC acusa Sabesp de sonegar informações ao consumidor


O processo eleitoral de 2014 deixará um saldo trágico para o povo paulista. Vão-se as eleições e fica uma crise de abastecimento de água que poderia ter sido mitigada se o governo do Estado, através da companhia estatal de Saneamento Básico e distribuição de água, a Sabesp, tivesse adotado racionamento e penalização ao desperdício.
Com os olhos postos no período eleitoral, porém, o governador Geraldo Alckmin vem postergando medidas que poderiam causar desconforto agora, mas que evitariam desconforto ainda maior no futuro próximo. Ou seja: passadas as eleições.
Quando começou a se agravar a situação do aquífero Cantareira, porém, o governador paulista continuou negando a necessidade de racionamento, como vinha fazendo desde o ano passado.


Desde então, a situação se agravou sobremaneira. Em julho de 2014, o volume útil do Cantareira, que atende 8,8 milhões de pessoas na Grande SP, esgotou-se. Com o esvaziamento do reservatório e as previsões pessimistas de falta de chuva, São Paulo se afogou na maior crise hídrica dos últimos 80 anos.
O primeiro sinal de problemas surgiu em 2004. Foi nesse ano que a Sabesp conseguiu renovar concessão para administrar a água em São Paulo. A estrutura dos reservatórios já era considerada insuficiente para dar conta da demanda. Ali, na renovação da licença da Sabesp, houve consenso de que seria preciso realizar obras para aumentar a capacidade de armazenamento de água.
De acordo com os planos da Sabesp, a cidade de São Paulo ficaria bastante dependente do Sistema Cantareira, o que era preocupante. Se a água dos tanques do sistema acabasse, seria o caos. E foi.
Não dá para o governo paulista dizer que “não sabia”, portanto. Até por conta disso, Alckmin começou, lá atrás, a fazer obras para garantir por mais alguns meses o abastecimento. Ou seja: o suficiente para que a água não acabasse nas torneiras dos paulistas em pleno período eleitoral, quando o tucano teria que disputar seu cargo com a oposição.
Vendo o estelionato eleitoral em curso, o Ministério Público do Estado (MPE) abriu dois inquéritos para questionar o uso do “volume morto” do Cantareira. De acordo com o promotor de Justiça Ivan Caneiro Castanheiro, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), professores da Unesp e Unimep concordam em dizer que o uso é temerário.
Os males que a água do Cantareira pode provocar vão desde doenças na tireoide, fígado e rins até o Mal de Parkinson. Para o promotor, o risco está principalmente no interior do Estado, onde há menos recursos para tratar a água de forma adequada.
Ainda assim, as autoridades paulistas não quiseram conversa. Em maio, quando São Paulo ainda não estava explorando o “volume morto” do Cantareira, a crise iminente requeria um racionamento brando. Com uma interrupção do abastecimento por semana em cada região da capital paulista, a economia seria brutal e o incômodo seria contornável.
Contudo, o governo do Estado decidiu gastar OITENTA MILHÕES DE REAIS para não ter que adotar medida sem custo que poderia evitar que os paulistanos tivessem que usar as águas poluídas do “volume morto” do reservatório exaurido.
O que chega a ser cômico, se não fosse trágico, é que o governador tucano ainda fez inauguração dos milhões que estava literalmente atirando no esgoto.
Confira, abaixo, matéria do portal IG publicada em 5 de maio deste ano.
Por iG São Paulo | 15/05/2014 17:28 – Atualizada às 15/05/2014 17:39
Texto
Orçada em R$ 80 milhões pela Sabesp, obra deve garantir o abastecimento de quase 10 milhões de pessoas até novembro
O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, inaugurou a primeira obra para captar água do chamado volume morto concentrado na represa Jaguari/Jacareí, em Joanópolis, na manhã desta quinta-feira (15). A barragem, que inicia o processo para evitar a falta d´água para quase 10 milhões de pessoas na Grande São Paulo e em outras cidades do interior paulista em 2014, é a de estado mais crítico do Sistema Cantareira, com menos de 2% de volume útil disponível.
O início do processo de captação se deu com gesto simbólico de Alckmin, que acionou o mecanismo responsável por bombear a água da reserva técnica para levá-la à estação de tratamento de Guaraú, responsável pelo tratamento do sistema.
Em discurso, ele exaltou a qualidade da água do volume morto, aquela localizada sob o nível de captação das comportas das represas, cujo uso é visto com ressalvas por especialistas devido à necessidade de maior cuidado em seu tratamento: “É uma água totalmente testada e aprovada pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambienta), igual as demais águas.”
A obra, orçada pela Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) em R$ 80 milhões, prevê a retirada de 182,5 bilhões de litros de água do volume morto das represas do Cantareira, pouco menos da metade do total disponível sob as barragens – 400 bilhões de litros. Destes, cerca de 133 bilhões de litros devem ser usados até o final de novembro, mês em que historicamente volta a chover consideravelmente na região. 
A Associação Nacional das Águas (ANA, responsável por regular o volume do sistema junto ao DEAA) não descarta diminuir a distribuição à população atendida pelo sistema, já que pode haver déficit de 10 m3/s de água principalmente durante os meses em que chove menos na região das represas, em agosto e setembro. A Sabesp e Governo do Estado, no entanto, seguem negando essa possibilidade.
[...] 
Trata-se de dinheiro jogado fora. E que ainda tem cerimônia de inauguração. Será que a “inauguração do volume morto” teve banda de música e fogos de artifício?
Solução muito mais barata para o povo paulista seria racionar e penalizar o desperdício. Sobretudo penalizar o desperdício, que há muito em São Paulo. É o que mostra reportagem da Folha de São Paulo divulgada no último final de semana.


Combater o desperdício e interromper o abastecimento evitaria milhões jogados no esgoto e um racionamento velado e pouco eficiente – por velado – que tem sido feito. Alckmin poderia ter feito como na Califórnia (Estados Unidos), que vive crise de água parecida com a de São Paulo.
Como por lá, nos EUA, estelionato eleitoral não costuma dar tão certo quanto em São Paulo, o governo californiano declarou estado de emergência e começou a tomar medidas para preservar os recursos e evitar desperdício.
A Califórnia entrou em um regime de racionamento de água parecido com o de energia que o Brasil viveu em 2001. Quem fosse flagrado desperdiçando água, como no condomínio de Alckmin, recebia multa de 500 dólares.
Aliás, desde abril deste ano só a cidade californiana de Santa Bárbara já arrecadou mais de 1 milhão de dólares em multas. E é possível aos cidadãos acessarem informações sobre desperdício de água e conferir o nível dos reservatórios em tempo real.
O mais incrível é que a previsão para o fim da água por lá vai de um ano a um ano e meio. Um horizonte de exaustão da reserva aquífera bem mais distante que o daqui, aliás.
Além de todas as barbeiragens tucanas em São Paulo, há uma outra diferença para o que faz o governo californiano, que disponibiliza informações precisas aos cidadãos. No Tucanistão (São Paulo), em vez de informar a população o governo do Estado esconde informações.
Não é por outra razão que, agora, o IDEC acaba de denunciar a Sabesp ao Ministério Público do Estado de São Paulo e ao Procon-SP. O Instituto de Defesa do Consumidor acusa a Sabesp de não estar dando informações ao consumidor sobre a situação do abastecimento.
Confira, abaixo, matéria publicada no portal do IDEC na última segunda-feira.
20/10/2014
Expectativa é ter acesso ao mapa de redução de pressão noturna de água e mais informações para disponibilizar ao cidadão a situação real do abastecimento
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) envia hoje, 20/10, uma representação ao Ministério Público e um ofício ao Procon de São Paulo contra a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Com essa iniciativa, o Instituto espera que o MP determine para a Sabesp a divulgação do mapa de diminuição de pressão noturna. A Sabesp tinha prazo legal até 19/10 para enviar o mapa ao Idec. Entretanto, o Instituto não recebeu o material. A iniciativa do Idec tem como base o Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90) e a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), que regulamenta o direito de acesso a dados públicos. No documento do Idec ao MP e Procon-SP, o instituto vem “requerer as providências cabíveis diante da omissão de informação relevante ao cidadão paulistano em relação à atual crise do serviço de abastecimento de água (…)”.
Para Elici Maria Checchin Bueno, coordenadora-executiva do Idec, além dessas iniciativas adotadas, há necessidade da sociedade civil encontrar alternativas a curto, médio e logo prazo para interferir na construção de um cenário de sustentabilidade. “Tanto fornecedores quanto consumidores devem atuar no sentido da mudança de atitude e refletir sobre como criar opções que propiciem o consumo sustentável. Os órgãos responsáveis pelo sistema de abastecimento precisam alavancar um comportamento de cidadania por meio das informações que possuem. É tratar o consumidor com o respeito que ele merece. Não é mais questão de ‘dicas contra desperdício’, pois estamos diante de uma crise hídrica”, enfatiza Elici Bueno.
O envio das cartas ao MP e ao Procon-SP é mais um passo do Idec no sentido de ter uma posição da Sabesp sobre o assunto. No dia 8/09, o Idec havia formalizado um pedido de informação à empresa, requisitando o mapa de diminuição de pressão noturna de água. A redução da pressão é realizada pela Sabesp no contexto da crise de abastecimento. A concessionária estadual nega que haja qualquer tipo de racionamento, isto é, corte de fornecimento de água, e também alega que a diminuição da pressão não traz consequências aos consumidores, mas não é o que se vê na prática. A Sabesp não atendeu à solicitação do instituto.
O acesso a este mapa e sua divulgação contribuiriam para sinalizar aos consumidores os locais onde a diminuição da pressão pode causar eventual falta de água. “Não admitir oficialmente o racionamento impede, inclusive, que medidas para punir desperdício de água sejam aplicadas”, argumenta Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Idec.
Entenda o caso
A Lei de Acesso à Informação prevê que a solicitação de acesso à informação deveria ser respondida em até 20 (vinte) dias, prazo que terminou em 27/09. Contudo, na véspera dessa data, o Sistema de Informações ao Cidadão do Governo do Estado de São Paulo (SIC.SP) enviou resposta com o comunicado de que o prazo de resposta seria prorrogado por mais 10 dias, conforme permitido na legislação. A Sabesp teve até 7/10 para dar a resposta, o que não ocorreu.
Vale lembrar que o mesmo pedido de informações já havia sido feito em reunião presencial que o Idec teve com a Sabesp, na sede do instituto, em 29/08, quando o diretor Paulo Massato e a gerente de departamento Samanta Oliveira se comprometeram a levar a demanda à presidência da companhia.
“Não entendemos que a informação seja de difícil elaboração por parte da Sabesp, uma vez que na reunião que tivemos aqui nos foi dito que a empresa tem dados do perfil diário de consumo de cada microrregião da cidade, inclusive com a variação do consumo de hora em hora, e que as válvulas de redução de pressão estão ligadas a um sistema informatizado e automatizado”, afirma Carlos Thadeu.
A atuação do Idec nesta crise de água teve início quando o Governo do Estado de São Paulo anunciou, em 21/04, que a partir de maio, os consumidores que elevassem seu consumo de água acima da média poderiam ser multados entre 30% e 35%.
O Idec entendeu que tal medida era abusiva e, portanto, ilegal, primeiramente porque contraria o CDC (Código de Defesa do Consumidor) em seu artigo 39: “É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (…) inciso X – elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços”. Na medida anunciada pelo governo não estava caracterizada a “justa causa”, já que para tanto seria necessária a declaração da situação de racionamento, o que não havia sido feito.
Após o Instituto apontar a ilegalidade da cobrança de multa para os consumidores, o governo estadual voltou atrás dessa proposta. Em seguida, em 29/07, o Idec enviou uma carta para a Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo), para o governador do Estado de São Paulo e para a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), com dados dos relatos de falta de água recebidos em sua campanha “Tô sem água”. A campanha, que ainda está no ar, tem a finalidade de mapear as localidades que estão sofrendo com esse fato.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Deputado petista diz que governo de SP “É quase uma ditadura”


O deputado estadual (PT-SP) Antonio Mentor é irmão do deputado federal José Mentor, um dos fundadores do PT e que foi relator da CPMI do Banestado, que, em 2003, investigou evasão de divisas através das contas CC5, invenção do governo Fernando Henrique Cardoso que permitiu que bilhões de dólares fossem expatriados ilegalmente.

Antonio foi vereador e secretário de governo em Americana. Está em seu quarto mandato de deputado estadual. Em 2002, teve a maior votação da Região Metropolitana de Campinas. Na ALESP, foi líder da bancada do PT; atualmente é membro da Artesp (Agência de Transporte do Estado) e da Comissão de

Transportes; em 2007, presidiu a CPI da Eletropaulo.

Entre as propostas que apresentou, estão o fim do voto secreto dos deputados, o combate ao assédio moral, a garantia do transporte gratuito para os idosos e a regulamentação dos comerciais de medicamentos.
Na 16ª legislatura (2007-2011), Mentor realizou seminários para a orientação de ONGs quanto a procedimentos administrativos e ao certificado do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), inclusive com o lançamento de uma cartilha sobre o assunto, que está disponível no gabinete, gratuitamente para qualquer interessado.

Na última quarta-feira, em seu gabinete, na sala T106 da Assembleia Legislativa de São Paulo, Antonio Mentor deu uma longa entrevista ao Blog da Cidadania. A partir do foco na CPI dos pedágios, instalada no mês passado naquela Casa, o deputado traçou um quadro sombrio da situação política no Estado mais rico da Federação.

Mentor enxerga São Paulo absolutamente dominado pelo PSDB, tanto no Legislativo quanto no Executivo, o que não representaria maiores problemas no regime democrático, pois quem vence eleições domina mesmo esses poderes. O problema apontado pelo deputado é o de que, ao longo de duas décadas de hegemonia tucana no Estado, Judiciário, Ministério Público e mídia foram totalmente cooptados pelo governo estadual.

A entrevista de Antonio Mentor desnuda os métodos que o PSDB paulista usa para impedir qualquer investigação de um processo de espoliação do Erário paulista que transformou a vida – sobretudo dos paulistanos (paulistas da capital) – em um inferno, com um sistema metroviário e de trens urbanos decadente e superlotado, sem investimentos em infraestrutura até para distribuição de água, com um sistema de distribuição de energia elétrica falho, que produz apagões incessantes, com uma polícia corrompida, ineficiente e que frauda estatísticas sobre Segurança de forma a vender ao resto do país uma situação rósea, que inexiste.
Confira, a seguir, os principais pontos da entrevista de cerca de uma hora com Antonio Mentor.
*

Blog da Cidadania – Qual é o ponto central da CPI dos pedágios? O que gerou essa investigação, deputado?

Antonio Mentor – O ponto central da investigação é o valor da tarifa. E, em decorrência desse ponto, há alguns outros que nós [da bancada do PT] queremos discutir, começando por uma questão de governo que nós queremos colocar na pauta, para garantir aos paulistas uma tarifa muito menor.
Estou falando de uma escolha que o governo do PSDB fez de um modelo de concessão onerosa. Significa que a licitação [para concessão das estradas à iniciativa privada] foi resolvida por aquele concorrente que oferecesse o maior valor de outorga [valor que a concessionária paga ao Estado para explorar uma estrada]
Esse valor de outorga vem sendo pago mensalmente pela concessionária. Isso impacta no valor da tarifa de uma maneira fortíssima, e eleva seu preço. Essa é uma opção de governo.
Qual é a contrarreferência que nós temos? São as concessões federais, que se deram por um outro modelo, um modelo da menor tarifa. O concorrente que ofereceu para a licitação a menor tarifa, atendendo aquele cronograma de obras, de serviços etc., mas com a menor tarifa, foi esse que levou a concessão da rodovia.
O exemplo clássico disso são os 400 quilômetros que vão de São Paulo até São José do Rio Preto. Um carro de passeio paga 76 reais de pedágio. A mesma distância, São Paulo / Curitiba, numa rodovia federal, paga 10 reais e 68 centavos.

Blog da Cidadania – Deputado, existem algumas dúvidas sobre essa comparação. Os pedágios das rodovias federais são mais baratos. O que argumenta a situação – não só a bancada de deputados governistas, mas também o governo do Estado –, e até parte da imprensa, é que as rodovias federais têm uma qualidade muito inferior à das rodovias estaduais [de SP]. Assim, as tarifas federais seriam mais baratas justamente porque a qualidade do serviço prestado é inferior.

Antonio Mentor – Todas as rodovias concessionadas do Estado de São Paulo, que são as melhores rodovias do Brasil, isso é verdade, elas já eram as melhores rodovias do Brasil antes da concessão. Então, esse argumento não serve.
É verdade que as rodovias federais são ruins? É verdade. O que, então, o governo federal quer fazer com a concessão? É torná-las boas rodovias. Há um cronograma de obras nas rodovias federais que vai transformá-las… Ou melhor, que já está transformando em rodovias de melhor qualidade.
Isso não vai acontecer em 2 ou 3 anos, vai acontecer em um processo mais longo. Haja vista que a última concessão que foi estabelecida pelo governo federal determinou que só podem ser implantadas as praças de pedágio depois de concretizados, pelo menos, 10 por cento da duplicação da rodovia, diferentemente do que aconteceu aqui em São Paulo, onde as concessionárias já pegaram rodovias prontas.
A rodovia dos bandeirantes, [quando foi concedida à inciativa privada] já estava pronta. A rodovia Anhanguera já estava pronta…

Blog da Cidadania – Perdão. Entendo, então, que tudo se deve ao ponto de partida. As rodovias estaduais já tinham um padrão muito bom de qualidade quando o PSDB assumiu e firmou esse modelo de concessão, ainda no governo Mário Covas… Correto?

Antonio Mentor – Sim, ainda no governo Covas, em 1998…

Blog da Cidadania – E as rodovias federais foram dadas em concessão agora, mas eram rodovias que estavam em um estado muito ruim desde sempre, desde bem antes do governo Lula e até antes do governo Fernando Henrique. Então, essa diferença de qualidade das rodovias estaduais de São Paulo para as rodovias federais não se deve à tarifa, mas ao ponto de partida da concessão…
É isso?

Antonio Mentor – A questão é o modelo que foi escolhido para as concessões paulistas.

Blog da Cidadania – Qual era o modelo vigente antes da privatização do Covas, antes de 1998?

Antonio Mentor – Tinha um processo de concessão de rodovias antes do que fez Covas, pelo governo Fernando Henrique Cardoso, na Via Dutra e na Ponte Rio-Niterói. Então, antes do Covas, existiram concessões de rodovias federais feitas como “laboratório”, no Brasil.
Veja, porém, que a Ponte Rio-Niterói é uma obra de arte pronta, não tinha nada mais o que fazer, quando foi concedida [por Fernando Henrique Cardoso] à administração privada. Ali, o máximo que se poderia fazer seria melhorar o socorro [mecânico], melhorar o atendimento médico [a motoristas envolvidos em acidentes], coisas desse tipo. Não tem nada além disso para se fazer. Foi entregue à iniciativa privada, mas, lá, foram feitos, apenas, pedágios.

Blog da Cidadania – E por que, então, entregar essa ponte à iniciativa privada?

Antonio Mentor – Pois é, essa é a grande pergunta…
Já a Via Dutra, não. É uma rodovia que precisa, até hoje, de melhoramentos. Foram feitas algumas obras na Dutra, principalmente aqui na Grande São Paulo, no trecho de Guarulhos, por ali.
Mas há muita coisa que precisa ser feita e não foi, apesar da concessão [de FHC]. É preciso duplicação, ou melhor, multiplicação de pistas, por exemplo, na Serra das Araras, um trecho perigosíssimo da Via Dutra, mas tudo isso ficou fora do contrato de concessão [firmado por FHC]. Na Via Dutra, não há nenhum plano de obras. Nada, nada, nada.

Blog da Cidadania – E qual é a moeda de troca dessa concessão?

Antonio Mentor – A moeda de troca dessa rodovia [a Dutra] foi só o pedágio mesmo. Não teve ônus…

Blog da Cidadania – Ué! Então [FHC] privatizou só para cobrarem pedágio?! Pura e simplesmente não se faz obras?!

Antonio Mentor – É só manutenção. Obras, só nesse trecho da Grande São Paulo. Fizeram alguma, é preciso dizer, na multiplicação de pistas nesse trecho aqui de Guarulhos, Arujá, Santa Isabel…

Blog da Cidadania – Mas existe previsão, na Dutra, de fazerem as obras que o senhor está dizendo serem necessárias ou não está previsto contratualmente?

Antonio Mentor – Não, não estava no contrato, não…

Blog da Cidadania – Então tudo que está sendo feito [na Dutra] é por liberalidade das empresas?

Antonio Mentor – Liberalidade, não. Em troca de novos benefícios para a concessionária: na tarifa e no prazo [de concessão]. São três coisas que interessam à concessionária: uma tarifa maior, uma taxa de retorno maior ou um prazo maior. Essa é a moeda de troca que o governo tem pedido às concessionárias.

Blog da Cidadania – E, nesse processo todo, quando se fala em CPI a gente pensa logo em irregularidades. Existe, por parte dos propositores dessa CPI, a percepção de que haveria irregularidades no processo de concessão de estradas do Estado de São Paulo?

Antonio Mentor – Claro. Em 2006, foi assinado um aditivo ao contrato de concessão [emenda contratual] para quase todas as estradas. Só duas concessionárias não tiveram esse aditivo, o que permitiu a prorrogação dos prazos de concessão. Por exemplo, a [concessionária] Autoban – que administra a Anhanguera e a Bandeirantes – teve uma prorrogação de oito anos e oito meses. E as outras concessionárias todas tiveram prorrogações com prazos variáveis, mas todas elas tiveram prorrogações dos seus contratos.
Por que tiveram? Porque, em 2005, as concessionárias entraram com um pedido de reequilíbrio econômico-financeiro do contrato. A Artesp [Agência Reguladora de Serviços Transporte Público do Estado de São Paulo] contratou, à época, três auditorias. KPMG, Fundação Getúlio Vargas e uma terceira, da qual não me lembro o nome… E essas três auditorias deram sustentação para a Artesp promover a prorrogação dos prazos.
Foi um verdadeiro absurdo. Não tinha sustentação numérica para fazer um aditivo desse porte. Esse aditivo foi assinado pelo Claudio Lembo entre o dia 20 e 30 de dezembro de 2006, em um momento em que as pessoas não estavam muito focadas…

Blog da Cidadania – No apagar das luzes…

Antonio Mentor – No apagar das luzes. Foi feito de uma maneira obscura. Tanto que o Claudio Lembo, em 2007, deu uma entrevista à Folha de São Paulo dizendo que nem sabia que tinha assinado aquilo.
A partir dali, várias dúvidas foram levantadas. Mudou o governo [sai Alckmin/Lembo, entra José Serra] e o diretor-presidente da Artesp, que tinha mandato, se demitiu – a contragosto, mas ele foi levado à demissão. Foi nomeada uma nova diretora, que é a Karla Bertocco, e essa nova direção contratou uma auditoria da Fipe, que apresentou, em 2011, um relatório contestando aquela avaliação anterior [que resultou nos aditivos prorrogando prazos de concessão] e dizendo, ao final, que aquela medida tinha dado um prejuízo da ordem de 2 bilhões de reais ao Estado de São Paulo.
O governo assume isso. O governador [Alckmin], inclusive, assumiu isso. E disse – no seu discurso de sempre – que iria entrar na Justiça para buscar ressarcimento do governo, aquela conversa que ele repete no caso do cartel [de trens], no caso da Alstom… Em todos esses episódios, ele fala que vai à Justiça e acaba não indo.
Nesse episódio [das concessões de rodovias], além de assumir que havia essa diferença de valor – uma diferença significativa; dois bilhões são dois bilhões – ele [Alckmin] ensaiou uma ação – que foi julgada inepta – e esse é um dos pontos principais do nosso trabalho na CPI [dos Pedágios].

Blog da Cidadania – As ações que o governador propõe geralmente são consideradas ineptas. Essa que ele propôs por causa do cartel [de trens] também foi considerada inepta…

Antonio Mentor – Você conhece a história do “Eu vou não ir”? Faço que vou, mas não vou. Anúncio e não faço o que anunciei.
Não podemos imaginar que o governo do Estado, com a estrutura que tem, sofra de tal grau de incompetência para sempre entrar com ações ineptas [para ressarcir o Erário de roubalheiras nesse governo].

Blog da Cidadania – Diante desse caso – e não é só nesse caso, mas também no escândalo dos trens –, as pessoas que acompanham política – e, infelizmente, essa atenção está restrita às pessoas que acompanham política – ficam inconformadas, porque não é possível que não exista nenhum tipo controle para coisas como as que acontecem em São Paulo.
Por conta dessa maioria que o PSDB tem no Legislativo, não funciona Ministério Público, não funciona Judiciário, não funciona polícia, não funciona nada quando é para investigar o governo estadual. Como é que pode uma coisa dessas? Não há controle externo algum?

Antonio Mentor – O controle que eles têm não é só no Legislativo. Eles [o PSDB] têm maioria em todas essas instituições que você mencionou, aí. O governo do PSDB tem identidade política com setores importantes dessas instituições. A começar pela mídia. Tem uma blindagem absoluta!
Você vê: quando falam do mensalão do PT, dizem que é o do PT; quando falam no mensalão do [Eduardo] Azeredo [ex-presidente do PSDB], é “mensalão mineiro”, não é do PSDB. Quando falam do escândalo do metrô, é “cartel” – a culpa é das empresas, nunca do governo. Imagine um cartel que funcionou durante VINTE ANOS no Estado de São Paulo não ter participação de agentes políticos…
Pelo amor de Deus!
Aliás, o procurador-geral do Ministério Público de São Paulo já arquivou a investigação aberta por um promotor sobre a participação de José Serra no esquema de cartel. Quem é o procurador-geral? É aquele que foi nomeado pelo Alckmin…

Blog da Cidadania – Marcio Rosa, o segundo da lista tríplice do Ministério Público, que Alckmin escolheu desrespeitando a norma não-escrita – que Lula e Dilma sempre adotaram – de o Executivo federal ou estadual sempre nomear o primeiro indicado pela instituição para a procuradoria-geral…

Antonio Mentor – Na primeira vez, três anos atrás. Agora, ele acaba de ser reconduzido ao cargo e, desta vez, foi o primeiro da lista.

Blog da Cidadania – Bem, então vamos enumerar o que o senhor está me dizendo, deputado: os governos tucanos têm maioria absoluta no Legislativo, maioria no Ministério Público, maioria…

Antonio Mentor – Eu não diria que é “maioria”, eu diria que é “simpatia” do Ministério Público. Vamos citar exemplos para caracterizar isso. O Ministério Público destacou um dos seus membros mais famosos para representá-lo aqui no Legislativo [estadual], que é o promotor de Justiça Fernando Capez. Qual é o partido dele? O PSDB.
O Ministério Público destacou um outro promotor para representá-lo na Câmara Federal. Quem é? Carlos Sampaio. De que partido ele é? PSDB. Então, são esses indicativos que explicam essa “simpatia” do Ministério Público [de SP] pelo PSDB. Não é a instituição, mas parcelas do Ministério Público que têm essa “simpatia” pelo PSDB.

Blog da Cidadania – Então, onde o governo do Estado pode influir no Ministério Público fazendo indicações, ele faz de forma a gerar uma espécie de blindagem?

Antonio Mentor – Eu não sei se é por causa da indicação… Mas veja, o governo de Fernando Henrique nomeou o senhor Geraldo Brindeiro. Quem foi ele? O engavetador-geral da União. Ele era tido e havido como engavetador-geral por sua simpatia pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
E, ao contrário disso, o Lula nomeou três procuradores no mesmo período que FHC [8 anos]. E todos eles foram extremamente rigorosos em relação ao governo Lula e a parlamentares do PT. Tudo que caiu lá [no Ministério Público] eles [os procuradores-gerais de Lula] “meteram ferro”. Eu acho que está certo, mas queria que o Ministério Público usasse o mesmo rigor com todos.

Blog da Cidadania – Além da “simpatia” no Ministério Público, no Judiciário e na polícia, o PSDB tem, também, a mesma “simpatia” da mídia. Existe uma blindagem na mídia ao governo Alckmin. Em todo o escândalo dos trens, até agora, na mídia, não gerou nenhum editorial acusatório ao governo Alckmin.
Por exemplo: Dilma foi duramente responsabilizada pelo que dizem que aconteceu na Petrobrás. Alckmin ou Serra não são responsabilizados minimamente, pela mídia, pelo escândalo que aconteceu debaixo dos narizes deles, no caso dos trens, dos pedágios… O senhor diria, então, deputado, que há uma ditadura em São Paulo?
Ora, se não se consegue investigar, se não se consegue denunciar na grande mídia, se o Ministério Público, que poderia fazer alguma coisa, não faz, então é quase uma ditadura esse domínio do PSDB em São Paulo, concorda?

Antonio Mentor – É quase uma ditadura, sim. É quase uma ditadura.
Você veja, gosto de citar exemplos para caracterizar o que estou falando. Por exemplo, o Robson Marinho. Ele foi prefeito de São José dos Campos pelo PSDB; foi chefe da Casa Civil do governo Covas, do PSDB; foi indicado por Covas, do PSDB, para o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Tem batom na cueca, sobre sua participação no episódio da Alstom. Que não é cartel, é outra coisa.

Blog da Cidadania – O que é?

Antonio Mentor – o caso Alstom é a contratação, em 1997, da Eletropaulo, ainda estatal, e da EPTE [empresa de Engenharia e Planejamento em Transmissão de Energia] para uma licitação que ocorreu no governo [Franco] Montoro. Eles ressuscitaram essa licitação em 97 com valores extremamente superfaturados e o senhor Robson Marinho foi o operador desse episódio todo.

Blog da Cidadania – Operador, como?

Antonio Mentor – Ele era o chefe da Casa Civil e foi ele quem fez toda a operação de revalidação daquela licitação [do governo Montoro, nos anos 1980] e, com isso, ele obteve o resultado que a mídia mostrou – em pequenas notas, é verdade, mas que mostraram os valores altíssimos nas contas correntes de Marinho ainda hoje.
15 anos depois, Robson Marinho ainda tem contas na Suíça, nas Ilhas Virgens; 2 milhões, 3 milhões – 2 milhões de dólares, 3 milhões de euros… Imagine só esse contrato. Um contrato vultoso, uma operação de grande porte e que foi investigado na Suíça e não aqui. Não foi o Ministério Público, não foi o Parlamento, foi investigado pela justiça da Suíça, onde a Alstom tem uma sucursal.
Pois bem, de lá é que vieram as informações mostrando a participação do PSDB nesses contratos em valores violentíssimos. E não se fala sobre isso.

Blog da Cidadania – Quando Robson Marinho foi indicado por Mario Covas para o TCE, já havia suspeitas sobre a conduta dele?

Antonio Mentor – Já, ele já vinha tratando dos negócios do PSDB junto com o senhor Andrea Matarazzo, que é intocável, também. Ninguém pode tocar nessa pessoa. O [Luiz Carlos] Bresser Pereira [ex-ministro da Fazenda do governo José Sarney] mostrou – ou deixou vazar – a planilha da campanha da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Esses valores todos estão lá!
O Andrea Matarazzo era o secretário de Energia nessa época, do contrato da Alstom ao qual estou me referindo.
São duas coisas diferentes, o cartel envolvendo Siemens, Alstom, Bombardier, CAF, são 19 empresas. Isso é uma coisa. Isso que estou me referindo, sobre a licitação do governo Montoro ressuscitada para beneficiar a Alstom, é outra coisa. Não tem nada a ver com cartel de trens, é no setor elétrico. É um contrato do governo Covas com a EPTE e com a Eletropaulo, antes da privatização e depois da privatização.

Blog da Cidadania – Então, que tipo de irregularidade o senhor afirma que haveria, nesse caso?

Antonio Mentor – Corrupção, financiamento de campanha… O patrimônio do senhor Robson Marinho está aí, todo mundo está vendo.
O [ex-ministro da Fazenda, Antonio] Palocci comprou um apartamento numa região nobre de São Paulo, avaliado em 2 ou 3 milhões de reais e foi execrado, foi exonerado do governo porque ele não tinha declarado a compra desse imóvel. Robson Marinho comprou uma ilha.  A casa dele, em São Paulo, foi vendida por 7 milhões de reais…
O que é isso?

Blog da Cidadania – A gente vê uma degradação da qualidade de vida em São Paulo, o que tem gerado todos esses protestos. Há um sofrimento muito grande da população. Sobretudo quando usa esses trens, o que tem relação direta com esses escândalos de cartel. E o povo está sofrendo e não sabe a quem debitar seu sofrimento.
Em dezembro do ano passado, entrevistei o prefeito Fernando Haddad e ele me relatou que é constantemente cobrado pelos problemas do metrô, cuja administração é do governo do Estado, do governo Alckmin e dos governos tucanos que o antecederam. Isso não denota uma certa dificuldade do PT de se comunicar com a sociedade? Existe algum plano para mudar a comunicação do PT?

Antonio Mentor – Nós estamos mudando, não é? Por exemplo, a relação do PT e do governo com blogueiros é uma relação de outra ordem, hoje. Estamos dialogando com vocês com uma frequência que não existia.
Até 2010, nós tínhamos um grande comunicador na praça. Ele [o ex-presidente Lula] falava, como fala hoje, e traduz o pensamento do PT, do governo, com uma facilidade, com um grau de compreensão pelo povo que é uma coisa inédita. Nunca vi isso na vida e acho que não vamos ver de novo. Ele é como o Chacrinha…

Blog da Cidadania – Ou como o Airton Senna… Mas, diante disso, como o senhor vê a comunicação do governo Dilma Roussef?

Antonio Mentor – Um desastre. Um gravíssimo erro. Com o [ex-ministro da Secom, Luiz] Gushiken, com quem eu tinha uma relação de muita proximidade, discuti muito essa questão. Muito. Até que ele concluiu que a lógica de comunicação do governo [Dilma] não poderia estar concentrada na rede Globo, nos grandes veículos.
Ele [Gushiken] distribuiu as verbas de comunicação. Bastante. Depois, no governo Dilma, quando entrou a [ex-ministra da Secom] Helena [Chagas] foi um desastre, um desastre, um desastre! Ela desmontou toda a rede que tinha sido estruturada na Comunicação do governo Lula. Em duas canetadas, ela voltou a centralizar tudo nos grandes veículos, os autores de todas as agressões, de todas a infâmias cometidas contra o governo da presidente Dilma.
Não que a gente queira comprar algum veículo, mas teria que haver, no mínimo, um certo equilíbrio.

Blog da Cidadania – A impressão que a gente tem – não sei se o senhor concorda com isso – é a de que venderam o Viaduto do Chá à presidente Dilma, fazendo-a acreditar que poderia manter uma relação melhor do que a de Lula com a mídia. O senhor acredita nisso?

Antonio Mentor – A mídia fez uma aposta. Qual foi a aposta que fizeram? De que a criatura iria se voltar contra o criador. Eles a inflaram. Níveis de aprovação altíssimos, ditos maiores do que os de Lula. Enfim, para quê? Para criar uma imagem de alguém que fosse mais importante e mais forte do que o Lula.
Ela não entrou nessa canoa, nessa arapuca. O que aconteceu na sequência? Começaram a bombardeá-la.
Ora, o que ela mudou? O que aconteceu para que, de repente, ela começasse a ser bombardeada? O governo que ela faz hoje é o mesmo que fazia quando era incensada.

Blog da Cidadania – Mas o que o senhor acha que a mídia queria que a presidente Dilma fizesse e que, não fazendo, despertou a fúria midiática?

Antonio Mentor – Romper com o PT, romper com o Lula. Só que, apesar de não ser historicamente do PT, ela tem um vínculo histórico com a esquerda.

Blog da Cidadania – Voltando à CPI dos pedágios, o senhor acha que existe alguma luz no fim do túnel ou o senhor acha que “vai terminar em pizza”?

Antonio Mentor – Existe uma lenda na mídia de que CPI tem que mandar alguém para a cadeia. CPI não manda ninguém para a cadeia, ela faz uma investigação e produz um relatório. Quem vai dar sequência a isso é o Ministério Público e o Tribunal de Contas. Não somos nós, deputados, que vamos condenar alguém.
Muitas vezes, uma CPI termina dessa maneira e a imprensa julga que terminou em pizza. Mesmo que o relatório oficial que será votado pela CPI seja “chapa-branca”, nós [da oposição] vamos produzir um outro relatório e vamos pedir providência ao Ministério Público. Como existem recursos federais, nós vamos ao Ministério Público Federal, também.

Blog da Cidadania – Qual será, então, a diferença entre o relatório “chapa-branca” e o relatório paralelo? O que dirão um e outro?

Antonio Mentor – Todas as nossas investigações, até o momento, mostram que houve irregularidade no aditivo que provocou a prorrogação dos contratos das concessionárias e que provocou prejuízo da ordem de 2 bilhões de reais.

Blog da Cidadania – Quando foi que o governo Alckmin reconheceu essas irregularidades e prometeu entrar na Justiça para ressarcir o Estado?

Antonio Mentor – Uma semana antes de ser instalada a CPI.
Mas tem uma história interessante, aí, que vale a pena contar. No dia 16 de março de 2011, eu tinha um requerimento de CPI com as 32 assinaturas. No dia 15, no dia da posse dos deputados, o setor onde seria feito o protocolo de pedidos CPI não abriu. Abriria só no dia seguinte, às 10 horas da manhã.
Nós pedimos a dois companheiros para passarem a noite ao lado do relógio de ponto, onde, em tese, teria que ser protocolado o pedido de CPI, para que o requerimento da CPI dos pedágios fosse o primeiro a ser protocolado. Bom, nessa noite, o governo sabendo que nós tínhamos o requerimento e que seríamos os primeiros da fila, fez mais 10 outros requerimentos de CPI.
O presidente da Casa, alinhado com o governo, determinou que a fila do protocolo não seria mais do lado do relógio, mas na porta da entrada do Plenário. Daí, aquele que estava no local onde sempre se protocolou CPIs foi para o fim da fila, agora já com dez pedidos de CPI na frente, e passou a ser o 11º.
 
Blog da Cidadania – O governo Alckmin aplicou em vocês um passa-moleque.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Geraldo “dor e sofrimento” Alckmin e a “procissão do crack”

A recente ação do Denarc na “cracolândia” paulistana resume à perfeição o que está em jogo em São Paulo neste ano eleitoral de 2014, quando os paulistas terão chance de se livrar da burrice, da truculência e do preconceito dessa direita que, em 2012, já aplicara a psicótica “estratégia” no deprimente quadrilátero incrustado no centro velho da capital paulista.
Ano retrasado, também em janeiro, o então prefeito, Gilberto Kassab, e o governador Geraldo Alckmin tiveram a “brilhante” ideia de esvaziar a “cracolândia” através de um “Plano de Ação Integrada Centro Legal”. Esse “plano” previa a “estratégia” de as polícias usarem “dor e sofrimento” contra os usuários de crack. A PM, então, passou a aplicar a “operação sufoco”.
Há exatos dois anos, o jornal O Estado de São Paulo anunciou a “nova estratégia” do governo do Estado e da prefeitura. Veja, abaixo, trecho da matéria Governo quer acabar com cracolândia pela estratégia de ‘dor e sofrimento’.
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“(…) A estratégia está dividida em três etapas. A primeira consiste na ocupação policial, cujo objetivo é “quebrar a estrutura logística” de traficantes que atuam na área. Além de barrar a chegada da droga, policiais foram orientados a não tolerar mais consumo público de crack. Usuários serão abordados e, se quiserem, [serão] encaminhados à rede municipal de saúde e assistência social. Em uma segunda etapa, a ação ostensiva da PM, na visão de Prefeitura e Estado, vai incentivar consumidores da droga a procurar ajuda. Na terceira fase, a meta será manter os bons resultados (…)”
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Não tardou uma semana para a “estratégia” do então prefeito Kassab e do governador Alckmin se mostrar um fiasco. Surgiu, em São Paulo, uma bizarra “procissão do crack”. Confira, abaixo, matéria do mesmo jornal O Estado de São Paulo intitulada PM escolta ‘procissão do crack’ no 1º fim de semana de ocupação do centro.
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“(…) A estratégia de impor “dor e sofrimento” aos dependentes criou uma situação inusitada no primeiro sábado após a ocupação da cracolândia, no centro de São Paulo. Com o tráfico a todo vapor e sem conseguir cortar a rota de fornecimento da droga, restou à PM escoltar pelas ruas centrais da cidade grupos gigantescos, de até cem pessoas, em uma estranha “procissão do crack”, iluminada pelos Giroflex das viaturas noite adentro.
A perseguição aos usuários criou uma “cracolândia itinerante” no quadrilátero entre as Avenidas Duque de Caxias, São João e Ipiranga e Estação da Luz. Em alguns momentos de “folga” na caminhada forçada imposta pela polícia, os grupos paravam para acender os cachimbos e descansar. Depois de alguns minutos, voltavam a andar. Sem destino.
Em uma dessas pausas, uma moradora da Avenida Duque de Caxias, perto da Praça Júlio Prestes, atravessou a rua em meio a dezenas de dependentes e cobrou dos policiais que estavam na outra calçada que fizessem alguma coisa para tirar o “rebanho” da frente de seu prédio. “Nem vocês (PMs) estão dando conta. Antes, eles ficavam escondidos. Agora, ninguém tem sossego. Tem de achar algum lugar para levá-los”, bradava a mulher, irritada. (…)”
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A “estratégia de dor e sofrimento” e a “procissão do crack” foram obras perpetradas a quatro mãos por Alckmin e Kassab e estão entre as causas da surra eleitoral que o criador do ex-prefeito, José Serra, levou de Fernando Haddad naquele mesmo ano.
O rotundo fracasso da “estratégia” dessa direita psicótica – da qual Alckmin é mera flatulência – de impor “dor e sofrimento” a pessoas mentalmente doentes achando que ao serem torturadas acabariam fazendo o que fosse melhor para si – buscar tratamento – é produto da profunda ignorância de uma ideologia tão nefasta quanto o próprio crack.
O programa Braços Abertos, lançado recentemente pelo prefeito Fernando Haddad, buscou uma estratégia diferente, mais inteligente e que já começava a produzir resultados. Usuários de crack vestiram uniformes de garis (recebendo R$ 15 por dia pelo trabalho), foram instalados em hotéis baratos e já começavam a se deixar seduzir pelo tratamento.
O que Alckmin e Kassab não conseguiram pela força e pela burrice, Haddad estava conseguindo com humanidade e inteligência.
Politicamente, pois, o programa Braços Abertos se tornou uma ameaça à reeleição de um incompetente, truculento e estúpido como Alckmin, de forma que ele precisava sabotar o êxito desse programa, que já se desenhava. Mandou sua tropa de energúmenos impor “dor e sofrimento” (de novo) a pessoas com problemas mentais. E São Paulo que se dane.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A maquiagem da Cracolândia

Dois fatores fizeram os governos Alckmin e Kassab desencadearem uma operação policial na Cracolândia paulistana que não passa de vigarice político-eleitoral: as eleições municipais e – segundo informações da Folha de São Paulo – o medo de que programa do governo federal previsto para começar em breve rotule prefeito e governador como “inoperantes”.
Segundo a surpreendente reportagem do diário chapa-branca paulista que há anos acoberta o descalabro administrativo na capital e no Estado de São Paulo, “O alvo de preocupação da prefeitura e do governo estadual é o lançamento do programa federal Consultório de Rua”, que terá “Transporte de equipes de saúde em vans, com a marca do governo Dilma”.
É assustador o nível de delinqüência intelectual do governador e do prefeito. É inacreditável como essa operação fajuta não gerou nenhuma reação à altura, seja da Justiça, seja do Ministério Público, seja da imprensa. Mesmo a reportagem da Folha que denuncia as razões de essa operação ter sido desencadeada de afogadilho é discreta e suave, quando deveria ser dura e largamente difundida.
O que Alckmin e Kassab estão fazendo é apenas maquiar o problema. Mandaram a truculenta Polícia Militar expulsar os zumbis da Cracolândia sem se importarem com o destino deles, o que já faz com que se dirijam aos bairros no entorno dos Campos Elíseos.
A irresponsabilidade do prefeito e do governador de São Paulo é assustadora porque grande parte desses viciados está em crise de abstinência de crack, o que, como se sabe, torna o indivíduo violento e desesperado, podendo levá-lo a cometer qualquer ato criminoso para conseguir dinheiro para comprar a droga.
A maioria dos infelizes paulistanos – uma massaroca social incapaz de votar com o cérebro por estar acostumada a usar os pés  – está achando o máximo essa farsa que esses dois políticos caras-de-pau montaram. E continuará iludida, porque até que as urnas sejam fechadas, neste ano, a polícia tratará de impedir que se formem cracolândias pela cidade.
Devido à diáspora dos viciados e traficantes da Cracolândia original, a capital paulista, a esta altura, está infestada por centenas e centenas de pessoas desesperadas pela crise de abstinência, prontas a cometer qualquer atrocidade para conseguir meio$ de comprar a droga mortal.
Como bem estão dizendo os viciados que estão sendo expulsos, eles não têm para onde ir. E as autoridades estaduais e municipais reconhecem isso ao atribuírem “fases” ao processo que desencadearam, sendo que a primeira delas teria o objetivo de “sufocar” consumidores e desarticular o tráfico e só a segunda fase é que teria atendimento de saúde e social aos viciados.
Farsa, vigarice. É fácil expulsar os viciados. Difícil seria recolhê-los a centros de saúde e reabilitação que nem sequer existem. O importante, agora – para esses políticos sem-vergonhas –, é tirar a Cracolândia das vistas do eleitor e tratar de impedir que os viciados se reagrupem – pelo menos até as eleições. Depois volta tudo ao que era.
E se alguém pensa que o eleitor paulistano tem discernimento para perceber que só agora o governo do Estado – responsável primeiro pela Segurança Pública – e a prefeitura – segunda maior responsável – agiram, e ainda de forma inadequada, engana-se. Com ajuda da imprensa chapa-branca local, enganar esta cidade é o que há de mais fácil.

domingo, 20 de novembro de 2011

Quando isenção é tomar partido


Se jornalistas insultarem e caluniarem políticos sem prova alguma for sinônimo de liberdade de imprensa, o Brasil deve ser a pátria do jornalismo livre. Isso porque na imprensa brasileira o que mais se vê são colunistas furiosos com políticos acusados de corrupção aos quais chegam a tratar como condenados em última instância.
Aliás, vale lembrar que nem sendo inocentados pela Justiça os políticos dos quais a mídia não gosta passam a ser tratados como inocentes, sendo considerados culpados mesmo após a absolvição. José Dirceu, por exemplo, já foi inocentado de algumas acusações e a imprensa publicou as decisões da Justiça em pés de página, sem o destaque dado à acusação.
Todavia, caso recente ilustra bem como essa indignação do colunismo pátrio não passa de politicagem rasteira, verdadeira “pistolagem” contratada por certos políticos para atacarem seus adversários. O caso em tela é o do escândalo de centenas de milhões de reais envolvendo a construção da linha 5 do metrô de São Paulo.
O valor da roubalheira: R$ 300 milhões.
Porém, o assunto não causa a esses colunistas uma fração sequer da indignação que o ministro do Trabalho – só para ficarmos no alvo mais recente – vem lhes causando sob a acusação de ter voado em um jatinho supostamente providenciado pelo presidente de uma ONG acusada de corrupção.
Apesar de a decisão da Justiça de determinar a demissão do presidente do metrô paulistano ter derivado de uma iniciativa do jornal Folha de São Paulo, o assunto está sendo tratado por aquele jornal e pelo resto da mídia de uma forma inexplicavelmente discreta, respeitando o fato de que, até agora, não se pode condenar ninguém definitivamente.
Contudo, esses mesmos colunistas usam contra ministros de Dilma, por exemplo, linguagem que constrangeria qualquer torcida organizada de futebol e os tratam como condenados. Meras evidências são tratadas como provas. A simples abertura do processo judicial é tratada como condenação.
Quando um escândalo envolve tucanos e aliados, porém, esses mesmos colunistas não fazem nem mesmo análises. Fogem do assunto, ainda que alguns poucos, como Reinaldo Azevedo, da Veja, saiam em defesa dos seus protegidos.
Se o escândalo é tucano não há manchetes garrafais nas primeiras páginas, o Jornal Nacional se omite e colunistas se furtam até a analisar declarações saborosas como a de Geraldo Alckmin, que atribuiu ao antecessor José Serra a responsabilidade pelo caso do metrô ao dizer que está “à vontade” porque não era o governador quando o contrato da linha 5 foi assinado com as empreiteiras.
Esse escândalo deve submergir na mídia logo mais, assim como o das emendas parlamentares na Assembléia Legislativa de São Paulo, emendas que investigações insinuam que vêm sendo usadas pelo governo do Estado para subornar parlamentares, o que enquadra o caso no conceito midiático de “mensalão”.
Colunistas raivosos como Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Cantanhêde, Ricardo Noblat, Dora Kramer e tantos outros se tornam verdadeiros gatinhos diante da corrupção em governos tucanos como o de São Paulo, de Minas Gerais ou em qualquer outro governo estadual ou municipal administrado por partidos de oposição ao governo federal.
E o que mais espanta é que escândalos como o do metrô ou o das emendas não apenas envolvem cifras infinitamente mais altas do que as envolvidas nas acusações fracas contra um ministro como Carlos Lupi, mas também encerram indícios muito mais consistentes de envolvimento do Poder Executivo.
Ainda assim, esses colunistas mal tocam no assunto.
É lícito concluir, portanto, que veículos como Globo, Folha, Estadão ou Veja, só para ficarmos nos mais descarados, não combatem a corrupção, mas a alimentam, pois criam uma casta de corruptos com licença para roubar enquanto fustigam seus adversários políticos.
Este blog vem dando combate a essa anomalia já vai para quase sete anos. As hordas de internautas contratadas pela grande mídia e pelo PSDB para fustigar seus críticos na internet acusam o autor desta página de estar a serviço do PT, mas jamais conseguiram um só elemento que o ligue a políticos. E não foi por falta de procurarem.
Jamais encontrarão ligação alguma. Até forjá-la é difícil porque este blogueiro não se encontra com políticos, não telefona para políticos, não envia e-mails a políticos, não bajula políticos nas redes sociais… Enfim, este blogueiro sempre manteve distância da classe política e, sobretudo, do Estado e do dinheiro público.
Não que seja ilegal, imoral ou questionável ter proximidade com a classe política. Apenas não há interesse deste blog e de seu autor nesse tipo de relação. Por isso, podem continuar procurando porque jamais encontrarão algo que lhes permita fazer as suas famosas suposições acusatórias.
A grande verdade é que gostaria muito de poder fazer um trabalho mais isento, aqui. Gostaria de poder criticar os dois lados, pois tanto petistas quanto tucanos têm o que ser criticado. Todavia, se toda a grande imprensa fustiga um lado e acoberta o outro isso é anormal, é antirrepublicano e até criminoso.
Enquanto tivermos uma imprensa que se alia a alguns corruptos e com eles combate corruptos adversários, unir-se a ela em seu discurso maniqueísta, desonesto, mistificador, parcial e mentiroso equivale a ser tão corrupto quanto aqueles que ela denúncia de forma seletiva e que, às vezes, são acusados injustamente.
Os escândalos do metrô ou das emendas parlamentares em São Paulo ainda provam que há corrupção em qualquer administração pública e que a cobertura jornalística tem sido até correta, em alguma medida, pois não faz condenações prévias ou escandalizações, ainda que alguns digam que o Judiciário paulista é tucano e, portanto, precisa ser pressionado pela imprensa.
Em países como a França, por exemplo, a imprensa não poderia noticiar um escândalo como esse do metrô antes de uma decisão judicial. Todavia, não podemos nos esquecer de que a justiça francesa não é como a nossa, que a legislação francesa não propicia impunidade, o que torna a ação da imprensa daqui vital para pressionar o Judiciário a não se omitir ou até acobertar.
O que se quer, então? Que a imprensa não trabalhe para substituir um corrupto por outro no poder, para então acobertar os corruptos amigos.
O país que você quer, leitor honesto e apartidário que só busca a verdade, é um país em que todos sejam tratados pela lei e até pela imprensa como se fossem a mesma pessoa, seja para acusar na hora certa ou para não acusar antes da hora.
Enquanto um partido for tratado com dureza desproporcional e o outro com leniência irresponsável, todos estarão ameaçados, mesmo aqueles que estiverem do lado beneficiado, pois nunca saberão se em algum momento aquele benefício que recebem poderá mudar de lado, deixando-os na posição em que estão seus adversários hoje.
Um país civilizado é um país justo. País justo é aquele que não trata cidadãos, partidos, empresas, instituições, seja lá o que for com base em idiossincrasias políticas ou ideológicas ou interesses econômicos.
Contudo, vejo muita gente agir como se pertencesse ao estrato social e político que a imprensa e a Justiça beneficiam ao endossarem e apoiarem injustiças como as que este texto relata. É espantoso, porque essas pessoas só perceberão que estão de fora da festa no dia em que a parcialidade das instituições as atingir.
Não é porque você ganha vinte mil reais por mês, tem carros novos na garagem, um apartamento em um bairro “nobre” e uma casa na praia que faz parte dessa casta que está acima da lei e das próprias instituições. Você que apóia o que a imprensa faz, muitas vezes a troco de um pagamento irrisório para quem paga, saiba que um dia poderá estar do outro lado.
Viu a reação de Alckmin à decisão da Justiça que desfavoreceu seu governo, leitor? Fez pouco e já fala como se reverter a decisão que o manda demitir o presidente do metrô estivesse no papo. Cadê os colunistas que se indignaram com o ministro do Esporte apenas por ter sido indiciado ou com os indiciados no inquérito do “mensalão”, como se todos tivessem culpa provada?
Sumiram.
É injustiça da imprensa, é injustiça da Justiça, é injustiça dessa parte considerável da opinião publica (ou publicada) quando todos tratam casos semelhantes com tanta diferença. E essa diferença ainda pode pegá-lo, leitor injusto, pois, como dizia o Barão de Montesquieu, “Injustiça que se faz a um é ameaça que se faz a todos”.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A ‘Síndrome de Estocolmo’ paulista

Por Eduardo Guimarães.
Posted by eduguim on 8/04/10 • Categorized as Opinião do blog
publicado, originalmente, em 3 de agosto de 2010 às 17h12m

O título me foi sugerido por seguidores no Twitter. Alude à impressionante disposição do povo de São Paulo de manter no poder o mesmo grupo político que o massacra e que ali se encastelou em 1994, de onde não saiu mais.

De 1994 para cá, o Estado mais rico e desenvolvido da Federação sofreu um regresso dramático em quase tudo o que é mais importante. Pode-se dizer que temos hoje, os paulistas, a mesma Saúde, a mesma Educação e a mesma Segurança Pública de quando o PSDB chegou ao poder por aqui, só que em um Estado muito mais populoso, o que torna o não-progresso nessas áreas uma legítima tragédia social.

Manipulações das estatísticas engendradas pelos grandes grupos de mídia paulistas (Grupo Folha, Grupo Estado, Editora Abril e o braço da Globo em São Paulo) vêm conseguindo esconder de uma população politicamente perdida dados tétricos como os da Segurança Pública – que, neste momento em que o PCC volta a mostrar seu poder no Estado, explicariam o que está acontecendo novamente por aqui.

Semana passada, por exemplo, a Folha de São Paulo deu manchete de primeira página para uma suposta “redução” da criminalidade que vem sendo alardeada há anos. Duvido de que algum paulista concorde que a criminalidade caiu. Qualquer pessoa, por aqui, dirá que não pára de subir.

O que acontece na Segurança, por exemplo, é que, de 1994 para cá, houve um salto enorme na criminalidade e na violência. Subiu rápido e a patamares altíssimos nos últimos anos do século passado, no âmbito da eterna crise da octaeteride tucana, que, depois de resultados sociais positivos nos primeiros anos do Plano Real, gerou desemprego, inflação, quebradeiras incessantes até 2002, empurrando parte de uma geração inteira de jovens pobres para a criminalidade.

Na Saúde, persiste a prática vigente desde a ditadura de se inaugurar algumas unidades cinematográficas para a propaganda do governo do Estado na TV, enquanto que o grosso da rede pública de saúde permanece sem pessoal, sem equipamentos, com pacientes internados amargando a dor nos corredores dos hospitais transbordantes de gente sofrendo.

A Educação talvez seja o que está pior em São Paulo. Em todos os certames nacionais e internacionais, este Estado fica nas últimas colocações. Os professores são tratados como inimigos pelo governo do Estado. Nas recentes manifestações por melhores condições trabalho, o então governador José Serra colocou sua polícia para espancá-los em praça pública.

Já contei aqui uma história sobre a greve dos professores, mas vale repeti-la. Minha filha casada hospedava em sua residência uma jovem professora universitária francesa que veio ao Brasil no âmbito de um acordo de intercâmbio entre o nosso país e a França. Esteve no Brasil durante a recente greve dos professores paulistas.

Minha filha, como eu mesmo, mora bem perto da avenida Paulista, de forma que a jovem acadêmica francesa acabou presenciando uma das manifestações dos professores naquela avenida neste ano.

Tivemos uma longa conversa sobre o assunto, eu e a moça. Ela não conseguia entender por que os pais dos alunos das escolas públicas não estavam ao lado dos professores e, sobretudo, como era possível que estivessem ao lado do Estado. Seu espanto aumentou depois de saber quanto o governo paulista paga aos que têm a duríssima missão de educar crianças e adolescentes em grande parte bastante pobres e, alguns, até miseráveis.

Fica difícil a qualquer observador isento entender, portanto, que o mesmo Geraldo Alckmin que fez parte dos governos que pioraram tanto São Paulo, que não fizeram metrô, que deixaram a situação da Segurança chegar a esse ponto etc., tenha chance de se eleger no primeiro turno para o governo de São Paulo.

O que acontece com os paulistas? Dizer que o povo do meu Estado é meramente direitista como Alckmin, Serra, Kassab e companhia limitada – coisa que eu mesmo já disse, mas que já não julgo mais que seja exatamente o ponto –, não explica nada.

O que acontece em São Paulo é que a população é mantida sem informação por todos os grandes jornais, rádios e tevês, sem falar na Veja. Aqui, a imprensa escrita tem grande influência. As bancas de jornal são uma instituição, um meio de comunicação à parte. Caminhando por qualquer parte do Estado – mas, sobretudo, pela capital – encontra-se uma a cada esquina.

As manchetes de jornais e revistas são um meio de comunicação à parte, em São Paulo. É por isso que Folha, Estadão e Veja, sobretudo, fazem tantas manchetes que distorcem o que dizem as reportagens às quais remetem – porque os paulistas, sobretudo os paulistanos, não compram essas publicações, mas gostam de ler suas manchetes expostas nas bancas e dali tiram suas conclusões sobre assuntos intrincados.

Além disso, por força de uma educação ruim até no setor privado, a maioria dos paulistas não sabe de quem cobrar Saúde, Educação ou Segurança, por exemplo. Muita gente aqui pensa que o responsável pela Segurança Pública é o governo federal, ou seja, atribuem a guerra paulista ao governo Lula.

Em 2006, quando o PCC pôs este Estado de joelhos tanto quanto começa a colocar agora, os jornais e as tevês locais colocaram na cabeça dos paulistas que a culpa pelas penitenciárias mal-administradas, nas quais os celulares entram como se fossem shoppings centers, era o presidente da República e não o governador do Estado.

Hoje mesmo (3 de agosto), o Estadão publica um editorial eximindo o governo do Estado da responsabilidade pela nova ofensiva do PCC e coloca a culpa no presidente Lula. E o povo acredita. Aliás, se você perguntar a uns dez paulistas de todas as classes sociais para que serve o governo do Estado, digo que a maior parte não saberá responder.

O metrô paulistano, por exemplo, que tem cerca de 60 quilômetros de linhas para uma cidade de cerca de 11 milhões de habitantes, só é do governo do Estado, na mídia paulista, quando o governador tucano de plantão inaugura alguma nova estação. Fora isso, a imprensa empurra a responsabilidade pelo colapso metroviário para o governo Lula.

Como já disse, leitores me sugeriram o título deste post lá no Twitter. Alude ao fenômeno de seqüestrados criarem empatia com seus seqüestradores. Esse fenômeno ficou conhecido como “Síndrome de Estocolmo”. E me pediram que comentasse sobre a candidatura de Aloizio Mercadante.

Além do transe paulista, temos, os paulistas, uma oposição ao PSDB local com um histórico pouco positivo. O episódio dos aloprados, em 2006, criou sérios problemas para a imagem do candidato do PT ao governo do Estado. O PT paulista é meio “domesticado” pelo PSDB e pelo PFL. Enfim, apesar de Mercadante ser a minha única opção de voto para governador neste ano, ainda estou por ver alguma prova de que sua candidatura pretende vencer.

Para começar, teria que fazer uma campanha didática para explicar quais são as responsabilidades do governador. Muita gente se surpreenderá ao descobrir que está apoiando uma facção política que é responsável pela guerra civil paulista. E também terá que manter alguns petistas aloprados longe de encrencas.

Não é modesta a missão de Mercadante. Modesto é o tempo que tem para levá-la a cabo. Em minha opinião, porém, se o PT paulista usar o cérebro e fugir de idéias “brilhantes”, pode eleger seu candidato a governador. Basta falar a verdade no horário eleitoral.