Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 3 de julho de 2015

E se o doido que agrediu Dilma atirasse balas em vez de insultos?

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agressor

Os últimos atos dessa ópera bufa, desse filme de horror que é a ascensão do fascismo que desmorona sobre a nação dia após dia, com virulência crescente e cada vez mais “criativa”, têm ao menos um mérito: revelar que, do jeito que está, não pode continuar.
Se você, leitor, achou que o suprassumo de bestialidade foram os adesivos pornográficos agredindo, de forma psicótica e degenerada, não a primeira mandatária da nação, mas todas as mães, esposas, irmãs e filhas deste país, os fatos trataram de mostrar que o fundo do poço não foi atingido.
No hotel em que Dilma Rousseff se hospedou nos Estados Unidos, durante encontro com o presidente Barack Obama, um dos seguidores psicóticos de Jair Bolsonaro e de outros como ele conseguiu se Infiltrar, facilmente, na comitiva da presidente.
O tal Igor Gilly Teles interceptou Dilma e sua comitiva e passou a insultar a presidente e seu grupo, enquanto se dirigiam a algum compromisso em solo norte-americano: “ladra, assassina, terrorista e comunista de merda”.
Discordo de quem pregou agressão da comitiva ao moleque endinheirado que, obviamente, quis aparecer. Bastaria tê-lo retirado do local, entregando-o às autoridades norte-americanas, já que estava ameaçando uma chefe de Estado.
A questão, porém, não é essa. Para os que fazem adesivos pornográficos e insultam de forma descabida a mulher que preside a República, existe a Justiça. Basta processar. E processar é preciso, porque esse tipo de comportamento, contra qualquer pessoa, afronta a lei.
O que é inaceitável, no que aconteceu, é constatar que a presidente da República Federativa do Brasil não tem esquema de segurança.
Aliás, a falha da segurança de Dilma é pior por ter ocorrido nos Estados Unidos do que teria sido no Brasil, pois estando em solo estrangeiro, sobretudo em um país famoso por sofrer atentados terroristas, sua segurança deveria ser ainda mais reforçada, pois a imprevisibilidade do que pode ocorrer é maior.
Como cidadão, declaro-me assustado com a inépcia da segurança da governante do meu país. Dilma Rousseff estava nos Estados Unidos representando 200 milhões de Brasileiros. Portanto, repito: como Cidadão, sinto-me inseguro ao ver que a responsável pelos destinos de meu país passou por tal situação de ameaça.
A tranquilidade com que o agressor agiu revela, para espanto de todos, que ele poderia estar portando uma arma e teria tido todas as condições de tirar a vida da presidente da República. O relato de como o meliante agiu, feito por ele mesmo, com orgulho, em entrevista à imprensa, mostra a irresponsabilidade da segurança da presidente:
Fui de andar em andar no hotel procurando ela. Como eu fiz: eu ia no primeiro andar e colocava o ouvido de porta em porta para ver se eu ouvia a voz dela. E nisso eu acabava ouvindo vozes do pessoal da comitiva dela, falando em português, eu procurando a voz dela. Fui de porta em porta, andar por andar. Imagina, o hotel mais luxuoso de São Francisco é imenso, parece um castelo, e eu fui de porta em porta, todos os quartos, demorei uma hora e meia pelo menos tentando ouvir a voz da Dilma
Quanto tempo irá demorar para que outro psicopata decida que já que “todos” odeiam Dilma cumpre-lhe aproximar-se dela e meter-lhe um tiro na cabeça?
A escalada de ódio não para. A cada dia, surge uma agressão pior do que a outra. Nesse processo, quando o abuso mais impensável for cometido, só restará o abuso final, o recurso à violência física, já que nenhum abuso moral parece ser suficiente para esses psicopatas.
Se o Brasil fosse um país civilizado deveria ser aberta uma investigação sobre a falha de segurança que expôs, de forma inaceitável, aquela que o Brasil, democraticamente, elegeu para governá-lo. E os responsáveis deveriam ser exemplarmente punidos.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Obama dá “fora” na Globo: Brasil não é potência regional, é mundial

 Autor: Fernando Brito
coletiva
O complexo de vira-latas do Brasil, hoje, latiu mais alto.
Perguntada pela repórter da Globo, diante de Barack Obama, sobre como conciliar a posição do Brasil, que se via como potência mundial, e que era visto pelos EUA como potência regional, Dilma Rousseff nem pôde começar a falar.
Um decidido Obma tomou a palavra para dizer à repórter que “não senhora, nós vemos o Brasil como potência mundial”.
“Bom, eu na verdade vou responder em parte a questão que você acabou de fazer para a presidente [Dilma]. Nós vemos o Brasil não como uma potência regional, mas como uma potência global. Se você pensar (…) no G-20, o Brasil é um voz importante ali. As negociações que vão acontecer em Paris, sobre as mudanças climáticas, só podem ter sucesso com o Brasil como líder-chave. Os anúncios feitos hoje sobre energia renovável são indicativos da liderança do Brasil”
E fez um longo histórico do papel decisivo que o Brasil desempenha: “o Brasil é um parceiro indispensável” e uma série de considerações sobre o papel de nosso país, que você pode ver no vídeo abaixo, em espanhol.
O importante – e triste – é ver que a mentalidade dominante nos meios de comunicação – e em todo o pensamento conservador – é que ao nosso país está destinado um papel de vassalagem, em troca de ser um “gerente regional” destinado, no máximo, a manter sob controle os “índios” sul-americanos.
E interpretar como algo danoso a expansão de nossas relações com a África, com a Ásia e, especificamente, com a China como uma “traquinagem” que desagradaria os EUA e faria perdermos seus “favores”.
É exatamente o contrário – e a mente destas pessoas não alcança isso.
O Brasil será tanto mais respeitado, considerado e terá relações mais produtivas com os Estados Unidos quanto mais se afirmar como um parceiro mundial pelas nossas próprias pernas.
Um Brasil que interessa como parceiro à China, aos países africanos, à própria Europa interessa muito mais aos Estados Unidos que um capacho à espera de suas ordens.
Aliás, o capachismo aparece bem claramente quando o repórter da Folha vai perguntar a opinião de Obama sobre a “Lava Jato”. É muito sabujismo, quem sabe atrás de uma manchete do tipo “Obama exige apuração completa na Petrobras”.
A imprensa brasileira,cada vez um retrato mais caricato de nossas elites é um prato cheio para o complexo rodrigueano com que abri este post.
E que, além daquilo, também sacode alegremente a cauda diante do dono.

terça-feira, 16 de abril de 2013

SETE MORTOS E DEZENAS DE FERIDOS NA VENEZUELA


*Brasil, China e Rússia reconhecem vitória chavista e felicitam Maduro

**firmeza do trio enfraquece pressão contrária dos EUA e OEA

** Maduro é proclamado presidente eleito e recebe telefonema
 de Dilma: 'o Brasil está pronto para trabalhar com o novo governo', disse a Presidenta

* Itamaraty pede respeito às urnas**


EUA EM ALERTA: bombas em Boston matam, ferem e mutilam. 

Capriles convoca manifestações de rua contra resultado eleitoral. Maduro reune um comitê antigolpe para avaliar os acontecimentos recentes. "Quem venha pela via violenta encontrará o Estado", alertou após a reunião. Maduro pediu aos chavistas para não entrarem em provocações e culpou o Capriles pela tensão. "Essa é a Venezuela que vocês querem? ¿Essa é a Venezuela que você vai promover, candidato perdedor? (por Vinicius Mansur , direto de Caracas;nesta pag. Mais informações nas análises de Gilberto Maringoni, de Caracas; Eric Nepomuceno e o Blog das Frases: 'A valiosa teimosia dos venezuelanos' aqui.)


Em abril de 2002, eu estava em Valencia, no Estado Carabobo, na Venezuela. De lá, acompanhei, passo a passo, os preparativos para a tentativa de golpe que teve como saldo dezenas de mortos e centenas de feridos.
2013. O candidato oposicionista Henrique Capriles está convocando manifestações de seus partidários contra o resultado eleitoral que lhe foi adverso. Os partidários do presidente Nicolás Maduro também se preparam para ir às ruas.
Em 2002, duas manifestações antagônicas (chavistas e antichavistas) se encontraram na Ponte Llaguno, em Caracas. O saldo do encontro das duas marchas: 18 mortos e centenas de feridos.
Enquanto os manifestantes de lado a lado caminhavam para a Ponte Llaguno, as televisões RCTV, Globovisión, Venevisión e outros veículos oposicionistas instigavam os antichavistas a continuarem marchando até o Palácio presidencial de Miraflores.
Pouco antes do golpe, eu estava na Venezuela havia duas semanas, a trabalho. Um cliente antichavista filiado ao partido Acción Democrática me convidara a ir com ele a uma reunião de seu partido com o partido Copei e com sindicatos.
Durante a reunião, foi abordado do golpe até o assassinato de Hugo Chávez.
Parti da Venezuela antes das 47 horas da tentativa de golpe e da retomada do poder pelos chavistas, mas vi clima de confrontação entre governistas e oposicionsitas que precedeu a tentativa de golpe e que em tudo se assemelha ao que se está vendo hoje.
Por conta disso que no post de segunda-feira já previ o agravamento da situação política, pois estou vendo tudo ocorrer de novo como se fosse um filme.
Chefes das forças armadas venezuelanas leais a Chávez, tal como hoje, também garantiram apoio ao governo, mas as articulações oposicionistas cooptaram parte daquelas forças militares e o golpe ocorreu – Chávez foi sequestrado por militares.
Ontem (segunda-feira), o governo dos Estados Unidos recusou-se a reconhecer a vitória de Maduro, em perfeita consonância com a retórica incendiária de Capriles, tal como em 2002, quando a potência hegemônica também ajudou a inflar a guerra retórica de parte a parte que se está vendo.
Quem conhece a Venezuela como este que escreve, está experimentando um legítimo déjà vu. A escalada retórica de parte a parte (governo e oposição), as declarações do Departamento de Estado norte-americano… Tudo igual.
A Unasul foi criada justamente pensando em situações como a que se está assistindo. Só que está demorando demais a se manifestar. Confiar cem por cento no espírito legalista das forças armadas venezuelanas será um erro igual ao de 2002.
Capriles, na noite de domingo, reuniu-se com militares. As manifestações de rua oposicionistas estão sendo armadas de novo. Os EUA estão tomando partido abertamente de novo. A Espanha, idem. É preciso dizer mais?
Os países aliados da Venezuela parecem ter se esquecido da velocidade do golpismo naquele país. Após o golpe, não adiantará nada se reunirem e darem declarações. Nesse ritmo, acontecerá exatamente o mesmo que em Honduras, quando a Unasul não serviu para nada.
O tempo urge. O golpe está em processo. Maduro até já disse isso.
Informações oficiais transmitidas pela rede estatal de televisão venezuelana Telesur aludem a choques violentos, tiroteios, incêndios de carros, casas e até a mortes. A imprensa brasileira não diz um A, está deliberadamente ocultando os fatos.
Na noite de domingo, eu disse no Twitter que temia o surto de violência que acabou ocorrendo. Os choques de oposicionistas com a polícia, os incêndios dos quais as imagens já se espalham, os tiroteios…
Nada disso é aceitável. Uma vitória por pequena margem não é motivo para a oposição venezuelana agir assim. Que vá batalhar nos tribunais, não nas ruas.
A Unasul deve agir de acordo à sua carta constitutiva. Os países filiados devem sustentar o regime venezuelano POR TODOS OS MEIOS PREVISTOS. O sangue que pode voltar a ser derramado será responsabilidade dos omissos.
Depois da Venezuela, quem será? Argentina? Bolívia? Equador? Brasil?
*
Assista, abaixo, à batalha de Puente Llaguno.

AQUARTELADO, MADURO CRIA "COMANDO ANTIGOLPE"


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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Propriedade cruzada total é como jaboticaba: só tem no Brasil


João Brant, do Intervozes, é um dos maiores especialistas em comunicação que tive o prazer de conhecer. Seu artigo abaixo reproduzido tem um caráter seminal pelo esclarecimento definitivo sobre o por que de a comunicação brasileira ser a Zorra Total que é. Uma bagunça na qual as vozes de meia dúzia de multimilionários se sobrepõem às de todos os outros setores majoritários da sociedade que pensam diferente e que são impedidos, pelos talões de cheque desses barões da imprensa, de expor suas idéias.  Não deixe de ler.
—–
Por João Brant, no Observatório do Direito à Comunicação (via portal Vermelho)
Na maior parte das democracias consolidadas, há limites a essa prática por se considerar que ela afeta a diversidade informativa. No Brasil, não existem limites, e justamente por isso esse é um dos temas em pauta no debate sobre uma nova lei para os serviços de comunicação audiovisual.
Aparentemente não foi bem isso que o ministro Paulo Bernardo afirmou, o que significa que o jornal resolveu dizer o não dito por conta própria. Curioso é que o mesmo jornal afirma regularmente ser a favor de medidas anticoncentração da mídia. Seria então um alerta às forças democráticas? Durante o último processo eleitoral, o Estadão declarou em editorial estar “de pleno acordo” com a necessidade de se discutir os limites à propriedade cruzada. E ainda: “não é de hoje que o Estado critica a concentração da propriedade na mídia e as facilidades para que um punhado de grupos econômicos controle, numa mesma praça, emissoras e publicações”.
Em 2003, o jornal fez mais de um editorial criticando a “cartelização da mídia” nos EUA, que iria surgir como resultado de medidas propostas pela FCC (Federal Communications Commission), órgão regulador das comunicações por lá. Aquele processo (e a revisão seguinte, de 2007) resultou num certo afrouxamento das regras norte-americanas, embora as mudanças mais liberalizantes propostas pela FCC tenham sido barradas pelo Poder Judiciário e pelo Congresso – com votos contrários inclusive dos republicanos –, após uma grande mobilização popular. Mas, afinal, por que esses limites são tão importantes a ponto de milhões de pessoas, em um país então governado por George W. Bush, terem se mobilizado para defendê-los?
Por quê
Historicamente, são duas as razões para se limitar a concentração de propriedade nas comunicações. A primeira é econômica, e pode ser entendida como tendo a mesma base das leis antitruste. A concentração em qualquer setor é considerada prejudicial ao consumidor porque gera um controle dos preços e da qualidade da oferta por poucos agentes econômicos, além de desestimular a inovação. Em alguns mercados entendidos como monopólios naturais (como a de transmissão de energia, de água ou telecomunicações), a concentração é tolerada, mas para combater seus efeitos são adotadas diversas medidas que evitam o exercício do ‘poder de mercado significativo’ que tem aquela empresa.
O segundo motivo tem mais a ver com questões sociais, políticas e culturais. Os meios de comunicação são os principais espaços de circulação de ideias, valores e pontos de vista, e portanto são as principais fontes dos cidadãos no processo diário de troca de informação e cultura. Se este espaço não reflete a diversidade e a pluralidade de determinada sociedade, uma parte das visões ou valores não circula, o que é uma ameaça à democracia. Assim, é preciso garantir pluralidade e diversidade nas comunicações para garantir a efetividade da democracia.
Uma das maneiras mais efetivas de se conseguir pluralidade e diversidade de conteúdos é garantindo que os meios de comunicação estejam em mãos de diferentes grupos, com diferentes interesses, que representem as visões de diferentes segmentos da sociedade. Ainda que a pluralidade na posse dos meios de comunicação não reflita necessariamente a pluralidade do conteúdo veiculado, na maior parte dos exemplos estudados essa correlação é positiva, especialmente no tocante à diversidade de ideias e pontos de vista (no caso da diversidade de tipos de programa, não necessariamente).
Como
Limites à propriedade cruzada tem a ver fundamentalmente com essa segunda justificativa. Países como Estados Unidos, França e Reino Unido adotam esses limites por entenderem que a concentração de vozes afeta suas democracias. É importante notar que nesses países esses limites são antigos, mas têm sido revistos e, via de regra, mantidos – ainda que relaxados, em alguns casos. Mesmo com todos os processos liberalizantes, revisões regulares de seus marcos regulatórios e convergência tecnológica, esses países seguem mantendo enxergando a propriedade cruzada como um problema.
O que aconteceu nas últimas décadas foi uma complexificação dos critérios de análise adotados, incluindo alcance e audiência como critérios definidores. Os Estados Unidos, por exemplo, tinham uma regra clássica de limite à concentração cruzada em âmbito local: nenhuma emissora poderia ser dona de um jornal que circulasse na cidade em que ela atua.
Essa regra foi levemente flexibilizada em 2007, quando se passou a levar em conta o índice de audiência das emissoras e o número de meios de comunicação independentes presentes naquela localidade. Mas essa flexibilização só vale para as vinte maiores áreas de mercado dos EUA (são 210 no total) e só acontece se o canal de TV não está entre os quatro mais vistos e se restam pelo menos oito meios independentes. Dá para ver, portanto, que a flexibilização é a exceção, não a regra.
Na França, há regras para propriedade cruzada em âmbito nacional e em âmbito local. Em cada localidade, nenhuma pessoa pode deter ao mesmo tempo licenças para TV, rádio e jornal de circulação geral distribuídos na área de alcance da TV ou da rádio. No Reino Unido, nenhuma pessoa pode adquirir uma licença do Canal 3 (segundo maior canal de TV, primeiro entre os canais privados) se ela detém um ou mais jornais de circulação nacional que tenham juntos mais que 20% do mercado. Essa regra vale também para o âmbito local. No caso britânico, há outras regras que utilizam um complexo sistema de pontuação para sopesar o impacto de licenças nacionais e locais de TV e rádio e jornais de circulação local e nacional.
Como se vê, nem com as mais agressivas tentativas de liberalização conseguiu-se chegar perto da situação brasileira, que simplesmente não prevê limites à propriedade cruzada. Exemplos como o da Globo no Rio de Janeiro, que controla a principal TV, as principais rádios e o único jornal da cidade voltado ao público formador de opinião (sem contar TV a cabo, distribuidora de filmes etc.) são completamente impensáveis em democracias avançadas. Assim, independentemente da fórmula que irá adotar, se o Brasil quiser aprovar um novo marco regulatório para o setor que seja de fato fortalecedor da diversidade informativa, e portanto de nossa democracia, essa questão não pode estar ausente. A despeito do que digam Estados e Globos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A paz dos cemitérios

Quem optou por enfrentar a grande mídia durante a primeira década do século XXI pode ter uma surpresa a partir de 1º de janeiro próximo. A mídia tenta construir um pacto não escrito e não proferido com o governo Dilma Rousseff. E a proposta, para um projeto pessoal, não é nada ruim, mas para o projeto coletivo de país pelo qual votamos, é péssima.
Não se afirma, aqui, que Dilma aceitaria tal coisa. Mas a proposta existe e é tentadora. E muito simples: paz. O fim do bombardeio midiático – ou um arrefecimento até o nível de normalidade de cobertura de um governo por uma imprensa normal e não por uma facção política e ideológica como a que tenta, há quase oito anos, inviabilizar o governo Lula.
Em primeiro lugar, analisemos um dos muitos comentários do mesmo tipo que têm sido produzidos pelo colunismo de Globos, Folhas, Vejas e Estadões. No caso, de Eliane Cantanhêde, que disputa com Dora Kramer o título de colunista feminina mais tucana do mercado. Mas para não cansar o leitor com o tucanês da moça, reproduzo só o que interessa.
“(…) Dilma tem lá o jeito dela, diferente do de Lula. Quer menos improvisação, rompantes, tititi. Vai cobrar discrição. E só vai abrir a boca em questões de repercussão internacional quando tiver certeza (…).
Pois é, vejam só. Claro que Dilma se aproxima mais do aceitável para a elite branca paulista. Filha de europeus, “bem-nascida”, “bem-estudada”, quase doutora (só faltou defender a tese de doutorado), certamente conjugará verbos e dirá os plurais com maior acuidade. Além de ter nascido no Sudeste, é claro.
Enfim, além de “palatável”, ela tem a chance de, supostamente, fazer o Brasil avançar mais apenas não desencadeando um processo de regulação da nova mídia um único centímetro fora do que ditarem os barões da velha mídia. Dessa forma, o governo não perderia tempo com escândalos incessantes, fim de semana sim, fim de semana não.
Imaginem o que teria sido o governo Lula sem a sabotagem da mídia. Os mais pragmáticos dirão logo que teria sido melhor Lula condescender com a mídia e barrar qualquer tentativa de colocar ordem nessa bagunça que é a comunicação do Brasil. Mas não adiantaria. O ódio que sentem por ele é visceral, não decorrente, apenas, de interesses contrariados.
A mídia teme que o governo brasileiro, a exemplo do que fez o argentino, obrigue uma Globo a se desfazer de vários tipos de mídia que concentra – tevê, rádio, jornais e revistas, portais de internet… Teria que escolher um ou dois tipos e vender os outros. E vender mesmo, não entregar a laranjas. Haveria investigação. Seria como nos Estados Unidos, por exemplo…
Que escolha você faria, se fosse Dilma? Optaria por ter paz para tentar fazer um governo melhor e deixaria essa gente conservar o poder de controlar o país através da proteção ou da intimidação de políticos usando até concessões públicas ou concluiria que uma paz para governar como essa é, na verdade, a paz dos cemitérios?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Força e fragilidade do Ciberativismo

Este blog saiu do ar da madrugada até o meio da manhã desta quinta-feira. O fato ocorreu por razõe$ que nada têm que ver com ataques cibernéticos de hackers, crackers ou coisa que o valha, e muito menos devido a retaliações de qualquer tipo, mas a inacessibilidade desta página de ativismo político gerou reflexão ao seu editor sobre um fato que está ocorrendo agora mesmo e que simboliza, na prática, uma grave ameaça ao ciberativismo.
Tal reflexão decorre, como deve ter ficado óbvio a alguns, das retaliações que o ciberativista australiano Julian Assange vem sofrendo por conta dos constrangimentos que vem gerando ao governo dos Estados Unidos desde que desencadeou uma onda de denúncias em seu site, o WikiLeaks (vazamentos rápidos ou abundantes, em tradução livre), a partir de setembro, quando a página denunciou abusos que os americanos cometeram contra os direitos humanos de civis inocentes na guerra do Iraque.
Os documentos vazados pela página wiki de Assange denunciaram, primeiro, a política sanguinolenta que os EUA impuseram ao Iraque, com literal assassinato em massa de dezenas de milhares de homens, mulheres, crianças e velhos – e sem que a nossa boa e velha mídia tenha dito sobre os ianques qualquer coisa sequer parecida com o que diz sobre o regime iraniano –, e, agora, o WikiLeaks denunciou os constrangedores telegramas confidenciais da diplomacia americana.
Em que pese a duvida sobre a motivação de Assange para ir tão longe – seria um idealista, alguém em busca de notoriedade, um louco ou um vigarista? –, o que sua prisão, as acusações que vem sofrendo e o estrangulamento financeiro e estrutural de sua organização mostram é como alguém pode incomodar até os mais poderosos entre os poderosos valendo-se apenas de uma mísera página na internet e como essa pessoa pode se tornar alvo de uma campanha de destruição rápida, implacável e eficiente.
Se alguém como Assange, com seus contatos, fontes secretas, doações e patrocínios milionários pode ser anulado com a facilidade que se viu no âmbito de um processo escandalosamente casuísta – ou alguém acredita que as acusações de “estupro” contra si, surgidas logo após as denúncias, foram coincidências? –, o que é possível fazer contra um pobre diabo como o ciberativista autor deste blog e outros como ele?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mídia faz lobby para americanos na compra de caças

Na semana que passou, enquanto estive na Argentina a trabalho, tive a excelente oportunidade de conhecer um jornalista local amigo de um cliente. Ele quis me conhecer ao saber, através daquele cliente, de minhas atividades jornalísticas neste blog. Reunimo-nos em um café em Puerto Madero, pois.
Durante a conversa, abordamos a questão da compra de três dezenas de aviões de guerra que o Brasil vem ensaiando fazer desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Uma compra de bilhões de dólares que, para esse mundo rico e afundado em problemas econômicos, torna-se da maior importância.
Além de ser três chic o Brasil ser protagonista de um negócio que aguça a ganância das nações mais industrializadas da Terra, essa negociação nos coloca em condições de força para darmos um salto que ultrapassa em muito as meras condições financeiras do negócio.  O salto em questão, vale ressaltar, seria em nossa indústria aeronáutica – e talvez, mais do que isso, em nossa capacidade defesa do território nacional e dos interesses geopolíticos do Brasil.
Até um argentino sabe o que está por trás da opção sabidamente mais ao gosto do grupo político que governa o Brasil e sabe que o que está por trás desse gosto é o melhor interesse nacional. Isso é evidente. Ao menos partindo do princípio, de difícil negação, de que os americanos não transigem em questões militares.
Os três finalistas para a compra que permitirá ao Brasil desenvolver o projeto FX-2 – de um caça legitimamente nacional, com domínio de tecnologia nacional – são o caça americano F-18 Super Hornet, o sueco Gripen NG e o francês Rafale – C.
O Brasil firmou há anos um acordo de cooperação estratégico-militar-financeira-cultural com a França, o que desagrada aos americanos porque querem ter o controle não só do seu “quintal” (as três Américas), mas do mundo inteiro – ou queriam ter, mas vão descobrindo que não podem. Esse acordo nos permitirá dominar o ciclo de produção cem por cento autônoma de aviões de guerra, sobretudo em situações de conflito.
O que interessa a nós, porém, é que esse acordo nos permite um nível de autonomia compatível com pretensões do Brasil de se tornar aquilo que Delfim Neto definiu antes de todo mundo, por aqui, como “player global”, ou jogador global, nação capaz de participar das grandes decisões definidas pelo grupo de nações mais influentes, decisões que as outras acabam tendo que aceitar.
Enfim, o fato é que toda a comunidade internacional sabe que a imprensa brasileira está fazendo o jogo dos americanos. E, para que isso não fique muito evidente, essa imprensa – Folha, Estadão, Globo e Veja, sobretudo – diz que o avião americano é o “melhor”, mas que o avião sueco seria a solução de consenso por o negócio oferecer maior transferência de tecnologia, apesar de o Gripen ser inferior ao avião americano, mas superior ao francês.
Não é verdade. O Gripen leva componentes americanos essenciais que delegariam a eles (aos americanos) a decisão de fornecer peças de reposição em caso de ser necessário, em um conflito – ou mesmo se houvesse essa possibilidade de conflito real –, o uso dessas máquinas de guerra que estamos adquirindo, em vez de podermos produzir aqui o que precisarmos.
Suponhamos que os Estados Unidos decidissem apoiar uma ação militar de seu braço colombiano contra seu desafeto venezuelano. Digamos, por exemplo, que Hugo Chávez decida interromper a venda de petróleo para os americanos. Em retaliação, seria buscado um pretexto pela aliada militar americana Colômbia para atacar a Venezuela e derrubar Chávez.
Nessa situação, haveria uma reação da Unasul contra a Colômbia – talvez uma reação militar. Nessa hipótese improvável, mas nada descartável, em havendo um conflito a necessidade de peças de reposição para sistemas vitais dos aviões – ou até a compra de aviões substitutos – seria decidida por uma das partes nesse conflito, a parte que seria nossa adversária.
Esse é o resumo da ópera. A imprensa de direita faz coro com Washington sobre governos sul-americanos que os Estados Unidos consideram hostis aos seus interesses, por isso quer fazer prevalecer os interesses de seus apoiados. Só  não se sabe sob que expectativa de recompensa, mas imagina-se.