por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Estão querendo crucificar Zé de Abreu.
O colunista do Globo Jorge Bastos Moreno escreveu, no Twitter, que Zé de Abreu só tem autoridade para falar de dramaturgia.
De política, não.
Nesse campo, segundo Moreno, Zé de Abreu deveria se limitar a ouvir os sábios, aspas, jornalistas políticos das grandes empresas.
Isso porque Zé de Abreu questionou Moreno a respeito de uma série de tuítes em que ele afirmou que Lula está virtualmente morto no segundo governo Dilma.
Moreno listou colunistas que estão afirmando isso, os suspeitos de sempre, e com razão Zé de Abreu notou que há quatro anos eles dizem a mesma coisa.
Se você pegar material antigo da mídia, verá o número incrível de vezes, em 2014, em que Lula aparecia “querendo ” ser ele mesmo o candidato do PT à presidência.
Não bastaram os desmentidos, não bastaram sequer os gestos explícitos de apoio irrestrito de Lula a Dilma, mesmo nos momentos mais complicados de sua campanha. Lá estavam sempre os colunistas com uma informação de fonte privilegiada, aspas, segundo a qual Lula e Dilma guerreavam nos bastidores pela candidatura.
Deu no que deu.
Um desses colunistas é Josias de Sousa, do UOL, e por coincidência é outro que vem infernizando Zé de Abreu.
Josias publicou um texto em que criticou, asperamente, Zé de Abreu por uma série de tuítes em que ele, irreverentemente, registrou que pessoas como Lobão, Gentili e Aécio “se foderam”.
Zé de Abreu não foi exatamente um lorde inglês. Mas, comparado ao que os objetos de suas mensagens costumam escrever sobre ele mesmo e seu partido, foi suave, quase delicado. Atirou pedriscos em quem costumeiramente usa metralhadoras.
Josias não. Com sua prosa da Veja dos anos 70, quis matar Zé de Abreu.
Começou pelo título, em que o qualificou como “ator global”, com a clara intenção de intrigá-lo com a Globo.
Zé de Abreu, é verdade, representa o oposto do jornalismo da Globo, no qual há um exército de conservadores antipetistas em todas as mídias, de Merval a Jabor, de Míriam Leitão a Sardenberg, de Noblat a William Waack.
Mas ele é um ator e apenas um ator na Globo. Tem participação zero nas decisões jornalísticas da empresa.
Em seu campo de atuação, não se pode acusá-lo de propaganda ideológica: ele não enfia frases nos roteiros dos quais participa.
É um funcionário. Como ator, é pago para representar e representa. Ponto.
Fora da Globo, é um cidadão. Nesta condição, milita no PT, e está longe de ser um militante agressivo, intolerante, grosseiro. Se houvesse um ranking de petistas bem humorados, ele provavelmente ocuparia uma das primeiras colocações.
Sou apartidário. Entendo que o bom jornalismo não comporta compromissos com partido nenhum, e muito menos com interesses econômicos.
Como alguém de fora do PT, concordo com algumas ideias políticas de Zé de Abreu e discordo de outras.
Mas reconheço nele um cidadão inteligente e esclarecido, idealista e combativo – atributos que não enxergo nos “especialistas” em política da mídia que tentam crucificá-lo.