Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
Mostrando postagens com marcador papa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador papa. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Evo: na Bolívia não mandam os Chicago Boys Chicago Boys são os Neolibêles do FHC


De Walber Leandro, no face do C Af


No Valor:


“Na Bolívia, não mandam os Chicago boys”, diz Evo Morales em posse




LA PAZ – O presidente da Bolívia, Evo Morales, voltou a rechaçar, nesta quinta-feira, a política econômica neoliberal em seu discurso de posse. “Na Bolívia, não mandam os Chicago boys, mas sim os Chuquiago boys”, disse, após relatar longamente os avanços econômicos e sociais do país. “Aqui, mandam os índios”.

No fim do ano passado, em um evento em Cochabamba, o presidente usou a mesma expressão para criticar as economias ditas neoliberais, como a norte-americana. A afirmação, desta vez, foi feita na presença da presidente Dilma Rousseff, que em seu segundo mandato parece ter dado uma guinada na política econômica, nomeando para o Ministério da Fazenda, um economista considerado um Chicago boy, Joaquim Levy.

(…)

Veja o vídeo:


Os Chicago Boys, neolibêles da Universidade de Chicago, primeiro assumiram o poder com Pinochet no Chile.
Depois, se espalharam pelo México, Bolívia e Argentina e governaram o Brasil nos oito anos do Farol de Alexandria.
Acabam de ser enxotados da Europa pelo Draghi.
E tentam botar as manguinhas de fora por aqui, se o PT deixar.
Paulo Henrique Amorim





quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ANTES ATACADO, PORTO DE MARIEL VIRA ESTRATÉGICO

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Dilma pode escolher: ser Francisco ou Bergóglio?

Um país aos cacos? Lojas Americanas vão abrir mais 800 lojas no Brasil, quase dobrar de tamanho até 2019, com investimentos de R$ 4 bilhões; fosse um país, classe C brasileira formaria hoje a 18º economia do mundo e estaria na Austrália, na reunião do G20.

Brasil aos cacos? Sozinha, a classe C brasileira consome mais que a Holanda ou a Suíça inteiras.
Saldo da restauração neoliberal na mesa do G-20: mais 30 milhões de desempregados desde 2008.

A frente de esquerda está nascendo nas ruas: debaixo de chuva, cerca de 15 mil pessoas fizeram passeata pela ruas de SP nesta 5ª feira para exigir reformas populares,entre elas, a urbana, a política e a regulação da mídia; uniram-se no ato, a CUT, MTST, Levante da Juventude, PT e PSOL, entre outros.

A CUT analisa a hora do Brasil e adianta que os trabalhadores querem participar das decisões que vão ordenar o governo Dilma .

Unctad dá a receita para o mundo crescer: estímulos fiscais e crédito à produção, crescimento real do salário, imposto progressivo e regulação forte do sistema financeiro. É impressão ou é o oposto do que o conservadorismo quer enfiar goela abaixo de Dilma?

Dilma pode escolher: ser Francisco ou Bergóglio? 

A história não é fatalidade. Um exemplo de quem mudou suas circunstâncias? O Papa, que deixou de ser Bergóglio para se tornar Francisco.

por: Saul Leblon

Arquivo

A incerteza que  antecede as definições do segundo governo Dilma mantém o Brasil em suspenso à direita e à esquerda.

Mercados financeiros giram feito barata tonta ao sabor dos mais desencontrados boatos.

Vendidos suplicam por um boato baixista; comprados dão a vida por uma puxada nas cotações. Ganha-se na diferença diária entre um zunzum e outro.

Especulações sobre o comando da economia oscilam entre o tudo e o nada, muito pelo contrário.

Há lastro.

É evidente a dúvida e a divergência nos círculos da própria Presidenta e do PT: como negociar sem regredir e, sobretudo, com preservar margem para avançar?

A hipótese de se reeditar o modelo  ‘Lula 1.0’, ortodoxo na condução da economia, heterodoxo no fortalecimento ancorado em expansão de salários, emprego e  políticas sociais tromba na história.

O quadro de bonança externa que permitiu a relação acomodatícia entre interesses conflitantes não existe mais.

O ciclo acabou na crise de 2008, que levou ao ‘Lula 2.0’ e ao primeiro Dilma, de recortes mais heterodoxos (Leia a análise de Tarso Genro; nesta pág).

Não apenas isso.

O estreitamento da margem de manobra na economia não encontra qualquer compensação no ambiente político.

Dilma sai inequivocamente vitoriosa de uma disputa histórica, marcada pelo confronto feroz entre projetos distintos de país, em meio a uma transição de ciclo econômico global.

A derrota da restauração neoliberal nas urnas brasileiras não encerra o confronto que permanece em aberto em todo o mundo.

Por isso é ilusório imaginar que o terceiro turno desta vez cederá tão cedo ou em troca de pouco.

Não cederá.

A percepção dessa rigidez adiciona tensões imagináveis na atormentada busca de uma ordenação do próximo governo.

Como  honrar a vitória nas urnas e exercer a iniciativa na esfera econômica e social, sem ser emparedado pela roleta do mercado financeiro aqui e lá fora?

O ‘salvacionismo da rendição’ ganha força à medida em que as escolhas giram em falso no relógio do tempo político.

Aqui e ali ouvem-se apelos extremados para Dilma ‘resolver logo’.

O que?

Tudo.

‘Tudo o que o mercado quer’.

Em vão imagina-se que assim haverá a trégua que o comunicado oficial da vitória na noite de 26 de outubro não ensejou.

Setores do PT antigamente identificados com aquilo que se convencionou chamar de ‘paloccismo, que vem a ser o neoliberalismo de estrela na lapela, vendem a ilusão de um apaziguamento.

Em 2006 venderam a Lula a fraude de que se dissesse ‘fui traído’, as capas de ‘Veja’ sobre o dito ‘mensalão’ refluiriam.

O que se deu é sabido.

Dilma sabe que não dá para atender ao apetite pantagruélico e  ao mesmo tempo cumprir as obrigações da urna.

Que fazer?

É aconselhável, em primeiro lugar, olhar em volta.

Quem  recomenda é o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em entrevista desta semana a Carta Maior (assista nesta pág.).

A desordem no capitalismo internacional é tão grave que o seu principal bunker financeiro, o FMI, converge rapidamente para se transformar em defensor de incentivos fiscais e do investimento público, aqui demonizados pelos bravos rapazes e moças do jornalismo isento.

Até autoridades da zona do euro, arrasada pelo fracasso desse oximoro, a ‘contração expansiva’, ensaiam mudança de tom.

A busca do impossível –crescer e arrochar—  faz água por todas as latitudes.

Ou não será essa impossibilidade metafísica que ordena o  ziguezagueante discurso do G-20, reunido na distante Austrália?

Oxímoros -- contradições em seus próprios termos--  refletem o esgotamento de uma agenda.

Aquela  que levou  o mundo a transitar da longa convalescença de 2008 direto para uma era de estagnação.

O ‘novo normal’, a perder de vista, sob os timoneiros do arrocho, compõe um cotidiano em que nada se move.

Exceto as curvas da desigualdade, o empoçamento  do capital fictício, o fastígio dos paraísos fiscais e a fuga da juventude desempregada para lugar nenhum.

Os dados estão carimbados no rosto de pedra dos participantes do G 20: 75 milhões de jovens nunca encontrarão trabalho em sua vida; o estoque do desemprego mundial requer a criação de 200 milhões de vagas. Mas a Europa continua a despejar gente na rua, enquanto nos EUA cresce o emprego precário e o rendimento da classe média hiberna há 15 anos.

Que arranjo ministerial é o mais indicado para enfrentar o terceiro turno do conservadorismo no Brasil, enquanto se espera um alvorecer da longa noite neoliberal?

Trazer o conflito para dentro do governo é uma forma de rachar a frente derrotada em 26 de outubro.

A que custo, porém,  sob o chicote do juro alto e do emprego declinante?

Outra hipótese é reformar a bicicleta da correlação de forças pedalando o mais depressa possível para longe da macroeconomia da recessão: baixar juro, usar o dinheiro economizado para obras, coordenar o câmbio, exportar, investir e contratar.

O jogral conservador diz que é o caminho para a morte súbita do governo Dilma.
É melhor morrer em fogo lento? Degrau por degrau na ladeira do desemprego, da erosão salarial e do desacorçoo, até o enterro solene em 2018?

Não há escolha fácil num mundo difícil, assoalhado de chão mole por todos os lados.

Mas a história não é uma ciência exata; por mais que o mercado lhe sonegue esse predicado ela muda sob a ação dos homens e de suas circunstâncias.

Mudanças no exercício do poder podem alterar as circunstancias e tornar possível o impossível.

Um exemplo meramente ilustrativo?

O Papa.

Nos últimos dias, o Papa Francisco foi elogiado por duas estrelas incontestáveis da constelação progressista latino-americana: sua conterrânea argentina, Estela Carloto,  líder do movimento das Abuelas de Mayo, que ele recebeu no Vaticano e a seu neto recém localizado;  e o brasileiro Pedro Stedile, o indobrável dirigente do MST, um dos convidados do Encontro  Mundial de Movimentos Populares, patrocinado pelo Papa, no final do outubro.

A receptividade do anfitrião impressionou o marxista Stédile.

 ‘O Papa deu uma grande contribuição (ao encontro), com um documento irrepreensível, mais à esquerda do que muitos de nós; em 2.000 anos, nenhum Papa jamais organizou uma reunião desse tipo com movimentos sociais’, atestou Stédile.

Antes de afrontar  dois mil anos de história, o sucessor de Bento XVI --o doutrinário conservador Ratzinger, que renunciou em fevereiro de 2013--, já havia impressionado uns e surpreendido outros ao deflagrar uma devassa nos círculos de poder santo.

Sem cerimonia, Francisco afastou chefões acusados de abusos sexuais; criou comissões investigativas para devassar as sacristias do poder; abateu  corruptos abrigados em batinas purpuras; degredou veneráveis incrustrados na burocracia do Banco do Vaticano, de laços conhecidos com o crime organizado italiano.

Nesta 4ª feira, outras vozes da esquerda regional rasgaram elogios ao Papa por uma nova decisão corajosa.

 Francisco determinou que o Vaticano abra seus arquivos secretos quando isso for do interesse das investigações sobre desaparecidos políticos durante a ditadura militar argentina.

Uma reforma jurídica do Estado do Vaticano foi determinada pelo Papa para legalizar essa ruptura.

Sua orientação atinge a ultraconservadora hierarquia do catolicismo argentino.
Ela já começou a colaborar com as Abuelas de Mayo, na localização de filhos de desaparecidos políticos, vítimas da ditadura que entre  1976 a 1983 matou cerca de 30 mil  argentinos.

A decisão de abrir os arquivos da Igreja tem um significado político especial para o Papa Francisco.

Quando o nome do Cardeal Arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, 76 anos, foi consagrado em março de 2013 pelo Concílio romano, a reação predominante na esquerda latino-americana –  inclua-se nisso Carta Maior—foi de desalento e apreensão.

O  265° Papa de Roma, o primeiro latino-americano a ocupar o trono de Pedro,  não oferecia motivos para comemorações.

A própria Estela Carloto desabafou na época que o sucessor do Papa Bento XVI fazia parte da “Igreja que escureceu o país” durante a ditadura.

‘É verdade, não sentimos muita alegria com a sua eleição; nunca tínhamos ouvido Bergoglio fazer menção aos desaparecidos, nem dar qualquer apoio à busca pelas nossas crianças’, admitiu ela após o encontro efusivo no Vaticano, onde fez uma autocrítica cercada de elogio ao renascido conterrâneo.

Não apenas omissão. A principal acusação contra o bispo Bergoglio era de cumplicidade.

Ele poderia, mas nunca facilitou, por exemplo, a reunião das abuelas desesperadas com o Papa.

O primeiro encontro delas com o Sumo Pontífice, em 1980, deu-se no Brasil e só aconteceu por interferência de religiosos brasileiros.

No livro “El Silencio”, o premiado jornalista argentino, Horacio Verbitsky, recolheu depoimentos e reconstituições que lançam sombras ainda mais densas sobre o passado do cardeal Bergoglio.

Sabe-se, por exemplo, que no dia em que a ‘fumata bianca’ do Vaticano anunciou o ‘habemus papam’ e em seguida emergiu a figura do cardeal argentino no balcão , Graciela Yorio esmurrou as paredes de seu apartamento, a 11.200 quilômetros de distância, em Buenos Aires.

O relato foi estampado nos jornais argentinos e também na Folha de S. Paulo.

A revolta deve-se a uma certeza guardada há 36 anos na memória dessa sexagenária.
Em maio de 1976, seu irmão, padre Orlando Yorio, foi delatado à ditadura sedenta e recém-instalada, juntamente com o sacerdote Francisco Jalics, que hoje mora na Alemanha.

Os dois religiosos ficaram cinco meses nas mãos dos militares. Incomunicáveis, na temível Escola Mecânica da Marinha, adaptada para ser a máquina de moer ossos do regime.

Por omissão ou conivência ativa, atribui-se ao então cardeal Bergoglio — então com cerca de 40 anos, líder conservador dos jesuítas argentinos—um pedaço da responsabilidade por essas prisões.

Essa é a convicção de Graciela, baseada no que ouviu do irmão, falecido em 2000, militante da Teologia da Libertação como Jalics, que se diz  reconciliado com Francisco.

Não faltaram vozes  progressistas a rejeitar esse enredo macabro, dando testemunho da retidão discreta do conservador Bergóglio  sob o terror militar.

A corajosa abertura dos arquivos do Vaticano agora poderá dar-lhe o salvo conduto definitivo afastando  sua biografia da sombra desse período.

Mas o fato é que Bergóglio já se reinventou sob o manto de Francisco. Hoje, figura como uma referência sintomática do vento novo que sopra na contracorrente da decadência neoliberal no mundo.

O que teria sido do Papa se mantivesse em Roma a ambiguidade discreta do seu cardinalato  na Argentina?

Seria maculado pela reprovação silenciosa de muitos; seria uma figura irrelevante  na desordem mundial; seria um pequeno conservador na cena extremada de um mundo em busca de nova identidade e de um ciclo renovador para o desenvolvimento, a vida e a espiritualidade.

Seriam, enfim, tudo o que Francisco decidiu não ser e não é.

O que sobra disso para a pasmaceira de um Brasil que oscila entre um Meirelles ou um Tombini na Fazenda?

Sobra a lição da inexcedível capacidade humana para se reinventar nas amarras das circunstâncias, alterando-as no processo, mesmo sem ignorá-las.

Sobra a hipótese de Dilma vestir o manto da Presidência e poder escolher entre ser Bergóglio ou Francisco.

Sobra o espaço das escolhas na história.

Não fosse assim ela não seria  história, mas fatalidade.

Leia, abaixo, trechos do ilustrativo discurso do Papa Francisco, em 27 de outubro, na recepção aos participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares, no Vaticano:

‘Obrigado por terem aceitado este convite para debater tantos graves problemas sociais que afligem o mundo hoje (...). Os pobres não só padecem a injustiça, mas também lutam contra ela! Não se contentam com promessas ilusórias, desculpas ou pretextos. Também não estão esperando de braços cruzados a ajuda de ONGs, planos assistenciais ou soluções que nunca chegam ou, se chegam, chegam de maneira que vão em uma direção ou de anestesiar ou de domesticar’

‘( solidariedade) é pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É enfrentar os destrutivos efeitos do Império do dinheiro: os deslocamentos forçados, as migrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a guerra, a violência e todas essas realidades que muitos de vocês sofrem e que todos somos chamados a transformar. A solidariedade, entendida em seu sentido mais profundo, é um modo de fazer história, e é isso que os movimentos populares fazem’.

‘Queremos que se ouça a sua voz, que, em geral, se escuta pouco. Talvez porque incomoda, talvez porque o seu grito incomoda, talvez porque se tem medo da mudança que vocês reivindicam, mas, sem a sua presença, sem ir realmente às periferias, as boas propostas e projetos que frequentemente ouvimos nas conferências internacionais ficam no reino da ideia’

‘Não é possível abordar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que unicamente tranquilizem e convertam os pobres em seres domesticados e inofensivos.

‘Este encontro nosso responde a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos; um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho. É estranho, mas, se eu falo disso para alguns, significa que o papa é comunista’.

‘Terra, teto e trabalho – isso pelo qual vocês lutam – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada raro, é a doutrina social da Igreja. Vou me deter um pouco sobre cada um deles, porque vocês os escolheram como tema para este encontro.

‘‘Quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como qualquer mercadoria, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isso é um verdadeiro escândalo (...) deixem-me dizer-lhes que, em certos países, e aqui cito o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, "a reforma agrária é, além de uma necessidade política, uma obrigação moral’

‘Eu disse e repito: uma casa para cada família. Mas, além disso, um teto, para que seja um lar, tem uma dimensão comunitária: e é o bairro... e é precisamente no bairro onde se começa a construir essa grande família da humanidade, a partir do mais imediato, a partir da convivência com os vizinhos (...) ali, o espaço público não é um mero lugar de trânsito, mas uma extensão do próprio lar, um lugar para gerar vínculos com os vizinhos’.

‘O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos trabalhistas não são inevitáveis, são o resultado de uma prévia opção social, de um sistema econômico que coloca os lucros acima do homem, que considera o ser humano em si mesmo como um bem de consumo, que pode ser usado e depois jogado fora. Isso acontece quando, no centro de um sistema econômico, está o deus dinheiro e não o homem, a pessoa humana’

‘Descartam-se os idosos, porque, bom, não servem, não produzem. Nem crianças nem idosos produzem. Estamos assistindo a um terceiro descarte muito doloroso, o descarte dos jovens. Milhões de jovens (...) aqui na Itália, passou um pouquinho dos 40% de jovens desempregados. Sabem o que significa 40% de jovens? Toda uma geração, anular toda uma geração para manter o equilíbrio. Em outro país da Europa, está passando os 50% ...São dados claros do descarte. Descarte, descarte (...) para poder manter e reequilibrar um sistema em cujo centro está o deus dinheiro, e não a pessoa humana’

‘Um sistema econômico centrado no deus dinheiro também precisa saquear a natureza, saquear a natureza, para sustentar o ritmo frenético de consumo que lhe é inerente’.

‘Alguns de vocês expressaram: esse sistema não se aguenta mais. Temos que mudá-lo, temos que voltar a levar a dignidade humana para o centro, e que, sobre esse pilar, se construam as estruturas sociais alternativas de que precisamos. É preciso fazer isso com coragem, mas também com inteligência. Com tenacidade, mas sem fanatismo (...) Os cristãos têm algo muito lindo, um guia de ação, um programa, poderíamos dizer, revolucionário. Recomendo-lhes vivamente que o leiam, que leiam as Bem-aventuranças que estão no capítulo 5 de São Mateus e 6 de São Lucas (cfr. Mt 5, 3; e Lc 6, 20) e que leiam a passagem de Mateus 25’

‘A perspectiva de um mundo da paz e da justiça duradouras nos exige superar o assistencialismo paternalista, nos exige criar novas formas de participação que inclua os movimentos populares e anime as estruturas de governo locais, nacionais e internacionais com essa torrente de energia moral que surge da incorporação dos excluídos na construção do destino comum. Digamos juntos com o coração: nenhuma família sem moradia, nenhum agricultor sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá’.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

CONTRA A GLOBO PODE?

terça-feira, 23 de julho de 2013

JUIZ BARBOSA CONDENARIA EVENTUAL RÉU BARBOSA. DILMA: "A LUTA CONTRA A DESIGUALDADE UNE O GOVERNO E A IGREJA"

*Igreja, direita e PT disputam a nova agenda social reclamada pelas ruas :o Brasil, que já era referência em políticas públicas contra a fome e a pobreza, virou o cenário de uma  estratégica disputa pela paternidade da nova agenda social, reclamada nos protestos de junho no país**Maciçamente protagonizadas pela juventude, mas em defesa de serviços públicos dignos, as manifestações ecoaram uma insatisfação presente em amplos segmentos da população** O salto que se reclama argui não apenas o governo petista, mas todo o colar de governos progressistas da AL, focados na luta contra a pobreza e a desigualdade** Quem vai liderar as reformas para atender ao clamor irrefreável por cidades habitáveis e cidadania efetiva? A igreja de Bergoglio vê aí a chance de uma reconciliação com o evangelho social asfixiado pelo seu antecessor** A direita enxerga a oportunidade para desqualificar os avanços promovidos pelo PT desde 2003** Os petistas, reunidos no Diretório Nacional,entenderam o recado das ruas: sua prioridade é a renovação de alianças que impulsionem as reformas requeridas pela população,disse o presidente do partido, Rui Falcão. (leia as propostas de Tarso Genro; nesta pág)
'Dilma enviou uma nota burocrática e tardia para saudar (ou celebrar) o fim do papado de Bento XVI, que nas eleições presidenciais de 2010 havia se associado explicitamente ao tucanato, em uma campanha lembrada pelas baixarias homofóbicas e anti-aborto de José Serra. Dilma lembra também que não poucos bispos e arcebispos,  subitamente comovidos pelo discurso aparentemente social de Bergoglio, há três anos puseram seus púlpitos à serviço da dupla integralista Serra-Ratzinger. Dilma recebeu com simpatia a eleição de Jorge Mario Bergoglio e viajou ao Vaticano no dia 20 de março para cumprimenta-lo e reforçar o convite para ser o anfitrião da Jornada Mundial da Juventude, iniciada nesta 2ª feira. O Palácio do Planalto e círculos católicos do Partido dos Trabalhadores avaliam que Francisco pode ser um bom aliado das políticas sociais agressivas, a principal delas o Bolsa Família, implementadas por Lula desde 2003 e continuadas por Dilma.O ministro e ex-seminarista Gilberto Carvalho, está entre os defensores desta posição. Entende que, através da aproximação com a Igreja, Dilma poderá estabelecer pontes para os bem organizados e populosos movimentos sociais, tão importantes no Brasil e geralmente mais representativos que os partidos' 

:

segunda-feira, 18 de março de 2013

A overdose papal nas mídias e o declínio das religiões no Brasil

Eduguim
Nas últimas semanas, os meios de comunicação do Brasil devem ter produzido um dos maiores volumes do mundo em termos de cobertura da renúncia do líder de uma religião – e é disso que se trata o catolicismo, apenas uma religião – e da escolha de seu sucessor.
No último domingo, vários dias após aquela escolha, o noticiário internacional do jornal Folha de São Paulo, de 17 matérias que publicou, 9 delas foram referentes ao novo líder da Igreja Católica, o Papa “Francisco”.
Claro que boa parte dessa cobertura se deveu a denúncias contra ele feitas na Argentina, no sentido de ter sido cúmplice da ditadura militar que se abateu sobre o país nos anos 1970, mas, ainda assim, o volume do noticiário soou desproporcional.
Além disso, após a eclosão de uma onda de denúncias contra o jesuíta Jorge Bergoglio que começou minutos após o anúncio de seu nome como novo Papa – e que se tem a impressão de que não pôde ser evitada –, sobreveio um noticiário talhado para desmentir as acusações.
Mesmo as denúncias não justificam a overdose midiática papal. Antes de surgirem, houve coberturas intermináveis de cada rito do Vaticano no processo sucessório, com riqueza quase obsessiva de detalhes e em um tom literalmente religioso onde só cabia o tom jornalístico.
A maior franquia da fé do Ocidente teve (na maior parte do tempo) a seu favor uma cobertura das mais generosas que já se viu nas mídias impressas ou eletrônicas. E, supostamente, “de graça”.
É coisa que não se vê em relação a nenhuma outra religião, ao menos no Brasil. Os evangélicos, a segunda religião no país, costumam receber uma cobertura equidistante da mídia, quando não são criminalizados.
Não que certos líderes evangélicos não deem motivos de sobra para, no mínimo, serem criminalizados pelo noticiário. O que não se entende é por que os motivos que os líderes católicos dão para serem igualmente criminalizados são tratados de forma tão diferente.
Ou melhor: entende-se, sim.
Para entender, basta ver o que vem acontecendo com todas as religiões no Brasil. E, para tanto, nada melhor do que os censos do IBGE. Abaixo, portanto, reproduzo gráfico gentilmente enviado pela leitora Marcia Moreira.
Como se vê, enquanto o catolicismo perdeu 27,42% de seus fieis em 30 anos (entre 1980 e 2010), as outras religiões cresceram 198,9%. Todavia, mesmo com o crescimento de outras religiões, isso não compensou o contingente de brasileiros com religião, pois o que cresceu acima de todo o resto foi o contingente de pessoas sem religião, que aumentou 321,05% no período, tendo passado de 1,8% da população para expressivos 8%.
Ao lado do crescimento dos evangélicos, muito provavelmente alavancado pela midiatização da fé, com a aquisição de horários imensos nas televisões e rádios por essas igrejas, é digno de nota o contingente de brasileiros que declaram não seguir nenhuma religião.
Mas antes que se pense em atribuir a queda da religiosidade do brasileiro ao avanço da educação, um dado curioso apurado no Censo 2010: os espíritas formam o grupo que tem maior proporção de pessoas com nível superior completo, chegando a 31,5%, e as menores porcentagens de indivíduos sem instrução – apenas 1,8%.
Os católicos, os sem religião e os evangélicos pentecostais são os grupos com as maiores proporções de pessoas de 15 anos ou mais de idade sem instrução. Ainda assim, o contingente espírita é diminuto. E foi o que menos cresceu em 30 anos – apenas 53,85%.
Quanto ao desastre do catolicismo no Brasil, talvez se possa estabelecer uma relação com a perda de espaço político da direita ao longo das últimas décadas.
E não só no Brasil. Apesar de membros da Igreja Católica terem resistido às ditaduras sul-americanas, como instituição ela foi sustentáculo dos regimes ditatoriais que se espalharam pela região.
Não é por outra razão que o catolicismo é a religião preferida das elites latino-americanas, por sua confiabilidade garantida pelo Vaticano. Os últimos dois Papas tiveram uma intensa atuação política contra a esquerda. João Paulo II foi considerado vital para a derrocada da União Soviética.
Já os líderes evangélicos, esses não servem a elites latino-americanas que tentam por todos os meios impedir o processo irrefreável de redistribuição de renda que vai se espalhando pela América latina. São muito independentes e, ao contrário da Igreja Católica, têm uma relação muito mais direta com os fiéis.
Sobre o expressivo afastamento dos brasileiros das religiões, isso não significa que tenham perdido a fé. Este blogueiro, particularmente, integra esse contingente que mantém a fé em Deus, porém sem querer intermediários.
A percepção de que as religiões todas servem muito mais a interesses políticos e econômicos do que ao propósito que anunciam vai se tornando clara para a sociedade de uma forma que ultrapassa as fronteiras regionais e sociais.
Esse processo de declínio da religiosidade provavelmente é o que mais deverá avançar nos próximos anos.
Com o acesso crescente a novas mídias e, assim, a opiniões outrora sufocadas, as pessoas talvez comecem a entender que Deus não está em templos e que não fala ou negocia por meio desses homens que se autoproclamam intermediários entre nós e Ele.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A FUMAÇA BRANCA E A FUMAÇA SOMBRIA



 A escolha do nome 'Francisco' pelo novo Papa, resgatou a esperança de setores cristãos progressistas  numa reconciliação da Igreja com a opção pelos pobres, simbolizada na ordem dos franciscanos, e consagrada nos valores do Vaticano II. A longa noite de repressão doutrinária imposta pelos papados de João Paulo II e Bento XVI, com o aggiornamento dos tribunais da inquisição, teria, desse ponto de vista, atingido um limite de exaustão conservadora na cúpula romana. Crises, escândalos e disputas autofágicas pelo poder entre falanges extremadas desencadearam assim dois movimentos de autopreservação na burocracia de Roma: a renúncia 'sanitária' de Bento XVI e a escolha de um tertius, um papa sulamericano, externo ao embate que corrói o Vaticano. O duplo  sinal inauguraria  uma espécie de 'abertura lenta, segura e gradual' no interior da igreja. A escolha do nome 'Francisco' pelo novo Papa foi entendida desse modo pela esperança progressista, como um aceno de moderação e retorno a um diálogo reprimido nas últimas décadas. Leonardo Boff, um dos expurgados pelo ciclo Ratzinger, assegura, por exemplo, que o nome escolhido por um Papa não é apenas um ornamento, mas encerra um projeto de Igreja. Isso é o que teria dito a fumaça branca emitida na quarta-feira, em Roma. Pode ser. Mas a ela seguiu-se uma fumaça sombria, densa, carregada de fumos de horror e dúvida. Uma delas condensa todas as demais: onde estava, e o que  fez  Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco I, entre 1976 e 1983, quando uma ditadura militar aterrorizante matou e desapareceu com 30 mil pessoas  em seu país? (leia nesta pag. as análises e reportagens de Eduardo Febbro, Dermi Azevedo e Martin Granovsky. Leia também o especial sobre a crise que resultou na renúncia de Bento XVI)

Marqueteiro do Vaticano deve ser o mesmo que o dos tucanos



Após o anúncio da escolha do cardeal Jorge Mario Bergoglio pelo Conclave do Vaticano para suceder Joseph Ratzinger – o agora “Papa Emérito” Bento XVI – sob o nome “Francisco”, formou-se, quase que imediatamente, um consenso até meio óbvio de que tal escolha busca combater o avanço dos evangélicos e da esquerda na América Latina, a região do mundo que – ainda – é a mais católica.
A tese que o Vaticano obviamente abraçou é a de que ter um líder da Igreja Católica oriundo desta parte do mundo poderá recuperar para si o imenso rebanho que veio perdendo através das últimas décadas para as igrejas evangélicas, como se essa desidratação do catolicismo tivesse ocorrido pela nacionalidade dos Papas João Paulo II ou Bento XVI e não por essa Igreja se manter presa a dogmas cada vez mais incompatíveis com a evolução política e ideológica dos povos latino-americanos.
Antes de analisar a estratégia católica, porém, alguns dados importantes.
O novo Papa é um descendente de italianos que foi escolhido no país mais italiano da América Latina, pois a Argentina foi o país da região que mais recebeu imigrantes italianos – estima-se que entre 1870 e 1970 entraram no país 2,9 milhões de italianos por lá, enquanto que o Brasil recebeu 1,5 milhão.
Só para se ter uma ideia de quão italiana é a Argentina, apesar de hoje o Brasil, com seus quase 200 milhões de habitantes, ter cerca de 25 milhões de descendentes de imigrantes italianos, a Argentina, com quase 40 milhões de habitantes, tem um contingente de descendentes de italianos bem menos miscigenado e que é mais ou menos o mesmo ou até um pouco superior.
E quanto ao perfil do novo Papa, é mais parecido com o de seu antecessor do que parece. Muitos apontaram a coincidência entre Bergoglio e Joseph Ratzinger por ambos supostamente terem tido vínculos com regimes ditatoriais e desumanos, respectivamente a ditadura argentina e o nazismo.
Ratzinger foi chamado de “nazista” por ter integrado a juventude hitlerista e Bergoglio é acusado de ter delatado esquerdistas ao regime militar argentino e até de ter se envolvido em “sequestro de bebês”.
Ambos se defendem da mesma forma. Enquanto Ratzinger e seus biógrafos alegam que ele integrava a juventude hitlerista porque na Alemanha, à época, era obrigatório, mas que nunca se filiou ao partido nazista, Bergoglio e os biógrafos dele alegam que após a prisão dos dois sacerdotes os quais é acusado de ter delatado, trabalhou nos bastidores para libertá-los intercedendo junto ao ditador Jorge Rafael Videla.
Quanto às ideias do atual Papa e de seu antecessor, o Vaticano trocou seis por meia dúzia. Ambos conservadores, ambos intransigentemente contrários aos direitos dos homossexuais, ao aborto etc., etc., etc.
O que resta de novidade no novo Papa, portanto, é a sua origem latina – apesar de ser mais italiano do que o antecessor, ainda que menos europeu –, um suposto ativismo social cujos resultados concretos ninguém sabe quais foram e uns tais “hábitos simples” como o de ter usado transporte público um dia, o que, convenhamos, parece muito pouco para ele se comparar – ou, vá lá, ser comparado – a São Francisco de Assis.
É nesse ponto que a escolha do novo Papa, assim como a do anterior, assume contornos bem parecidos com a estratégia que o PSDB vem adotando há muito, mas que se acentuou a partir da eleição presidencial de 2010: ir buscar apoio entre a parcela mais reacionária da sociedade, fenômeno que fez o partido apelar para os mesmos “valores” ultraconservadores como “família” e “direito à vida”.
O Vaticano com Bergoglio, portanto, parece estar inovando muito pouco em termos de estratégia política, e errando a mão em sua escolha.
Não só o PSDB, mas todos os grandes partidos que se desviaram para a direita – ou que sempre a integraram – na América Latina vêm tomando verdadeiras sovas eleitorais com o recurso a esse setor decadente e minguante das sociedades da região, o qual, com a crescente escolarização e ascensão social em curso por aqui, deve diminuir muito nos próximos anos.
O fato de o novo Papa ser latino, portanto, muito dificilmente fará os convertidos à fé evangélica retornarem ao seio da Santa Madre Igreja, pois não a deixaram devido ao Papa anterior ser europeu e sim porque sentem-se mais acolhidos pela nova fé que abraçaram, que, ao menos, não lhes parece tão distante de si quanto o catolicismo, mesmo que isso possa não ser verdade, ou que seja apenas parte dela.
E, politicamente, a latinidade de Bergoglio não fará a América Latina trocar o bem-estar e a ascensão social da maioria pobre da região proporcionados por governos progressistas para cair de cabeça na retórica sobre “corrupção” ou “valores familiares” que políticos conservadores como os do PSDB, do DEM etc. encamparam, pois tais “valores”, como bem sabem todos, não enchem barriga.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O PESO MATERIAL DAS IDÉIAS: BENTO & MERKEL


* Rafael Correa deve conquistar vitória esmagadora no Equador neste  domingo**desde 2006, a pobreza recuou 27% no país** governo  bombardeado pela mídia conservadora tem 70% de aprovação (leia mais nesta pág.)**Venício Lima: 'a Constituição dá ao Presidente da República instrumentos para regular a mídia. Basta cumprir' (leia a coluna nesta pág; e também o blog do Emir)**Corporações globais lutam pelo controle dos mercados pós-crise: fusões, aquisições e onda de inovações tecnológicas** intensifica-se a guerra de posições pelo domínio da economia pós-crise **E as Nações? Qual a margem de manobra do governo Dilmaleia mais aqui.


Não se deve subestimar o efeito irradiador da endogamia entre a ortodoxia  dos costumes e a desregulação da economia.  Embora declinante, a força simbólica do Vaticano jogou e joga um papel  significativo na engrenagem ideológica que sustenta o alicerce de uma unificação européia estruturada e comandada pela lógica mercadista. As mazelas delinqüentes cometidas no interior do Banco do Vaticano ilustram a funcionalidade desse matrimônio de opostos complementares. Sua força demolidora difundiu-se mundo afora na negação do humanismo e na desmoralização do Estado do Bem Estar Social pelos interesses sabidos. Tucanos brasileiros farejaram os ares bentos: em 2010, Serra defendia a desregulação do pré-sal e aliava-se ao bispo da Opus Dei, Dom Luiz Bergonzini, para demonizar a 'Dilma aborteira'. Nada se faz sem um pouco de fé  e algumas gotas de água benta. Para ser livre e desregulado o mercado precisa de lubrificantes imaginários. A sintonia entre Bento XVI  e Angela Merkel, por exemplo, escapa às análises convencionais da renúncia do papa. Mas foi premonitoriamente destacada em artigo escrito pelo professor José Luís Fiori para Carta Maior, em junho de 2009. Três anos depois, a história apertou o passo. O texto preserva sua atualidade. Como se aguardasse os acontecimentos para reiterar a aderência de um intercurso histórico.(Leia a íntegra nesta pág.; e também o Especial 'A História Secreta da Renúncia').

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O CONSISTÓRIO DO PÓS-CRISE


* RELIGIÃO, PODER E HEGEMONIA:  leia as análises  de Oscar Guisoni**José Luis Fiori ** Gustavo Gutierrez** Henrique Carneiro**Martín Granovsky (nesta pág.) Leia também: 'Bento XVI: Crise e Exaustão Conservadora (aqui ) 



Passados cinco anos de implosão da ordem neoliberal, o sistema capitalista está longe de dizer  'habemus papam'. Entre a austeridade imposta à Europa e a liquidez contracíclica dos EUA, seus cardeais ora parecem hesitar, ora ganhar tempo. Nesta 4ª feira, os dois lados da crise transatlântica convergiram para um meio fio que os elucida mais que todas as palavras e aparências.A ideia é criar um grande 'nafta' europeu/norte-americano, 'equivalente à metade da produção mundial' (leia a reportagem do correspondente em Londres, Marcelo Justo, nesta pág).O papel reservado a governos e Estados no processo é estrito: desregular; abrir espaços ao livre fluxo dos capitais e negócios. E seja o que Deus quiser. Externalidades como o custo em empregos, pobreza e desigualdade ficam a cargo do poder de ajuste e  convencimento dos respectivos centuriões locais. É uma corrida contra o tempo. E o Brasil não escapa ao tique-taque implacável dos ponteiros. Ou desencadeia um novo ciclo de investimentos com algum grau de racionalidade pública; ou a lógica selvagem das grandes corporações acabará modelando o futuro do país. Asfixiando-o na fumaça que anunciar : 'habemus papam'. (LEIA MAIS AQUI)

Internacional| 13/02/2013 | Copyleft 

EUA e União Europeia negociam livre comércio para enfrentar China

Em uma declaração conjunta, o presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy, o dos EUA, Barack Obama, e o da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, assinalaram que estão comprometidos a aprofundar uma relação transatlântica “equivalente à metade da produção global e a quase um trilhão de dólares anuais”. Na mira, está a China.

Londres - Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) anunciaram o início de negociações para a formação da maior zona de livre comércio do mundo. Em uma declaração conjunta, o presidente Barack Obama, o do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e o da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, assinalaram que estão comprometidos a aprofundar uma relação transatlântica “equivalente à metade da produção global e a quase um trilhão de dólares anuais”.

O anúncio foi acompanhado por uma solitária frase do discurso do Estado da União, proferido terça-feira à noite por Obama, quando ele anunciou o início das negociações “porque um comércio livre e justo é a base de milhões de postos de trabalho nos Estados Unidos”. Essa frase foi o ponto de partida que estavam esperando na Europa mandatários como a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron que se manifestaram em mais de uma oportunidade a favor de um tratado. “Eliminar as barreiras comerciais que restam para assegurar um amplo acordo não será fácil e exigirá valentia de ambas as partes, mas será amplamente benéfico”, disse Cameron, um dos primeiros políticos europeus a reagir ao anúncio.

Com um 2013 incerto à vista e o permanente desafio da Ásia no horizonte, a possibilidade de um Tratado de Livre Comércio é um dos poucos caminhos que os países desenvolvidos têm para sair no médio prazo da areia movediça deixada pelo estouro da crise financeira de 2008. Nos EUA estava claro quem era o principal competidor. “Os Estados Unidos e a União Europeia estão enfrentando o desafio global colocado pela China. Creio que a melhor maneira de combater esse desafio é nos unirmos”, assinalou Bill Reinsch, presidente do National Foreign Trade Council dos Estados Unidos, um grupo que promove o livre comércio.

Um caminho cheio de pedras
O potencial é indiscutivelmente imenso. Segundo algumas estimativas, os intercâmbios comerciais e de serviços chegam a cerca de US$ 3 bilhões diários. As tarifas alfandegárias são baixas – uma média de 3% -, mas sua eliminação em um intercâmbio tão massivo suporia um gigantesco estímulo e uma significativa poupança que poderia ser dirigida para o consumo doméstico, um setor que precisa de estímulo dos dois lados do Atlântico apesar do sobreendividamento ocorrido na década passada do dinheiro fácil.

Não resta dúvida que ambas as partes precisam disso. Enquanto Ásia, América Latina e África tem uma respeitável perspectiva de crescimento para este ano, a União Europeia, com o marasmo da zona do euro, o gigantesco endividamento e os programas de austeridade, está lutando para evitar a recessão, enquanto que os Estados Unidos sofreram uma contração no último trimestre do ano passado e necessitam um crescimento menos esquelético que o atual para recuperar o terreno perdido.

O reiterado fracasso da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que começou em 2001 depois dos atentados contra as torres gêmeas e teve uma tentativa de retomada em 2011, é parte do plano de fundo desta busca de acordos bilaterais que se multiplicaram nos últimos anos. Mas os obstáculos para uma zona de livre comércio EUA-UE também são gigantescos. Se o anúncio de Obama foi música da Merkel e Cameron, o som foi um pouco mais dissonante para o presidente da França, François Hollande, sempre preocupado com qualquer ameaça aos subsídios agrícolas que equivalem a quase 40% do orçamento europeu.

O tema agrícola – que atravancou a negociação de um tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia – não é o único obstáculo. Um verdadeiro pesadelo é a harmonização regulatória das indústrias automotriz, farmacêutica, alimentar e de brinquedos em ambos os lados do Atlântico. Esta harmonização é tão complicada que não está inteiramente resolvida no interior dos 27 países que compõem a UE. Outro caso que promete longas batalhas diz respeito aos alimentos geneticamente modificados que enfrentam fortes obstáculos na Europa.

O fantasma do Mercosul-UE
A brevidade do anúncio de Obama – uma única frase com um infinito potencial – pode se dever a que não havia muito mais o que dizer ou a que, segundo a imprensa estadunidense, o grupo da UE e dos EUA que está trabalhando sobre o tema só pode dar a luz verde na própria terça-feira, poucas horas antes do discurso do presidente. Esse grupo discutiu durante mais de um ano para ver se as negociações serão para chegar a um acordo limitado a tarifas alfandegárias ou a um acordo mais amplo, cobrindo meio ambiente, agricultura, indústria farmacêutica e automobilística.

Os pessimistas assinalam que uma negociação de fundo levará anos. O modelo Mercosul-UE é um exemplo das dificuldades. No final de 1995, ambos firmaram um Acordo Marco Interregional (AMI), passagem prévia a um Tratado de Associação, baseado no livre comércio, na cooperação e no diálogo político. Dezoito anos depois está claro que o livre comércio foi a tumba do assunto, apesar do que, na última sessão plenária da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em dezembro, a presidenta argentina, Cristina Fernández, apoiou uma aceleração das negociações com a União Europeia, desde que se “fale de igual para igual”.

Segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade de Nottingham, Andreas Bieler, a crise econômica mundial, que pode complicar a negociação EUA-UE, poderia também acelerá-la, sobretudo quando o fantasma asiático está batendo à porta dos países desenvolvidos. “Este tipo de competição com a China pode empurrar para um acordo, apesar de que em muitas áreas ainda não há uma competição direta com a China que tem muito mais comércio em exportações baratas, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia estão mais centrados em produtos mais sofisticados”, disse Bieler à Carta Maior.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer