Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 12 de julho de 2011

O MÉTODO MURDOCH DE JORNALISMO: SOA FAMILIAR? Já que não dá para queimar o arquivo,acaba-se com ele.Muito pior é feito por aqui.


"...Nos Estados Unidos, a News Corporation de Murdoch conseguiu crescer graças ao apoio político para dobrar várias leis de restrição ao monopólio na mídia. Murdoch é dono de dois jornais diários e uma TV no mercado nova-iorquino, algo impensável há 30 anos (...)Com a vitória de Barack Obama, em 2008, (...) viu uma oportunidade para investir pesado num elenco de talking heads de direita e contratou um punhado de aspirantes à presidência, de Sarah Palin (não declarada) a Mike Huckabee (desistiu de concorrer, encantado com a afluência permitida pelo salário na TV).O público americano deve à Fox a campanha bem-sucedida para identificar o plano do seguro-saúde do governo Obama como uma conspiração para destruir a liberdade individual(...)O governo Obama atravessa um verão pantanoso de desemprego resistente às conhecidas medidas de estímulo, a batalha pelo déficit e um desencanto dos democratas pelas promessas não cumpridas. Murdoch e seus asseclas farejam sangue e são mestres em cortejar os porões do descontentamento da classe média branca, desviando atenção para temas como religiosidade e conservadorismo social..." (Lucia Guimarães; no Estadão de 11-07, sobre o magnata da mídia conservadora, Rupert Murdoch, detentor do maior conglomerado midiático do planeta, que acaba de fechar o sensacionalista 'News of the World',de Londres, após denúncias de espionagem praticada pela redação contra políticos, personalidades e cidadãos comuns)
(Carta Maior; 3º feira 12/07/ 2011)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Wall Street e o Pentágono re-dividem o mundo-Nova repartição colonial do mundo


por Mauro Santayana

A Europa e os Estados Unidos, com sua ação contra a Líbia, buscam voltar ao século 19, e promover nova repartição colonial do mundo. Na realidade, não houve  independência efetiva das antigas colônias. Mediante os artifícios do comércio internacional, e, sobretudo, da circulação de capitais, a dependência econômica e política dos paises periféricos permanece. Nos últimos vinte anos, com a globalização neoliberal, o domínio dos paises centrais se tornou ainda maior. Razão teve Disraeli, o controvertido homem de estado britânico, ao dizer que as colônias não deixam de ser colônias  pelo simples fato de se declararem independentes.


Esse domínio indireto por si só não lhes basta: querem retornar ao estatuto colonial escancarado. Ao perceberem os sinais de insurreição geral dos povos contra a opressão de seus prepostos, tomam a iniciativa da repressão preventiva. A doutrina da preemptive war de Bush continua vigendo, e é agora aplicada pela França e pela Grã Bretanha,  sob solerte delegação de Washington. Os norte-americanos bem intencionados, que votaram em Obama, descobrem que não podem mudar o sistema mediante o processo eleitoral. Como o grande presidente republicano – e o mais importante militar do século passado – Eisenhower denunciara e previra, quem domina o sistema é o “complexo industrial-militar”, hoje com o mando repartido entre o Pentágono e Wall Street.


O presidente Obama se assemelha, a cada dia mais, aos Bush. Embora seu objetivo final seja o mesmo, ele cuida de falar macio na América Latina, enquanto açula  seus aliados contra a Líbia, no movimento da reconquista imperial do Norte da África. Tal como Tony Blair, no caso do Iraque, Cameron se dispõe ao dirt job. Conforme o semanário alemão Focus, comandos britânicos já operavam na Líbia  semanas antes da oficialização da aliança.


O movimento pela re-colonização, por parte das antigas metrópoles, se desenvolve pari-passu com a globalização. E obedece ao  discurso hipócrita de que, fora dos padrões católicos e protestantes da civilização ocidental, todos os povos são bárbaros e incapazes de autogoverno. A realidade é bem outra: a fim de manter o nível de conforto e de consumo dos países centrais, é necessário usar todos os recursos naturais e humanos da periferia. O espaço asiático de saqueio, no entanto, se estreita com o aumento da população e de consumo conforme os padrões ocidentais – e o crescimento da China. Mas há ainda o gás e o petróleo do Cáspio, pelos quais os americanos buscam controlar o Afeganistão e ameaçam o Irã. Manter os mananciais petrolíferos do Oriente Médio e do Norte da África é, em sua visão, essencial – apesar de seu discurso hipócrita sobre o meio-ambiente. A mesma hipocrisia se revela na declaração de que não querem atingir Kadafi: seu complexo residencial foi atacado pelos mísseis de Obama, da mesma forma que Reagan o fez, em 1986, matando uma filha do dirigente líbio.


Ao mesmo tempo, é-lhes conveniente assegurar o suprimento de minerais e de alimentos, da América Latina e da África Negra. Ameaçados pela penetração dos chineses no continente africano, eles estão dispostos a jogar tudo, para a restauração de seu antigo domínio. E não faltam os sócios menores, os sub-empreiteiros do  colonialismo, como os espanhóis e os italianos. Os espanhóis, nessa nostalgia de Carlos V e Felipe II, se unem a Obama, a Cameron e a Sarkozy. Não há diferença entre Zapatero e Aznar: os dois são o mesmo, no esforço pela Reconquista da América do Sul. Os italianos são menos insistentes: sabem que com a queda de Kadafi, a Líbia não lhes será devolvida.


Os neocolonialistas tentam aproveitar-se de uma rebelião sem idéias, embora justa, contra a corrupção e o poder ditatorial nos países árabes. Mas seu êxito não é certo.


(Continua amanhã).

Tragédias Americanas


Com ou sem 11/09, às vésperas de completar sua primeira década, os ciclos de confrontação norte-americanos revelam muito mais inimigos internos do que externos à democracia nacional. Neste contexto, Gabrielle Giffords é mais um símbolo das tensões pelas quais passam os EUA, e que não se consistiu na primeira, e nem será a última, destas, cada vez mais recorrentes e diversas, tragédias norte-americanas. Opositores de políticas sociais, do aborto à educação sexual, à ação afirmativa, confrontam-se não só nas cortes de justiça, mas frontalmente em piquetes, ameaças de morte e ataques reais. Estamos diante de nova Guerra de Secessão que poderá ter o resultado oposto, o da regressão? O artigo é de Cristina Soreanu Pecequilo.

Logo no início de 2011, os Estados Unidos (EUA) vivenciaram mais um episódio de violência em sua história política: o tiroteio na cidade de Tucson, Arizona, ocorrido no estacionamento de um supermercado no qual se realizava um encontro (o “Congresso em sua Esquina”) entre eleitores e a deputada democrata reeleita pelo estado, Gabrielle Giffords. Até o dia 9 de Janeiro, o ataque vitimara seis pessoas (incluindo um juiz federal republicano John Roll), enquanto outras doze, incluindo Giffords, permaneciam internadas. 

Em 2010, o comitê de Giffords fora invadido durante a campanha, assim como a deputada recebera fortes críticas do candidato da oposição republicana, apoiado pelo Partido do Chá, Jesse Kelly. Kelly, em algumas declarações reproduzidas depois do atentado pelas agências de notícias (EFE, 09/01/2011), havia afirmado ser necessário “disparar um rifle automático M16 com Jesse Kelly” contra Giffords. Além disso, a deputada fora incluída em uma lista de vinte democratas, divulgada por Sarah Palin, que deveriam ser derrotados no pleito de meio de mandato. Bastante criticada, esta lista trazia representações gráficas destes candidatos como alvos de armas de fogo. No caso de Giffords, sua candidatura estava “na mira” por suas posições favoráveis à reforma de saúde de Obama e moderadas na imigração. 

Tema controverso no Arizona, definido como “cenário de guerra” entre “os americanos e os outros” pelo governo republicano de Jan Brewer, a imigração e o tratamento dado a ilegais esteve (e está) no centro de uma disputa jurídica entre o Arizona e o governo federal. No núcleo da disputa, a lei estadual de 2010 que permitiria às autoridades do estado abordar, interrogar e deportar pessoas suspeitas de serem imigrantes ilegais. Estas recomendações eram inspiradas pelo “Ato Patriota”, editado em 2001, depois dos atentados de 11/09, com medidas de exceção para lidar com possíveis terroristas, ultrapassando limites de direitos civis.

Guardadas as proporções, o ataque a Giffords não pode ser resumido a estas divergências sobre imigração ou sistema de saúde, ou encarado de forma isolada. Também é possível que nas semanas subsequentes ao tiroteio desconstrua-se a hipótese inicial de que Giffords fora o alvo, ocorrendo um esvaziamento natural do caso. Mesmo assim, é fundamental que não se subestime ou esqueça o ocorrido. Motivações diversas, que perpassam o tecido social norte-americano, e que representam sentimentos de inadequação social, perda de lugar no mundo, medo da diferença, valorização da força, culto às armas e a paradoxal junção nacionalismo-antigoverno, permeiam mais este episódio. Seja na esfera política, como na social, a válvula de escape norte-americana é representada por eclosões periódicas de violência. 

Representadas por eventos diferentes estas manifestações possuem a mesma raiz: a insatisfação dos que perpetram a violência com o que percebem como violações do modo de vida americano e que desejam a volta a um passado idealizado republicano no qual cada um era responsável por sua vida, segurança, educação e religião. A intervenção do Estado na vida do cidadão, as teorias conspiratórias que opõem o homem simples a um Executivo poderoso e onipresente, alimentam a polarização que conforma a agenda dos radicais do chá, atravessando grupos de interesse, movimentos religiosos e o cotidiano. Parafraseando a Declaração de Independência, nos EUA de hoje, alguns setores tentam difundir a ideia que a maioria dos norte-americanos está sendo pressionada a desistir de sua “busca pela felicidade e prosperidade” por culpa do Estado e, no extremo, por culpa de seu vizinho, principalmente se ele for representante de qualquer minoria, social, racial, étnica ou religiosa. Frente a esta ameaça permanente, aos inimigos deve-se oferecer a resistência.

Dentre os mais significativos eventos que se inserem neste quadro de “resistência” podem ser lembrados: Waco 1993, quando a confrontação entre autoridades federais (FBI, Guarda Nacional e ATF- Álcool, Tabaco e Armas de Fogo) e a seita religiosa liderada por David Koresh, resultou em um massacre de civis que resistiam ao cerco federal; Oklahoma City, 1995, atentado contra prédio federal realizado, oficialmente, por Timothy McVeigh, ligados a grupos fundamentalistas brancos; Columbine, 1999, quando os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold dispararam contra seus colegas e professores. 

Desempregados invadiram empresas nas quais trabalharam atirando contra pessoas com as quais conviveram, colégios sofreram ameaças similares a Columbine, seitas religiosas e grupos fundamentalistas fecharam-se em comunidades armadas, em exemplos que se não ganharam a mídia como seus antecessores, repetem-se. Opositores de políticas sociais, do aborto à educação sexual, à ação afirmativa, confrontam-se não só nas cortes de justiça, mas frontalmente em piquetes, ameaças de morte e ataques reais. Na arena política, poucos são os que desconhecem o assassinato dos Presidentes John Kennedy Jr em 1963, Abraham Lincoln 1865, William McKinley, 1901 (o atentado a Ronald Reagan em 1981), e de políticos como Robert Kennedy em 1968. Pela internet e pela mídia tradicional, o radicalismo, de ambos os lados, prevalece, sem deixar de mencionar a relativa apologia de filmes e livros com estes episódios de violência e a dramatização acrítica (e até romântica-idealizada) de indivíduos como serial killers e líderes de seitas e movimentos sectários, dentre outros. 

No caso de Lincoln, pelo menos, o contexto era o da Guerra de Secessão (1861/1865), da confrontação entre o capitalismo industrial do Norte e a economia escravagista e agrária do Sul, representativa de uma guerra fratricida que levou à união nacional via modernização. Estamos diante de nova Guerra de Secessão que poderá ter o resultado oposto, o da regressão? De certa forma sim, uma vez que a reorganização social-econômica leva ao incremento da violência. Violência esta que, na realidade, sempre esteve presente no tecido social, mas que era tornada a exceção e não a regra, via sistema político e legitimação de políticas de inclusão e respeito à convivência mútua realizadas pelo Estado com o consentimento da população ou, quando necessário, pela imposição da legalidade (bastando lembrar nos anos 1960 quando o governo federal teve que intervir diretamente em estados do sul do país que se recusavam a respeitar as políticas de igualdade racial).

As reações ao atentado de Tucson, e a muitos dos episódios aqui rapidamente lembrados, revelam estes sintomas de divisão e o esgotamento do consenso anterior: enquanto observaram-se fortes condenações ao tiroteio, principalmente dos democratas e da Casa Branca, os críticos como Palin manifestaram suas condolências timidamente, e reações de apoio ao atirador puderam ser encontradas com preocupante frequência. Estas movimentações fazem parte do declínio e mudança com os quais o país não consegue lidar, e que leva à externalização de seus problemas por meio de ações econômicas e políticas unilaterais, independente do governo, e às guerras (Iraque, 1991, 2003, Afeganistão, 2001). 

Com ou sem 11/09, às vésperas de completar sua primeira década, os ciclos de confrontação norte-americanos revelam muito mais inimigos internos do que externos à democracia nacional. Neste contexto, Giffords é mais um símbolo das tensões pelas quais passam os EUA, e que não se consistiu na primeira, e nem será a última, destas, cada vez mais recorrentes e diversas, tragédias norte-americanas.

(*) Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Santayana e a tragédia: por que há esperança



Para  mim , é um orgulho muito grande pertencer a uma nação, onde brilha uma estrela de máxima grandeza e sublime luz , capaz de ,  suave e humanamente , nos lembrar-mos que, devemos sim  semear, a paz , concórdia e união , mesmo onde o solo parece áspero e estério. 

Obrigado Mauro Santayanna.

Os americanos associam Murdoch, dono da Fox (a Globo de lá), ao atentado de Tucson

Conversa Afiada aconselha a leitura sempre inteligente de Mauro Santayana.

Especialmente ao Ali Kamnel, o mais poderoso Diretor de Jornalismo da História da Globo.

Kamel parecia, ontem, determinado a destruir a imagem o Presidente Lula, como tentou na eleição de 2006 (clique aqui para ler “o primeiro Golpe já houve; falta o segundo”)  e no Golpe do “Caosaéreo” – clique aqui para ler “Lula deveria exigir direito de resposta à Globo”).

Santayana, suave e profundo, cura esses males.

Se o paciente estiver disposto a curar-se.

Ainda há esperança


AS DUAS TRAGÉDIAS desta semana, a de Tucson e a da Serra do Mar, trazem, em todo o seu horror, a centelha da esperança. Os fatos do Arizona, embora tenham custado muito menos vidas, conduziam presságios piores.


Os desastres naturais, ainda que se devam, em parte, à imprevidência dos homens e dos estados, não podem ser imputados à vontade desse ou daquele agente. A vida é uma concessão fugaz de razões imperscrutáveis que fizeram surgir tempo e espaço e, neles, essa fantástica aventura da energia convertida em matéria e dotada da consciência de si mesma. As tempestades, os vulcões, terremotos, ciclones – e prováveis impactos de asteroides – escapam de nosso controle.  Diante deles, nossa impotência se converte em força e coragem, como nos revelam os belos atos de solidariedade destas horas de luto e pranto.


Nos Estados Unidos, embora de forma ainda tímida, começa a reunir-se a consciência da necessidade de convívio mais civilizado entre os interesses políticos e econômicos, que sempre se aproveitam dos piores sentimentos para impor-se à sociedade. Ali, a extrema-direita se move contra a assistência médica universal e os imigrantes pobres. O discurso de Obama, convocando a união, foi acolhido com respeito.


Mas o ódio que se construiu e se manifestou de forma quase absoluta, nos anos 30 e 40, está, mais uma vez, de volta, e ensandecido, como revelam os atos do Tea Party, de Sarah Palin, Karl Rove e Murdoch. Nos últimos 65 anos, depois que o Julgamento de Nuremberg espantou o mundo com a ideologia do Terceiro Reich, que juntava baderneiros aos grandes banqueiros, temos lutado, com algum êxito, contra a nova barbárie, mas não conseguimos dela nos livrar.


O ódio ao outro permanece, e sofremos em ver que, em alguns casos, as vítimas de ontem se transformam em cruéis perseguidores de hoje. Sim, pensamos na Palestina. Todos os homens teriam que visitar, pelo menos uma vez na vida, os campos de concentração que ainda restam de pé.


Mais do que isso: deveriam ser de leitura obrigatória os relatos dos sobreviventes desses espaços de ódio convertido em razões de estado. Um desses inquietantes depoimentos é o de Robert Antelme, La espèce humaine. A mais clamorosa de suas experiências foi descobrir, em um relâmpago da consciência, que os seus algozes pertenciam à mesma e única espécie humana.


“O reino do homem – diz Antelme – não cessa. Os SS não podem mudar nossa espécie. Eles mesmos são fechados na mesma espécie e na mesma história”. E em outro momento forte, Antelme, resistente francês – e não judeu – reduz o SS a um ponto minúsculo no sistema, “encerrado, ele também, dentro do arame farpado, condenado a nós, fechado dentro de seu próprio mito”.


O Brasil, representado pela decisão da chefe de Estado, se une na busca dos mortos e feridos nas encostas de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Todos os nossos recursos, humanos e materiais, serão empregados no Rio de Janeiro, de acordo com a decisão da presidente Dilma Rousseff. Essas providências, é certo, serão tomadas também nas áreas atingidas em outros estados, como os de São Paulo e Minas.


É mais fácil sepultar as vítimas dos desastres naturais do que as da bestialidade dos próprios homens. Os enviados para as câmaras de gás e os fornos crematórios dos lager nazistas – judeus, comunistas, eslavos, ciganos – continuam insepultos, ainda que convertidos em cinzas, como insepultos continuam os negros assassinados pela Ku-Klux-Kan, os líderes políticos como Gandhi e Allende, as vítimas de Tucson – e os brasileiros mortos em tempo que não se afasta de nossa memória dilacerada.


Apesar disso, não puderam assassinar a esperança. Enquanto formos capazes de remover os escombros, neles encontrar vidas, e chorar pelos estranhos, seremos também capazes de combater o ódio e as injustiças, para a salvação da nossa espécie.

Na mira do sonho americano


Samuel Johnson, autor inglês da segunda metade do século XVIII, disse que o patriotismo era o último refúgio do canalha. Sua sentença se aplica bem ao caso da extrema direita estadunidense. Ninguém duvida da safadeza de personagens como Sarah Palin e alguns pseudo-jornalistas, mas agora se tem a conexão direta com o super patriotismo homicida. É importante não esquecer que no Arizona já existia um ambiente político protofascista que literalmente tem os imigrantes latinos na mira. A direita e seus aliados nos meios de comunicação foram o motor do clima de ódio que impera não só no Arizona, mas em muitos outros estados dos EUA. O artigo é de Alejandro Nadal.
O portal de internet do comitê político de Sarah Palin incluía Gabrielle Giffords, a parlamentar do Arizona, na lista dos 20 membros do Congresso que tinham aprovado a legislação de Obama sobre a saúde. Não era uma lista qualquer. Os nomes apareciam abaixo de um mapa, a cujos estados esses parlamentares pertencem, marcados com a típica cruz de mira telescópica de um rifle. Na parte superior do mapa havia outra legenda belicosa, em que se faz alusão à necessidade de resistir. 

A que se deve resistir, senhora Palin? Resposta: a nada menos que a marcha secular em direção ao socialismo que a administração Obama quer impor aos Estados Unidos. Assim mesmo: há uma marcha secular em direção ao socialismo e Obama é o artífice dessa transformação. Essa retórica foi referência repetida de Palin e de outros safados da extrema direita nos Estados Unidos. 

Desde que apareceu o mencionado mapa no portal da senhora Palinwww.palinpac.com muitas pessoas notaram essa incitação à violência. Mas nem Palin, nem os seus seguidores fizeram algo para mudá-la ou para modificar o tom da retórica utilizada para designar os seus opositores políticos. A senhora Palin introduziu seu mapa dos 20 parlamentares democratas malvados no twitter, com a frase: “Não retrocedam! Ao contrário, recarreguem!”.

Hoje a representante Giffords luta para sobreviver num hospital de Tucson, depois que um fanático disparou contra ela, na cabeça, em 8 de janeiro, no momento em que a parlamentar levava a cabo uma reunião destinada a entrar em contato direto com seus eleitores. O assassino matou 6 pessoas (inclusive uma criança de 9 anos) e feriu outras 14. Pode ser que o homicida Jared Loughner seja uma pessoa perturbada mentalmente, mas isso não elimina a conexão com o discurso da incitação à violência utilizado por Palin e muitos políticos que mantém posições conservadoras nos Estados Unidos. 

O opositor de Gifford no mesmo distrito eleitoral em 2010 é Jesse Kelly, membro da extrema direita do Partido Republicano. É provável que este personagem seja quem mais longe foi na incitação à violência. Sua marca de campanha no ano passado incluía a convocatória a um ato com estas palavras: "Dê a vitória em novembro ao branco. Ajude a retirar Gabrielle Giffords de seu posto. Dispare um M16 automático com Jesse Kelly". O quadro mostrava o político, um ex-marine, com seu uniforme de campanha, empunhando seu querido fuzil.

A militarização da retórica eleitoral nos Estados Unidos não é casualidade. Em meio a sua pior crise econômica em sete décadas, o país cada vez afunda mais numa trajetória de decadência. Seu setor financeiro, outrora orgulho de seu desempenho econômico, foi o epicentro dessa crise. Hoje a triste recuperação promete altos níveis de desempenho para muitos anos. A desigualdade econômica se parece cada vez mais com a de um país subdesenvolvido, dominado por uma oligarquia feroz. A extraordinária concentração de riqueza vai de par com a deterioração do sistema educativo em todo o país. Por último, os desequilíbrios macroeconômicos que marcam a economia estadunidense não são só um problema doméstico, mas, dado o papel chave do dólar no sistema internacional de pagamentos, pioram a dor de cabeça da economia mundial. 

O senhor Loughner provavelmente não tem ideia desses problemas. Em seu delírio, pensa que só atua defendendo o Sonho Americano que a senhora Palin reclama para si com tanta insistência. Equivoca-se. O paradoxo é que a deputada Giffords não era a única na mira da nova extrema direita estadunidense. O principal alvo desse movimento é precisamente toda a geração de Loughner, uma geração golpeada e condenada a viver sem educação, sem a promessa de um emprego bem remunerado e estável, sem serviços de saúde adequados. Uma geração perdida que nunca poderá aspirar a um melhor nível de vida. Seu sacrifício é para que uma pequena minoria de privilegiados possam viver o sonho americano, sem sonhar com mais nada. 

Samuel Johnson, autor inglês da segunda metade do século XVIII disse que o patriotismo era o último refúgio do canalha. Sua sentença se aplica bem ao caso da extrema direita estadunidense. Ninguém duvida da safadeza de personagens como Palin e alguns pseudo-jornalistas, mas agora se tem a conexão direta com o super patriotismo homicida. 

Só que não há que se esquecer que no Arizona já existia um ambiente político protofascista que literalmente tem os imigrantes latinos na mira. A direita e seus aliados nos meios de comunicação foram o motor do clima de ódio que impera não só no Arizona, mas em muitos outros estados. Afinal de contas, como disse Soljenitsin, todo aquele que proclama como método a violência inexoravelmente deverá eleger a mentira como princípio.

(*) Alejandro Nadal é economista, professor pesquisador do Centro de Estudos Econômicos, no Colégio do México. Colaborador do jornal La Jornada.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Tucson e Cerra: a retórica da violência gera violência


Enquanto os Estados Unidos choram os mortos do atentado político de Tucson, no Arizona, o New York Times publica reflexões sobre a relação entre violência e o discurso violento da política.

O Brasil acaba de assistir a uma campanha presidencial em que, nunca dantes na história deste país, um candidato fez o que José Serra fez.

Usou uma linguagem e um método que traziam no ventre a agressividade, a violência e a irracionalidade.

E a “calhordice”, expressão que Ciro Gomes usou para se referir à tentativa de associar a presidenta Dilma Rousseff à pratica indiscriminada do aborto (embora a mulher dele, Cerra, tenha feito aborto no Chile). 

A campanha de Serra caiu no colo da extrema-direita – clique aqui para ler o que disse sobre isso o professor Wanderley Guilherme dos Santos -, e trouxe para as ruas a mais reacionária facção da Igreja.

O Papa, de sapato Armani, desembarcou na Móoca.

Serra insuflou – através do PiG (*) – o preconceito contra o nordestino faminto, responsável pela votação na Dilma.

Deu no que deu.

Serra perdeu.

Recebeu a alcunha de Padim Pade Cerra.

E disparou o gatilho do racismo e xenofobia na internet.

De volta a Tucson.

E à ligação intrínseca entre a linguagem política que incita à violência e a violência propriamente dita.

Este ansioso – clique aqui para ler “Comparato e o que fará o Advogado geral da Dilma ?” – blogueiro recomenda dois textos memoráveis sobre essa questão.

O de Timothy Egan – “A Política de Tombstone”

Tombstone é uma cidade que fica também no Arizona e se imortalizou por assistir a inúmeros tiroteios de faroeste, entre eles o especialmente famoso “Gunfight at the OK Corral”.

Wyatt Earp (Burt Lancaster) e Doc Holliday (Kirk Douglas) fizeram um filme impecável sobre o episódio.  

Egan transporta para o OK Corral a tragédia da deputada Gabreille Giffords, que começou a ser perseguida quando votou a favor da Reforma da Saúde de Obama, e quase morreu porque se opôs a parte e, não, a toda a legislação contra os imigrantes que o Arizona baixou. 

Egan tem uma frase memorável (jornalistas americanos têm a mania de saber escrever … No PiG (*), se passarão cem anos até que um colonista (**) produza algo comparável):

“ … uma nação dividida tem a oportunidade de meditar sobre o que acontece quando as palavras são usadas em lugar das armas e as armas são usadas em lugar das palavras (ênfase minha – PHA).”

O Premio Nobel de Economia Paul Krugmam – é um caso raríssimo de economista que sabe escrever (sem falar dos jornalistas de economia …) trata de outra questão que tem a ver com o Brasil.

Os propagadores do ódio e do preconceito ocuparam a tevê e o rádio nos Estados Unidos, observa Krugman.

Aqui também.

Ocuparam o PiG (*).

Lá, o exemplo mais exuberante é o da Fox, do australiano naturalizado americano Rupert Murdoch, um arqui-reacionário que infestou o ambiente político da Austrália, da Inglaterra e, mais recentemente, dos Estados Unidos.

É a Globo deles.

Todos os colonistas (**) da Fox, de manhã à noite, pregam a intolerância, a xenofobia e o preconceito contra os trabalhadores – e seus representantes políticos.

Como na Globo.

Na Fox, de manhã à noite, colonistas (**) de voz alta e cabelo engomado berram contra os pobres e Obama.

Krugman cita David Frum, que foi redator de discursos para o Bush:

“Antes, os Republicanos (tucanos) achavam que a Fox (Globo) trabalhava para eles. Agora, os republicanos (tucanos) descobriram que trabalham para a Fox (Globo).”

Pano rápido.

Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Gaspari exige que Serra se salve do "galope em direção ao nada"




O jornalista Elio Gaspari, colunista da Folha de S.Paulo e de O Globo, deixou claro que não está nada satisfeito com os rumos da campanha presidencial de José Serra (PSDB). No artigo “O modelo ‘Serra Palin’ emborcou”, publicado nesta quarta-feira (18), Gaspari dispara críticas — como é de seu hábito — ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à candidata Dilma Rousseff e ao que chama de “aparelho petista”. Mas a decepção com Serra é que dá o tom de sua impaciência.

Por André Cintra

“Enquanto John McCain, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, tirou da cartola Sarah Palin, uma governadora do Alaska, desconhecida, feroz e simpática, o candidato tucano, que o país conhece há décadas, apresentou-se como algo que nunca foi. Pior: pelo que se suspeita, apresenta-se como algo de que o eleitorado não precisa”, choraminga Gaspari.

O pretexto para seus petardos é a vantagem aberta por Dilma sobre Serra nas intenções de voto detectadas pelos principais institutos de pesquisa — Ibope, Datafolha e Vox Populi. Na opinião do colunista da Folha e do Globo, a mudança de tática do presidenciável tucano culminou na derrocada.

“Serra lançou-se candidato com um discurso de unidade nacional, por um Brasil que ‘pode mais’, apimentado com um toque moralista (‘meu governo nunca cultivou roubalheira’). Em poucos dias arquivou a proposta de unidade e serviu a pimenta”, escreve Gaspari — que faz questão de isentar até os marqueteiros da campanha, cobrando Serra diretamente: “Os desastres raramente derivam de estratégias ou astúcias da marquetagem. O fator decisivo, por incrível que possa parecer, sempre sai da essência da candidatura”.

Gaspari se invocou ainda mais com a artimanha barata da campanha Serra de chamar o candidato de “Zé” na propaganda eleitoral da TV. Nas páginas dos jornais da grande mídia que mais lhe apoiam, o tucano toma a reprimenda: “Tentando ser o que nunca foi, (Serra) deixou de informar quem pretende ser como presidente da República. O coroamento desse galope em direção ao nada poderá se cristalizar numa tentativa de metamorfose num hipotético ‘Zé’, eco aziago da transformação de Alckmin no ‘Geraldo’ da campanha de 2006.”

Todos os erros de um lado só

O artigo mostra o óbvio: a campanha Serra falhou ao subestimar a transferência de votos de Lula para Dilma. “É verdade que os 78% de popularidade de Nosso Guia lhe permitem esse luxo, mas esse dado está na equação política nacional desde o final do ano passado, quando ele atravessou a crise financeira com leves escoriações.”

Num dos trechos mais salientes do artigo, o colunista apela à metafísica para intuir que os ventos da sorte podem passar de uma campanha para outra — de Dilma para Serra. “Afinal de contas”, teoriza Gaspari, “não se pode supor que, numa campanha eleitoral, só um dos lados cometa todos os erros durante todo o tempo”.

A conclusão do texto mostra que o colunista tem realmente a pretensão de ditar os novos rumos da campanha demo-tucana. “Em março, ao deixar o governo de São Paulo, Serra lembrou-se de Guimarães Rosa: ‘Mestre não é quem ensina, mestre é quem, de repente, aprende’”. Se aliados e marqueteiros da campanha não conseguiram colocar Serra nos trilhos, Gaspari conseguirá?

terça-feira, 20 de julho de 2010

O SONHO SOCIAL-DEMOCRATA ACABOU E FOI FHC QUEM LEVOU O PSDB AO ÍNDIO DA COSTA E À EXTREMA-DIREITA

Do Blog Educação Política
A responsabilidade pela presença de Índio da Costa (deputado do DEM já apelidado de Sarah Palin, vice republicana nas últimas eleições dos
EUAS e que representa a ala mais conservadora) como vice de José Serra é
de Fernando Henrique Cardoso e remonta à eleição de 1994. Fernando
Henrique é o grande articulador que colocou o PSDB na extrema-direita.

O PSDB era para ser um partido como o próprio nome diz, social-democrata, mas o destino diz lhe reservou outra posição na
política. Em 1994, ao articular uma aliança com os setores mais
conservadores e atrasados do Brasil, muitos crescidos na política à
sombra da ditadura militar, FHC (que traiu os que lutavam contra a ditadura) jogou o PSDB no caminho da
extrema-direita. FHC estava interessado em poder, em ser presidente da
República, e sacrificou o PSDB para isso. O governo de Fernando Henrique
foi um governo dos sonhos do DEM, com desemprego, concentração de
renda, liberalismo exacerbado, privatizações e pressão intensa contra as
conquistas sociais da população, seja no campo do trabalho ou do
bem-estar social. Depois de FHC, o PSDB criou uma identidade próxima ao
DEM. Além disso, o crescimento do PT em todo o Brasil fez com que os
dois partidos não pudessem mais se separar.

O PSDB sonhou um dia em ser o que o PT é hoje, um partido liberal-democrata com um viés social. O PT está completamente integrado
ao liberalismo e isso irrita profundamente os tradicionais ideólogos do
PSDB. Esse deveria ser o papel do PSDB, mas a aliança os 16 anos com o
DEM (ex-Arena, PDS, PFL) provocou um amálgama ideológico inseparável.
Atualmente não é possível saber se José Serra é mais ou menos à direita
do que Sarah Palin ou Índio da Costa. Acusar o estado Boliviano de
traficante, acusar o PT de ligação com às Farcs, narcotráfico etc mostra
que não há política públicas para o país, mas fantasmas. O DEM é o
fantasma do PSDB e o sonho social-democrata acabou, se é que um dia
existiu. (Glauco Cortez)