Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A mais nova prova histórica das armações da imprensa contra Lula

folha lula
 eduguim
A grandiloquência da manchete principal de primeira página da edição da Folha de São Paulo de 16 de outubro de 2015 sugeriu ao leitor uma grande revelação sobre o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, a matéria era mentirosa. A manchete, falsa. Uma “bala de festim”. E não, não é um “petralha” quem diz isso.
A ombudsman da Folha de São Paulo, Vera Guimarães Martins, criticou, na última edição dominical desse veículo, matéria que noticiou menção de delator da Lava Jato ao ex-presidente.
Vera criticou o destaque dado a uma declaração do tal “Fernando Baiano”. A ombudsman disse, simplesmente, que o jornal distorceu a declaração do delator. Mas o que a fez condenar a Folha ainda mais foi ter elevado uma declaração inconclusiva ao patamar de notícia bombástica.
Para entender por que, há que fazer uma comparação. Não há diferença alguma entre a declaração desse delator sobre Lula e outra dada pelo doleiro Alberto Yousseff sobre Aécio Neves.
O delator “Fernando Baiano” diz ter repassado dinheiro ilegal ao empresário José Carlos Bumlai, que teria pedido a quantia em nome de uma das noras de Lula. O doleiro Alberto Youssef afirmou que o ex-deputado José Janene e o presidente da empresa Bauruense, Airton Daré, acusaram Aécio Neves e a irmã dele de usarem a empresa Furnas para arrecadar propinas.
Qual é a diferença entre as duas acusações? Zero.
Qual a diferença entre o destaque dado pela imprensa à acusação de “Fernando Baiano” e o que foi dado à acusação contra Yousseff? Enorme.
A acusação contra Lula ganhou manchetes principais de primeira página. Mas e contra Aécio, houve celeuma igual? Claro que não. Todos sabem que não.
Qual é a diferença de importância entre Lula e Aécio? Neste momento, nenhuma. Um é o maior líder político dos governistas e o outro é o maior líder político dos oposicionistas. Fazer bombar a acusação contra um e minimizar a acusação contra o outro, pois, é partidarismo descarado.
Não existe um único jornalista responsável que seja capaz de negar esse fato.
Aliás, por que a acusação contra Lula está sendo investigada e a acusação contra Aécio, não? Além da imprensa, Ministério Público, Polícia Federal e Justiça tampouco conseguirão explicar uma diferença tão grande de tratamento a casos praticamente iguais.
Apesar do texto curto, as palavras da ombudsman da Folha são demolidoras para o jornal. Ela simplesmente o acusa de ter mentido sobre o que disse o delator “Fernando Baiano” sobre Lula e sua família.
Vejamos.
folha lula 1

Duas outras ponderações da ombudsman valem a pena ser comentadas.
Primeiro, quando ela acusa a Folha de transformar “títulos esquentados” em manchete principal de primeira página. Sabe o que é um “título esquentado”? É uma manchete sensacionalista e que, segundo diz a ombudsman, não condiz com a reportagem a que essa manchete remete.
Trocando em miúdos: a ombudsman acusou a Folha de fazer seu leitor de palhaço. Simples assim.
A segunda ponderação da ombudsman que deve ser destacada de seu texto curtíssimo sobre o caso é a explicação da Folha para ter feito o que fez. Segundo a Redação do jornal, “As declarações [de “Fernando Baiano”] foram prestadas à Justiça em um acordo de delação premiada”. O jornal diz que não acha “justo”, portanto, dizer que a matéria é “disse-me-disse”.
Vamos falar do que é justo, então. A matéria (linkada acima) sobre acusação quase idêntica contra Aécio quando era governador de Minas Gerais – acusação que veio à tona recentemente – foi feita, também, em um acordo de delação premiada entre o delator Alberto Yousseff e a Justiça. Por que a Folha tratou aquele caso de forma diferente?
Eis que o Blog resolveu verificar de que forma a Folha tratou a acusação de Yousseff contra Aécio. Abaixo, resultado da busca feita no site do jornal.
folha lula 2

Ou seja: acusação contra Lula ganha a manchete mais destacada possível e a acusação contra Aécio não ganha manchete nenhuma. Nem com pouco destaque.
Como a “Redação” explica isso? Não explica. Nunca explicou. E, se for instada a explicar, não o fará.
Por que? Porque ninguém vai dar (voluntariamente) uma explicação que o comprometa. E a explicação para esse comportamento do jornal é a de que ele atua com viés político-partidário, o que não poderia comprometer mais um veículo que tenta passar ao público a imagem de “isento”.
Apesar de ser triste comprovar, mais uma vez, o nível transbordante de má fé que permeia o jornalismo corporativo no Brasil, a coluna da ombudsman acima reproduzida servirá como registro histórico de grande eloquência.
No futuro, os historiadores concluirão que, além de os grandes meios de imprensa brasileiros desta época serem partidarizados, atuavam com dose cavalar de cinismo, de desfaçatez, de verdadeiro deboche, pois chegavam a reconhecer que seu jornalismo era antiético, mas, apesar disso, não mudavam de comportamento.

domingo, 10 de novembro de 2013

COMO A MÍDIA PROTEGEU E PROTEGE SERRA E KASSAB

domingo, 6 de outubro de 2013

Você sabia que ficou mais rico?

 Durante a primeira década do século XXI, centenas de brasileiras e brasileiros de todas as idades e regiões do país criaram páginas na internet para denunciar que os meios tradicionais de comunicação (jornais, revistas, rádios, televisões e grandes portais de internet) tentam ludibriar a sociedade a fim de fazerem prevalecer suas preferências políticas.
Em boa parte, são pessoas como este que escreve – sem vinculações políticas ou corporativas de qualquer espécie, movidas, apenas, pela indignação com uma dita “grande mídia” que mente, distorce informações, inventa acusações e exalta grupos políticos e econômicos com fins unicamente particulares, ou seja, de forma a obter lucro para os seus controladores.
Trata-se, aqui, de grandes meios de comunicação de massa que cresceram e enriqueceram durante a ditadura militar, que os financiou para que defendessem o saque que os ditadores perpetraram sobre o patrimônio público e ocultasse os crimes de lesa-humanidade que cometeram com a finalidade de fazerem prevalecer aqueles interesses inconfessáveis.
Acima de todos os outros oportunistas despidos de qualquer traço de decência e capazes de vender seu país a quem pague mais estão quatro famílias que o regime ditatorial enriqueceu e que a democracia deixou impunes: Marinho, Frias, Civita e Mesquita são os nomes dos que erigiram uma máfia que roubou e continua roubando a nação enquanto acoberta políticos e empresários desonestos.
Na ânsia de defenderem seus interesses particulares – e sabendo que para manterem o poder discricionário que auferiram ilegitimamente dependem do jogo do poder entre os grupos políticos –, essas famílias adotaram a mentira e o logro como ferramentas.
Apesar de todo esse poder – e de forma quase intuitiva –, no limiar do novo século a maioria dos brasileiros passou a desconfiar da pregação política desses megaempresários do setor de comunicações e a votar de forma oposta à que pregavam. Eis que os brasileiros levaram ao poder um grupo político que aqueles veículos de comunicação demonizavam.
Ao longo da década passada e no início desta, as famílias enriquecidas pela ditadura, valendo-se das imensas quantidades de dinheiro público que lhes foram doadas pelos ditadores, vêm trabalhando com fúria incontida para convencer os brasileiros a votar nos políticos com os quais estabeleceram acordos na última década do século passado, os políticos do PSDB.
Contudo, o grupo político que desafiou e derrotou politicamente esses filhotes da ditadura, grupo esse encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente, logrou implantar políticas públicas que melhoraram sobremaneira a vida das populações abandonadas pelos preferidos da mídia e, assim, caíram nas boas graças da nação, o que vem lhes permitindo vencer sucessivas eleições.
As quatro famílias midiáticas e seus satélites, então, decidiram que havia que usar métodos artificiais para apear do poder aquele grupo político desafiador.
Primeiro, tentaram transformá-lo em inventor da corrupção no Brasil. Vendo que a maioria não acreditou, de cerca de um ano para cá as famílias midiáticas mitigaram a gritaria moralista e passaram a apostar na distorção da situação econômica e social do país, crente em seu poder “hipnótico”, com o qual fariam uma nação inteira acreditar que aquele grupo político desafiador a estaria levando à ruína.
O imenso preâmbulo acima serviu para contextualizar as informações que vêm a seguir.
Na última terça-feira, este blogueiro (independente, sem vínculos políticos e que sobrevive de trabalho autônomo no setor privado), vendo mais uma de tantas distorções cotidianas das famílias midiáticas, e movido pela indignação, tomou uma iniciativa: telefonou para um dos veículos das famílias supracitadas apenas para desabafar.
Liguei para Suzana Singer, ombudsman do jornal Folha de São Paulo. Conversei com ela durante quase uma hora. Expus minhas críticas e observações. Relatei parte da conversa aqui, neste espaço.  Na última edição dominical da Folha, em sua coluna semanal naquele veículo, Suzana abordou outro tópico da conversa que tivemos.
Liguei para ela, no último dia 1º, logo após assistir, no site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entrevista do presidente da instituição, o pesquisador Marcelo Néri, que comentara os dados da última PNAD (2012).
Segundo definição do site do IBGE, que empreende a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), aquele estudo visa obter “informações anuais sobre características demográficas e socioeconômicas da população, como sexo, idade, educação, trabalho e rendimento, e características dos domicílios (…)”.
Pois bem, a última PNAD revelou um dado surpreendente. Tão surpreendente que surpreendeu até a Néri, um dos principais coordenadores da pesquisa: no ano passado, apesar do “pibinho” de 0,9%, o brasileiro ficou muito mais rico – a renda média cresceu 8,9%.
No vídeo abaixo, o presidente do IPEA explica melhor. Prossigo em seguida.


Antes de ligar para a ombudsman da Folha, fiz alguns comentários no Twitter que reproduzo abaixo.
Em seguida a esses tuítes escritos sob indignação extrema, o telefone toca: é Suzana Singer retornando o recado que deixei em seu escritório. Entre muito que lhe disse ao longo da conversa, comentei os dados altamente positivos da PNAD e a contradição de a pesquisa ter sido abordada tanto na Folha como no resto da mídia sob viés diametralmente oposto.
Em sua coluna deste domingo, a ombudsman abordou a questão. Relata como a mídia transformou uma notícia excelente em um amontoado de péssimas notícias.
Antes de reproduzir a coluna dessa jornalista que, com sua matéria sobre o tema em questão – publicada na Folha de São Paulo de 6 de outubro de 2013 –, ganhou meu respeito, quero cumprimenta-la, pois fez uma pesquisa aprofundada sobre a trapaça que tanto o jornal em que trabalha quanto o resto da “grande mídia” praticaram mais uma vez.
Deixo-o, caro leitor, com a belíssima coluna da ombudsman da Folha, Suzana Singer.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
6 de outubro de 2013
OMBUDSMAN
SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman facebook.com/folha.ombudsman
Arauto das más notícias
Folha destaca apenas dados negativos da Pnad, apesar de a pesquisa ter apontado aumento de renda em 2012
A edição que a Folha fez da pesquisa Pnad, que traça anualmente um quadro social do país, é um prato cheio para quem acha que o jornal só publica más notícias. Todos os destaques pinçados no levantamento eram negativos.
O título na capa informava que “Analfabetismo e desigualdade ficam estagnados no país” (28/9). Em “Cotidiano”, havia o aumento da diferença de renda entre homem e mulher, os salários inchados pela falta de mão de obra especializada e o celular como o único tipo de telefone em mais da metade dos lares. A análise dizia que o resultado da pesquisa pode significar “o fim da década inclusiva”.
Outros jornais optaram por manchetes do tipo uma no cravo outra na ferradura: “Renda média sobe, mas desigualdade para de cair” (“O Globo”), “Analfabetismo para de cair no país; emprego e renda sobem” (“Estado”), “Em todas as regiões houve aumento de renda, mas a desigualdade ficou estagnada” (Jornal Nacional).
Com seu característico catastrofismo, a Folha fez uma leitura míope da pesquisa, que é muito importante pela sua abrangência -são 363 mil entrevistados respondendo sobre escolaridade, trabalho, moradia e acesso a bens de consumo.
O dado mais surpreendente era que a renda do brasileiro cresceu em 2012, ano em que o PIB subiu apenas 0,9%. Na Folha, esse fenômeno só foi citado no meio de uma reportagem sobre a desigualdade.
Coube ao colunista Vinicius Torres Freire, no dia seguinte, chamar a atenção para o fato de que o Brasil estava mais rico “e não sabíamos”. “É possível dizer que a taxa de pobreza deve ter caído bem no ano passado”, escreveu Freire.
Pelos cálculos de Marcelo Neri, 50, presidente do Ipea, 3,5 milhões de brasileiros saltaram a linha de pobreza em 2012. “No conjunto das transformações, foi a melhor Pnad dos últimos 20 anos”, diz Neri.
A desigualdade parou mesmo de cair, mas foi porque os muito ricos (1% da população) ficaram ainda mais ricos (a renda subiu 10,8%), num ritmo mais rápido do que os muitos pobres (10% na base da pirâmide) ficaram menos pobres (ganho de renda de 6,4%). É claro que não se deve desprezar o abismo social, mas não dá para ignorar que houve uma melhora geral no ano passado, o que é um mistério a ser explicado pelos economistas.
Se o jornal subestimou o dado da renda, deu espaço demais para o fato de o analfabetismo ter parado de cair. Teve nesse ponto a companhia dos outros jornais e da TV.
Depois de 15 anos de queda contínua, a taxa de analfabetismo variou de 8,6% para 8,7%. A diferença, irrisória, pode ser apenas uma flutuação estatística. Nem o fato de a taxa ter parado de cair é importante, segundo os especialistas.
Os analfabetos brasileiros concentram-se, principalmente, na faixa etária mais alta (60 anos ou mais). Os mais velhos, que não tiveram acesso à escola na infância, são mais difíceis de serem alfabetizados. “Entre os jovens, a proporção de analfabetos continua caindo. A conclusão é que, embora nossa educação tenha muitos problemas, este não é um deles”, explica Simon Schwartzman, 74, presidente do Iets.
O destaque dado à diferença entre a remuneração de homens e mulheres também foi descabido. Em 2011, a brasileira recebia 73,7% do salário de um homem. No ano passado, era 72,9%.
Além de não ser uma variação muito significativa, pode ser um problema amostral. “As mulheres não estão necessariamente ganhando menos do que os homens. Se elas já têm uma renda média menor, basta crescer a participação feminina no mercado de trabalho para aumentar a diferença entre os sexos”, afirma Marcio Salvato, 44, professor de economia do Ibmec.
Entre os bens de consumo, o jornal destacou o celular e as motos. Wasmália Bivar, 53, presidente do IBGE, ressalta a máquina de lavar roupa, presente em 55% das casas. “Para a vida das famílias mais pobres, é um bem de grande significado, porque dá mais tempo livre para as mulheres.”
Não é fácil escolher o que há de mais relevante em uma pesquisa extensa como a Pnad, mas não dá para adotar o critério dos piores números. O jornalismo deve ter como primeira preocupação o que vai mal, apontar os problemas, só que o necessário viés crítico não pode impedir que se destaque o que é de fato o mais importante.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Ombudsman da Folha enxerga erro em manchetes sobre caso Alstom

Na segunda-feira, 11 pessoas foram indiciadas pela Justiça federal por suspeita de terem sido corrompidas pela empresa francesa Alstom entre 1997 e 2000. Todas trabalharam em empresas controladas pelo governo paulista ou integraram esse governo à época dos fatos.
Entre os envolvidos, um nome de peso no partido que, ano que vem, completa vinte anos de governo no Estado mais rico da federação: Andrea Matarazzo, hoje vereador pelo PSDB.
O indiciamento de Matarazzo por suspeita de corrupção não tem peso somente pelo sobrenome famoso, mas pelos cargos que ocupou durante duas décadas no primeiro escalão dos governos do PSDB paulista.
O tucano graúdo foi secretário de Energia do governo de São Paulo, foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (CESP) e do metrô. E também foi ministro de Fernando Henrique Cardoso na Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom).
Também se destacou nas gestões José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD) na prefeitura de São Paulo. Comandou as secretarias de Serviços, de Cultura e de Coordenação das Subprefeituras. Em 2008, a revista Veja o chamou de “O xerife da cidade”.
Detalhe: a Justiça autorizou a Polícia Federal a usar as provas do caso Alstom no inquérito sobre pagamento de propinas pela companhia alemã Siemens e outras 18 empresas que teriam formado cartéis em licitações de trens no Estado de São Paulo entre 1998 e 2008.
As duas empresas europeias corromperam governos em vários países. Ao menos no caso da Siemens a denúncia partiu da própria empresa, cujos controles detectaram os malfeitos. Em todos esses países houve condenações de políticos envolvidos. Menos no Brasil.
Trata-se de um escândalo de proporções nacionais. Há bilhões de reais envolvidos e os acusados são figuras importantes do maior partido de oposição ao governo federal, o PSDB. Assim, esperava-se que a grande imprensa noticiasse o caso de acordo com a sua relevância.
Contudo, dos três grandes jornais de circulação nacional (Folha de São Paulo, Estadão e O Globo), só os jornais paulistas deram destaque ao assunto em suas primeiras páginas. Folha e Estadão, porém, publicaram manchetes cifradas. E o Globo publicou uma notinha nas páginas internas.
O Globo ainda poderia argumentar que o assunto é paulista e, assim, não tem relevância em um jornal do Rio de Janeiro. Seria absurdo pelos motivos supracitados, mas seria um argumento. Mas os jornais paulistas publicaram manchetes piores do que tal omissão.
Folha e Estadão publicaram manchetes de primeira página dizendo que 11 pessoas foram indiciadas no caso Alstom. Em nenhum dos jornais houve menção ao fato de que são pessoas ligadas ao PSDB e de que uma delas é um tucano de grande importância.
Inconformado, procurei a ombudsman da Folha de São Paulo, Suzana Singer, a fim de obter sua posição sobre a afasia jornalística do seu e de outros jornais em relação a esse caso. Afinal, entre suas atribuições está a de criticar não só o jornal em que trabalha, mas também outros.
Por volta das 11 horas de terça-feira 1º de outubro, deixei recado com a secretária de Suzana, na Folha, pedindo que ela me retornasse a ligação. Exatamente uma hora depois (12 horas) ela me ligou. Conversamos por quase uma hora.
Suzana foi atenciosa e paciente. Revelou saber quem sou e dos protestos e representações que fiz contra o jornal em que trabalha. E, assim mesmo, aceitou falar comigo. Devo, pois, elogiar o espírito democrático e a serenidade da ombudsman da Folha.
Fiz várias ponderações a Suzana sobre o partidarismo da imprensa e a sua postura em relação às acusações que vem recebendo da Blogosfera.
Reclamei com a ombudsman sobre acusações do seu e de outros grandes jornais e revistas a Blogs como este de que seriam pagos pelo governo. E o que é pior: sem que aqueles que acusam especifiquem quem são os acusados. Disse a ela que desafio qualquer um a provar que alguém como eu já recebeu alguma coisa do governo e ela reconheceu que tais acusações são reprováveis.
Suzana também reconheceu ser absurdo que o ministro Gilmar Mendes tenha comparado blogs que teriam “pressionado” o STF aos impérios de comunicação que ela também reconheceu que tentaram pressionar aquela Corte.
Outro ponto em que a ombudsman concordou comigo foi em que não é papel da imprensa pressionar ninguém, pois seu papel é informar e não induzir quem quer que seja ou interferir nos fatos que deve se limitar a apurar e a relatar.
Manifestei minha discordância da manchete da Folha e do Estadão sobre o caso Alstom. Inicialmente, Suzana discordou porque não haveria provas contra Matarazzo nem contra os governos do PSDB.
Repliquei que há, nesse caso, um fato jornalístico: um político importante de um partido importante foi indiciado no âmbito de um escândalo envolvendo o governo tucano e esse fato foi minimizado.
Suzana treplicou que a sigla PSDB e o nome Andrea Matarazzo não estavam na manchete da Folha em sua primeira página, mas estavam na matéria a que aquela manchete remetia o leitor.
Foi então que consegui um argumento com o qual a ombudsman teve que concordar: as manchetes das primeiras páginas dos jornais são um veículo independente e todo jornalista sabe disso. Muitos só leem manchetes expostas em bancas de jornal.
Por fim, Suzana não respondeu quando lhe perguntei se achava que caso o partido e o político graúdo envolvidos fossem do PT os jornais também omitiram essa informação nas manchetes, mas tive a impressão de que concordou com a premissa de que não omitiriam.
Por fim, ponderei com a ombudsman que a imprensa brasileira não pode continuar desacreditada como está porque é uma instituição importante demais para tanto.
Lembrei que o mensalão não conseguiu interferir nas eleições do ano passado apesar de fatos espantosos como o Jornal Nacional ter tratado do assunto durante uma edição inteira, sem abordar nenhum outro assunto. E que “todos sabem” que nas vésperas de eleições sempre vem alguma denúncia de última hora da imprensa contra o PT, a tal “bala de prata”.
Suzana não disse nem que sim, nem que não. Mas achei meu argumento eficiente.
Encerramos a conversa em tom amistoso e positivo. Aliás, disse-me que anotou tudo que eu lhe disse. Meu feeling me diz que irá refletir. Sobretudo por eu ter lhe dito que a radicalização política em curso no país lembra a que vi na Venezuela. E que foi causada pela mídia.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Verônicas: a Folha está apurando!


Posted by Leandro Fortes under Rir é o melhor remédio
Enfim, um caso exemplar de jornalismo investigativo na imprensa brasileira
Leio no Blog do Nassif um post sobre a carta do leitor Ricardo Montero enviada à ombudsman da Folha de S.Paulo, Suzana Singer, na qual ele questiona as razões de o jornal paulistano não ter repercutido a informação, publicada na CartaCapital, sobre a monumental quebra de sigilo bancário levada a cabo pela empresa Decidir.com, das sócias Verônica Serra, filha de José Serra, e Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas. O leitor de Nassif quis saber o porquê de a Folha ter ignorado a matéria da Carta, mas ter dado amplo destaque a uma outra, da Veja, sobre a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. Abaixo, a carta de Montero, sobre a qual comento em seguida:

“Prezada ombudsman,

O que justifica a Folha nada comentar a respeito da matéria da CartaCapital desta semana, que mostra a violação do sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros pela firma Decidir.com, ocorrida em 2001, sendo a empresa de propriedade de Verônica Dantas e Verônica Serra?

O que justifica a Folha, ao repercutir a matéria da Veja desta semana (caso Erenice Guerra), engolir a versão do repórter da Veja, apesar de desmentidos categóricos vindos até de sua suposta fonte (que inclusive é erradamente apresentado pela revista como dono de uma empresa envolvida no imbróglio)? A folha não deveria agira com mais cuidados neste caso?

Enfim, nos últimos tempos, a Folha tem se superado na ruindade. Saudades do Frias-pai!

Cordialmente

Ricardo Montero”

A resposta de Suzana Singer, curta e melancólica, restringiu-se a repassar ao leitor uma informação burocrática, eivada de pavor funcional, do editor Allan Gripp, da editoria do caderno Poder da Folha. Eis-la:

“Caro Ricardo,
agradeço sua manifestação. Abaixo transcrevo resposta de Alan Gripp, da editoria do caderno Poder.
Atenciosamente,

Suzana Singer

“Nós estamos apurando a história, mas não tivemos acesso ainda ao processo (em sigilo).”

Quando li o post no Nassif, dei uma gargalhada. Uma sonora e feliz gargalhada, uma reação familiar às desgraças do cotidiano que eu e meus irmãos herdamos de meu pai que, até hoje, aos 75 anos, sofre de maravilhosos ataques de risos quando diante de tolas tragédias do dia-a-dia.

Então, a Folha não repercutiu a matéria da Carta porque está “apurando a história”? Como assim? Essa história já foi apurada pela Folha em 2001! Foi um então repórter da Folha, Wladimir Gramacho, que descobriu a quebra de sigilo. Na época, no entanto, ele se centrou não no quadro societário da Decidir.com, formado pelas Verônicas, mas na emissão de cheques sem fundo de 18 deputados. Para apressar a apuração e ajudar a Folha a publicar o assunto antes das eleições de 3 de outubro, aconselho ao editor de Poder buscar as informações nos arquivos digitais do jornal, embora, hoje, não seja uma tarefa muito fácil. A Folha tratou de tornar quase impossível, mesmo aos assinantes, encontrar a matéria pelo site do jornal. Só consegue acessar a reportagem quem sabe a data exata da publicação – 30 de janeiro de 2001 –, mesmo assim, depois de passar pelo índice da edição e dar de cara com uma manchete totalmente descolada do assunto principal: “18 deputados emitiram cheques sem fundo”.

Mas fica a dica, à guisa de generosidade.

Outra coisa: de onde o editor tirou essa história de que existe um processo? Ainda mais em sigilo? Só se for algum tipo de sigilo editorial, porque, na Justiça mesmo, nada foi aberto. O acordo das Verônicas com o Banco do Brasil, no governo Fernando Henrique Cardoso, embora sutilmente noticiado pela Folha, não foi investigado por ninguém, apesar de o então presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB, ter enviado ao Banco Central um pedido de explicação por conta da quebra do sigilo bancários dos 18 deputados que emitiram cheques sem fundo – um crime muito mais grave, como se sabe, do que se associar à família Dantas para quebrar o sigilo bancário de estimados 60 milhões de brasileiros.

Então, meus caros leitores, só rindo mesmo.