Manifestantes amanheceram na entrada da Universidade de Lisboa, onde ocorre o "4º Seminário Luso-Brasileiro de Direito", com o tema "Constituição e Crise – A Constituição no contexto das crises política e econômica"; organizado pelo ministro do STF Gilmar Mendes, evento tentou unir a nata do movimento golpista para apresentar o que jornais portugueses chamaram de "Governo em exílio": os senadores tucanos Aécio Neves e José Serra, o presidente do TCU, Aroldo Cedraz, o também ministro do STF Dias Toffoli e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que patrocinou o encontro; Serra chegou ao evento aos gritos de "não vai ter golpe" (assista ao vídeo); o presidente português, Marcelo Rebelo de Souza, e o ex-primeiro-ministro de Portugal Pedro Passos Coelho cancelaram sua participação
Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mostrando postagens com marcador portugal. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador portugal. Mostrar todas as postagens
terça-feira, 29 de março de 2016
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Dilma e os dois personagens de Camões
Inspirada em sua recente viagem a Portugal, Dilma hoje mandou um recado para a mídia e para a oposição (ou serão o mesmo?).
Lembrou o Velho do Restelo, personagem de Camões , que ficava olhando as naus portuguesas e agourando, incrédulo nas conquistas de Portugal durante as grandes navegações.
Dilma comparou o “terrorismo inflacionário” à onda do “apagão” que a mídia tentou levantar no início do ano.
E lembrou que, mesmo com a “onda”, não faltou luz, mas foi o tal “apagão “”o que desapareceu de todos os jornais porque não era real”. “São movimentos localizados, especulativos, que duram um tempo, mas geram danos ao Brasil.”
Sobre as aves de mau-agouro (um doce para quem adivinhar que espécie de pássaro são), a Presidenta garantiu:
“Muitos ‘Velhos do Restelo’ apareceram nas margens das nossas praias. Mas eu asseguro a vocês que, hoje, ele não pode, não deve e não terá a última palavra no Brasil.”
Aproveitando a lembrança de Camões, bem faz Dilma em assumir a ofensiva, para que não ocorra aquilo que o poeta português diz no Canto 138 de seu Os Lusíadas: “Que, vindo o Castelhano devastando/As terras sem defesa, esteve perto/De destruir-se o Reino totalmente,/Que um fraco rei faz fraca a forte gente”.
Porque tem muita gente ficando fraca com a cantilena diária de nossos “velhos do Restelo” tupiniquins.
PS. Se a conexão ajudar, daqui a pouco coloco a fala de Dilma aí na seção vídeos.
Por: Fernando Brito
sábado, 16 de julho de 2011
Após nota de agência, portugueses enviam lixo à Moody's e distribuem camisetas irônicas
Mais de uma semana depois de classificar de lixo os títulos da dívida de Portugal, a agência de classificação de risco norte-americana Moody's continua a ser objeto de ataques e protestos no país. Camisetas com críticas à agência estão sendo dadas ou vendidas, seu site está sendo atacado – não podendo ser acessado a partir de Portugal – e críticos sugerem que cartas com detritos sejam enviados para a sede da empresa, em Nova York.
Vitor Sorano
Em loja de Lisboa, camiseta estampa relatório da Moody's em folha de papel higiênico
A rede de roupas femininas Lanidor estampou “Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk” (Moody's? Não, obrigado. Garotas fashion contra o lixo), em 10 mil camisetas que está distribuindo nesta sexta-feira (15/07) às clientes. “Tivemos fila em Lisboa e no Porto pela manhã. Consideramos que [a decisão] foi um ataque injusto, provocatório. Não nos sentimos como lixo”, disse a diretora de comunicação e imagem do grupo, Margarida Mangerão.
“Acho certo que está em inglês. Mais gente vai entender do que se fosse em português”, afirmou a técnica Filipa Magalhães, de 24 anos. “Recebi o recado pelo e-mail e também vi pelo Facebook”, contou ao sair da loja da rede na Avenida da Liberdade, em Lisboa – a mais prestigiosa da capital.
Leia mais:
A Europa em marcha-à-ré
Uma estratégia para a esquerda europeia
Portugal pede ajuda financeira à União Europeia
Europa entra em guerra contra as agências de qualificação de risco
Desemprego e precariedade no mercado de trabalho desencadeiam onda de protestos em Portugal
“As redes sociais começaram a falar nisso e a camiseta surgiu”, explicou Joaquim Mira, sócio da loja de roupas Cão Azul, que também aliou críticas e negócios e lançou uma estampa com o nome da agência em um rolo de papel higiênico. “Tentamos sempre acompanhar a atualidade de forma cômica e a Moody's não podia escapar”. Ele não revelou o número de unidades vendidas.
Fazendo um trocadilho com a S&P – outra das três grandes agências norte-americanas – o site de economia Dinheiro Vivo disponibilizou nos sites as estampas “Moody's is standardad and poor” (Moody's é comum e pobre) e “Moody's is overrated” (Moody's está sobreavaliada). “Tivemos cerca de 1,5 mil cliques. É possível baixar o padrão e mandar fazer camisetas”, disse Miguel Pacheco, diretor-adjunto.
A agência não se manifestou até a conclusão desta reportagem.
Vitor Sorano/Opera Mundi

Filipa Magalhães garantiu sua camiseta em crítica à agência: "Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk"
Devolver o lixo
O corte do rating veio poucos dias após Portugal conhecer o plano do novo governo, de centro-direita. Nele, o país – cuja economia está em recessão e o desemprego em inéditos 12,4% – se compromete a cumprir o acordo com FMI (Fundo Monetário Internacional) e Comissão Europeia em troca da ajuda de 78 bilhões – e mesmo ir além. Na ocasião, os portugueses foram avisados, por exemplo, de que metade do 13º salário acima do mínimo, neste ano, fica para o Estado, e que o IVA de alguns produtos (semelhante ao ICMS) deve subir.
Leia mais:
Portugal corta até 1,7 milhão de pessoas de programas sociais
Cidade em Portugal constrói muro para isolar comunidade de ciganos
Nova classe de pobres surge em Portugal após desemprego atingir nível recorde
Ranking da dívida de Portugal é rebaixado enquanto país vive greve nos serviços públicos
Recordes de abstenção, brancos e nulos evidenciam insatisfação do eleitorado português, diz analista
“Veem um moribundo deitado no chão, tentando se levantar e chutam a cabeça”, comentou o publicitário Pedro Gonçalves, de 38 anos, um dos dois responsáveis pelo “Moody's Junk Mail” (veja abaixo). Com mais de 120 mil acessos – algo incomum para o mercado português, segundo ele – o vídeo mostra a dupla recolhendo lixo no chão e colocando no correio com o endereço da Moody's em Nova York. “O que é curioso é que são 120 mil acessos sem uma mulher de biquíni nem gatinhos fazendo coisas fofas”
Embora, segundo o publicitário, o objetivo não seja criar nenhum movimento de protesto – “não somos ativistas”, diz Gonçalves –, a ideia inspirou a campanha “Enviar lixo para a Moody's”, em atividade no Facebook. É a segunda iniciativa de uma outra dupla de indignados com a agência que criou o protesto iniciado no dia 14 e responsável por bloquear o acesso ao site principal da empresa a partir de IPs Portugal – ao qual 77 mil pessoas aderiram.
“Se continuássemos com a mesma forma de protesto, perderíamos a originalidade e o impacto”, explicou um dos integrantes da dupla, identificando-se como Padeira de Aljubarrota – uma heroína portuguesa do século XIV –, ressaltando que “nestes eventos não há um comandante”.
Regulação
Para além de protestos, a Moody's sofre a ameaça indireta da União Europeia, que quer intervir no mercado de ratings. Desde o dia 7, representantes de órgãos comunitários vêm disparando críticas às agências e propondo novas regras para atuação das mesmas.
Leia mais:
Com política interna instável e risco de moratória, Bélgica se torna novo foco da crise na Europa
Crise financeira reduziu à metade o crescimento de salários no mundo até 2009, diz OIT
Estudo mostra sinais de recuperação das taxas de desemprego na União Europeia
O presidente do eurogrupo (que reúne os 17 países da zona euro), Jean Claude Juncker, propôs a criação de uma agência independente para o continente. “Irracionais e desmedidas” foram os adjetivos utilizados para classificar decisões sobre ratings tomadas pelas agências. Dias depois, o presidente do Conselho Europeu, Herman von Rompuy, defendeu a quebra do oligopólio atual e maior controle público, se os governos querem continuar “a ter a última palavra”.
Em declarações à Bloomberg no último dia 11, o comissário europeu para assuntos financeiros Michel Barnier, afirmou que está sendo considerada a possibilidade de exigir “a publicação obrigatória das análises que levam à modificação do ‘rating’ e a obrigação de realizar uma análise mais completa com mais regularidade.”
Essa desconfiança em relação aos critérios de análise das agências já levou a Moody's a perder clientes. Algumas prefeituras, como as de Lisboa e Cascais, e a empresa pública Aeroportos de Portugal suspenderam ou cancelaram os contratos com a empresa, após também terem tido seus ratings rebaixados.
Vitor Sorano
Adicionar legenda |
Em loja de Lisboa, camiseta estampa relatório da Moody's em folha de papel higiênico
A rede de roupas femininas Lanidor estampou “Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk” (Moody's? Não, obrigado. Garotas fashion contra o lixo), em 10 mil camisetas que está distribuindo nesta sexta-feira (15/07) às clientes. “Tivemos fila em Lisboa e no Porto pela manhã. Consideramos que [a decisão] foi um ataque injusto, provocatório. Não nos sentimos como lixo”, disse a diretora de comunicação e imagem do grupo, Margarida Mangerão.
“Acho certo que está em inglês. Mais gente vai entender do que se fosse em português”, afirmou a técnica Filipa Magalhães, de 24 anos. “Recebi o recado pelo e-mail e também vi pelo Facebook”, contou ao sair da loja da rede na Avenida da Liberdade, em Lisboa – a mais prestigiosa da capital.
Leia mais:
A Europa em marcha-à-ré
Uma estratégia para a esquerda europeia
Portugal pede ajuda financeira à União Europeia
Europa entra em guerra contra as agências de qualificação de risco
Desemprego e precariedade no mercado de trabalho desencadeiam onda de protestos em Portugal
“As redes sociais começaram a falar nisso e a camiseta surgiu”, explicou Joaquim Mira, sócio da loja de roupas Cão Azul, que também aliou críticas e negócios e lançou uma estampa com o nome da agência em um rolo de papel higiênico. “Tentamos sempre acompanhar a atualidade de forma cômica e a Moody's não podia escapar”. Ele não revelou o número de unidades vendidas.
Fazendo um trocadilho com a S&P – outra das três grandes agências norte-americanas – o site de economia Dinheiro Vivo disponibilizou nos sites as estampas “Moody's is standardad and poor” (Moody's é comum e pobre) e “Moody's is overrated” (Moody's está sobreavaliada). “Tivemos cerca de 1,5 mil cliques. É possível baixar o padrão e mandar fazer camisetas”, disse Miguel Pacheco, diretor-adjunto.
A agência não se manifestou até a conclusão desta reportagem.
Vitor Sorano/Opera Mundi
Filipa Magalhães garantiu sua camiseta em crítica à agência: "Moody's? No, Thanks. Fashion Girls Anti-Junk"
Devolver o lixo
O corte do rating veio poucos dias após Portugal conhecer o plano do novo governo, de centro-direita. Nele, o país – cuja economia está em recessão e o desemprego em inéditos 12,4% – se compromete a cumprir o acordo com FMI (Fundo Monetário Internacional) e Comissão Europeia em troca da ajuda de 78 bilhões – e mesmo ir além. Na ocasião, os portugueses foram avisados, por exemplo, de que metade do 13º salário acima do mínimo, neste ano, fica para o Estado, e que o IVA de alguns produtos (semelhante ao ICMS) deve subir.
Leia mais:
Portugal corta até 1,7 milhão de pessoas de programas sociais
Cidade em Portugal constrói muro para isolar comunidade de ciganos
Nova classe de pobres surge em Portugal após desemprego atingir nível recorde
Ranking da dívida de Portugal é rebaixado enquanto país vive greve nos serviços públicos
Recordes de abstenção, brancos e nulos evidenciam insatisfação do eleitorado português, diz analista
“Veem um moribundo deitado no chão, tentando se levantar e chutam a cabeça”, comentou o publicitário Pedro Gonçalves, de 38 anos, um dos dois responsáveis pelo “Moody's Junk Mail” (veja abaixo). Com mais de 120 mil acessos – algo incomum para o mercado português, segundo ele – o vídeo mostra a dupla recolhendo lixo no chão e colocando no correio com o endereço da Moody's em Nova York. “O que é curioso é que são 120 mil acessos sem uma mulher de biquíni nem gatinhos fazendo coisas fofas”
Embora, segundo o publicitário, o objetivo não seja criar nenhum movimento de protesto – “não somos ativistas”, diz Gonçalves –, a ideia inspirou a campanha “Enviar lixo para a Moody's”, em atividade no Facebook. É a segunda iniciativa de uma outra dupla de indignados com a agência que criou o protesto iniciado no dia 14 e responsável por bloquear o acesso ao site principal da empresa a partir de IPs Portugal – ao qual 77 mil pessoas aderiram.
“Se continuássemos com a mesma forma de protesto, perderíamos a originalidade e o impacto”, explicou um dos integrantes da dupla, identificando-se como Padeira de Aljubarrota – uma heroína portuguesa do século XIV –, ressaltando que “nestes eventos não há um comandante”.
Regulação
Para além de protestos, a Moody's sofre a ameaça indireta da União Europeia, que quer intervir no mercado de ratings. Desde o dia 7, representantes de órgãos comunitários vêm disparando críticas às agências e propondo novas regras para atuação das mesmas.
Leia mais:
Com política interna instável e risco de moratória, Bélgica se torna novo foco da crise na Europa
Crise financeira reduziu à metade o crescimento de salários no mundo até 2009, diz OIT
Estudo mostra sinais de recuperação das taxas de desemprego na União Europeia
O presidente do eurogrupo (que reúne os 17 países da zona euro), Jean Claude Juncker, propôs a criação de uma agência independente para o continente. “Irracionais e desmedidas” foram os adjetivos utilizados para classificar decisões sobre ratings tomadas pelas agências. Dias depois, o presidente do Conselho Europeu, Herman von Rompuy, defendeu a quebra do oligopólio atual e maior controle público, se os governos querem continuar “a ter a última palavra”.
Em declarações à Bloomberg no último dia 11, o comissário europeu para assuntos financeiros Michel Barnier, afirmou que está sendo considerada a possibilidade de exigir “a publicação obrigatória das análises que levam à modificação do ‘rating’ e a obrigação de realizar uma análise mais completa com mais regularidade.”
Essa desconfiança em relação aos critérios de análise das agências já levou a Moody's a perder clientes. Algumas prefeituras, como as de Lisboa e Cascais, e a empresa pública Aeroportos de Portugal suspenderam ou cancelaram os contratos com a empresa, após também terem tido seus ratings rebaixados.
Marcadores:
agencias,
análise,
criterios,
desrespeito,
dívida,
empresas,
euro,
grupo rbs estupro,
lisboa,
midia golpista,
mood'y,
portugal,
protestos,
rating,
riscos,
teutonia lajeado
terça-feira, 12 de julho de 2011
OS BANCOS E A REVOLUÇÃO

A Europa se insurge contra as famosas e prepotentes “agências de classificação de riscos”, todas americanas, com a decisão da Moody’s (uma das três grandes) de rebaixar as dívidas de Portugal em quatro pontos, reduzindo-as a uma situação de “lixo”. Essas agências, se pensarmos bem, não têm razão de existir. Elas jamais foram capazes de prever, com prazo prudencial, os riscos dos créditos das grandes instituições financeiras e dos governos nacionais. Não previram as crises recentes do sistema financeiro internacional, nem foram capazes de descobrir as falcatruas das grandes instituições empresariais e financeiras, como as da Enron, dos bancos de investimentos, como o Lehman Brothers e de instituições de larápios, como a de Madoff. Elas só denunciam os erros, depois de consumadas as crises. De nada servem para alertar os investidores e as autoridades governamentais a tempo de que tomem providências acauteladoras. Mas os governos são também responsáveis, ao lhes dar crédito, e também por não fiscalizar o comportamento das instituições financeiras, nem examinar a lisura de sua contabilidade.
A questão retorna ao mais inquietante confronto da civilização ocidental - qual deve ser a diretriz da vida em comum: a economia ou a política? O dinheiro pode controlar e dirigir a ação política, ou a política tem que dirigir e controlar as finanças? O sistema financeiro, no interior dos Estados e no plano internacional, é a mais poderosa das instituições corporativistas. Ninguém é mais solidário com um banqueiro do que outro banqueiro, embora disputem entre eles, e sem escrúpulos, os grandes negócios. Nos últimos trinta anos, o sistema financeiro internacional vem cavalgando os estados nacionais e, assim, governando, sem legitimidade, os povos do mundo. Retornaram, sem qualquer pudor, ao saqueio neocolonialista dos recursos naturais dos povos mais débeis, também mediante as guerras de conquista. Trata-se de nova forma de acumulação selvagem de capital e de destruição do “estado de bem estar social”, cujo embrião podemos encontrar ainda na Inglaterra vitoriana, com as preocupações do conservador Disraeli.
A política, sob a corrupção do dinheiro, e a violência repressiva, desfigura-se e se desnatura, mas costuma reagir, ao recuperar-se em processos revolucionários conhecidos na História. De qualquer forma, para que ocorram as revoluções, é necessário que intervenha a razão. Os sinais dessa reação saneadora podem ser vistos nos atuais movimentos de massa em vários países do mundo, muçulmanos ou cristãos, xintoístas ou animistas. O que lhes estava faltando é a teoria revolucionária, uma tarefa dos intelectuais. Há indícios de que já começam a surgir núcleos de discussão que podem suprir essa dificuldade. Com a orientação da inteligência, os movimentos serão capazes de vencer a repressão.
A crise na Europa coloca também em discussão o problema da autonomia dos estados e da soberania compartilhada dentro da Europa continental, da qual a moeda única é a marca maior. Há poucos dias, o Prêmio Nobel de Economia (1998) o indiano e professor em Harvard, Amartya Sen, publicou instigante artigo sobre o tema. Ele fala da ameaça à democracia que representa a insidiosa prevalência dos interesses financeiros sobre a ação política no continente, e dá como exemplo a excessiva importância atribuída às agências de classificação, que determinam a ação dos bancos centrais e dos governos, a serviço das grandes instituições financeiras internacionais.
Sen afirma que a liberdade dessas agências terá que ser enquadrada pelo poder da legitimidade política, isto é, pelos governos eleitos, mas, por enquanto, esse enquadramento não existe. As agências, remuneradas pelo “imperativo financeiro”, só a ele obedecem.
Ao discutir o problema do euro, que ele considera danoso à necessária soberania dos estados e à sua autonomia de ação econômica, lembrou a proposta da federação européia, surgida no movimento socialista italiano, em 1941, chefiado pelos jovens Altiero Spinelli, Eugenio Colorni e Ernesto Rossi.
É importante voltar a esses pioneiros da idéia de uma Europa Unida, os signatários do Manifesto Ventontene, da Itália, que se encontrava, então sob o domínio do fascismo. O documento, que circulou clandestinamente, fazia reflexão profunda sobre a situação européia de então, sob o avanço do poder dos nazistas. “O homem civilizado – diz o Manifesto – é um produto complicado e frágil. Os mais grandiosos frutos da civilização se devem à férrea disciplina que ela impõe ao ânimo selvagem dos homens. Mas quando os homens se encontram diante de problemas cuja solução é de importância vital e não são capazes de encontrá-la - em razão da resistência oposta e da ausência de instrumentos aptos para resolvê-los de forma pacífica - aquela disciplina pode romper-se e deixar emergirem as forças primitivas, que tendem a resolver a dificuldade com a violenta imposição de sua vontade”. A isso chamamos explosão revolucionária das massas.
Sen – como outros eminentes economistas de hoje – parte da idéia que os déficits públicos, quando financiam o desenvolvimento, tendem a ser absorvidos pelo aumento rápido da receita tributária. Vale a pena transcrever um trecho de seu artigo: “O laço que une o crescimento e as receitas públicas é amplamente observado em numerosos países, da China ao Brasil, passando pelos Estados Unidos e a Índia. E aí ainda há lições a tirar da História. Numerosos países acumularam ao fim da segunda guerra mundial pesadas e preocupantes dívidas públicas, mas um crescimento econômico sustentado permitiu aliviar rapidamente o fardo. Da mesma forma, os déficits colossais que Clinton encontrou, ao assumir o poder, há quase vinte anos, reduziram-se sob sua presidência, em grande parte pelo efeito da rapidez do crescimento”.
Em suma: não é o arrocho salarial, ou a “flexibilidade” das leis do trabalho, nem o desemprego, que promovem a queda dos déficits, mas, sim, o contrário. O que importa é o crescimento da economia, com melhor distribuição de renda e redução das desigualdades. Nisso, a lição brasileira é eloqüente.
Marcadores:
bancos,
bolhas,
crise financeira americana,
desigualdades,
era lula,
europa,
fome,
grecia,
irlanda,
italia,
JN,
midia golpista,
moody's,
Pig,
portugal,
rbs-estupro,
ternuma,
teutonia,
usa
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
O que está em causa
Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do Banco Mundial e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 centavos por dia. O que vai acontecer a Portugal (no seguimento do que aconteceu à Grécia e à Irlanda e irá acontecer à Espanha, e talvez não fique por aí) aconteceu já a muitos países em desenvolvimento. A intervenção do FMI teve sempre o mesmo objetivo: canalizar o máximo possível do rendimento do país para o pagamento da dívida. A “solução da crise” pode bem ser a eclosão da mais grave crise social dos últimos oitenta anos. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.
Boaventura de Sousa Santos
Portugal é um pequeno barco num mar agitado. Exigem-se bons timoneiros mas se o mar for excessivamente agitado não há barco que resista, mesmo num país que séculos atrás andou à descoberta do mundo em cascas de noz. A diferença entre então e agora é que o Adamastor era um capricho da natureza, depois da borrasca era certa a bonança e só isso tornava “realista” o grito de confiança nacionalista, do “Aqui ao leme sou
mais que eu…”.
Hoje, o Adamastor é um sistema financeiro global, controlado por um punhado de grandes investidores institucionais e instituições satélites (Banco Mundial, FMI, agências de avaliação de risco) que têm o poder de distribuir as borrascas e as bonanças a seu bel-prazer, ou seja, borrascas para a grande maioria da população do mundo, bonanças para eles próprios. Só isso explica que os 500 indivíduos mais ricos do mundo tenham uma riqueza igual à da dos 40 países mais pobres do mundo, com uma população de 416 milhões de habitantes. Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do BM e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 cêntimos por dia.
O que vai acontecer a Portugal (no seguimento do que aconteceu à Grécia e à Irlanda e irá acontecer à Espanha, e talvez não fique por aí) aconteceu já a muitos países em desenvolvimento. Alguns resistiram às “ajudas” devido à força de líderes políticos nacionalistas (caso da Índia), outros rebelaram-se pressionados pelos protestos sociais (Argentina) e forçaram a reestruturação da dívida. Sendo diversas as causas dos problemas enfrentados pelos diferentes países, a intervenção do FMI teve sempre o mesmo objetivo: canalizar o máximo possível do rendimento do país para o pagamento da dívida. No nosso contexto, o que chamamos “nervosismo dos mercados” é um conjunto de especuladores financeiros, alguns com fortes ligações a bancos europeus, dominados pela vertigem de ganhar rios de dinheiro apostando na bancarrota do nosso país e ganhando tanto mais quanto mais provável for esse desfecho.
E se Portugal não puder pagar? Bem, isso é um problema de médio prazo (pode ser semanas ou meses). Depois se verá, mas uma coisa é certa: “as justas expectativas dos credores não podem ser defraudadas”. Longe de poder ser acalmado, este “nervosismo” é alimentado pelas agências de notação: baixam a nota do país para forçar o Governo a tomar certas medidas restritivas (sempre contra o bem-estar das populações); as medidas são tomadas, mas como tornam mais difícil a recuperação econômica do país (que permitiria pagar a dívida), a nota volta a baixar. E assim sucessivamente até a “solução da crise”, que pode bem ser a eclosão da mais grave crise social dos últimos oitenta anos.
Qualquer cidadão com as naturais luzes da vida, perguntará, como é
possível tanta irracionalidade? Viveremos em democracia? As várias
declarações da ONU sobre os direitos humanos são letra morta? Teremos
cometidos erros tão graves que a expiação não se contenta com os anéis e
exige os dedos, se não mesmo as mãos? Ninguém tem uma resposta clara
para estas questões mas um reputado economista (Prêmio Nobel da
Economia em 2001), que conhece bem o anunciado visitante, FMI,
escreveu a respeito deste o seguinte:
“as medidas impostas pelo FMI falharam mais vezes do que as em que tiveram êxito…Depois da crise asiática de 1997, as políticas do FMI agravaram as crises na Indonésia e na Tailândia. Em muitos países, levaram à fome e à confrontação social; e mesmo quando os resultados não foram tão sombrios e conseguiram promover algum crescimento depois de algum tempo, frequentemente os benefícios foram desproporcionadamente para os de cima, deixando os de baixo mais pobres que antes. O que me espantou foi que estas políticas não fossem questionadas por quem tomava as decisões…Subjacente aos problemas do FMI e de outras instituições económicas internacionais é o problema de governação: quem decide o que fazem?”
(Joseph Stiglitz, Globalization and its Discontents, 2002)
Haverá alternativa? Deixo este tema para a próxima crônica.
(*) Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
mais que eu…”.
Hoje, o Adamastor é um sistema financeiro global, controlado por um punhado de grandes investidores institucionais e instituições satélites (Banco Mundial, FMI, agências de avaliação de risco) que têm o poder de distribuir as borrascas e as bonanças a seu bel-prazer, ou seja, borrascas para a grande maioria da população do mundo, bonanças para eles próprios. Só isso explica que os 500 indivíduos mais ricos do mundo tenham uma riqueza igual à da dos 40 países mais pobres do mundo, com uma população de 416 milhões de habitantes. Depois de décadas de “ajuda ao desenvolvimento” por parte do BM e do FMI, um sexto da população mundial vive com menos de 77 cêntimos por dia.
O que vai acontecer a Portugal (no seguimento do que aconteceu à Grécia e à Irlanda e irá acontecer à Espanha, e talvez não fique por aí) aconteceu já a muitos países em desenvolvimento. Alguns resistiram às “ajudas” devido à força de líderes políticos nacionalistas (caso da Índia), outros rebelaram-se pressionados pelos protestos sociais (Argentina) e forçaram a reestruturação da dívida. Sendo diversas as causas dos problemas enfrentados pelos diferentes países, a intervenção do FMI teve sempre o mesmo objetivo: canalizar o máximo possível do rendimento do país para o pagamento da dívida. No nosso contexto, o que chamamos “nervosismo dos mercados” é um conjunto de especuladores financeiros, alguns com fortes ligações a bancos europeus, dominados pela vertigem de ganhar rios de dinheiro apostando na bancarrota do nosso país e ganhando tanto mais quanto mais provável for esse desfecho.
E se Portugal não puder pagar? Bem, isso é um problema de médio prazo (pode ser semanas ou meses). Depois se verá, mas uma coisa é certa: “as justas expectativas dos credores não podem ser defraudadas”. Longe de poder ser acalmado, este “nervosismo” é alimentado pelas agências de notação: baixam a nota do país para forçar o Governo a tomar certas medidas restritivas (sempre contra o bem-estar das populações); as medidas são tomadas, mas como tornam mais difícil a recuperação econômica do país (que permitiria pagar a dívida), a nota volta a baixar. E assim sucessivamente até a “solução da crise”, que pode bem ser a eclosão da mais grave crise social dos últimos oitenta anos.
Qualquer cidadão com as naturais luzes da vida, perguntará, como é
possível tanta irracionalidade? Viveremos em democracia? As várias
declarações da ONU sobre os direitos humanos são letra morta? Teremos
cometidos erros tão graves que a expiação não se contenta com os anéis e
exige os dedos, se não mesmo as mãos? Ninguém tem uma resposta clara
para estas questões mas um reputado economista (Prêmio Nobel da
Economia em 2001), que conhece bem o anunciado visitante, FMI,
escreveu a respeito deste o seguinte:
“as medidas impostas pelo FMI falharam mais vezes do que as em que tiveram êxito…Depois da crise asiática de 1997, as políticas do FMI agravaram as crises na Indonésia e na Tailândia. Em muitos países, levaram à fome e à confrontação social; e mesmo quando os resultados não foram tão sombrios e conseguiram promover algum crescimento depois de algum tempo, frequentemente os benefícios foram desproporcionadamente para os de cima, deixando os de baixo mais pobres que antes. O que me espantou foi que estas políticas não fossem questionadas por quem tomava as decisões…Subjacente aos problemas do FMI e de outras instituições económicas internacionais é o problema de governação: quem decide o que fazem?”
(Joseph Stiglitz, Globalization and its Discontents, 2002)
Haverá alternativa? Deixo este tema para a próxima crônica.
(*) Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Situação econômica da Irlanda, Grécia e Portugal preocupa europeus
Sugestão: Gérsio Mutti
Tudo indica que Irlanda recorrerá a pacote de resgate da União Europeia. Gregos, por sua vez, cogitam prolongar a duração do pagamento de empréstimos junto à UE e ao FMI, enquanto Portugal recebe oferta de ajuda chinesa.
A situação econômica de Irlanda, Grécia, Portugal continua a ocupar espaço na mídia europeia. No caso da Irlanda, estão cada vez mais evidentes os sinais de que ela receberá ajuda europeia. Isso apesar de tanto Dublin quanto a União Europeia terem negado que estariam em negociações para um pacote de resgate financeiro devido à crise de endividamento irlandesa.
O jornal Die Welt anunciou neste domingo (14/11) que já nesta semana Bruxelas discutirá, concretamente, sobre a ajuda financeira ao endividado país da zona do euro. Segundo o diário alemão, a solicitação de um pacote de resgate para a Irlanda semelhante ao da Grécia parte principalmente de Portugal e da Espanha. Os governos dos dois países estariam temerosos de serem os próximos a caírem na linha de fogo, observou o periódico alemão.
Neste domingo, o presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, anunciou à margem da cúpula dos países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), na cidade japonesa de Yokohama, que estaria certo de que a Irlanda conseguiria resolver seus problemas, mas “se os irlandeses algum dia precisarem do apoio do FMI, estamos naturalmente prontos para ajudar”.
Endividamento 100%
A Irlanda se encontra em uma situação econômica difícil. O Pacto de Estabilidade do Euro prevê um endividamento orçamentário máximo de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para os países da zona do euro. Neste ano, este índice alcançou 32% na Irlanda. O país deve um total de 160 bilhões de euros, ou seja, 100% de seu PIB.
Segundo o direto do instituto de pesquisas econômicas de Hamburgo HWWI, Thomas Straubhaar, a Irlanda “não conseguirá sair do aperto por esforço própria”. Ainda segundo o Die Welt, diplomatas europeus esperam que a Irlanda recorra a até 70 bilhões de euros do fundo de resgate europeu.
Na última sexta-feira, o ministro irlandês das Finanças, Brian Lenihan, negou em entrevista à emissora de rádio RTE que seu país esteja inadimplente. Na noite deste sábado, no entanto, a emissora britânica BBC anunciou, sem citar fontes, que a endividada Irlanda já teria iniciado as negociações com diplomatas europeus.
Problemas gregos
Já na Grécia, o semanário Proto Thema relatou que o FMI e a UE terão provavelmente que esperar mais tempo para receber de volta o dinheiro que emprestaram a Atenas. “A questão está sobre a mesa”, declarou ao semanário o primeiro-ministro grego, George Papandreou.
Ele admitiu “a eventualidade” de um prolongamento de duração do pagamento do empréstimo de 110 bilhões à Grécia, acordado em maio com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
“Onde vemos que se podem encontrar soluções alternativas, mudaremos algumas condições do plano UE-FMI, optando por soluções mais justas”, disse o premiê helênico. Papandreou mencionou que o problema do orçamento grego “não se resolve de forma automática”.
George Papandreou disse ainda que “com ou sem o plano [UE-FMI], o déficit e os problemas são os nossos problemas e não de qualquer outro”. O chefe de governo sublinhou que seguirá com rigor o plano de saneamento financeiro traçado em maio pela UE e FMI.
Negócio da China
Portugal, por sua vez, recebeu oferta de ajuda econômica de um forte parceiro. Durante a 3ª conferência ministerial do Fórum de Macau para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, manifestou neste sábado a disponibilidade de seu país de ajudar Portugal a ultrapassar as suas atuais “dificuldades” econômicas.
“Portugal, neste momento, atravessa dificuldades causadas pela crise financeira internacional [...] Se Portugal tiver alguma necessidade, a China está disposta a prestar o apoio que estiver ao seu alcance”, disse Wen Jiabao no início de um encontro com o primeiro-ministro português, José Sócrates, após a abertura da conferência.
O primeiro-ministro chinês não se referiu à eventual compra de parte da dívida soberana portuguesa, mas reafirmou que a China “apoia o pacote de medidas de estabilização financeira” adotado pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional. Wen Jiabao evocou, ainda, a visita do presidente chinês, Hu Jintao, a Portugal na semana passada, considerando-a “um êxito”.
Durante o encontro em Macau, o primeiro-ministro chinês anunciou a criação de um fundo de 1 bilhão de dólares para desenvolver as relações entre a China e os países lusófonos. O fundo vai ser criado durante os próximos três anos por bancos de Macau e do interior da China, acrescentou o premiê.
CA/afp/dpa/dapd/rtr/lusa
Revisão: Augusto Valente
Revisão: Augusto Valente
Marcadores:
crise americna,
crise economica mundial,
efeito bolha,
espanha,
euro,
grécia,
irlanda,
itália,
neo-con,
neoliberalismo,
portugal,
união europeia
Assinar:
Postagens (Atom)