Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Veja inventa “fuga de Lula” para justificar prisão arbitrária

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No dia 14 do mês passado, no começo da tarde, este Blog denunciou que estava sendo preparado um espetáculo em torno de suposta prisão arbitrária que Lula sofreria por parte da Lava Jato. O argumento que seria usado para prendê-lo: ele pretenderia “obstruir a Justiça” e, assim, haveria que prendê-lo para proteger as investigações.

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Clique na imagem acima para ler a matéria.

O que é “atrapalhar investigações”? Fugir, por exemplo. Fuga de suspeito ou acusado é a forma mais grave de obstruir a Justiça.

Na edição de Veja desta semana (9 de novembro), pela enésima vez neste ano a revista martela que existiria um “plano de fuga” de Lula e família, e essa seria a razão de o ex-presidente estar fazendo denúncia à ONU contra abusos da Lava Jato de que vem sendo alvo.

Porém, desta vez a revista cria uma situação absolutamente insólita. O Palácio do Planalto, ou seja, Michel Temer e, sobretudo, José Serra (derrotado duas vezes pelo petista em campanhas eleitorais), ambos adversários políticos de Lula, descobriram um problema grave que ameaçaria o Brasil…

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Clique na imagem acima para ler a matéria.

Zelosos com a “imagem impecável do Brasil no exterior” (sic), sobretudo no que diz respeito aos cânones democráticos do país, Temer e Serra acham que, se Lula pedir asilo diplomático por se dizer perseguido politicamente, a comunidade internacional acreditará no que a direita diz que essa mesma comunidade internacional nunca acreditara, ou seja, que, recentemente, houve um golpe no Brasil e que, agora, há uma ditadura instalada por aqui.

Reportagem publicada na mais recente edição de VEJA que chega às bancas neste sábado promete revelar “detalhes de como o governo Temer vem lidando em sigilo com um delicado assunto: o risco de o ex-presidente Lula fugir do país”

Segundo a revista, “no momento em que o cerco da Operação Lava-Jato se fecha sobre o petista, as investidas dos advogados de Lula na Organização das Nações Unidas (ONU) levaram o ministro José Serra a procurar o presidente da República para analisar as consequências de um eventual pedido de asilo político de Lula”.

Como foi que a Veja descobriu essa preocupação inédita de Temer e Serra com a imagem do país? Ora, eles contaram para a Veja.

O chanceler também considera que um eventual asilo de Lula poderá criar danos diplomáticos, prejudicando a imagem do Brasil no exterior.

“Talvez eu tenha essa avaliação, mas o assunto principal que eu discuti com o presidente Temer foi o tratamento a ser dado a essa questão da ONU dentro do governo. Não penso que o asilo seja a estratégia principal, mas não vou afirmar o contrário”, disse ele à revista Veja desta semana.

Serra não foi questionado sobre os R$ 23 milhões que recebeu da Odebrecht em 2010, numa conta na Suíça (leia aqui), nem foi indagado sobre a possibilidade de ele próprio vir a pedir asilo diplomático, caso venha a sofrer implicações judiciais decorrentes da descoberta da conta usada pelo PSDB no paraíso fiscal helvético.

Lula é acusado de se beneficiar de reformas em dois imóveis (um sítio em Atibaia e um apartamento no Guarujá), que, segundo os cartórios de imóveis competentes, não lhe pertencem.
Serra foi delatado pela Odebrecht por ter recebido R$ 23 milhões – equivalentes hoje a R$ 34,5 milhões – numa conta secreta num paraíso fiscal.

O chanceler avalia, no entanto, que o que dano à imagem do Brasil é causado pelo risco de fuga de Lula – e não por sua presença no Itamaraty

Na verdade, essa matéria nada mais é do que material requentado. A primeira tentativa da Veja de criar argumentos para a Lava Jato prender Lula foi em março deste ano.

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A matéria foi anunciada numa quinta-feira, 24 de março de 2016 no portal da Veja
Basicamente, o que a revista publicou foram informações negadas pela fonte que teria afirmado que “o ex-presidente e aliados” estariam estudando “requerer que país europeu o receba como perseguido político” porque a família de Lula teria cidadania brasileira e italiana.

Disse Veja, à época, que o embaixador daquele país, Raffaele Trombetta, promovia um jantar para quarenta convidados, entre eles aliados do ex-presidente com atuação destacada no mundo jurídico e no Congresso.
Segundo a revista, “em determinado momento do convescote Trombetta teve uma conversa franca e reservada com os emissários do ex-presidente. Foi perguntado sobre possíveis desdobramentos caso Lula se refugiasse no prédio da embaixada italiana e desse prosseguimento ao pedido de asilo político” e o embaixador teria prometido “estudar consequências”.

O factoide não durou 24 horas.

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Há algumas semanas, o site O Antagonista veio com a tese da fuga de Lula de novo.
Para quem não sabe, esse site é editado por antipetistas que trabalhavam na Veja e que pediram demissão da revista para tocar um site com bico grande e investimento milionário, aquilo que os mineiros chamam de “trem-bão”…

Seja como for, um dos editores do Antagonista, um tal Claudio Dantas, tratou de inventar nova rota de fuga para Lula. Agora não seria mais Itália, já que o embaixador Trombetta desmentiu Veja publicamente. Agora, Lula fugiria para o Uruguai




A matéria de Veja desta sábado 5 de novembro nada mais é do que ação da revista para justificar eventual decretação extemporânea de prisão de Lula.

Na verdade, há quem acredite que Lula iria ser preso junto com Cunha e acabou não sendo porque polêmica sobre sua prisão iminente deixou a Lava Jato com um pé atrás.

É tudo uma questão de fé, não é mesmo? Quem acreditou na possível prisão iminente de Lula três semanas atrás, agora pode supor que essa nova reportagem de Veja sobre hipotética fuga dele e da família teria relação com triangulação entre a revista, a Lava Jato e o governo Temerário com vistas a justificar prisão arbitrária do ex-presidente.

É criminosa a acusação de que Lula fugiria do país apesar de as denúncias contra si estarem sofrendo críticas tão duras de inépcia. O processo contra o ex-presidente não contém um só elemento de prova ou de forte indício. Tudo está no campo das suposições.

Concluo esse texto exortando Les Enfants Terribles  de Veja e agregados antagônicos a darem uma lida no coleguinha deles Reinaldo Azevedo, que no texto que você pode ler aqui afirma que Lula não tem um mísero motivo para fugir.

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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

MAINARDI VÊ BRASIL COMO TERRA DE QUADRÚPEDES

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

E a democracia, estúpido?

A democracia “está acabada”, diz James Galbraith, filho do economista famoso, John Kenneth Galbraith, em entrevista à Folha, hoje.
Ele prossegue: “Na Grécia temos uma pessoa que foi indicada para primeiro-ministro que nem é membro do parlamento. Na Itália, Mario Monti foi indicado senador vitalício justo antes de virar primeiro-ministro. O fato é que esses dois primeiros-ministros foram ditados por Berlim, Bruxelas, Paris. Não foram escolhidos pelas populações de seus países.”
James Galbraith recorda que boa parte dos executivos que assumiram postos de mando na Europa são ligados ao Goldman Sachs, um dos grandes bancos de investimentos do mundo. Sua tese é que esses executivos se apossaram de cargos políticos e agora encaminham as decisões que irão definir o futuro da economia mundial.
O debate sobre a democracia é importante.
Não acho que a democracia está acabada mas é claro que se encontra numa situação complicada. Como aquele paciente em estado grave que não é capaz de decidir sobre a equipe médica que vai tratá-lo nem sobre o tratamento a ser seguido. As decisões são tomadas num aposento ao lado, onde a direção do hospital (ou seriam os bancos, como sugere o economista?) resolve o que vai fazer e impõe suas idéias ao paciente, muitas vezes desacordado.
Registrei aqui a reação dos fanáticos do mercado quando o ex-primeiro ministro Georges Papandreou ameaçou convocar um referendo para aprovar (ou não) o novo plano de austeridade da União Européia. Papandreou não durou 72 horas no cargo, vocês se lembram.
O curioso é que, mesmo tendo sido substituído por um primeiro ministro considerado de confiança pelos mercados, até agora a situação não se modificou. O governo grego ainda não teve acesso a um pacote 8 bilhões de euros, que fora prometido caso se mostrasse um aluno bem comportado e aceitasse submeter a população do país a novos sacrifícios, que Papandreou achava tão amargos que queria ajuda da oposição para aprová-los.
O governo espanhol acaba de ser trocado. Sairam os socialistas e retornaram os conservadores. Os números são estrondosos e ajudam a mostrar como o eleitor reage quando se sente abandonado por um partido que prometia defender sua história e seu padrão de vida.
Olhando para a substancia, nada se modificou. Os socialistas foram expulsos do poder em função da crise. Mas os conservadores retornam para dar sequencia a mesma política de seus antecessores. Se houver mudança, será para pior.
Assim, o eleitor que votou em protesto contra a situação econômica – e não há dúvida que este foi o ponto decisivo da eleição – em breve estará cansado e desiludido. Isso é que enfraquece um regime democrático: o sujeito vai à urna, vota, e nada acontece. Ou melhor: acontece o contrário daquilo que é esperado.
O pior é que a desmoralização dos socialistas atingiu um ponto tão alto que o PP nem precisou prometer muita coisa para receber uma tempestade de votos.
É uma situação semelhante à que se viu na Italia. As ruas gritam que não querem austeridade, mas crescimento. Como o bunga-bunga Berlusconi tornou-se uma ameaça à austeridade, providencia-se uma mudança de governo que terá impacto decisivo sobre o futuro de cada cidadão sem chamar a população para dizer o que pensa.
Nos Estados Unidos, a célebre comissão de democratas e republicanos não conseguiu chegar a um acordo para fazer cortes de 1,2 trilhão de dólares no orçamento do país. É menos grave do que parece, sustentou o Premio Nobel Paul Krugman, dias atrás.
Por que? Em função do poder exagerado dos lobistas do capital financeiro, somado a vontade republicana de bloquear qualquer melhoria na economia americana em véspera de eleição presidencial, a paralisia tornou-se o menor dos males, escreveu Krugman. Ele estava convencido de que qualquer acordo possível, naquelas circunstancias, produziria resultados ainda mais prejudiciais à economia do país.
Vamos combinar: quando um Premio Nobel acha melhor que os parlamentares fiquem de braços cruzados em plena crise é porque o ambiente político atingiu um patamar de catástrofe.
Este é o perigo.
A experiencia ensina que, em situações como esta, os políticos podem se transformar nos principais coveiros das convicções democráticas da população. Sem respostas claras e necessárias para enfrentar a crise, abrem a porta para idéias autoritárias.
A maioria das pessoas gosta de recordar do lado bom da crise de 1929, que foi o New Deal construído pelo governo Roosevelt. Era uma plataforma de crescimento e distribuição de renda, que tirou os EUA da crise. Mas havia um lado ruim também.
Em países onde não se encontrou uma saída para a enfrentar o desemprego e retomar o crescimento, abriu-se o caminho para idéias autoritárias. O caso notável de estudo é a Alemanha, que deixou seu destino nas mãos dos fanáticos do mercado da época. Com o desemprego batendo recordes históricos, eles se recusavam a estimular o crescimento e a recuperar o poder de compra das famílias. Olhando para o retrovisor, estavam de olho na ameaça inflacionária — que era um problema do passado bem distante.
O resultado é conhecido. Em 1929, Hitler era considerado um maluco que discursava nas cervejarias de Munique e seu partido não passava de uma organização com 2,5% de votos. Em 1933, os nazistas se tornaram os mais votados e Hitler assumiu o poder.
Personagens de uma mesma época, Roosevelt e Hitler representaram idéias opostas para problemas muito parecidos. Era a economia, estúpido! Mas também era a política.
Paulo Moreira Leite

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Novo governo pós-Berlusconi aprofundará neoliberalismo na Itália"


Ex-senador no Parlamento italiano pelo Partido da Refundação Comunista (2006-08), o ativista ítalo-brasileiro José Luís Del Roio prevê dias turbulentos na Itália, com a intensificação dos protestos de rua contra o desmonte do sistema de bem-estar. França pode ser a próxima vítima da crise. Sem aprofundar práticas democráticas e aproximar-se das massas, União Européia pode implodir, diz ele à Carta Maior.

São Paulo - Apesar de "felicíssimo" com a iminente queda do premiê Silvio Berlusconi e o fim da "bordelcracia" na Itália, o ativista ítalo-brasileiro José Luís Del Roio não projeta um cenário otimista.

Ex-senador no Parlamento italiano pelo Partido da Refundação Comunista (2006-08), ele acredita que o novo governo terá um caráter ainda mais neoliberal, ao apostar na destruição do sistema de bem-estar e em medidas recessivas como estratégias para superar a turbulência econômica.

A Itália é hoje a bola da vez da crise financeira européia. Berlusconi já admitiu a renúncia, pressionado pelo tamanho da dívida pública, o baixo crescimento econômico e a explosão dos juros cobrados dos títulos italianos.

"O novo governo será feito por homens educados, engravatados, que falam línguas, mas será terrivelmente neoliberal. (...) É uma visão extremamente equivocada para resolver a crise. (...) Se reduzirmos a arrecadação de impostos, a dívida pública em relação ao PIB só poderá aumentar", disse Del Roio à Carta Maior.

Nesta entrevista exclusiva, o ativista, que hoje vive entre São Paulo e Bragança Paulista, sua cidade natal, e desenvolve um projeto de pesquisa junto ao Instituto Vladimir Herzog, prevê uma temporada de turbulências sociais na Itália, especialmente com protestos de rua conduzidos por sindicalistas.

Del Roio foi dirigente do PCB nos anos 1960. Fundou, com Carlos Marighella e outros ativistas, a Aliança de Libertação Nacional (ALN), que abraçou a luta armada como forma de resistência. Quando a ditadura fechou o cerco aos opositores, Del Roio seguiu para o exílio e trabalhou no Peru, Chile, Argélia, Moscou e Itália. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista, concedida por telefone.

Carta Maior - Na Grécia, a crise levou situação e oposição a criarem um governo de união nacional. Na Itália, após a queda de Berlusconi, há essa possibilidade?
José Luís Del Roio - Na Itália não irá nascer propriamente um governo de unidade nacional, mas algo similar. Acredito que o novo governo terá a característica de um governo técnico. Mario Monti, que deve ser o próximo primeiro-ministro, não é um homem de partido. Por esse caráter, o novo governo deve ter participação tanto de partidos da chamada direita quanto da chamada esquerda. Mas a "esquerda-esquerda", como a Refundação, não participará, porque não tem mais nenhum deputado no Parlamento, após a mudança das regras nas últimas eleições.

CM - Imagino que o objetivo desse "governo técnico" será resolver a questão da crise da dívida. Mas é possível que haja novidades no campo político? Quem sabe a própria alteração da lei eleitoral?
Del Roio - É bem provável que o novo governo amenize alguns aspectos antidemocráticos da lei eleitoral. Acredito nisso porque a sociedade italiana irá se mobilizar diante das perdas de conquistas sociais que virão. E essas manifestações sociais que precisarão de algum canal constitucional que absorva a pressão.

CM - Não se viu na Itália protestos da dimensão dos ocorridos na Grécia. Eles podem ocorrer?
Del Roio - É possível, sim. Mas há um fator que conta a favor dos gregos. Lá, eles têm um partido comunista forte e organizado, que teve papel central naquelas mobilizações. Na Itália os protestos devem ser centralizados pela Federação Italiana dos Metalúrgicos e a Confederação Geral dos Trabalhadores Italianos, a CGIL. Já houve recentemente grandes mobilizações no país, mas elas se concentraram na tentativa de derrubar o governo Berlusconi.

CM - E o governo acabou caindo por conta da crise...
Del Roio - Pois é. É claro que estou felicíssimo com isso e com o fim da "boldelcracia" no país. Tínhamos um governo desqualificado internacionalmente. Agora teremos um outro, feito por homens educados, engravatados, que falam línguas, mas será terrivelmente neoliberal. É uma visão extremamente equivocada para resolver a crise. A política econômica que eles desejam aplicar resultará na destruição do sistema de bem-estar social e na desaceleração econômica, que não colaboraram em nada para a redução da dívida. Se reduzirmos a arrecadação de impostos, a dívida pública em relação ao PIB só poderá aumentar. A Itália deve hoje 120% de seu PIB, e isso poderá chegar a 130%, 140%, 150%... o céu é o limite.

CM - Na Grécia, os efeitos da crise têm sido terríveis no dia-a-dia das pessoas, com desemprego e corte de salários. Como a crise tem afetado a vida dos italianos?
Del Roio - A Itália ainda não chegou à situação da Grécia, e eu espero que não chega. Mas há problemas graves, como a desocupação crescente, sobretudo entre jovens. A faixa etária de 26, 27 anos enfrenta 40% de desemprego. Isso é um drama. Primeiro do ponto de vista econômico, porque são pessoas que não produzem e nem consomem. Segundo, do ponto de vista da esperança. Metade da juventude italiana não tem perspectiva e fica em casa sem fazer em nada ou acaba imigrando. Um outro problema trazido pela crise atinge os funcionários públicos, já que o governo decidiu impor-lhes quatro anos sem reajuste de salários. Além disso, os que se aposentam não poderão sacar um tipo de fundo de garantia por tempo de serviço que beneficia o funcionalismo italiano.

CM - A extensão da crise gerou discussões sobre o futuro da União Européia. Chanceler alemã, Angela Merkel, chegou a propor a revisão de tratados. Qual sua opinião sobre isso?
Del Roio - A situação da União Européia é pior do que parece. Em primeiro lugar, por sua própria estrutura. São 27 países e só parte deles adota o euro. Em segundo lugar, o governo da União Européia é extremamente antidemocrático e afastado das massas. As pessoas não conhecem o governo europeu, não sabem se tem presidente ou nome de ministros. O que há é uma burocracia feroz que não gosta de eleições. A Constituição da União Européia foi recusada em referendos na França e na Holanda e, então, decidiram impô-la. Antes de tudo, precisamos de democracia na União Européia. Há uma grande desatenção quanto à importância do voto das pessoas. A União Européia costuma criticar a democracia dos Estados nacionais, quando esse é um problema central dela. Ou ela se democratiza, ou está perdida.

CM - Em sua opinião, países podem deixar o bloco ou, pelo menos, o euro?
Del Roio - É possível. Quem estiver de acordo com o eixo central, formado por Alemanha e França, fica. Quem se revoltar, sairá. O problema é que a França não está imune à crise, nem economicamente e nem socialmente. Após o massacre contra os italianos, chegará a vez dos franceses. Isso pode gerar grandes transformações na Europa, porque a Alemanha, a meu ver, tem outra perspectiva estratégica em vista, que seria uma parceria com a Rússia. Desde antes de ser formada, em 1870, a Alemanha olhava para o leste, onde estão grande parte das reservas energéticas mundiais. Se a União Européia balançar, um eixo entre Alemanha e Rússia poderia se fortalecer.

CM - O senhor foi senador no Parlamento italiano. Pensa em se candidatar novamente?
Del Roio - Não penso em voltar. A vida parlamentar me incomodava muito. Você passa 4/5 do seu tempo discutindo minúcias, se deve ou não deve cobrar pelo uso dos banheiros da rodoviária. Eu gosto de discutir estratégias, de discutir se a rodoviária cumpre seu papel no sistema de transportes.

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Em 2006, recém eleito senador, Del Roio concedia entrevista à Carta Maior


Fotos: Gilberto Maringoni/Carta Maior

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O rapto da democracia





MISTO DE PÂNICO E OPORTUNISMO NA EUROPA NESTA 4ª FEIRA:mercados esfolam  a Itália o quanto podem nesta manhã de 4ª feira** reina um misto de pânico e oportunismo com o vazio de poder criado pela demissão branca de Berlusconi imposta ontem pelo poder financeiro** credores da dívida italiana exigem  juros equivalente aos que levaram Portugal e Irlanda à falência** o pânico decorre do  fato matemático de que a dívida italiana --da ordem de 2 trilhões de euros--  é seis vezes maior que a da Grécia, por exemplo, ** significa que a Itália é irresgatável pelos mecanismos à disposição da UE** por isso os credores fazem gato e sapato de Berlusconi e do Estado italiano** só uma guinada histórica daria um cala-boca nos mercados: o BCE  abandonar sua identidade ortodoxa e intervir pesado comprando títulos do Tesouro italiano** ou seja, assumindo claramente o papel de um regulador de liquidez, capaz de impor perdas e disciplinar ganhos dos rentistas, coisa que os 'livres mercados' ,vocalizados por Angela Merkel, repudiam.

A Europa assiste nesse momento, com anuência catatônica dos partidos e da mídia, à ação desmedida e auto-atribuída dos mercados financeiros de nomear e demitir governos, impondo-lhes metas e políticas que reduzem o Estado, a economia e a sociedade a meros dentes da engrenagem reprodutora do capital a juro.   

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No Brasil, como demonstra a editora de Política de Carta Maior, Maria Inês Nassif, em análise nesta pág., é a mídia que se arroga, de forma mais ostensiva, o papel desse poder paralelo, avocando-se a prerrogativa de inocentar e condenar ministros de Estado, a ponto de tornar o governo Dilma, perigosamente, refém de seus interesses e interditos.

Na Europa, de forma desconcertante, as causas da crise são omitidas na dissecação de um colapso cuja origem e manutenção remete ao poder desmedido das finanças desreguladas. Sua supremacia monopolizou a tal ponto a agenda política que hoje encara-se como inevitável responder ao colapso neoliberal com doses adicionais de seu veneno.

A mesma lógica auto-propelida alimenta a eterna pauta da corrupção política no Brasil. A ausência de uma presença estatal forte no financiamento das campanhas eleitorais torna partidos, eleitores e eleitos reféns do dinheiro privado. A mesma mídia que usurpa espaços e prerrogativas das instituições democráticas, permite-se, porém, rebaixar a discussão das alternativas a essa distorção para reiterar seu papel auto-atribuído de juiz e jurado das escolhas da sociedade.

Nos dois casos um poder coercitivo ilegítimo submete a cidadania a desígnios sedimentados à margem do discernimento social. Em nome da eficiência, na Europa, e da transparência, no Brasil, comete-se o rapto da democracia para instituir uma chantagem permanente e ardilosa contra a sociedade. A lição européia é clara: todos os governantes que cederam a essa lógica foram engolidos por ela
Postado por Saul Leblon

América Latina, pé de página para os EUA


Quando ganhou, como todo presidente norteamericano, Bush filho também disse, em 2000, que a América Latina se tornaria ”um compromisso fundamental” da sua presidência. No seu livro de memorias, “Pontos de decisão”, ele dedica menos de 0,5% das 497 páginas dedicadas ao continente. Nenhuma referência ao Brasil.

Na sua biografia política, ”Minha vida”, Clinton dedica umas 10 páginas do total de 957 à America Latina, cerca de 1% do livro, quase todas referidas a Haiti e a Cuba.

Madeleine Albright, ex-Secretaria de Estado, no seu livro “Madade Secretary”, dedica uma dezenas de páginas à América Latina, do total de 562, com alguns parágrafos dispersos sobre Cuba e o Haiti.

Condoleezza Rice vem de publicar o seu, “Nenhuma honra mais alta”. 98% do total de 766 páginas são dedicadas ao Oriente Médio, à Russia, à Ásia e apenas 2% - umas 15 páginas - à América Latina.

Enquanto isso, os EUA exportam 3 vezes mais para a América Latina do que a China. 43% das exportações totais dos EUA vem para a América Latina e o Caribe, que é fonte cada vez mais importante de petróleo e é a região com mais impacto em temas como a imigração e o narcotráfico. No entanto, Clinton escreve, no último número da revista Foreign Policy, “O século do Pacífico”, que “o futuro da geopolítica se decidirá na Asia e não no Afeganistão”.

Os EUA, junto com a direita latino-americana – a partidária e a midiática – não tem o que propor ao continente. Nem alternativas por parte das direitas locais, nem alternativas econômicas por parte dos EUA sempre em recessão.

Cabe ao continente – que para os EUA são um pé de página nas biografias dos seus ex-dirigentes – aproveitar-se da hegemonia que o modelo dominante na região adquire, para avançar na consolidação dos processos de integração regional e na construção de modelos alternativos ao neoliberalismo que a direita e os EUA impuseram aos nossos países.
Postado por Emir


sexta-feira, 15 de julho de 2011

ITÁLIA: A SOLUÇÃO DE MERCADO PARA A CRISE. AJUSTE SALVA 1º CLASSE DO TITANIC

 De forma indiscriminada o 'ajuste' aprovado pelo Senado italiano, na madrugada da 5º feira, destinado a saciar os apetites dos mercados  e evitar a fuga de capitais que começou na Grécia, atingiu Portugal e Espanha e agora mirava a Itália , sacrificou assalariados, aposentados, estudantes, famílias em início de vida, inválidos, pensionistas, crianças, doentes  e outros segmentos mais  frágeis da sociedade. Eles serão os principais  atingidos pelo corte de 5% das isenções fiscais até 2013; a partir de 2014, suportarão cerca de  20% do total dos cortes fiscais planejados, somando 24 bilhões de euros. O valor representa quase um terço do 'ajuste' de 75 bilhões de euros ofertado para acalmar  bancos e rentistas que detém títulos da dívida pública italiana de 1,8 trilhão de euros  (equivalente a 120% do PIB e maior do que a soma das dívidas da Grécia,Portugal, Espanha e Irlanda juntas).Outros 60% dos cortes sairão de novos ingressos, ou seja, impostos sobre salários. O atendimento à saúde será encarecido pelo fim das isenções. Empresas públicas, como correios e ferrovias serão privatizadas.  Hoje o pacote, aprovado pelo Senado, vai à apreciação da Câmara. A Itália já teve um dos Partidos Comunistas mais organizados do mundo. E um sindicalismo operário de força inquestionável na defesa dos direitos dos trabalhadores. Ao  discursar em defesa do pacote, o ministro da Economia, o ortodoxo Giulio Tremonti --um homem de confiança dos mercados --  advertiu que qualquer  hesitação diante da crise levaria a um desastre semelhante ao do Titanic, 'no qual nem os passageiros da 1º classe se salvariam'. O ministro mostrou como salvar a 1º classe e, ao mesmo tempo, satisfazer o poder financeiro. Basta jogar os pobres ao mar, coalhado de tubarões. Como disse Antonio Candido em entrevista ao Brasil de Fato: "O lado humano do capitalismo foi arrancado dele pelo socialismo". Sem esse contrapeso, resta a barbárie. 
(Carta Maior; 6º feira 15/07/ 2011)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

TWITCAM HOJE, ÀS 21 HORAS, COM EMIR SADER. BALANÇO DA CRISE INTERNACIONAL, DO GOVERNO DILMA E OUTROS TEMAS


"Estamos diante de uma crise mutante (...) a salvação terá que vir da política. Não podemos mais cometer erros. Ou haverá uma solução comum ou não haverá solução. Como no Titanic, não se salvarão nem os passageiros de primeira classe" .As palavras de Giulio Tremonti, o ortodoxo ministro das Finanças de Berlusconi, refletem o espírito de incerteza e apreensão que predomina na zona do euro, asfixiada por um duplo torniquete de deriva política e corrosão financeira progressiva. Sem ferramentas para disciplinar os mercados, a UE encontra-se paralisada por divergências políticas e ideológicas entre seus líderes. A principal trinca na cúpula do euro remete à forma como será rateado o calote inevitável da Grécia, que poderá antecipar o default de outros insolventes, como Portugal e Irlanda, sem afastar o risco de um contágio que pode arrastar também a Espanha e a Iália. Os bancos privados não aceitam realizar perdas dos créditos concedidos aos Tesouros desses países. Depois de se locupletaram no ciclo de alta da especulação, pretendem agora sair da festa sem pagar o prejuízo, vendendo integralmente seus títulos aos governos pelo valor de face. Por incrível que pareça, vem da dama de ferro prussiana, Angela Merkel, a resistência maior a essa estripulia da banca. Outros até mais progressistas, como JoséLuis Zapatero, da Espanha, temem que uma imposição de perdas aos mercados gere uma fuga em massa de investidores, precipitando o colapso dos elos mais frágeis da corrente do euro. Nesse vácuo institucional, os mercados desregulados exercem sua natureza predadora como se não houvesse amanhã. Nesta 5º feira, depois de acossada por ataques especulativos desde o início da semana, por conta de uma dívida pública superior a 120% do PIB, a Itália, terceira maior economia do euro, selou um armistício com seus credores, levando à aprovação do Senado um novo degrau de arrocho, com cortes de despesas superiores a 70 bilhões de euros.Quem vai pagar o banquete da reconciliação? Aposentados: pensões mais altas serão congeladas; as demais serão erodidas pela introdução de um fator previdencários; classe média: pagará mais impostos, com o fim de isenções; trabalhadores: arrocho vai gerar queda na oferta de empregos; população em geral: empresas públicas serão privatizadas; serviços essenciais terão cortes orçamentários. Mesmo assim, os mercados exigiram a sobremesa: impusera uma taxa de juros recorde, a mais alta em 15 anos, para comprar novos títulos da dívida pública italiana nesta manhã de 5º feira. Essa é a paz possível com o laissez faire rentista.
(Carta Maior; 5º feira 14/07/ 2011)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Segunda-feira de fúria: bolsas desabam; ouro dispara


Balanço da OCDE divulgado nesta 2º feira indica desaceleração e perda de fôlego  das  30 maiores economias do mundo. Mesmo a solitária pujança alemã ensombreceu..O colapso fiscal de várias economias na zona do euro -a Itália é a bola da vez desta 2º feira, conforme mostra matéria nesta pag--  e as incertezas  emitidas pela medíocre condução do governo  Obama, cada vez mais emparedado entre os mercados e a direita republicana, contaminaram  os ânimos e os indicadores mundiais. Bolsas desabaram hoje na Europa. Espanha foi mais uma vez esfolada pelos credores, que exigiram juros recordes para carregar títulos de sua dívida. Fundos desencadeiam vendas maciças de papíes da Itália, agravando as incertezas sobre o país. A convulsão reflete,  no fundo,  a impossibilidade estrutural de digerir o colapso dos mercados desregulados  dentro dos seus próprios termos, politicamente ainda não superados. É dessa tensão entre o velho e o novo que avultam  manifestações mórbidas, como o enjaulamento da Grécia e a imolação de seu povo para saciar credores, num mergulho recessivo que impede ao invés de favorecer a superação dos graves desequilíbrios fiscais do país. Mas  não só. Quando a maior economia do planeta, os EUA, cria apenas 18 mil vagas de  trabalho em um mês, como aconteceu em junho, fica evidente que a receita ortodoxa não tem mais nada a oferecer, exceto recessão e instabilidade. O cenário internacional  reforça  a percepção  insistentemente repetida por diferentes analistas  nesta página, como Amir Khair, economista da FGV. Eles  evocam a necessidade de medidas mais contundentes que protejam o desenvolvimento brasileiro num horizonte de longa instabilidade externa e redobrada exasperação dos capitais especulativos. A timidez das medidas gradualistas na área cambial deve ceder lugar a um controle explícito dos fluxos parasitários. A política monetária deve liberar fundos públicos hoje sacrificados ao pagamento de juros da dívida interna para uma efetiva mobilização de investimentos em infraestrutura que redundem em maior competitividade industrial, vagas de trabalho, exportações e  demanda interna. O governo Dilma tem dispersado energias e recursos em agendas colaterais irrelevantes diante das urgências estratégicas reiteradas pela crise mundial -- caso da fusão Pão de Açúcar/Carrefour,por exemplo.  Na semana passada, operários do ABC  paralisaram as máquinas e foram às ruas exigir medidas contra a desindustrialização que desloca empregos e produção para o exterior. O governo deve fazer a leitura correta desse momento: o tempo das hesitações esgotou.
(Carta Maior; 2º feira 11/07/ 2011)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pais que elegeu Berlusconi diz que Brasil não é serio


Em 29 de dezembro do ano passado, 48 horas antes de deixar a Presidência da República, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um de seus últimos atos de governo, concedeu asilo político ao ex-ativista italiano Cesare Battisti, de quem a Itália pôs a cabeça a prêmio por envolvimento nas guerrilhas daquele país nos anos 1970.
Chegou-se àquele ponto após intensa campanha da grande imprensa brasileira para que o governo Lula cedesse às exigências, ameaças e insultos que a Itália vinha fazendo ao Brasil. Cada manchete que a “nossa” mídia publicava era no sentido de mostrar que estaríamos nos desmoralizando diante do resto do mundo ao não atendermos à cosmopolita Itália.
O governo italiano e autoridades do judiciário do país europeu, além da imprensa local, estavam do mesmo lado. Falavam do Brasil como país subdesenvolvido que contrariaria os seus interesses por deficiências não só de sua cultura, mas de seu povo. Na imprensa italiana não faltaram referências racistas ao nosso país.
Isso sem falar nas ameaças. Por conta da decisão de Lula, as autoridades italianas recorreriam à Corte Internacional de Haia, promoveriam retaliações em acordos militares, votariam sistematicamente contra o Brasil nos fóruns internacionais e proibiriam a todos nós de comer pizzas e lasanhas para todo o sempre.
A grande imprensa golpista e entreguista, ao contrário da italiana, que ficou ao lado das demandas nacionais e passou a tratar o Brasil como um escravo insolente, correu para o lado dos detratores da pátria, escandalizada com a falta de “primeiro-mundismo” do governo do operário abusado que desacatara a “metrópole”.
Após alguns dias de abusos verbais e perda de controle por parte de autoridades e imprensa italianas, o premiê Silvio Berlusconi, um dos que mais “botaram pilha” nas ameaças e desqualificações ao Brasil, veio dizer que não era bem assim, que o caso Battisti não afetava, de fato, as rentáveis e desejáveis relações comerciais com o paiseco atrasado de pouco antes.
Agora, o STF enterra as reportagens da “stampa brasiliana” que previam virada da decisão de Lula no STF, com a entrega de Battisti ao seriíssimo país que deu a espetacular prova de maturidade política ao eleger o “estadista” Silvio Berlusconi, que anda tendo que explicar  danças de bunga-bunga com garotas pouco mais do que adolescentes.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

STF apóia Lula, derrota Berlusconi e Gilmar Mendes e solta Battisti


Supremo Tribunal Federal reconhece direito político de o ex-presidente Lula conceder refúgio ao ativista Cesare Battisti e manda soltar o italiano. Relator do caso, Gilmar Mendes votou contra Battisti e Lula e apoiou reclamação do governo Silvio Berlusconi, que insistia na extradição. Mas, junto com o presidente do STF, Cezar Peluso, foi derrotado pela maioria da Corte. Advogados vão pedir visto permanente para Battisti, que deve voltar a ser escritor.

BRASÍLIA – Preso há quatro anos num presídio do Distrito Federal, o ativista político italiano Cesare Battisti deve ser solto nesta quinta-feira (09/06) e, logo em seguida, pedir ao Conselho Nacional de Imigração um visto para permanecer de forma definitiva no Brasil. Depois, decidirá se fica em Brasília, muda-se para o Rio de Janeiro, onde tem amigos, ou para São Paulo, onde está a editora de livros com a qual trabalhava antes da detenção e pela qual quer retomar a atividade de escritor.

O alvará de soltura de Battisti foi assinado na noite desta quarta-feira (08/06) pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, depois de um julgamento de mais de seis horas em que o STF apoiou o direito do ex-presidente Lula de conceder refúgio ao ativista e rejeitou a tentativa do primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, de obter a extradição do compatriota.

O Supremo libertou Battisti por 6 votos a 3, numa decisão em que os ministros se dividiram entre duas posições. A vitoriosa defendeu encarar o caso como uma questão política. Como presidente da República, Lula tinha soberania para decidir dar ou não abrigo ao italiano, e depois que arcasse com as consequências políticas – reação internacional negativa, processo no Tribunal Internacional de Haia ou por crime de responsabilidade no Congresso Nacional, por exemplo.

Essa tese prevaleceu mesmo diante do fato de que a própria Corte opinara, no ano passado, e também por maioria, que Battisti, acusado de quatro assassinatos, não merecia refúgio. “O ato do presidente da República é um ato de soberania, e é ele quem conduz a política internacional [do Brasil]”, disse o ministro Marco Aurélio Mello, que votou pela libertação de Battisti.

A Corte havia se reunido para discutir a situação do italiano por causa de uma reclamação do governo Berlusconi contra o asilo concedido por Lula em 31 de dezembro de 2010, último dia do mandato do ex-presidente. Mesmo depois do refúgio, há mais de cinco meses, Battisti continuava preso, devido a esta reclamação.

Favorável à contestação de Berlusconi, o relator do caso, ministro Gilmar Mendes, liderou a corrente derrotada, que preferiu encarar o assunto como algo “jurídico”. Nesta interpretação, Lula tinha obrigação de cumprir a postura pró-extradição manifestada pelo Supremo em 2010, e não de considerá-la apenas como uma opinião na sua (dele, Lula) tomada de decisão.

Mendes amparou o voto no fato de existir um tratado entre Brasil e Itália que aborda o tema "refúgio". Para ele, o tratado tem valor legal dentro no Brasil e devia ser seguido como uma lei qualquer. “Para inventar um espaço livre para o presidente da República, tem de reescrever a Constituição”, afirmou Mendes.

“O que está em jogo aqui não é o presente ou o futuro de um homem, é a soberania do país”, disse o ministro Luiz Fux, que votou contra o relator. Para o ministro Carlos Ayres Brito, outro voto oposto a Gilmar Mendes, Lula decidiu, sim, com base no tratado, cuja observância é voluntária. Ou seja, o país que o assina segue enquanto achar conveniente, e o outro lado pode ficar insatisfeito e desistir do tratado também.

Até quem tinha opinado pela extradição de Battisti no julgamento do ano passado, como o ministro Ricardo Lewandowski, que entendia haver o italiano praticado crimes comuns, e não políticos, defendeu que Lula tinha "soberania" para decidir como achasse melhor.

Gilmar Mendes foi derrotado junto com a ministra Ellen Gracie e o próprio do presidente do STF, Cezar Peluso. Os três rejeitaram a idéia de que a Corte estava diante de uma questão política e defenderam que seria preciso “limitar” o poder do presidente da República.

Após o julgamento, acompanhado do lado de fora do STF por simpatizantes de Battisti que gritavam contra Gilmar Mendes, o advogado do militante, Luis Roberto Barroso, comemorou a decisão do Supremo de reconhecer o direito do ex-presidente de decidir de forma “soberana” pelo refúgio.

Barroso lamentou a perseguição política de que seu cliente foi vítima durante anos. "Ele é uma figura menor de uma organização de esquerda menor, é quase inacreditável que a Itália tenha tornado ele um símbolo de terrorista”, afirmou. “O uso da expressão terrorista é uma ofensa parta um velho militante comunista", completou.

O advogado disse estar otimista quanto à obtenção de visto permanente por Battisti já que, se o Brasil concedeu refúgio, é porque o aceitaria tê-lo vivendo aqui. Já o primeiro advogado do italiano, Luiz Eduardo Greenhalgh, que estava presente ao STF, informou que Battisti vai decidir com calma qual será seu destino – Brasília, Rio ou São Paulo – e que o ativista tem a intenção de escrever um livro sobre seu caso.


Fotos: Renato Araújo/ABr

segunda-feira, 9 de maio de 2011

The Guardian: Otan deixa africanos à morte no mar



A tragédia era anunciada. Não se sabia, apenas, se os refugiados africanos  que cruzam o  Mediterrâneo em barcos precários, fugindo dos bombardeios da OTAN e dos conflitos internos na Líbia iriam morrer às dezenas num naufrágio ou num incêndio a bordo…
A tragédia aconteceu. Não uma, mas duas delas.
A primeira, quando um barco com 72 homens,  mulheres e  crianças sofreu uma avaria no fim de março após deixar Trípoli, na Líbia, com destino a ilha italiana de Lampedusa. 61 deles morreram de fome e de sede, depois de 15 dias à deriva no mar.
A segunda tragédia, revelada hoje pelo jornal inglês The Guardian: eles foram vistos, mas não socorridos, pelas tropas da OTAN. Foram deixados para morrer.
O jornal ouviu os sobreviventes e fez suas próprias investigações.
Da primeira vez que os refugiados foram vistos, um helicótero militar lançou-lhes algumas garrafas d´água e biscoitos. Os dois pilotos, fardados, gesticularam que a ajuda viria. A água foi separada para os dois bebês, que morreram  depois, porém.
Depois, um porta-aviões, que o The Guardian identifica como o francês Charles De Gaulle chegou tão perto deles que, segundo os sobreviventes, seria impossível não vê-los.  Dois aviões decolaram dele e  passaram, bem baixo, sobre o barco.
Os passageiros e a tripulação em desespero não eram líbios, mas eritreus, sudaneses, etíopes e ganenses que estavam naquele país. São negros.
A  Itáliatem reclamado que está recebendo sozinha os refugiados norte-africanos.A França já fechou e abriu fronteiras para os trens que vêm do território italiano com migrantes. Outros países europeus pedem a revisão do Tratado de Schengen, que estabelece a livre circulação de pessoas e mercadorias na Europa. Lógico que a revisão não é sobre as mercadorias.
A Europa, como se sabe, está lançando bombas e mísseis sobre a Líbia para “proteger” a população civil.
Vê-se bem como se importam com ela.
PS: Mais sobre este tema em “Pobres ao mar, Madame le Pen”

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A blindagem de Serra no episódio das enchentes

Enviado por luisnassif

Leiam esse trecho do Editorial do Estadão:

(...) todos sabiam que, sem um trabalho de manutenção adequado, com a limpeza constante do leito, essa importante conquista estaria ameaçada. Infelizmente, foi o que aconteceu. 

Quem são os "todos" que sabiam? Leitores de blog, dentre os quais se inclui o editorialista. No ano passado - e neste ano - nenhum veículo da velha mídia noticiou que a causa central do agravamento das enchentes de São Paulo foi a decisão do governo José Serra de reduzir as verbas para os trabalhos de desassoreamento do rio Tietê.
Quando terminaram os trabalhos de aprofundamento da calha - longuíssima duração, com verbas do Banco Mundial e do JBIC (Japan Bank International Cooperation) - um conhecido meu investiu em um processo de transporte de barcaças pelo rio. As barcaças passariam por todo o Tietê, atravessando São Paulo e indo desembocar em Mato Grosso. Essa era a expectativa do rio, depois de vultosos investimentos feitos no decorrer dos anos 90.
Todo esse investimento foi por água abaixo por conta do abandono dos trabalhos de dessassoreamento.
Não se trata de um mero descuido da uma gestão - de Serra - desinteressada. Trata-se do episódio que afetou o maior número de pessoas em toda história da cidade. Duvido que tenha havido outro com essa extensão.
No entanto, a velha mídia mentiu. Escondeu a história, poupou o governador, que sumiu durante todo o episódio. Jogou a culpa nas costas do prefeito da cidade e de seus habitantes. Atribuiu as enchentes ao lixo jogado na rua.
Agora, o Estadão usa no seu editorial as informações levantadas pela blogosfera.

Matérias sobre o rebaixamento da calha:

E Ainda QUerem o Batisti de Volta

Itália se nega a extraditar ex-capitão da ditadura uruguaia

O governo italiano, tão empenhado na extradição de Cesare Battisti, adota postura diferente no caso do uruguaio Jorge Troccoli.

Capitão da marinha uruguaia, Troccoli teve uma atuação bastante ativa na tristemente famosa “Operação Condor” (que contou com a participação das ditaduras militares do Uruguai e de outros países sul-americanos), tendo sido responsável pela tortura e morte de mais de uma centena de opositores desses regimes, entre 1975 e 1983. Em 2002, o governo do Sr. Silvio Berlusconi – em sua segunda passagem pela chefia do gabinete de ministros da Itália - concedeu cidadania italiana ao Capitão Troccoli, mesmo sabendo das acusações de crime contra a humanidade que pesavam contra ele.

Em setembro do ano passado, o ministro da justiça da Itália, Angelino Alfano, negou-se à extraditar Troccoli para o Uruguai, alegando que ele é cidadão italiano, tomando como base jurídica um tratado assinado entre os dois países em 1879. Portanto, o mesmo governo que nega-se a extraditar um notório torturador, utilizando dessas filigranas jurídicas, é o mesmo que se considera ofendido pela não-extradição de Battisti, que seguiu todas as normas da legislação brasileira, que por sua vez se baseia em uma série de convenções internacionais.

"O curioso é que o governo de Berlusconi negou a extradição de Troccoli para o Uruguai, alegando dupla cidadania", comentou o editor da página Gramsci e o Brasil, Luiz Sérgio Henriques. Henriques argumenta que o caso Troccoli tem "muitas semelhanças" com o de Battisti: "não faltaram pressões diplomáticas do governo uruguaio, recursos às instâncias do Judiciário italiano, etc.", e conclui: "mas o governo de Berlusconi parece irredutível na sua decisão sobre Troccoli, 'o Battisti uruguaio', no dizer do jornal L’Unità. E se trata de um episódio recente, cujas escaramuças diplomáticas e judiciárias mais dramáticas ocorreram em 2008".

Da redação, com agências
Atualizado às 13h30 para acréscimo de informações.

O jornalismo que a velha mídia não fez

Enviado por luisnassif

Nas enchentes de 2009, a mais importante matéria do período foi da Conceição Lemes, no blog Vi o Mundo.
Nela, o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto mostra que as enchentes foram fruto de duas irresponsabilidades: redução das obras de limpeza do rio Tietê na gestão Serra e não cumprimento das metas de construção de piscinões nos últimos dez anos.
Levei o engenheiro em um Brasilianas sobre defesa civil. Ele foi taxativo: "Qualquer geólogo e qualquer técnico do DAEE sabe disso. Mas os jornais estão escondendo".
A velha mídia escondeu a causa da maior tragédia coletiva da história da cidade.  
Cerqueira César: Enchentes em SP refletem falta de governo | Viomundo - O que você não vê na mídia
Matéria trazida do Viomundo antigo. Publicada originalmente  em 20 de dezembro de 2009

Júlio Cerqueira César Neto: “São Pedro e o lixo jogado na rua não foram os responsáveis pelas enchentes de 8 de setembro e 8 de dezembro em São Paulo”
por Conceição Lemes


Filho feio não tem pai. Já se o rebento tem pedigree, sobram candidatos.
O governador de São Paulo, José Serra, é hors concours na área.  Assume como dele a criação do Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde, considerado um exemplo no mundo. Só que os verdadeiros criadores são a doutora Lair Guerra de Macedo Rodrigues e o professor Adib Jatene.
“Serra, pai dos genéricos? PSDB, criador dos genéricos? Assumir como deles é um embuste!”, disse em junho ao Viomundo, o médico Jamil Haddad, falecido na semana passada, aos 83 anos. Ex- deputado federal, ex-prefeito do Rio Janeiro e ministro da Saúde de outubro de 1992 a agosto de1993, Jamil Haddad é o verdadeiro pai dos genéricos do Brasil.
Em compensação, Serra nunca é pai de perebentos. Inexoravelmente culpa os outros. Tanto que terceirizou a paternidade das inundações em São Paulo. Além do desplante de dizer que o noticiário negativo era obra do que chamou de PT Press,  o governador afirmou que problema da enchente foi a enorme, anormal, atípica chuva.
Para colocar os pingos nos is, o Viomundo entrevistou o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto. Durante 30 anos – está com 80 – foi professor de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica/USP. É considerado um dos grandes especialistas do Brasil nessa área.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Estudantes europeus saem às ruas contra cortes


Em Roma e em Londres, milhares de estudantes saíram às ruas semanas para protestar contra as políticas de cortes dos governos conservadores de seus países. Em Roma, Pisa, Palermo, Turim e Perugia, os estudantes que lutam contra o decreto lei da ministra da Educação, Maristella Gelmini, demonstraram ter aprendido a lição dos trabalhadores e imigrantes: subiram nos telhados, ocuparam edifícios e foram notícia. O governo quer cortar os fundos para a Universidade pública para aumentar os destinados à Universidade privada. Na Inglaterra, estudantes de 13 e 14 anos foram para às ruas contra as políticas do governo.
Na foto acima estamos em Roma. “Perigosos ativistas” armados com escudos de cortiça carregando títulos da literatura clássica universal caminham rumo ao Senado para “assediá-lo”, segundo os principais meios de comunicação do país. A manifestação de 3 mil estudantes das universidades romanas e sua marcha ao Senado, contra o qual lançaram ovos, foi qualificado pelo presidente da Casa como uma “vil agressão” ou como um “ato de violência”. Como se vê, três minutos de “assédio” causam muito medo nas altas esferas.

Os estudantes compreenderam que para que alguém os escute, é preciso dar espetáculo, ou dar espetáculo. Se não fizerem isso, a trágica situação vivida pela Universidade italiana não é notícia. Gennaro Carotenuto, que ensina na Universidade pública, explica que o trabalho de formação das universidades italianas se sustentou em todos estes anos em grande parte (mais de um terço) graças à dedicação de uma massa de pesquisadores contratados (24 mil) ou não (ao menos 40 mil pessoas entre 30 e 40 anos). Sobre seus ombros se apoiou a atividade didática. Gratuitamente ou com pagamentos simbólicos. Cerca de 10 mil professores se negaram este ano a seguir desempenhando suas tarefas didáticas para acabar com a hipocrisia mantida por um sistema que pretende acabar com as esperanças não apenas de uma, mas de várias gerações.

Em Roma, Pisa, Palermo, Turim e Perugia, os estudantes que lutam contra o decreto lei da ministra da Educação, Maristella Gelmini, demonstraram ter aprendido a lição dos trabalhadores e imigrantes: subiram nos telhados, ocuparam edifícios e foram notícia. O governo quer cortar os fundos para a Universidade pública para aumentar os destinados à Universidade privada. Esta semana, o Parlamento não aprovou o decreto lei: uma prova mais da fratura da esmagadora maioria parlamentar de que gozava Berlusconi. Um dos slogans dos estudantes retratava bem essa realidade: “Não seremos precários: o governo o é mais”. A propaganda do Palácio diz a uma geração com futuro obscuro que temos vivido acima de nossas possibilidades, retirando direitos que as gerações anteriores desfrutaram. 

No dia 17 de novembro, o mundo dos institutos e das escolas protestou. Cerca de 200 mil pessoas saíram às ruas. Irromperam no território do poder intocável: o Senado, Palácio Grazioli (residência de Berlusconi) e Praça Montecitorio (do Parlamento). 

Enquanto isso, em Londres, alguns outros milhares de estudantes voltaram às ruas para protestar contra os cortes de investimentos e aumento das taxas universitárias para até 9 mil libras esterlinas (mais de 10 mil euros). A polícia os esperava. Não devia permitir outro assalto espetacular a outro centro do poder, como ocorreu quando outro protesto tocou fisicamente a sede do Partido Conservador. Acabou encurralando uma manifestação pacífica. Grupos especiais de inteligência das forças de segurança detiveram alguns “extremistas domésticos”. O governo criminalizou o protesto e aconselhou os meios de comunicação a não alimentá-lo com o “oxigênio da publicidade”. No entanto, os ativistas reagiram. 

site Fitwatch deu conselhos sobre como agir durante o protesto: leve uma máscara, não tire fotos que possam ser usadas contra você, não leve documentos nem agendas que possam identificá-lo. Em Sheffield, Bristol, Liverpool ou Manchester, estudantes de 13, 14 anos saíram às ruas para apropriar-se do presente e arrancar o futuro das mãos do Estado. Um Estado depredador que na Letônia, na Irlanda, França, Islândia, Romênia, Portugal ou Espanha diz a seus cidadãos que o Estado social acabou. Os cidadãos pouco poderão fazer contra uma decisão que cai em cima de suas cabeças e hipoteca seu futuro se demonstrarem sua inconformidade de modo fragmentado. Mas os estudantes europeus estão demonstrando ter compreendido muito claramente que o futuro está aqui no presente e se decide agora: por isso nestes protestos em Roma e em Londres liberam a política sequestrada, a tiram para fora dos palácios e seguem lutando.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Situação econômica da Irlanda, Grécia e Portugal preocupa europeus


European-Central-Bank

Sugestão: Gérsio Mutti

Tudo indica que Irlanda recorrerá a pacote de resgate da União Europeia. Gregos, por sua vez, cogitam prolongar a duração do pagamento de empréstimos junto à UE e ao FMI, enquanto Portugal recebe oferta de ajuda chinesa.

A situação econômica de Irlanda, Grécia, Portugal continua a ocupar espaço na mídia europeia. No caso da Irlanda, estão cada vez mais evidentes os sinais de que ela receberá ajuda europeia. Isso apesar de tanto Dublin quanto a União Europeia terem negado que estariam em negociações para um pacote de resgate financeiro devido à crise de endividamento irlandesa.
O jornal Die Welt anunciou neste domingo (14/11) que já nesta semana Bruxelas discutirá, concretamente, sobre a ajuda financeira ao endividado país da zona do euro. Segundo o diário alemão, a solicitação de um pacote de resgate para a Irlanda semelhante ao da Grécia parte principalmente de Portugal e da Espanha. Os governos dos dois países estariam temerosos de serem os próximos a caírem na linha de fogo, observou o periódico alemão.
Neste domingo, o presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, anunciou à margem da cúpula dos países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), na cidade japonesa de Yokohama, que estaria certo de que a Irlanda conseguiria resolver seus problemas, mas “se os irlandeses algum dia precisarem do apoio do FMI, estamos naturalmente prontos para ajudar”.
Endividamento 100%
A Irlanda se encontra em uma situação econômica difícil. O Pacto de Estabilidade do Euro prevê um endividamento orçamentário máximo de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para os países da zona do euro. Neste ano, este índice alcançou 32% na Irlanda. O país deve um total de 160 bilhões de euros, ou seja, 100% de seu PIB.
Segundo o direto do instituto de pesquisas econômicas de Hamburgo HWWI, Thomas Straubhaar, a Irlanda “não conseguirá sair do aperto por esforço própria”. Ainda segundo o Die Welt, diplomatas europeus esperam que a Irlanda recorra a até 70 bilhões de euros do fundo de resgate europeu.
Na última sexta-feira, o ministro irlandês das Finanças, Brian Lenihan, negou em entrevista à emissora de rádio RTE que seu país esteja inadimplente. Na noite deste sábado, no entanto, a emissora britânica BBC anunciou, sem citar fontes, que a endividada Irlanda já teria iniciado as negociações com diplomatas europeus.
Problemas gregos
Já na Grécia, o semanário Proto Thema relatou que o FMI e a UE terão provavelmente que esperar mais tempo para receber de volta o dinheiro que emprestaram a Atenas. “A questão está sobre a mesa”, declarou ao semanário o primeiro-ministro grego, George Papandreou.
Ele admitiu “a eventualidade” de um prolongamento de duração do pagamento do empréstimo de 110 bilhões à Grécia, acordado em maio com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
“Onde vemos que se podem encontrar soluções alternativas, mudaremos algumas condições do plano UE-FMI, optando por soluções mais justas”, disse o premiê helênico. Papandreou mencionou que o problema do orçamento grego “não se resolve de forma automática”.
George Papandreou disse ainda que “com ou sem o plano [UE-FMI], o déficit e os problemas são os nossos problemas e não de qualquer outro”. O chefe de governo sublinhou que seguirá com rigor o plano de saneamento financeiro traçado em maio pela UE e FMI.
Negócio da China
Portugal, por sua vez, recebeu oferta de ajuda econômica de um forte parceiro. Durante a 3ª conferência ministerial do Fórum de Macau para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, manifestou neste sábado a disponibilidade de seu país de ajudar Portugal a ultrapassar as suas atuais “dificuldades” econômicas.
“Portugal, neste momento, atravessa dificuldades causadas pela crise financeira internacional [...] Se Portugal tiver alguma necessidade, a China está disposta a prestar o apoio que estiver ao seu alcance”, disse Wen Jiabao no início de um encontro com o primeiro-ministro português, José Sócrates, após a abertura da conferência.
O primeiro-ministro chinês não se referiu à eventual compra de parte da dívida soberana portuguesa, mas reafirmou que a China “apoia o pacote de medidas de estabilização financeira” adotado pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional. Wen Jiabao evocou, ainda, a visita do presidente chinês, Hu Jintao, a Portugal na semana passada, considerando-a “um êxito”.
Durante o encontro em Macau, o primeiro-ministro chinês anunciou a criação de um fundo de 1 bilhão de dólares para desenvolver as relações entre a China e os países lusófonos. O fundo vai ser criado durante os próximos três anos por bancos de Macau e do interior da China, acrescentou o premiê.
CA/afp/dpa/dapd/rtr/lusa
Revisão: Augusto Valente