A imprensa internacional está acompanhando a votação final do impeachment da
presidenta afastada Dilma Rousseff, marcada para hoje (31), e já
antecipa que ela será removida do cargo. O jornal britânico The Guardian, em sua edição americana, publicou artigo com perguntas e respostas para que o leitor entenda o que está acontecendo no Brasil.
O jornal explica que o Senado brasileiro está votando hoje a saída
definitiva de Dilma Rousseff da presidência da República, dando
sequência a um processo de impeachment que a afastou do cargo
desde maio. De acordo com o artigo, a previsão é de que mais de dois
terços dos 81 senadores vão apoiar a remoção de Dilma e confirmar o
presidente interino Michel Temer como chefe de governo do país.
O The Guardian observa que a acusação contra Dilma é que ela
teria tomado empréstimos de bancos estaduais, sem a aprovação do
Congresso, para compensar a falta de recursos orçamentários para
executar projetos.
O jornal informa que os que se opõem a Dilma chamam de “pedaladas” a
utilização de dinheiro não previsto no Orçamento, sem autorização do
Congresso, para financiar a agricultura familiar, o que dá uma
“impressão enganosa” sobre a real situação das finanças do Estado.
O jornal também dá espaço para as explicações da defesa de Dilma
Rousseff. De acordo com essas explicações, o dinheiro usado não era um
empréstimo, mas transferências de recursos públicos, práticas utilizadas
por administrações anteriores, embora não na mesma escala.
O The Guardian acrescenta que todas as explicações são apenas “pretexto” para a remoção de Dilma do poder. As verdadeiras razões para o impeachment, segundo o jornal, “são políticas”.
O
jornal diz ainda que Dilma “é impopular” porque é vista como culpada
pelas múltiplas crises que o país enfrenta e revelou-se uma líder inepta
para enfrentar os problemas. “Mas a Constituição do Brasil não permite
que haja um voto de desconfiança para tirá-la do poder”, que é o
argumento utilizado para justificar o impeachment, de acordo com o
artigo.
Lava Jato
Atrás da motivação para prosseguir com o processo de impeachment contra
Dilma, de acordo com o jornal, estão alguns políticos “claramente
motivados por um desejo de matar a investigação da Lava Jato, o que
Dilma Rousseff se recusou a fazer”
O jornal lembra que o impeachment foi iniciado pelo
ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, depois que o
Partido dos Trabalhadores se recusou a protegê-lo de uma investigação no
comitê de ética da Casa. O The Guardian informa também que
conversas secretamente gravadas revelaram que o líder do PMDB no Senado,
Romero Jucá, queria remover a presidenta para que a investigação da
Lava Jato pudesse ser “sufocada por seu sucessor”.
The New York Times
O jornal The New York Times publicou artigo assinado pela
jornalista brasileira Carol Pires, da Revista Piauí, com o título
"Impeachment muda o governo, não a política". O artigo diz que, para
muitos brasileiros, "o foco não está mais na política do governo em
dificuldades, mas em seus próprios bolsos".
A jornalista afirma que, com a saída de Dilma Rousseff e do Partido
dos Trabalhadores (PT) do governo, o PMDB - ex-aliado de Dilma - passou a
chefiar o processo de impeachment. "No entanto, o PMDB não
está menos envolvido nos desfalques da Petrobras do que os outros
partidos". O artigo lembra que a economia em naufrágio e a indignação
contra a corrupção provocaram "sucessivas e intensas manifestações
populares que levaram a uma mudança de governo, mas não na política
brasileira".
Já o site The Daily Beast afirma que Dilma Rousseff
sairá formalmente do governo, apesar de ter protagonizado "uma última
resistência incansável contra as acusações de irregularidades fiscais
movidas contra ela, que muitos no Brasil veem como uma cortina de fumaça
para sua remoção a qualquer custo". O jornal lembra a frase de Dilma,
durante o depoimento no Senado, que durou 14 horas: "Estamos a um passo
de assistir a um golpe [parlamentar de Estado] real".
O site da agência de notícias Reuters diz que os
acusadores da presidenta afastada Dilma Rousseff reafirmaram que estão
julgando não só a quebra de regras orçamentárias, "mas também um
escândalo de corrupção e uma profunda recessão que eclodiu no seu devido
tempo". O site observa que Dilma é acusada de usar dinheiro de
bancos estatais para reforçar os gastos durante a campanha à reeleição
em 2014, um truque orçamentário já aplicado por muitos outros candidatos
eleitos no Brasil. A Reuters lembra, porém, que Dilma negou, em seu depoimento, as irregularidades e disse que o processo de impeachment foi
destinado "a reverter os ganhos sociais alcançados durante os 13 anos
de governo de esquerda e proteger os interesses das elites endinheiradas
na maior economia da América Latina".
O jornal The Washington Post também comenta que a advogada
Janaina Paschoal, que acusa a presidenta Dilma Rousseff de ter cometido
“fraude” em suas práticas contábeis, derramou lágrimas ao pedir
desculpas a Dilma por tê-la feito sofrer. O gesto “teatral”, segundo o
jornal, foi o ato final de uma luta política que consumiu a maior nação
da América Latina desde que o pedido de impeachment foi apresentado na Câmara dos Deputados no ano passado.