Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Plebiscito é a única chance de regular a mídia

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A nomeação do ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais Ricardo Berzoini para o Ministério das Comunicações reacendeu a esperança dos ativistas pela regulação da mídia devido às posições dele nessa questão. Todavia, um fato recente revela que ter nessa pasta um ministro simpático a essa regulação está longe de ser suficiente.
Em sua edição do segundo dia útil da semana, na coluna Painel, em uma nota diminuta, a Folha de São Paulo revela toda a dificuldade que envolve a mera discussão do assunto “regulação da mídia” no Congresso.
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Nada poderia ser mais emblemático do que o candidato do PT à Presidência da Câmara tirar o projeto de regulação da mídia de sua campanha para o cargo. Isso ocorreu porque a esmagadora maioria do Congresso não quer nem ouvir falar desse assunto, já que o sistema atual favorece a classe política, pois permite a parlamentares, chefes do poder Executivo etc. controlarem meios de comunicação, sobretudo rádios e tevês, o que lhes permite manter hegemonia política em seus Estados.
Segundo matéria do portal Vermelho publicada em novembro do ano passado, “Apesar da proibição Constitucional, atualmente, no Congresso Nacional, existem 271 políticos sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação”. A matéria ainda informa que “Desde 2013 o Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC) trabalha para coletar 1,3 milhão de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular para impedir, de fato, a propriedade de veículos de comunicação a parlamentares”, e que “A preocupação do FNDC é, também, o processo de democratização da produção e consumo do conteúdo veiculado”.
Se somarmos o tempo de duração de todos os fóruns e atos públicos pela regulação da mídia que já foram feitos desde que o tema começou a ser discutido mais intensamente no Brasil, lá pelo fim do primeiro governo Lula, encontraríamos uns dez anos de discussões do assunto. Para que? Para nada.
Porém, com um Congresso como o que foi eleito em outubro passado – considerado o mais conservador desde o fim da ditadura militar –, a possibilidade de passar um projeto como esse que persegue o FNDC, é praticamente nula. Se para se viabilizar como presidente da Câmara um candidato tem que renegar sequer a intenção de discutir o tema regulação da mídia, imagine só, leitor, o que seria votar um projeto nesse sentido.
Mesmo que fossem reunidas 1,3 milhão de assinaturas para apresentar ao Congresso um projeto de iniciativa popular pela regulação da mídia, não existe qualquer dúvida de que esse projeto de lei seria sumariamente engavetado.
Para que fique ainda mais clara a resistência dos parlamentares brasileiros a uma lei que colocaria a comunicação do país em um patamar civilizado como o dos Estados Unidos ou da Inglaterra, entre outros países nos quais a mídia eletrônica e até a impressa têm que obedecer regras, basta ver o que aconteceu com o projeto de lei que regulamenta o direito de resposta, de autoria do senador peemedebista Roberto Requião.
Confira, abaixo, a tramitação do projeto de lei 6446/2013, de autoria do senador Roberto Requião.
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Como se vê, o projeto, apresentado no ano retrasado, está parado desde abril do ano passado e não se vislumbra sequer possibilidade de voltar à pauta. E note, leitor, que não se trata de um projeto que busque suprimir direito de expressão. Pelo contrário, o projeto visa aumentar o direito de expressão, dando voz a quem for acusado ou detratado por algum meio de comunicação.
Ou seja: os políticos não querem que alguém que seja alvo de uma acusação de uma tevê ou jornal possa se defender no mesmo espaço em que foi acusado. Não é pouco…
Diante disso, toda a discussão que se faz sobre a questão regulação da mídia só não é inútil porque se ninguém tocar no assunto nem mesmo criaremos inteligência sobre ele. Mas, sendo realista, o que se vê é que regular a mídia ainda é um sonho distante para um país que, no tema comunicação, é um dos mais atrasados do mundo.
Em praticamente todos os países desenvolvidos a mídia obedece a um extenso arcabouço legal. Durante a década passada, países latino-americanos também conseguiram regular a mídia, alguns com legislações consideradas brilhantes pelos especialistas, como no caso da Argentina, cujo projeto de regulação foi elogiado pela ONU.
O Brasil sempre foi retardatário na adoção de legislações libertárias, como no caso da abolição da escravatura. Enquanto o mundo vai adequando leis à nova realidade das comunicações, após tantos avanços que vêm sofrendo, este país aferra-se a modelo arcaico, destinado a proteger os interesses dos velhos coronéis das comunicações – Globo, Folha, Estadão, Veja etc.
Quebrando a cabeça, porém, o blogueiro encontrou uma luz no fim do túnel.
O Congresso impede a mera discussão do assunto regulação da mídia porque sem regulação parlamentares e chefes do poder Executivo conseguem burlar uma lei malfeita e, assim, conseguem controlar tevês e rádios.
Apesar disso, uma minoria de parlamentares pode desencadear a discussão do assunto pela sociedade. Segundo aLEI Nº 9.709, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1998Art. 3º, “Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3o do art. 18 da Constituição Federal, o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de conformidade com esta Lei”.
A rigor, pode-se dizer que, hoje, partidos de esquerda mesmo, no Congresso, só há três: PT, PC do B e PSOL, que não somam nem 100 deputados. Porém, espremendo bem o que possa haver de esquerdistas em outras legendas, é possível chegar aos 171 deputados necessários à convocação do plebiscito.
Como se sabe, plebiscito é uma campanha eleitoral como qualquer outra, com tempo de rádio e tevê para que cada lado (contra e a favor do tema proposto) apresente seus argumentos. Ora, se houvesse, no país, uma campanha como essa, dificilmente seria derrotada, pois a quase totalidade dos brasileiros nem sonha que países como Estados Unidos, França, Inglaterra e tantos outros têm regulação da mídia.
Para finalizar, há que explicar por que se propõe plebiscito e não referendo. Para quem não sabe, plebiscito visa a elaboração de uma lei que atenda o fim para o qual a consulta popular foi convocada, e referendo visa o endosso popular a uma lei já formulada.
No caso, seria muito mais simples propor ao povo que endosse que o Congresso discuta e aprove uma lei de regulação da mídia. Afinal, o objetivo maior é levar essa discussão à sociedade, já que, por razões óbvias, a grande mídia censura esse debate, mantendo a quase totalidade do país na mais absoluta ignorância sobre o assunto.

Colunista do Globo revela seu nojo contra pobres









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Jornalista Silvia Pilz "diz o que pensa" sobre os pobres que frequentam consultórios médicos; "Normalmente, [o pobre] se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios", onde "provavelmente se sente em um cenário de novela"; tentando ser engraçada, ela afirma que pobre "faz drama, fica de cama" para não ir trabalhar quando tira sangue e que muitos sonham em "ter nódulos"; para arrematar seu desprezo, ela diz que "a grande preocupação do pobre é procriar"

247 – Em um artigo espantoso publicado em seu blog no Globo, a jornalista Silvia Pilz desfere todo seu asco contra os pobres. Especialmente o pobre que frequenta consultórios médicos, para onde "se arruma" para ir, segundo ela, por "provavelmente" se sentir "em um cenário de novela". Segundo ela, "o pobre quer ter uma doença" – como tireoide, "é quase chique" – e tem como principal preocupação na vida "procriar". Leia:

O plano cobre

Todo pobre tem problema de pressão. Seja real ou imaginário. É uma coisa impressionante. E todos têm fascinação por aferir [verificar] a pressão constantemente. Pobre desmaia em velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não. Atualmente, com as facilidades que os planos de saúde oferecem, fazer exames tornou-se um programa sofisticado. Hemograma completo, chapa do pulmão, ressonância magnética e etc. Acontece que o pobre - normalmente - alega que se não tomar café da manhã tem queda de pressão.

Como o hemograma completo exige jejum de 8 ou 12 horas, o pobre, sempre bem arrumado, chega bem cedo no laboratório, pega sua senha, já suando de emoção [uma mistura de medo e prazer, como se estivesse entrando pela primeira vez em um avião] e fica obcecado pelo lanchinho que o laboratório oferece gratuitamente depois da coleta. Deve ser o ambiente. Piso brilhante de porcelanato, ar condicionado, TV ligada na Globo, pessoas uniformizadas. O pobre provavelmente se sente em um cenário de novela.
Normalmente, se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios. É comum ver crianças e bebês com laçarotes enormes na cabeça e tênis da GAP sentados no colo de suas mães de cabelos lisos [porque atualmente, no Brasil, não existem mais pessoas de cabelos cacheados] e barriga marcada na camiseta agarrada.

O pobre quer ter uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda. É quase chique. Outro dia assisti um programa da Globo, chamado Bem-Estar. Interessantíssimo. Parece um programa infantil. A apresentadora cola coisas em um painel, separando o que faz bem e o que faz mal dependendo do caso que esteja sendo discutido. O caso normalmente é a dúvida de algum pobre. Coisas do tipo "tenho cisto no ovário e quero saber se posso engravidar". Porque a grande preocupação do pobre é procriar. O programa é educativo, chega a ser divertido.

Voltando ao exame de sangue, vale lembrar que todo pobre fica tonto depois de tirar o sangue. Evita trabalhar naquele dia. Faz drama, fica de cama.

Eu acho que o sonho de muitos pobres é ter nódulos. O avanço da medicina - que me amedronta a cada dia porque eu não quero viver 120 anos - conquistou o coração dos financeiramente prejudicados. É uma espécie de glamourização da doença. Faz o exame, espera o resultado, reza para que o nódulo não seja cancerígeno. Conta para a família inteira, mostra a cicatriz da cirurgia.

Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da ciática [leia-se nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol [leia-se colesterol alto] e alegam "estar com o sistema nervoso" quando o médico se atreve a dizer que o problema pode ser emocional.

O que me fascina é que o interesse deles é o diagnóstico.

O tratamento é secundário, apesar deles também apresentarem certo fascínio pelos genéricos.
Mesmo "com colesterol" continuam comendo pastel de camarão com catupiry [não existe um pobre na face da terra que não seja fascinado por camarão] e, no final de semana, todo mundo enche a cara no churrasco ao som de "deixar a vida me levar, vida leva eu" debaixo de um calor de 48 graus.

Pressão: 12 por 8

Como são felizes. Babo de inveja.

O nazismo entre nós

MAURO SANTAYANNA
Em tempos de ressurreição do discurso anticomunista, nunca é demais lembrar que o nazismo deve ser combatido sempre que apontar a cabeça para fora do esgoto da História.

Nos últimos tempos fez fama na internet a imagem de uma suástica no fundo de uma piscina, no quintal de uma casa de Pomerode.

Seu proprietário foi identificado, posteriormente, como o professor Wandercy Pugliese, que dá aulas em "cursinhos" na região, e já teve vasta coleção de objetos de inspiração nazista apreendidos pela polícia em sua casa, na década de 1990.

Agora, surge a informação de que um Comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi exonerado de seu cargo pelo Secretário de Segurança José Beltrame, por trocar mensagens de cunho nazista com outros oficiais e subordinados pelo What' s Up e defender, jocosamente, o assassinato de manifestantes.

Resgatando o Sigma, símbolo do Integralismo, existe uma página, no Facebook, do "Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Brasileiros", tradução literal do "Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei," o Partido Nazista alemão de Adolf Hitler.

O mesmo Sigma pode ser encontrado em sites integralistas, como o do Movimento Integralista e Linearista Brasileiro, ou da SENE - Sociedade de Estudos do Nacionalismo Espiritualista, e no peito do Galo Tupã, "mascote" da doutrina, pisando o verme "comunista-liberal" que ameaça o Brasil.

Filhote do fascismo, e semelhante ao nazismo, a Ação Integralista Brasileira, chefiada por Plínio Salgado, a exemplo das doutrinas que a inspiraram, não se dizia, malandramente, nem como de "direita", nem de "esquerda".

Com "Deus, Pátria, Família", como slogan, ela chegou a contar com dezenas de milhares de simpatizantes no Brasil, até uma frustrada tentativa de golpe contra Getúlio Vargas, em 10 de maio de 1938, quando foi proibida e colocada na clandestinidade.

Hoje, os integralistas tentam reviver, a partir da internet, por meio da FIB - Frente Integralista Brasileira, que organiza congressos e palestras, e também de outros grupos, sites e fóruns como os que já citamos antes.

O nazismo tupiniquim, tão ridículo quanto absurdo, quando defendido e praticado em uma das nações mais miscigenadas e universais do mundo, está presente também nos bandos de skinheads que agridem verbal e fisicamente, judeus, nordestinos, negros e homossexuais, principalmente em São Paulo e na Região Sul do
país.

Em tempos de ressurreição do discurso anticomunista, que insiste em colocar comunismo e nazismo no mesmo saco, embora o primeiro nunca tenha construído câmaras de gás e fornos crematórios, ou perseguido alguém por critérios raciais, e tenha combatido e derrotado implacavelmente o segundo, da memorável Batalha de Stalingrado, até o suicídio de Hitler em seu bunker, para não ser capturado e julgado pelos soviéticos, em 1945, nunca é demais lembrar que o nazismo deve ser combatido sempre que apontar a cabeça para fora do esgoto da História.

Mesmo quando apenas simbólicos, os ovos da serpente devem ser esmagados ainda no ninho, para que não possam germinar nem eclodir.


Petrobras: recorde de petróleo no mês, no ano, na História. E está “quebrada”?

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Saíram agora à noite os números consolidados da produção de petróleo e gás natural da Petrobras.
Com todos os problemas que a empresa enfrenta, foram sensacionais.
A empresa chegou à marca de média de 2, 863 milhões de barris de óleo equivalente por dia ( na soma de petróleo e gás), melhor resultado já alcançado na história da empresa.
Só de óleo líquido (excluído o gás), foram 2,212 milhões de barris por dia.
Também um recorde histórico.
Idem no pré-sal, que chegou à média de 666 mil barris diários de petróleo e superou os 23 milhões de metros cúbicos de gás, gerando um total de quase 800 mil barris de óleo equivalente totais.
De ponta a ponta do ano, foram mais de 300 mil barris acrescentados à produção nacional.
Estimando que a produção dos campos operados por empresas privadas fique – como tem sido – de cerca de 9% do que produz a Petrobras, a produção de petróleo no Brasil ultrapassou os 3 milhões de barris diários, contra 2,62 milhões em dezembro de 2013.
O que talvez já coloque o Brasil entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo, logo atrás do Iraque e do Kuwait e à frente do México.
E ainda não há, nestes totais, uma gota de óleo dos megacampos de Búzios (novo nome de Franco) e de Libra, que vão nos colocar entre os seis maiores produtores de petróleo do planeta, com produção superior a 4 milhões de barris diários.
Este é o tamanho do negócio que querem que o Brasil entregue.
Cada vez mais, vocês vão ler que, com a queda dos preços internacionais do petróleo, não compensa produzir no pré-sal, porque o preço de importar é o mesmo, ou quase o mesmo, de extrair.
Ainda que fosse assim, compensaria, é claro, porque deixaríamos de gastar lá fora para gastar aqui.
Mas não é assim.
Os preços caíram quase ao nível dos meses da crise mundial de 2008/2009, é verdade, pouco mais de 40 dólares por barril.
Mas também é verdade que, dois anos depois daquele desastre mundial, tinham voltado a marcas recordes, acima de 110 dólares por barril.
É assim que querem que o Brasil, como diz o povão, “entregue a rapadura”.
Têm quatro anos para tentar de novo.

Nassif denuncia papel de Kamel numa guerra do PiG

Globo se associou à Abril e ele estava no meio.

Conversa Afiada reproduz importante denúncia do Nassif:

ALI KAMEL E A GUERRA DOS LIVROS DIDÁTICOS



A cartelização dos grupos de mídia foi o passo inicial do pacto de 2005, que teve como grande mentor o finado Roberto Civita, da Editora Abril, baseado no modelo Rupert Murdoch – o australiano que se mudou para os Estados Unidos e definiu uma estratégia pesada de sobrevivência, que acabou servindo de modelo para grupos de mídia inescrupulosos.

A lógica do pacto era simples e tosca como o jornalismo de Murdoch. Com a Internet, vinham pela frente mudanças radicais trazendo o maior desafio da história para os grupos de mídia, mais do que o advento do rádio e da televisão, porque muito mais difícil de enquadrá-la em regulamentação – como foi o caso da Lei das Concessões, que restringiu a competição e entregou o filé mignon aos grupos já estabelecidos.

***

A estratégia murdochiana consistia em criar um clima de guerra, instaurar um macarthismo feroz debaixo do qual caberiam todas as jogadas comerciais necessárias para assegurar a sobrevivência dos grupos de mídia em novos mercados.

Dentro dessa estratégia, em 2007 explodiu uma guerra hoje em dia pouco lembrada, em torno dos livros didáticos e dos cursos apostilados. Considerou-se que o mercado de livros didáticos poderia ser uma das novas frentes dos grupos de mídia, seguindo a picada aberta pelo grupo espanhol Santillana, controlador do jornal El Pais.

***

A Abril entrou no mercado de livros didáticos e cursos apostilados através de uma nova divisão, na qual incorporou as editoras Ática e Scipione, que havia adquirido em sociedade com o grupo francês VIvendi; e a Globo tentou uma sociedade com a UNO, braço do Santillana.

***

Recorreu-se ao macarthismo para afastar competidores.

No caso da Veja, a uma parceria com um site de direita, criado  para denunciar infiltração comunista no ensino. Com base no site, a revista publicou uma reportagem sensacionalista denunciando um competidor no mercado de cursos apostilados. Era matéria falsa, baseada em informação desmentida pelo próprio acusado, mas que não foi respeitada na reportagem publicada.

Coube à blogosfera desarmar a armação, denunciando a informação falsa e divulgando trechos de livros de história da Ática e da Scipione com as mesmas análises condenadas no material concorrente.

Desmascarada, a revista acabou publicando um “Erramos”, episódio raro em sua história.

***

A segunda frente foi conduzida por Ali Kamel, já elevado a diretor da Globo.

Em 18 de setembro de 2007 publicou coluna no jornal O Globo, prontamente reproduzida no Estadão, denunciando o conteúdo subversivo de um campeão de vendas, o coleção “Nova História Crítica”, de uma editora nacional. As denúncias foram repercutidas nos demais veículos da Globo, da revista Época ao Jornal Nacional.

Kamel denunciava o livro por suposta apologia a Mao Tse-tung selecionando a parte que enaltecia Mao:

“Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador.”

E sonegando a parte que o criticava:

“Como governante, agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.”

Sobre a revolução cultural chinesa, Kamel mencionava o trecho:

“Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas”.

E escondia a crítica:  

”O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (…) Mao (…) agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.” (p. 191) ”Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de reeducação política. (…) Nas universidades, as vagas eram reservadas para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (…) Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país…”

Sobre a revolução russa, o mesmo procedimento:

“É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (…) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas…

E escondia as críticas:

”A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (…). Quem criticasse o governo ia para a prisão. (…) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma administração confusa e lenta. (…) Milhares e milhares de indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas…”.

No dia seguinte ao artigo de Kamel, o diário El Pais (dono da Santillana), publicou artigo repercutindo internacionalmente a denúncia e afirmando que “el libro de texto ensalza el comunismo y la revolución cultural china”.

No mesmo dia, o ex-Ministro Paulo Renato de Souza (em cuja gestão o livro passou a integrar as obras do MEC) publicou no site do PSDB a informação de que entraria no dia seguinte com representação na Procuradoria Geral da República para retirar a Nova Historia Crítica do mercado.

No seu site pessoal, a informação de que sua consultoria tinha entre seus clientes a Santillana.

***

Conseguiram matar um campeão de vendas. Mas o contraponto da blogosfera produziu tal desgaste que a estratégia acabou abandonada, para alívio das editoras e dos autores concorrentes.  

Restou o esperneio, o uso do poder da Globo para processar jornalistas que ousaram investir contra a estratégia traçada.



Em tempo: foi por essa façanha que o então deputado do PT de PE, Fernando Ferro imortalizou o papel de “jornalistas” como o Gilberto Freire com “i” (ver no ABC do C Af) a expressão PiG. Kamel entrou para a História! – PHA

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ironias da vida: Marta usou contra PT jornalista e jornal que a massacraram

Marta
Naquela tarde de 2003, cheguei ao Teatro que a Folha de São Paulo mantém incrustado no chiquérrimo shopping de “bacanas” em Higienópolis para participar, a convite do jornal, de um seminário qualquer. À porta do Teatro, encontro Eliane Cantanhêde conversando com o psicanalista-colunista da Folha de São Paulo Contardo Caligaris.
Aproximei-me timidamente da colunista com quem trocava mensagens pela internet havia anos para comentar suas colunas então despidas do antipetismo que ela adotaria nos anos seguintes. Como já nos conhecíamos pessoalmente de outros eventos da Folha, entabulamos um dedo de prosa. Eliane escolheu o assunto: Marta Suplicy.
Marta, que a imprensa paulista apoiara efusivamente contra Paulo Maluf na eleição municipal de 2000 – diante da literal destruição da capital paulista durante seu governo e o de Celso Pitta –, caíra em desgraça junto à elite paulistana. Atualmente, era “Martaxa”, inimiga número um dos ricaços de São Paulo por ter lhes cobrado uns caraminguás a mais no carnê do IPTU.
Não me surpreendeu, portanto, que Eliane tenha começado o papo perguntando se eu ficara sabendo da última entre as muitas declarações folclóricas que Marta verteu ao longo de sua carreira política. A partir dali, tive uma certeza: a colunista odiava a então prefeita de São Paulo. Ao menos naquele momento – na política, amor e ódio são fluídos e mutantes.
Termos como “dondoca”, “fútil”, “destemperada”, “arrogante” etc. foram usados, decepcionando-me – eu, à época, acreditava que a Folha e seus colunistas eram diferentes do resto da mídia tucana porque o jornal permitia algum contraditório, enquanto que o Estadão, jornal que eu lia desde os 13 anos, simplesmente não permitia opiniões divergentes.
Vendo a raiva que Eliane demonstrava em relação à prefeita de São Paulo, fiquei incomodado. “Como ela poderá escrever corretamente sobre alguém de quem sente tanta raiva?”, perguntei-me.
Nos anos seguintes, a então colunista da Folha, hoje colunista do Estadão, iria se tornando uma das antipetistas mais virulentas do mercado de opinião paulista, conforme seu marido, um marqueteiro, fosse conseguindo contratos com o PSDB.
Eis que, no último sábado, vejo-me surpreendido com entrevista que Marta concedeu justamente a Eliane, quem, hoje, emprega seu antipetismo militante no jornal da família Mesquita, a qual, pelo menos, não é dissimulada como a família Frias, da Folha, ao não escamotear seu ódio ao PT.
Marta é uma mulher inteligente, apesar do temperamento. Sabia muito bem a quem estava dando munição contra o partido que a acolheu e lhe deu todo o espaço possível e imaginável. A entrevista que deu ao Estadão caberia na boca de qualquer tucano radical.
Endossou a tese mentirosa de que Lula poderia ter sido candidato a presidente neste ano, o que já ouvi dele, em conversa privada, que é a última coisa que faria, pois seria admissão de que errou na escolha de Dilma. E, não satisfeita, Marta ainda tratou de intrigar Lula com Dilma. Publicamente.
Talvez pelo tom de fofoca de sua entrevista Marta tenha escolhido uma jornalista que se notabilizou como fofoqueira política. Eliane Cantanhêde nunca passou de uma fofoqueira política que já foi até independente, mas que acabou se tornando fofoqueira política a serviço do PSDB.
Marta fez um bom governo em São Paulo? Fez, sim. Priorizou o social, assim como Luiza Erundina. Ambas só não fizeram mais porque sucederam prefeitos que destroçaram os cofres paulistas. Foram duas boas prefeitas. Ponto.
Contudo, politicamente Marta começa a trilhar o caminho de Erundina. A ambição apressada de ambas tornou-as coadjuvantes na política. Erundina e Marta foram destroçadas pela mídia paulista e depois foram bater às suas portas para atacar o PT, já que elas culpam o partido pelas inabilidades políticas delas mesmas.
Meu sinal de alerta com Marta acendeu na eleição de 2008, quando ela disputou a prefeitura de São Paulo com Gilberto Kassab. Em plena campanha eleitoral, saltei fora da candidatura dela quando cometeu um pecado imperdoável ao questionar a sexualidade do adversário em seu programa eleitoral. Um golpe tão baixo que até Maluf pensaria duas vezes antes de usar.
Comparo a entrevista de Marta ao Estadão como uma nova versão do “É casado? Tem filhos?”, que, desrespeitando a própria história e o eleitorado, essa senhora foi capaz de usar.
Em 2008, percebi do que a ex-prefeita seria capaz de fazer em prol de seu ego descomunal e de suas ambições políticas. Pelo visto, eu tinha razão. Procurar uma víbora como Cantanhêde e o jornal que tanto a massacrou durante seu governo para atacar seus companheiros de forma tão malévola, é indesculpável. Para mim, Marta se acabou.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Black Blocs, o retorno

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Blogcidadania 
Se existia dúvida de que o famigerado Movimento Passe Livre apoia e utiliza a violência da massa de manobra que consegue reunir, o que ocorreu na manifestação que levou a cabo na última sexta-feira dirime essa dúvida.
Desde o fim da Copa do Mundo de 2014 que não se via atos de vandalismo como os que ocorreram no recentíssimo protesto contra o reajuste das passagens de ônibus e metrô em São Paulo. Foi só o MPL convocar um ato para que Black Blocs, punks, skinheads e outros bichos dessem as caras.
Reportagem do G1 desmente as alegações do MPL de que a violência que se viu em São Paulo derivou de repressão policial. Vídeo divulgado pelo portal mostra vândalos depredando estabelecimentos comerciais sem presença da polícia.
Confira o vídeo, abaixo.

Como se vê, sem presença da polícia e sem causa aparente os manifestantes passam a promover destruição de patrimônio público e privado, reeditando o que fizeram em 2013.
Mais uma vez, o MPL recorre a todo lixo social disponível para se promover entre esse público descabeçado que se presta a participar desse tipo de violência contra a sociedade e que, como subproduto, faz a direita se fortalecer no Brasil como tem sido visto.
E o pior é que aqueles que esse movimento vigarista diz defender nem mesmo concordam com esse tipo de ação. Esse movimento nasceu e cresceu entre estudantes universitários de classe média alta, gente que, muitas vezes, se tomou ônibus meia dúzia de vezes na vida, será muito.
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O pior de tudo isso é que o preço das passagens de ônibus e metrô é o menor problema da população brasileira, hoje. Sobretudo da população paulistana. O grande problema do transporte urbano, no país, é a qualidade.
Só que, sem investimentos públicos, não será possível melhorar a qualidade.
No caso de São Paulo, única cidade do país em que o MPL conseguiu juntar bastante gente (número de manifestantes varia de 2 mil, segundo a PM, a 30 mil, segundo o MPL), o sucesso relativo desse protesto se deve ao antipetismo que infecta os paulistanos.
Por outro lado, a população que assiste a tudo isso sente medo e identifica esses protestos como obra petista, razão pela qual o ódio ao partido se instalou tão profundamente na alma paulistana, dando uma vitória consagradora a Geraldo Alckmin, ano passado, por ter reprimido os protestos com a violência costumeira da sua PM.
Enquanto um bando de desmiolados e/ou demagogos toca o terror na cidade, o principal problema do momento, a falta de água e o encarecimento de seu preço, não sofre protestos desses revolucionários de araque.
É por essas e por outras que o PT deveria conversar com suas lideranças jovens para que parem de se misturar com essa gente. Apesar de essas manifestações proibirem bandeiras do PT e até camisetas vermelhas, havendo petistas no meio a conta dos desatinos vai para o partido.
O preço das passagens de ônibus estava congelados desde 2011. Com reajuste de 16%, com certeza os salários cresceram mais do que o preço das passagens, eis que a remuneração assalariada vem crescendo acima da inflação no país.
Por outro lado, se a prefeitura tiver que abrir mão de repassar esse aumento, sua situação financeira e capacidade de investimento no transporte público irá diminuir ainda mais, quando é do interesse da população que esses investimentos no transporte público aconteçam.
Tudo aumentou no país, inclusive tarifas públicas. Aumentaram água, luz, gás, até impostos. E, claro, os salários. Impedir administrações municipais de aumentar a tarifa do transporte público não irá melhorá-lo, irá piorá-lo devido à falta de investimentos gerada pelo caixa baixo.
E o pior é que, como já foi dito mil vezes aqui, conforme informações do prefeito Fernando Haddad, o erário paulistano paga o reajuste às empresas de ônibus – ou seja, o povo paga de qualquer jeito, mesmo sem sentir.
A violência vem desmoralizando manifestações legítimas e fortalecendo a direita, que, nas últimas eleições, colheu os frutos dos desatinos dessa pseudo esquerda de que a direita gosta tanto e com a qual conta para se fortalecer.
A reestreia dos black blocs junto com a do MPL denuncia a tática do movimento de se valer de todo lixo social disponível para inflar suas manifestações descabidas. A da última sexta-feira, em São Paulo, comprovou isso.

UM TERRORISTA NA MARCHA DA PAZ. VOCÊ É CHARLIE?

sábado, 10 de janeiro de 2015

O que se passou em 17 de outubro de 1961

O que se passou em 17 de outubro de 1961


conversações para o fim da guerra e a independência da Argélia, a França conheceu violenta repressão. Nesta data foram assassinados e lançados no rio Sena centenas de manifestantes argelinos. As autoridades nunca reconheceram os factos e tentaram destruir todos os vestígios.
 Por Charlotte Nordmann



1. Contexto
Em 1961 se impôs a necessidade de uma solução negociada para o conflito argelino, e em 20 de maio do mesmo ano as negociações entre o governo francês e o Governo Provisório da República Argelina foram abertas oficialmente. Não havia dúvida de que seria instituído um Estado argelino, as discussões giravam em torno das condições exatas da independência. No entanto, foi a partir do verão de 1961 que aconteceram as mais terríveis cenas de violência que o território metropolitano conheceu durante a Guerra da Argélia. Essa contradição é colocada em evidência pelo exame dos fatos que levaram ao massacre de 17 de outubro de 1961.
franca-11Em 1961 o chefe de polícia de Paris era Maurice Papon, [1] o qual fora nomeado em 1958, durante a IV República, e mantido no cargo pelo presidente Charles de Gaulle durante a V República. Ao ser nomeado, e após violentas manifestações de policiais parisienses, Papon recomendou “eficácia”, a qual ele demonstrara em seu mandato de chefe de polícia de Constantine. Como chefe de polícia e IGAME [2] dos departamentos do Leste da Argélia, de 1956 a 1958, ele instaurou um sistema de repressão no qual a tortura era sistemática e as execuções sumárias frequentes. Enquanto chefe da polícia de Paris, Papon respondeu a uma campanha de atentados na metrópole liderada pela Frente de Libertação Nacional argelina (FLN), organizando intensas blitzes [operações stop e fiscalização de rua] policiais aos “franceses muçulmanos da Argélia”. A violência contra a população norte-africana de Paris se institucionalizava: o chefe de polícia criou a força de polícia auxiliar, constituída de harkis, [3] os quais praticavam a tortura. Papon criou também o Centro de Identificação de Vincennes, onde os norte-africanos “suspeitos” podiam ser presos por uma simples decisão administrativa, sem julgamento. Papon chegou a instaurar, no dia 1º de setembro de 1958, um toque de recolher para os norte-africanos, que foi boicotado pela FLN e pouco a pouco caiu em desuso. Durante as operações policiais, as prisões, as blitzes e o “controle” efetuado pelos harkis, algumas pessoas desapareceram. Numerosas denúncias de tortura e morte foram feitas, mas, apesar do acúmulo de testemunhos, das constatações de maus-tratos pelos médicos e das numerosas desaparições, nenhuma queixa foi investigada. Toda a população norte-africana da região parisiense sofria com blitzes sistemáticas e com a violência dos harkis, que patrulhavam seus bairros, como por exemplo o 18º e o 13º “arrondissements” [4].
A essa violência somava-se, por outro lado, a condição extremamente dura imposta aos trabalhadores norte-africanos na metrópole. Em sua maioria eram solteiros, trazidos em grupos por grandes empresas industriais: a França sofria de falta de mão-de-obra e a população rural da Argélia e do Marrocos constituía uma força de trabalho dócil. Eles viviam em pensões em Paris ou em favelas, como em Nanterre. A superpopulação e o isolamento forçado que enfrentavam se devia à pobreza e à recusa dos proprietários franceses em lhes alugar moradias [casa, apartamento]. Os argelinos “imigrantes” na metrópole eram rigidamente enquadrados pela FLN, o que significava em particular que todos eram obrigados a contribuir — aqueles que se recusavam corriam risco de morte.
2. De agosto de 1961 ao toque de recolher de outubro
Em agosto de 1961, as blitzes policiais e as perseguições se intensificaram, a violência e as detenções arbitrárias pelo fácies [5] se multiplicaram. Essa ampliação da ofensiva policial se produzia ao mesmo tempo em que a FLN havia cessado seus atentados em Paris e no subúrbio algumas semanas antes. Nesse momento, os atentados da OAS [6] se tornavam cada vez mais numerosos, visando às vezes as pensões onde viviam os argelinos. No fim de julho de 1961, as negociações entre o governo francês e o GPRA [7] esbarraram na questão do Saara, pois a França contestava a soberania do futuro Estado argelino sobre esta região. Em agosto de 1961, o presidente Charles de Gaulle estava prestes a ceder sobre essa importante questão para reabrir as negociações. Ele esperava ao mesmo tempo estar em posição de força para negociar. Esse foi o sentido de seu gesto ao demitir, em fins de agosto de 1961, o ministro da Justiça, Edmond Michelet, favorável há muito tempo à negociação com a FLN. Ele cedia assim à pressão de seu primeiro-ministro Michel Debré, que era profundamente partidário da Argélia francesa. Demitir Edmond Michelet significava aceitar o endurecimento da repressão aos “franceses muçulmanos da Argélia”.
No fim de agosto a FLN decidiu retomar sua campanha de atentados na metrópole. Os policiais eram os mais visados, sendo que onze deles foram mortos e outros dezessete ficaram feridos até o início de outubro. A partir de então, três organizações sindicais de policiais formaram um “Comitê permanente de coordenação e de defesa”, e exigiam do governo execuções de condenados à morte e um toque de recolher para os norte-africanos. A partir de setembro, intensas blitzes foram organizadas, no decorrer das quais algumas pessoas acabaram desaparecendo. Foi também a partir de setembro que se começou a ouvir falar de cadáveres de norte-africanos encontrados no rio Sena. Diante da pressão dos policiais, que falavam em fazer justiça com as próprias mãos, Papon respondeu com um discurso sem ambiguidade: no dia 2 de outubro, diante das exclamações de um policial, ele declarou: “Por cada golpe, nós responderemos com dez”; depois assegurou aos policiais que, se atirassem primeiro, eles estariam “cobertos”. Em 5 de outubro ele instaurou um toque de recolher para os “franceses muçulmanos da Argélia” e, apesar do ministro do Interior negar, esse toque de recolher racista institucionalizava a confusão entre “argelino” e criminoso.
3. A manifestação
A FLN decidiu organizar um boicote ao toque de recolher. Uma circular de 7 de outubro colocava fim à campanha de atentados na metrópole e a intenção desse boicote era mudar inteiramente a estratégia e inverter a opinião pública francesa. Enquanto os atentados se inscreviam em uma lógica de clandestinidade e de guerra, o boicote devia tomar a forma de uma manifestação pacífica de massa, às claras. A manifestação deveria acontecer em toda Paris, ao longo das principais vias da cidade. Todos deveriam participar, inclusive as famílias. Os manifestantes receberam instrução de não responder a nenhuma provocação ou violência e foram revistados antes da manifestação pelos membros da FLN, para garantir que não estivessem com nada que pudesse servir de arma. Todos os argelinos da região parisiense deveriam participar da manifestação, sob coerção se necessário: para a Federação da França da FLN, tratava-se não somente de demonstrar sua influência sobre os argelinos na metrópole, mas também de fazer existir aos olhos dos franceses o povo argelino. À institucionalização da arbitrariedade e do racismo, era necessário responder com a reivindicação de uma existência política. Os dirigentes da Federação da França acreditavam que a repressão, que certamente se abateria sobre os manifestantes, evidenciaria a violência do poder e a legitimidade da luta do povo argelino por sua independência.
franca-12Na manhã de terça-feira, dia 17 de outubro, a polícia já sabia que uma manifestação em massa estava sendo organizada, carros de polícia rondavam a cidade, os policiais fecharam as saídas do metrô em Paris, preparados para barrar os manifestantes. Em Paris, na saída dos metrôs Étoile e Opéra, nos corredores da estação Concorde e sobre os Grands Boulevards [as principais avenidas], os manifestantes foram sistematicamente atacados com tacos, cassetetes e bastões, algumas vezes até caírem. Os policiais batiam no rosto e no abdômen dos manifestantes, que não demonstravam resistência ou gestos violentos em nenhum momento. Na avenida Bonne-Nouvelle, na ponte de Neuilly, no Pont-Neuf de Argentueil e em outros pontos, os policiais atiravam contra os manifestantes. Nas pontes às portas de Paris e na ponte Saint-Michel, homens eram atirados no rio Sena. Em plena Paris, e durante várias horas, deu-se uma verdadeira caça ao fácies, à qual a população parisiense assistiu, chegando até mesmo a colaborar. O chefe de polícia Papon acompanhou tudo e foi pessoalmente à Étoile para constatar o “bom desenrolar” das operações. Ele tinha conhecimento também de todas as transmissões de rádio da polícia. Sabia, portanto, que circulavam falsas mensagens de que policiais teriam sido mortos. Ele não as desmentiria.
Mais de dez mil argelinos foram presos. Eles foram detidos no Palais des Sports, no Parque de Exposições, no Estádio de Coubertin e no Centro de Identificação de Vincennes, durante quase quatro dias. Quatro dias durante os quais a violência continuaria. Logo ao chegarem, os manifestantes eram sistematicamente espancados. Nos locais de aprisionamento, assistia-se a execuções e muitos foram os manifestantes que morreram com ferimentos agravados por falta de tratamento. No dia seguinte à manifestação, o balanço oficial era de dois mortos argelinos, no que teria sido uma “troca de tiros” entre a polícia e os manifestantes. Apesar dos esforços de alguns parlamentares, o governo impediu a criação de uma comissão de inquérito. Nenhuma queixa apresentada foi investigada.
Se não é possível determinar exatamente quantos argelinos foram mortos em 17 de outubro de 1961 e nos dias seguintes, nos resta constatar que o número de centenas de mortos, afirmado por J-L. Einaudi em seu livro A batalha de Paris, a partir do estudo de registros de cemitérios, de testemunhas e de documentos internos da FLN, é o mais verossímil. Numerosos arquivos administrativos, que seriam cruciais para o reconhecimento das vítimas, desapareceram. Isso explica por que o relatório Mandelkerm — encomendado pelo governo e tornado público em 1998 — e o livro de J-P. Brunet, ambos baseados nos arquivos existentes da polícia, apresentam um número de mortos bem inferior, por volta de quarenta. De resto, o relatório Mandelkerm retoma em seu cômputo a versão segundo a qual teria havido troca de tiros entre os manifestantes e a polícia.
Notas:
«Aqui afogaram os argelinos»
«Aqui afogaram os argelinos»
[1] Durante o regime fascista instituído no sul da França pelos ocupantes nacional-socialistas, Maurice Papon foi nomeado secretário-geral da Prefeitura da Gironda, superintendendo a administração e a repressão na região que tinha Bordéus como capital, e entre as suas funções contava-se a prisão de resistentes e de judeus. Sob as ordens de Papon, 900 presos políticos e mais de 1500 judeus foram entregues às autoridades do Terceiro Reich. Chegada a Libertação, aquele funcionário do marechal Pétain converteu-se em partidário do general De Gaulle, e não se pense que este percurso foi uma excepção. A libertação da França e a expulsão do ocupante nazi levou à perseguição de várias figuras políticas e de jornalistas de extrema-direita, alguns condenados à morte, mas deixou praticamente incólumes os altos funcionários e administradores. Segundo Robert O. Paxton (La France de Vichy, 1940-1944, Paris: Seuil, 1973, págs. 313-317), dos membros do Tribunal de Contas em serviço em 1942, 98% continuavam activos em 1946. Na Inspecção das Finanças, 97% dos inspectores gerais em funções em 1948 exerciam já o cargo em 1942, e o mesmo sucedia com 75% dos inspectores de segunda classe. A ausência de ruptura revela-se de maneira ainda mais flagrante ao observarmos que nenhum dos inspectores de finanças recrutados pelo regime de Vichy foi exonerado por altura da libertação. O próprio Conselho de Estado, apesar do seu carácter mais directamente político, também não foi atingido por qualquer depuração significativa, e 80% dos presidentes de secção em exercício em 1942 continuavam activos em 1946, sucedendo o mesmo com 76% dos conselheiros de Estado e 70% dos maîtres de requêtes. Um membro do Conselho de Estado, que fora chefe-adjunto do gabinete civil do marechal Pétain, declarou em 1945 que «no Conselho de Estado, dos cento e poucos membros, houve 25 destituídos» (Le Procès du Maréchal Pétain. Compte Rendu Sténographique, 2 vols., Paris: Albin Michel, 1945, pág. 847). Maurice Papon foi um desses altos funcionários que serviram a democracia com o mesmo afinco e a mesma competência com que haviam servido o fascismo. Ele foi secretário-geral da Prefeitura da Polícia de 1951 até 1954, secretário-geral do Protectorado francês de Marrocos em 1954-1955 e prefeito em Constantina, na Argélia, de 1956 até 1958, sendo nomeado prefeito da Polícia de Paris em Março de 1958, o que lhe permitiu colaborar nas manobras políticas organizadas por De Gaulle e na fundação da Quinta República. Papon foi também eleito deputado nas listas gaullistas em 1968, 1973 e 1978, e de 1978 até 1981 desempenhou as funções de ministro do Orçamento nos segundo e terceiro governos de Raymond Barre. Em 1983 foi-lhe movido um processo judiciário, por iniciativa das famílias de alguns dos deportados judeus, mas, devido à intervenção de pessoas altamente colocadas, o processo esteve praticamente paralisado durante quatorze anos, até que em 1998, com 87 anos de idade, Papon foi condenado a dez anos de prisão pela deportação de judeus de Bordéus. Evocando motivos de saúde, o presidente da República determinou a libertação de Papon em 2002, mas o presumido doente faleceu apenas cinco anos depois. (Nota de Passa Palavra)
[2] Inspecteur géneral de l’administration en mission extraordinaire (Inspetor Geral da Administração em Missão Extraordinária). Alto funcionário francês responsável pela coordenação da ação do governo nos departamentos. O título e a função foram substituídos pelo de Préfet de région (Prefeito Regional).
[3] A palavra “harkis” (literalmente “movimento” em árabe) designa na França os soldados supletivos alistados no exército francês entre 1957 e 1962, durante a Guerra da Argélia. Todos os argelinos muçulmanos que defendiam a união da Argélia com a República Francesa também eram identificados dessa forma.
[4] Paris é dividida em 20 arrondissements municipais, que englobam quatro bairros (quartiers) cada.
[5] Fácies é o aspecto ou expressão do rosto. O termo é utilizado na expressão “délit de faciès” para qualificar uma forma de discriminação racista.
[6] Organisation armée secrète (Organização Exército Secreto). Organização paramilitar clandestina francesa, que se opunha à independência da Argélia.
[7] Gouvernement provisoire de la République algérienne (Governo Provisório da República Argelina). Braço político da FLN durante a Guerra da Argélia.
Original em francês: http://17octobre1961.free.fr/pages/Histoire.htm
Tradução: Juliana Mantovani. As notas, com exceção da número 1, são de autoria da tradutora.