Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 9 de junho de 2014

SP: o espírito de 32 em 2014

A alta finança hoje é a cafeicultura do século XXI. Vencê-la implica desmontar sua dominância sobre o desenvolvimento. E romper limites impostos à democracia.

por: Saul Leblon 
Arquivo
O PSDB  governa o Estado de São Paulo há 20 anos.

Mário Covas foi eleito governador em 1994, seis anos depois de criada a sigla que completa 26 anos de existência  neste 25 de junho.

Geraldo Alckmin, o plantonista atual do bunker concorre à reeleição em outubro, depois de ter participado diretamente de quatro das cinco gestões tucanas no estado.

Alckmin foi vice de Covas em 1994 e 1998.

Em 2001 assumiu o governo com a morte de Covas.

Emendou o terceiro ciclo à frente do estado em 2002, eleito governador.

Feito que repetiria em 2010.

Está na sua quarta passagem pelo poder, que  encerra pleiteando a reeleição para um 5º mandato em outubro.

No interregno de 2006 a 2010, quando não esteve diretamente no comando do governo, Alckmin assumiu a secretaria de Desenvolvimento do estado na gestão Serra.

Duas décadas no poder e 44% de intenções de voto para o pleito estadual de 2014, (a se dar crédito ao Datafolha do último sábado),  não é algo que se possa menosprezar.

O desconhecimento em relação aos demais candidatos  pesa significativamente a favor de Alckmin.

Padilha (PT) é um nome novo na política.

O fato de estar há tanto tempo no rodízio dá ao tucano uma aura de ‘normalidade’ em tempos de sobressalto e inquietação.

O sentimento, porém, possivelmente  fosse o oposto, se o dispositivo midiático conservador não tornasse difuso aquilo que é estrutural.

Ou seja, as duas décadas de autodeclarada  proficiência administrativa  do PSDB em São Paulo não se traduziram em bem-estar social efetivo para o conjunto dos paulistas.

Na realidade, elas refletem mais a conveniência  da plutocracia brasileira,  que fez do estado sua  linha Maginot, do que a consagração de uma obra democrática.

Em parte, é o que explica a renitente presença desse insípido, mas fiel gerente do comodato do dinheiro grosso no poder estadual.

Nenhum outro quadro dirigente do PSDB de São Paulo esteve tão presente  no ciclo de escândalos da Alstom, marca registrada do caixa 2 tucano na gestão do metrô paulista, quanto Geraldo Alckmin.

A julgar pelos relatos do próprio oligopólio associado às encomendas do metrô, o intercurso entre o cofre das empresas e o caixa pessoal e coletivo do tucanato começou em 1998, quando ele era vice de Covas.

E não parou mais de fluir.

Entre 1998 e 2001 sabe-se, graças às investigações realizadas pelo Ministério Público da Suíça, que pelo menos 34 milhões de francos franceses foram pagos em subornos  a autoridades  tucanas, na lubrificação de contratos do metrô.

Com a morte de Covas, em 2001, Alckmin assumiu o comando desse comodato. E se manteve à frente dele até 2006.

Seria injusto atribuir-lhe a exclusiva liderança do processo.

No  período de negociação de alguns dos grandes  contratos de transporte e energia o então genro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, David Zylbersztajn, dirigia  a pasta de energia da gestão Covas e Alckmin (deixou o cargo em janeiro de 1998 para assumir a direção geral da Agência Nacional do Petróleo).
 
O serrista Mauro Arce comandava a de Transportes. Andrea Matarazzo bordejava o circuito.

Assim por diante.

Nada disso  retira de  Alckmin o que é de Alckmin.

Um contrato de R$ 223,5 milhões com a Alston, para a compra de 12 trens, foi assinado em 28 de dezembro de 2005.

Sem licitação.

Alckmin era o governador.

Um total de 139 contratos assinados entre a Alstom e o Governo do Estado de São Paulo nos últimos anos (governos  Serra e Alckmin) ,no valor  de  US$ 4,6 bilhões, está sob suspeita.

As investigações na justiça paulista se arrastam, em que pese o esforço solitário do ministério público suíço.

Sempre discreto, semi-invisível  tanto quanto a obra, Alckmin é um dente da engrenagem que move os interesses comuns do dinheiro e do PSDB no grande diretório do capitalismo brasileiro em que se transformou  o aparato estatal bandeirante.

A dissociação entre esse aparato  e o interesse público pode ser medida pelo hiato entre as promessas do tucano na campanha vitoriosa de 2010 e o saldo efetivo deste final de mandato.

Alckmin entregou então aos paulistas um compromisso sortido, cravejado de números suculentos.

Entre eles, o de construir 150 mil moradias, promover um salto no transporte público e na saúde, construir  12 piscinões em São Paulo etc.

Quatro anos depois, sobrou o quê?

Em janeiro de 2014 Alckmin comunicou que mudara de ideia em relação aos piscinões.

Desistiu, alega,  a partir  de cálculos hidrológicos que indicariam a suficiência de uma ‘otimização’ das instalações existentes.

Dos 12 piscinões prometidos, três foram feitos, outros dois estão em obras.

A meta de oferecer 150 mil moradias às faixas de renda mais pobres ostenta frustração igualmente grave.

Em 2013, a construção de unidades populares pelo governo estadual registrou queda de 80% na capital.

Isso num ano em que explodiram as ocupações de edificações públicas e privadas pelos sem-teto na cidade.

Das 150 mil unidades previstas,  seu governo entregou até agora  55.483 moradias.

Estamos falando da prioridade habitacional do PSDB no estado mais rico da federação, que tem um déficit de 1,11 milhão de moradias  --o maior do Brasil em termos absolutos.

Mesmo no confronto com seus pares, o desempenho  de Alckmin  é derrisório.

Em 1998, por exemplo, o então governador  Covas (PSDB) construiu, no ano, o equivalente próximo da marca que Alckmin atingirá ao longo de toda a sua quarta passagem pelo Estado (52.167 unidades).

Na área da saúde é sugestivo dizer que São Paulo receberá um dos maiores contingentes do Programa Mais Médicos: 1.279 profissionais vão atender a 7,2 milhões de moradores desassistidos do estado.

O corolário do modo Alckmin de governar  é o atual uso do ‘volume morto’ do sistema Cantareira –último recurso antes do racionamento oficial , presente na vida cotidiana de vários bairros da capital.

São Paulo vive a estiagem mais severa desde 1930. Ademais da exacerbação climática, porém, há o efeito cumulativo da contradição estrutural entre a lógica do poder bandeirante e as questões do interesse coletivo.

O abastecimento de São Paulo se apoia no mesmo fluxo de mananciais interligados ao final da década de 70, meados dos anos 80.

A população de São Paulo dobrou no período.

Nas últimas duas décadas, a curva demográfica conviveu com administrações que não se anteciparam  ao colapso implantando a infraestrutura capaz de evitá-lo.

O flanco do abastecimento de água foi escancarado pela estiagem.

Outros, de gravidade equivalente, caso da mobilidade urbana simbolizada na expansão de um metrô que se arrasta como uma lesma, ou do déficit habitacional, para não citar o desempenho constrangedor da rede estadual de ensino, inscrevem  as marcas da ineficiência no cotidiano sofrido da sociedade.

São Paulo tem 3% do território brasileiro, 22% da população e 33% do PIB nacional.

Há 84 anos, no bojo de uma crise mundial capitalista , que esfarelou os preços das matérias-primas e destroçou a inserção brasileira no mercado mundial, o poder da oligarquia  paulista foi afrontado  por Vargas.

A política centralizadora e industrializante de Getúlio  sacudiu o chão das oligarquias estaduais, especialmente o da mais sólida delas, em São Paulo.

O governo Vargas reconheceria oficialmente os sindicatos dos operários, legalizaria o Partido Comunista e adotaria uma política de direitos e valorização do salário dos trabalhadores.

O amparo de Getúlio à cafeicultura, com a política de compra e queima de estoques, combinou-se com um manejava  do  câmbio, de forma a capturar um pedaço da receita exportadora, como se fora um imposto sobre as vendas do setor.

O circuito do dinheiro, o quanto, como e onde aplicar deixou de ser prerrogativa exclusiva das elites paulistas e assemelhadas.

A sublevação de São Paulo em 1932 refletia esse desacordo travestido de ideais liberais democráticos.

A tentativa derrotada de 1932 iria se repetir ao longo da história.

Sempre que um governante tentou sobrepor os interesses gerais do país à lógica do dinheiro graúdo concentrado em São Paulo, a elite local reagiu. 

São Paulo perdeu importância produtiva desde então, mas se mantém como o bunker financeiro do capitalismo  brasileiro.

A alta finança é o café atual.

O que significa, paradoxalmente, deter um poder de fogo em relação à esfera  federal e ao resto da economia muito superior ao disponível no ciclo da cafeicultura e mesmo  no seu auge como ‘a fábrica’ do país.

Para a plutocracia paulista e parte da classe média ter um governante do PSDB à frente do aparelho de Estado não é uma questão da democracia, mas  de fortificação de uma trincheira desse privilégio.

O governo Vargas, apesar do levante de 1932 – esmagado em três meses--  sustentou uma política de compromisso com os grupos cafeicultores, garantindo-lhes uma taxa de retorno em plena crise mundial.

Mutatis mutandis, os governos do PT fizeram o mesmo ao garantir ao setor industrial paulista, e à banca aqui centralizada,  uma demanda aquecida por bens de consumo e crédito, em pleno colapso da ordem neoliberal no mundo.

A exemplo do que ocorre hoje, nem por isso a oligarquia de São Paulo deixou de conspirar contra Vargas e contra a lógica de desenvolvimento que ele personificou.

Trinta e dois anos depois  de 1932, ela conseguiria finalmente, em março de 1964, atingir seu objetivo:  abortar as fundações de uma democracia social no país que subtrairia o seu mando o sobre o dinheiro e a nação.

Em 1964, os vapores constitucionalistas  de 32 revelariam sua frágil densidade liberal.

Sobreveio em seu lugar uma ditadura feroz, que derrubou um governo legitimamente exercido por um Presidente reformista e democrático.

Essa mesma lógica explica por que  –mesmo menosprezando Alckmin—essa mesma elite hoje cerra fileiras na sua reeleição. 

Poupando-o  do que efetivamente significa em termos de mediocridade administrativa.

E esbanjando complacência diante de seus vínculos incontornáveis  com a malversação tucana dos fundos públicos em São Paulo.

Quem já sobrepôs a  baioneta ao voto para defender seus interesses de classe não vê dificuldade alguma em dar a esse  rebaixado  funcionário um quinto ciclo à frente do comodato de negócios que se incrustou no poder público estadual.

Vencer esse arranjo de forças encastoado em São Paulo vai além das urnas.
 
Requer, simultaneamente, desmonta-lo na dimensão superior do seu poder.

Vale dizer,  na dominância financeira sobre o desenvolvimento brasileiro.

E nos limites estreitos impostos ao exercício da democracia e ao fluxo da informação no país.

Essa dimensão do poder paulista será enfrentada no escrutínio presidencial de outubro. 

Não imagine na Copa, porque ela é uma realidade

holandesa
Tomei um avião, hoje de manhã, do Rio para Brasilia.
Duas cidades-sede da Copa.
Tranquilidade completa.
O avião era da Azul, destes que tem TV a bordo.
Assisti, portanto, o esforço da Globo em tentar mostrar algum problema na estrutura de recepção aos estrangeiros.
Nada, a não ser a greve do metrô de São Paulo, que espantou uma turista canadense.
Mas que rapidamente ficou satisfeitíssima com uma senhora, brasileira, que lhe ofereceu carona.
Durante anos você ouviu o “imagina na Copa” para figurar o desastre que seria o desempenho do Brasil como anfitrião.
Conversa fiada.
Claro que pode ocorrer um problema aqui, outro ali, um assalto, coisas que se passam em qualquer parte do mundo.
Nosso país sofreu, por parte de uma mídia e uma elitezinha subdesenvolvida mentalmente, uma campanha indescritível de desmoralização.
A história dos gastos públicos é igual.
Recomendo a leitura do post de Rodrigo Vianna, onde um colunista esportivo dizia que não se justificava combater a ideia de uma Copa no Brasil com “o velho argumento de que é melhor construir escolas e hospitais é falso”.
Dizia isso, claro, nos anos 80.
A melhor história  do dia, para mim, é a da “desorganização padrão Fifa” da Seleção Inglesa, que esqueceu um jogador no hotel.
E a melhor imagem é a da torcedora holandesa, feliz da vida diante de sua barraca do “acampotel” montado para torcedores de seu país num clube de funcionários da Eletropaulo, perto da Represa de Guarapiranga, uma tradição da torcida laranja.
Barracas de plástico e camas de pinho!
Imagina na Copa!
Depois reclamam do Lula ter falado em babaquice…

Eric Nepomuceno: No ar, um movimento desestabilizador; estaria o mercado financeiro por trás dessa jogada?





Coisas estranhas no Brasil
Existe um inegável mal-estar generalizado, palpável no ar. Há um crescente pessimismo com a economia. E aí começam a aparecer estranhezas.

por Eric Nepomuceno, na Carta Maior

As eleições acontecerão em outubro, a campanha oficial começa no rádio e na televisão em agosto, mas as pesquisas saltitam a cada quinzena, ou quase. Se o eleitorado parece desinteressado, o empresariado parece, mais que interessado, ansioso, inquieto.

As pesquisas mais recentes, do Datafolha, indicam que Dilma Rousseff retomou seu viés de queda. Isso, claro, é destacado no noticiário. O que ninguém parece lembrar é que seus dois principais adversários, o tucano Aécio Neves e Eduardo Campos, do PSB, também caíram.

Dilma havia recuperado terreno em pesquisas anteriores, e agora tornou a cair. Uma questão nebulosa: se ela retrocede e os outros não avançam – pior: também recuam –, onde foram parar os votos perdidos? Por que nenhum dos dois netos, cujos avôs são a principal garantia de suas trajetórias, é beneficiado?
Tudo indica que a maior surpresa foi o forte aumento dos que declaram que seu voto será nulo ou em branco, e também dos que se declaram indecisos. Nesses quesitos, houve uma reviravolta em comparação às pesquisas anteriores.

Existe um inegável mal-estar generalizado, palpável no ar. Há um crescente pessimismo com a economia. E aí começam a aparecer estranhezas.

Por exemplo: muito se martela a nota de que vivemos debaixo de forte pressão inflacionária. Essa campanha persiste e se alastra, apesar de os índices mostrarem o contrário (desde meados de março a taxa de inflação vem baixando de maneira constante). Ao mesmo tempo, fala-se que aumentou o temor a perder o emprego, apesar dos índices de desemprego continuar baixos.

Há contradições e incongruências entre os próprios entrevistados, tanto nos resultados do Ibope como nos do Datafolha: a aprovação do governo de Dilma equivale à desaprovação. A imensa maioria (na média dos institutos, mais de 70% dos entrevistados) pede mudanças na forma de governar, mas um índice similar diz que sua vida melhorou e que estão satisfeitos. Há uma espécie de batalhão desnorteado, que se queixa de tudo e de qualquer coisa sem dizer exatamente de que se trata. De onde vem esse mal-estar, essa tensa irritação que impregna a atmosfera das grandes cidades brasileiras?

Não são poucos – nem necessariamente paranoicos – os brasileiros que sentem que, a cada semana, aumenta a sensação de que está em marcha um nebuloso, melífluo movimento desestabilizador. O que ninguém consegue é detectar quem está por trás, quem organiza, a que interesses esse movimento responde.
E no entanto, existe um dado que, se não dá resposta a essas questões, certamente dá o que pensar: a influência direta entre a divulgação dos resultados das pesquisas e as oscilações do mercado financeiro, que tem nos grandes meios de comunicação seu esforçado e eficaz porta-voz.

Desde 2002, quando Lula derrotou José Serra, essa sacrossanta entidade chamada mercado não padecia tamanhos ataques de ansiedade pré-eleitoral. A reeleição de Lula, em 2006, e a eleição de Dilma, em 2010, foram engolidas sem maiores esforços. Agora, o clima é outro, bem outro.

Não é sem razão que bancos, agentes, corretores e investidores gastam um bom dinheiro contratando pesquisas eleitorais para uso restrito. São pesquisas paralelas, e o sistema funciona assim: cada vez que um instituto anuncia que estará em campo fazendo entrevistas, instituições financeiras encomendam outra, sigilosa. Desta forma ficam sabendo, com um ou dois ou três dias de antecipação, qual será o resultado a ser anunciado. Como a cada queda (ou avanço) de Dilma ocorre invariavelmente uma alteração na Bolsa de Valores, uma oscilação no câmbio e outra na taxa de juros a futuro, ter uma indicação fiável desses dados significa uma boa oportunidade de especular e ganhar.

O empresariado brasileiro não gosta nem um pouco da política econômica de Dilma Rousseff. Os donos do dinheiro, menos ainda. Mas gostam de ganhar. E adoram especular.

Há algo estranho quando tantas greves se repetem e persistem, e mais ainda quando levadas adiante por minorias sindicais, como aconteceu no transporte público do Rio de Janeiro. A profusão de paralisações não faz mais do que ampliar o mal-estar e a irritação popular. Nota-se claramente que, insuflada pelos grandes meios de comunicação, em especial a televisão, essa irritação popular é direcionada aos políticos em geral e aos governos em particular. E, uma vez mais, Dilma é o alvo preferencial.

Nesse clima estranho, nessa atmosfera um tanto rarefeita, começa a Copa do Mundo. Haverá mobilizações de protesto, greves selvagens e sem norte, haverá de tudo um pouco, até mesmo futebol.
Serão tempos estranhos, e estranha será a caminhada daqui até as urnas de outubro.

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domingo, 8 de junho de 2014

O porteiro “petista” e seu filho “tucano”


Mais uma vez, o Brasil irá às urnas dividido entre os que avaliam e os que não podem, não querem ou não sabem avaliar quanto o país atual melhorou em relação ao de 2002. Em eleições anteriores, porém, essa divisão se deu entre classes sociais, econômicas e regionais, mas, neste ano, há uma outra divisão, a divisão geracional, que opõe jovens e maduros.
Os governos Lula e Dilma foram marcados por ampla rejeição da classe média-média e média alta, freguesas de carteirinha dos grandes meios de comunicação, do Jornal Nacional ou daquele indefectível exemplar da revista Veja no consultório do dentista. Mas, do ano passado para cá, jovens de diversas classes sociais se juntaram àquele contingente maduro e mais rico.
O ambiente essencialmente jovem das “jornadas de junho” promoveu uma espécie de rave político-ideológica em que jovens da nova classe média (baixa, da periferia) finalmente se encontraram com os mauricinhos e patricinhas das classes médias tradicionais em manifestações gigantescas que acabaram se voltando essencialmente contra o PT.
Note-se que, enquanto Dilma e o PT amargam até hoje os efeitos políticos negativos das “jornadas de junho”, um Geraldo Alckmin, que pôs sua polícia para “descer o cacete” na garotada hipnotizada, recuperou aprovação e musculatura político-eleitoral inclusive entre aqueles que o tucano mandou seu aparato repressor massacrar.
Como costuma ocorrer quando jovens se encontram em ambientes descontraídos, o comportamento e as ideias se padronizam. Como Dilma e o PT se tornaram o “grande satã” dos protestos que se abatem sobre o país desde meados de 2013 enquanto que Alckmin e o PSDB foram alvo de uma pequena fração desses protestos, os tucanos acabaram lucrando.
Ironicamente, porém, as manifestações que vêm ocorrendo no país – mas, sobretudo, em São Paulo e no Rio de Janeiro – têm sido essencialmente de esquerda. Aliás, de uma esquerda mais “autêntica”, presa a dogmas pré-queda do Muro de Berlim que envolvem, entre outros, estatização do sistema bancário, calote na dívida externa etc., etc., etc.
Um dos exemplos mais eloquentes desse fato é o professor da UFRJ Lauro Luís Iasi, 54 anos, candidato a presidente pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) – não confundir com o PC do B, aliado do governo Dilma. Iasi deu entrevista recente ao UOL defendendo os black blocs e pregando ideias condizentes com as da extinta União Soviética.
A ironia, pois, reside em que quem ajudou a vitaminar politicamente um conservador tão fidedigno quanto Alckmin foram partidos como PCB, PSOL e PSTU – ou, se preferirem, como a esquerda que a direita ama de paixão, pois, ao longo do século anterior e deste, prestou-lhe, e ainda lhe presta, inestimáveis serviços ao colocar a população contra si promovendo ações como essas manifestações que torturam a população ao privá-la do direito – e da necessidade cotidiana e extrema – de ir e vir.
Seja como for, o fenômeno sob escrutínio é o novo antipetismo, o antipetismo jovem e sem classe social definida do Sul e do Sudeste, basicamente. Vamos a ele, pois.
Recentemente, este que escreve pôde verificar como a divisão política entre jovens e maduros da “nova classe média” ocorre inclusive no seio das famílias. Para tanto, vale o relato de um “causo” que não se pretende prova científica, mas que, por seu simbolismo, parece ilustrar perfeitamente o fenômeno que se quer apontar neste texto.
No fim de maio, a segunda neta do autor desta página cumpriu seu primeiro ano sobre a Terra e a festinha familiar em sua homenagem acabou ocorrendo no salão de festas do prédio em que residem seus avós paternos. Devido ao tabagismo do blogueiro, ele deixava a festinha seguidamente para ir aplacar o vício na portaria e, assim, entabulou conversas com o porteiro e o zelador.
O assunto descambou para a política. Apesar de o autor deste texto saber que na região em que vive (bairro de classe média de São Paulo) não é recomendável um simpatizante do PT discutir tal assunto, havia desconfiança de que os funcionários de condomínios e do comércio da região acabam se calando sobre política para não confrontar patrões e clientes.
Até aí, nada demais. Como se sabe, o PT tem maior votação entre os mais pobres. Porém, esse fenômeno se aprofundou entre as pessoas mais humildes e maduras e diminuiu drasticamente entre as igualmente humildes, porém jovens. E a conversa com o zelador e o porteiro sinalizou nesse sentido.
O porteiro é um cinquentão baiano e o zelador, da mesma faixa etária, é pernambucano de nascimento, apesar de ter vindo para São Paulo muito jovem, fugindo das agruras nordestinas de meados do século passado. Politicamente, não querem nem ouvir falar de trocar o governo do PT pelo do PSDB. Relatam, entre uma vinda e outra do blogueiro à portaria para fumar, como suas vidas melhoraram depois que Lula virou presidente.
O zelador se deu bem sob Lula e Dilma. O salário subiu muito e, tendo moradia de graça, sobrou-lhe dinheiro para investir no estudo do filho e em carros. Há poucos meses, comprou uma camionete Ford EcoSport zero quilômetro. Quanto ao filho, matriculou-o no caríssimo e tradicional colégio São Luís, colégio católico de classe média alta incrustado na avenida Paulista.
Já o porteiro conseguiu comprar seu primeiro carro ao longo dos governos petistas – um Gol 2010. Antes de Lula e Dilma, amargava três dias de ônibus para ir visitar a família na Bahia anualmente; hoje, faz a viagem em poucas horas. De avião.
Naquele dia, um sábado, fora trabalhar de carro para levar para casa a tevê de 46 polegadas, com internet, que comprara nas Casas Bahia para ver a Copa.
O porteiro, porém, em conversa sobre política reclama do filho. O rapaz, de 19 anos, filho de um baiano que suportou toda sorte de privações quando veio para São Paulo nos anos 1970 em busca de uma vida melhor, veste-se e fala como os mauricinhos dos bairros nobres. Seu pai, inclusive, acha que ele tem “vergonha” da profissão do homem que o criou a duras penas.
O filho do porteiro nutre um ódio visceral pelo PT e, particularmente, por Dilma. Poucos dias antes da conversa política de seu pai com o blogueiro, este encontrou o rapaz visitando o pai no trabalho, ou seja, na portaria do prédio. Junto aos dois, o síndico e uma moradora do prédio – ambos de ascendência europeia.
A cena chocou. O filho pós-adolescente de um baiano pobre e negro, ele mesmo igualmente pobre e negro, entoava com o síndico e a moradora do prédio um virulento ataque à presidente da República e ao seu partido. Juntos, os três ainda declararam voto em Aécio Neves na próxima eleição.
De volta ao dia da festinha de aniversário da neta do blogueiro, este pergunta ao porteiro como é possível que seu filho queira votar no candidato da classe social e da região do país que oprime e discrimina a sua classe social e região desde que se conhece por gente.
O porteiro coça a cabeça. Diz que não fala de política com o filho para “não se irritar”, sobretudo quando está no trabalho ouvindo a pregação antipetista dos moradores do prédio, os quais ouve mudo como uma porta para “não arrumar encrenca”, ou seja, para não colocar o próprio emprego em risco. Mas apresentou sua teoria sobre o comportamento do filho.
A análise intuitiva do porteiro se coaduna com a de dez entre dez analistas políticos: seu filho só conhece a realidade do país sob Lula e Dilma. Quando Lula chegou ao poder, o rapaz tinha seis anos de idade. Não tem memória do que era o Brasil quando o PSDB governava. Não sabe quanto o pai sofreu até 2003, quando sua vida começou a melhorar.
O filho do porteiro está na universidade, via Prouni. Por conta de seu nível cultural e educacional muito melhor do que o do pai, julga que este não sabe nada sobre nada. Principalmente sobre política.
O filho do porteiro prefere ouvir a turma de amigos que estuda na USP, universidade à qual não conseguiu acesso por conta da política do PSDB para aquela instituição. Os “amigos” que cita, porém, não convivem com ele fora das manifestações contra a Copa, que abraçou com fervor. Mas ter “amigos” endinheirados que só vê nessas ocasiões parece tê-lo embriagado.
O filho do porteiro parece acreditar que pertence a um mundo distinto do mundinho do pai, quem atravessou tantas noites insones em portarias para que o filho pudesse um dia ingressar numa universidade, mas só após o apoio das políticas públicas dos governos do PT para a educação universitária dos pobres.
Mas apesar da “vergonha” que o porteiro acha que o filho sente de si, orgulha-se dele. Os olhos brilham quando fala do rapaz, que estuda Tecnologia da Informação em uma universidade privada, sendo o primeiro universitário da família. Contudo, o porteiro teme a volta do PSDB ao poder, pois acha que destruiria seu sonho de ter um filho “doutor”.

AÉCIO É TUDO E NADA. E O TESTE DA COCAÍNA ? Aécio não tem uma ideia, um projeto, um discurso, um sonho.

A repórter Malu Delgado traça em nove páginas da revista piauí (com caixa baixa, de propósito …) o perfil de Aécio Neves, também conhecido como Arrocho, aquele que vai tomar “as medidas impopulares” que estão na cabeça do Armínio Naufraga e do Príncipe da Privataria.

“O público e o privado – o dilema que acompanha Aécio Neves, o presidenciável tucano”.

É um bom título.

O “privado” do Aécio é um problema.

E a reportagem trata dele com minúcias inesperadas.

O bon-vivant, “a leveza”, “a alegria”, o surfista, o mulherengo, o mitômano – amigo de Ronaldo Nazario, Cicarelli, Miss Minas, Luciano Huck – , o estudante medíocre e o administrador suspeito de fabricar um “choque de gestão”.

Quanto ao “choque de gestão”, há um processo, por exemplo, sobre a possibilidade de ter “desviado”, diz a revista, a ninharia de R$ 4,3 bilhões da Saúde de Minas.

Como governador, ele e a irmã Andrea – seu Golbery, seu Goebels -  exercem sobre a imprensa de Minas um controle de Medici.

Vários são os depoimentos de jornalistas perseguidos.

(A revista não menciona que o best seller “Privataria Tucana” nasceu de uma “encomenda” de Aécio ao “jornal” O Estado de Minas para enfrentar os dossiês do Cerra.)

(A revista também não trata de Aécio fazer de Minas o que fez de Brasília, quando parlamentar: uma escala de meio de semana, para preservar, sempre, os fins de semana no Rio.)

O mais interessante da reportagem é o que ela não traz.

Não há uma única ideia, um único projeto, um único discurso, um único sonho a ser realizado como presidente.

Diz ele: “… se eu não ganhar as eleições, e pode ser que isso aconteça, vai ser muito bom para mim, do ponto de vista pessoal”.

É o “privado” do título.

Homem público não tem “privado”.

E, por isso, Aécio tem a obrigação de se submeter a quantos testes forem necessários, e testes públicos, para determinar se ele foi usuário de cocaína – uma questão, sim, central em sua campanha.

E a revista trata da cocaína, como tratou Fernando Barros e Silva – diretor da piaui -, no “Roda Morta”.

Conta a revista: “… em 2008, no jogo Brasil e Argentina, no Mineirão, Aécio foi surpreendido por um canto inusitado da torcida: ‘Ô Maradona/ Vai se f…/ O Aécio cheira mais do que você!”

Esse foi tema, também, de artigo na Folha de seu grande amigo, o Padim Pade Cerra, como lembra a revista:

“O debate sobre o consumo de cocaína no Brasil pode e deve ser uma pauta em 2014”.

(Assim como deve ser, ainda em 2014, a resposta à pergunta “de que vive o Cerra?”)

É muito grave um candidato a Presidente da Republica que se recusa a fazer o teste do bafômetro, dirige com carteira de motorista vencida – e é suspeito, suspeito, sim, de consumir droga.

Aécio tem que responder a essa dúvida, inequivocamente, cientificamente, publicamente: além da maconha, o senhor já consumiu cocaína ?

E as ideias do Aécio presidente ?

Nada.

A reportagem indica que ele fala com o Armínio NauFraga pelo menos uma vez por dia.

Isso quer dizer muito.

Mas pode não dizer nada.

Aécio é uma folha de papel em branco.

Ali se pode escrever o que for preciso.

Porque Aécio não tem passado.

Tem mais folha-corrida – no Rio, bem entendido – do que currículo.

É um garotão alegre, leve.

Pode ser tudo.

E nada.

O primeiro presidente que vai viver no Rio, depois de inaugurada Brasília.

Porque, como diz a revista, ele acha a política muito chato.

Aliás, trata-se da mesma revista que mostrou o Príncipe da Privataria nu e cru.

Aécio é um perigo !

Ou um bom companheiro de noitadas no Cervantes, do Lido.

Tanto faz.


Paulo Henrique Amorim

sexta-feira, 6 de junho de 2014

"NEM NA DITADURA, COPA SE MISTUROU COM POLÍTICA"

Lula sobre Dilma: "nunca vi baterem tanto em alguém"

:

Ex-presidente disse que nunca viu tanto preconceito contra um presidente quanto vê contra Dilma Rousseff; “Eu nunca vi baterem tanto numa pessoa. Eu não sei se é porque ela é mulher, porque eu achei que comigo era porque sou nordestino. Eu acho que só fariam igual na Venezuela, com Chávez”; em seu discurso em fórum promovido pelo jornal espanhol El País, em Porto Alegre (RS), Lula apresentou uma série de números positivos do País depois de ter provocado: "o que eu vou dizer aqui não saiu na imprensa"
6 de Junho de 2014 às 17:04
Débora Fogliatto, Sul 21O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva participou na manhã desta sexta-feira (6), em Porto Alegre, do Fórum de Desenvolvimento, Inovação e Integração Regional promovido pelo jornal espanhol El País, do qual é colunista. Em pouco mais de uma hora de discurso no hotel Plaza São Rafael, ele falou sobre os desafios para o Brasil no século 21, traçando um panorama do desenvolvimento brasileiro nos últimos 11 anos, período que compreende o seu governo e o da atual presidente Dilma Rousseff. Amparado em dados e números, Lula mencionou o crescimento econômico, redução da pobreza, ascensão da classe média, descentralização da cultura e da mídia, mudanças nas estratégias de comércio exterior, entre outras medidas promovidas pelos governos do PT.
Antes da conferência de Lula, o governador Tarso Genro (PT) participou da mesa de abertura do Fórum, juntamente aos secretários de Planejamento do Paraná e de Santa Catarina, Cassio Taniguchi e Murilo Xavier Flores, respectivamente. A mesa deixou como principal mensagem a necessidade da criação de um fundo federal destinado a financiar investimentos em infraestrutura na região sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul. De acordo com o governador, o capital financeiro obriga os estados a disputarem investimentos a partir de renúncias fiscais que nem sempre dão resultado, pois desconsideram a economia local. "Não basta ser contra ou a favor da globalização, porque já se concretizou. É preciso saber como se relacionar com ela, transformar a relação de dependência e subordinação em interdependência e colaboração", afirmou.
“Nós tomamos a decisão de regionalizar a comunicação do governo, tirar do centralismo do eixo Rio-São Paulo, e fizemos a mesma coisa com a cultura”, começou Lula, lembrando que em 2003 todo o dinheiro do governo federal gasto com mídia era investido em apenas 249 veículos, número que subiu para 5.400 quando ele deixou a presidência. Na cultura, a situação era parecida: 99% era gasto entre Rio de Janeiro e São Paulo, e o governo de Lula regionalizou. “Nós apanhamos muito por isso”, afirmou. Com o carisma pelo qual ficou conhecido, Lula por vezes falou fora do microfone e fez piadas com o Secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que acompanhou a palestra do ex-presidente e participou posteriormente de mesa redonda sobre o tema “As chaves para o progresso econômico do Brasil”.
Durante seu discurso, Lula questionou o pessimismo e as críticas feitas a seu governo e ao de Dilma: “Nunca se ganhou tanto dinheiro nesse país e isso vale para os trabalhadores, para o salário mínimo e também para os empresários. Então por que esse mau humor? Às vezes leio na imprensa notícias que não têm nenhuma lógica, a não ser a de não informar corretamente a população deste país”, disse. Ele lembrou que o Brasil tem “liberdade de imprensa plena, total e absoluta”, destacando que nunca viu tanto preconceito contra um presidente quanto vê contra Dilma. “Eu nunca vi baterem tanto numa pessoEu não sei se é porque ela é mulher, porque eu achei que comigo era porque sou nordestino. Eu acho que só fariam igual na Venezuela com (o falecido ex-presidente Hugo) Chávez”.
Lula “pediu licença” para falar das conquistas do passado ao tentar projetar o futuro do país, pois “é impossível ser ex-presidente e ficar falando do futuro se não tiver nada do presente e do passado pra mostrar”. Nessa linha, ele afirmou que o Brasil encontrou o caminho do “crescimento e da inclusão social”, deixando de ser “um país submisso aos interesses internacionais” e isso só pode ser feito com a redução da miséria e a inclusão social: “A única razão de o povo ter eleito um metalúrgico para ser presidente da República era para fazer as coisas de um jeito diferente, era para governar para todos. Era preciso inserir aqueles que eram tidos como um problema, ou seja, os pobres neste país”, observou, lembrando que então foi criado o programa Bolsa Família, também muito criticado por alguns setores da sociedade.
A partir daí, “os pobres começaram a consumir”, e atualmente o programa atende 55 milhões de pessoas utilizando apenas 0,5% do PIB, segundo Lula. Com isso, a economia também cresceu: “De repente descobriu-se que o pobre virando consumidor ia melhorar o comércio, a indústria, ia melhorar para todo mundo, e foi o que aconteceu”, afirmou. Aliado a isso, o governo adotou uma política de valorização dos salários, elevando os salários mínimos todos os anos nos últimos onze anos. “E nada quebrou no Brasil. O que cresceu na verdade foi a cidadania no nosso país”, disse Lula.
O ex-presidente lembrou, no entanto, que não foi só nas políticas voltadas para os mais necessitados que seu governo se consolidou, mas também na economia, na produção e exportação. “O Brasil que muita gente não conhece é o segundo maior produtor e exportador mundial de alimentos, está entre os maiores produtores de aviões, máquinas agrícolas, cimentos, celulose, calçados. O país conquistou uma sólida posição no cenário financeiro internacional”, garantiu. Com isso, o Brasil passou pela crise internacional que afeta o planeta desde 2008 de forma tranquila, resistindo e criando empregos. “Me pergunto quantos países atravessaram a pior crise de capitalismo desde 1929 promovendo empregos? Quantos enfrentaram a crise aumentando a renda da população?”, indagou, afirmando que foram criados 10 milhões de postos de trabalho e que o desemprego alcançou o menor índice da história do país ao final de 2013.
“Eu acho que no século 21 o Brasil tem que encarar seu papel de grande nação”
Lula ironizou dizendo que precisou “um socialista metalúrgico” chegar ao governo para que um país que se dizia capitalista se tornar de fato, falando de sua política de ampliar a oferta de crédito. “Sem crédito não se vai a lugar nenhum, estamos com 55% do PIB de crédito nesse país”, afirmou. A melhora econômica passou pela mudança na política externa, com o aumento de R$ 20 bilhões para R$ 90 bilhões em parcerias com países da América Latina e Caribe. Para o ex-presidente, é importante trabalhar as novas possibilidade de relações com os vizinhos ao invés de ficar olhando apenas para os países mais ricos. “Durante muito tempo desprezamos isso. Eu acho que no século 21 o Brasil tem que encarar seu papel de grande nação. Tem que ter vontade política e decisão, de ser hegemônico na sua capacidade de fazer investimentos”, reiterou.
Ao comparar o crescimento do Brasil com o dos outros países do mundo, Lula questionou quantos países conseguiram “tanto em tão pouco tempo”. Foram 42 milhões de pessoas que passaram a ser de classe média e 36 milhões que saíram da pobreza extrema. A renda das famílias mais pobres cresceu 70%, a classe média consumiu R$ 1,3 bilhão em 2013. Esse aumento gerou também uma diferença na mobilidade, fazendo com que haja 113 milhões de passageiros de avião em um ano atualmente, contra 48 milhões em 2006. Lula brincou que tem gente que “não gosta de ver os pobres invadindo os aviões”, algo que disse adorar. “É essa gente evoluindo que vai fazer o país crescer mais. Não é tornando o rico mais rico, é tornando o pobre menos pobre. E eu não quero que o rico fique mais pobre, eu quero que o pobre fique mais rico”, destacou.
Ao longo do discurso, ele fez diversas indagações em relação ao crescimento e condições do Brasil em relação ao resto do mundo: “Qual foi o país que duplicou a produção de automóveis em 11 anos?”, “Qual país que conseguiu em 11 anos descobrir uma jazida de petróleo de pré-sal que apenas tem a mesma quantidade que acumulamos em 50 anos?”, “Que país conseguiu sair de 80 mil megawatts para 122 mil megawatts de energia?”, “Qual país conseguiu erguer do zero uma indústria naval?”, questionou, garantindo que o povo brasileiro “tem muito do que se orgulhar das conquistas alcançadas”.
” Investimento em educação, ciência e tecnologia só faz sentido se resultar em mais oportunidades para as pessoas”
“O Brasil será o grande produtor de alimentos do século 21. Por isso que eu torço para a África comer mais, a China comer mais, porque quanto mais comer, mais o Brasil terá competência de produzir”, disse. Ele brincou com o jornal El País, que promoveu a conferência, e com outros jornais da imprensa internacional, afirmando que estava falando com otimismo para o jornal espanhol “depois publicar uma matéria positiva”. “Às vezes eu acho que tem correspondente de jornal estrangeiro que fica em Copacabana lendo jornal brasileiro e mandando matéria. Porque se depender da imprensa brasileira o Brasil acaba todo dia”, criticou, em tom bem humorado.
Para garantir “um novo salto” no século 21, ele destacou três desafios. O primeiro é continuar a aprofundar investimento em educação, para que o ensino público de qualidade esteja cada vez mais ao alcance da população. “O Brasil é o país que mais investiu em educação nos últimos anos. O orçamento do MEC passou de 33 bilhões para 104 bilhões de reais. E precisamos continuar avançando muito mais”, afirmou.
A segunda medida é continuar investindo na produção de ciência e tecnologia, de forma a garantir resultados concretos. Neste âmbito, Lula lembrou que foram criadas mais de 30 mil bolsas de mestrado e 20 mil de doutorado nos últimos 11 anos. O terceiro desafio é aprofundar o processo de redução de desigualdade. “Qualquer política feita no Brasil tem que levar em conta que precisamos fazer os pobres subirem. Investimento em educação, ciência e tecnologia só faz sentido se resultar em mais oportunidades para as pessoas”, disse. Para isso, ele aconselha que aconteça uma integração com os países da América Latina, semelhante à que ocorreu na Europa no século 20 e isso deve partir do Brasil. Por esse motivo, o país precisa reconhecer seu “tamanho, grandeza e potencial”.
“Eu sou muito otimista. Aqueles que dizem que o Brasil não vai ter desenvolvimento vão quebrar a cara. Conseguimos em 11 anos provar que é possível inserir os pobres dentro da economia e não tê-los como problema, mas como solução”, disse o ex-presidente, afirmando que “muito dinheiro na mão de poucos é concentração, mas pouco dinheiro na mão de muitos é distribuição”. Por isso, Lula acredita que no século 21 o Brasil vai se tornar a 5ª maior economia do mundo.
Ele disse “ficar triste porque ainda está acontecendo o complexo de vira-lata”, referindo-se a um serntimento de inferioridade de alguns brasileiros em relação ao resto do mundo. “Tudo que a gente faz para o pobre é o mesmo investimento que sempre fizeram para os outros. Poderia fazer uma ponte com o dinheiro do Bolsa-Família sim, mas o pobre não come ponte”, ironizou. “Nós tínhamos que encher a barriga das pessoas para fazer essa revolução da inclusão social que fizemos”, completou. Aplaudido de pé, Lula terminou seu discurso dizendo que para governar, é preciso “cuidar da maioria e não ter medo de fazer o óbvio”. “Se você ler o seu discurso de campanha e fazer aquilo que você falou que ia fazer, não tem erro”, brincou.
*Com informações da Secom/RS

Datafolha e o beijo da morte de FHC


Mesmo concedendo o benefício da dúvida à pesquisa Datafolha – ou seja, que a boa e velha “margem de erro” não foi usada para corroborar as preferências do jornal que a divulgou –, pode-se dizer que a Folha de São Paulo, que controla o instituto, manipulou ao menos as manchetes sobre os números da disputa pela Presidência da República.

Diz a manchetona de primeira página: “Dilma mantém tendência de queda; rivais não sobem”. Ora, basta ler a reportagem sobre a pesquisa que se descobre que a manchete é inexata. O correto seria dizer que Dilma, Aécio e Campos caem e indecisos sobem.

Segundo o Datafolha, Dilma Rousseff caiu de 37% para 34%, Aécio Neves caiu de 20% para 19% e Eduardo Campos caiu de 11% para 7%, enquanto que o pastor Everaldo subiu para 4%.
A manipulação ao relatar os dados captados pela pesquisa não para por aí e a manchete distorcida nem é a maior das manipulações. Antes de abordar esse ponto, porém, vale comentar o que escreveu em sua coluna na mesma Folha Eliane Cantanhêde, casada com um marqueteiro do PSDB e que parece acreditar no que diz.
Ultimamente, a colunista vem reclamando de que Dilma tem muito espaço concedido pelo cargo e que por conta disso a pesquisa é pior para “quem disputa a reeleição”. Diz ela que “Mesmo com todos os seus instrumentos à mão, mesmo com todas as entrevistas, mesmo com a maior coligação partidária do planeta, Dilma continua perdendo pontos”.

A colunista parece achar pouco que todos os grandes impérios de mídia do país batam no governo e em sua titular todo santo dia, enquanto poupam seus adversários. Mas, enfim, o autoengano é quase um direito humano…

Mas o maior escândalo na forma como a Folha noticiou o que seu instituto de pesquisas apurou não é a manchetona mentirosa que diz que Dilma caiu e que os adversários “não sobem”, mas um dado altamente relevante da pesquisa e que ficou muito bem escondidinho em uma das três matérias do jornal que tratam do assunto.

Uma dessas três matérias foi publicada sob o título “Joaquim Barbosa é o segundo voto mais influente da eleição” – o primeiro voto mais influente é de ninguém mais, ninguém menos do que dele, Lula, é claro.
O que a matéria diz de altamente relevante não está aí, mas na influência que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem sobre o eleitorado. Lá no finzinho da matéria, bem escondidinha, consta a informação espantosa de que a personalidade com menos influência positiva e mais influência negativa na decisão de voto do eleitor é ele mesmo, FHC.

É um terremoto, essa notícia. Simplesmente porque 57% dizem que não votam de jeito nenhum em um candidato apoiado por FHC. Ou seja, os planos largamente anunciados por Aécio de incluir o ex-presidente em sua campanha, resgatando seu “legado”, foram para o ralo. E, pela quarta vez desde 2002, FHC terá que ser escondido do eleitorado.

Afinal, 57% é a maioria do eleitorado e, se não votam em quem é apoiado por FHC e se este apoia Aécio, em teoria a candidatura tucana está inviabilizada.
E mesmo para esconder FHC haverá que combinar com os russos. Não basta Aécio escondê-lo se os seus adversários o trouxerem à luz, lembrando ainda mais aos brasileiros daquele período que faz com que o eleitor nem queira ouvir falar do ex-presidente tucano, de triste memória.

E, como se sabe, mais uma vez o PT irá pendurar FHC no pescoço de um candidato do PSDB.
Há, ainda, a questão da rejeição de Dilma, que subiu para 35% enquanto que as de Aécio e Campos caíram para 29%. É óbvio que isso teria que acontecer porque eles pouco aparecem na mídia, enquanto que Dilma só aparece apanhando. Vamos ver o que acontecerá quando o eleitor for informado de que Aécio é o candidato de FHC…

Aliás, vale lembrar que a rejeição de Lula é de míseros 17%, ou seja, enquanto que o ex-presidente terá influência positiva na campanha de Dilma, o patrono de Aécio terá influência sobre seu desempenho que pode ser considerada fatal.

Fora isso tudo ainda há muito a comentar sobre a pesquisa Datafolha recém-divulgada, mas serão outras histórias que a ser contadas ao longo dos próximos dias, inclusive à luz de outras pesquisas, como uma privada do Vox Populi que mostra números substancialmente diferentes e que ainda virá à luz.

Globo tem que esconder musa da Copa Por que ela não põe o Ataulfo, o ï”, e o Faustão dentro do caminhão ?

Saiu no Keila Jimenez, da Fel-lha (*) (cuidado com o mau halito da bilis), sobre televisão

“O caminhão de Fátima Bernardes mal saiu e já teve que ser estacionado escondidinho na garagem da Globo.”

Saiu uma vez, para Belo Horizonte, para nunca mais sair …

Era para correr o Brasil inteiro durante a Copa e fazer o programa de dentro do caminhão.

A Globo Overseas diz que o cancelamento das viagens foi uma questão de segurança !

Claro.

Lembra, amigo navegante, quando  expulsaram a repórter da Globo e gritaram “é o PiG” e não deixaram a reporter em Copacabana concluir uma reportagem ?

É que a verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura.

A batata da Globo assa.

E quando acabar o encaixe de faturamento da Copa ?

E quando a audiência do jn do “I’ voltar à fronteira da casa dos dez e o Fintástico a um dígito  ?

É uma pena.

O Conversa Afiada sugere que a Globo botasse o Ataulfo (**), o Gilberto Freire com “i” (***) e o Faustão no caminhão, cheio de logo da Globo, e soltasse no Alemão ou numa estação de metrô – clique aqui para ler a analise do Miro Borges -  de São Paulo, na Praça da Sé, por exemplo.

Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse . Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos,  estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.

(***) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.