Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Como o politicamente incorreto chegou de forma perversa ao Brasil

marinho

por Luiz Carlos Azenha

Eu desconfio do politicamente correto. Às vezes imagino que se trata apenas de transpor, para o campo da linguagem, a tentativa neurótica de controlar o discurso em um mundo caótico, governado pelas coincidências.

Admiro o politicamente incorreto, mas nunca a ponto de rejeitar a Nota Fiscal Paulista.

No século passado, quando minhas filhas ainda cresciam em Nova York, um dos grandes sucessos da TV local era o South Park, com suas piadas escatológicas.

Inadvertidamente, dei de presente a elas South Park, o longa metragem, mas a sessão teve de ser interrompida pela metade quando passei pela sala justamente na cena em que Saddam Hussein fumava um cigarro, depois de transar com o diabo.

O sinal mais claro de que foi uma cena perturbadora é que ambas rejeitam, nos dias de hoje, por motivos obscuros, a Nota Fiscal Paulista.

O South Park marcou um momento de inflexão da indústria de entretenimento nos Estados Unidos. Depois dele, abundaram os programas politicamente incorretos.

Nos talk shows, o pioneiro foi Howard Stern, que transformou as multas que recebeu da Federal Communications Comission — por linguagem que transgredia o politicamente correto — no passaporte para novos e lucrativos contratos.

Na escala de valores dos americanos, afinal, o dólar está sempre acima da vaidade.

Na TV, eu estava lá quando surgiu Lou Dobbs, na CNN. Podemos dizer que ele foi um dos predecessores do twitter. Com um cérebro binário, Dobbs investia contra os imigrantes usando frases de efeito com a nuance dos 140 caracteres.

Posso dizer que vi nascer, nos anos 80 e 90, a indústria do politicamente incorreto nos Estados Unidos.

A fórmula era razoavelmente simples: apelo ao senso comum, maniqueísmo e muita estridência.

Boa parte era marquetagem, mas aqui ou ali se via um discurso verdadeiramente desafiador.

Mais tarde, com algumas décadas de atraso, essa indústria se instalou no Brasil, mas com uma peculiaridade: os politicamente incorretos, aqui, zombam exclusivamente dos mais frágeis!

Parafraseando o Chico Buarque, a Sheherazade é desbocada com a Bolívia mas fala fino com os Estados Unidos.

Tudo isso me ocorreu ao ler o texto da blogueira de O Globo que, presumivelmente, tentou fazer uma brincadeira com as manias de doença dos pobres.

Mas, como ela mesma admitiu, os leitores não entenderam o que ela escreveu como “humor cáustico”.

O blog da autora é nomeado “Zona de Desconforto” e um texto do Facebook, atribuído ao jornal O Globo, diz que a escritora é assim mesmo, fala o que pensa, rema contra a corrente, é politicamente incorreta a ponto de achar o papai-mamãe subvalorizado.

Para os que se assustam com o fato de uma jovem como ela merecer um perfil de O Globo, fique registrado o que diz uma de minhas filhas definitivamente lesadas pelo South Park: “Pai, o Brasil é o único país do mundo em que jovem de 30 anos já pensa na própria biografia”.

Se posso colaborar com a promissora carreira da blogueira, sugiro que ela leia A Fogueira das Vaidades,

de Tom Wolfe, que retrata justamente a Nova York dos anos 80.

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A certa altura, Wolfe faz uma descrição magnífica — e politicamente incorreta — de um líder negro que se posicionava milimetricamente para aparecer nas imagens de protestos contra o racismo que apareceriam à noite no noticiário das emissoras de TV da cidade.

Todos sabem que ele se referia a Al Sharpton, que na foto acima aparece na segunda fila, pendurado no ombro de Joe Biden. Não me lembro de ter conhecido melhor papagaio de pirata.

Mas os relativamente “pobres”, como Sharpton, ocupam Wolfe por poucas páginas. A crítica devastadora do autor se volta, acima de tudo, à ambição dos poderosos de Nova York, num período em que a ganância era oficialmente encorajada pelo governo direitista de Ronald Reagan.

Silvia Pilz, o politicamente incorreto só tem graça, mesmo, quando o autor desafia o discurso dominante e zomba de quem se acha.

Chutar pobre desdentado caído na calçada é covardia e, na verdade, nem é original — já que por linhas tortas é ao que se dedicam os seus patrões diuturnamente.

Cáustico de verdade seria você observar, em O Globo, de forma bem humorada, que os bilionários irmãos Marinho demitem trabalhadores num ano em que as Organizações Globo batem recorde de faturamento.

Não precisa escrever como eu, de forma deselegante e sem talento.

Tente fazer como o Tom Wolfe.

Leia também:

Colunista de O Globo ensina quem são “eles”, os pobres

Je suis Haiti

haiti

Fala-se francês, ou uma derivação dele, o creole.

Tiveram uma ditadura sangrenta, a de Papa Doc, François Duvalier, e a de seu filho, Jean Claude, o Baby Doc.

Foram de lá os ton-ton macoute, literalmente os  “homem do saco” ou “bicho papão”, como o personagem infantil de terror, a mais brutal polícia (ou milícia) política da história recente.

Quando derrubaram a ditadura e elegeram um presidente, ele foi deposto e o país entrou em conflito armado.

E, num destes fatos que põem à prova a existência de um Deus, logo veio um terremoto dantesco, que matou mais de 200 mil e destruiu o que restava do pais conflagrado.

E o Haiti virou a terra dos “rest avec”, onde pais miseráveis entregam seus filhos a quem pode, para serem escravos, quase, simplesmente para que não morram de fome.

Um castigo para um país que ficou independente antes de nós, que aboliu a escravatura cem anos, quase, antes de nós e que, por estes “crimes”, tiveram de pagar uma pesadíssima indenização aos seus ex-senhores franceses, embora os tivessem derrotado no campo de batalha.

Milhares deles estão no Brasil.

Trabalhando duro.

Aqui, perto de casa, dez deles trabalham numa obra de construção de um prédio.

Severos, de pouca conversa – como conversar, com seu ralo português? – são considerados e respeitados pelos outros trabalhadores.

Não se debocha deles, de sua cor, de sua origem, de sua religião, o vudu.
Sei lá se por medo, até.

A nossa elite acha o Brasil um país de bárbaros, daqueles que teriam de ajoelhar-se diante do rafinessment francês.

Mas, olhem, que maravilha.

A Universidade Federal da Fronteira Sul, com campus no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,  estados brancos, conservadores, abriu ontem uma inscrição especial para imigrantes haitianos fazerem, aqui, seu curso superior.

135 vagas, distribuídas em cinco campi da UFFS: Chapecó (68), Laranjeiras do Sul (11), Realeza (12), Cerro Largo (16) e Erechim (28).

A maioria  para cursos que “não dão dinheiro” e têm procura mais baixa.

Mas, para eles, um maná dos céus.

Não se tem notícia de que tenha havido na França um “Je suis Haiti” em  um mea-culpa pelo que fizeram àqueles negros.

Talvez fosse bom exemplo aos franceses.

Devolver, corrigida, a indenização de 90 mil francos que deles se exigiu para renunciar ao seu direito de Metrópole sobre a antiga e rebelde colônia. por exemplo.

Sei, porém, que isso me orgulha de meu país.

A grande maioria de nossos antepassados também veio de fora, um dia. Fugiam da miséria, da perseguição ou, simplesmente, vieram à força, para serem escravos.

Não quero saber de onde, nem sei se o “cristão novo” de meu Nogueira era antes árabe ou judeu.
Embora tenha horror e nojo de que se assassine alguém, como fizeram aos cartunistas do Charlie Hebdo, não aderi à a hipocrisia de muitos que andaram publicando o “Je suis Charlie” sem nunca terem, quando era necessário, tido um dedo sequer levantado pela liberdade de expressão.

Não se trata de ser condescendente com atos de terror, porque não é a bala e covardia que se age ou reage contra ofensas, as mais graves que sejam.

Mas não é porque devam ser repudiados os que fizeram aquelas monstruosidades que devamos deixar de entender e de lutar para corrigir todas as outras violências que, ao longo da história, a Europa cometeu e comete na África, na Ásia e na América.

Não é porque amo a França e tudo o que ela me deu com sua Revolução, com Napoleão, com  Hugo, Diderot, Stendhal, Zola e uma lista infinda de grandes homens e mulheres, que posso achar “normal” e “democrático” que se proclame o direito de debochar e agredir a qualquer um ser humano.

Embora, para muitos, pelo fato de serem muçulmanos, possam achá-los “menos humanos”, como já acharam (ou acham) os negros, os índios, os amarelos, como fez o general americano William Westmoreland, na Guerra do Vietnã, ao “explicar” que  “os orientais não dão tanto valor à vida quanto nós”.

Meu direito de dizer o que penso tem um limite: o de ofender o outro, qualquer outro.Não se ofende a dignidade de alguém, sim, e muito menos se ofende a dignidade coletiva.

Algo tão simples que aprendi ainda garoto, no ditado repetido por minha avó: o seu direito acaba onde começa o direito do seu vizinho.

E poucos anos depois, fazendo o que todo guri que se encantou com o Monteiro Lobato para crianças, fazia quando ficava mais taludinho: lendo seus escritos adultos.

Trago um, que deveria ser lido por quem acha que não dói a ofensa:

O drama do brio

Monteiro Lobato (em 1933)

Há dezesseis anos ocorreu em São Paulo um crime singular.

Estava de guarda no quartel da Luz um soldado pernambucano de nome José Rodrigues Melo.

Era um homem. Embora rude, ninguém no regimento o vencia em firmeza de caráter. Melo personificava o brio militar — mais que isso, Melo personificava a dignidade humana.

Estava de guarda, embora tivesse a mão direita enferma. Os pernambucanos são rijos, e um simples ferimento não bastava para arredar aquele do serviço.

Começa aqui a tragédia do Brio. O Brio o impediu de ir vadiar à enfermaria. O Brio iria inutilizá-lo para sempre.

Passou por Melo um oficial francês.

Nesse tempo São Paulo vivia cheio de oficiais franceses, contratados para amestrar nossa gente na arte de matar pela escola de Saint-Cyr. E como para bem ensinar a arte de bem matar o primeiro passo é domesticar o aluno, os professores de França não largavam o instrumento clássico da domesticação: o chicote. E ninguém lhes fosse lembrar uma tal lei de 13 de Maio, etc., etc.; rir-se-iam com superioridade metropolitana, silvando: “Fí, donc”!

Ao passar o francês, nosso soldadinho pernambucano perfilou-se na continência do estilo. Acontece, todavia, que isto de continência é a colocação do pronome dos militares — coisa seríssima. Melo errou num pronome. Em vez de fazer a continência com a mão direita, impedida pela enfermidade, fê-la com a esquerda sã.

Ai! O lambe-feras avança para Melo e chicoteia-o impiedosamente na cara.

— Sale négre!

E a tragédia explode. Tudo quanto havia em Melo de dignidade humana faz-se maremoto incoercível. Não era mais um homem quem recebia a afronta, era a raça. Era essa coisa enorme e brutal que se chama pátria e borbulha dentro do peito de certas criaturas sob forma de sentimentos explosivos como a nitroglicerina.

As mãos de Melo crisparam-se na Mauser… e lá partiu a bala certeira que iria privar Damasco de mais um perito bombardeador.

Negrel morreu ao lado do chicote infamante — e parece que o chicote em São Paulo morreu com Negrel.

Foi esse o drama. Positivamente drama da raça. Drama da honra. Drama do brio. Drama da dignidade humana.

Ia começar a comédia da covardia.

Não houve em São Paulo um nacional que não fremisse de entusiasmo diante do revide de Melo.

Minto. Houve doze homens que destoaram do coro unânime. Eram homens que, chicoteados na cara, em vez de reagir meteriam a cauda entre as pernas e iriam, ganindo, beijar as mãos do lambe-feras. Nenhum deles tinha dentro de si a raça. Nenhum deles chegava a homem; meros sub-homens à tout faire.

Pois a coincidência quis que tal dúzia fosse constituir o conselho julgador do honroso crime.

Condenaram-no. E nada mais lógico, nada mais canino do que essa condenação a trinta anos de prisão celular infligida ao Brio. Condenaram-no só a trinta porque a lei não admitia penas de cinqüenta; nem permitia a aplicação das engenhosas torturas com que Luiz XV, o rei Bien Aimé, durante um dia inteiro divertiu Paris com o espantoso suplício de Damiens.

O crime de Melo era gravíssimo. Era crime de lesa-galicidade. E como o medo à França fez calar a imprensa, sofreando no nascedouro a onda de simpatia nacional, Melo foi apodrecer em vida num cubículo penitenciário.

E lá vegeta há quinze anos.

Nesse intervalo, quantos criminosos repugnantes não obtiveram perdão? Quanto cangaceiro que mata pelo prazer de matar não se gozou duma sólida impunidade? E também, quantos marroquinos e quantos sírios não foram trucidados cientificamente pelos franceses, por terem no peito o sentimento de raça que perdeu Melo?

Nossos “dúzias” perdoam tudo menos a dignidade, e o ensino inoculado pela missão do chicote calou fundo. Se lá na Síria os mestres bombardeiam os criminosos desse crime, aqui os alunos os fazem apodrecer nos ergástulos.

Há dias um repórter carioca, em visita à penitenciária de São Paulo, teve ocasião de falar com Rodrigues Melo.

— Está arrependido do que fez? Perguntou-lhe.

— Não! retrucou firmemente aquele brio de aço. E diga-me o senhor: se fosse iniquamente chicoteado na cara por um estrangeiro só porque lhe fez continência com a mão esquerda, visto ter a direita enferma, não faria a mesma coisa? Confesso que pratiquei o crime fora de mim; mas a privação de sentidos não foi inventada para nós…
E suspirou com os olhos brilhantes de lágrimas.

— Por que chora?

— Saudades de minha mãe, uma pobre velhinha que vive a esperar por mim, lá no fundo de Pernambuco. Oitenta e seis anos!… Vê-la-ei ainda?

Melo não se arrepende, e é diante de firmeza assim que nos renasce a fé na raça.

O desfibramento atual tem que ser passageiro. Eclipse momentâneo. Nem todos os Melos estão encarcerados; há de havê-los soltos, e por escassa que seja a semente, a espécie há de proliferar um dia.

O “não” de Melo ao jornalista é sublime. Diz “não!” após quinze anos de cárcere. Dirá “não!” ao cabo dos trinta anos da pena. E se no dia seguinte à soltura um francês o chicotear de novo, a raça incoercível, transfeita em diamante dentro desse homem, fá-lo-á matar de novo.

Os anos e as torturas são impotentes para quebrar a dignidade em quem a recebeu do berço — como coisa nenhuma a dará a quem dele saiu eunuco.

PS. Há um lindo filme que assisti na TV, de Henrique Maffei, sobre o drama dos haitianos. Não o achei na net inteiro, mas posto o trailler, um primor.

França prende humorista que faz críticas a judeus

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Poucos dias depois da marcha em defesa da liberdade e contra o terror (com a presença de Benjamin Netanyahu), a França expôs suas contradições; o comediante francês Dieudonné, conhecido por suas críticas ao judaísmo, foi preso ao comentar em seu Facebook que se sente como Charlie Coulibaly (sobrenome de um dos terroristas); em sua defesa, Dieudonné disse que seu humor não difere do feito pelo Charlie, que estimulava preconceito contra muçulmanos 


247 – Após convocar uma marcha pela liberdade e contra o terror, com a presença de líderes mundiais como o israelense Benjamin Netanyahu, o governo francês expõe suas contradições ao mandar prender o comediante francês Dieudonné.

O humorista, conhecido por suas críticas ao judaísmo, foi interpelado em sua casa, em frente aos seus filhos, por ordem do primeiro-ministro Bernard Cazeneuve, sobre a acusação de incitar o terrorismo nas redes sociais.

No Facebook, ele comentou que se sente como Charlie Coulibaly (sobrenome de um dos terroristas): "Após essa marcha histórica, digo mais... lendária! Um momento mágico como o Big Bang que criou o universo! ...ou em um grau mais local, comparável à coroação de Vercingétorix [rei gaulês da antiguidade], eu enfim entro em casa. Sabe que essa noite, no que me diz respeito, eu me sinto como Charlie Coulibaly", escreveu.

Em sua defesa, Dieudonné disse que seu humor não difere do feito pelo Charlie, que estimulava preconceito contra muçulmanos

No ano passado, o comediante foi alvo de outra ação do governo de François Hollande, em ofício pedindo para que todas as prefeituras cancelassem seus shows de stand-up.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Plebiscito é a única chance de regular a mídia

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A nomeação do ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais Ricardo Berzoini para o Ministério das Comunicações reacendeu a esperança dos ativistas pela regulação da mídia devido às posições dele nessa questão. Todavia, um fato recente revela que ter nessa pasta um ministro simpático a essa regulação está longe de ser suficiente.
Em sua edição do segundo dia útil da semana, na coluna Painel, em uma nota diminuta, a Folha de São Paulo revela toda a dificuldade que envolve a mera discussão do assunto “regulação da mídia” no Congresso.
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Nada poderia ser mais emblemático do que o candidato do PT à Presidência da Câmara tirar o projeto de regulação da mídia de sua campanha para o cargo. Isso ocorreu porque a esmagadora maioria do Congresso não quer nem ouvir falar desse assunto, já que o sistema atual favorece a classe política, pois permite a parlamentares, chefes do poder Executivo etc. controlarem meios de comunicação, sobretudo rádios e tevês, o que lhes permite manter hegemonia política em seus Estados.
Segundo matéria do portal Vermelho publicada em novembro do ano passado, “Apesar da proibição Constitucional, atualmente, no Congresso Nacional, existem 271 políticos sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação”. A matéria ainda informa que “Desde 2013 o Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC) trabalha para coletar 1,3 milhão de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular para impedir, de fato, a propriedade de veículos de comunicação a parlamentares”, e que “A preocupação do FNDC é, também, o processo de democratização da produção e consumo do conteúdo veiculado”.
Se somarmos o tempo de duração de todos os fóruns e atos públicos pela regulação da mídia que já foram feitos desde que o tema começou a ser discutido mais intensamente no Brasil, lá pelo fim do primeiro governo Lula, encontraríamos uns dez anos de discussões do assunto. Para que? Para nada.
Porém, com um Congresso como o que foi eleito em outubro passado – considerado o mais conservador desde o fim da ditadura militar –, a possibilidade de passar um projeto como esse que persegue o FNDC, é praticamente nula. Se para se viabilizar como presidente da Câmara um candidato tem que renegar sequer a intenção de discutir o tema regulação da mídia, imagine só, leitor, o que seria votar um projeto nesse sentido.
Mesmo que fossem reunidas 1,3 milhão de assinaturas para apresentar ao Congresso um projeto de iniciativa popular pela regulação da mídia, não existe qualquer dúvida de que esse projeto de lei seria sumariamente engavetado.
Para que fique ainda mais clara a resistência dos parlamentares brasileiros a uma lei que colocaria a comunicação do país em um patamar civilizado como o dos Estados Unidos ou da Inglaterra, entre outros países nos quais a mídia eletrônica e até a impressa têm que obedecer regras, basta ver o que aconteceu com o projeto de lei que regulamenta o direito de resposta, de autoria do senador peemedebista Roberto Requião.
Confira, abaixo, a tramitação do projeto de lei 6446/2013, de autoria do senador Roberto Requião.
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Como se vê, o projeto, apresentado no ano retrasado, está parado desde abril do ano passado e não se vislumbra sequer possibilidade de voltar à pauta. E note, leitor, que não se trata de um projeto que busque suprimir direito de expressão. Pelo contrário, o projeto visa aumentar o direito de expressão, dando voz a quem for acusado ou detratado por algum meio de comunicação.
Ou seja: os políticos não querem que alguém que seja alvo de uma acusação de uma tevê ou jornal possa se defender no mesmo espaço em que foi acusado. Não é pouco…
Diante disso, toda a discussão que se faz sobre a questão regulação da mídia só não é inútil porque se ninguém tocar no assunto nem mesmo criaremos inteligência sobre ele. Mas, sendo realista, o que se vê é que regular a mídia ainda é um sonho distante para um país que, no tema comunicação, é um dos mais atrasados do mundo.
Em praticamente todos os países desenvolvidos a mídia obedece a um extenso arcabouço legal. Durante a década passada, países latino-americanos também conseguiram regular a mídia, alguns com legislações consideradas brilhantes pelos especialistas, como no caso da Argentina, cujo projeto de regulação foi elogiado pela ONU.
O Brasil sempre foi retardatário na adoção de legislações libertárias, como no caso da abolição da escravatura. Enquanto o mundo vai adequando leis à nova realidade das comunicações, após tantos avanços que vêm sofrendo, este país aferra-se a modelo arcaico, destinado a proteger os interesses dos velhos coronéis das comunicações – Globo, Folha, Estadão, Veja etc.
Quebrando a cabeça, porém, o blogueiro encontrou uma luz no fim do túnel.
O Congresso impede a mera discussão do assunto regulação da mídia porque sem regulação parlamentares e chefes do poder Executivo conseguem burlar uma lei malfeita e, assim, conseguem controlar tevês e rádios.
Apesar disso, uma minoria de parlamentares pode desencadear a discussão do assunto pela sociedade. Segundo aLEI Nº 9.709, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1998Art. 3º, “Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3o do art. 18 da Constituição Federal, o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de conformidade com esta Lei”.
A rigor, pode-se dizer que, hoje, partidos de esquerda mesmo, no Congresso, só há três: PT, PC do B e PSOL, que não somam nem 100 deputados. Porém, espremendo bem o que possa haver de esquerdistas em outras legendas, é possível chegar aos 171 deputados necessários à convocação do plebiscito.
Como se sabe, plebiscito é uma campanha eleitoral como qualquer outra, com tempo de rádio e tevê para que cada lado (contra e a favor do tema proposto) apresente seus argumentos. Ora, se houvesse, no país, uma campanha como essa, dificilmente seria derrotada, pois a quase totalidade dos brasileiros nem sonha que países como Estados Unidos, França, Inglaterra e tantos outros têm regulação da mídia.
Para finalizar, há que explicar por que se propõe plebiscito e não referendo. Para quem não sabe, plebiscito visa a elaboração de uma lei que atenda o fim para o qual a consulta popular foi convocada, e referendo visa o endosso popular a uma lei já formulada.
No caso, seria muito mais simples propor ao povo que endosse que o Congresso discuta e aprove uma lei de regulação da mídia. Afinal, o objetivo maior é levar essa discussão à sociedade, já que, por razões óbvias, a grande mídia censura esse debate, mantendo a quase totalidade do país na mais absoluta ignorância sobre o assunto.

Colunista do Globo revela seu nojo contra pobres









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Jornalista Silvia Pilz "diz o que pensa" sobre os pobres que frequentam consultórios médicos; "Normalmente, [o pobre] se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios", onde "provavelmente se sente em um cenário de novela"; tentando ser engraçada, ela afirma que pobre "faz drama, fica de cama" para não ir trabalhar quando tira sangue e que muitos sonham em "ter nódulos"; para arrematar seu desprezo, ela diz que "a grande preocupação do pobre é procriar"

247 – Em um artigo espantoso publicado em seu blog no Globo, a jornalista Silvia Pilz desfere todo seu asco contra os pobres. Especialmente o pobre que frequenta consultórios médicos, para onde "se arruma" para ir, segundo ela, por "provavelmente" se sentir "em um cenário de novela". Segundo ela, "o pobre quer ter uma doença" – como tireoide, "é quase chique" – e tem como principal preocupação na vida "procriar". Leia:

O plano cobre

Todo pobre tem problema de pressão. Seja real ou imaginário. É uma coisa impressionante. E todos têm fascinação por aferir [verificar] a pressão constantemente. Pobre desmaia em velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não. Atualmente, com as facilidades que os planos de saúde oferecem, fazer exames tornou-se um programa sofisticado. Hemograma completo, chapa do pulmão, ressonância magnética e etc. Acontece que o pobre - normalmente - alega que se não tomar café da manhã tem queda de pressão.

Como o hemograma completo exige jejum de 8 ou 12 horas, o pobre, sempre bem arrumado, chega bem cedo no laboratório, pega sua senha, já suando de emoção [uma mistura de medo e prazer, como se estivesse entrando pela primeira vez em um avião] e fica obcecado pelo lanchinho que o laboratório oferece gratuitamente depois da coleta. Deve ser o ambiente. Piso brilhante de porcelanato, ar condicionado, TV ligada na Globo, pessoas uniformizadas. O pobre provavelmente se sente em um cenário de novela.
Normalmente, se arruma para ir a consultas médicas e aos laboratórios. É comum ver crianças e bebês com laçarotes enormes na cabeça e tênis da GAP sentados no colo de suas mães de cabelos lisos [porque atualmente, no Brasil, não existem mais pessoas de cabelos cacheados] e barriga marcada na camiseta agarrada.

O pobre quer ter uma doença. Problema na tireoide, por exemplo, está na moda. É quase chique. Outro dia assisti um programa da Globo, chamado Bem-Estar. Interessantíssimo. Parece um programa infantil. A apresentadora cola coisas em um painel, separando o que faz bem e o que faz mal dependendo do caso que esteja sendo discutido. O caso normalmente é a dúvida de algum pobre. Coisas do tipo "tenho cisto no ovário e quero saber se posso engravidar". Porque a grande preocupação do pobre é procriar. O programa é educativo, chega a ser divertido.

Voltando ao exame de sangue, vale lembrar que todo pobre fica tonto depois de tirar o sangue. Evita trabalhar naquele dia. Faz drama, fica de cama.

Eu acho que o sonho de muitos pobres é ter nódulos. O avanço da medicina - que me amedronta a cada dia porque eu não quero viver 120 anos - conquistou o coração dos financeiramente prejudicados. É uma espécie de glamourização da doença. Faz o exame, espera o resultado, reza para que o nódulo não seja cancerígeno. Conta para a família inteira, mostra a cicatriz da cirurgia.

Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da ciática [leia-se nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol [leia-se colesterol alto] e alegam "estar com o sistema nervoso" quando o médico se atreve a dizer que o problema pode ser emocional.

O que me fascina é que o interesse deles é o diagnóstico.

O tratamento é secundário, apesar deles também apresentarem certo fascínio pelos genéricos.
Mesmo "com colesterol" continuam comendo pastel de camarão com catupiry [não existe um pobre na face da terra que não seja fascinado por camarão] e, no final de semana, todo mundo enche a cara no churrasco ao som de "deixar a vida me levar, vida leva eu" debaixo de um calor de 48 graus.

Pressão: 12 por 8

Como são felizes. Babo de inveja.

O nazismo entre nós

MAURO SANTAYANNA
Em tempos de ressurreição do discurso anticomunista, nunca é demais lembrar que o nazismo deve ser combatido sempre que apontar a cabeça para fora do esgoto da História.

Nos últimos tempos fez fama na internet a imagem de uma suástica no fundo de uma piscina, no quintal de uma casa de Pomerode.

Seu proprietário foi identificado, posteriormente, como o professor Wandercy Pugliese, que dá aulas em "cursinhos" na região, e já teve vasta coleção de objetos de inspiração nazista apreendidos pela polícia em sua casa, na década de 1990.

Agora, surge a informação de que um Comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi exonerado de seu cargo pelo Secretário de Segurança José Beltrame, por trocar mensagens de cunho nazista com outros oficiais e subordinados pelo What' s Up e defender, jocosamente, o assassinato de manifestantes.

Resgatando o Sigma, símbolo do Integralismo, existe uma página, no Facebook, do "Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Brasileiros", tradução literal do "Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei," o Partido Nazista alemão de Adolf Hitler.

O mesmo Sigma pode ser encontrado em sites integralistas, como o do Movimento Integralista e Linearista Brasileiro, ou da SENE - Sociedade de Estudos do Nacionalismo Espiritualista, e no peito do Galo Tupã, "mascote" da doutrina, pisando o verme "comunista-liberal" que ameaça o Brasil.

Filhote do fascismo, e semelhante ao nazismo, a Ação Integralista Brasileira, chefiada por Plínio Salgado, a exemplo das doutrinas que a inspiraram, não se dizia, malandramente, nem como de "direita", nem de "esquerda".

Com "Deus, Pátria, Família", como slogan, ela chegou a contar com dezenas de milhares de simpatizantes no Brasil, até uma frustrada tentativa de golpe contra Getúlio Vargas, em 10 de maio de 1938, quando foi proibida e colocada na clandestinidade.

Hoje, os integralistas tentam reviver, a partir da internet, por meio da FIB - Frente Integralista Brasileira, que organiza congressos e palestras, e também de outros grupos, sites e fóruns como os que já citamos antes.

O nazismo tupiniquim, tão ridículo quanto absurdo, quando defendido e praticado em uma das nações mais miscigenadas e universais do mundo, está presente também nos bandos de skinheads que agridem verbal e fisicamente, judeus, nordestinos, negros e homossexuais, principalmente em São Paulo e na Região Sul do
país.

Em tempos de ressurreição do discurso anticomunista, que insiste em colocar comunismo e nazismo no mesmo saco, embora o primeiro nunca tenha construído câmaras de gás e fornos crematórios, ou perseguido alguém por critérios raciais, e tenha combatido e derrotado implacavelmente o segundo, da memorável Batalha de Stalingrado, até o suicídio de Hitler em seu bunker, para não ser capturado e julgado pelos soviéticos, em 1945, nunca é demais lembrar que o nazismo deve ser combatido sempre que apontar a cabeça para fora do esgoto da História.

Mesmo quando apenas simbólicos, os ovos da serpente devem ser esmagados ainda no ninho, para que não possam germinar nem eclodir.


Petrobras: recorde de petróleo no mês, no ano, na História. E está “quebrada”?

petroleo2014
Saíram agora à noite os números consolidados da produção de petróleo e gás natural da Petrobras.
Com todos os problemas que a empresa enfrenta, foram sensacionais.
A empresa chegou à marca de média de 2, 863 milhões de barris de óleo equivalente por dia ( na soma de petróleo e gás), melhor resultado já alcançado na história da empresa.
Só de óleo líquido (excluído o gás), foram 2,212 milhões de barris por dia.
Também um recorde histórico.
Idem no pré-sal, que chegou à média de 666 mil barris diários de petróleo e superou os 23 milhões de metros cúbicos de gás, gerando um total de quase 800 mil barris de óleo equivalente totais.
De ponta a ponta do ano, foram mais de 300 mil barris acrescentados à produção nacional.
Estimando que a produção dos campos operados por empresas privadas fique – como tem sido – de cerca de 9% do que produz a Petrobras, a produção de petróleo no Brasil ultrapassou os 3 milhões de barris diários, contra 2,62 milhões em dezembro de 2013.
O que talvez já coloque o Brasil entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo, logo atrás do Iraque e do Kuwait e à frente do México.
E ainda não há, nestes totais, uma gota de óleo dos megacampos de Búzios (novo nome de Franco) e de Libra, que vão nos colocar entre os seis maiores produtores de petróleo do planeta, com produção superior a 4 milhões de barris diários.
Este é o tamanho do negócio que querem que o Brasil entregue.
Cada vez mais, vocês vão ler que, com a queda dos preços internacionais do petróleo, não compensa produzir no pré-sal, porque o preço de importar é o mesmo, ou quase o mesmo, de extrair.
Ainda que fosse assim, compensaria, é claro, porque deixaríamos de gastar lá fora para gastar aqui.
Mas não é assim.
Os preços caíram quase ao nível dos meses da crise mundial de 2008/2009, é verdade, pouco mais de 40 dólares por barril.
Mas também é verdade que, dois anos depois daquele desastre mundial, tinham voltado a marcas recordes, acima de 110 dólares por barril.
É assim que querem que o Brasil, como diz o povão, “entregue a rapadura”.
Têm quatro anos para tentar de novo.

Nassif denuncia papel de Kamel numa guerra do PiG

Globo se associou à Abril e ele estava no meio.

Conversa Afiada reproduz importante denúncia do Nassif:

ALI KAMEL E A GUERRA DOS LIVROS DIDÁTICOS



A cartelização dos grupos de mídia foi o passo inicial do pacto de 2005, que teve como grande mentor o finado Roberto Civita, da Editora Abril, baseado no modelo Rupert Murdoch – o australiano que se mudou para os Estados Unidos e definiu uma estratégia pesada de sobrevivência, que acabou servindo de modelo para grupos de mídia inescrupulosos.

A lógica do pacto era simples e tosca como o jornalismo de Murdoch. Com a Internet, vinham pela frente mudanças radicais trazendo o maior desafio da história para os grupos de mídia, mais do que o advento do rádio e da televisão, porque muito mais difícil de enquadrá-la em regulamentação – como foi o caso da Lei das Concessões, que restringiu a competição e entregou o filé mignon aos grupos já estabelecidos.

***

A estratégia murdochiana consistia em criar um clima de guerra, instaurar um macarthismo feroz debaixo do qual caberiam todas as jogadas comerciais necessárias para assegurar a sobrevivência dos grupos de mídia em novos mercados.

Dentro dessa estratégia, em 2007 explodiu uma guerra hoje em dia pouco lembrada, em torno dos livros didáticos e dos cursos apostilados. Considerou-se que o mercado de livros didáticos poderia ser uma das novas frentes dos grupos de mídia, seguindo a picada aberta pelo grupo espanhol Santillana, controlador do jornal El Pais.

***

A Abril entrou no mercado de livros didáticos e cursos apostilados através de uma nova divisão, na qual incorporou as editoras Ática e Scipione, que havia adquirido em sociedade com o grupo francês VIvendi; e a Globo tentou uma sociedade com a UNO, braço do Santillana.

***

Recorreu-se ao macarthismo para afastar competidores.

No caso da Veja, a uma parceria com um site de direita, criado  para denunciar infiltração comunista no ensino. Com base no site, a revista publicou uma reportagem sensacionalista denunciando um competidor no mercado de cursos apostilados. Era matéria falsa, baseada em informação desmentida pelo próprio acusado, mas que não foi respeitada na reportagem publicada.

Coube à blogosfera desarmar a armação, denunciando a informação falsa e divulgando trechos de livros de história da Ática e da Scipione com as mesmas análises condenadas no material concorrente.

Desmascarada, a revista acabou publicando um “Erramos”, episódio raro em sua história.

***

A segunda frente foi conduzida por Ali Kamel, já elevado a diretor da Globo.

Em 18 de setembro de 2007 publicou coluna no jornal O Globo, prontamente reproduzida no Estadão, denunciando o conteúdo subversivo de um campeão de vendas, o coleção “Nova História Crítica”, de uma editora nacional. As denúncias foram repercutidas nos demais veículos da Globo, da revista Época ao Jornal Nacional.

Kamel denunciava o livro por suposta apologia a Mao Tse-tung selecionando a parte que enaltecia Mao:

“Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador.”

E sonegando a parte que o criticava:

“Como governante, agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.”

Sobre a revolução cultural chinesa, Kamel mencionava o trecho:

“Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas”.

E escondia a crítica:  

”O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (…) Mao (…) agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.” (p. 191) ”Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de reeducação política. (…) Nas universidades, as vagas eram reservadas para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (…) Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país…”

Sobre a revolução russa, o mesmo procedimento:

“É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (…) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas…

E escondia as críticas:

”A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (…). Quem criticasse o governo ia para a prisão. (…) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma administração confusa e lenta. (…) Milhares e milhares de indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas…”.

No dia seguinte ao artigo de Kamel, o diário El Pais (dono da Santillana), publicou artigo repercutindo internacionalmente a denúncia e afirmando que “el libro de texto ensalza el comunismo y la revolución cultural china”.

No mesmo dia, o ex-Ministro Paulo Renato de Souza (em cuja gestão o livro passou a integrar as obras do MEC) publicou no site do PSDB a informação de que entraria no dia seguinte com representação na Procuradoria Geral da República para retirar a Nova Historia Crítica do mercado.

No seu site pessoal, a informação de que sua consultoria tinha entre seus clientes a Santillana.

***

Conseguiram matar um campeão de vendas. Mas o contraponto da blogosfera produziu tal desgaste que a estratégia acabou abandonada, para alívio das editoras e dos autores concorrentes.  

Restou o esperneio, o uso do poder da Globo para processar jornalistas que ousaram investir contra a estratégia traçada.



Em tempo: foi por essa façanha que o então deputado do PT de PE, Fernando Ferro imortalizou o papel de “jornalistas” como o Gilberto Freire com “i” (ver no ABC do C Af) a expressão PiG. Kamel entrou para a História! – PHA

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ironias da vida: Marta usou contra PT jornalista e jornal que a massacraram

Marta
Naquela tarde de 2003, cheguei ao Teatro que a Folha de São Paulo mantém incrustado no chiquérrimo shopping de “bacanas” em Higienópolis para participar, a convite do jornal, de um seminário qualquer. À porta do Teatro, encontro Eliane Cantanhêde conversando com o psicanalista-colunista da Folha de São Paulo Contardo Caligaris.
Aproximei-me timidamente da colunista com quem trocava mensagens pela internet havia anos para comentar suas colunas então despidas do antipetismo que ela adotaria nos anos seguintes. Como já nos conhecíamos pessoalmente de outros eventos da Folha, entabulamos um dedo de prosa. Eliane escolheu o assunto: Marta Suplicy.
Marta, que a imprensa paulista apoiara efusivamente contra Paulo Maluf na eleição municipal de 2000 – diante da literal destruição da capital paulista durante seu governo e o de Celso Pitta –, caíra em desgraça junto à elite paulistana. Atualmente, era “Martaxa”, inimiga número um dos ricaços de São Paulo por ter lhes cobrado uns caraminguás a mais no carnê do IPTU.
Não me surpreendeu, portanto, que Eliane tenha começado o papo perguntando se eu ficara sabendo da última entre as muitas declarações folclóricas que Marta verteu ao longo de sua carreira política. A partir dali, tive uma certeza: a colunista odiava a então prefeita de São Paulo. Ao menos naquele momento – na política, amor e ódio são fluídos e mutantes.
Termos como “dondoca”, “fútil”, “destemperada”, “arrogante” etc. foram usados, decepcionando-me – eu, à época, acreditava que a Folha e seus colunistas eram diferentes do resto da mídia tucana porque o jornal permitia algum contraditório, enquanto que o Estadão, jornal que eu lia desde os 13 anos, simplesmente não permitia opiniões divergentes.
Vendo a raiva que Eliane demonstrava em relação à prefeita de São Paulo, fiquei incomodado. “Como ela poderá escrever corretamente sobre alguém de quem sente tanta raiva?”, perguntei-me.
Nos anos seguintes, a então colunista da Folha, hoje colunista do Estadão, iria se tornando uma das antipetistas mais virulentas do mercado de opinião paulista, conforme seu marido, um marqueteiro, fosse conseguindo contratos com o PSDB.
Eis que, no último sábado, vejo-me surpreendido com entrevista que Marta concedeu justamente a Eliane, quem, hoje, emprega seu antipetismo militante no jornal da família Mesquita, a qual, pelo menos, não é dissimulada como a família Frias, da Folha, ao não escamotear seu ódio ao PT.
Marta é uma mulher inteligente, apesar do temperamento. Sabia muito bem a quem estava dando munição contra o partido que a acolheu e lhe deu todo o espaço possível e imaginável. A entrevista que deu ao Estadão caberia na boca de qualquer tucano radical.
Endossou a tese mentirosa de que Lula poderia ter sido candidato a presidente neste ano, o que já ouvi dele, em conversa privada, que é a última coisa que faria, pois seria admissão de que errou na escolha de Dilma. E, não satisfeita, Marta ainda tratou de intrigar Lula com Dilma. Publicamente.
Talvez pelo tom de fofoca de sua entrevista Marta tenha escolhido uma jornalista que se notabilizou como fofoqueira política. Eliane Cantanhêde nunca passou de uma fofoqueira política que já foi até independente, mas que acabou se tornando fofoqueira política a serviço do PSDB.
Marta fez um bom governo em São Paulo? Fez, sim. Priorizou o social, assim como Luiza Erundina. Ambas só não fizeram mais porque sucederam prefeitos que destroçaram os cofres paulistas. Foram duas boas prefeitas. Ponto.
Contudo, politicamente Marta começa a trilhar o caminho de Erundina. A ambição apressada de ambas tornou-as coadjuvantes na política. Erundina e Marta foram destroçadas pela mídia paulista e depois foram bater às suas portas para atacar o PT, já que elas culpam o partido pelas inabilidades políticas delas mesmas.
Meu sinal de alerta com Marta acendeu na eleição de 2008, quando ela disputou a prefeitura de São Paulo com Gilberto Kassab. Em plena campanha eleitoral, saltei fora da candidatura dela quando cometeu um pecado imperdoável ao questionar a sexualidade do adversário em seu programa eleitoral. Um golpe tão baixo que até Maluf pensaria duas vezes antes de usar.
Comparo a entrevista de Marta ao Estadão como uma nova versão do “É casado? Tem filhos?”, que, desrespeitando a própria história e o eleitorado, essa senhora foi capaz de usar.
Em 2008, percebi do que a ex-prefeita seria capaz de fazer em prol de seu ego descomunal e de suas ambições políticas. Pelo visto, eu tinha razão. Procurar uma víbora como Cantanhêde e o jornal que tanto a massacrou durante seu governo para atacar seus companheiros de forma tão malévola, é indesculpável. Para mim, Marta se acabou.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Black Blocs, o retorno

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Blogcidadania 
Se existia dúvida de que o famigerado Movimento Passe Livre apoia e utiliza a violência da massa de manobra que consegue reunir, o que ocorreu na manifestação que levou a cabo na última sexta-feira dirime essa dúvida.
Desde o fim da Copa do Mundo de 2014 que não se via atos de vandalismo como os que ocorreram no recentíssimo protesto contra o reajuste das passagens de ônibus e metrô em São Paulo. Foi só o MPL convocar um ato para que Black Blocs, punks, skinheads e outros bichos dessem as caras.
Reportagem do G1 desmente as alegações do MPL de que a violência que se viu em São Paulo derivou de repressão policial. Vídeo divulgado pelo portal mostra vândalos depredando estabelecimentos comerciais sem presença da polícia.
Confira o vídeo, abaixo.

Como se vê, sem presença da polícia e sem causa aparente os manifestantes passam a promover destruição de patrimônio público e privado, reeditando o que fizeram em 2013.
Mais uma vez, o MPL recorre a todo lixo social disponível para se promover entre esse público descabeçado que se presta a participar desse tipo de violência contra a sociedade e que, como subproduto, faz a direita se fortalecer no Brasil como tem sido visto.
E o pior é que aqueles que esse movimento vigarista diz defender nem mesmo concordam com esse tipo de ação. Esse movimento nasceu e cresceu entre estudantes universitários de classe média alta, gente que, muitas vezes, se tomou ônibus meia dúzia de vezes na vida, será muito.
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O pior de tudo isso é que o preço das passagens de ônibus e metrô é o menor problema da população brasileira, hoje. Sobretudo da população paulistana. O grande problema do transporte urbano, no país, é a qualidade.
Só que, sem investimentos públicos, não será possível melhorar a qualidade.
No caso de São Paulo, única cidade do país em que o MPL conseguiu juntar bastante gente (número de manifestantes varia de 2 mil, segundo a PM, a 30 mil, segundo o MPL), o sucesso relativo desse protesto se deve ao antipetismo que infecta os paulistanos.
Por outro lado, a população que assiste a tudo isso sente medo e identifica esses protestos como obra petista, razão pela qual o ódio ao partido se instalou tão profundamente na alma paulistana, dando uma vitória consagradora a Geraldo Alckmin, ano passado, por ter reprimido os protestos com a violência costumeira da sua PM.
Enquanto um bando de desmiolados e/ou demagogos toca o terror na cidade, o principal problema do momento, a falta de água e o encarecimento de seu preço, não sofre protestos desses revolucionários de araque.
É por essas e por outras que o PT deveria conversar com suas lideranças jovens para que parem de se misturar com essa gente. Apesar de essas manifestações proibirem bandeiras do PT e até camisetas vermelhas, havendo petistas no meio a conta dos desatinos vai para o partido.
O preço das passagens de ônibus estava congelados desde 2011. Com reajuste de 16%, com certeza os salários cresceram mais do que o preço das passagens, eis que a remuneração assalariada vem crescendo acima da inflação no país.
Por outro lado, se a prefeitura tiver que abrir mão de repassar esse aumento, sua situação financeira e capacidade de investimento no transporte público irá diminuir ainda mais, quando é do interesse da população que esses investimentos no transporte público aconteçam.
Tudo aumentou no país, inclusive tarifas públicas. Aumentaram água, luz, gás, até impostos. E, claro, os salários. Impedir administrações municipais de aumentar a tarifa do transporte público não irá melhorá-lo, irá piorá-lo devido à falta de investimentos gerada pelo caixa baixo.
E o pior é que, como já foi dito mil vezes aqui, conforme informações do prefeito Fernando Haddad, o erário paulistano paga o reajuste às empresas de ônibus – ou seja, o povo paga de qualquer jeito, mesmo sem sentir.
A violência vem desmoralizando manifestações legítimas e fortalecendo a direita, que, nas últimas eleições, colheu os frutos dos desatinos dessa pseudo esquerda de que a direita gosta tanto e com a qual conta para se fortalecer.
A reestreia dos black blocs junto com a do MPL denuncia a tática do movimento de se valer de todo lixo social disponível para inflar suas manifestações descabidas. A da última sexta-feira, em São Paulo, comprovou isso.

UM TERRORISTA NA MARCHA DA PAZ. VOCÊ É CHARLIE?