Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

FHC só lançou programas sociais a 4 meses da eleição de 2002



Na última quarta-feira (27.2), a presidente Dilma Rousseff rebateu afirmação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no sentido de que ela e seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, teriam “herdado” e “usurpado” seus projetos e que, por isso, ela seria “ingrata” consigo.
Dilma afirmou que o cadastro único dos programas sociais do governo tucano “não existia” quando Lula chegou ao poder, em 2003. Prontamente, grandes jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro (Folha de São Paulo, Estadão e O Globo) e algumas redes de televisão e sites tomaram partido de FHC corroborando sua afirmação de que o tal cadastro teria sido feito no governo do tucano.
Por falha de sua estratégia de comunicação social, a presidente não explicou bem a questão. E a mídia, muito menos. Assim sendo, este Blog apresenta, a seguir, mais um capítulo da verdadeira história daquele período triste da história do Brasil (1995-2002).
De fato, FHC deixou simulacros de cadastro da pobreza e do programa social Bolsa Família. Contudo, os programas começaram a ganhar alguma materialidade a 4 meses da eleição presidencial de 2002, conforme matéria da Folha de São Paulo naquele ano eleitoral. Abaixo, a matéria.
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26 de maio de 2002
MARKETING TUCANO
Governo lança na próxima semana o “Cartão Cidadão”, que unifica os programas de transferência de renda

FHC amplia ação social a 4 meses da eleição

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A pouco mais de quatro meses da eleição, o presidente Fernando Henrique Cardoso entrega na próxima semana o primeiro “Cartão Cidadão”, por meio do qual serão efetuados os pagamentos dos programas de transferência de renda direta para a população mais pobre.
A longo prazo, a intenção do governo é que todos os usuários de programas de renda mínima carreguem um “Cartão Cidadão” no bolso, algo em torno de 31,7 milhões de pessoas, porque o Planalto quer dar o cartão também para os 6,7 milhões de beneficiários de aposentadorias e pensões rurais.
O “Cartão Cidadão” representa uma espécie de roupa nova para programas em curso.
Trata-se de um cartão magnético, com a logomarca do governo federal, do tipo fornecido pelos bancos. A longo prazo, vão substituir cartões já distribuídos à população, junto com o cadastramento das famílias beneficiadas.
Em período pré-eleitoral, seu lançamento tem um beneficiário: o presidenciável tucano José Serra. Será uma cerimônia deliberadamente simples para não ser confundida com uma ação de campanha.
“Potência social”
Coincidentemente, na última semana Serra disse que o país é uma “potência econômica” e precisa se transformar agora numa “potência social”. Ou seja, o novo mote de campanha do tucano faz eco ao lançamento do novo programa de FHC.
De imediato, o “Cartão Cidadão” será entregue aos usuários de cinco dos 12 programas de transferência direta de renda do governo federal.
São eles o Bolsa-Alimentação, o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), o Bolsa-Escola, o Brasil Jovem e o Vale-Gás, por meio dos quais pretende atender 12,6 milhões de pessoas carentes em 2002. Ano passado – excluído o Vale-Gás, criado neste ano-, o governo gastou R$ 1,8 bilhão com esses programas. Para o atual exercício prevê R$ 3,7 bilhões – ou seja, duas vezes mais.
Sem considerar o Vale-Gás, cujos primeiros depósitos começaram a ser feitos em fevereiro, o aumento da verba programada foi de 50% -de R$ 1,8 bilhão em 2001 para R$ 2,7 bilhões em 2002. “Isso parece mais uma rede de proteção eleitoral do que de proteção social”, ironizou o deputado Agnelo Queiroz (PC do B -DF).
A meta estabelecida ainda está longe de ser atingida. Do total programado para a Bolsa-Alimentação, por exemplo, até agora só 2,23% foram efetivamente pagos. Dos R$ 411,3 milhões previstos para a erradicação do trabalho infantil, apenas R$ 108,4 milhões (26,35%) foram para o bolso das pessoas carentes. O Bolsa-Escola, de longe o programa mais difundido, só liberou 25,84% dos gastos previstos.
Os atuais cartões serão substituídos progressivamente. Na largada, cerca de 4.000.
Além do “Cartão Cidadão”, o governo prepara um Cadastro Único dos Programas Sociais. Já foram cadastradas 1,3 milhão de famílias. A meta é cadastrar 9,3 milhões até o final de agosto.
Em meados de julho, a menos de três meses da eleição, será feito um mutirão para dar nome e sobrenome legal a brasileiros que não têm acesso aos programas sociais por falta de documentos.
Essa é uma situação comum em regiões muito pobres, como o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e no Norte e no Nordeste do país. “O Pobre do pobre, o que mais necessita. A documentação vai propiciar a inclusão dos excluídos”, diz a secretária de Assistência Social, Wanda Engel.
Além da estabilização da economia, o que dá mais prazer a FHC é falar sobre a transferência de renda aos mais pobres feita em seu governo. Ele e o pré-candidato Serra dizem que o governo gastará, este ano, o equivalente à parcela da União na arrecadação do Imposto de Renda de pessoas físicas e jurídicas, estimada em algo em torno de R$ 28,7 bilhões.
Ambos – FHC e Serra – incluem nessa conta os R$ 15,5 bilhões programados para o pagamento de aposentadorias e pensões rurais. Alegam que houve ganho dos aposentados em razão do aumento real do mínimo. Sem os benefícios rurais, mas somando-se o recente Vale-Gás, os R$ 29,4 bilhões caem para R$ 15,1 bilhões.
Além dos cinco programas a serem inicialmente atendidos pelo “Cartão Cidadão” e das aposentadorias, esses R$ 15,1 bi incluem o abono salarial pago a desempregados, bolsas de qualificação, o Seguro-Safra pagos a famílias em situação de risco em áreas de seca e benefícios a idosos e deficientes.
No fundo, o que FHC faz é substituir políticas sociais de caráter temporário por outras de caráter permanente. E as associou diretamente ao governo federal, presente nas agências da Caixa Econômica, que paga os benefícios, e no próprio “Cartão Cidadão” no bolso do eleitor. Fórmula esta que Serra já incorporou à campanha.
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O fato é que 2002 terminou sem sequer arranhar as metas estabelecidas. Enquanto hoje (final de 2012) o Bolsa Família paga benefícios no valor de R$ 20 bilhões, em 2002 o governo nem chegou a atingir a meta estimada em R$ 3,7 bilhões. Além disso, o cadastro único tampouco foi feito por FHC após 8 anos no poder. Havia apenas intenção, que igualmente não se materializou.
Os programas sociais de transferência de renda do governo Fernando Henrique Cardoso só começaram a funcionar precariamente e com orçamento irrisório no fim de 2001, penúltimo ano de seu mandato. De janeiro de 1995 até agosto de 2001, o “grande” programa social do governo do PSDB era distribuir algumas cestas básicas a um pequeno contingente de famílias.
Àquela época, este blogueiro acompanhava de perto o que era, então, um problema gigantesco e crônico no país: fome e miséria. Compareci a inúmeros seminários sobre o tema, inclusive no auditório da Folha de São Paulo. A demanda pelos programas de transferência de renda era feita reiteradamente pelo Ipea.
Um dos pesquisadores do Ipea que mais se notabilizou àquela época foi Ricardo Paes de Barros, o PB, que durante o governo FHC deu declaração que causou polêmica quando, reclamando do programa de cestas básicas que vigeu até o final de 2001, afirmou que um programa social de verdade no Brasil seria jogar dinheiro de helicóptero em áreas carentes.
Durante quase sete de seus oito anos no poder, FHC ignorou solenemente as cobranças dos pesquisadores do Ipea para que adotasse o programa do ex-governador petista de Brasília Cristovam Buarque, o Bolsa Escola. O tucano só foi ceder praticamente no último ano de seu governo de 8 anos e, ainda assim, de forma precária.
Abaixo, matéria da Folha de São Paulo de dezembro de 2001 que comprova as afirmações acima.
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9 de dezembro de 2001
GOVERNO

O Bolsa-Renda Alimentação substitui cestas básicas que eram distribuídas a 1,7 milhão de famílias de cidades pobres

Programa social exclui 960 mil famílias

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O governo federal deixou 960 mil famílias carentes de fora do programa criado, em caráter provisório, para substituir a distribuição de cestas básicas, que era feita a 1,7 milhão de famílias de municípios pobres do país e que acabou em agosto.
O programa provisório que substituiu as cestas básicas foi denominado Bolsa-Renda Alimentação, com previsão de funcionamento somente em novembro e dezembro deste ano. Em vez da cesta básica, o novo programa dá à família R$ 15, que podem ser sacados por meio de um cartão magnético. Para esse programa, apenas 740 mil famílias das 1,7 milhão que estavam cadastradas no extinto Prodea (Programa de Distribuição de Alimentos) foram inscritas.
Os excluídos do novo programa e a situação precária pela qual o Prodea passou nos últimos meses de existência contrariam declarações feitas no final de 2000 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e por membros do governo, segundo as quais nenhuma das famílias deixaria de receber as cestas até que um programa substituto fosse implantado.
O próprio governo federal admite que 960 mil famílias carentes não foram inscritas no Bolsa Renda-Alimentação. Para o governo, parte destas famílias pode estar recebendo algum outro benefício.
“Se os municípios forem ágeis, até o final de dezembro todas as famílias vão ser enquadradas em algum tipo de programa e, assim, poderemos consertar os desvios”, disse Wanda Engel, coordenadora do Projeto Alvorada, que envolve ações de nove ministérios.
A distribuição de alimentos parou em agosto e, durante o período de três meses entre a extinção do Prodea e o início da Bolsa-Renda Alimentação, o 1,7 milhão de famílias também ficou sem receber nem um nem outro benefício. O fim da distribuição das cestas foi definido pelo governo no ano passado por ele considerá-la assistencial. Neste ano, porém, resolveu-se pela criação do Bolsa-Renda Alimentação até que todo o 1,7 milhão de famílias fosse incluído, de acordo com o perfil de cada uma, nos outros programas sociais do Projeto Alvorada.
O problema é que as 960 mil famílias excluídas do programa substituto à distribuição de cestas básicas não têm garantia alguma de que vão se inserir em algum novo programa federal, já que a idéia do governo é promover um recadastramento geral das famílias carentes. As exigências para fazer parte de outro programa também são diferentes das exigências do Prodea.
Outro problema: existem famílias que, mesmo inseridas no Bolsa-Renda Alimentação, até hoje não receberam os R$ 15.
“A gente come o que tem. Dá primeiro para as crianças e o que sobrar divide para os grandes”, disse Noêmia Maria da Silva Santos, 39, de Bezerros, no agreste de Pernambuco, que no dia 15 de agosto recebeu sua última cesta básica do governo.
Ela está inscrita para receber as duas parcelas de R$ 15 referentes a novembro e dezembro. Mas o dinheiro de novembro, que já deveria ter vindo, ainda não foi entregue (leia texto nesta página).
Na prática, a transição do Prodea para outro benefício vem se mostrando confusa: em Minas Gerais, por exemplo, dos 225 municípios que recebiam as cestas básicas, apenas 165 foram cadastrados no Bolsa-Renda Alimentação (queda de 26,7%). Das 224.974 famílias cadastradas no Prodea, sobraram 149.400 (queda de 36,6%). “Tem prefeito que nem sabe que esse projeto [Prodea” foi extinto”, disse o major Itamar Pacheco, coordenador em Minas do programa.
Segundo ele, a orientação do Ministério da Integração Nacional, que é responsável pelo projeto, foi de corte linear de 25% no número de famílias beneficiadas, durante a transição Prodea-Bolsa, sob o argumento de “falta de recursos orçamentários”.
A Agência Folha ligou aleatoriamente para prefeituras de dez municípios de Minas Gerais que tinham famílias cadastradas no Prodea, mas que foram excluídas do programa substituto: Cantagalo, Paulistas, Coluna, Água Boa, Peçanha, Ervália, Descoberto, Pedra do Anta, Pedra Dourada e Serra Azul de Minas.
Quando o Prodea existia, famílias carentes dessas cidades recebiam do governo federal um total de 11.107 benefícios mensais, entre cestas básicas e Renda Mínima (antecessor do Bolsa-Escola) -8.108 famílias estavam cadastradas no Prodea e 2.998 no Renda Mínima. Hoje, apenas 4.112 famílias recebem benefícios, todos da Bolsa-Escola.
Cinco dos dez municípios ouvidos afirmaram que receberam nos últimos dias -mais de três meses depois do fim total da distribuição de cestas- ofícios do governo informando que o Prodea foi extinto e que as prefeituras deveriam fazer recadastramentos.
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Essa parcela da imprensa ligada ao PSDB que adotou a versão de FHC sobre os fatos, tal como o ex-presidente parece ter esquecido o que escreveu. A mesma Folha de São Paulo concordava com a afirmação da presidente Dilma de que o cadastro único e o programa de transferência de renda do governo tucano simplesmente não existiam.
Em matéria de junho de 2002, a três meses da eleição presidencial em que Lula derrotou José Serra, a Folha disse que “Até o final do mandato de FHC, o cartão representará pouco mais do que uma promessa de política social”. Confira, abaixo, a íntegra da matéria em que o jornal reconheceu o que hoje renega.
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FOLHA DE SÃO PAULO
8 de junho de 2002
Cartão embalará projeto de tucano em campanha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Cartão-Cidadão lançado ontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, com a logomarca do governo, embalará um dos principais projetos de campanha do presidenciável tucano José Serra. Até o final do mandato de FHC, o cartão representará pouco mais do que uma promessa de política social.
Eis a idéia: o cartão magnético será entregue a todos os 9,3 milhões de famílias carentes que o governo pretende cadastrar até o fim do ano. Até agora, foram cadastrados 2,5 milhões de famílias. Assim que o cadastro único ficar pronto, o governo terá reunidas num banco de dados informações sobre renda, saúde, educação, trabalho e condição de moradia dos 54 milhões de pobres brasileiros. É ponto de partida dar foco e avaliar as políticas sociais.

Pobres
Serão considerados pobres aqueles com renda familiar per capita abaixo de meio salário mínimo por mês. Por ora, o número de pobres é só uma estimativa a ser confirmada. A renda é um critério maleável, pois boa parte dos pobres não tem renda para ser comprovada.
Para que boa parte dos pobres ainda à margem dessas políticas sociais não fique de mão abanando, o governo criou recentemente o Vale-Gás, benefício de R$ 15 a ser concedido a cada dois meses a todas as famílias cadastradas. Os primeiros pagamentos foram feitos em fevereiro.
Essa será a única política generalizada no combate à pobreza. Os demais programas de transferência direta de renda à população variam de acordo com o perfil da família.
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Fica provado, portanto, que esses setores da imprensa que hoje endossam a versão mentirosa de FHC sabem muito bem que seu governo só foi lançar um programa mambembe e eleitoreiro a poucos meses de uma eleição que perderia, entre outros fatores, por ter ignorado o problema social durante os oito anos de seu governo.

Procura-se um analista político “imparcial”


Uma de minhas maiores frustrações é não poder encarar o que considero um dos maiores desafios do homem em qualquer época, o de ser capaz de analisar qualquer coisa com base exclusivamente nos fatos, sem deixar que suas idiossincrasias – desejos, ambições, preconceitos, rancores ou amores – interfiram.
Para explicar por que não posso encarar tal desafio, tomemos a política contemporânea no Brasil como exemplo. Antes de analista político, sou um cidadão. Escrevo um blog intitulado pelo conceito imperioso de exercício da Cidadania.
Ora, exercer a cidadania é, sobretudo, tomar partido de um conjunto de ideias e ideais a partir dos quais aquele cidadão acredita que conseguirá melhorar o seu país. E para fazer prevalecer esses valores em uma democracia, só através de partidos políticos. Sem eles, a democracia simplesmente não existe.
No caso da conjuntura política brasileira, na qual vige um clima maniqueísta entre “tucanos” e “petistas”, fica difícil ser “imparcial”. Basta ir a qualquer blog ou site político da internet e analisar os comentários. Há uma vontade de um lado destruir o outro.
Quantas vezes você leu que os “tucanalhas” ou os “petralhas” são o mal encarnado e precisam ser extirpados da vida da nação? Chegam a pregar a prisão daqueles de quem divergem. Em alguns casos, já vi pregarem até a exterminação física.
Entre a direita midiática e a centro-esquerda “petista” só falta haver enfrentamentos físicos nas ruas, coisa que já acontece em países como a Venezuela, por exemplo, onde as pessoas se atracam e até trocam tiros por política, sejam chavistas ou antichavistas.
Apesar da quase inviabilidade da “imparcialidade” em um quadro como esse, parcela imensa do jornalismo nacional vive de namoro com ela, amante que corteja o tempo todo mas que trai em cada viés parcial que tenta contrabandear em textos ou na oratória julgando que ninguém irá notar.
Não é nem culpa dos jornalistas. Muitos deles nem agem assim conscientemente. A culpa é do caráter escandalosamente parcial que os donos dos grandes órgãos de imprensa imprimem a eles. Essa parcialidade mal disfarçada exacerba os ânimos e cria um clima propício ao sectarismo.
Se a grande mídia abandonasse o engajamento político-partidário-ideológico ou se ao menos o reduzisse a níveis aceitáveis, este blogueiro enveredaria pela seara da imparcialidade, pois gostaria muito de provar a si mesmo que é capaz de ser imparcial.
Enquanto o milagre da tomada de consciência pela mídia não vem, se não posso ser imparcial ao menos quero, em benefício do leitor, esclarecer que tenho lado, sim. E recomendar que você que me lê desconfie de quem disser que não tem. Simplesmente porque essa pessoa estará tentando lhe passar a perna.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

"VOZES DO RACIONAMENTO AGORA SE CALAM", DIZ DILMA


Os métodos adotados pela direita deveriam, digo, podem dar cadeia



Veja_Capa_Falsa



Via Para entender direito

A foto da esquerda circula pela internet como se fosse a capa do dia 13 de janeiro de 2013 da revista Veja. Segundo a capa, a revista teria descoberto que o ex-presidente teria desviado R$500 bilhões. A imagem da direita é a verdadeira capa da revista daquela semana (que, aliás, circulou no dia 9 de janeiro). Talvez quem fez a montagem possa ter achado que era uma forma de protesto e resolveu divulgar. O problema é que isso tem consequências jurídicas.
O que pode inicialmente seria um ato inocente pode ser crime e gerar a obrigação de danos civis pelos quais quem fez, quem pediu para ser feito e quem distribuiu podem ser responsabilizados.
Vamos começar pelo mais fácil: a calúnia.
Quem fabricou a imagem cometeu o crime de calúnia, que é o mais grave dos crimes contra a honra. Isso porque imputou a alguém – no caso, ao ex-presidente – um fato definido como crime: teria desviado R$500 bilhões de cofres públicos.
A liberdade de expressão permite você poder dizer o que quiser. Mas a liberdade de expressão não é uma imunidade para quem expressa. Quem diz o que não deve arcar com as consequências do que disse se o que disse não é verdadeiro ou tem propósito essencialmente ofensivo. No caso acima, quem alegou ou disseminou a calúnia pode ser condenado criminalmente.
Mas a mesma lei que pune a calúnia permite o que os juristas chamam de “exceção da verdade” (ou exceptio veritatis): se quem alegou (quem produziu a capa fictícia) conseguir provar o que foi alegado – no caso, que o ex-presidente desviou um terço do PIB brasileiro – não haverá pena. Mas note que aqui o ônus da prova é invertido: quem produziu a capa é que terá que provar que o que disse é verdadeiro. E provar é sempre muito mais difícil. Especialmente porque não basta alegações de cunho amplo como “ah, mas ele fez o Brasil perder R$500 bilhões em desenvolvimento”. O ônus é de produzir provas específicas: que ele de fato desviou os tais R$500 bilhões (em juridiquês, isso o crime chama-se peculato).
“Ah, mas a intenção era só fazer algo engraçado”. De fato o chamadoanimus jocandi – a intenção de fazer uma brincadeira – exclui a possibilidade de calúnia. É por isso que humoristas e cartunistas raramente são processados por calúnia, embora possa ocorrer, pois até a humor tem limites.
O problema do animus jocandi é que ele precisa ser claro. Ele pode ser claro por causa de quem diz –a pessoa é uma comediante – das circunstâncias em que é dito –a alegação é feita em um programa humorístico ou em um teatro – do que é dito –o que é dito é tão surreal que só pode ser uma piada – ou de como é dito –foi dito em puro tom de gozação.
Mas, na capa acima, as quatro coisas estão ausentes ou são percebidas apenas nos detalhes. Como a imagem é distribuída via e-mails e redes sociais com um mero pedido de “compartilhe”, sem indicação de autoria, não é possível saber que quem enviou tinha a mera intenção de fazer um gracejo. E como só dá para perceber que é uma montagem analisando detalhes que podem se perder na falta de resolução da imagem, fica difícil compreender que a montagem tem um tom sarcástico. Nem o ofendido nem o magistrado estão dentro da cabeça do “artista” que fez a capa para saber qual era a intenção dele: não é possível apurar a intenção de fazer um gracejo simplesmente olhando o que foi de fato publicado e republicado em uma imagem de baixa resolução.
Pense nessa analogia: se alguém colocar um outdoor dizendo que um inocente cometeu um crime, não adianta ele colocar em letras minúsculas no pé do outdoor que é só uma piada. O mesmo vale para qualquer outro tipo de imagem ou texto.
Nossa doutrina também diz que não há calúnia se o que é dito é tão absurdo que não faz sentido. Mas, no caso da montagem acima, o simples fato de o montante ser muito alto não impede a configuração da calúnia. Valores extremamente altos podem ser desviados. Ou seja, é algo crível, ainda que improvável. O absurdo que a doutrina exclui da calúnia seria algo como “ele é o responsável pelo massacre do Carandiru” ou “ele aceitou uma das pirâmides do Egito como propina”.
Logo, se for fazer uma brincadeira que possa ofender a dignidade de alguém, tome cuidado para deixar bem claro que é uma brincadeira. Se for um protesto, proteste contra a ideia ou o posicionamento da pessoa, não contra a pessoa em si.
Mas ainda que você deixe claro que é uma brincadeira, no caso da matéria acima ainda haveria o problema do uso indevido das imagens.
Olhando a capa, ela de fato parece ser uma capa da revista. Só que o nome Veja e os elementos de identidade visual – como o tipo de fonte, a borda nas quatro letras, o tamanho da fonte em relação à página, a logomarca do grupo Abril (a árvore verde), o nome da editora, a diagramação etc., são todos elementos que pertencem à Editora Abril. Seu uso é exclusivo da Editora ou de quem ela expressamente permitir usar. Quem usa as marcas e demais elementos da identidade visual sem sua permissão se expõe civilmente ao pedido de indenização por perdas e danos causados pelo uso inapropriado das marcas e identidade visual da revista (aliás, o uso de sons –como o da Intel ou mesmo uma música – e cheiros –como perfumes – também podem ser protegidos. E alguns juristas dizem que mesmo texturas merecem proteção).
Mas existe uma segunda vítima na questão da imagem: o ex-presidente, cuja foto foi usada.
A imagem da pessoa pertence à pessoa e só pode ser usada com permissão da pessoa ou quando há relevância jornalística. Logo, se o caso fosse verdadeiro, não haveria problema no uso da imagem sem permissão: teria relevância jornalística. Mas, no caso acima, quem fabricou a capa sabia, desde o início, que o que estava alegando não era verdadeiro. Logo, não havia relevância jornalística em momento algum. Portanto, a imagem só poderia ter sido utilizada se houvesse permissão do ex-presidente. O que, obviamente, ele provavelmente não deu. Não importa que ele seja uma figura pública: se não há relevância jornalística, ele merece tanta proteção quanto um desconhecido na esquina. O que varia é apenas que uma pessoa pública gera mais interesse jornalístico, mas ela ainda tem direito à imagem e privacidade.
Se a imagem foi usada sem a permissão do retratado, e não havia relevância jornalística que justificasse o uso da imagem, quem teve sua imagem usada indevidamente pode buscar reparação pelas perdas e danos sofridos.
Enfim, se quiser protestar sem ter dor de cabeça, use o bom senso e não atribua crimes sem prova e muito menos use a imagem sem autorização do dono da imagem.

LULA: POR QUE A GENTE NÃO ORGANIZA A NOSSA MÍDIA ?


“Nós sabemos o time que temos, o time dos adversários e o que eles querem fazer conosco”.

"Nós agora estamos no andar de cima olhando para povão que está lá embaixo, e nós queremos que eles subam também os degraus da vida deste país", disse o Nunca Dantes (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula).


Durante ato pelos 30 anos da CUT, ex-presidente diz que não se pode esperar cobertura positiva de formadores de opinião ‘que não gostam de gente progressista’ 

Sâo Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje (27) que o movimento sindical e os setores progressistas da sociedade invistam mais na organização de seus próprios meios de comunicação, em vez de esperar imparcialidade da mídia tradicional em relação aos governos e às reivindicações de esquerda. Para ele, é preciso parar de reclamar por não ter saído no jornal ou ganhado destaque na imprensa. Os chamados formadores de opinião, disse Lula, eram contra as eleições diretas para presidente, contra o impeachment de Fernando Collor e contra a eleição dele e da atual presidenta, Dilma Rousseff.

Em ato pelos 30 anos da CUT, que serão completados em agosto, Lula disse que o próprio movimento sindical tem um aparato ‘poderoso’ de comunicação, mas desorganizado. “Quero parar de reclamar que os que não gostam de mim não dão espaço. Por que a gente não organiza o nosso espaço? Por que a gente não começa organizar a nossa mídia? Nós sabemos o time que temos, o time dos adversários e o que eles querem fazer conosco. Vocês têm de analisar qual é o espaço de imprensa que o movimento sindical tem.”

(…)



Saiu na Folha (*):

LULA RECLAMA DA IMPRENSA E CONCLAMA CUT A CRIAR PRÓPRIA MÍDIA



(…)

O ex-presidente também criticou os seus “adversários” e disse que o que incomodava era o seu próprio “sucesso”. “Eu acho que a bronca que eles [adversários] tinham de mim era o meu sucesso, e agora é o sucesso da Dilma.”

Ele citou ainda uma conversa que teve com o então publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007). “O velho Frias, que era a melhor pessoa que eu conheci na Folha, ele me dizia assim: ‘Lula, os do andar de cima nunca vão deixar você chegar lá. Eles vão sempre trabalhar para você ficar no andar de baixo’. Eu dizia, Frias, nós vamos chegar no andar de cima”, contou.

“Nós chegamos, e gostamos. E provamos que sabemos morar no andar de cima e fazer mais coisas do que eles”, completou Lula.

(…)



(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

PRATOS CUSPIDOS E TRILHOS ENTALADOS


*O revide das urnas: Itália diz não aos mercados e vocaliza uma Europa dilacerada pelo arrocho neoliberal (leia a reportagem do enviado especial a Roma, Eduardo Febbro).


O governo vai em romaria aos grandes centros financeiros mundiais para atrair investidores interessados em construir ferrovias, estradas, portos e aeroportos no país. Não é um passeio. Pode ser uma cartada decisiva.A continuidade do desenvolvimento requer algo em torno de R$ 500 bilhões para dilatar a fronteira logística de um sistema econômico projetado originalmente para servir a 30% da sociedade. Atrair investidores não é o único desafio.O país que  pretende construir 10 mil kms de ferrovias nos próximos anos não dispõe de uma única fábrica de trilhos para  atender a demanda prevista. O gargalo dos trilhos não é uma ameaça teórica.É a  realidade dos dias que correm. Por falta de trilhos um trecho de 600 km da Ferrovia Norte-Sul está prestes a paralisar as obras. Como entender que Aécio, FHC, seus  parceiros de partido e mídia não explorem esse que representa, de fato, um paradoxo nos planos logísticos do país? (LEIA MAIS AQUI)



LULA AO 247: "EU NÃO SEI O QUE FHC FEZ A DILMA PARA MERECER GRATIDÃO"



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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

CRISE E SÍNDROME DE ESTOCOLMO


* Pane nas redações: e agora, pessoal? Preço do alimentos recua e inflação desacelera** chuvas elevam o nível dos reservatórios em todo o país** Janeiro tem o menor desemprego em 10 anos** Itália: o revide das urnas** país se transforma no símbolo de uma Europa esgotada pelos 'livres mercados'** eleitores demitem o tecnocrata Mário Monti**centro esquerda vence mas Berlusconi racha o Senado (leia a reportagem do enviado especial a Roma, Eduardo Febbro)



O conservadorismo gostaria de impor a Dilma no Brasil o que Mário Monti fez na Itália; aquilo que os republicanos querem enfiar goela abaixo de Obama nos  EUA;a mesma purga que o comissariado do euro aplica contra as populações da Espanha, Portugal, Grécia, Bélgica etc. Com as consequências sabidas. As urnas revelaram nesta 2ª feira que os italianos preferem Berlusconi ao tecnocrata querido dos mercados. Nos EUA as grandes corporações tem quase US$ 1 trilhão em caixa, mas o desemprego não encoraja investimentos. Na zona do euro a economia foi programada para gerar pobreza, despejos e demissões. O ambiente  internacional  carrega vertiginosa transparência. Serviria  como antídoto ao clamor ortodoxo que  prescreve para o Brasil  o mesmo óleo de rícino, sabor 'choque de juros'. Mas os canais de transmissão do debate sonegam as interações entre o noticiário internacional e os acontecimentos locais. O país vive um momento decisivo. Esboça-se uma retomada do crescimento que o jogral conservador quer abortar. Falta o governo livrar-se da 'síndrome de Estocolmo' em relação à mídia dominante. E entender que uma imprensa plural é um ingrediente tão importante de um ciclo de desenvolvimento quanto a queda dos juros. (LEIA MAIS AQUI)

Obrigado por nada, FHC


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O primeiro dia útil da semana começou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no ataque, no âmbito da antecipação da campanha eleitoral à Presidência que só ocorrerá no fim do ano que vem, portanto daqui a quase dois anos, e que está sendo abraçada pelos dois partidos que, mais uma vez, devem protagonizar a disputa: PT e PSDB.
FHC, talvez o político mais cara-de-pau de todos os tempos – mais até do que Paulo Maluf –, teve a coragem de dizer que a presidente Dilma Rousseff “cuspiu no prato que comeu”, ou seja, que os êxitos de seu governo e do de seu antecessor Lula se devem ao governo tucano (1995-2002).
O ex-presidente peessedebista tem lá seus motivos para apostar nesse discurso de que legou uma herança bendita que Lula e Dilma tentaram “usurpar”, como também teve coragem de afirmar junto à afirmação sobre “ingratidão”. Afinal, desde que deixou o poder conta com veículos de comunicação que tentam empurrar essa versão aos brasileiros, porém sem o menor êxito, do que são provas as três eleições presidenciais sucessivas que o PSDB perdeu desde que deixou o poder.
FHC aposta na proverbial falta de memória dos brasileiros. Assim sendo, vale revisitar um pouco a história recente do país para verificarmos em que situação ele estava ao fim do governo tucano, em 2002.
E como a imprensa que, segundo o colunista da Folha de São Paulo Janio de Freitas “Serviu de suporte político ao governo FHC”, diz que a situação falimentar do Brasil no último ano do governo dele se deveu ao “risco Lula”, investiguemos se foi isso mesmo.
No dia 4 de janeiro de 1999, pouco antes de uma das maiores hecatombes econômicas que o Brasil viveu, matéria da insuspeita Folha de São Paulo trazia no título a síntese do que fora o ano eleitoral de 1998, quando o então candidato à reeleição, Fernando Henrique Cardoso, venceu o pleito garantindo que, se não fosse reeleito, Lula é quem desvalorizaria o real.
O título da matéria assinada pelo igualmente insuspeito colunista da Folha Fernando Rodrigues era o seguinte: “Credibilidade do Brasil no exterior despenca em 1998” – assinantes da Folha podem conferir a íntegra do textoaqui.
O trecho abaixo traduz o estelionato eleitoral de que o Brasil fora alvo poucos meses antes, quando reelegeu FHC sem fazer a menor ideia de que tudo que ele prometera era mentira e de que o país estava quebrado.
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FOLHA DE SÃO PAULO
4 de janeiro de 1999
Credibilidade do Brasil no exterior despenca em 98
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília  
“(…) Há duas razões básicas para que os títulos do governo brasileiro tenham perdido tanto valor em 98. A primeira razão, e mais óbvia, é que as crises da Ásia e da Rússia deixaram os especuladores internacionais com medo de perder dinheiro também no Brasil. Por isso, passaram a vender os papéis brasileiros. Isso provocou a queda dos preços. Ao vender os papéis, os especuladores deixam implícito que acreditam cada vez menos na capacidade do Brasil de honrar seus compromissos (…)”
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As crises da Ásia e da Rússia foram crises de países que tinham problemas localizados em suas economias. Não era uma crise mundial da gravidade da que há hoje, que afeta o mundo inteiro e, sobretudo, os países ricos, que, àquela época, não tinham crise nenhuma, ao lado de países com economias organizadas como o Chile, que, entre tantos outros “emergentes”, não fora afetado.
Na verdade, o naufrágio da credibilidade do Brasil ao longo do ano em que FHC se reelegeu graças a mudança que promoveu nas regras do jogo com ele em andamento, obtendo do Congresso o direito de se recandidatar ao cargo sob denúncias de compra de votos de parlamentares que votaram a emenda constitucional que instituiu a reeleição, deveu-se ao fato de que, naquele 1998, o então presidente da República “segurou” a desvalorização do real, que se fazia desesperadamente necessária, a fim de não atrapalhar suas pretensões políticas.
O mundo inteiro sabia que a paridade de um para um que vigera desde 1994 entre o real e o dólar era uma farsa e que, a qualquer momento, FHC teria que fazer aquilo que, meses antes, dissera que Lula faria caso vencesse a eleição: ele teria que promover uma maxidesvalorização de nossa moeda que jogaria o país no fundo do poço.
Enquanto o desastre caminhava, o suporte político de que falou Janio de Freitas que a mídia deu a FHC continuava vendendo ilusões a um público que, a partir dali, começaria a se dar conta de que não deveria acreditar no que ela dizia. No mesmo dia da matéria acima, na mesma Folha, outro texto dizia que a evasão de divisas no dia anterior fora de “apenas” 153 milhões de dólares e acenava com um cenário róseo que, pouco depois, mostrar-se-ia uma falácia.
Abaixo, trecho de matéria que pode ser conferida na íntegra aqui.
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FOLHA DE SÃO PAULO
5 de janeiro de 1999
MERCADO FINANCEIRO
Evasão de divisas é de US$ 153 milhões
da Reportagem Local
O Brasil teve nova evasão de divisas ontem, mas de volume pouco preocupante, segundo especialistas. Até as 19h30, o fluxo cambial estava negativo em US$ 97 milhões pelo mercado de dólar comercial e financeiro e em mais US$ 56 milhões pelo flutuante, um segmento do turismo.
(…)
Segundo especialista, depois da forte evasão de dólares em dezembro [de 1998], de US$ 5,25 bilhões, o fluxo negativo em janeiro deve ser menor.
(…)
No ano passado, o fluxo cambial foi negativo em US$ 14,89 bilhões. As reservas cambiais, o caixa em moeda forte do país, iniciam o ano em US$ 35 bilhões, segundo estima o mercado. O Banco Central fala em US$ 38 bilhões.

Com o fraco saldo cambial negativo ontem, o dólar perdeu força contra o real. Nos mercados futuros, as projeções de desvalorização cambial para janeiro (contratos com vencimento em fevereiro) caíram de 1,28% na quarta-feira passada para 1,17% ontem.

Para Nicolas Balafas, do BNP Asset Management, o governo não vai precisar desvalorizar o real contra o dólar mais do que os 7,5% ou 8% previstos em 99.
(…)
“Ninguém espera uma saída de dólares muito forte neste mês. O mercado está otimista, apostando que o Congresso vai votar a favor da CPMF e do aumento da contribuição dos funcionários públicos federais à Previdência”, diz o especialista Manuel Maceira.
(…)
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Note, leitor, que, enquanto hoje você vê na Folha e no resto da imprensa oposicionista todo dia desgraças anunciadas que jamais se concretizam, àquela época, com o país afundando – como se veria em poucos dias – o tom era de otimismo.
Três dias depois, em 8 de janeiro de 1999, outra matéria – sempre da Folha, fonte escolhida para evitar questionamentos de tucanos quanto à “imparcialidade” das notícias –, outra matéria dá bem a dimensão da situação catastrófica com que FHC chegara ao segundo mandato.
O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, acabara de decretar moratória de seu Estado no âmbito de uma taxa básica de juros (Selic) que batia nos 30% (!!). Para acessar a íntegra da matéria, assinante da Folha pode clicar aqui. Veja, abaixo, trechos do texto.
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FOLHA DE SÃO PAULO
8 de janeiro de 1999
MERCADO FINANCEIRO

Futuros projetam taxas de juros maiores

da Reportagem Local

A moratória anunciada pelo governador de Minas Gerais, Itamar Franco, fez com que os mercados futuros na Bolsa Mercantil & de Futuros passassem a projetar juros e desvalorização cambial maiores para os próximos meses.
(…)
No ano passado, o medo de que o Brasil não honrasse seus compromissos, como fez a Rússia em agosto, provocou uma evasão de divisas de US$ 15 bilhões. Foi para conter a sangria de dólares que o governo subiu os juros do over, o mercado por um dia com títulos públicos, de 19% para 40% ao ano. Os juros do over estão em torno de 29% ao ano hoje.
Com a crise de credibilidade ganhando força agora, os juros vão cair com mais dificuldade. Por isso, na BM&F, os contratos para vencimento em abril passaram a projetar taxas de juros de 30,25% para março, contra os 28,59% de anteontem. A desvalorização cambial projetada para março passou de 1,26% para 1,48%.
(…)
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A situação do Brasil – causada exclusivamente pelo adiamento da desvalorização do real adotado por FHC para não atrapalhar sua reeleição – piorava a cada dia, a ponto de a esfrangalhada economia brasileira estar, então, “contaminando” outros países. Abaixo, matéria que mostra isso. A íntegra da matéria na Folha pode ser acessada aqui.
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FOLHA DE SÃO PAULO
13 de janeiro de 1999
Situação se reflete na Argentina
de Buenos Aires
A alta instabilidade na economia brasileira, acentuada há uma semana pela moratória do Estado de Minas Gerais, está se refletindo diretamente nos mercados argentinos, cujos temores se concentram em três pontos: desvalorização do real, renúncia da equipe econômica e fracasso do ajuste fiscal acordado com o FMI.
A Bolsa local, acompanhando o índice Bovespa, caiu 3,67% na segunda-feira e ontem teve nova queda de 3,48. As quedas dessa semana foram impulsionadas quando se soube que as reservas brasileiras chegariam a U$ 31 bilhões no final de janeiro, segundo informe divulgado pelo Citibank.
Os mais apressados já inventaram até um nome para o possível colapso do Brasil: “efeito carnaval”
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No mesmo dia, outra matéria já deixava ver que as tentativas da mídia de suavizar as notícias já não eram mais possíveis. O clima de pânico se acentuava. O Brasil estava quebrando, com fuga de dólares e sucessivos aumentos dos juros – íntegra da matéria abaixo (só para assinantes da Folha), aqui.
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FOLHA DE SÃO PAULO
13 de janeiro de 1999
MERCADO TENSO
Fuga de recursos para o exterior neste mês já chega a US$ 2 bi; nervosismo traz de volta o risco cambial
Saída de dólares e juro futuro se elevam
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local
A sangria de dólares cresceu ontem e trouxe mais intranquilidade ao mercado financeiro. Até as 19h30, o fluxo estava negativo em aproximadamente US$ 1 bilhão. O mercado fecha às 21h30.
A Bolsa de Valores de São Paulo voltou a despencar, chegando a um passo do “circuit breaker”, mecanismo que interrompe os negócios toda vez que a queda atinge 10%. Fechou em baixa de 7,61%.
Os mercados futuros passaram a projetar juros e desvalorização cambial bem mais fortes no curto prazo. Para março, os juros anuais projetados pularam de 32,43% ao ano anteontem para 39,75% ao ano ontem. Hoje, os juros de referência para toda a economia estão em torno de 29% ao ano.
(…)
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Taxa de juros básica da economia chegando a 40%. Imaginem o que seria de Lula ou de Dilma se o país estivesse hoje em situação igual. Hoje, com juros em um dígito, centenas e centenas de bilhões de dólares de reserva e quase sem desemprego, a mídia trata a economia como se estivéssemos quebrando.
No mesmo dia 13 de janeiro de 1999 em que eram publicadas as matérias acima, o governo FHC tentou uma desvalorização controlada do real de 8,26%, que, como se sabe, o mercado rejeitaria, levando o Brasil a uma crise econômica sem precedentes, causada, exclusivamente, pela postergação de uma desvalorização da moeda que se fosse feita em 1998 não teria custado tão caro ao país.
A “feitiçaria” econômica do governo, porém, já não enganava mais ninguém. O economista Rudiger Dornbusch, 54, professor do mitológico MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos EUA, disse que a nova política cambial do Brasil, com uma tal “banda diagonal endógena”, era “um blefe”, e que FHC era “ineficiente”.
Abaixo, trecho da matéria da Folha contendo as críticas de Dornbusch, publicadas em um momento em que, apenas temporariamente, FHC começava a ser abandonado pela mídia. E isso algumas míseras semanas após o estelionato eleitoral que o reelegeu. A íntegra, assinante da Folha lê aqui.
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FOLHA DE SÃO PAULO
14 de janeiro de 1999
Para o professor, mudança só vai desafogar a pressão sobre as reservas
Nova política cambial é um “blefe”, afirma Dornbusch
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
O economista Rudiger Dornbusch, 54, professor do mitológico MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos EUA, disse que a nova política cambial do Brasil é “um blefe”.
“Serve apenas para desafogar um pouco a pressão sobre as reservas brasileiras”, afirmou em entrevista, por telefone, à Folha.
Para Dornbusch, o fim da fuga de dólares do país depende do ajuste fiscal. “Um profundo ajuste fiscal, com um corte drástico de gastos, é a condição para a volta da confiança dos investidores.”
“O Brasil tem um presidente ineficiente, que só sabe gastar e tomar emprestado.”
(…)
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Enquanto isso, o grupo G7, que congregava os sete países mais ricos do mundo, falava em “derretimento” do Brasil, conforme noticiava a Folha aqui. Textualmente, a nota do grupo dizia: “É o longamente esperado derretimento do Brasil? Parece [que sim].
Chega a ser inacreditável que o presidente que produziu a notícia a seguir arrogue para si o soerguimento quase incrível do país que, em verdade, foi o ex-presidente Lula que logrou operar após reparar o desastre que o antecessor deixou. Matéria da Folha ainda de 14 de janeiro de 1999 anuncia: o “Mundo vive pânico com Brasil”. A íntegra, aqui. Abaixo, um trecho.
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FOLHA DE SÃO PAULO
14 de janeiro de 1999
BOLSAS
Ações caíram na Europa e na América após queda do real, puxadas por empresas que mantêm investimentos no país
Mundo vive pânico com Brasil

de Buenos Aires

As principais Bolsas do mundo tiveram ontem um dia de fortes baixas geradas pela desvalorização do câmbio no Brasil.
O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, terminou o dia com uma queda de 125,12 pontos, ou 1,32%, depois de chegar a cair 260 pontos em meia hora. A baixa abrupta foi decorrente da mudança cambial brasileira.
A Bolsa abriu o pregão às 9h locais (12h de Brasília), quando já havia sido mudado o comando do Banco Central e anunciada a desvalorização do real. Imediatamente, o índice Dow Jones recuou 260 pontos.
O índice eletrônico Nasdaq despencou 114,56 pontos.
Com a preocupação diante da situação brasileira e com medo de que a desvalorização atingisse outros mercados, os acionistas saíram vendendo papéis, num mecanismo conhecido como “efeito dominó”.
(…)
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Em tal situação de calamidade que o país vivia, a situação do mercado de trabalho, que do terceiro ano do primeiro governo FHC para frente já vinha sendo ruim, com queda dos salários e aumento do desemprego, atingia proporções catastróficas. A matéria da mesma Folha, com trecho logo abaixo e íntegra aqui, resume o sofrimento que a irresponsabilidade tucana trouxe ao país.
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FOLHA DE SÃO PAULO
15 de janeiro de 1999
ECONOMIA
Metalúrgica de Matão suspende a partir de hoje um dia de trabalho para gastar 16% menos em pagamentos
Bambozzi reduz carga horária e salários

da Folha Ribeirão

A metalúrgica Bambozzi, de Matão, vai parar a produção às sextas-feiras a partir de hoje e diminuiu o salário dos funcionários para reduzir gastos e enfrentar a crise.
A proposta de diminuição de carga horária e salários foi aprovada na terça-feira em assembléia com os trabalhadores.
A empresa tem 430 funcionários e espera economizar cerca de 16% do total da folha de pagamentos, que não foi divulgado.
(…)
Ribeirão
A metalúrgica Penha, de Ribeirão Preto, está trabalhando com redução de carga horária e salários desde setembro do ano passado.
Os 168 funcionários deixaram de trabalhar às sextas-feiras e a empresa passou a economizar cerca de 10% da folha de pagamento.
O Sindicato dos Metalúrgicos de Ribeirão Preto e Região não aprova a redução de salário.
(…)
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Lembre-se, leitor: o presidente que produziu isso é aquele que está se dizendo o verdadeiro responsável por tudo de bom que aconteceu ao longo do governo Lula, que encontrou o país nessa situação, que recebeu essa herança maldita.
E o “Efeito Brasil” continuava afetando o mundo. O sujeito que acusa Dilma de ser “mal-agradecida” ao governo “maravilhoso” que diz que fez é o mesmo que arrastou o mundo para os problemas que sua administração gerou por ter adiado uma medida (desvalorização do real) com vistas a conseguir mais um mandato.
A notícia da Folha também é de 15 de janeiro, pois o noticiário econômico, quando FHC governava, ocupava incontáveis páginas dos jornais todos os dias, só noticiando desgraças. Nessa matéria, com trecho reproduzido abaixo e íntegra aqui, o jornal relata que o “Efeito Brasil” continuava gerando pânico nos mercados.
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FOLHA DE SÃO PAULO
15 de janeiro de 1999
MERCADOS
Pregão passa o dia com tendência de queda e, para agravar a situação, senadores começam a julgar Clinton
‘Efeito Brasil’ faz Bolsa de NY cair 2,45%

de Nova York

O “efeito Brasil” fez a Bolsa de Nova York fechar o dia ontem em forte queda. O índice Dow Jones (que reúne as 30 ações mais negociadas) recuou 2,45%, fechando a 9.120,93 pontos.
A queda representa 226,63 pontos e anula todos os ganhos conquistados na Bolsa de Nova York neste ano.
O índice Dow Jones esteve em tendência de queda durante todo o dia de ontem.
O grande vilão foi o Brasil. Os investidores reagiram ao rebaixamento da dívida brasileira promovida pela agência de crédito Standart & Poor’s e à possibilidade de a crise atingir outros países latino-americanos.
O Brasil representa 45% do PIB (Produto Interno Bruto) da América Latina.
Durante o dia, Wall Street foi assolado por boatos vindos do Brasil. Eles diziam que o governo iria liberar o câmbio e que o real sofreria uma nova desvalorização.
Os investidores estavam preocupados também com a depreciação de papéis de companhias que mantêm negócios no Brasil. As multinacionais devem apresentar queda no faturamento, por causa da retração no mercado.
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O desastre na economia não parava de crescer. Uma das consequências da irresponsabilidade tucana foi o crescimento da dívida externa. Em 16 de janeiro de 1999, a Folha dá conta de que o endividamento do país, que peregrinava pelos países ricos com o pires na mão, crescera R$ 35,8 bilhões EM UMA SEMANA. Abaixo, trecho da matéria, com íntegra aqui.
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FOLHA DE SÃO PAULO
16 de janeiro de 1999
DESVALORIZAÇÃO
Dívida externa aumentou R$ 35,8 bi em uma semana e será problema para empresas, diz pesquisa da Sobeet
Real fraco reduz patrimônio
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
As empresas brasileiras terão grande trabalho para lidar com uma dívida externa que cresceu nada menos que R$ 35,8 bilhões em uma semana.
A desvalorização cambial acumulada na semana fez com que a dívida de US$ 140 bilhões do setor privado brasileiro saltasse, em reais, de R$ 169,4 bilhões para R$ 205,2 bilhões.
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A desorganização da economia que marcou a era FHC do seu terceiro ano até o último, como é óbvio, não deixaria o país impune. Todos, de ricos a pobres, comeram o pão que o diabo amassou, razão pela qual, desde que o país conduziu o PT ao poder, nunca mais os tucanos tiveram chance real em eleições para presidente.
Notícias como a que segue abaixo (íntegra aqui) e que dá conta de redução nas vendas de varejo de 30% no âmbito da crise brasileira ainda estão frescas na memória de uma parcela imensa e majoritária dos brasileiros. Só quem tem menos de vinte anos não sabe o que se passou neste país quando ele cometeu o desatino de colocar o PSDB e o DEM no poder.
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FOLHA DE SÃO PAULO
16 de janeiro de 1999
Lojas têm queda de até 30% nas vendas
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
A confusão gerada no mercado brasileiro com a mudança da política cambial resultou ontem na paralisação dos negócios entre indústria e comércio e numa queda de 20% a 30% nas vendas de algumas grandes redes.
(…)
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Agora, a cereja do bolo. Atualmente, uma das colunistas da grande mídia tucana mais críticas do país que temos é Eliane Cantanhêde. Enquanto escrevo, reflito que as críticas acerbas que ela faz hoje a um governo que é aprovado pela imensa maioria por estar gerando emprego, renda e bem-estar social em nada lembram a condescendência que tinha com um governo que gerou o caos que você acaba de ler.
Compare, abaixo, o discurso dessa mulher hoje em relação ao governo, quando o país está indo de vento em popa, com o que adotou também para o governo quando o país estava arrasado. O tom dela é o que dominava a mídia. Não havia críticas ao governo e muito menos ao presidente da República. Muito menos os xingamentos feitos a Lula.
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FOLHA DE SÃO PAULO
17 de janeiro de 1999
O bode
ELIANE CANTANHÊDE

Brasília – A semana passada foi uma roleta-russa, e a que começa hoje é tão incerta quanto uma mesa de pôquer.
O câmbio rachou o governo, atraiu a ira de empresários, expulsou quadros como Pérsio Arida, alijou outros como José Serra. E o que estamos descobrindo? Que desvalorizar o real não está sendo um monstro tão monstruoso. Até agora, pelo menos.
Há um ano, as reservas estavam tão altas quanto a credibilidade do governo. Os governadores acabavam de renegociar suas dívidas. Os empresários ainda não estavam demitindo. Os partidos aliados já andavam se assanhando, mas mantinham uma certa compostura. A situação internacional tremelicava, mas se mantinha.
Com o tempo, deterioraram-se essas condições favoráveis, até se acenderem os sinais vermelhos. A evidente, inevitável, inexorável desvalorização acabou saindo no tapa, no último minuto. E insuficiente. Tanto que dois dias depois veio o câmbio livre.
Pois, vejam só, apesar de tudo isso o Brasil sobreviveu. A taxa ditada pelo mercado na sexta-feira (R$ 1,47) é bastante razoável. As Bolsas tiveram um pique espetacular, e com entrada de capital externo. A sangria de dólares caiu de quase US$ 1,8 bilhão na quinta para US$ 340 milhões na sexta. Já se fala até em liberar o câmbio de vez.
E mais: um novo aumento de juros foi descartado, e alguns setores, abatidos pela perversa competição dos importados, recuperam o ânimo. Há até alguma perspectiva de empregos.
Bem, estamos então no paraíso? A léguas e léguas disso. Há incertezas, dúvidas e um pânico renitente e justificável. O Brasil sacode mais do que avião em nuvem negra. E a famosa estabilidade continua instável.
Mas o secretário dos Direitos Humanos, José Gregori (que não é economista), resumiu: “Tiraram o bode da sala”. O bode era o câmbio, um erro que cresceu como elefante e se arrastou como tartaruga.
Agora é correr contra o tempo e corrigir outros muitos erros. Até porque o Brasil não aguenta mais. Nem nós.
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Quanto otimismo, não? Você acredita que essa criatura escreveu uma COMEMORAÇÃO?!! Que diferença para o pessimismo de hoje, quando qualquer boato ruim sobre a economia vira certeza e gera condenação do governo via acusações de incompetência etc. Não é à toa que o colunista da mesma Folha Janio de Freitas disse que a mídia foi “suporte político” de FHC.
Está claro o desastre que foi o governo do sujeito que está clamando para si a volta por cima que o Brasil daria na era Lula? Inflação e desemprego ascenderam nos anos seguintes à crise de 1998/1999. A renda caiu. A credibilidade do país era tão baixa que até a alternância no poder, em 2002, fez a economia derreter de novo.
A falta de investimentos que a má gestão de FHC gerou fez com que no penúltimo e no último ano daquele governo desastroso eclodisse um racionamento de energia elétrica que fez o país retroceder anos.
Contudo, o que de pior o governo FHC produziu foi o desemprego. Não foi à toa que José Serra, em sua candidatura a presidente em 2002, fez aquela propaganda eleitoral com uma multidão de homens vestidos com macacões de operários brandindo carteiras de trabalho. O desemprego estava em dois dígitos e subindo.
Para quem tiver dúvida de quanto o governo Lula e, depois, o governo Dilma melhoraram a vida dos brasileiros – que FHC piorou como poucos presidentes –, que veja, abaixo, o que ocorreu com o desemprego estratosférico herdado do ex-presidente tucano pelo ex-presidente petista.