Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A assombração na urna


Uma parcela majoritária dos brasileiros rejeita delegar o futuro do país aos candidatos dos mercados. Não é pouco. Mas está longe de encerrar a disputa.

por: Saul Leblon
 
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Quando as urnas de outubro emitirem o seu veredito, sendo ele o que se espera, terá início um novo turno.

Ele desenhará um capítulo decisivo na história da luta progressista no Brasil.

É recomendável acalmar o país após um pleito encarniçado, aconselham setores do PT à Presidenta Dilma.

É verdade. A primeira obrigação de um Presidente vitorioso é desarmar os espíritos, reabrir canais de diálogo, propor uma agenda de negociação. Pacificar a crispação eleitoral.

Mas é preciso ter claro: repetir o que já vem sendo feito será pouco mais que mendigar indulgência aos mercados.

Eles não a concederão.

A menos que o vencedor adote o programa derrotado.

Não se trata, portanto, apenas de exercer um quarto e sucessivo mandato progressista em um país em desenvolvimento.

O ponto a reter é que estamos diante de desafios que prenunciam o ciclo mais delicado da trajetória nacional desde 2002.

A vitória nas urnas será um passo do caminho.

Entre outros recados, a reeleição de Dilma significará que uma parcela majoritária dos brasileiros se recusou a delegar a tarefa do futuro à livre escolha dos mercados.

Não é pouca coisa.

Dadas as condições da disputa, contra uma frente única conservadora local e global, em meio a uma crise internacional que se arrasta por seis anos, e considerando-se o desgaste inevitável de 12 anos de governos progressistas, chega a ser um feito histórico.

O safanão dos votos nos apetites plutocráticos, portanto, demarca as linhas de campo do jogo.

Mas está longe de encerrar a disputa.

O nome do jogo é construir uma alternativa à lógica dos puros-sangues cevados na alfafa rentista, que exaurem a sociedade, tem maioria no legislativo, detém meios financeiros para sabotar a economia e dispõem de um oligopólio midiático para acabrunhar as expectativas de toda a sociedade.

Indiferentes ao veredito das urnas, eles não cessarão de escoicear as estrebarias cobrando a validação da rédea solta que a vitória de Marina ou Aécio lhes facultaria.

Mudar essa correlação de forças é o turno histórico que começa imediatamente após a contagem do último voto em outubro.

Trata-se de encurtar a rédea do tropel xucro para devolver ao Estado e à sociedade a capacidade de mobilizar forças e recursos e assim coordenar o passo seguinte do país no século XXI.

O Brasil dispõe hoje de uma incontrastável rede de controles financeiros e ideológicos, públicos e privados, nativos e forâneos, com braços que se articulam de dentro e de fora do país, indo das universidades às consultorias de mercado, da prontidão midiática aos partidos políticos conservadores.

Esse redil articulado e eficiente trabalha sob prontidão máxima para não deixar escapar um objetivo central.

Qual?

Assegurar a valorização real à liquidez rentista, independente do seu custo social.
Garantir que anualmente se reserve algo como 3% do PIB em recursos fiscais ao pagamento de juros da dívida pública (cujo serviço efetivo atinge quase o dobro disso, somadas rolagens, vencimentos, capitalizações).

Esse é o dogma angular da catedral conservadora.

Foi sobretudo em torno dele que se estruturou a lengalenga do discurso da terceira via vocalizado pela doce Marina, assim como a promessa de resgate ‘dos fundamentos’, ecoada por Aécio e seus armínios.

Os efeitos colaterais da ração rentista –uma taxa de retorno irreproduzível no investimento produtivo, nas mesmas condições de liquidez, segurança e rentabilidade-- explicam em boa parte a anemia na formação bruta de capital fixo no país.

Com os desdobramentos sabidos.

O investimento (em máquinas, tecnologia) é a alavanca da inovação e da produtividade sistêmica.

Sem ele, a economia cresce pouco, a indústria murcha, os empregos de melhor qualidade escasseiam.

O país perde competitividade internacional. Seu mercado é invadido por importados.

Empregos, renda e impostos vazam para o exterior. Cadeias produtivas locais são corroídas, ademais de desequilibrar a contabilidade externa: hoje, mais de 1/5 da manufatura consumida no país é importada. O déficit cambial da indústria é de quase US$ 100 bi, o valor equivale a cerca de 25% das reservas brasileiras.

O conjunto favorece a arenga do ‘custo Brasil’, que em certa medida pretende compensar a atrofia do investimento com a hipertrofia da exploração dos assalariados.

Mas também com privatizações e sucateamento de serviços --recurso ortodoxo para emagrecer a máquina pública exposta a uma espiral de demandas que as receitas atrofiadas do baixo crescimento não dão conta de atender.

O saldo da condicionalidade rentista é tão compatível com o equilíbrio macroeconômico quanto enxugar o chão com a torneira aberta.

Não é uma questão técnica ou uma queda de braço apenas local.

Thomas Piketty que o diga.

A renda média da família norte-americana hoje é 8% inferior a existente em 2007, antes da crise. E já estava estagnada em relação ao nível de 1999.

Ou seja, há 15 anos a renda da classe média da nação mais rica da terra não cresce, enquanto nesse meio tempo a bocarra financeira já se empanturrou de lucros e bolhas suficientes para levar o capitalismo mundial a sua pior crise desde 1929.

Essa é a determinação central da luta de classe em nosso tempo, que tem na bomba norte-americana de sucção de capitais um abrigo seguro para o dinheiro arisco de todo o mundo.

É assim que a livre mobilidade dos capitais desautoriza as urnas e afronta governos progressistas em todo o planeta.

Ao mesmo tempo que impede o controle dos juros pelo Estado, sabota impostos e taxas que compensem a sua sangria no poder fiscal dos governos.

A ‘solução’ proposta pelo conservadorismo nas eleições presidenciais de 2014 consiste em resgatar o Estado mínimo, dar independência ao BC em relação à democracia, ‘flexibilizar’ a correção do poder de compra das famílias assalariadas.
 
Enfim, oficializar o descompromisso entre as urgências da população e as obrigações do Estado.

É forçoso repetir: se tudo ocorrer como se prenuncia, essa diretriz terá sido rechaçada nas urnas de 2014 no Brasil.

O desafio será substituí-la por uma coordenação –interna e de alianças internacionais-- que propicie a delicada sintonia política entre a agenda do Bem-estar Social e a produtividade capaz de suportá-la.

A prioridade recente à infraestrutura e o impulso industrializante do pré-sal em toda cadeia de fornecedores da Petrobrás constituem trunfos invejáveis do Brasil na disputa pela competitividade em nosso tempo.

O conjunto, porém, ainda carece da legitimidade de um projeto ancorado em amplo escrutínio social, que dê ao governo meios políticos para agir além da margem incremental que desacredita o Estado e enerva a cidadania.

Hoje, esse debate sobre custos, prazos, metas, concessões, sacrifícios e salvaguardas flutua acima da sociedade, restrito à linguagem cifrada do jornalismo econômico conservador.

Será preciso politizá-lo, como Dilma e Lula começaram a fazer na campanha em relação ao BC independente, para explicitar escolhas e pactuar compromissos de curto, médio e logo prazo.

Embora a Presidenta Dilma tenha repelido a ideia de promover desemprego e castrar direitos trabalhistas –‘nem que a vaca tussa’, disse ela-- para reduzir a inflação ou baixar custos’, hesita-se em transformar a encruzilhada brasileira em uma agenda de debate popular.

Tal blindagem permite que se difunda a confusão proposital entre eficiência e exploração.

Na vida real de uma nação, as urgências da sociedade, quando despolitizadas e tratadas em regime incremental de longo prazo, não raro levam ao desatino regressivo.

Massas de forças descomunais em conflitos insolúveis podem arrastar uma nação para correntezas incontroláveis, sujeitando-a a predadores ferozes.

Sacudir a agenda do futuro brasileiro a salvo da entropia do arrocho, requer uma alavanca capaz de irradiar impulsos tão fortes quanto aqueles derivados das assembleias históricas registradas no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo nos anos 80.

Não será o PT exaurido por 12 anos de governo que fará isso sozinho –ele próprio carente de um aggiornamento só crível se tiver forças dirigentes que o reconduzam a um mergulho de volta à organização de base dos movimentos sociais.

O terceiro turno das eleições de 2014 é uma tarefa para o engajamento democrático de amplas forças da sociedade brasileira, cujo catalisador pode ser a luta pela Constituinte da reforma política.

Nisso o destino do PT e o do desenvolvimento progressista se entrelaçam firmemente.

Por exemplo, no desafio de engajar politicamente 24 milhões de jovens brasileiros moradores das periferias urbanas.

Eles representam cerca de 17% da população ,conforme estudo da Serasa Experian, divulgado esta semana, que traça o perfil de 11 segmentos que compõem o mosaico de renda da sociedade.

Hoje, a inserção desse contingente se dá, predominantemente, pelo rally do consumo.

Embora desfrutem de renda baixa, esse grupo de moços e moças entre 21 e 35 anos captou um quinto de todo o crédito liberado pelo sistema financeiro brasileiro.
Seu caso evidencia uma dimensão não mais adiável do terceiro turno à vista.

Nela, as forças progressistas vão se defrontar com seu principal fantasma e a mais grave omissão.

A abrangência das mutações econômicas e sociais registradas no país desde 2004 não se fez acompanhar de uma contrapartida no plano da representação política.

O economista Márcio Pochman, arguto observador desse assombração político, sugere que ele lança a luz mais esclarecedora sobre irrupção de protestos registrados nas ruas brasileiras em 2013.

Sua angulação expõe um flanco pouco debatido das políticas sociais desse período, na verdade, quase um tabu.

O carro-chefe delas, o decano Bolsa Família, chega hoje a 14 milhões de lares, reúne o formidável contingente de 50 milhões de beneficiados.

Não possui um único fórum próprio que os expresse.

O engajamento dos principais interessados talvez até barateasse a estrutura do programa, obsessão do conservadorismo que, todavia, vetou os comitês gestores formados por representações locais do Fome Zero, logo no início de 2003.

Do alto de seus 380 anos de casa grande e senzala, as elites brasileiras são acometidas de surtos psicóticos ao menor ensaio de organização democrática dos interesses populares.

‘Bolivarianismo’ , sapecam de bate pronto, como o fizeram agora contra a Politica de Participação Social do governo –um bem-vindo sinal de autocrítica do governo, ao lado da proposta de plebiscito pela Constituinte da reforma política.

Outros paradoxos associados às politicas e programas desenvolvidos nos últimos anos sugerem que o próprio PT se deixou amedrontar pelo preconceito conservador.

Cerca de 1,7 milhão de jovens beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) somam 31% do total das matrículas no sistema privado de ensino superior no Brasil.

Todavia, pergunta Pochmann, onde estão as entidades estudantis revigoradas por esse aluvião de juventude popular no ensino superior?

Não acabou.

Mais de 20 milhões de trabalhadores conquistaram um emprego no mercado formal desde 2003. Mas e a taxa de sindicalização? Ela permanece estagnada, fuzila o economista.

O Programa Minha Casa Minha Vida completou cinco anos em abril tendo contratado 3,39 milhões de unidades (das quais, 1,68 milhão já foram entregues).

Mais de seis milhões de pessoas foram beneficiadas. Quantas associações de moradores foram estruturadas e participam da agenda urbana atualmente?

Assim por diante.

As perguntas incomodas de Márcio Pochmann –já listadas mais de uma vez neste espaço-- indicam que certas dimensões do desafio do desenvolvimento foram perigosamente negligenciadas nos últimos anos.

Transformações democráticas fornecem, muitas vezes, a única alavanca capaz de remover obstáculos econômicos intransponíveis quando abordados no âmbito de sua própria lógica.

Por isso mesmo, o baixo incentivo ao engajamento dos contingentes ticados pelas políticas sociais nos últimos anos talvez tenha atingido seu ponto de saturação.

Os impasses sobrepostos na engrenagem do desenvolvimento brasileiro implicam romper estruturas anacrônicas e construir outras novas, ao mesmo tempo e com igual intensidade. Quase como atravessar um rio de dupla correnteza, uma puxando para cada lado.

Quem acha que pode haver equilíbrio macroeconômico nesse ambiente açoitado por ventos em litígio, acredita em fadas. A fada dos mercados autorreguláveis, por exemplo.

Mas quem acredita que é possível desencadear um novo ciclo de desenvolvimento sem um protagonista social que o conduza, incorre igualmente em perigosas ilusões.

O turno à vista após outubro oferece ao campo progressista a chance de se desfazer dessas miragens.

Talvez a derradeira oportunidade, para não ser engolido por elas.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Inadimplência? Urubóloga para o programa da Fátima!


A inadimplência não assusta ninguém. É apenas uma desculpa dos bancos para não reduzir mais os spreads.

Se o amigo navegante teve o desprazer de assistir à Urubóloga no Bom (?) Dia Brasil, terá percebido que ela substituiu um alarmismo por outro.

Na Rio+20 foi o aquecimento da Terra, que a Dilma não conseguiu impedir, porque não teve audácia.

A Terra vai derreter e as calotas polares vão se fundir junto.

Clique aqui para ver como o professor Conti desmascara os “cientistas do Verdismo alucinado”.

Passada a Rio+20 e antes que se chegue a um esfriamento da Terra – previsto pelos melhores cientistas -  a Urubóloga, agora, dissemina um novo pânico: a inadimplência.

É um blefe.

A inadimplência não assusta ninguém.

É apenas uma desculpa dos bancos para não reduzir mais os spreads.

E, como sempre, o PiG (*) dança o minueto dos bancos.

A nota sobre Política Monetária e Operações de Crédito em maio de 2012 do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, não revela o mais longínquo temor com a inadimplência.

Faz uma única observação:

A inadimplência do crédito referencial, considerados os atrasos superiores a noventa dias, alcançou 6% em maio, após elevação de 0,1 p.p. no mês. A taxa relativa às operações com pessoas físicas subiu 0,2 p.p., atingindo 8%, enquanto a de pessoas jurídicas permaneceu estável em 4,1%.

Nada de anormal.

Nada de excepcional.

A rigor, a inadimplência está em queda.

E a expansão do crédito no Brasil se dá segundo regras muito mais rígidas que as internacionais.

A inadimplência não é nada que abale a estrutura do sistema bancário ou das famílias.

O crédito que mais cresce é o habitacional, onde a inadimplência é baixíssima.

Veja, amigo navegante, o que é fundamental, na análise do Banco Central – e foi devidamente subestimado pelo alarmismo piguento (*):

- o crédito subiu 18% em doze meses;

- a relação crédito/PIB chegou a 50,1% ! (era de 30% nos sombrios anos FHC/Cerra)

Ou seja, o Brasil empresta mais e as pessoas e as empresas tomam mais emprestado.

Que horror !

- os empréstimos destinados à pessoa física,  por causa do crédito pessoal – cresceram 15% em doze meses;

- o crédito habitacional – com dinheiro da poupança e do FGTS – subiu 42%.

Isso, sim, é que é um horror !!!

A taxa média de juros caiu 7% em relação a maio do ano passado: “É O MENOR PATAMAR REGISTRADO NA SÉRIE HISTÓRICA INICIADA EM JUNHO DE 2000”, diz a nota do Banco Central.

Foi aí que a Urubóloga cortou os pulsos !

- Os spreads,  com “inadimplência” e tudo, caíram 2,4 pontos percentuais nos empréstimos a pessoas físicas.



Sabe por que a inadimplência subiu, amigo navegante ?
Porque os bancos começam, agora, a aprender a quem emprestar.
Antigamente era uma moleza.
Era só emprestar ao Governo, com taxas estratosféricas.
Não havia risco nenhum.
Agora, com taxas mais baixas juros, mais competição e mais dinheiro na praça, os bancos têm que aprender a fazer o que é essencial no negócios deles – análise de risco.
E aí a porca torce o rabo.
O Brasil e as famílias não vão quebrar.
Os bancos também não.
O Banco Central está de olho.
Mas, os bancos vão ter que fazer o dever de casa.
Amigo navegante, amanha de manhã, troque de canal.



Em tempo: o ansioso blogueiro tem a solução para o programa da Fátima Bernardes.

Chamar a Urubóloga para explicar a crise do Euro.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Esperado Não de Hollande a Berlim - Juros encabrestados

 
 
 
 
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O Esperado Não de Hollande a Berlim
 
Mauro Santayana
 
A senhora Ângela Merkel, tenha disso consciência ou não, age de acordo com a velha arrogância prussiana, ao convidar François Hollande a visitar Berlim, no próximo dia 16 – logo depois de empossado. Foi quase uma convocação. Ela deixou claro, ao cumprimentar o novo presidente, que podem falar de tudo, menos do essencial: da “austeridade” orçamentária. Austeridade, na visão germânica da política européia, significa seguir o caminho percorrido até agora, com os bancos recebendo bilhões e bilhões de euros, emitidos sem lastro, e os usando para as especulações de seu interesse e para encalacrar ainda mais os países meridionais. Os bancos receberam o dinheiro do Banco Central Europeu a 1% ao ano e os repassam, ao estados em crise a juros de 6 a 9% ao ano. Um “spread” escorchante.
Se François Hollande, fatigado pela campanha e pelos festejos da vitória, não estivesse desatento, poderia ter sugerido que o encontro se fizesse em Bruxelas, sede da União Européia, e não em Berlim. Se ela pretende discutir o desenvolvimento econômico continental, o lugar do encontro não poderia ser outro que não Bruxelas, a menos que ela, em gesto de boa diplomacia, houvesse proposto visitar Paris.
A senhora Merkel faz lembrar um de seus antecessores na Chancelaria do Reich, que convocou a Munique os primeiros ministros da França (Daladier), da Itália (Mussolini) e da Inglaterra (Chamberlain) a fim de lhes impor sua vontade, a de apoderar-se de grande parte do território tchecoslovaco. O fantasma de Hitler está sob o portal de Brandenburgo.
Hollande só conseguirá reaver-se do descuidado “oui”, que deve ter soado aos ouvidos de Ângela Merkel como um obediente “jawohl!”, se – diante da imposição alemã – se mantiver firme, em seu propósito de aliviar os sacrifícios impostos aos trabalhadores europeus, com a chamada “austeridade”. A Europa será devolvida aos seus cidadãos, ou continuará dirigida e saqueada pelos banqueiros do Goldman Sachs e associados menores, que hoje exercem o poder de fato no continente, e disso retiram seu proveito.
Para os observadores desinformados e irônicos, o encontro – antes mesmo que Hollande se sinta em seu gabinete presidencial – poderá ser entendido como uma audiência para o recebimento de normas e instruções.
Atenas pode não ter a importância – e não tem – de Paris, mas é um símbolo do poder e da razão política bem mais antigo.
A derrota da coligação que se encontrava no governo (só se obtiveram as cadeiras no parlamento, pela legislação que lhe assegurou 50 vagas a mais do que os escrutínios), e a vitória da esquerda, eram esperadas. Não se contava com a atrevida emersão do partido neonazista, sob o nome inocente de “Aurora Dourada” e a suástica, redesenhada, como seu símbolo. Começou bem, já com tropa de assalto formada, exigindo dos jornalistas que se levantassem para receber o líder, e expulsando da sala os que se recusaram ao “gesto de respeito” para com o novo palhaço, louco e racista. Seu primeiro projeto é o de minar as fronteiras gregas, a fim de impedir a entrada de estrangeiros.
Uma vez que a coligação que se encontrava no poder não conseguiu formar o novo governo, caberá à esquerda faze-lo, e nas próximas 48 horas. Espera-se que as lições européias dos anos 30 inspirem os democratas gregos, e que eles estabeleçam uma aliança de centro, capaz de vencer as pressões externas com habilidade, e reendereçar a economia do país mediante o fortalecimento do Estado e uma política de desenvolvimento social em busca do pleno emprego.
Hollande lembrou o new deal de Roosevelt em sua campanha. Foi bom que o fizesse. Há oito décadas, em 1932, diante de uma recessão que alguns consideram menor do que a de hoje, o Estado foi compelido, à esquerda e à direita, a intervir diretamente na economia. Na Alemanha, a resposta foi a do nazismo, com a eleição de Hitler; na Itália, a do Instituto de Reconstrução Industrial – criado por Alberto Beneduce – que interveio fortemente nas atividades produtivas, política mantida depois da vitória aliada, até o neoliberalismo dos anos 80 e 90, que jogou a Europa na crise atual.
Roosevelt conseguiu impor o seu programa de recuperação industrial, ao encoleirar os banqueiros e intervir, sem vacilação, em todos os aspectos da economia e da cultura de seu país, levando-o à vitória na Segunda Guerra Mundial, que se celebra exatamente hoje. Hollande tem razão: projeto semelhante ao de Roosevelt pode salvar a Europa.
É preciso impedir que o atrevimento do novo nazismo atinja, de igual forma, a Itália, a Espanha e a Alemanha – como o de Hitler nos anos 30. A França de Hollande deve resistir ao Diktat alemão, o que a França de Pétain não foi capaz de fazer diante de Hitler.
 

Juros encabrestados

Mauro Santayana

A presidente teve a coragem de enfrentar a bancada da Febraban e os famosos analistas econômicos dos grandes jornais, tão interessados em defender as corporações financeiras, e tão pouco empenhados em defender o desenvolvimento econômico do país.

Não há melhor definição da importância e da perversão dos bancos do que a de um comitê de intelectuais – entre eles editores de jornais – que se reuniu em março de 1829, na cidade de Filadélfia. Depois de uma semana de discussão, o comitê redigiu sua conclusão sobre o sistema financeiro, por unanimidade. O sumo do documento foi publicado por The Free Advocate em sua edição semanal de 9 a 16 de maio do mesmo ano:

“Que os bancos sejam úteis como instituições de depósito e transferências, nós podemos admitir prontamente, mas não podemos concordar que esses benefícios sejam tão grandes como para compensar os males que produzem, ao criar artificial desigualdade de riquezas e, dessa forma, artificial desigualdade de poder. Se o atual sistema bancário e de papel moeda ampliar-se e perpetuar-se, os trabalhadores devem abandonar todas as esperanças de adquirir qualquer propriedade”.

Do Comitê participavam dois economistas destacados e editores de jornais, William Gouge, da Philadelphia Gazette, e Condy Raguet, do Free Trade Advocate; William Dune, velho jornalista jefersoniano; o filantropo Robert Vaux, Ruben Whitney, ex-diretor do Banco e os líderes sindicais William English e James Ronaldson. O encontro foi registrado por Arthur M. Schlesinger, Jr. em seu estudo clássico sobre o período, “The Age of Jackson”, publicado em 1945.

O formato atual do sistema se iniciou durante o mercantilismo europeu, com o surgimento de agentes financeiros, que emitiam notas de câmbio descontadas por seus correspondentes nas principais praças comerciais do continente, e se desenvolveu a partir do Renascimento, com as casas bancárias de Veneza e Florença, no Sul, e de Hamburgo e Amsterdã, no Norte.

O acúmulo de recursos lhes permitiu envolver-se com a política, no financiamento dos estados nacionais, como ocorreu na Guerra dos Cem Anos, quando banqueiros florentinos, os Bardi e os Peruzzi, emprestaram um milhão e duzentos mil florins de ouro a Eduardo III, a fim de custear o início da Guerra dos Cem Anos, no século 14.

Os Fugger da Alemanha, os maiores capitalistas do século seguinte, foram banqueiros dos papas, encarregando-se de recolher e administrar o dinheiro das indulgências vendidas pelo Vaticano e dos impostos cobrados pelos estados pontifícios.

O libelo dos cidadãos de Filadélfia continua atual. Os bancos não só patrocinam a desigualdade social, ao destinar os recursos dos estados e do povo aos próprios negócios, e no financiamento aos milionários, mas também os utilizam para eleger seus delegados aos parlamentos e, assim, frequentemente corromper e controlar o poder político. Assim, os governantes atuam em sua defesa, como ocorreu em nosso país com o Proer e a entrega de bancos nacionais aos estrangeiros por preços simbólicos, como ocorreu na “venda” do Bamerindus, do Banespa e de outras instituições. O Santander é um exemplo: seu último balanço exibe resultados superiores a duas vezes os seus ativos no país.

Na Europa, como sabemos, os governos emitiram um trilhão de euros e os entregaram ao BCE, para recuperar a economia continental. Em lugar de fazê-lo, a instituição os repassa aos bancos privados a juros de 1% ao ano, a fim de que estes emprestem aos estados em dificuldades - mas a taxas de 6 a 8,5% ao ano. Para honrar esses juros, os governos cortam na saúde, na educação, nos investimentos produtivos, levando o desemprego ao paroxismo, e multiplicando a miséria, como está ocorrendo na Espanha, na Grécia e em Portugal.

No Brasil, a audácia dos banqueiros privados vai além de toda a cautela. Os juros cobrados dos mais pobres – os que são compelidos a valer-se dos empréstimos de curto prazo, mediante o cheque especial, e do refinanciamento das faturas dos cartões de crédito – são infernais: 238% ao ano, no caso dos cartões, e de 185% nos cheques especiais.

Para que tenhamos uma idéia do assalto: na Grã Bretanha, com as dificuldades conhecidas, os juros sobre as faturas não saldadas dos cartões de crédito não ultrapassam 30% ao ano, ou seja, são de cerca de 1/8 das taxas cobradas em nosso país.

A presidente teve a coragem de enfrentar a bancada da Febraban e os famosos analistas econômicos dos grandes jornais, tão interessados em defender as corporações financeiras, e tão pouco empenhados em defender o desenvolvimento econômico do país. Suas providências técnicas, como a da redução dos juros pagos às cadernetas de poupança – em proporção insignificante, mas suficiente para empurrar as taxas de remuneração das aplicações financeiras para baixo, não prejudicam os clientes dos bancos, mas impõem uma sensível redução do spread. Enfim, encabresta os agiotas do sistema bancário, tão danosos ao país quanto a organização de Carlos Cachoeira.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O ressentimento travestido de sociologia

 
Fala muito, fala muito o Felipão Pondé
Blog do Provocador
Guardar ressentimento é tomar veneno e esperar que outra pessoa morra. A frase, de um tal de Shakespeare, parece ter se tornado o lema da elite brasileira contra a chamada classe média ascendente. Puro rancor.

Já se tornou um clássico dizer que os aeroportos se tornaram rodoviárias depois que o povão passou a ter acesso a esses terminais — para logo em seguida ser responsabilizado pelo caos aéreo que há décadas vinha sendo engendrado na incompetência de um Estado feito apenas para os 10% mais ricos da população.

A burguesia tupiniquim não gostou de ter te dividir o espaço de suas bagagens com os antigos empregados. Mas como não tem muitos argumentos, fica na dependência de que algum reacionário de plantão venha esculachar o “churrasco na laje” feito nos saguões aeroviários.

É assim que fala o colunista da Folha e profeta do apocalipse Luiz Felipe Pondé. Sem nenhuma originalidade, repetiu essa ladainha carcomida pela inveja no tvfolha deste domingo, 08. Puro despeito, travestido de sociologia de botequim.

Como colonizador escravocrata que sempre foi, ainda teve a petulância de dar conselhos civilizatórios para o povaréu. Alertou sobre o risco do excesso de bagagem. Aviões podem cair com o peso dos brasileiros que estão sendo incorporados à economia formal. Sei.

Os esnobes sempre foram fazer compras em Miami. Era chique. Agora que chegou a vez do pessoal da “laje”, não pode mais, é feio. As malas dos pobres redimidos incomodam muito o refinado reacionário.

Quer saber? Fala muito, fala muito esse Felipão Pondé. Como diria um aristocrata de verdade: por que no te callas?
 
 

 
Nascido em Bauru, no interior paulista, Silva, que teve passagens pela presidência da Petrobras e da extinta Varig, e pelo Ministério da Infraestrutura, no governo Collor, foi também um dos principais artífices do processo de privatização da companhia de São José dos Campos. Ainda hoje mantém laços próximos com os diretores e integrantes do conselho de administração da Embraer. Aos 81 anos, Silva, que continua na ativa, como reitor da universidade Unimonte, de Santos, falou à DINHEIRO sobre os próximos passos da Embraer, elogiou a concessão dos aeroportos e mostrou por que o Brasil ainda é um peixe pequeno em termos de inovação.

Leia mais (Read More): Poder Aéreo - Informação e Discussão sobre Aviação Militar e Civil

DINHEIRO – Qual foi a escolha?
SILVA –  A decisão do conselho de administração, tomada no fim do ano passado, foi permanecer no mesmo segmento, usando a experiência nessa classe para aperfeiçoar cada vez mais seus aviões e derrubar a concorrência. A única saída para a Embraer é a competência. Dominar o mercado fazendo produtos melhores e mais baratos.
DINHEIRO – Mas se justifica operar em um segmento que tende a encolher?
SILVA –  É melhor ser a líder mundial de um mercado menor do que um participante pequeno de um mercado maior, que impõe custos bem mais elevados e uma concorrência já estabelecida. A Embraer optou por ser a cabeça do rato em vez do rabo do leão (risos).
DINHEIRO – E como fica a relação da empresa com os EUA, que cancelaram a compra dos Super Tucanos, alegando problema na documentação?
SILVA – Esse argumento deles foi completamente estapafúrdio. O que ocorre é que estamos em época eleitoral nos EUA, e falar em comprar produtos de uma empresa brasileira em vez de preferir uma companhia americana é algo extremamente sensível. O cancelamento foi claramente uma decisão política. Informalmente, espera-se a retomada dessa concorrência após o fim do processo eleitoral. Tudo indica que a empresa vença de novo, até porque o avião da Embraer é infinitamente superior ao da concorrente.
DINHEIRO – Falando em dificuldades, a crise financeira mundial tende a diminuir?
SILVA –  A turbulência que nós temos hoje é uma crise financeira. Tenho dito claramente que os financistas não vão conseguir resolvê-la. Isso porque o dinheiro tem uma característica extraordinária, que é a de gerar valor, mas o financista usa o dinheiro para gerar mais dinheiro. Temos de trocar os interlocutores. Não são os economistas ou o pessoal dos bancos que vão resolver os problemas, mas sim os empreendedores.  Os EUA cresceram dessa maneira. O risco reduzido para os empreendedores carregou os EUA e os trouxe para o posto onde estão. Como não temos isso no Brasil, nós ficamos para trás.
DINHEIRO – Mas o Brasil foi menos afetado pela crise do que os EUA e a Europa.
SILVA –  Isso acontece porque o dinheiro no Brasil não corre risco. Quem está em crise colocou dinheiro no risco, para gerar valor. Progrediram um bocado com isso, mas chegou o momento em que eles exageraram. Isso gerou um estoque de dívida mundial que não está sendo pago e que precisará ser perdoado de algum modo. Já por aqui nossos bancos estão bem porque não correram risco algum. Quem corre risco no Brasil é o empreendedor, o empregado, o produto e a empresa. Esses quebram. Mas isso dificilmente acontece com os bancos aqui no Brasil.
DINHEIRO – Na prática, como usar o dinheiro para criar riqueza?
SILVA –  Veja a quantidade de dinheiro que o governo arrecada via impostos. Se ele alocasse uma parte desses recursos para gerar capital de risco para financiar novas empresas, como a Embraer, você teria resultado. Não seria preciso muito, não mais do que uns 2% ou 3%. Veja só: o governo deve ter alocado uns R$ 80 milhões para criar a Embraer, e isso é o que ela fatura hoje em cinco dias. É um retorno extraordinário.
DINHEIRO – Como ex-presidente da Petrobras, como vê os vazamentos de petróleo na perfuração da Chevron?
SILVA –  O que fica claro é que vamos ter que desenvolver mais a tecnologia para explorar o pré-sal. E fazer parcerias, tal como fizemos na Embraer. Trouxemos partes, peças e equipamentos de vários fornecedores de outros países. E formamos recursos humanos de altíssimo nível por meio do Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Juntamos esses dois recursos e trabalhamos a partir disso. É o que a Petrobras vai ter que fazer, aproveitando os cursos universitários que têm surgido na área do petróleo.

E POR AÍ VAI..........................................

Treinador esportivo é suspenso e tem que se desculpar por dar opinião em ditadura

Nesta terça-feira, o Miami Marlins, franquia de Major League Baseball (MLB), anunciou que o técnico da equipe, Ozzie Guillén, foi suspenso por cinco partidas devido a comentários sobre Fidel Castro feitos em entrevista recente à revista americana Time.

À publicação, Guillén disse "respeitar" Castro porque "muita gente quis matá-lo nos últimos 60 anos, mas o filho da p... ainda está lá".

"Os Marlins reconhecem a seriedade dos comentários atribuídos a Guillén", informou a franquia, em comunicado publicado em seu site oficial.

Nos últimos dias, Guillén havia pedido desculpas(?) por seus comentários, dizendo estar "100% contra o modo como este homem (Castro) tem tratado as pessoas pelos últimos 60 anos". Mesmo assim, ele foi suspenso por cinco jogos pelo Miami com efeito imediato.

Guillén, 48 anos, é venezuelano e recebeu a cidadania americana em 2006. Ele estreou na liga americana como jogador em 1985 pelo Chicago White Sox e defendeu ainda Baltimore Orioles, Atlanta Braves e Tampa Bay Devil Rays.

Vasto e profundo comentário do Esquerdopata:
Gemza, já dizia a dona Rosa: "Liberdade é a liberdade de ser contra". Liberdade de ser a favor existia sob Stalin, Hitler e Médici, a única liberdade que conta é a de ser contra. O tal técnico nem sequer defendeu a Revolução Cubana ou Fidel, só fez um comentário engraçadinho, mas se estivesse num país democrático poderia, sim, defender livremente Fidel. Se não pode é porque a liberdade de expressão tem tanto valor nos EUA quanto a busca da paz e da convivência pacífica entre os povos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A internet e a rebelião dos homens

Por Mauro Santayana, em seu blog:

Imagine o leitor que em fevereiro de 1848 já houvesse a rede mundial de computadores. Vamos supor que, em lugar de imprimir os primeiros e poucos exemplares do Manifesto Comunista, Marx e Engels tivessem usado a internet, de forma a que todos os trabalhadores europeus e norte-americanos pudessem ler o texto. Qual teria sido o desenvolvimento do processo? Como sabemos, o ano de 1848 foi de rebeliões operárias na Europa, reprimidas com toda a violência.



O capitalismo selvagem de então, um dos filhos bastardos da Revolução Francesa, sentiu-se animado pela derrota dos trabalhadores. Na França a burguesia tomou conta do poder e, derrotada a monarquia, assumiu-o sem disfarces e sem intermediários, em um período que os historiadores denominam de “A República dos homens de negócios”. Os trabalhadores e intelectuais tentaram, mais tarde, em 1871, logo depois de a França ser derrotada pelos alemães, criar um governo autônomo e igualitário em Paris. Com a ajuda dos invasores, o Exército de Thiers executou 20.000 parisienses nas ruas.

As manifestações populares dos países árabes, que os governos e a imprensa dos Estados Unidos e da Europa saudaram como o fim dos tiranos e o início da democratização do mundo islâmico, entram em nova etapa, ao atingir os países ricos. Os analistas apressados são conduzidos a rever suas conclusões. O mal-estar que levou os povos às ruas não se limita ao norte da África: é fenômeno mundial.

Uma das contradições do capitalismo, principalmente nessa nova etapa, a do imperialismo desembuçado, no qual os governos nacionais não passam de meros servidores dos donos do dinheiro, é a de sua incapacidade em estabelecer limites. Hoje, nos Estados Unidos – que foram, em um tempo, o espaço para a realização de milhões de pessoas mediante o trabalho – a diferença entre os ricos e os pobres é maior do que durante toda a sua História, incluído o tempo da escravidão. Um por cento da população norte-americana detém 40% de toda a riqueza nacional. A mesma situação se repete em quase todos os paises nórdicos.

Quando redigíamos este texto, milhares de pessoas se encontravam acampadas no centro de Madri, em continuidade ao movimento Democracia Real, Já, que se iniciou em 15 de maio, com protestos em todas as grandes cidades espanholas. A Espanha hoje está dominada pelos grandes banqueiros e companhias multinacionais, que não só exploram o trabalho nacional, como vivem de explorar os paises latino-americanos. Bancos como o Santander – cujos resultados mais expressivos ele os obtém no Brasil – dividem com os dois partidos que se revezam no poder (os socialistas e os conservadores) o resultado do assalto à economia do país. É contra esse sistema odioso que os espanhóis foram às ruas, e nas ruas continuam.

Não são apenas os jovens desempregados que se indignam. São principalmente as mulheres e homens maduros, os que estimulam o movimento. Eles sentem que seus filhos e netos estarão condenados a um futuro a cada dia mais tenebroso e mais violento, se os cidadãos não reagirem imediatamente. Os espanhóis estão promovendo a articulação internacional de movimentos semelhantes, que ocorrem em outros países, como a Islândia, a França, a Inglaterra e mesmo os Estados Unidos. Se o sistema financeiro se articulou, com o Consenso de Washington e os encontros periódicos entre os homens mais ricos do planeta, a fim de dominar e explorar globalmente os povos, é preciso que os cidadãos do mundo inteiro reajam.

Marx queria a união de todos os proletários do mundo. O movimento de hoje é mais amplo e seu lema poderia ser: Seres humanos do mundo inteiro, uni-vos.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Ah, se a elite ouvisse o povo… Bem, às vezes ouve. E ainda pagando…



Poucas coisas são tão terríveis no Brasil quanto o desprezo histórico que a elite econômica brasileira tem pelo seu povo. Duvido que os empresários japoneses falem mal de seu povo, ou que os magnatas dos EUA tenham uma postura de desprezo pelos cidadãos norteamericanos. Bem, aqui, nem é preciso falar, não é? É “povinho”, quando não acompanhado daquele adjetivo que Fernando Henrique usou para falar dos aposentados…
Por isso, é muito interessante ler a bela reportagem de Vanessa Adachi, no Valor Econômico de hoje, descrevendo a palestra de Lula para empresários, num evento promovido pelo Bank of América em São Paulo. Como o acesso é só para assinantes, reproduzo alguns trechos:
“Eu nunca votei no Lula e nunca votarei. Mas vim por causa dele.” Essa era a afirmação mais repetida na noite de quarta-feira em dezenas de rodinhas formadas por empresários, banqueiros, executivos e advogados que lotaram o amplo salão da Casa Fasano, templo de festejos luxuosos da elite paulistana.
Pouco mais de 450 pessoas se espalharam pelo espaço de pé direito altíssimo e paredes de intrigante transparência, que deixam ver os aviões que cruzam o céu. O Bank of America Merrill Lynch, um dos maiores bancos dos Estados Unidos, era o anfitrião da noite e comemorava a autorização do Banco Central do Brasil para que a instituição passe a operar como banco múltiplo, ampliando sua atuação no país.
Alexandre Bettamio, presidente do BofA no Brasil, provavelmente também não votou em Lula em 2002 ou 2006. Mas elegeu o ex-presidente para ancorar o mais importante evento já realizado pela instituição no país apostando que seria um grande chamariz. A escolha foi certeira.
Lula tem cobrado cachê de “palestrante global”. No caso, o valor não confirmado pelos assessores do presidente ou pelo banco, de quase R$ 200 mil, incluía discurso de 45 minutos seguido de mais meia hora de “social” pelo salão. O contrato foi cumprido à risca e, talvez sensível à praxe do setor financeiro, o ex-presidente concedeu um bônus aos banqueiros e falou por 1 hora e dois minutos. Parte da plateia nunca havia tido a oportunidade de estar tête-à- tête com o ex-presidente. Outros queriam vê-lo falar de novo e esperavam “se divertir” com o discurso bem humorado. Pouco depois das 20 horas o salão já estava cheio e, por volta das 21h30, quando Lula começou a falar, o público se aglomerou ao seu redor, abrindo um clarão ao fundo. Aguentaram firme, em pé, por mais de uma hora. (…)
Lula fez uma palestra sob medida para o público presente. Temas como a explosão do crédito consignado e o desenvolvimento do mercado de capitais foram cuidadosamente escolhidos para rechear a fala. Munido de um discurso oficial de cinco páginas, Lula fez a alegria dos presentes ao abusar de seus famosos improvisos. “He speaks very well”, dizia um executivo brasileiro a outro, estrangeiro, no meio do salão.
Arrancou gargalhadas sinceras e mesmo aplausos, em diversos momentos, ao debochar do que seria o estereótipo da forma de pensar da elite brasileira. “Tem gente que fala: esse Lula colocou os pobres no lugar que só nós viajávamos”, afirmou, por exemplo, ao referir-se ao fato de “os pobres” estarem viajando de avião. Mais tarde, disse que muita gente começa a falar inglês antes mesmo de sair do aeroporto, só para mostrar que sabe.
Apelou para a emoção e deixou a plateia silenciosa ao falar do Programa Luz para Todos e descrever que “quando chega a luz elétrica na casa de uma pessoa é como se você, num passe de mágica, pegasse uma pessoa do século 18 e trouxesse para o século 21. É como se fosse a máquina do tempo.”
Lula queria provar, caso alguém ali ainda tivesse dúvida, que a política de seu governo fez bem ao empresariado. Já perto das 22h30 e do fim de sua palestra, quando a audiência se mostrava um pouco cansada com a longa fala do ex-presidente, ele arrematou: “Eu sei que tem gente que tem preconceito contra mim. Mas eu desafiaria qualquer um de vocês: eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato.”(…)
“Ele é muito bom”, “ele é muito inteligente”, “agora dá para entender [a sua popularidade]“, saíram falando aqueles que nunca votariam nele.
Das poucas pessoas dentro da Casa Fasano que haviam votado em Lula, duas copeiras não escondiam a excitação com a presença de seu ex-presidente. Difícil foi encarar a frustração de não poder vê-lo: muito profissionais, não abandonaram o posto e ficaram confinadas no banheiro feminino durante quase toda a noite, prestando assistência às convidadas.
Pois é. As copeiras (brasileiras) “muito profissionais, não abandonaram o posto”Quando os nossos figurões aprenderem que elas também podem dar um pulo no salão, realizarem seu desejo – nem que seja o de ver Lula de perto, apenas – e entenderem que aquele que admiram e pagam caro para ouvir pôde chegar ali e fazer o que fez com o voto delas, não com o deles.