Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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domingo, 5 de abril de 2015

O Jesus que não vai ressuscitar hoje – nem nunca

jesus capa
Se o Brasil precisava de um simbolismo para alertar a sociedade quanto à ascensão dessa direita hidrófoba, racista, misógina, homofóbica que estamos vendo, não precisa mais.
Escrevo no domingo de Páscoa. Hoje, pela fé cristã, a ressureição de Jesus Cristo completou 1982 anos. Filho da mulher chamada Maria, tombou vitimado pela ignorância, pela covardia e pela mesma ferocidade humana que quase dois milênios depois levaram um Jesus de novo.
O Jesus que a iniquidade humana levou na semana passada não era Cristo, não era loiro, branco nem adulto; era Ferreira, era negro e era uma criança.
O Jesus que um arremedo de homem levou não curou enfermos, não transformou água em vinho, não operou qualquer milagre. Apesar de também ter nascido de uma mulher chamada Maria, não deixou “salvação” com a sua morte.
Ao contrário: a morte do menino nos imputa culpa. Somos culpados, os brasileiros, por permitirmos que o fascismo tenha ascendido ao ponto de estarmos discutindo o encarceramento de jovens que deveríamos educar.
À semelhança de Jesus Cristo, porém, Jesus Ferreira também virou vítima da difamação: ontem, pelos Romanos; hoje, pela direita furibunda que vai se apossando da nação: estão espalhando por aí que a criança morta pelo Estado era criminosa.
Arremedos de seres humanos espalharam pelas redes sociais imagem de um garoto do mesmo porte físico de Jesus segurando um fuzil, tentando fazer crer que um e outro são a mesma pessoa.
jesus
Suspeita-se que a trapaça tenha sido urdida pelos defensores da redução da maioridade penal, que querem justificar a própria estupidez com uma mentira tão hedionda que obrigou a professora do Jesus contemporâneo a vir a público esclarecer que seu aluno não era bandido.
jesus 1
Apesar de algumas poucas semelhanças, as enormes diferenças entre o Jesus bíblico e o Jesus contemporâneo se completam com a não-ressurreição de Jesus Ferreira. Ele não ressuscitará ao terceiro dia. Nem nunca. A menos que não deixemos sua lembrança morrer.
Em um tempo em que os ideais são tão escassos, porém, tal esperança parece otimismo exagerado.
Como esperar que o simbolismo impressionante da morte do Jesus carioca ajude a salvar não a humanidade, mas o país dessas bestas-feras que querem jogar crianças em masmorras medievais? Estamos caminhando para a estupidez, não para a sabedoria.
Perdoe-me, leitor, mas não tenho mais esperança. Vendo o mundo vil que temos hoje, a conclusão parece inescapável: Jesus Cristo, há 1982 anos, morreu em vão tanto quanto Jesus Ferreira, semana passada.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CIENTISTA SOCIAL: “A PERIFERIA NUNCA DORMIU”

quarta-feira, 31 de julho de 2013

PROTESTO 'FORA, ALCKMIN' TERMINA EM CONFRONTO

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Juíza de Pinheirinho, uma especialista. Esse Machado de Assis …

Como diria o Machado – “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Cap. II – , uma ideia pendurou-se no trapézio que tinha no cérebro e me levou da notável entrevista da Juiza Marcia Loureiro, de São José dos Campos, a Hannah Arendt.

A Juíza é aquela que decidiu dar reintegração de posse ao grande “financista” Naji Nahas  – como diz o Elio Gaspari, colonista (*) da Folha (**) e do Globo.

(A dois pernambucanos, o Globo deu outro tratamento, neste domingo.)

A Juíza Marcia Loureiro demonstrou ser uma exemplar técnica do Direito.

Seus argumentos dentro e fora dos autos são irretocáveis.

Breve, com certeza, chegará a desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo.

É uma especialista em Direito.

O trapézio foi, voltou, foi e o ansioso blogueiro pousou na página 274 do portentoso livro “Eichmann em Jerusalém – relato sobre a banalidade do mal”, de Hannah Arendt, edição da Companhia das Letras, São Paulo, 2000.

Trata-se da versão ampliada da reportagem que fez para a revista The New Yorker sobre o julgamento do carrasco nazista em Jerusalém.

Arendt reproduz os últimos momentos de Eichmann e o que ele diz, depois de tomar meio copo de vinho tinto, que tinha pedido:

“Dentro de pouco tempo, senhores, iremos encontrar-nos de novo. Esse é o destino de todos os homens. Viva a Alemanha, viva a Argentina, viva a Áustria. Não as esquecerei.”

“Diante da morte” – continua Arendt – “encontrou o clichê usado na oratória fúnebre. No cadafalso, sua memória lhe aplicou um último golpe: ele estava ‘animado’, esqueceu-se de que aquele era seu próprio funeral.”

“Foi como se naqueles últimos minutos estivesse resumindo a lição que este longo curso de maldade humana nos ensinou – a lição da temível banalidade do mal, que desafia as palavras e os pensamentos.”

“Banalidade do mal” – Arent pagou caro por essa expressão.

Muitos intérpretes consideraram que o mal praticado por Eichmann não era banal.

Mas, Eichmann era.

Banal.

A epígrafe do livro é devastadora:

“Ó Alemanha …
Ouvindo as falas que vêm da tua casa, rimos.
Mas quem te vê corre a pegar a faca.”
Bertolt Brecht

O mesmo trapézio machadiano continuou a balançar e conduziu, agora, o ansioso blogueiro, ao filme “The Specialist”- “o extraordinário julgamento de um assustador homem comum”.

O filme é de Eyval Sivan e Rony Brauman, a que o ansioso blogueiro assistiu no templo do Film Forum, na rua Houston, a oeste da Sexta Avenida, em Nova York.

O filme é apenas a edição das imagens oficiais do julgamento, em que Eichmann aparece o tempo todo dentro de uma jaula de vidro.

O trecho em que dá vontade de pegar uma faca é quando ele descreve os cálculos que fez  – ele se dizia engenheiro e não era – oh !, maldita coincidência ! – para acomodar o maior número de judeus num único vagão da composição que levava aos campos de Pinheirinho, digo, aos campos de extermínio.

Ele reproduziu os cálculos.

Tantos centímetros quadrados por judeu de pé.

Quantas malas, de qual cubagem e a área disponível em cada vagão.

(Dependia do tipo do vagão, de quantas malas deixava transportar.)

O trapézio levou o ansioso blogueiro de novo a Machado:

“Na sociedade, como a criaram, as peças têm que ficar onde estão, bispo é bispo, cavalo é cavalo.” (“Bolas de estalo”, 30 de novembro de 1885, segundo Raymundo Faoro, em “Machado de Assis: A pirâmide e o trapézio”, Editora Globo.

Maldito trapézio !


Paulo Henrique Amorim


(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Medo e revolta marcam o Natal das vítimas da Favela Moinho

Neste domingo de Natal estive com familiares na favela Moinho, em São Paulo, para fazermos nossa doação anual de Natal. Escolhemos aquela comunidade após tomar conhecimento da precariedade da situação das vítimas do incêndio de grandes proporções que houve por lá na manhã da última quinta-feira, 22 de dezembro.
Veja, abaixo, o vídeo que gravamos no local. Em seguida, outras informações sobre o caso.


O local da tragédia fica relativamente próximo à Cracolândia paulistana. Ao chegarmos lá, fomos informados pela única pessoa que encontramos de que as doações, agora, deveriam ser entregues ao colégio Liceu Coração de Jesus, a poucas quadras dali, porque pessoas da comunidade estariam recolhendo doações com a finalidade de “trocar por drogas”.
Seguimos as instruções, fomos ao colégio e lá deixamos o que teríamos preferido entregar diretamente às vítimas do incêndio, até porque levávamos presentes às crianças. Todavia, alguma coisa nos fez desconfiar de que algo estava errado. A mulher que nos induziu a entregar as doações ao colégio parecia querer que saíssemos logo do local.
Após sair do colégio, decidimos voltar à favela – que, diga-se, só foi queimada parcialmente, tendo sua maior parte sido preservada. Espantamo-nos com a quantidade de pessoas que encontramos perambulando pelas ruas como zumbis.
Apesar de estarmos próximos à Cracolândia, onde é comum ver pessoas nessa situação, aquelas que víamos não eram consumidoras de drogas de forma alguma, mas apenas desabrigados ainda desorientados por uma tragédia que descobriríamos ainda maior do que imaginávamos.
Começamos a conversar com as pessoas que perambulavam pela região e depois recorremos aos moradores das casas no entorno da favela. Em todos aqueles com os quais conversamos foi possível perceber dois sentimentos gritantes: medo e revolta.
Segundo esses vários entrevistados, apesar de a mídia estar dizendo que até agora só foram encontrados três mortos haveria pelo menos trinta vítimas fatais, muitas delas crianças. Essas vítimas seriam, em maioria, do prédio abandonado que também queimou junto com os barracos e no qual viveriam muitas famílias.
O mais chocante, porém, foi uma informação repetida por praticamente todos os entrevistados, de que receberam “ordem da polícia” para não revelar o número estimado de vítimas fatais e de que haveria muitos corpos no interior do edifício destruído pelas chamas, o qual ainda não foi devidamente vasculhado porque corre o risco de desabar.
Apesar disso, foi possível ver pessoas da comunidade vasculhando os andares do prédio. E a única autoridade que vimos foi um membro do corpo de bombeiros do lado de fora do prédio. De resto, nem sombra do Estado. O local está abandonado, ainda que a vida na parte da comunidade que não queimou pareça transcorrer normalmente.
Nos últimos anos, incêndios em favelas em São Paulo viraram tão rotineiros quanto agressões a homossexuais na avenida Paulista. Esses fenômenos só confirmam o que já se sabia, que a cidade foi entregue ao que existe de pior na política brasileira. O resultado do voto irrefletido pode ser visto nessas imagens deprimentes.
Roguemos a Deus, neste dia de Natal, que tenha piedade de São Paulo e que, assim, ilumine seu povo para que na eleição municipal do ano que entra tire do poder essa quadrilha que tomou a administração da cidade e do Estado, pois viver aqui vai se tornando aterrorizante e desolador.
—–
Após gravar o vídeo acima, em busca de confirmar alguma das informações que recolhi em minha incursão no local da tragédia deparei com essa reportagem do UOL. Veja:
25.12.2011
Associação diz que 29 moradores de favela que pegou fogo estão desaparecidos
A Associação de Moradores da Comunidade do Moinho fez uma lista com 29 pessoas que ainda estão desaparecidas desde o incêndio que devastou mais de 300 barracos da favela na manhã de ontem (22).  O levantamento foi feito com base em informações de famílias que ainda não encontraram parentes, segundo informou Humberto José Marques Rocha, vice-secretário da associação.
Pelo menos duas pessoas morreram carbonizadas e quatro ficaram feridas no incêndio. Hoje, os bombeiros encontraram por volta de 8h45 o corpo da segunda vítima. O trabalho de rescaldo foi encerrado por volta de 18h desta sexta. A prefeitura contabilizou mais de 300 barracos destruídos.
O aposentado José Ribamar Rocha, 67, que mora há nove anos na favela, acredita que mais pessoas tenham morrido no incêndio. Ao lado da comunidade, há um prédio abandonado, onde moravam famílias sem-teto e era frequentado por usuários do drogas. “O prédio estava superlotado. Moravam umas 250 famílias lá. Tem muita gente que dormia lá e não vivia com nenhum parente”, afirma.
As chamas foram contidas a poucos metros dos barracos do aposentado. A área que está isolada pelos bombeiros começa exatamente ao lado do lugar onde Rocha vive. “Foi sorte que não aconteceu nada [com o barraco]. Ganhei na loteria.”
Aline Lourenço da Silva, desempregada, acredita que haja mais vítimas, já que no momento do incêndio havia muitas pessoas gritando no prédio. “Não tinha como sair dali. Teve gente que viu a pessoa pedindo socorro, mas não conseguiu ajudar”, relembra.
O prédio continua interditado pela Defesa Civil por risco de desabamento. As duas linhas da CPTM (7-Rubi, 8-Diamante) que passam ao lado da favela não estão funcionando nos trechos próximos ao local atingido pelo incêndio.
Destino das famílias
Segundo o coordenador da Defesa Civil municipal, Jair Paca de Lima, 430 famílias foram cadastradas pela Secretaria de Assistência Social.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), que foi recebido com protesto de moradores, disse que as famílias do local já estavam cadastradas em programas sociais da prefeitura e agora serão encaminhadas para abrigos –e se não houver abrigos suficientes, afirmou ele, a prefeitura vai construir mais unidades.
A prefeitura disse posteriormente, em nota, que “todas as famílias que tiveram seus barracos atingidos pelo incêndio serão incluídas em programas habitacionais da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab)”. Os ministros Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) visitaram o local e ofereceram ajuda federal.
Parte das famílias procurou abrigo em casas de amigos e parentes. Outras foram alojadas provisoriamente no Clube Raul Tabajara, na Barra Funda.
Além dos moradores do prédio abandonado, viviam na favela 532 famílias, que totalizavam 1.656 moradores, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre os aglomerados urbanos no Brasil, divulgado na última quarta-feira (21).

Área da favela é alvo de disputa
A área onde está a favela do Moinho vem sendo alvo de disputas judiciais entre a prefeitura e os moradores nos últimos anos. A favela surgiu há cerca de 30 anos, quando um grupo de moradores ocupou uma área da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA). A empresa foi extinta em 2007 e todos os seus bens repassados à União. Antes, em 1999, o terreno foi leiloado a Mottarone Serviços de Supervisão, Montagens e Comércio Ltda. para saldar as dívidas tributárias da RFFSA.
Em 2006, em reunião de conciliação com a prefeitura, a Mottarone demonstrou interesse em doar o terreno para que fosse destinado aos moradores da favela, mas a prefeitura não aceitou a proposta, sob o argumento de que não era possível alojar as famílias no local.
No mesmo ano, Kassab emitiu decreto de “utilidade pública para fins de desapropriação”, medida que obriga o proprietário a ceder o terreno mediante indenização. No ano seguinte, a prefeitura entrou na Justiça com uma ação de desapropriação da área.
Em resposta, os moradores se associaram ao Escritório Modelo da PUC (Pontifícia Universidade Católica) –entidade conveniada à Defensoria Pública para defender os interesses de comunidades carentes– e entraram na Justiça com ação coletiva de usucapião em 2008. A medida é válida para famílias que morem em um local por mais de cinco anos e garante a propriedade do imóvel.
O processo está na 17ª Vara Cível do Fórum Ministro Pedro Lessa. Os moradores garantiram na Justiça o direito de aguardar o fim do julgamento morando na favela do Moinho.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

MÍDIA E PRIVATARIA: AS SIRENES DO SILÊNCIO

**IBGE: Brasil tem uma população favelada equivalente a uma cidade de São Paulo inteira: mais de 11 milhões de pessoas , 6% dos brasileiros** e a coalizão demotucana ainda diz que política social neste país é 'gastança'** BCE empresta meio trilhão de euros à banca européia ** meta: atenuar a seca do crédito interbancário; encorajar a banca a adquirir títulos de Estados semi-insolventes e voltar a emprestar aos consumidores** risco é o dinheiro ficar empoçado no próprio sistema financeiro** nos EUA, por exemplo, os investidores acabam de estacionar US$ 30 bilhões em títulos do FED que oferece rendimento igual a zero: preferem zero de lucro aos riscos de emprestar para a produção e o consumo** a circularidade das finanças salva os bancos, mas não a sociedade

Passados 11 dias desde o lançamento de 'A privataria Tucana', de Amaury Ribeiro Jr,os colunistas de política da Folha --Clóvis Rossi, Fernando Rodrigues, Catanhede e Lo Prete--  mantém um pacto de silêncio e cumplicidade em relação às denúncias de corrupção ali reunidas. A omissão coletiva e deliberada diante do documento político mais explosivo dos últimos anos lança uma suspeita de parcialidade sobre tudo o que já escreveram ou possam escrever sobre o tema que agora evitam. Há casos em que o silêncio jornalístico grita mais do que as sirenes que pretende abafar. Esse é um deles. Nesta 4ª feira, às 19 horas, no Sindicato dos Bancários de SP, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa 'Barão de Itararé' promove debate sobre o livro de Amaury Ribeiro; presentes, além do autor, o jornalista de Paulo Henrique Amorim e o deputado Protógenes Queiróz, autor do requerimento de CPI sobre o tema, protocolado hoje com 206 assinaturas. Reabrir a discussão sobre o patrimônio público alienado do país depende agora do PT e da base aliada do governo.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vermelho: Nova classe média brasileira ainda vive em favelas e cortiços

30 de Agosto de 2011 – 20h13
Nova “classe média” do Brasil fica na faixa da pobreza francesa
do Vermelho
Estudo divulgado hoje pelas agências de notícias informa que a crise econômica arrastou milhões de franceses para a faixa de pobreza. O número de pobres sobe a 8,2 milhões, ou 13% da população. Mas é bom notar que os critérios sociológicos daquele país divergem dos usados no Brasil. Aquilo que por aqui o pensamento dominante chama de classe média emergente ou nova classe média não seria mais do que um pobre na França.
Os franceses consideram pobre o cidadão que ganha menos de 954 euros por mês, o que equivale, ao câmbio atual, a cerca de R$ 2,2 mil. Já por aqui, uma família com renda mensal superior a R$ 1.126,00 ultrapassa a linha de pobreza e é classificada como classe média pelos critérios usados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), largamente difundidos.
Classe média favelada
Apesar das diferenças relacionadas ao custo de vida, o critério usado pelos franceses está muito mais próximo da verdade e a situação de um pobre naquele país europeu parece mais confortável com que a de um “classe média” emergente do Brasil. Até mesmo porque os franceses não têm de pagar por serviços de saúde de qualidade (é gratuito) e recebem subsídios para o aluguel.
Na capital de São Paulo, uma família da classe média emergente não teria renda para alugar um apartamento de dois quartos, que (estimando por baixo) não sai por menos de R$ 1 mil. Não é de estranhar, por isto, que muitos membros da nova “classe média” continuem morando em favelas e cortiços.

Conceito falso

O conceito de classe média que orienta os institutos de pesquisas e prevalece nos meios de comunicação é fundamentalmente falso e serve a propósitos ideológicos conservadores. Ele obscurece o fato de que a mobilidade social dos pobres verificada desde 2002 ocorreu principalmente pela incorporação, durante os governos Lula, de milhões de trabalhadores desempregados às atividades produtivas, bem como o aumento da massa salarial e dos salários, começando pelo mínimo.
Estima-se em cerca de 15 milhões o número de novos postos de trabalho formais gerados entre 2002 a 2010, derrubando a taxa de desemprego aberto nas seis maiores regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) dos 13% de 2003 para 6,5% em 2011, de acordo com o IBGE.
Mas a julgar pelo conceito dominante, que divide as classes por faixas de renda (A, B, C, D e E), não existe o que chamamos de classe trabalhadora ou proletariado; tampouco há lugar para a classe capitalista ou burguesia. A sociedade seria composta apenas por pobres e classes médias.
Classe trabalhadora
A mobilidade social significou, essencialmente, um movimento no interior da classe trabalhadora. Se julgarmos a realidade pelos critérios marxistas, que diverge radicalmente das concepções dominantes, o que vem sendo chamado de “nova classe média” na verdade é a classe trabalhadora, que vive da venda de sua força de trabalho, submete-se à exploração capitalista e ganha salários que cresceram nos últimos anos mas ainda permanecem em níveis miseráveis. Cerca de 70% dos trabalhadores e trabalhadoras recebem até três salários mínimos no Brasil.
O retrato que Ary Barroso fez da situação da força de trabalho brasileira no belo samba intulado Falta um zero no meu ordenado, composto em parceria com o grande flautista e parceiro de Pixinguinha, Benedito Lacerda, data de 1947 mas ainda não perdeu atualidade. Confira a letra abaixo:
Trabalho como louco
Mas ganho muito pouco
Por isso eu vivo sempre atrapalhado
Fazendo faxina
Comendo no “China”
Tá faltando um zero no meu ordenado
Tá faltando um zero
No meu ordenado
Tá faltando sola no meu sapato
Somente o retrato
Da rainha do meu samba
É que me consola
Nesta corda bamba

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sai o tró-ló-ló, entra o ti-ti-ti

Leio na Folha que José Serra recusou-se a responder às perguntas dos repórteres sobre a utilização de uma favela – e um “povo” – cenográficos em seu primeiro programa de televisão.
-Eu não vou comentar. Se a gente não toma cuidado, campanha se transforma em ti ti ti, bastidores, pesquisa e agora programa eleitoral. Eu não vou comentar. Se eu tiver uma estratégia, eu não vou dizer qual é a estratégia antes”
Nenhum jornalista, entretanto, perguntou sobre a utilização de crianças como atores, para saber se foi devidamente autorizada pelo juizado de menores, uma vez que se trata de trabalho infantil e, portanto, sujeito a autorização deste órgão.
A repercussão foi tão ruim que Serra vai providenciar num instante a remoção da “favela”.
Antes que o assunto pegue fogo, como acontece em tantas favelas paulistanas.Como dizia o saudoso Bezerra da Silva, malandro é malandro, mané é mané…