Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Quem quer crescimento de renda como o do Primeiro Mundo?




tela1


O ótimo blog de Fernando Nakagawa, no Estadão, dá hoje  conta de como anda a distribuição de renda nos países mais ricos.
Ele informa que “pobres e ricos perderam dinheiro com a crise que se arrasta há mais de cinco anos”.
Mas também registra que uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra, para variar, que o castigo foi bem maior para quem tem menos.
A renda média dos 10% mais ricos caiu a um ritmo anual de 0,78% entre 2007 e 2011, a perda da renda dos 10% mais pobres foi o dobro: 1,61% por ano.
O resultado detalhado está no gráfico lá em cima.
Coo eu não sou “economista” nem “jornalista econômico” que não consegue situar o Brasil dentro do mundo – embora todos eles encham a boca para falar em “globalização” –  fui buscar dados que permitissem uma comparação com o nosso país.
Como não achei uma que pegasse o período exato, coloquei dois, com base na Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, agrupados pelo IPEA, para que os mal-humorados não venham a invalidar a comparação.
Entre 2003 e 2011, os mais 10% mais pobres no Brasil tiveram um incremento de renda de 80,8%, ou média anual de 6,8%. Os 10% mais ricos também cresceram, mas 26,9%, ou média anual de 2,7%.
Na crise, entre 2009 e 2011, o décimo mais pobre cresceu 9,1% e o mais rico, 4%. Na média de taxas anuais, isso dá 2,95% e 1,32%.
Coloquei  estes os números no gráfico do Estadão, lá em cima e aqui embaixo.
Depois de vê-los, diga-me se você quer seguir as receitas que eles vivem nos dando.
Porque os muito ricos continuam ganhando, mas não suportam que não seja tudo, e que os pobres ganhem também.

tela2

quinta-feira, 19 de junho de 2014

NY TIMES E A COPA: "E O TAL DO MUNDO NÃO SE ACABOU"

quarta-feira, 18 de junho de 2014

BLOOMBERG: MULTINACIONAIS APOSTAM ALTO NO BRASIL

Vip’s blocs, Ilha Fiscal, camarote da vaia. Não foi à toa que não tocou a Marselhesa


Apresentamos os Yellows Brocs !



antonieta


Sensacional a vídeo-reportagem de Lígia Mesquita e Ana Virgínia Baloussier  sobre o pessoal do “agrega valor” vendo o jogo do Brasil nas festas de luxo em São Paulo.
Inacreditável.
O maior coeficiente de babaquice por metro quadrado que se viu desde Maria Antonieta.
Não mostre para as crianças.
Nem consigo imaginar o que seria “coxinha de ossobuco”.
O “rei do camarote” ficaria com inveja.
Comecei a entender porque não tocou a “Marselhesa” no jogo da França.
Foi ordem da segurança.
O pessoal podia confundir o que gritaram com a palavra pescoço em francês, né?
E achar que era uma conspiração comunista, como o Rodrigo Constantino, da Veja, viu na logomarca da Copa.
Ai, que saudades do Ibrahim…
Le churrasquin sûr la laje”  dá de dez a zero na peruagem paulistana.
Que pode achar que é aristocrata, mas é só endinheirada.
Só fico preocupado do José Simão perder o emprego.
O padrão Fifa do Brasil é de doer.

Teoria do garoto da Veja vira piada para jornalista do LA Times

Teoria do garoto da Veja vira piada para jornalista do LA Times

 
O garoto do site da Veja, Rodrigo Constantino deve ter deixado muita gente constrangida na editora. Após surfar pela rede, acreditou ter descoberto o ouro e disparou em sua coluna o texto “O logo vermelho da Copa”, em que pergunta ao leitor se “é paranoia ficar esquentando com esse 2014 em vermelho?" (ops) e continua "um leitor vai além, e diz que logo abaixo do número temos claramente a letra L em amarelo, referência ao ex-presidente Lula”.

Leia também: Alceu Valença desmente presença no jantar de apoio a Aécio Neves.
O próprio colunista reconhece que o "amarelo L" é demais (ainda bem), mas não recua em suas considerações quanto 2014 vermelho. “Propaganda subliminar? Provavelmente. Funciona? Deixo a resposta com os especialistas do ramo. Aqui, apenas desabafo, mostrando minha indignação com esse logo que pula diante de meus olhos a todo momento, com esse vermelho gritante e destoante que marca o ano eleitoral em que estamos. Não deveria ser… azul?" (podemos rir?).

E não é que o corresponde do LA Times aqui no Brasil, Vincent Bevins leu a pérola e resolveu mostrar sua perplexidade diante de tal “teoria da conspiração” do garoto Veja!. “Oh Lord. Brazil columnist arguing the red “2014” in World Cup logo is obvious socialist propaganda MT” (Oh Deus, colunista brasileiro defendendo que o vermelho 2014 na logo da Copa do Mundo é obviamente uma propaganda socialista). Ele ainda compartilhou os risos que arrancou de um de seus seguidores e também a sugestão de outro, para que Constantino verificasse o contrato junto com a agência que criou a arte.

Pelo visto, a má impressão que ficará para a imprensa estrangeira é da duvidosa linha editorial de alguns periódicos brasileiros. Então #ficaadica (link is external). Após surfar na internet, vale pesquisar um pouco mais sobre o tema.



MAIS UMA:

ESSA ANTA DO DIOGO MAIMERDA, DIGO, MAINARDI , NÃO SE CANSA DE APANHAR, PARECE MULHER DE MALANDRO. MAS, QUEM É ESSE BUNDINHA ?



O goleiro mágico, o pênalti reclamado, a torcida apática e o emocional da Seleção



Ainda que dez entre dez analistas esportivos e/ou políticos neguem até a morte, grande parte deles entende que o desempenho da Seleção pode influir no processo eleitoral. O mesmo vale para todos os agentes políticos, de qualquer dos lados. Se essa percepção é correta, ainda ninguém sabe. Mas muitos temem que possa ter fundamento.

O desempenho da Seleção influir nas eleições, porém, não interessa a ninguém – ao governo ou à oposição midiática. Essa possibilidade retira dos dois lados a condição de influir no processo, o que é ruim para ambos, pois o imponderável não obedece a lógicas político-ideológicas, a estratégias de marketing etc.
O mínimo que os políticos querem é poder, ao menos, depender das próprias estratégias.

Do ponto de vista de Dilma, por exemplo, ela está colhendo frutos da Copa independentemente do que a Seleção está apresentando em campo. As obras (estádios, aeroportos, obras de mobilidade etc.) estão funcionando. Só não vê quem não quer. Assim, a conquista do hexacampeonato pelo Brasil se somaria à satisfação de ver o país fazer boa figura diante do mundo em termos de organização do evento.
Do lado de Aécio Neves e Eduardo Campos, uma derrota do Brasil empanaria o sucesso da organização da Copa, reduzindo o bônus político da adversária.

Este texto, porém, de forma inusitada neste blog – que, raríssimas vezes, tratou de futebol – não versa apenas sobre política, mas sobre o que ocorreu no jogo com o México. E não é preciso ser muito entendido em futebol para entender o que ocorreu.
As análises da mídia partidarizada estão muito negativas, denotando má vontade com a Seleção. Por razões óbvias.

A má vontade midiática com a Seleção em 2014, aliás, começa a reproduzir a que lhe foi dispensada na Copa de 2010, até pelo técnico Dunga ter se tornado inimigo número um da Globo, ao menos naquele momento.

O Brasil, porém, não foi tão mal. O México é que foi muito bem. E não tanto pelo conjunto da equipe, mas por um goleiro que teve desempenho incomum. O mexicano Guillermo Ochoa operou o que os otimistas chamaram de “milagres”. Sem essa atuação, o México não teria ido mais longe do que a Croácia.
Até porque, os mexicanos levaram pouco perigo ao Brasil. Sim, deram alguns bons chutes a gol, mas nenhuma jogada ofensiva deles se comparou com as nossas em termos de possibilidade de terminar em gol.

O ataque mexicano foi tão débil que o goleiro Julio Cesar bateu o primeiro tiro de meta aos 24 minutos do primeiro tempo.

Há, ainda, uma dúvida razoável sobre o pênalti reclamado pelo lateral brasileiro Marcelo, que garante que, sem o toque no ombro que sofreu do defensor mexicano, teria partido para o gol. Poderia não ter marcado, mas toque no ombro por trás, dentro da pequena área, de acordo com as diretrizes da Fifa deveria resultar em marcação de pênalti.

Felipão tem razões concretas, portanto, para julgar que a gritaria – justificada ou não – em torno do pênalti marcado a favor do Brasil no jogo contra a Croácia pode ter inibido o juiz que apitou o jogo contra o México… E poderá inibir outros.

Há, ainda, um terceiro fator. A vantagem que o Brasil deveria ter tido por jogar em casa foi anulada pela torcida mexicana, mas menos por mérito desta – muito menor do que a brasileira – do que por culpa da torcida brasileira, visivelmente apática – em alguns momentos, a cantoria, as vaias e apoios da torcida mexicana abafaram a voz brasileira.

Mas, claro, nem tudo são flores. A Seleção poderia ter superado essas dificuldades se, assim como no jogo contra a Croácia, seu nervosismo não fosse tão flagrante que quase podia ser tocado com as mãos. A imagem dos jogadores brasileiros antes de o jogo começar revelou semblantes preocupantemente tensos. De novo.

Subjetivamente, aqui se afirma que Julio Cesar era o mais nervoso, apesar de que vários outros jogadores brasileiros estavam em condições psicológicas análogas. Se tivéssemos tido maior controle emocional, provavelmente teríamos superado a parede erguida por Ochoa e escorada, em alguma medida, pela defesa mexicana, bem mais consistente que o ataque.

Esse talvez seja o ponto mais preocupante da Seleção. Esperava-se que o nervosismo do jogo de estreia tivesse se exaurido naquele jogo, no qual seria até compreensível. Ao permanecer no segundo jogo, pela lógica se pode concluir que Felipão e a Comissão técnica não estão conseguindo preparar psicologicamente uma equipe jovem, mais permeável à insegurança.

A pressão que a mídia deverá continuar exercendo sobre a Seleção, preocupa ainda mais. Se a Comissão Técnica não conseguir trabalhar essa questão até o jogo com Camarões, a situação pode complicar. O Brasil não conseguiu aproveitar seu melhor nível técnico simplesmente porque os meninos tremeram na base.
Por fim, sobre a suposta influência político-eleitoral do resultado que a Seleção obtiver, não é desprezível. Os que têm inclinações políticas definidas não serão influenciados, mas, entre aquele terço volúvel do eleitorado, o bom ou mau humor gerado pelo resultado que a Seleção obtiver pode, sim, fazer diferença em uma eleição apertada.

A sombra do povo e a insônia dos grã-finos





É preciso aproveitar a oportunidade do debate para questionar o financiamento empresarial de campanhas eleitorais e a concentração da propriedade na mídia


Sebastião Velasco
Arquivo
 
Não bate! O clamor que tomou conta dos arraiais do conservadorismo brasileiro desde o anúncio do Programa Nacional de Participação Social, há alguns dias, decididamente não combina com a empáfia impostada de seus representantes políticos.

Como é que é? Aposentadoria antecipada para Dilma, seis meses antes do pronunciamento das urnas? De que vale o sarcasmo de Aécio e assemelhados, quando ele é desmentido cotidianamente por seu patente nervosismo?

Fernando Henrique Cardoso falava ao país em cadeia nacional, e estava tudo muito bem. Por que a cólera? Por que o afã em punir com os rigores de uma lei reinventada para esse propósito, toda vez que Dilma Roussef faz isso?

A mesma pergunta vale para o decreto 8.243. Mal publicado no Diário Oficial,  ele foi denunciada pelos porta-vozes acreditados do conservadorismo pátrio como peça axial do programa insidioso do PT de transformar em ditadura popular disfarçada nossa ainda frágil democracia.

Mas a incongruência entre o objetivo suposto e o instrumento empregado salta à vista. Um decreto não tem o condão de alterar a ordem constitucional do país. Exercício unilateral de poder do chefe do executivo, ele pode ser modificado -- ou simplesmente revogado  --  por outro decreto, em qualquer instante.

Ora, ninguém em sã consciência imagina que o governo venha a se lançar em obras de complexa engenharia institucional nos próximos meses. Terminada a Copa, a campanha eleitoral nas ruas, todos os esforços do PT estarão concentrados na tarefa de conquistar os votos necessários para manter os postos que detém no presente e conquistar outros novos.

Como essa é uma tarefa inglória, posto que o país rejeita o PT  -- assim nos garantem  -- e tudo que a ele se associa   não há porque perder o sono. A revogação do malfadado decreto será o primeiro ato do próximo Presidente da República.

Seria essa a atitude dos opositores se estivessem tranqüilos. Mas eles não estão tranqüilos. A ansiedade perturba-lhes o sono, e nas noites mal dormidas tomam sombras por seres reais assustadores, aos quais reagem com alarde como se verdadeiramente perseguidos.

Melhor assim. Ao expressar em palavras o sentimento de ameaça que os aflige esses personagens se descobrem e ao fazer isso se expõem à crítica. Se nenhum outro mérito tivesse, o decreto em questão mereceria aplausos por isso.

O que os seus detratores vêem de tão nocivo nele?  Um abuso de poder, um atentado à Constituição, uma tentativa perversa de manietar o Congresso, submetendo-o  à vontade de grupos orquestrados, parcamente representativos. 

Contra a sordidez desse propósito, que vem embalado na retórica enganosa da democracia participativa, os opositores defendem-se tirando do baú idéias arcaicas sobre o governo representativo. De acordo com estas, a vontade do povo se expressa na livre escolha de seus governantes. No intervalo entre uma eleição e outra, cabe aos cidadãos perseguir seus interesses privados, nos limites da lei, atentos tanto quanto possível à gestão da coisa pública.  Mas isso eles não podem fazer solitariamente. Para tanto, necessitam de fontes críveis de informação e da possibilidade de trocar idéias sobre os problemas em pauta. A liberdade de expressão é inerente, pois, a essa forma de governo, que tem na opinião pública a sua contrapartida. É esta que faz a ponte entre representantes e representados no curso rotineiro da vida política.

O problema com essa concepção, que passou a salpicar as páginas dos jornais nos últimos dias, é que ela tem muito pouco a ver com a maneira como funcionam as democracias contemporâneas. E muito menos ela tem com a operação real de nossa organização política.

Ao dizer isso não penso apenas na existência consolidada de Conselhos, Fóruns e outros mecanismos de diálogo e aconselhamento, que vêm se multiplicando nos mais diversos ramos da administração pública brasileira já há muito tempo. Nem nas relações simbióticas entre o Banco Central e o mercado financeiro, que constituem um elemento estrutural publicamente reconhecido da política de metas inflacionárias em vigor no País desde o final da década de 1990. 

Refiro-me à posição estruturalmente privilegiada que os detentores do poder econômico desfrutam em qualquer sociedade capitalista, e do franco acesso aos centros decisórios que tal condição lhes faculta. Situação geral que se vê reforçada no Brasil pelos índices escandalosos de concentração de renda e riqueza, e pela qualidade deplorável, com as exceções de praxe, da grande imprensa falada e escrita, quase inteiramente controlada entre nós por um punhado de famílias.

A Política Nacional de Participação Social assusta porque encerra a promessa de corrigir parcialmente esse viés  --  para o bem da gestão das políticas públicas e a qualidade de nossa tão imperfeita democracia. E assusta tanto mais porquanto dentro de alguns meses a promessa pode começar a ser cumprida.

A ofensiva contra os Conselhos tem, portanto, caráter eminentemente defensivo. Com ela os conservadores pretendem levar o governo a recuar desse projeto, antes mesmo que a batalha das urnas seja ferida.

Mas por isso mesmo a resposta a ela não pode ser tímida. Não se trata de defender o decreto 8.243, e com ele todos os mecanismos de representação social que hoje existem. É preciso aproveitar a oportunidade do debate para questionar o financiamento empresarial de campanhas eleitorais e a concentração da propriedade na mídia. Em uma palavra, diante do ataque a reação correta é partir para cima.

Mas não se atormentem, senhores e senhoras. Para cima na luta de idéias. Para cima, no bom sentido.


(*) Professor Titular de Ciência Política da Unicamp; membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI).

terça-feira, 17 de junho de 2014

A 'turma dos anos 90' e a pigarra da história

O maior desafio de Aécio Neves reside naquilo que fez a convenção do PSDB parecer uma daquelas tertúlias de aposentados gabolas.

por: Saul Leblon

Divulgação













A convenção do PSDB  que oficializou  Aécio Neves como candidato  tucano, no último sábado, foi tão marcante que o  principal destaque ficou por conta do que não houve.
 
O partido adiou, mais uma vez,  o anúncio do  vice em sua chapa.
 
A 19 dias de esgotar o prazo para o registro das candidaturas, o problema de Aécio é saber quem desagrega menos.
 
Não é uma escolha  fácil.
 
O repertório vai  de um impoluto Paulinho ‘Boca’, da Força Sindical,  ao demo Agripino Maia, ou talvez o híbrido de  pavão e tucano, Tasso Jereissati , ambos, como se sabe, referências  de enorme apelo popular. Correndo  por fora, a opção puro sangue,  Aécio – Serra, reúne afinidades  equivalentes  à convergência entre o  fósforo e a pólvora.
 
O dilema não é novo no PSDB. O  ex-governador  José Serra viveu problema semelhante em 2010.
 
A indecisão quanto ao nome que o acompanharia na derrota para Dilma  começou justamente quando  Aécio tirou o corpo fora, recusando a vaga que hoje oferece ao rival.
 
Sem opções que agregassem voto, tempo de TV ou base no Congresso (caso, pelo menos, do marmóreo vice de Dilma, o pemedebista Michel Temer), Serra postergou a decisão até o limite final, para então protagonizar  o abraço de afogado com um jovem demo.
 
Tal qual emergiu, Índio da Costa (DEM-RJ) submergiria  para a eternidade do anonimato após a derrota.
 
A dificuldade com o vice é sintomática da representatividade dos aliados.
 
Mas não é o principal obstáculo  para ampliar o teto da candidatura conservadora.
 
Passada a fase alegre da postulação interna contra rivais destroçados,  Aécio  terá que dizer ao país a que veio.
 
Seu maior desafio  reside naquilo que fez  a convenção de sábado  parecer uma daquelas tertúlias típicas de  aposentados   gabolas.
 
O celofane da mocidade mineira talvez seja insuficiente para conter o cheiro de naftalina que irradia das imagens  sempre que a ‘turma dos anos 90’, integrada por Serra, FHC, Pimenta da Veiga, Agripino e assemelhados  se junta para renovar o formol do velho projeto.
 
Por mais que a palavra mudança seja evocada por entre cenhos franzidos, comissuras enérgicas e punhos  erguidos, não cola.
 
Não há pastilha Valda que conserte a pigarra da história.
 
A  esperança em um futuro crível  para a economia e a sociedade  é incompatível com a regressão  apregoada pelos defensores de um modelo  que, a rigor,  não dispõe mais de força nem de consentimento para se repetir.
 
Para entender o porquê  é preciso enxergar os ingredientes que fizeram o fastígio da hegemonia neoliberal no final do século XX.
 
A saber.
 
Três décadas de arrocho sobre o rendimento do trabalho nas principais economias ricas, facilitado pela ascensão industrial chinesa; um contrapeso de crédito farto ao consumo  –e em muitos casos, irresponsável, como se viu na gota d’água das subprimes e, finalmente, por sobre o conjunto, uma untuosa camada de mimos tributários que rechearam os cofres dos endinheirados , contribuindo para a superliquidez  que caracterizou a praça mundial  durante décadas.
 
Foi sobre essa base de Estado mínimo com desonerações para os ricos, renda e trabalho esfacelados, que se deu o auge e o colapso do modelo. Um movimento inscrito dentro do outro, como em uma sinfonia.
 
O arranjo  só não desafinou  antes, repita-se, graças à válvula de escape de endividamento maciço de Estados e famílias, propiciado pela desregulação  que liberou a banca de controles e permitiu a lambança do crédito lastreado em derivativos tóxicos.
 
Era tanto dinheiro que permitia viver hoje como se não houvesse amanhã.
 
Em vez de salários e direitos, créditos sobre créditos para famílias quebradas.
 
Em vez de arrecadar  mais dos ricos, tomar  emprestado deles  na  forma de endividamento público, para suprir a anemia fiscal de Estados obrigados a dar conta de  serviços não lucrativos, por isso não privatizados.
 
O endividamento público lubrificado, no caso brasileiro,  por um juro real superior a 10% ao ano durante o ciclo do PSDB (hoje é de 5%), supria os cofres dos governos  e alegrava o rentismo.
 
 A tentativa atual de 'limpar’  a implosão do modelo removendo apenas seus ‘excessos  na ponta do crédito  resulta no filme de terror  em cartaz na Europa.
 
Preservar  para cima, com arrocho para baixo, associando à seca do crédito cortes sobre direitos e salários, ademais da retração do emprego, significa  uma carnificina econômica e social.
 
No caso brasileiro há  o inconveniente adicional de que  –nos marcos do regime democrático--   essa operação  talvez não seja mais viável depois de 12 anos de governos do PT.
 
A ‘mensagem mudancista ‘  de Aécio está visivelmente emparedada nessa encruzilhada.
 
De um lado, ele precisa atender o camarote vip que encarna e que o patrocina.
 
Engajados em uma cruzada de preconceito belicoso  contra  Dilma e o PT, os endinheirados exigem compromissos com medidas  heroicas .
 
Aquelas que Aécio prometeu tomar  --‘se der, no primeiro dia’, como afirmou  às papilas empresariais famintas, reunidas  num regabofe na casa do animador de eventos, João Dória Jr, (conforme a Folha 02/04).
 
A esperança  conservadora é a de que a baixa atividade decorrente de uma paulada imediata no juro, com consequente recuo do crédito e compressão  do salários real,  devolva  a  senzala ao seu lugar.
 
E o país aos bons tempos.
 
O trânsito ficaria menos carregado; os aeroportos recuperariam o velho charme .
 
Não só.
 
Um desemprego ‘funcional’  de 12,5%, como no ciclo do PSDB (hoje é da ordem de 5%), estalaria a chibata da redução do custo Brasil nas costas de quem tem 500 anos de familiaridade com o assunto.
 
Mais quatro anos, que diferença faz?
 
Novidades  no front sugerem talvez não seja tão simples assim rodar  o modelo original  no azeite do arrocho.
 
Um Brasil formado por dezenas de milhões de famílias antes apartadas na soleira da porta, do lado de fora do país,  agora cobra  a sua vaga no mercado e na cidadania.
 
No seleto clube  do juro alto  essa gente figura como estorvo.
 
No ciclo de governos do PT o estorvo tomou gosto da mobilidade social.
 
No cálculo político do candidato tucano a precaução recomenda que não se diga em público aquilo que se afirma na casa do animador do ‘Cansei’, Dória Jr.
 
Instala-se assim um malabarismo de alto risco no picadeiro do circo conservador.
 
Aécio, ora assume  o estereótipo  de mineirinho afável, ora  tenta distrair  a plateia acusando  pecadores com o fogo dos savonarolas  de passado inflamável.
 
Enquanto isso, operadores de mercado que o representam  costuram  o peru recheado de arrocho servido nos regabofes  da plutocracia insaciável.
 
O principal personagem  dessas tertúlias é Armínio Fraga, espécie de ‘é com esse que eu vou lucrar até cair no chão’ da nação rentista.
 
O  prestígio não é obra do acaso.
 
Armínio carrega no currículo o feito de ter elevado a taxa de juro brasileira de 25% para  45%, em março de 1999.
 
O colosso se deu  quando esse quadro reconhecido como ‘nosso homem no Brasil’  pela alta finança  internacional  –Timothy Gartner, ex-secretário do Tesouro americano, sugeriu o seu nome a Obama para presidir  o Fed -- assumiu a presidência do BC brasileiro, no governo Fernando Henrique Cardoso.
 
Em declarações para o público mais amplo,  Armínio, que também possui cidadania americana, procura demonstrar serenidade e comedimento. Veste o figurino do Aécio afável e apregoa um caminho gradual, ‘sem choque’, para  recolocar as coisas nos eixos.
 
Nas entrelinhas do comedimento, porém,  ressoa o  ‘matador dos mercados’, que parece falar diretamente ao camarote vip do ‘Itaquerão’.
 
Na hipótese de uma extrema eficiência na lavagem cerebral  promovida pela mídia, a ‘turma dos 90’ pode até vencer em outubro.
 
Mas conseguiria governar emparedada nesse duplo torniquete,  entre o compromisso com a alta finança, de um lado, e a pressão ascendente de um Brasil que tomou gosto pela cidadania, de outro? 
 
Confira, abaixo, trechos das dubitativas respostas de  Armínio , em entrevista ao Valor, nesta 2ª feira:
 
Sobre baixar  a meta da inflação (leia-se, sobre o  tamanho da paulada nos juros num eventual governo tucano):

‘Tem que ter uma sequência. Primeiro, chegar a uma situação de preços normais, não tabelados, não reprimidos, levar essa inflação para a meta e, depois, decidir o que fazer. Acho que a meta deveria cair um pouco e lentamente...Vamos ter que tirar o remédio do paciente, que está dopado.

Sobre a conveniência de Aécio dizer que está pronto para tomar  ‘medidas impopulares’

'Sincericídio', acho que não. É um pouco de 'honesticídio', isso sim. Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo.

Sobre o futuro dos salários num governo tucano.

 Acho os salários no Brasil ridiculamente baixos porque o Brasil é um povo pouco educado e pouco produtivo. Por isso é que os salários aqui correspondem a 20% dos salários dos países ricos. Há algumas áreas que ganham salários parecidos, mas o salário médio aqui é muito baixo porque somos um país pobre. E por que somos pobres? Porque o país não está crescendo. O salário tem que guardar alguma relação com a produtividade. Isso está nas atas do Copom e nas melhores cabeças que estão no governo. O país não está crescendo, caia na real! Qualquer coisa que eu diga vão interpretar como arrocho enquanto o arrocho já está aí, está sendo feito pela inflação.

Sobre a fuga de capitais que estaria em curso no país enquanto o investimento privado vive uma greve branca.

 O brasileiro gosta do seu país, gosta de morar aqui, de investir aqui. Mas o grau de incerteza hoje é tal que as pessoas estão pensando em investir fora do Brasil, estão pensando até em sair do Brasil. Há um medo que vai além da economia, é medo político também. Há uma sensação de medo que as pessoas não têm coragem de manifestar abertamente. Medo de uma atitude contra a liberdade de imprensa, contra a democracia.

A gasolina é cara ou barata no Brasil. Para descobrir, melhor comparar.

gasolina
O pessoal do Política no Face me mandou um link interessante do UOLsobre uma pesquisa feita por uma consultoria inglesa, a UHY, que comparou preço dos combustíveis e mostrou que o Brasil tem um dos menores preços do mundo para o diesel, a gasolina e o gás natural.
Embora a matéria seja do competente jornalista Joel Leite, que não entra  em cumplicidade com a indústria automobilística, estranhei, de tanto que ouço comentários sobre o preço “absurdo” cobrado no Brasil, que fui atrás do estudo original.
dieselE, de fato, está lá a comparação, feita justamente por uma empresa de contabilidade, mostrando que a posição do Brasil, entre os 20 países pesquisados, está sempre entre as mais baratas.
A pesquisa, que usou como base de comparação um tanque de de um furgão Ford Transit (80 litros de gasolina ou diesel) coloca o Brasil, entre os 20, como o 14° preço na gasolina, o 16° no diesel e como o 17° no gás natural. Clique na imgem para ampliar a tabela e ler os valores.
Claro e óbvio que, em relação à renda, os preços no Brasil se tornam mais caros, e ninguém pode dizer que combustíveis não pesam significativamente na formação do preço de outros produtos e no custo de vida.
gasnaturalMas é impressionante a reação “coxinha” que a matéria provocou, com o jornalista sendo acusado de petista e os ingleses de estarem a serviço de Dilma.
O  curioso é que os protestos contra o peso dos impostos nos combustíveis são, em geral, voltados contra o Governo Federal, embora a carga tributária sobre os combustíveis seja, essencialmente, dos governos estaduais.
No caso da gasolina, os tributos federais são 7% do preço enquanto o tributo estadual é quatro vezes maior, em média.
No etanol, hoje, é zero.
E, no gás natural automotivo, 9,2%.
E essa carga tributária não é mais alta porque o governo federal foi, ao longo do tempo, reduzindo a carga tributária federal criada pela CIDE, como você vê na tabela ao lado.
Se a gasolina está cara ou barata e se a carga de impostos é justa ou injusta é uma discussão que deve levar em conta muitos fatores, desde os preços internacionais do petróleo até as políticas públicas de incentivo ou desestímulo ao consumo de combustíveis.
Mas nenhuma discussão pode ser lúcida se parte de uma exploração simplista de interesses políticos e de mistificação em torno dos fatores de formação de preços.
E a discussão sobre preço da gasolina no Brasil está, há muito tempo, “batizada” por uma mistura de interesses políticos inconfessáveis, inclusive os dos que, de fato, retiram mais dinheiro do comércio de gasolina e etanol.
Raro encontrar gente que, como o Joel Leite, que faça jornalismo nessa matéria, com informação em lugar de discurso.