Ainda que dez entre dez analistas esportivos e/ou políticos neguem
até a morte, grande parte deles entende que o desempenho da Seleção pode
influir no processo eleitoral. O mesmo vale para todos os agentes
políticos, de qualquer dos lados. Se essa percepção é correta, ainda
ninguém sabe. Mas muitos temem que possa ter fundamento.
O desempenho da Seleção influir nas eleições, porém, não interessa a
ninguém – ao governo ou à oposição midiática. Essa possibilidade retira
dos dois lados a condição de influir no processo, o que é ruim para
ambos, pois o imponderável não obedece a lógicas político-ideológicas, a
estratégias de marketing etc.
O mínimo que os políticos querem é poder, ao menos, depender das próprias estratégias.
Do ponto de vista de Dilma, por exemplo, ela está colhendo frutos da
Copa independentemente do que a Seleção está apresentando em campo. As
obras (estádios, aeroportos, obras de mobilidade etc.) estão
funcionando. Só não vê quem não quer. Assim, a conquista do
hexacampeonato pelo Brasil se somaria à satisfação de ver o país fazer
boa figura diante do mundo em termos de organização do evento.
Do lado de Aécio Neves e Eduardo Campos, uma derrota do Brasil
empanaria o sucesso da organização da Copa, reduzindo o bônus político
da adversária.
Este texto, porém, de forma inusitada neste blog – que, raríssimas
vezes, tratou de futebol – não versa apenas sobre política, mas sobre o
que ocorreu no jogo com o México. E não é preciso ser muito entendido em
futebol para entender o que ocorreu.
As análises da mídia partidarizada estão muito negativas, denotando má vontade com a Seleção. Por razões óbvias.
A má vontade midiática com a Seleção em 2014, aliás, começa a
reproduzir a que lhe foi dispensada na Copa de 2010, até pelo técnico
Dunga ter se tornado inimigo número um da Globo, ao menos naquele
momento.
O Brasil, porém, não foi tão mal. O México é que foi muito bem. E não
tanto pelo conjunto da equipe, mas por um goleiro que teve desempenho
incomum. O mexicano Guillermo Ochoa operou o que os otimistas chamaram
de “milagres”. Sem essa atuação, o México não teria ido mais longe do
que a Croácia.
Até porque, os mexicanos levaram pouco perigo ao Brasil. Sim, deram
alguns bons chutes a gol, mas nenhuma jogada ofensiva deles se comparou
com as nossas em termos de possibilidade de terminar em gol.
O ataque
mexicano foi tão débil que o goleiro Julio Cesar bateu o primeiro tiro
de meta aos 24 minutos do primeiro tempo.
Há, ainda, uma dúvida razoável sobre o pênalti reclamado pelo lateral
brasileiro Marcelo, que garante que, sem o toque no ombro que sofreu do
defensor mexicano, teria partido para o gol. Poderia não ter marcado,
mas toque no ombro por trás, dentro da pequena área, de acordo com as
diretrizes da Fifa deveria resultar em marcação de pênalti.
Felipão tem razões concretas, portanto, para julgar que a gritaria –
justificada ou não – em torno do pênalti marcado a favor do Brasil no
jogo contra a Croácia pode ter inibido o juiz que apitou o jogo contra o
México… E poderá inibir outros.
Há, ainda, um terceiro fator. A vantagem que o Brasil deveria ter
tido por jogar em casa foi anulada pela torcida mexicana, mas menos por
mérito desta – muito menor do que a brasileira – do que por culpa da
torcida brasileira, visivelmente apática – em alguns momentos, a
cantoria, as vaias e apoios da torcida mexicana abafaram a voz
brasileira.
Mas, claro, nem tudo são flores. A Seleção poderia ter superado essas
dificuldades se, assim como no jogo contra a Croácia, seu nervosismo
não fosse tão flagrante que quase podia ser tocado com as mãos. A imagem
dos jogadores brasileiros antes de o jogo começar revelou semblantes
preocupantemente tensos. De novo.
Subjetivamente, aqui se afirma que Julio Cesar era o mais nervoso,
apesar de que vários outros jogadores brasileiros estavam em condições
psicológicas análogas. Se tivéssemos tido maior controle emocional,
provavelmente teríamos superado a parede erguida por Ochoa e escorada,
em alguma medida, pela defesa mexicana, bem mais consistente que o
ataque.
Esse talvez seja o ponto mais preocupante da Seleção. Esperava-se que
o nervosismo do jogo de estreia tivesse se exaurido naquele jogo, no
qual seria até compreensível. Ao permanecer no segundo jogo, pela lógica
se pode concluir que Felipão e a Comissão técnica não estão conseguindo
preparar psicologicamente uma equipe jovem, mais permeável à
insegurança.
A pressão que a mídia deverá continuar exercendo sobre a Seleção,
preocupa ainda mais. Se a Comissão Técnica não conseguir trabalhar essa
questão até o jogo com Camarões, a situação pode complicar. O Brasil não
conseguiu aproveitar seu melhor nível técnico simplesmente porque os
meninos tremeram na base.
Por fim, sobre a suposta influência político-eleitoral do resultado
que a Seleção obtiver, não é desprezível. Os que têm inclinações
políticas definidas não serão influenciados, mas, entre aquele terço
volúvel do eleitorado, o bom ou mau humor gerado pelo resultado que a
Seleção obtiver pode, sim, fazer diferença em uma eleição apertada.