Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Petrobras acha mais petróleo no Nordeste, agora no Rio Grande do Norte

Pré sal não cabe no modelo de desenvolvimento tucano

Dilma: Brasil será o maior fabricante de plataformas de petróleo do século XXI
Candidato do conservadorismo, Aécio Neves, lança agenda de campanha de 8 mil palavras 
sem citar uma única vez o pré-sal, a principal fronteira do desenvolvimento brasileiro 
nas próximas décadas




Rir ou chorar: manifesto eleitoral do partido que liderou o fim da CPMF critica o 
subfinanciamento (da saúde pública) que impossibilita, diz o texto do PSDB, o alcance de um sistema 
universal e obriga os pobres a gastarem parte do orçamento com saúde e remédios







potiguar
O anúncio feito pela Petrobras, no início da noite, de que descobriu petróleo pela primeira vez em águas profundas na Bacia do Rio Grande do Norte (que abrange também o lado leste do litoral cearense), embora tenha sido vago e impreciso sobre o potencial encontrado levanta enormes expectativas.
A Bacia Potiguar, como é conhecida, corresponde, no litoral africano – de onde se separou há 200 milhões de anos, à plataforma continental da Nigéria, onde foram descobertos, a partir do ano 2000, grandes acumulações de petróleo leve e com baixo teor de enxofre.
Como boa parte das jazidas de grande profundidade (esta se situa a cerca de 4 km abaixo do nível do mar) se formaram exatamente no processo de separação dos continentes, ao longo da “rachadura” a partir dos quais os continentes se separaram, muitos acreditam que haverá grande correspondência entre os resultados da prospecção petrolífera aqui e o que é encontrado no litoral africano.
O campo de Pitu, como é conhecida a área da descoberta, é um dos quatro que estão sendo prospectados nos blocos 16 e 17 da Bacia Potiguar, explorados por um consórcio formado pela Petrobras, a inglesa BP e a portuguesa Petrogal. Os outros são Ararazul, Cajá e Papagaio.
O petróleo no Rio Grande do Norte, até agora, só era explorado em quantidades modestas, apenas em terra e em águas rasas, com campos maduros, com produção já declinante.
A nova descoberta, no mínimo, deve ser capaz de fazer a estrutura petroleira potiguar seguir funcionando.
E, no máximo…ainda é cedo para dizer de lá o que se diz de Sergipe: uma nova grande província petrolífera.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

PLATAFORMA P-62, A QUE FHC IA ABORTAR O conteúdo nacional é de 63%. Com o FHC seria de 0%



Saiu no Blog da Petrobras:

CONCLUÍDAS OBRAS DA P-62



A presidenta da República, Dilma Rousseff, e a nossa presidente, Graça Foster, participaram da cerimônia de conclusão das obras da plataforma P-62, nesta terça-feira (17/12), no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE). Antes da cerimônia, Dilma, Graça e comitiva visitaram as obras de construção da Refinaria Abreu e Lima, no Complexo Portuário de Suape. 

A P-62 tem capacidade diária para produzir 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás, injetar 42 mil metros cúbicos de água, e atuará no campo de Roncador, no pós-sal da Bacia de Campos. 

Do tipo FPSO (sigla em inglês para unidade que produz, armazena e transfere petróleo), a plataforma será instalada em profundidade de água de 1.600 metros, a 125 quilômetros da costa, dando inicio à produção no primeiro trimestre de 2014.

Projetada para atender à demanda por plataformas de produção, conforme nosso Plano de Negócios e Gestão 2013-2017, a P-62 é mais um empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, que contribui para consolidar a expansão da indústria naval no Brasil. O projeto básico da plataforma foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisas Leopoldo Americo Miguez de Mello (Cenpes). – 

Sua obra gerou cerca de 5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos e contou com elevado índice de conteúdo nacional: cerca de 63%, alcançados principalmente com os serviços de construção de módulos, conversão e integração do navio executados no Brasil. 


Construção 



O casco do navio MT Suva passou por adaptações no estaleiro Jurong, em Cingapura, antes de chegar ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE), em janeiro de 2012. No EAS passou pelas etapas de conversão e integração da embarcação em um FPSO, a cargo do consórcio Camargo Correia e Iesa (CCI). 

A construção dos 15 módulos da plataforma, responsáveis pelo processamento e tratamento de óleo, gás e água, também foi feita no Brasil por meio de três pacotes com as contratadas UTC Engenharia, em Niterói (RJ) – módulos de processo e compressão; e Empresa Brasileira de Engenharia (EBE), em Itaguaí (RJ) – módulos de processo. 

Depois de finalizados, os módulos foram transportados por balsas e entregues ao CCI, em Ipojuca, onde foram içados sobre o casco do navio e interligados para posteriores comissionamento e testes, que finalizaram a construção do FPSO. 

Além dos módulos, a P-62 também é composta por pipe-rack (estrutura para tubulação), heliponto, flare e acomodações. A unidade é capaz de gerar 100 MW de energia elétrica, que equivalem ao consumo de uma cidade de 330 mil habitantes; e tem 119 metros de altura, 330 metros de comprimento e seu peso supera 60 mil toneladas. Ficha Técnica Produção: 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de m³ de gás por dia Capacidade de armazenamento: 1,6 milhão de barris 

Capacidade de tratamento de água de injeção: 42 mil m³ por dia;

Capacidade de injeção de água: 265 mil barris por dia 

Capacidade de geração elétrica: 100 MW; 

Profundidade de água: 1.600 m 

Conteúdo local: 65% 

Peso total da plataforma: 60.500 toneladas 

Comprimento: 330 metros 


Sobre a Refinaria Abreu e Lima 

A Refinaria Abreu e Lima está instalada em Ipojuca, no Complexo Portuário de Suape, a cerca de 60 km ao sul do Recife. O empreendimento está 83,1% concluído, com previsão de partida de sua primeira fase em novembro de 2014. A unidade processará 230 mil barris diários de petróleo quando a segunda fase, prevista para ser entregue em maio de 2015, entrar em operação. O número representa cerca de 11% da capacidade atual de refino de petróleo no Brasil.
A Abreu e Lima será nossa unidade operacional com a maior taxa de conversão de petróleo em diesel: o equivalente a 70% da produção da unidade. A refinaria produzirá ainda outros derivados como nafta; coque de petróleo; gás liquefeito de petróleo (GLP); entre outros.
Os produtos entregues pela Abreu e Lima se destinam, predominantemente, a atender o mercado do Norte/Nordeste. O empreendimento gera atualmente cerca de 40 mil empregos diretos, e está sendo construído com 86% de conteúdo local.
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Como se sabe, num dos últimos dias de campanha à Presidência em 2002, Lula visitou um estaleiro na costa do Rio.
Estava parado.
Com terra e capim no pátio.
E anunciou que um de seus primeiros atos seria cancelar uma encomenda do Governo da Petrobrax de uma plataforma a Cingapura.
Cancelou e re-fundou a indústria naval brasileira.
Príncipe da Privataria fechou a indústria naval brasileira e ia vender a Petrobrax.
Ia vender em fatias, para ficar mais barato: clique aqui para ler “FHC do México vendeu a Petrobrax de lá”.
Ele preferia dar emprego em Cingapura.
Em poucos anos, a indústria naval e a de navipeças vai empregar mais brasileiros que a indústria automobilística.
E o Aécio, que foge da candidatura a Presidente, quer que o Brasil volte ao Governo FHC…
Que não construiu uma única plataforma – nem nada que se utilizasse de cimento e tijolo.
Quanto mais aço.
Clique aqui para ler “São Paulo, governada há 20 anos pelos tucanos, perde participação no PIB – eles pararam a locomotiva”.
Em tempo: o FHC, se pudesse, tinha vendido o Cenpes à IBM …
Paulo Henrique Amorim
Clique aqui para ler “Abreu e Lima, BR-163, BMW. Chora, Urubóloga, chora !”
E aqui para “Petrobras: uma ode à Política !”

NOTA OPEDEUTA: 
SOU TESTEMUNHA VIVA DO PERÍODO FHC E SUAS CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS NA INDÚSTRIA NAVAL DO RIO DE JANEIRO. PROPOSITALMENTE  FOI AFUNDADA EM NOME DOS PRECEITOS NEOLIBERAIS E DO "DEUS MERCADO", EM  QUE O CANALHA MOR FHC  TRANSFORMOU A INDÚSTRIA NACIONAL, PRINCIPALMENTE A NAVAL.

Serra desistiu no nada. E deixa o PSDB em escombros

Autor: Fernando Brito
escombros
Excelente artigo publicado esta manhã pelo jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, registra com impiedosa precisão grande realização de José Serra nos últimos anos: a conclusão da destruição político-eleitoral do PSDB.
É ótima leitura, mas me permito fazer um reparo.
A transformação de “um PSDB que surgira no centro-esquerda com uma plataforma social-democrata” em partido da direita no Brasil tem origens mais remotas que o serrismo. Data do final dos anos 90, quando Mário Covas pronunciou o seu famoso discurso propondo um “choque de capitalismo” para o Brasil.
FH deu este choque, em altíssima voltagem e, mesmo depois de dez anos, o Brasil apresenta efeitos dificilmente reversíveis disto, como a privatização ruinosa da Vale.
Detalhe que não invalida em nada a qualidade do necrológio tucano que faz Paulo Nogueira.

Ao desistir, Serra já tinha matado o PSDB

Paulo Nogueira
O que muda com o anúncio da desistência de Serra de concorrer em 2014 é: nada.
A vida de Aécio, suposto beneficiário, não vai ficar melhor e nem pior. Só um milagre levará Aécio e o PSDB ao segundo turno em 2014.
É um partido vencido pelo tempo. Não tem causa, não tem visão, não tem propósito, não tem militantes, não tem votos, não tem novos líderes, não tem futuro: em suma, não tem nada.
O PSDB vai morrendo como a UDN: rejeitado pelo povo e abraçado com o que existe de mais conservador e retrógrado no país.
A chance de Serra de ganhar era zero. Mesmo assim, ele se comportou, nos últimos meses, como se fosse um candidato forte, num dos mais notáveis delírios da política brasileira desde que Jânio renunciou sob o impacto de “forças ocultas”.
Se você pode apontar um nome como o responsável pelo esfacelamento do PSDB, é o de Serra.
Sua carreira política pode ser resumida assim: matou o PSDB, a golpes de empáfia, inépcia administrativa, desonestidade nas campanhas e atitudes francamente desagregadoras.
Serra foi se deslocando, nos últimos anos, para a direita, e acabou arrastando com ele um PSDB que surgira no centro-esquerda com uma plataforma social-democrata. Basta ver qual é o jornalista mais afinado com Serra, sua alma gêmea: Reinaldo Azevedo.
O episódio que ficará para a história, acima de todos os outros, é o Atentado da Bolinha de Papel, com o qual ele tentou convencer os brasileiros de que fora vítima de terrorismo petista na última campanha presidencial.
Você vê São Paulo – a cidade e o Estado – e constata o tamanho da incompetência de Serra como prefeito e governador. É a pior incompetência, porque se manifesta disfarçada de sabedoria e se apresenta, para enganar os iludidos, de paletó e gravata.
O único serviço em que Serra realmente brilhou foi na liquidação do PSDB. A tibieza colossal de FHC, que jamais conseguiu controlar Serra, também colaborou.
Houve um momento em que o partido poderia aspirar a se renovar, se Serra caísse fora.
Agora, ele pode sumir, pode ir para o Tibete e levar vida de monge, mas é tarde demais. Já matou o PSDB.

CARTA DA CARLIENE SENA, DO PROUNI, AO LULA Porta de saída, Urubóloga ? Pergunta à Carliene Sena da Cunha

Adendo do Apedeuta.
Gostaria de pedir ao caro ansioso blogueiro que transformasse a carta de Carliene em carta aberta a todos os brasileiros, mas em especial, enviá-la aos representantes de nossas elites, que após o advento do "Maior de Todos os Presidentes", coloco aqui "presidente", em sentido amplo a nível mundial, demonstraram tamanha preocupação com os destinos de nosso país. Que  coisa estranha , nunca na história desse mesmo país , já houve por parte destes. Em especial ao nobre representante das Gerais , que em seus discursos , dificilmente ouve-se a palavra POVO , INCLUSÃO, EMPREGOS, CONTEÚDO NACIONAL, etc..., como disse Lindenberg . Sem essas insignificantes palavras, quase nada, desprezíveis, como desde sempre assim entenderam , que sem elas e, acrescento , conhecimento de vida deste povo , honestidade ,  comprometimento em elevar cada vez mais o nível de vida destes, jamais pelas vias democráticas , chegaram a representá-los.



Lula recebeu esta carta de Carliene Sena da Cunha, que estuda na Universidade Católica de Brasília pelo Prouni. Filha de rodoviário e empregada doméstica, ela conta na carta a sua história de vida, que também é a história da construção de um Brasil mais justo e com mais oportunidades. Obrigado, Carliene!

Venício Lima: A guerra de rótulos da mídia que semeia a intolerância e o ódio


Terça-feira, 17 de Dezembro de 2013 | ISSN 1519-7670 – Ano 17 – nº 777
JORNAL DE DEBATES
BALANÇO 2013

A linguagem seletiva do ‘mensalão


Quando pouco ainda se falava sobre “história conceitual”, isto é, sobre a semântica histórica de conceitos e palavras, foi publicado o indispensável Palavras-Chave (um vocabulário de cultura e sociedade) [1ª edição 1976; tradução brasileira Boitempo, 2007], do ex-professor de Cambridge, Raymond Williams (1921-1988).
Ao analisar as mudanças na significação de 130 palavras-chave como ciência, democracia, ideologia, liberal, mídia, popular e revolução, Williams argumentava que as questões de significação de uma palavra estão inexoravelmente vinculadas aos problemas em cuja discussão ela esta sendo utilizada. E, mais ainda, que o uso dos diferentes significados de palavras identifica formas diversas de pensar e ver o mundo. Para ele, a apropriação de um determinado significado que serve a um argumento específico exclui aqueles outros significados que são inconvenientes ao argumento. Trata-se, portanto, de uma questão de poder.
Anos mais tarde, através do precioso Language and Hegemony in Gramsci do cientista político estadunidense, radicado no Canadá, Peter Ives (1ª edição 2004), soube-se que o filósofo sardenho desenvolveu o conceito de hegemonia – a formação e a organização do consentimento – a partir de seus estudos de linguística. Poucos se lembram de que, por ocasião da unificação italiana (1861), apenas entre 2,5% e 12% da população falavam a mesma língua. Daí serem previsíveis as enormes implicações sociais e políticas da unificação linguística, sobretudo o enorme poder de ajustamento e conformidade em torno da institucionalização de uma língua única que se tornaria a língua italiana.
Na verdade, não só as palavras mudam de significação ao longo do tempo, como palavras novas são introduzidas no nosso cotidiano e passam a constituir uma nova linguagem, um novo vocabulário dentro do qual se aprisionam determinadas formas de pensar e ver o mundo.
Mais recentemente, a leitura tardia do impressionante LTI – A linguagem do Terceiro Reich (1ª. edição 1947, tradução brasileira Contraponto, 2009), do filólogo alemão Victor Klemperer (1881-1960), dissipou qualquer dúvida que ainda restasse sobre a importância fundamental das palavras, da linguagem, do vocabulário para a conformação de uma determinada maneira de pensar. Está lá:
“O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas inconscientemente e mecanicamente. (…) A língua conduz o meu sentimento, dirige a minha mente, de forma tão mais natural quanto mais eu me entregar a ela inconscientemente. (…) Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e parecem ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar” (p.55).
Vale a epígrafe do LTI retirada de Franz Rosenzweig (1886-1929): “A linguagem é mais do que sangue”.
Balanço do ano
As referências a Williams, Ives (Gramsci) e Klemperer são apresentadas aqui para justificar a escolha que fiz diante da necessidade de produzir um balanço de 2013 em relação ao setor de mídia.
O que de mais importante aconteceu no nosso país de 2005 para cá – vale dizer, ao longo dos últimos oito anos – e se consolidou em 2013 com as várias semanas de julgamento televisionado, ao vivo, no Supremo Tribunal Federal?
Estou convencido de que foi a formação de uma linguagem nova, seletiva e específica, com a participação determinante da grande mídia, dentro da qual parcela dos brasileiros passaram a “ver” os réus da Ação Penal nº 470, em particular aqueles ligados ao Partido dos Trabalhadores.
Ainda em 2006 (cf. capítulo 1 de Mídia: crise política e poder no Brasil; Editora Fundação Perseu Abramo) argumentei que uma das consequências mais visíveis da crise política foi o aparecimento na grande mídia de uma série de novas palavras/expressões como mensalão, mensaleiros, partidos do mensalão, CPI do mensalão, valerioduto, CPI chapa-branca, silêncio dos intelectuais, homem da mala, doleiro do PT, conexão cubana, operação Paraguai, conexão Lisboa, república de Ribeirão Preto, operação pizza, dança da pizza, dentre outros.
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, Fábio Kerche também chamou atenção para a recuperação pela grande mídia de dois conceitos clássicos de nossa sociologia política – coronelismo e populismo –, que passaram a ser utilizados na cobertura da crise política com nova significação desvinculada de suas raízes e especificidades históricas (cf. “Simplificações conceituais” in Folha de S.Paulo, 23/3/2006, p. A-3).
O verdadeiro significado dessas novas palavras/expressões, dizia à época, só pode ser compreendido dentro dos contextos concretos em que surgiram e passaram a ser utilizadas. São tentativas de expressar, de maneira simplificada, questões complexas, ambíguas e de interpretação múltipla e polêmica (aberta). Elas buscam reduzir (fechar) um variado leque de significados a apenas um único “significado guarda-chuva” facilmente assimilável. Uma espécie de rótulo.
Exaustivamente repetidas na cobertura política tanto da mídia impressa como da eletrônica, essas palavras/expressões vão perdendo sua ambiguidade original pela associação continuada a apenas um conjunto de significados. É dessa forma que elas acabam sendo incorporadas ao vocabulário cotidiano do cidadão comum.
Mas elas passam também a ser utilizadas, por exemplo, nas pesquisas de “opinião pública”, muitas vezes realizadas por institutos controlados pela própria grande mídia. Esse movimento circular viciado produz não só aferições contaminadas da “opinião pública” como induz o cidadão comum a uma percepção simplificada e muitas vezes equivocada do que realmente se passa.
Relacionei ainda as omissões e/ou as saliências na cobertura que a grande mídia oferecia da crise política – evidentes já àquela época –, protegendo a si mesma em relação à destinação de recursos publicitários e/ou favorecendo politicamente à oposição político-partidária ao governo Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Algumas dessas omissões foram objeto de denúncia do jornalista Carlos Dorneles, então na Rede Globo (13/10/2005) e do ombudsman da Folha de S.Paulo (23/10/2005).
De 2005 a 2013
Nos últimos oito anos, o comportamento da grande mídia não se alterou. Ao contrário. A crise política foi se transformando no “maior escândalo de corrupção da historia do país” e confirmou-se o padrão de seletividade (omissão e/ou saliência) na cobertura jornalística, identificado desde 2005.
Até 2005, “mensalão” era apenas “o imposto que pode ser recolhido pelo contribuinte que tenha mais de uma fonte pagadora. Se o contribuinte recebe, por exemplo, aposentadoria e salário e não deseja acumular os impostos que irão resultar num valor muito alto a pagar na declaração mensal, ele pode antecipar este pagamento por meio de parcela mensal”.
Nos últimos anos “mensalão” passou a ser “um esquema de corrupção” e tornou-se “mensalão do PT”, enquanto situações idênticas e anteriores, raramente mencionadas, foram identificadas pela geografia e não pelo partido político (“mensalão mineiro”). Como resultado foi se construindo sistematicamente uma associação generalizada, seletiva e deliberada entre corrupção e os governos Lula e o PT, ou melhor, seus filiados e/ou simpatizantes.
“Mensaleiro” passou a designar qualquer envolvido na Ação Penal nº 470, independentemente de ter sido ou não comprovada a prática criminosa de pagamento e/ou recebimento de mensalidades em dinheiro “sujo” com o objetivo de se alterar o resultado nas votações de projetos de lei no Congresso Nacional.
A generalização seletiva tornou-se a prática deliberada e rotineira da grande mídia e, aos poucos, as palavras “petista” – designação de filiado ao Partido dos Trabalhadores – e “mensaleiro”, se transformaram em palavrões equivalentes a “comunista”, “subversivo” ou “terrorista” na época da ditadura militar (1964-1985). “Petista” e “mensaleiro” tornaram-se, implicitamente, inimigos públicos e sinônimos de corruptos e desonestos.
O escárnio em relação aos “mensaleiros petistas” atingiu o seu auge com a prisão espetaculosa de alguns dos réus, por determinação do presidente do STF, no simbólico feriado da Proclamação da República (15 de novembro), antes do transito em julgado da Ação Penal nº 470, com ampla cobertura ao vivo das principais emissoras de televisão. Ofereceu-se assim a oportunidade para que articulistas da grande mídia passassem a citar seletivamente os nomes dos petistas detidos precedidos do adjetivo “presidiário”.
Da mesma forma, o que poderia ser questionado como uma prisão arbitrária (antes do trânsito em julgado; exposição desnecessária em périplo aéreo por três cidades do país; regime fechado para condenados em regime aberto; substituição arbitrária do juiz da vara de execuções penais de Brasília, etc.) foi se transformando em “um privilégio dos mensaleiros petistas”.
Na cobertura oferecida pela grande mídia esses “privilégios” foram identificados pelas visitas incialmente permitidas em dias diferentes daqueles dos demais detidos no complexo da Papuda; pela solicitação de regime diferenciado em função da saúde precária de um dos “mensaleiros petistas” e pela remuneração elevada do emprego oferecido (em seguida descartado) a outro.
Sinais de intolerância
Não é necessário mencionar aqui as inúmeras e pendentes questões – inclusive jurídicas – envolvendo o polêmico julgamento da Ação Penal nº 470 e os interesses político-partidários em jogo relativos a situações idênticas e anteriores que, todavia, ainda não mereceram a atenção correspondente do Poder Judiciário e, muito menos, da grande mídia.
O ano de 2013 certamente poderá ser lembrado como aquele em que ocorreu o julgamento da Ação Penal nº 470 e pelo desmesurado papel que a grande mídia desempenhou em todo o processo. Um vocabulário seletivo específico e uma linguagem correspondente se consolidaram em relação aos eventos nomeados pela nova palavra “mensalão”.
Tendo como referência os ensinamentos de Williams, Ives (Gramsci) e Klemperer, vale a pergunta: até que ponto este vocabulário e esta linguagem influenciam a maneira pela qual alguns dos envolvidos passaram a ser “vistos” pela população brasileira (ou parte dela) e contribuem para criar um clima político não democrático, de intolerância, de ódio e de recusa intransigente a sequer ouvir qualquer posição diferente da sua?
Para além da formação seletiva de um vocabulário e de uma linguagem específicas, bastaria relembrar as declarações do ministro Celso Melo por ocasião do julgamento dos embargos infringentes: “Nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz”.
Vale a pena repetir com Victor Klemperer:
“Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e parecem ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar”.
Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e organizador/autor com Juarez Guimarães de Liberdade de Expressão: as várias faces de um desafio, Paulus, 2013, entre outros livros
PS do Viomundo: E agora O Globo e a Folha se dedicam conjuntamente a “virar” a Papuda, a provocar uma rebelião para jogar na conta do Zé Dirceu!

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BARBOSA QUER CONTRATAR AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE

SAAD DA BANDEIRANTES AMEAÇOU HADDAD Kassab deu a Johnny 25 anos para explorar os pontos de ônibus de São Paulo. Viva o Brasil !

Johnny é imparcial. Não toma partido !

Na entrevista aos blogueiros sujos, o prefeito Fernando Haddad contou que percebia que um certo “grupo de comunicação”, que tem tevês, rádios, cabo, e uns jornalecos gratuitos, fazia sistemática campanha contra o Governo dele, em todas as mídias.

Achou aquilo atípico, mesmo num ambiente em que o PiG (*) quer destrui-lo, pelo simples fato de ser do PT.

A perseguição se tornou tão aguda, que ele, Haddad, ligou para o dono do suposto “conglomerado” e perguntou se aquilo se devia a alguma falha do Governo, que não dava informação, não era transparente.

Queria saber a razão daquele cerco implacável.

A resposta foi simples.

Dei instruções a todos os veículos de minha propriedade para atacar você de forma sistemática, desde que você aumentou o IPTU, respondeu o falso Roberto Marinho.

Quem é o grande comunicador ?

Johnny Saad, dono da Bandeirantes.

Como se sabe, desde os bons tempos de Ademar de Barros, a família Saad é proprietária de muitos imóveis urbanos em São Paulo.

E a atualização da planilha do IPTU de Haddad é um Robin Hood: cobra mais dos ricos, como Saad.

É assim que funciona o PiG (*), amigo navegante.

A sorte é que Saad tem um pequeno problema.

Audiência.

A Bandeirantes, desde que saiu das mãos do velho, o seu João, para o primogênito é o que é: irrelevante.

Virou um braço desarmado da UDR.

Desarmado.

Como a TV Bandeirantes.

Uma empresa de negócios imobiliários.

Em tempo: Haddad fez questão de informar aos blogueiros que não ia identificar o Grande Comunicador, porque se tratava de uma conversa privada e ele não cometeria a grosseria. O grosseiro, no caso, é o ansioso blogueiro, que identificou Saad em outra fonte.

Em tempo2: ao deixar o Governo, Kassab assinou com Saad, por 25 anos – 25 anos !!! – um contrato de exclusividade para que Saad possa explorar a publicidade de TODOS os pontos de ônibus de São Paulo. Está aí um bom tópico para um cidadão paulistano empreender uma ação popular, não, amigo navegante ?


Paulo Henrique Amorim


(*)  Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Chile: a AL não tolera mais a desigualdade

Piñera emergiu na AL chamada de chavista, em 2010, como o anfíbio ansiosamente aguardado: pensava a economia como Pinochet, sem ter vestido o capuz negro.

por: Saul Leblon 
Arquivo




 







A volta de Bachelet ao comando do Chile, após levar 62% dos votos no 2º turno, domingo, envia uma mensagem às elites da região.

A sociedade latino-americana não tolera mais a desigualdade.

Enquanto o conservadorismo se aferra à ideia de dar eficiência às estruturas carcomidas que instalaram aqui uma das piores assimetrias de renda do planeta, as urnas  --e as ruas--  sistematicamente invertem a equação.

Em recados de crescente contundência à direita e à esquerda , avisam:  a meta deve ser a equidade, a economia  não pode funcionar mais contra as urgências da população.

O Chile rico e educado é a confirmação  enfática da fraude arquitetada por aqueles que propõem  chilenizar o Brasil primeiro (‘as reformas’), para depois distribuir.

Tudo funciona nesse modelo, mas tudo  só funciona a quem paga.

A maioria não pode pagar, por  exemplo, uma educação universitária de qualidade.
Nem a classe média remediada.
Essa, a origem da revolta dos pinguins que premiou o Chile com uma  renovação de liderança política inédita na região, pela esquerda.

Jovens comunistas  se projetam à frente da sociedade chilena dando , inclusive, uma sobrevida representativa ao Partido Comunista local, só encontrável em nações estilhaçadas pelo bisturi implacável do ajuste neoliberal. Caso da Grécia, por exemplo.

Um minúsculo enclave de 5%  da população chilena fatura por ano  quase 260 vezes mais que o seu extremo oposto na pirâmide de renda.

A principal riqueza do país, o cobre, preserva uma estatização de fachada na qual os maiores beneficiários sãos as castas fardadas que se reservaram durante a ditadura Pinochet uma fatia cativa dos rendimentos da maior reserva do metal no planeta.

Pior que o Brasil, pior que os EUA ou a Alemanha, a plutocracia chilena aferrou-se de tal maneira a seus privilégios que hoje 1% da população detém 31% de toda a riqueza nacional (21% nos EUA ; 13% no Brasil; 12,5% na Alemanha).

O conjunto faz do Chile um paradigma odioso de segregação econômica escolar.

Segundo a OCDE, dentre todos os seus membros, o Chile é o país com maior índice de financiamento privado da educação primária e secundária.

O resultado das urnas deste domingo esfarela e devolve às goelas conservadoras o júbilo manifestado em janeiro de 2010, quando um  Chile cansado das hesitações de seu centrismo, elegeu  o bilionário Sebástian Piñera  ao final do primeiro mandato de Bachelet.

Piñera reacendeu a esperança conservadora na América Latina.
Sua vitória reluzia como a revanche diante de um colar de governos progressistas que asfixiavam o horizonte da direita regional.  Enfim, um presidente para chamar de seu.

Um porta-voz moderno do dinheiro grosso.

Alguém talhado para fazer a ponte entre a inconclusa redemocratização chilena e o necessário arejamento das agendas apuradas no calabouço escuro da ditadura Pinochet.

Recorde-se que o Chile é o que é hoje  porque, antes mesmo de Thatcher,  foi militarmente capturado para ser a cozinha experimental do neoliberalismo no mundo.

Talvez fosse mais apropriada a metáfora 'açougue'.

Ali se sangrou, retalhou, picou e moeu uma nação até reduzi-la a uma massa disforme e vegetativa.

Dessa matéria-prima, nasceu a primeira receita mundial bem sucedida do cardápio que decretaria o fim do capitalismo regulado, a partir dos anos 70.

O quitute indigesto foi enfiado goela abaixo de uma das sociedades mais democráticas do continente latino-americano. Por isso mesmo, exemplarmente esgoelada na sua tentativa de construir o socialismo pela via eleitoral.

O recado foi escrito com sangue na pele da esquerda latino-americana: 'a democracia promete mais do que os mercados estão dispostos a conceder'.

Mestres-cucas da direita regional e global aderiram em massa ao mutirão corretivo.

Piñera não serviu diretamente à ditadura mais sanguinária da AL.  Justamente por isso, sua vitória em 2010 acendeu o entusiasmo conservador.

Eis o anfíbio tão aguardado.

Porque pensava a economia como Pinochet, sem ter vestido diretamente o capuz negro, era a ponte palatável entre dois mundos, no caminho de volta a uma democracia bem comportada.

"É provável que se fortaleça na América do Sul uma "frente antichavista", integrada por Álvaro Uribe (Colômbia), Alan García (Peru) e o próprio Piñera".

O augúrio do editorial da "Folha", de 22 de janeiro de 2010, externava essa aposta ansiosa.

O dote de mandatário-ponte servia ademais para espicaçar a viabilidade da jejuna e também recém-eleita presidenta brasileira, Dilma Rousseff.

Transcorridos quatro anos, Piñera devolve o lugar a Bachelet.

Os jornalismo que apostou na ressurgência neoliberal, porém, não desiste. No Brasil flerta com anfíbios tropicalizados. 

Ou não será a mesma receita da chilenização do país que emitem as goelas de veludo dos Campos & Aécios?

Quiçá de alas petistas obsequiosas aos lamentos dos mercados?

O Chile fez tudo como eles querem fazer aqui.

É a economia "mais aberta" da América Latina.

O Estado é mínimo: a dívida do setor público é de apenas 11,5% do PIB (37% no Brasil, no conceito líquido; 60% no bruto).

A previdência foi privatizada. A proteção trabalhista é pífia.

A linha da desigualdade parece o eletrocardiograma de um morto: o índice de GINI chileno oscilou de 0,55 para 0,52 entre 1990 e 2009 (o do Brasil melhorou de 0,61 para 0,54).

Segundo a CEPAL, entre 1990 e 2009, o investimento público na área social oscilou mediocremente no país: de 15,2% para 15,6% do PIB.

Até o México deu um passo maior no mesmo período: passou de 5,5% para 11,3% do PIB.

Na direitista Colômbia, o salto foi de 6,1% para 11,5%.

No Brasil, a ' gastança' avançou de 17,6% para 27,1% do PIB; na Argentina, de 18,6% para 27,8%.

O jornalismo conservador atribui à falta de 'traquejo' político do empresário-presidente o paradoxo entre uma economia 'saudável' e a rejeição política esmagadora.

O raciocínio condescendente desdenha de uma lacuna-chave.

Piñera não foi programado para transformar a maçaroca econômica em uma Nação.

Mas para transformar uma nação em mercado.

Por que teria apoio dos seus órfãos?

O Chile tornou-se um país simplificado por uma ditadura que decidiu exterminar fisicamente o estorvo ideológico e social no seu caminho: a classe trabalhadora organizada.

Uma parte foi sangrada nas baionetas de Pinochet.

A outra, exterminada estruturalmente pelos sacerdotes do laissez-faire.

Os Chicago's boys reduziram a economia às suas estritas 'vantagens comparativas'.

Um pomar de pêssego. Vinícolas. Uma mina de cobre.

Um acervo como esse não precisa de projeto nacional.

Um fluxo de mercadorias não requer formulação intelectual própria. Logo, não precisa de universidade pública autônoma.

Um aglomerado de consumo não reclama cidadania.

Piñera tentou ser o cadeado moderno entre isso e uma redemocratização intrinsecamente tensa e limitada. Os estudantes rechaçaram esse entendimento do que seja um 'Chile moderno' .

E carregaram para as ruas o inconformismo de décadas que se consagrou nas ruas deste domingo. Mas que explica, também, o monstruoso incide de abstinência de 59%.

O desinteresse pelo voto é um aviso a Bachelet: um pedaço do país, quase suficiente para eleger um outro presidente, não aguenta mais simulacros de justiça social e maquiagens estruturais.

O fracasso de Piñera não deve ser desfrutado com precipitações simplistas.

O jogo não acabou na AL. Nunca acaba.

Os embates tendem a se acirrar.  Não por acaso Aécio e Campos acercam-se de profissionais do ramo e de modelos estratégicos que caberiam perfeitamente num ministério de Piñera.

O Chile, pequeno, mas historicamente imenso, tem muito a dizer à experiência política latinoamericana.

Não foi qualquer apego a efemérides que motivou Carta Maior a reunir, este ano,  uma dezena e meia de analistas, personagens, cineastas e filmes para registrar os 40 anos do golpe militar de 11 de setembro no Chile.

O Especial ‘Chile de Allende, 40 anos do golpe’ não mira o passado.

A atualidade da arguição inclui nuances. Algumas delas falam diretamente ao Brasil dos dias que correm. Exemplos.

O que acontece em um país quando o conservadorismo forma a percepção de que as possibilidades democráticas e eleitorais de seu retorno ao poder se estreitaram?
Que contrapesos poderiam, ou melhor, deveriam ser acionados quando a judicialização da política e o golpismo midiático compõem um corredor polonês asfixiante em torno de um governo democrático e progressista?

Em que medida é realista apostar em um alicerce defensivo ancorado exclusivamente nas instituições existentes, quando o propósito é superar o que elas guarnecem? É um primeiro indicativo.

Há outros a sinalizar que não estamos falando de ontem. Mas das evocações que 1973 inspira em 2013. E em 2014.