Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 14 de março de 2014

Jaciara Itaim Petrobras: a bola da vez do financismo

A desproporção entre o desfecho da AP 470 e o alarido criado pela coalizão conservadora evidencia o que estava em causa de fato: um crime de caixa 2 eleitoral, condenável, mas inerente ao sistema político que o mesmo conservadorismo rejeita reformar

 Quando a mídia fará a autocrítica do linchamento imposto a Gushiken, que se comprovou inocente depois de morto? 

 EUA perdeu o mando de jogo na AL, mas exige que a Unasul adote a agenda intervencionista derrotada na OEA.


O financismo nunca estará contente nem de acordo com a performance da Petrobrás. A não ser, é claro, que ela seja submetida a um processo de privatização.


É realmente impressionante a capacidade desenvolvida pelo financismo para promover a articulação e a defesa de seus próprios negócios em nossas terras. A pauta implementada diariamente pelos principais órgãos de comunicação continua sendo aquela que melhor expõe os interesses dos grandes operadores do sistema financeiro. Esqueçam as regras que eram ensinadas nas boas escolas de jornalismo, a respeito da recomendação de se ouvir mais de uma parte envolvida nas questões polêmicas ou de checar sempre a veracidade das informações oferecidas por fontes envolvidas. Afinal, esses são apenas alguns dos requisitos básicos para se desenvolver uma imprensa livre, democrática, formadora de opinião e crítica.

Os assuntos podem variar da política fiscal à política cambial, passando por temas mais específicos como inflação, superávit primário ou reforma agrária. Não importa qual a problemática que esteja sendo abordada no momento, mas a tônica será sempre o fornecimento da visão unilateral dos que compõem “la crème de la crème” de nosso PIB. É o caso, por exemplo, das principais chamadas das editorias de economia nas semanas que antecedem as reuniões do COPOM. Sobram opiniões e análises dos chamados “especialistas” a respeito da necessidade inadiável de se promover o aumento da SELIC, a taxa de juros básica da economia. Os meios de comunicação criam falsas verdades e constroem supostas unanimidades a partir da dificuldade que a maior parte da população tem em compreender fenômenos complexos e obscuros, como esses que acontecem na rotina cotidiana do mundo dos negócios.

Os casos mais típicos são as informações repassadas durante os telejornais noturnos, com a profundidade de análise típica do boletim meteorológico, que geralmente aparece na telinha logo na seqüência, um pouquinho antes da novela. São frases do estilo: “a Bolsa de Valores operou em alta de x% ao longo do dia”, “o dólar fechou em baixa de y%, com a cotação de venda a tanto e a de compra a outro tanto”, “a onça do ouro no mercado de Londres encerrou o pregão cotada a tantas libras” e por aí vai. Sempre me indago a respeito de como tais informações repercutem na forma como os telespectadores vão se organizar para enfrentar as agruras da vida dura no dia seguinte.

Não nos iludamos, pois a banca está permanentemente em luta por alguma causa de seu próprio umbigo. Pode ser apenas uma estratégia defensiva, para evitar maiores estragos em momentos de dificuldade. Ou então, na situação oposta, estão os casos de uma postura mais ofensiva para impor algum projeto ou opinião ao conjunto da sociedade ou por meio de “lobby” junto ao poder público. Durante a fase áurea do neoliberalismo, tais forças pintaram e bordaram por todo mundo.
 
Aqui nas terras tupiniquins, foram exitosas na consolidação do mito das vantagens inequívocas da privatização das empresas estatais e das vicissitudes proporcionadas pela liberalização completa de nossa economia ao resto do mundo.
 
Avançaram como retroescavadeiras sobre a estrutura do Estado brasileiro, desmontando décadas de esforço empreendido pela construção de um projeto efetivamente nacional de desenvolvimento. Os péssimos resultados para a maioria da população estão aí para quem quiser ver.

No período que se seguiu à crise financeira internacional de 2008, os representantes das finanças perceberam a enrascada em que estavam metidos pelos cinco continentes. Por aqui, baixaram o tom e se contentaram em não perder muito do espaço que haviam conquistado. A velha e conhecida estratégia de esperar a poeira baixar e depois retomar o comando da nave, como estão fazendo ao longo do período mais recente. A agenda do desenvolvimentismo, que havia recuperado uma pequena esperança de sobrefôlego entre 2009 e 2010, voltou a ser esmagada pelas forças daquilo que eu chamo de “neo-conservadorismo liberal”. A rendição às forças de mercado voltou a ser a marca do discurso de nossos principais dirigentes no governo federal. Assim, a agenda da política econômica tornou a ser ditada, outra vez de forma explícita, pelos interesses do grande capital.

Basta conferir as principais medidas anunciadas pelo governo durante as últimas semanas. Os esforços desenvolvidos a todo custo para garantir o superávit primário, com cortes orçamentários em despesas sociais e de investimentos estratégicos, assegurando recursos para pagamento de juros e serviços da dívida pública. Ou as reuniões de ministros com a nata do grande empresariado, para acalmá-los a respeito daquilo que seriam as verdadeiras intenções do governo. Ou a visita tranquilizadora de Dilma aos banqueiros em Davos, na reunião anual do Fórum Econômico Mundial. Ou ainda as sucessivas decisões de promover aumento na taxa SELIC. Enfim, a lista é enorme.

Ora, frente a essa postura intimidada e amedrontada do núcleo duro do governo diante do capital, o inimigo avança com tudo o que pode e exige sempre mais. A ameaça e a chantagem convertem-se em elementos perenes na vida política. E eis que - pasmem! - ocorre o inusitado. O governo cede em tudo o que lhe é solicitado, oferece mais e mais benesses ao empresariado, promove mais e mais concessões ao setor privado. E, apesar de tudo isso, os investimentos tão necessários não se manifestam. A nossa economia rateia e não consegue crescer nem perto da média do crescimento mundial.

No presente momento, a bola da vez do financismo é a Petrobrás. Na verdade, eles nunca se perdoaram por terem perdido a oportunidade de transformá-la em PetrobraX, como pretendia fazer Fernando Henrique, para privatizá-la como foi feito com a Vale do Rio Doce, com as empresas de telefonia, com o ramo da eletricidade e tantas outras. E uma das mais eficientes estratégias para repavimentar o caminho da privatização é desacreditar a empresa, “quebrá-la” financeiramente nos jogos especulativos na Bolsa e criar um ambiente desfavorável à mesma nos meios de comunicação. Afinal, diz a cantilena liberal, tudo isso ocorre em razão de sua natureza pública. Se a empresa fosse privada, o quadro seria outro, tudo estaria às mil maravilhas.

A Petrobrás tem sido bombardeada de forma intensa por todos os lados. É claro que há indícios de sérios problemas de gestão ao longo dos últimos anos. Além disso, ela sofre também as consequências de ser a principal empresa estatal do governo federal e uma das maiores petroleiras do mundo. Sempre que o tema de reajuste de preços dos combustíveis volta à baila, ela é utilizada para conter a alta de seus produtos, em razão de seus efeitos sobre a inflação. A Petrobrás arca com esse tipo de perda. Mas também nos momentos de baixa de preços do petróleo no mercado internacional, por exemplo, ela ganha, pois jamais os preços internos baixaram por essa razão.

Além disso, as decisões de investimento de nossa petrolífera repercutem de forma expressiva sobre o nível da atividade econômica de todo o País. Ela alavanca o ramo das plataformas de petróleo, os fornecedores de máquinas e equipamentos, as empresas de serviços e logística, os estaleiros construtores de navios, entre tantos outros setores. Em razão das descobertas de novas fontes de petróleo - antes e depois do Pré Sal - as necessidades de novos investimentos são imensas. Não apenas a Petrobrás deseja investir para crescer, mas a sociedade brasileira conta muito com tal desempenho.

Nos quadros complexos do capitalismo contemporâneo, as grandes empresas são obrigadas a lançar mão de operações de endividamento para conseguir realizar seus investimentos. E isso vale tanto para as empresas estatais como para os conglomerados privados. Ora, tudo indica que a sociedade brasileira considera as oportunidades do Pré Sal como sendo essenciais para assegurar um futuro melhor para as gerações que estão por vir. Para viabilizar tal projeto, faz-se necessário um volume enorme de investimento. A Petrobrás precisa alavancar recursos para explorar os campos sob as profundezas do oceano.

Apesar dessa equação aparentemente óbvia para qualquer profissional de economia, os “especialistas” passaram a criticar o elevado endividamento da empresa. Ela foi buscar recursos no mercado financeiro internacional e obteve um importante êxito. Há poucos dias, lançou bônus no valor de US$ 8,5 bilhões e encontrou uma demanda interessada bem superior, por volta de US$ 22 bi. Havia uma forte aposta especulativa de que a ameaça de rebaixamento da cotação do risco Brasil pela consultoria Standard & Poor’s melasse a iniciativa da Petrobrás.
 
Mas ocorreu o oposto. Ao que tudo indica, a leitura é de uma maior relevância de avaliação do potencial futuro do Pré Sal em comparação com os problemas atuais enfrentados por nossa empresa de petróleo.

Tanto que a estratégia dos grandes operadores do mercado mobiliário foi forçar a derrubada do preço negociado das ações da Petrobrás nas bolsas de valores, tentando caracterizar a operação de adesão ao plano de investimentos exitoso como sendo um fracasso. O discurso volta-se novamente para os supostos elevados índices de endividamento da empresa. Ocorre que a Petrobrás só pode crescer e investir lançando mão desse tipo recurso. Cria-se o círculo vicioso. Se não investir, será acusada de incompetência, de ter perdido a oportunidade única do Pré Sal. Ao investir, também é acusada de promover mais endividamento e colocar as finanças do grupo em risco.

Em suma, o financismo nunca estará contente nem de acordo com a “performance” da Petrobrás. A não ser, é claro, que ela seja submetida a um processo de privatização. Esse deve ser o objetivo último da atual campanha de desgaste da imagem da empresa. Aproveitando carona na disputa política entre o fisiologismo de setores do PMDB e o Palácio do Planalto, a Câmara dos Deputados aprovou a convocação da Presidente Graça Foster. Em tese, não haveria nada de anormal nesse tipo de prestação de contas de dirigentes de uma empresa pública aos representantes eleitos pelo povo. Faz parte das regras do jogo democrático e republicano. Mas nesse país chamado Brasil tudo adquire cores dramáticas na esfera da “política politiqueira”. A colocação da empresa na berlinda cai como uma luva na estratégia que busca sua desmoralização política e negocial. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.


(*) Economista e militante por um mundo mais justo em termos sociais e econômicos.

“Prévia” do PIB, IBC-Br tem maior alta desde dezembro de 2009 e surpreende “urubus”

ibcjan
O Banco Central divulgou, agora há pouco, o seu Índice de Atividade Econômica, o IBC-Br, considerado um indicador da variação do Produto Interno Bruto Brasileiro.
Subiu 1,26% em relação a dezembro, quando foi bem fraco.
O mais importante, porém, é que o valor atingido é o  um dos melhores dos últimos dois anos, na série livre das influências sazonais.
Foi quase o dobro da expectativa do mercado financeiro, em pesquisa da Reuters, na qual “a mediana de 26 projeções apontava alta de 0,70 por cento”.
Claro que um resultado apenas não projeta tendência, salvo na nossa imprensa catastrofista, que prevê o fim do mundo em cada indicador negativo da economia e coloca um “mas” depois de cada número positivo.
Mas é expressivo o suficiente para afirmar que não há uma retração sistemática da atividade da economia.
Ao contrário do que previam os urubus, o Brasil está mais perto de uma aceleração da economia do que da estagnação que eles prevêem todo santo dia.

Marcha à ré da Família com Deus em nome do Passado

Leonardo Sakamoto

Recebi cartas dos leitores (mentira, foi e-mail – mas já pensou que legal se todos os comentários do blog, inbox do Face, DMs do Twitter e demais correios eletrônicos chegassem por cartinha? Eu ia mergulhar nelas feito o Bozo quando sorteava aqueles LPs cujas capas eram produzidas no Playcenter) pedindo um post sobre grupos que estariam organizando uma nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade para o sábado (22).
O objetivo desse pessoal seria marcar os 50 anos daquela excrescência que antecedeu ao golpe militar de 1964. Em defesa da fé, da família e da pátria.
Agregam valor ao camarote colocando uma série de reivindicações que eles, equivocamente, chamam de “conservadoras''. Pois uma coisa é o pensamento conservador, que merece ser respeitado e, na minha opinião, questionado – quando for o caso – nas arenas de discussões. A outra é gente que acha que a Constituição é papel higiênico e as instituições democráticas – que levamos décadas para reconstruir – são um grande vaso sanitário de onde só exala fedor.
Reivindicações que incluem uma “intervenção militar constitucional'' (haha), o bloqueio da transformação do país em uma “ditadura homossexual'' (hahahaha) e uma ação para evitar a “implantação do comunismo'' pelo partido que está no poder (kkkkkkkkkk). Gente, em que país eles vivem?
Eu olhei, olhei e pensei que era uma piada. Ainda espero que seja um grande hoax.
Portanto, gostaria de analisar não o chamamento para a marcha em si e mais a reação dos que estão apoiando essas ideias.
Antes de tudo, um comentário sincero: como a democracia é linda…
Ainda vou escrever com mais calma sobre esse assunto, mas sabe o que mais assusta? A falta de conhecimento histórico. Qualquer análise de conjuntura e de contexto histórico, não só brasileiro mas de todo o mundo, mostra que 1964 e 2014 são dois momentos diferentes, com acúmulos políticos e participação popular diferentes também.
É claro que há insatisfações naquela época como agora, e de todos os lados. Insatisfação contra o mau funcionamento das instituições (corrupção, enfim), mas também insatisfação de alguns contra a conquista de direitos por determinadas parcelas da sociedade que, sistematicamente, foram deixadas à margem (direito a não passar fome, por exemplo).
Mas o país é diferente, poucos são os que querem engatar a marcha à ré. As pessoas repetem comparações ruins (“no passado, tinha mais segurança e menos corrupção'') até terem contato com os números e a realidade. Isso sem contar que a imprensa, hoje, é muito mais livre para divulgar os casos de malfeitos – coisas que era impossível durante a Gloriosa. Ou seja, as possibilidades de quebra institucional não são as mesmas.
Li um panfleto que dizia que o PT está rompendo com o capital, criando problemas para bancos. Gente do céu… Se assim fosse eu ia para a rua cantar debaixo da chuva. O fato é que esse milagre não vai acontecer nem que a vaca tussa. Nunca o sistema financeiro nacional e internacional ganhou tanto dinheiro quanto agora. Boa parte do PT nem mais é de esquerda, que dirá comunista ou “revolucionário''.
Enfim, não é para ninguém entrar em parafuso. Uma nova “intervenção'' ou qualquer eufemismo que possa ser dado a um golpe cívico-militar são despropositados.
Uma das maiores consequências das manifestações de junho de ano passado foi trazer pessoas para ocuparem espaços públicos e darem suas opiniões. Ruas,praças e avenidas não são apenas rotas de passagem de pedestres e automóveis, mas é onde se faz política e se exerce a cidadania.
Eu adoraria que todo mundo que posta contra a democracia fosse defender suas posições de cara limpa, mas infelizmente isso não vai acontecer. As marchas, se ocorrerem, vão juntar menos gente do que manifestações do ano passado.
Pois é importante que a extrema direita mostre sua cara e diga quem é. Você não está cansado de ser xingado por anônimos na internet? Não tem curiosidade de saber quem eles são? Pois bem, essa é a hora. Que venham e defendam seus argumentos com fatos e não misticismos.
Talvez, dessa forma, possamos ir para o debate construtivo ao invés da troca de ofensas.

Alckmin começa o racionamento de água PPP em São Paulo: periferia, pobre e petista

guarulhos
Era inevitável, como a gente dizia já na segunda-feira.
E pela periferia, o primeiro dos três P.
As cidades escolhidas foram São Caetano do Sul -que é uma cidade de pequeno porte,  quase um bairro paulistano, com 150 mil habitantes e 15 km² de área apenas, onde o consumo já havia caído para abaixo para a cota adequada – e a gigante Guarulhos, segunda cidade mais populosa de São Paulo e  a 1a3ª mais populosa do Brasil, a maior entre as não-capitais.
E o segundo “P” do racionamento: uma cidade pobre, a 145a. no IDH paulista.
Mas, antes do terceiro “P”, um “detalhe” curioso. A Sabesp diz que vai “cortar” a água de São Caetano do Sul, mas a cidade já baixou seu consumo para um nível menor do que a nova quantidade de água. Portanto, não há corte algum. Também não foi explicado porque o mesmo procedimento não foi – e vai ser – estendido a outras cidades que usam água do Cantareira via Sabesp.
O terceiro “P” é que a prefeitura de Guarulhos, daquele tamanhão, é dirigida já há um bom tempo pelo PT.
Como é pobre, é claro que é muito difícil reduzir fortemente o consumo de água, que já é pouco, por conta do preço e complicado, porque nas favelas não há hidrometro e, portanto, não aianta prometer desconto de acordo com o consumo medido.
E muito menos conseguir isso por conscientização, com o Governo do Estado e a imprensa escondendo a gravidade da situação.
Há dois dias, o governador mentiu dizendo que não faltaria água nem para a cidade de São Paulo, nem para os municípios atendidos pelo Cantareira.
Se a água é de todos, o seu racionamento tem de ser para todos: assim ele será menor, mais eficiente e menos injusto.
Porque nos bairros pobres atendidos pelo Cantareira e em Osasco já está em curso um racionamento não-assumido, com o fornecimento de água intermitente.
Já outros bairros, de classe média,  foram transferidos do cantareira para outro sistema, o Alto Tietê (que  também vai entrar em nível crítico, mas ainda demora).
E a imprensa paulista, seus jornalões, comendo mosca seca e sonegando do noticiário a gravidade da crise e a responsabilidade dos governos Serra e Alckmin.
Água pouca, tucanão primeiro.

Aécio ficou doidão? Ação judicial secreta para censurar Google e Facebook? Pó pará…

censura
Incrível.
Mas é a Folha que traz a noticia.
Aécio Neves quer proibir, nos sites de busca e nas redes sociais, links, perfis, páginas, tudo o que eventualmente faça menção a ligações entre ele e o “uso de entorpecentes” e à ação em que foi acusado de não aplicar o mínimo constitucional na Saúde durante sua gestão como governador de Minas Gerais.
Está movendo, sob sigilo, duas ações judiciais em São Paulo contra aos sites de busca e o Facebook.
Resumindo: quer impor a censura prévia na rede.
Na primeira ação, já perdida em primeira instância, Aécio quer suprimir menções a um eventual “desvio de verbas”, pelo fato de o Ministério Público tê-lo acusado de “maquiar”  as contas estaduais contabilizando recursos aplicados em  saneamento básico para completar aparcela constitucional obrigatória para a Saúde.
Na segunda, iniciada em dezembro passado, diz a Folha, “o tucano pede providências contra “comunidades e perfis” em redes sociais que “atribuem ao político a condição de usuário de entorpecentes”.
Como o processo, a pedido dos advogados de Aécio, corre em segredo de Justiça, não é possível saber se ele também pede providências contra o Estadão, que publicou artigo de amigo de José Serra, Mauro Chaves,  com o famoso “Pó pará, governador”. Até então os hábitos privados de Aécio, verdadeiros ou não, ficavam no âmbito de sua vida pessoal.
Da mesma forma que foi no Uol, através da coluna de Juca Kfouri, que se sou de seu currículo como estapeador de mulheres.
Os advogados do Google disseram, na ação,  que Aécio “parece sensível’ demais às críticas sobre sua atuação”.
É aquele famoso ditado: “quem foi mordido por cobra até de minhoca tem medo”.
Claro que Aécio vai perder, porque estamos numa democracia e ele tem todo o direito de processar os autores do que considera – e pelo volume de menções na rede, o povo não – mentiroso e ofensivo.
Aécio, além de autoritário, é burro.
Primeiro, porque permite imaginar o que faria como presidente da República em matéria de liberdades, se não bastasse saber o que fez da  liberdade de imprensa em Minas Gerais.
Segundo, porque agora qualquer um pode dizer, sem medo de processo, que ele é Aécio Neves, aquele que quer proibir, na Justiça, que digam que ele é usuário de…
Desculpem, mas só dizendo: Pó pará, senador…

quinta-feira, 13 de março de 2014

Motim de “aliados” mostra como é difícil governar o Brasil


No primeiro turno da eleição presidencial de 1989, votei em Mario Covas “por falta de opção”. Aos 30 anos, foi meu primeiro voto para presidente e eu, tanto quanto qualquer outro, sabíamos que teríamos que “acertar” na primeira eleição para esse cargo após quase três décadas sem votar. Nesse aspecto, Covas parecia mais “confiável”.
Apesar disso, havia um frisson em torno da figura carismática de Lula, o que, no futuro, mostrar-se-ia justificado. Muitos entenderam que suas dificuldades em usar a norma culta do idioma, comendo esses e violando a concordância verbal, não impediriam que, caso fosse eleito, fizesse um governo do povo, pelo povo e para o povo.
Contudo, não foram as suas dificuldades com o idioma ou a falta de um diploma universitário – argumentos dos seus adversários de então para desqualificá-lo – que me impediram de lhe dar meu voto no primeiro turno. Votei em Covas porque o PT me irritara profundamente ao se negar a assinar a nova Constituição, um ano antes.
“O PT é muito radical”, dizia eu. Poucos anos antes – como praticamente toda a juventude –, eu fora à rua pelas Diretas Já porque acreditava que o mero direito de votar para presidente colocaria fim à terrível crise econômica que a ditadura militar legara ao país. A nova Constituição, pois, simbolizava a era de liberdade e democracia que se descortinava.
Mas o PT, há um quarto de século, era o que o PSOL ou o PSTU são hoje; era contra “tudo isso que está aí”. Criticava todo mundo e acenava com soluções “milagrosas” que implantariam a felicidade e a prosperidade por decreto.
No segundo turno, porém, agora tendo que escolher entre Lula e Fernando Collor de Mello, não tive dúvida: não apenas votei em Lula, mas revi meu ponto de vista sobre ser radical. Sem radicalizar, de fato não se chegaria a lugar algum. Ao menos era nisso que eu acreditava.
Hoje, porém, como tantos outros entendo que foi melhor Lula não ter vencido. Se chegasse ao poder, acabaria deposto pelos militares. Se tivesse dado o calote na dívida externa, como o PT pregava ontem e o PSOL e o PSTU pregam hoje, teria sido um desastre. A interdependência mundial, produto da queda do Muro de Berlin, era inexorável.
Ainda assim, votei em Lula no segundo turno de 1989. O que me fez mudar tanto de ponto de vista foram as sujeiras inacreditáveis que Collor e a mídia fizeram contra ele. Ao longo da década seguinte, os golpes baixos que Lula sofreu iriam unindo a nação em torno dele.
Além disso, em minha visão o “caçador de marajás” tinha a palavra picareta estampada na testa. Era estupefaciente ver senhoras e mocinhas dizendo que votariam nele porque era “bonitão” e “falava bem”. Modéstia à parte, eu era um jovem politizado e não entendia como alguém poderia ser tão ignorante ao ponto de votar sob tal “critério”.
Nem dois anos depois, achar um eleitor de Collor era literalmente impossível. Seus eleitores, em peso, alegavam que tinham “votado em branco” ou “anulado” o voto. Essa falta de vergonha na cara revoltava ainda mais. Aí foi nascendo o mito Lula. Ele se tornou o candidato dos que repudiavam a hipocrisia, acima de tudo.
Até 1994, porém, a crescente força política de Lula era produto muito mais do emocional do que do racional, pois o PT ainda era uma espécie de PSOL vitaminado.
O PT rejeitava alianças com partidos que não partilhassem, ponto por ponto, os dogmas socialistas. Acreditava ser possível disputar eleições sem dinheiro, com um discurso messiânico e promessas difíceis de concretizar em um mundo que se tornava interdependente, no âmbito do Consenso de Washington e do fracasso do socialismo soviético.
Apesar de ter votado de novo em Lula, Fernando Henrique Cardoso – quem se apropriou do Plano Real, de Itamar Franco, por este tê-lo escolhido para ser a face política do plano, pois o tucano não era economista e não inventou plano econômico algum – salvou o país de ser governado por um partido que ainda não o entendia.
Pensando exclusivamente em um novo mandato desde que venceu a eleição de 1994, FHC destruiu um plano que poderia ter funcionado. Acomodou-se com o apoio desmesurado da mídia, que lhe deu licença para tudo e se absteve de qualquer questionamento a trapalhadas como manter o câmbio sobrevalorizado.
A derrota de Lula em 1994 – em uma eleição que parecia ganha, porque o desastre Collor, em tese, mostraria que o Brasil deveria ter votado no petista – fez o PT amadurecer. Em 1998, o partido já passara por um “aggiornamento”; entendeu a necessidade de alianças e que, sem dinheiro, ninguém chega ao poder.
O PT poderia ter vencido a eleição de 1998 e, se isso tivesse ocorrido, o país não teria afundado como afundou ao longo do segundo governo FHC. Porém, aquele foi o ano do que talvez tenha sido o maior estelionato eleitoral da história brasileira. Com ajuda da mídia, o presidente tucano conseguiu esconder do povo que o Brasil estava afundando.
Em 2002, Lula e o PT chegaram ao poder por duas razões: a primeira, porque, após errar com Collor e com FHC, a parte dos brasileiros que usa o cérebro em vez do fígado entendeu que Lula era a última opção que restava. A segunda razão reside em Lula e PT terem entendido que o Brasil não é de esquerda e que só um governo de coalizão como o de FHC seria factível.
Surgem, então, o “Lulinha paz e amor” e a “Carta aos Brasileiros”. Um e outro simbolizavam o amadurecimento do PT.
Finalmente havia um partido realmente social-democrata para realizar o que fosse possível, em termos de justiça social. O PT chegou ao poder respeitando o fato de que esta é uma sociedade conservadora e de que com um ideário exclusivamente de esquerda seria impossível chegar ao poder.
O resumo da ópera é que ninguém governa o Brasil sem alianças amplas, do ponto de vista ideológico.
A direita não governa sem uma pitada de esquerda porque este é um país com carências sociais literalmente explosivas e só a esquerda tem soluções para essas questões; a esquerda não governa sem uma pitada de direita porque o poder de sabotagem de sua antítese ideológica é imenso, pois a direita controla a mídia e o grande capital.
Chegamos, pois, a março de 2014. Lula, a sucessora que escolheu e o PT vêm sendo demonizados não só pelos ultraliberais tucanos e pela extrema-direita, mas pelo novo PT, ou melhor, pelos novos PT’s – pelo PSOL e pelo PSTU, sobretudo.
Pela esquerda, Lula, Dilma e o PT sempre são acusados de se aliarem a Sarney, Renan Calheiros, Maluf etc. Inclusive pela mídia conservadora, diga-se, e pelos ultraliberais demo-tucanos. Como se fosse possível alguém governar o Brasil só com a esquerda ou só com a direita.
A recente rebelião da base aliada – PMDB à frente – acaba de mostrar como é impossível governar o Brasil sem um leque amplo de alianças, inclusive com lideranças nitidamente de esquerda ou de direita.
Sem Sarney, Renan etc., o Congresso se torna um muro intransponível à governabilidade. O governo não aprova nada. Não haveria essa miríade de programas sociais que tiraram dezenas de milhões da miséria, por exemplo. Mas, claro, a direita que integra a coalizão governista não vai aprovar programas sociais para pobres sem uma contrapartida.
É uma hipocrisia desmesurada criticar a necessidade de governabilidade. É trapaça. É uma tentativa revoltante de enganar a sociedade.
Esse discurso que nega a necessidade de alianças visa sobretudo a esses garotos que não viveram tudo o que relatei neste texto e que, por isso, acreditam que seria possível um presidente fazer o que a ex-senadora psolista Heloísa Helena prometeu em 2006, quando disputou a Presidência: resolver tudo com “uma canetada”.
O melhor que qualquer governo de coalização – mas com viés de esquerda – pode fazer é exigir, como contrapartida aos cargos que tem que dar para saciar a direita, meios de ampliar o nível de escolaridade e de consciência política do povão, para que este entenda que pobre não pode votar em candidato que representa a “massa cheirosa”.
A grande sorte do Brasil é que Lula entendeu que sem Sarney, Renan, Maluf e outras lideranças de direita, saciando sua sede por cargos, ninguém de esquerda governa este país. A alternativa a fazer governos de coalizão será voltar aos governos conservadores como os de Sarney, Collor e FHC. De triste memória.

Conheça os 40 mandamentos do reacionário perfeito

"Cada um dos tópicos abaixo foi diretamente inspirado nas falas ou nas atitudes de pessoas de carne e osso

Por Gustavo Moreira, em seu Blog / Pragmatismo Político  

1-Negue sistematicamente a existência de qualquer conflito de classe, gênero, etnia ou origem regional ao seu redor, mesmo que o problema seja evidente até aos olhos do turista mais desatento. Afinal, sempre nos foi ensinado que a sociedade é um todo harmônico.

2-Não sendo possível negar o conflito, pela sua extensão, tente convencer seu interlocutor de que ele é limitado, reduzido a alguns focos ou induzido por estrangeiros perversos, mas que logo tudo voltará à tranquilidade costumeira.

3-Sendo impossível negar que o conflito é vasto e presente em quase toda parte, tome o partido dos mais poderosos. Afinal, eles representam a ordem, que deve ser mantida a qualquer custo.

4- Manifeste sua contrariedade diante de qualquer estatística que aponte para uma tendência de aumento da massa salarial. É inadmissível que os abnegados empreendedores sejam constrangidos a margens de lucro menores.

5-Demonstre contrariedade ainda maior quando notar que filhos de operários, camelôs e empregadas domésticas estão frequentando universidades.
Prevalecendo esta aberração, que vai limpar o vaso sanitário para seu filho daqui a vinte anos?

6-Repita mil vezes por dia, para si mesmo e para os outros, que esquerdismo é doença, ainda que faça parte de uma classe média de orçamento curto, mas que, em estranho fenômeno psicológico, se enxerga como parte da melhor aristocracia do planeta.

7-Atribua a culpa pelos altos índices de criminalidade aos migrantes vindos de regiões pobres e imigrantes de países miseráveis. Estas criaturas não conseguem nem reconhecer a generosidade da sociedade que os acolhe.

8-Associe, sempre que possível, o uso de drogas a universitários transgressores e militantes de esquerda, mesmo sabendo que o pó mais puro costuma ser encontrado nas festas da “boa sociedade”. É necessário ampliar ou pelo menos sustentar o nível de reacionarismo da população em geral.

9- Tente revestir seu conservadorismo com uma face humanitária, reivindicando o direito à vida de todos os fetos, ainda que, na prática, vá pagar um aborto caso sua filha fique grávida de um indesejável, e seja favorável ao uso indiscriminado de cassetete e spray de pimenta contra os filhos de indesejáveis já crescidos.

10- Assuma o partido, em qualquer querela, daquele que for mais valorizado socialmente. Não é prudente que os “de baixo” testemunhem quebras de hierarquia, nem nos casos de flagrante injustiça.

11- Tente justificar, em qualquer ocasião, os ataques militares da OTAN contra países da Ásia, África ou da América Latina, mesmo que estes não representem a menor ameaça concreta para os agressores. Pondere que não é fácil carregar o fardo da civilização.

12- Mantenha assinaturas de pelo menos um jornal e uma revista de linha editorial bem reacionária, para usá-las como argumento de autoridade. Quando suas afirmativas forem refutadas, retruque de imediato com a fórmula “eu sei de tudo porque li o …”.

13-Nunca se esqueça: se um político socialista ou comunista cometer crimes comuns, isto é da essência do esquerdismo; se os crimes forem cometidos por um político de direita, ele é apenas um indivíduo safado que não merece mais o seu voto.

14- Vista-se somente com roupas de grifes caríssimas, não importando o quanto vá se endividar. Sobretudo jamais seja visto sem gravata por pessoas das classes C, D e E.

15- Nunca perca a oportunidade de discursar a favor da pena de morte quando o jornal televisivo noticiar o assassinato de um pequeno burguês por assaltante ou traficante de favela; se, ao contrário, surgir a imagem de algum rico que passou de carro a 200 km/h por cima de pobres, mude de canal, procurando um filme de entretenimento.

16- Quando ouvir narrativas sobre ações violentas de neonazistas e outros militantes de extrema-direita, minimize a questão. Afinal, eles podem ser malucos, mas contrabalançam a ação da esquerda.

17- Reserve pelo menos uma hora, durante as festas de aniversário de seus filhos, para aquela roda em que alguns contam piadas sobre padeiros portugueses burros, negros primitivos, judeus e árabes sovinas, gays escrachados e índios canibais. É necessário, para reforçar a coesão da comunidade burguesa “cristã-velha”!

18- Quando forçado a conversar com pobres, tente parecer um grande doutor, empregando seguidamente expressões estrangeiras; se um subalterno for inconveniente ou falar demais, dispare sem hesitar: “Fermez la bouche!” .

19- Seja sócio de um clube tradicional, ainda que falido, e se possível ocupe uma de suas diretorias, mesmo que totalmente irrelevante. Manifeste-se sempre contra a entrada no quadro social de emergentes sem diploma e outros tipos sem classe.

20- Jamais ande de trem ou de ônibus. É a suprema degradação, comparável somente a ser açougueiro na sociedade absolutista.

21- Obrigue todo empregado doméstico que venha a cair sob suas ordens a comprar uniforme e usá-lo diariamente, impecavelmente lavado e passado. Afinal, para que serve o salário mínimo?

22-Jamais escute música baiana de qualquer vertente, samba, forró ou cantores sertanejos. Uma vez flagrado, sua reputação de homem civilizado estaria arruinada.

23-Pareça o mais alinhado possível com o liberalismo do século XXI. Tendo preguiça de se dedicar a textos complexos, leia pelo menos “Não somos racistas”, de Ali Kamel, e o “Manual do perfeito idiota latino-americano”. 
Passará como intelectual para pelo menos 90% da juventude de direita.

24- Morra virgem, mas nunca apresente como esposa, noiva ou namorada uma mulher que não caiba no estereótipo da burguesa cosmopolita, porém comportada.

25- Faça eco aos discursos dos octogenários conservadores que constantemente repetem a fórmula “no meu tempo não era assim”, mesmo que saiba sobre inúmeras falcatruas e atrocidades “do tempo deles”. Quanto mais perto do Império e da República Velha, mais longe da contaminação esquerdista!

26- Passe sempre adiante, para parentes, amigos e conhecidos, notícias forjadas na Internet, no estilo “Todas as mulheres de uma cidade do Ceará se recusaram a trabalhar numa fábrica de sapatos, porque já recebiam o bolsa-família”. Não importa se é impossível que qualquer pessoa com mais de quatro neurônios ativos acredite que uma cidade inteira tenha recusado um salário de pelo menos seiscentos reais por achar que vive bem com um auxílio de cento e cinquenta.

27- Repasse, igualmente, juízos de valor negativos sobre personalidades de esquerda, na linha “Michael Moore é mentiroso”, “Chico Buarque é um comunista hipócrita que vive no luxo”, “Dilma foi terrorista”, etc. É preciso dar continuidade à teatral associação entre reacionarismo e moralidade.

28-Diante de qualquer texto ou discurso de esquerda, classifique-o imediatamente como doutrinação barata ou lavagem cerebral. Não importando sua eventual ignorância sobre o tema, é preciso fechar todos os espaços à conspiração gramsciana mundial.

29- Sustente a surrada versão de que “apesar dos erros, os milicos salvaram o Brasil do comunismo em 1964”. Desconverse mais uma vez se alguém perguntar como se chegaria ao comunismo através da provável eleição de Juscelino Kubitschek em 1965.

30- Deprecie ao máximo mexicanos, chilenos, peruanos, paraguaios, bolivianos, colombianos e demais hispânicos como caboclos de cultura atrasada. Abra exceção para argentinos ricos filhos de pais europeus, desde que estes se abstenham de chamá-lo de macaquito.

31- Defenda o caráter sagrado da propriedade rural. Quando alguém recordar que as terras registradas nos cartórios do estado do Pará equivalem a quatro Parás, procure ao menos convencê-lo de que é uma situação atípica.

32- Afirme com veemência que todo posseiro, índio ou quilombola em busca de regularização de terras é vagabundo, mesmo que seus antepassados estejam documentados no local há duzentos anos. Por outro lado, todo latifundiário rico sempre será um proprietário respeitável, ainda que tenha cercado sua fazenda à bala há menos de vinte.

33- Denuncie nas redes sociais os ambientalistas que tentam embargar a construção de fábricas de artefatos de cimento em bairros superpopulosos e de depósitos de gás ao lado de estádios de futebol. Esses idiotas não sabem que nada é mais importante do que o crescimento do PIB?

34- Rejeite toda queixa que ouvir sobre trabalho escravo. É tirania impedir que alguém trabalhe em troca de água, caldo de feijão, laranja mofada e colchão de jornal, se estiver disposto a isto. Deixem a vida social seguir seu curso espontâneo!

35- Quando alguém protestar contra o assassinato de duzentos gays no ano Y, responda que outras quarenta mil pessoas morreram violentamente naquela temporada. Finja que é limítrofe e não entendeu que a cifra se limita aos gays mortos em decorrência desta condição e não aos que tombaram em latrocínios, brigas entre torcidas e disputas armadas por vagas de garagem.

36- Acuse todo movimento constituído contra determinado tipo de opressão de querer promover a opressão com sinal contrário. As feministas, por exemplo, pretendem castrar os machos e colocar-lhes avental para lavar a louça e cuidar de poodles.

37- Enalteça “esportes e diversões” que favorecem o gosto pelo sangue, como arremesso de anões, rinhas de galo, pegas, caçadas em áreas de preservação ambiental, touradas, farras do boi e congêneres. Como já dizia seu patrono oculto Benito Mussolini, “o espírito fascista é emoção, não intelecto”.

38-Procure enxertar referências bíblicas nas suas falas sobre política. Ao defender um oligarca truculento, arremate a obra dizendo algo como “Cristo também jantou na casa do rico Zaqueu”. Tente dar a impressão de que qualquer um que venha a contestá-lo despreza pessoas religiosas.

39-Apresente a todas as crianças que tiver ao seu alcance, antes dos dez anos, o repertório integral de Sylvester Stallone e similares, nos quais o árabe é sempre terrorista, o vietnamita um comunista fanático que jamais tira a farda e o hispano-americano batedor de carteira ou traficante. Tendo a chance, compre também Zulu, para a garotada aprender desde cedo que africanos são selvagens que correm em torno da fogueira sacudindo lanças de madeira.

40- Não permita que a política externa dos Estados Unidos seja criticada impunemente. Nunca se sabe quando o homem de bem precisará de um poder maior e talvez irresistível para defendê-lo do zé povão."

FHC diz que Dilma “desvaloriza” deputados. Com ele, deputado era “valorizado” para votar reeleição, né?


fhcdepuutados


Fernando Henrique Cardoso anda impossível.

Aproveitando que seu candidato é um nada, ele sentiu que pode ser alguma coisa na sucessão e anda falando pelos cotovelos.
Mas cada uma que eu vou te contar.
Hoje foi a vez de dizer que Dilma trata mal os deputados e não discute os problemas,chegando com pacotes prontos, que são impostos a todos.
Claro que no tempo dele era diferente, não é?
As privatizações, por exemplo, foram super-discutidas, não foi?  Só faltou convocarem um plebiscito  para que o povo dissesse que estava louco para ver tudo vendido para estas maravilhosas empresas de telefonia e de eletricidade,não é?
E o arrocho dos salários? Só saiu porque houve multidões de trabalhadores na frente do Congresso, aos gritos de “me arrocha, me arrocha, me arrocha”!
Os servidores, então, chegavam a organizar marchas masoquistas, carregando coleiras, chicotes e outros petrechos de flagelação, implorando às autoridades que os humilhassem, maltratassem, torturassem…
E o socorro aos bancos falidos com o Proer? Querem exemplo maior de discussão? Foi começar a quebradeira e “pá-pum”, tomou-se a decisão. Certamente ouviram a população via facebook, no final de semana. O que, não tinha facebook na época? Isso é detalhe, ora…
Do mesmo feito foi a reforma da previdência, acabando com o tempo de serviço de 30 e 35 anos. Foi lindo! Aquele pessoal de cabelos embranquecidos, numa demonstração de vitalidade, enchendo a Esplanada exigindo trabalhar mais tempo e ganhar menos de aposentadoria.
O senador Paulo Paim, gritando “negro quando pinta, três vezes trinta” exigia aposentadoria só aos noventa anos, vocês lembram?
Mas nada, nada foi tão democrático quanto a reeleição. Aqueles deputados gravados dizendo que receberam dinheiro para votar, história que o jornalista Palmério Dória acabou por confirmar com o autor das gravações, o ex-deputado Narciso Mendes, no seu livro “O Príncipe da Privataria”, mostra a que nível de bom relacionamento entre Executivo e Legislativo o Brasil chegou: em lugar de deputado pedir propina, o Governo já mandava pagar, para evitar essa coisa desagradável.
Por tudo isso, Fernando Henrique, é que o povo jamais tira você da memória e quer sempre saber de que lado você está, para poder se orientar sabiamente.
E ir pro lado oposto.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Entenda como funciona a oposição "extraoficial" de Eduardo Cunha

Oficialmente, lidera o PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo. Extraoficialmente trabalha para que esses projetos não sejam aprovados

Daniel Quoist
Renato Araújo / ABr


Qualquer pessoa minimamente interessada em política sabe o poder de destruição que tem uma personalidade beligerante quando assume uma função, digamos, de liderança.   

É o caso do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Oficialmente é o líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, o segundo maior partido da base aliada que dá sustentação ao governo Dilma no Congresso.

Extraoficialmente é o criador de problemas por excelência: está em contínua queda de braço com a presidenta ou com seus prepostos da mesma base aliada.

Oficialmente deveria liderar a bancada do PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo.

Extraoficialmente trabalha exatamente para que esses projetos sejam derrotados e, sempre que possível, que sejam derrotas clamorosas, ruinosas, barulhentas.

Oficialmente deveria estar alinhado com a principal figura do PMDB na atualidade, o vice-presidente Michel Temer.

Extraoficialmente é quem mais cria problemas para o nº 2 da República que, vira e mexe, tem que ir se explicar perante a presidenta Dilma, e gastar imensa energia para apagar os sucessivos focos de incêndio criado pelo correligionário carioca.

Oficialmente deveria manter um mínimo de cooperação e de urbanidade com o partido da presidenta, o PT, e somar esforços com este para produzir matéria legislativa que traduza em ações concretas o plano de governo oferecido à população nas eleições de 2010.

Extraoficialmente comporta-se como macaco em loja de louças, fustigando o presidente do PT, Rui Falcão, infernizando a vida do vice-presidente da Câmara, André Vargas, ironizando e desqualificando os diversos ministros de Estado que, por acaso, sejam petistas de carteirinha.           




Oficialmente deveria trabalhar para abater no nascedouro os escândalos ‘fakes’, artificiais, forjados por uma Oposição capenga para desgastar a imagem do governo junto à população e que sempre contam com a extrema boa vontade de uma mídia tradicional empenhada ela mesma em ter incontestável protagonismo de oposição ao governo.

Extraoficialmente é incansável em fazer articulações para desmobilizar a bancada do PMDB em defesa do governo e em promover factóides que coloquem água no moinho para a criação de Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI), que tanto podem ser sobre a Copa 2014, a Petrobrás, o papel do Itamaraty na crise da Venezuela, as brechas no Mais Médicos, os riscos de apagão, o descontrole da inflação, os empréstimos a Cuba, o uso de aviões da FAB. Ou seja, tudo que poderia ser rapidamente esclarecido acionando as instituições competentes e que existem exatamente para isso, como a Advocacia-Geral da União, a Controladoria Geral da União, a Procuradoria Geral da República, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, o Itamaraty, o Ministério da Saúde, o Ministério da Fazenda, o BNDES, o Ministério das Minas e Energia.

Oficialmente deveria defender dos ataques de uma oposição - sem bandeiras e sem discurso - o governo em que seu partido ocupa a vice-presidência, mantêm em sua órbita de atuação 5 ministérios e milhares de cargos de segundo, terceiro e quarto escalões, incluindo vistosas diretorias em estatais do porte do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Petrobras, CHESF, DNIT.

Extraoficialmente se entrega de corpo e alma a apoiar convocação de ministros de Estado, propostas pelo consórcio PSDB-DEM-PPS, com o objetivo básico de gerar desgaste para o governo, que tanto pode ser político, quando de imagem, midiático.

Oficialmente deveria ter uma atuação de líder nos tradicionais moldes que privilegiam a transparência, a sinceridade, o senso de agregação em torno de um ideário ou de uma causa e que prefira a proatividade ao invés do desmesurado reacionarismo.

Extraoficialmente faz questão de atuar nos bastidores, nas articulações que minem, avariem e enfraqueçam a capacidade do governo federal de apresentar iniciativas legislativas condizentes com o anseio da maioria dos brasileiros que elegeu o PT para lhe governar desde as eleições de 2010.

Oficialmente deveria encorajar o surgimento (e fortalecimento) de crescentes pontos de convergência entre os lideres (e suas respectivas bancadas) que integram o imenso arco de partidos que apoiam o governo.

Extraoficialmente trabalha para potencializar as insatisfações individuais dos deputados, exigir de maneira truculenta o pagamento de emendas parlamentares, ridicularizar (sempre que possível) presidentes de partidos que dão suporte ao governo, criar as condições para criar facções, blocos e similares que atravanquem de vez a ação do governo no Congresso.

Oficialmente deveria buscar interlocução preferencial com o governo a que serve e para o qual foi designado líder de bancada, a começar com o azeitamento das comunicações com a presidenta da República e o alinhamento consensual com o vice-presidente da República, fomentar diálogo fácil com demais lideranças do PT e do PMDB, abrir canais de conciliação com lideranças oposicionistas.

Extraoficialmente é imbatível em torpedear esses canais de comunicação, utilizando as redes sociais para mostrar contrariedade, desaprovação, desaforos e frustrações com os rumos do governo, de seu partido e do partido do governo.

Oficialmente deveria blindar o governo de crises artificiais, crises que têm como objetivo prioritário diminuir o imenso apoio político que a presidenta angariou para se lançar a uma campanha reeleitoral com todos os ingredientes para ser vitoriosa ainda no primeiro turno das eleições majoritárias de outubro de 2014.

Extraoficialmente se comporta mais oposicionista que os líderes de bancadas oposicionistas como Antonio Imbassahy (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Beto Albuquerque (PSB) e Rubens Bueno (PPS).

Feitas estas considerações, algumas perguntas que exigem urgentes respostas:

1. Além dele próprio, a quem mais serve o líder peemedebista Eduardo Cunha?

2. Quem, nos bastidores, mantêm o deputado Cunha na liderança do PMDB?

3. Será que o PMDB nacional é incapaz de ver o que o Brasil todo vê: Eduardo Cunha é a pessoa menos indicada para as funções de líder de bancada governista?

4. Qual é a pauta de reivindicações do deputado carioca pendente de aprovação do Planalto?

5. Ter um ministério ‘para chamar de seu’?

6. Conseguir a nomeação de meia dúzia de afilhados para ocupar diretorias de importantes empresas estatais?

7. Apoio do governo para voos eleitorais de maior envergadura em sua base política no Rio de Janeiro?

8. Sentimento de frustração com a atuação política de lideranças de seu próprio partido (Michel Temer – Henrique Eduardo Alves – Valdir Raupp – José Sarney - Renan Calheiros)?

9. Ter protagonismo de líder oposicionista visando concorrer como vice de Aécio Neves ou em caso de rompimento de Marina Silva com o PSB, fazer dobradinha com seu xará Eduardo Campos?

10. Por que é tão difícil para o PMDB destituí-lo da liderança de sua bancada na Câmara?