Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sábado, 10 de janeiro de 2015

O que se passou em 17 de outubro de 1961

O que se passou em 17 de outubro de 1961


conversações para o fim da guerra e a independência da Argélia, a França conheceu violenta repressão. Nesta data foram assassinados e lançados no rio Sena centenas de manifestantes argelinos. As autoridades nunca reconheceram os factos e tentaram destruir todos os vestígios.
 Por Charlotte Nordmann



1. Contexto
Em 1961 se impôs a necessidade de uma solução negociada para o conflito argelino, e em 20 de maio do mesmo ano as negociações entre o governo francês e o Governo Provisório da República Argelina foram abertas oficialmente. Não havia dúvida de que seria instituído um Estado argelino, as discussões giravam em torno das condições exatas da independência. No entanto, foi a partir do verão de 1961 que aconteceram as mais terríveis cenas de violência que o território metropolitano conheceu durante a Guerra da Argélia. Essa contradição é colocada em evidência pelo exame dos fatos que levaram ao massacre de 17 de outubro de 1961.
franca-11Em 1961 o chefe de polícia de Paris era Maurice Papon, [1] o qual fora nomeado em 1958, durante a IV República, e mantido no cargo pelo presidente Charles de Gaulle durante a V República. Ao ser nomeado, e após violentas manifestações de policiais parisienses, Papon recomendou “eficácia”, a qual ele demonstrara em seu mandato de chefe de polícia de Constantine. Como chefe de polícia e IGAME [2] dos departamentos do Leste da Argélia, de 1956 a 1958, ele instaurou um sistema de repressão no qual a tortura era sistemática e as execuções sumárias frequentes. Enquanto chefe da polícia de Paris, Papon respondeu a uma campanha de atentados na metrópole liderada pela Frente de Libertação Nacional argelina (FLN), organizando intensas blitzes [operações stop e fiscalização de rua] policiais aos “franceses muçulmanos da Argélia”. A violência contra a população norte-africana de Paris se institucionalizava: o chefe de polícia criou a força de polícia auxiliar, constituída de harkis, [3] os quais praticavam a tortura. Papon criou também o Centro de Identificação de Vincennes, onde os norte-africanos “suspeitos” podiam ser presos por uma simples decisão administrativa, sem julgamento. Papon chegou a instaurar, no dia 1º de setembro de 1958, um toque de recolher para os norte-africanos, que foi boicotado pela FLN e pouco a pouco caiu em desuso. Durante as operações policiais, as prisões, as blitzes e o “controle” efetuado pelos harkis, algumas pessoas desapareceram. Numerosas denúncias de tortura e morte foram feitas, mas, apesar do acúmulo de testemunhos, das constatações de maus-tratos pelos médicos e das numerosas desaparições, nenhuma queixa foi investigada. Toda a população norte-africana da região parisiense sofria com blitzes sistemáticas e com a violência dos harkis, que patrulhavam seus bairros, como por exemplo o 18º e o 13º “arrondissements” [4].
A essa violência somava-se, por outro lado, a condição extremamente dura imposta aos trabalhadores norte-africanos na metrópole. Em sua maioria eram solteiros, trazidos em grupos por grandes empresas industriais: a França sofria de falta de mão-de-obra e a população rural da Argélia e do Marrocos constituía uma força de trabalho dócil. Eles viviam em pensões em Paris ou em favelas, como em Nanterre. A superpopulação e o isolamento forçado que enfrentavam se devia à pobreza e à recusa dos proprietários franceses em lhes alugar moradias [casa, apartamento]. Os argelinos “imigrantes” na metrópole eram rigidamente enquadrados pela FLN, o que significava em particular que todos eram obrigados a contribuir — aqueles que se recusavam corriam risco de morte.
2. De agosto de 1961 ao toque de recolher de outubro
Em agosto de 1961, as blitzes policiais e as perseguições se intensificaram, a violência e as detenções arbitrárias pelo fácies [5] se multiplicaram. Essa ampliação da ofensiva policial se produzia ao mesmo tempo em que a FLN havia cessado seus atentados em Paris e no subúrbio algumas semanas antes. Nesse momento, os atentados da OAS [6] se tornavam cada vez mais numerosos, visando às vezes as pensões onde viviam os argelinos. No fim de julho de 1961, as negociações entre o governo francês e o GPRA [7] esbarraram na questão do Saara, pois a França contestava a soberania do futuro Estado argelino sobre esta região. Em agosto de 1961, o presidente Charles de Gaulle estava prestes a ceder sobre essa importante questão para reabrir as negociações. Ele esperava ao mesmo tempo estar em posição de força para negociar. Esse foi o sentido de seu gesto ao demitir, em fins de agosto de 1961, o ministro da Justiça, Edmond Michelet, favorável há muito tempo à negociação com a FLN. Ele cedia assim à pressão de seu primeiro-ministro Michel Debré, que era profundamente partidário da Argélia francesa. Demitir Edmond Michelet significava aceitar o endurecimento da repressão aos “franceses muçulmanos da Argélia”.
No fim de agosto a FLN decidiu retomar sua campanha de atentados na metrópole. Os policiais eram os mais visados, sendo que onze deles foram mortos e outros dezessete ficaram feridos até o início de outubro. A partir de então, três organizações sindicais de policiais formaram um “Comitê permanente de coordenação e de defesa”, e exigiam do governo execuções de condenados à morte e um toque de recolher para os norte-africanos. A partir de setembro, intensas blitzes foram organizadas, no decorrer das quais algumas pessoas acabaram desaparecendo. Foi também a partir de setembro que se começou a ouvir falar de cadáveres de norte-africanos encontrados no rio Sena. Diante da pressão dos policiais, que falavam em fazer justiça com as próprias mãos, Papon respondeu com um discurso sem ambiguidade: no dia 2 de outubro, diante das exclamações de um policial, ele declarou: “Por cada golpe, nós responderemos com dez”; depois assegurou aos policiais que, se atirassem primeiro, eles estariam “cobertos”. Em 5 de outubro ele instaurou um toque de recolher para os “franceses muçulmanos da Argélia” e, apesar do ministro do Interior negar, esse toque de recolher racista institucionalizava a confusão entre “argelino” e criminoso.
3. A manifestação
A FLN decidiu organizar um boicote ao toque de recolher. Uma circular de 7 de outubro colocava fim à campanha de atentados na metrópole e a intenção desse boicote era mudar inteiramente a estratégia e inverter a opinião pública francesa. Enquanto os atentados se inscreviam em uma lógica de clandestinidade e de guerra, o boicote devia tomar a forma de uma manifestação pacífica de massa, às claras. A manifestação deveria acontecer em toda Paris, ao longo das principais vias da cidade. Todos deveriam participar, inclusive as famílias. Os manifestantes receberam instrução de não responder a nenhuma provocação ou violência e foram revistados antes da manifestação pelos membros da FLN, para garantir que não estivessem com nada que pudesse servir de arma. Todos os argelinos da região parisiense deveriam participar da manifestação, sob coerção se necessário: para a Federação da França da FLN, tratava-se não somente de demonstrar sua influência sobre os argelinos na metrópole, mas também de fazer existir aos olhos dos franceses o povo argelino. À institucionalização da arbitrariedade e do racismo, era necessário responder com a reivindicação de uma existência política. Os dirigentes da Federação da França acreditavam que a repressão, que certamente se abateria sobre os manifestantes, evidenciaria a violência do poder e a legitimidade da luta do povo argelino por sua independência.
franca-12Na manhã de terça-feira, dia 17 de outubro, a polícia já sabia que uma manifestação em massa estava sendo organizada, carros de polícia rondavam a cidade, os policiais fecharam as saídas do metrô em Paris, preparados para barrar os manifestantes. Em Paris, na saída dos metrôs Étoile e Opéra, nos corredores da estação Concorde e sobre os Grands Boulevards [as principais avenidas], os manifestantes foram sistematicamente atacados com tacos, cassetetes e bastões, algumas vezes até caírem. Os policiais batiam no rosto e no abdômen dos manifestantes, que não demonstravam resistência ou gestos violentos em nenhum momento. Na avenida Bonne-Nouvelle, na ponte de Neuilly, no Pont-Neuf de Argentueil e em outros pontos, os policiais atiravam contra os manifestantes. Nas pontes às portas de Paris e na ponte Saint-Michel, homens eram atirados no rio Sena. Em plena Paris, e durante várias horas, deu-se uma verdadeira caça ao fácies, à qual a população parisiense assistiu, chegando até mesmo a colaborar. O chefe de polícia Papon acompanhou tudo e foi pessoalmente à Étoile para constatar o “bom desenrolar” das operações. Ele tinha conhecimento também de todas as transmissões de rádio da polícia. Sabia, portanto, que circulavam falsas mensagens de que policiais teriam sido mortos. Ele não as desmentiria.
Mais de dez mil argelinos foram presos. Eles foram detidos no Palais des Sports, no Parque de Exposições, no Estádio de Coubertin e no Centro de Identificação de Vincennes, durante quase quatro dias. Quatro dias durante os quais a violência continuaria. Logo ao chegarem, os manifestantes eram sistematicamente espancados. Nos locais de aprisionamento, assistia-se a execuções e muitos foram os manifestantes que morreram com ferimentos agravados por falta de tratamento. No dia seguinte à manifestação, o balanço oficial era de dois mortos argelinos, no que teria sido uma “troca de tiros” entre a polícia e os manifestantes. Apesar dos esforços de alguns parlamentares, o governo impediu a criação de uma comissão de inquérito. Nenhuma queixa apresentada foi investigada.
Se não é possível determinar exatamente quantos argelinos foram mortos em 17 de outubro de 1961 e nos dias seguintes, nos resta constatar que o número de centenas de mortos, afirmado por J-L. Einaudi em seu livro A batalha de Paris, a partir do estudo de registros de cemitérios, de testemunhas e de documentos internos da FLN, é o mais verossímil. Numerosos arquivos administrativos, que seriam cruciais para o reconhecimento das vítimas, desapareceram. Isso explica por que o relatório Mandelkerm — encomendado pelo governo e tornado público em 1998 — e o livro de J-P. Brunet, ambos baseados nos arquivos existentes da polícia, apresentam um número de mortos bem inferior, por volta de quarenta. De resto, o relatório Mandelkerm retoma em seu cômputo a versão segundo a qual teria havido troca de tiros entre os manifestantes e a polícia.
Notas:
«Aqui afogaram os argelinos»
«Aqui afogaram os argelinos»
[1] Durante o regime fascista instituído no sul da França pelos ocupantes nacional-socialistas, Maurice Papon foi nomeado secretário-geral da Prefeitura da Gironda, superintendendo a administração e a repressão na região que tinha Bordéus como capital, e entre as suas funções contava-se a prisão de resistentes e de judeus. Sob as ordens de Papon, 900 presos políticos e mais de 1500 judeus foram entregues às autoridades do Terceiro Reich. Chegada a Libertação, aquele funcionário do marechal Pétain converteu-se em partidário do general De Gaulle, e não se pense que este percurso foi uma excepção. A libertação da França e a expulsão do ocupante nazi levou à perseguição de várias figuras políticas e de jornalistas de extrema-direita, alguns condenados à morte, mas deixou praticamente incólumes os altos funcionários e administradores. Segundo Robert O. Paxton (La France de Vichy, 1940-1944, Paris: Seuil, 1973, págs. 313-317), dos membros do Tribunal de Contas em serviço em 1942, 98% continuavam activos em 1946. Na Inspecção das Finanças, 97% dos inspectores gerais em funções em 1948 exerciam já o cargo em 1942, e o mesmo sucedia com 75% dos inspectores de segunda classe. A ausência de ruptura revela-se de maneira ainda mais flagrante ao observarmos que nenhum dos inspectores de finanças recrutados pelo regime de Vichy foi exonerado por altura da libertação. O próprio Conselho de Estado, apesar do seu carácter mais directamente político, também não foi atingido por qualquer depuração significativa, e 80% dos presidentes de secção em exercício em 1942 continuavam activos em 1946, sucedendo o mesmo com 76% dos conselheiros de Estado e 70% dos maîtres de requêtes. Um membro do Conselho de Estado, que fora chefe-adjunto do gabinete civil do marechal Pétain, declarou em 1945 que «no Conselho de Estado, dos cento e poucos membros, houve 25 destituídos» (Le Procès du Maréchal Pétain. Compte Rendu Sténographique, 2 vols., Paris: Albin Michel, 1945, pág. 847). Maurice Papon foi um desses altos funcionários que serviram a democracia com o mesmo afinco e a mesma competência com que haviam servido o fascismo. Ele foi secretário-geral da Prefeitura da Polícia de 1951 até 1954, secretário-geral do Protectorado francês de Marrocos em 1954-1955 e prefeito em Constantina, na Argélia, de 1956 até 1958, sendo nomeado prefeito da Polícia de Paris em Março de 1958, o que lhe permitiu colaborar nas manobras políticas organizadas por De Gaulle e na fundação da Quinta República. Papon foi também eleito deputado nas listas gaullistas em 1968, 1973 e 1978, e de 1978 até 1981 desempenhou as funções de ministro do Orçamento nos segundo e terceiro governos de Raymond Barre. Em 1983 foi-lhe movido um processo judiciário, por iniciativa das famílias de alguns dos deportados judeus, mas, devido à intervenção de pessoas altamente colocadas, o processo esteve praticamente paralisado durante quatorze anos, até que em 1998, com 87 anos de idade, Papon foi condenado a dez anos de prisão pela deportação de judeus de Bordéus. Evocando motivos de saúde, o presidente da República determinou a libertação de Papon em 2002, mas o presumido doente faleceu apenas cinco anos depois. (Nota de Passa Palavra)
[2] Inspecteur géneral de l’administration en mission extraordinaire (Inspetor Geral da Administração em Missão Extraordinária). Alto funcionário francês responsável pela coordenação da ação do governo nos departamentos. O título e a função foram substituídos pelo de Préfet de région (Prefeito Regional).
[3] A palavra “harkis” (literalmente “movimento” em árabe) designa na França os soldados supletivos alistados no exército francês entre 1957 e 1962, durante a Guerra da Argélia. Todos os argelinos muçulmanos que defendiam a união da Argélia com a República Francesa também eram identificados dessa forma.
[4] Paris é dividida em 20 arrondissements municipais, que englobam quatro bairros (quartiers) cada.
[5] Fácies é o aspecto ou expressão do rosto. O termo é utilizado na expressão “délit de faciès” para qualificar uma forma de discriminação racista.
[6] Organisation armée secrète (Organização Exército Secreto). Organização paramilitar clandestina francesa, que se opunha à independência da Argélia.
[7] Gouvernement provisoire de la République algérienne (Governo Provisório da República Argelina). Braço político da FLN durante a Guerra da Argélia.
Original em francês: http://17octobre1961.free.fr/pages/Histoire.htm
Tradução: Juliana Mantovani. As notas, com exceção da número 1, são de autoria da tradutora.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Ódio, preconceito e fanatismo que infestam Europa, germinam no Brasil


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Costumamos olhar para tragédias como a que ceifou 12 vidas na cosmopolita Paris com um misto de alívio e distanciamento. Ao longo da vida, todos já ouviram e/ou proferiram a teoria de que “pelo menos não temos esse tipo de problema, no Brasil”.
Será mesmo?

Passeando pelas análises publicadas pela imprensa, pelas redes sociais e pela blogosfera brasileiras sobre o episódio Charlie Hebdo, pode-se extrair algumas conclusões básicas, necessárias a esta análise:

1 – A revista Charlie Hebdo, se não é de “extrema-esquerda”, ao menos é esquerdista.


2 – Apesar de “esquerdista”, a revista fustiga o Islã, cujo maior inimigo, atualmente, é a estrema-direita, inclusive a francesa, que quer expulsar os muçulmanos da França enquanto alardeia uma ridícula “islamização do Ocidente”.

3 – Apesar de as vítimas dos dois (?) fanáticos (pseudo) islâmicos serem esquerdistas, o atentado está favorecendo a extrema-direita europeia, talvez porque o anti-islamismo da revista se identifica com o da ultradireita francesa.

4 –  Muçulmanos de várias nacionalidades que hoje vivem na Europa acabam de se tornar alvos em potencial do extremismo xenófobo de direita que se agiganta no Velho Mundo – na França, por exemplo, Marine Le Pen, filha do líder de ultradireita Jean Marie Le Pen, da Frente Nacional (FN), lidera (!!) as pesquisas para a sucessão de François Hollande.

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5 – Apesar de a Europa abrigar uma imensa população muçulmana, essa população vive acuada pelo ódio, pelo preconceito e pela intolerância de grande parte das populações europeias autóctones.
Foi justamente no continente europeu que eclodiram as piores guerras da era moderna, sendo, duas delas, guerras “mundiais”. E essas guerras que conflagraram as nações supostamente mais avançadas (socialmente) do planeta decorreram, em boa medida, da intolerância étnico-cultural-religiosa.

Desloquemo-nos, agora, milhares de milhas ao Sul do planeta, até uma nação imensa e ainda mais multiétnica do que as nações europeias. Uma nação onde o fascismo de ultradireita entrou em ascensão após os protestos tresloucados de junho de 2013.

O Brasil tem seus “muçulmanos”, ou seja, uma população “imigrante” e “estrangeira” em seu próprio país. O ódio aos nordestinos que viceja no Sul e no Sudeste do Brasil em muito se assemelha ao que vige contra muçulmanos na Europa.

A intolerância política, “racial”, cultural contra os nordestinos, assim como na Europa, vai crescendo também no Brasil, inclusive com outro ingrediente explosivo, a religião. Ainda que não tenhamos discriminação de religiões, no Brasil temos religiões que discriminam comportamentos e opções políticas.

Claro que ainda não chegamos ao ponto de graves confrontos físicos. Por conta disso, o título deste texto alude a que essas infestações ideológicas apenas “germinam” por aqui, mas germinam continuamente.

Grupos de ultradireita pregam o fim da democracia, proibição de partidos políticos, assassinatos e tortura de esquerdistas, repressão violenta a homossexuais, impunidade ao racismo etc., etc., etc.

Esse tipo de gente já foi minoria na Europa central moderna. Hoje, o mundo assiste, com preocupação, a possibilidade de a França eleger, para a sucessão de François Hollande, a filha de Jean Marie Le Pen…

O horror, o horror!

O ataque ao semanário Charlie Hebdo também providencia uma segunda reflexão: o papel da imprensa no aquecimento do ódio, do preconceito e do fanatismo. O poder da comunicação, acima de políticas de Estado, gerou a tragédia em Paris.

No Brasil, a comunicação tem sido responsável pelo recrudescimento do ódio político-ideológico. O vídeo abaixo revela um processo que germina no Brasil e que, para crescer ao ponto do europeu, precisa, apenas, de continuidade e tempo…

Petrobras supera Exxon e vira a número 1 do mundo

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É isso mesmo: em meio ao mais intenso bombardeio midiático a que uma empresa já foi submetida, a Petrobras acaba de anunciar um recorde histórico; no terceiro trimestre do ano passado, a empresa se tornou a maior produtora de petróleo do mundo, entre as empresas de capital aberto, com uma média de 2,2 milhões de barris/dia; nesse período, a Petrobras superou a Exxon, que era líder, e produziu uma média diária de 2,1 milhões de barris/dia; no pregão desta quinta-feira, as ações da Petrobras subiram mais de 6% 

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras tornou-se a maior produtora de petróleo entre as empresas de capital aberto no mundo, após superar a norte-americana ExxonMobil no terceiro trimestre de 2014, informou a petroleira estatal nesta quinta-feira.

A ExxonMobil produziu 2,065 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) no terceiro trimestre, segundo o balanço da companhia, enquanto a Petrobras produziu 2,209 milhões de barris/dia no mesmo período.
Quando somadas as produções de óleo e gás, a Petrobras ainda ocupa a quarta posição no ranking, ponderou a estatal.

A notícia positiva acontece em um momento em que o preço do petróleo atingiu mínima de diversos anos no mercado internacional, reduzindo a receita com a venda do produto no exterior, enquanto a companhia ainda é alvo de acusações de envolvimento em esquemas de desvio de dinheiro.

Apesar do cenário ruim, que tem feito as ações da Petrobras sofrerem na bolsa, a empresa comemora um bom momento de resultados operacionais, após diversos atrasos na entrada em operação de plataformas.

De acordo com a petroleira, ela também foi a empresa que mais aumentou a sua produção de óleo, tanto em termos percentuais quanto absolutos, em 2014 até setembro.

"Nos nove primeiros meses de 2014, a Petrobras e a ConocoPhillips foram as únicas empresas de capital aberto que registraram aumento de produção de petróleo", afirmou a estatal. "No caso da Petrobras, esse aumento foi de 3,3 por cento e, da Conoco, de 0,4 por cento."

A Petrobras destacou ainda que bateu novo recorde de produção, de 2,286 mil bpd de óleo, em 21 de dezembro, e frisou que atingiu no pré-sal do Brasil, junto com outras petroleiras, o recorde de 700 mil bpd em 16 de dezembro.

Segundo a companhia, em 2014 foram adicionados 500 mil bpd de capacidade, com a entrada em operação de quatro novas unidades de produção.

"Esse volume será gradativamente incorporado à produção, garantindo que em 2015 a empresa continue aumentando a produção de óleo e gás", afirmou.

Entretanto, a P-61, uma das plataformas programadas para o ano passado, que inicialmente entraria em operação em 2013 no campo de Papa-Terra, na Bacia de Campos, não havia começado a produzir até o final de dezembro.

O crescimento na produção em 2014, após pesados investimentos nos últimos anos, ocorreu depois de dois anos de recuo na extração no Brasil.

Em sua última previsão, a estatal previu elevar a produção de petróleo no país entre 5,5 e 6 por cento em 2014, abaixo da meta de 7,5 por cento traçada inicialmente no ano passado, em meio a atrasos na entrega de equipamentos.

A empresa ainda não divulgou a produção fechada de dezembro.
(Por Marta Nogueira)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

53% dos paulistanos acham que falta d’água é culpa de Dilma e Haddad

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Na última quarta-feira (7/1), a Sabesp foi autorizada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) a aplicar multa de 40% a 100% para quem consumir mais água neste ano no comparativo entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014. A medida deve ser publicada no Diário Oficial do Estado nesta quinta-feira (8).

Confira, abaixo, o gráfico explicativo sobre o sistema elaborado pelo governo paulista para punir quem consumir mais água do que o permitido.
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Como se vê, não será preciso que os moradores da capital paulista gastem muita água para ser multados. Na verdade, terão que gastar menos água do que costumam gastar no verão, porque a base de cálculo que será utilizada pelo governo Alckmin para punir quem ultrapassar o racionamento – que, até agora, a mídia local não chamou pelo nome – se baseia na média de 12 meses de um ano antes de o problema se agravar (2013).

Como a média de 12 meses pega outono, verão e primavera, meses em que a população consome menos água, e é aplicada no verão, a base para multar os paulistanos, que apoiaram com tanto entusiasmo o governo Alckmin nas últimas eleições, é uma trapaça: quem não reduzir o consumo que costuma ter no verão, irá pagar até o dobro pela conta de água.

Os acionistas da Sabesp agradecem. Com o perdão pela piada infame, os detentores de ações da Sabesp (percentual infinitesimal da população da cidade) irão “lavar a égua”.

Como se explica, então, que o governador Geraldo Alckmin tenha conseguido se reeleger em 1º turno com uma votação tão consagradora? Como se explica, aliás, que mesmo após o anúncio das punições para quem não DIMINUIR o consumo de água não tenha havido uma revolta na cidade?

Nesta sexta-feira, o famigerado Movimento Passe Livre irá às ruas da capital paulista contra aumento de 50 centavos no preço das passagens de ônibus, apesar de que, de acordo com a prefeitura paulistana, “Desde o último reajuste, em janeiro de 2011, a inflação acumulada foi de 27%” e “O reajuste da tarifa básica, de R$ 3,00 para R$ 3,50, ficou abaixo disso, em 16,67%.”.

Pode-se dizer, portanto, que o preço das passagens ficou mais barato para os paulistanos, nos últimos anos, pois os salários subiram em 2012, 2013 e 2014 e as passagens, não.

Aliás, o fato é que os paulistanos não estão pagando menos pelas passagens. Como a prefeitura herdou contrato com as empresas de ônibus que preveem aumentos anuais, o erário paulistano – ou seja, o povo – está pagando os aumentos do mesmo jeito, ainda que não sinta na catraca dos ônibus.

Mas o que importa mesmo é que enquanto um grupo de paulistanos vai à rua para protestar contra um pequeno aumento no preço das passagens, ninguém sai para protestar contra o descomunal aumento no preço da água justamente quando o serviço prestado pelo governo do Estado, nesse setor, piora de forma absurda, com racionamento velado e preços MUITO mais caros.

A que se deve isso? Deve-se ao fato (comprovado) de que a maioria dos moradores da capital paulista não sabe de quem é a responsabilidade pela distribuição de água, mas pensa que sabe.

Durante o primeiro turno das eleições deste ano, a população paulistana escolheu seu novo governador sem saber que o problema de água, que então já se fazia sentir, foi causado por incompetência dos governos do PSDB desde 2004.

A insuficiência do Sistema Cantareira, que abastece 47% da região metropolitana de São Paulo, é um problema que o governo paulista conhecia desde 2004. Naquele ano, a Agência Nacional de Águas (ANA), órgão federal, renovou a concessão da Sabesp para distribuir água no Estado de São Paulo. No documento de concessão da outorga dada à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) em 2004 para explorar por dez anos o reservatório Cantareira, o artigo 16 estipulava que a empresa deveria realizar em 30 meses “estudos e projetos que viabilizassem a redução de sua dependência do sistema”.

Passaram-se dez anos e nada foi feito.

Ainda assim, Alckmin se reelegeu com 57% dos votos válidos. Em primeiro turno. Ele e José Serra, que governaram São Paulo de 2004 até o ano passado, não cumpriram o acordo firmado naquele ano com o governo Lula e, ainda assim, a população paulistana apoia o PSDB como se estivesse fazendo um grande governo.

A explicação para isso está em uma pesquisa Datafolha publicada no dia 20 de outubro, que mostra que a população da maior cidade do país não sabe de quem é a culpa pelo sofrimento que vem passando com o racionamento velado de água – que irá piorar, porque, além desse desconforto, ainda terá que pagar mais pelo péssimo serviço da Sabesp.

A pesquisa Datafolha em questão foi divulgada pelo jornal naquele mês, mas escondeu um dado assustador: 53% dos paulistanos atribuem os problemas na distribuição de água a Dilma Rousseff e ao prefeito Fernando Haddad, ambos do PT, apesar de a responsabilidade pelo problema ser exclusivamente do governo do Estado, controlador da Sabesp.

O problema do abastecimento de água em São Paulo só começou a ser tratado com maior intensidade pela imprensa local após a eleição em primeiro turno, que Alckmin venceu com um pé nas costas. Em 20 de outubro, o problema ganha manchete de primeira página na Folha de São Paulo.

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Porém, em nenhum momento o jornal publicou um destaque para esse dado impressionante de que a maioria dos paulistanos estava equivocada sobre a responsabilidade por um problema que tem torturado a população. Das quatro matérias que trataram do assunto, a informação foi dada num pé de página escondido lá no caderno “cotidiano”.

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Claro que os adversários de Alckmin tentaram explicar à população paulistana que o governador que ela estava reelegendo é que tinha responsabilidade pela crise de abastecimento de água, mas essa população estava tão embriagada pelo antipetismo que nem se deu ao trabalho de assistir o horário eleitoral.

Restaria à imprensa local explicar aos zumbis que habitam a maior e mais rica cidade do país que os governos do PSDB ficaram sentados em cima do problema de abastecimento de água durante uma década (desde 2004) sem tomar providências, mas essa mesma imprensa se absteve, vergonhosamente, de tratar do assunto durante a campanha – só foi noticiar alguma coisa DEPOIS do primeiro turno.

É o pior é que, como paulistano, nem posso dizer que será bem feito o sofrimento por falta de água que estamos passando – e que deve aumentar nos próximos meses -, pois, apesar de integrar a minoria consciente que sabe por que meu Estado piorou tanto ao longo de 20 anos de governos do PSDB, também estou sofrendo com falta de água.

Policial envolve Anastasia em esquema do doleiro


Policial envolve Anastasia em esquema do doleiro




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Em depoimento de 18 de novembro do ano passado, Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca, afirma ter entregue R$ 1 milhão ao então candidato a governador Antonio Anastasia (PSDB), em 2010, a pedido do doleiro Alberto Youssef; senador eleito, tucano nega o envolvimento: "É totalmente fora da realidade. Meu único patrimônio é moral, tenho toda uma reputação de honestidade'' 

247 – Em depoimento na operação Lava Jato, o policial preso que mencionou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como beneficiário do esquema de Alberto Youssef também acusa o senador eleito Antonio Anastasia (PSDB), ex-governador de Minas Gerais.

Em declaração de 18 de novembro do ano passado, Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca, afirma ter entregue R$ 1 milhão ao então candidato a governador Anastasia, em 2010, a pedido de Youssef.

O tucano nega o envolvimento e disse desconhecer o policial e o doleiro. "É totalmente fora da realidade. Meu único patrimônio é moral, tenho toda uma reputação de honestidade. Qual seria o propósito disso? 

Fica até difícil comentar algo tão absurdo'', disse.

Leia aqui reportagem de Andréia Sadi sobre o assunto.

 Eduardo Cunha tem tratamento “vip”, Dr. Janot?

 Fernando Brito
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O Dr. Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, negou à Presidência da República acesso às informações da Operação Lava-Jato que poderiam permitir que se tomassem providências saneadoras em relação a contratos e decisões na Petrobras, salvaguardando, no possível, os recursos da empresa colocados em contratos fraudados por Paulo Roberto Costa.

O Dr. Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, negou-se até a dizer um simples “sim ou não” à Presidenta da República sobre se haveria menções a algum político que pretendesse altos cargos na administração federal.

O Dr. Janot invoca, para isso, o segredo de Justiça, embora a Lava-Jato tenha tido vazamentos em quantidade capaz de resolver até os problemas da Sabesp, de tanto e tão volumosos.

Portanto, o Dr. Janot está na obrigação moral de reagir às declarações do Deputado Eduardo Cunha de que teve acesso à integra dos depoimentos do policial federal l Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, que disse ter entregue ao líder do PMDB certa quantia em dinheiro, a mando do doleiro Alberto Youssef, o qual, por sua vez, teria, segundo a Folha, mencionado Cunha como beneficiário de contratos entre a estatal e a Toyo Setal.

Quer dizer que Cunha tem tratamento VIP e, mesmo como envolvido, tem direito a ter acesso aos depoimentos “sigilosos”?

Quem é que deu a um investigado, que  tem, em tese, todo o interesse em montar álibis e história de “cobertura” para encobrir seus desvios de conduta e crimes, até?

Quem são os “amigos” de Cunha que lhe deram a papelada que ninguém pode ler?

O fato objetivo é que os advogados de Jayme  “Careca” dizem que o policial “entregou o dinheiro, não no Condomínio Nova Ipanema, mas em outro próximo, o Novo Leblon” e então o espertíssimo deputado Cunha diz que “não mora e nunca morou” neste.

Só no outro.

Daqui a mais uns dias, o carregador de malas diz também que não entregou dinheiro para Anastasia, mas foi levar o dinheiro da anestesia de alguém…

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Como funciona a operação de limpeza de imagem de Roberto Carlos na TV Globo












 
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O primeiro episódio da adaptação manca para a TV do filme sobre Tim Maia foi retirado do site oficial na Globo na sexta passada. O segundo episódio não foi ao ar ali. É a primeira vez em que isso acontece com esse tipo de atração.

Como você já sabe a essa altura, o longa tem várias sequencias sobre as dificuldades de Tim em encontrar o amigo tijucano Roberto Carlos, ex-parceiro do conjunto Sputniks. Roberto, em 1966, havia se tornado o rei da Jovem Guarda e Tim voltara quebrado dos EUA, pedindo uma força.

Na versão para a televisão, Roberto saiu bonito. Testemunhas da história foram chamadas para falar, dando o tom de um “docudrama”. RC mesmo dá um depoimento livrando a própria cara, explicando que ajudou, sim, Tim Maia.

O pacote cinema e tv provocou uma enorme confusão por causa do conjunto de patacoadas malandras. O diretor Mauro Lima reclamou, no Instagram, do que chamou de “subproduto”. Deu para trás em seguida na Folha, muito agradecido à mutilação (a mulher dele, Alinne Moraes, é a atriz principal do longa). Não faz sentido ele reclamar. A produtora é a Globofilmes. Sem sutileza alguma, as cenas de noticiário da internação de Tim após um show em Niteroi — ele morreria uma semana mais tarde — levam, todas, a marca d’água da Globo.

Nos créditos, a obra aparece como baseada em “Vale Tudo”, de Nelson Motta. Há cenas, porém, tiradas de “Roberto Carlos em Detalhes”, a biografia censurada de Paulo César de Araújo. Uma delas é a do dinheiro amassado e atirado ao chão para Tim pelo empresário de RC.

Mas o que ficou explicitada é a relação incestuosa entre a Globo e seu contratado Roberto Carlos. RC tem na emissora um general fiel na tentativa — inútil, de resto — de higienizar sua trajetória.
Como funciona essa “parceria”?

Paulo César de Araújo dá uma boa amostra desse modus operandi em “O Réu e o Rei”, livro sobre os bastidores de sua batalha judicial com seu ídolo transformado em inimigo.

Em 1974, Roberto assinou um contrato de exclusividade com a TV Globo para um programa anual que existe até hoje e é tão certo, na vida, quanto a morte. Foi o início de uma bela amizade.

Era duplamente vantajoso, escreve Paulo César: “Se, no tempo da Record, ele ganhava relativamente pouco para aparecer muito, a partir de seu contrato com a Globo ele ganharia muito para aparecer pouco, evitando o desgaste da superexposição depois de uma década de absoluto sucesso”.

RC teve na Globo o seu Pravda, só com notícias a favor. Já havia sido assim com a Bloch Editores. Ele passava notas oficiais às publicações da casa e tinha um tratamento privilegiado. Quando a Polícia Federal apreendeu seu iate Lady Laura III, por exemplo, a revista Manchete veio com a chamada: “Maré mansa para o rei Roberto Carlos: ‘Quem não deve não teme’”. No divórcio de Nice, em 1978, a capa era: “Roberto Carlos e Nice: Nossa separação é um ato de amor” (!??).

Em 2006, RC entrou com uma ação para tirar a biografia de circulação. “A Globo não o decepcionou. Foi realmente seu porto seguro, o seu para-raios. No limite da irresponsabilidade jornalística, a emissora calou o réu e deu voz apenas para o rei”, diz Araújo.

Dois programas marcaram entrevista com o escritor: o Fantástico e o Altas Horas. Maurício Kubrusly representaria o dominical. “Na manhã do dia combinado, a produção do Fantástico me ligou adiando a entrevista. A justificativa foi que a crise nos aeroportos do país teria impedido Maurício Kubrusly de se deslocar de São Paulo para o Rio.”

Houve outro adiamento até o não definitivo, com a desculpa de que o assunto tinha saído da pauta. Mesma coisa no Altas Horas.

“Quando em janeiro do ano seguinte Roberto Carlos confirmou a ameaça, entrando na Justiça contra mim e a editora Planeta, isso foi assunto de toda a mídia nacional — menos da TV Globo, que insistia em negar outro item dos seus ‘princípios editoriais’: o de que ‘não pode haver assuntos tabus. Tudo aquilo que for de interesse público, tudo aquilo que for notícia, deve ser publicado, analisado, discutido’. (…) Somente quando a proibição parecia definitiva a capa da biografia foi finalmente mostrada na tela da Globo. A fatura parecia liquidada”.

Até que veio o artigo de Paulo Coelho na Folha, “muito chocado” com a “atitude infantil” de RC. O Fantástico ligou novamente, escalando Patrícia Poeta para uma conversa na casa de Araújo. Na manhã do dia combinado, telefonaram suspendendo o papo.

“Roberto Carlos foi aconselhado por seus assessores a dar uma entrevista para o Fantástico e se explicar de uma vez por todas. A condição foi a de que o artista não podia ser contraditado. Ou seja, a palavra dele e de mais ninguém”, relata. Cid Moreira, irônico, apresentou o biógrafo como alguém que “se diz fã do rei desde criancinha”.

“Por tudo isso, ao fim de seu show comemorativo de cinquenta anos de careira, no Maracanã, Roberto agradeceu não apenas ao público e aos patrocinadores Itaú e Nestlé, mas também à Rede Globo de Televisão ‘pelo apoio e parceria ao longo de todos esses anos’”, diz.

“O Réu e o Rei” tem um trecho premonitório. Em 1992, Tim Maia recebeu Paulo César de Araújo para uma entrevista. A certa altura, lembrou do velho camarada. “Roberto Carlos não vai se ver nunca livre de mim. Quando a gente morrer, lá em cima eu vou dizer: ‘Como é que é, Roberto!’”

Lava Jato deve limpar partidos aliados e de oposição ao governo federal

Eduardo Cunha

A se confirmar reportagem da Folha de São Paulo que afirma que o deputado pelo PMDB fluminense Eduardo Cunha, supostamente “favorito” para presidir a Câmara dos Deputados no início da próxima Legislatura, está entre os citados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, poder-se-á concluir que, antes arma política anti-PT, essa Operação pode melhorar o Brasil.

A Folha diz que “De acordo com os investigadores que atuam no caso, ele [Cunha] é suspeito de ter recebido dinheiro do esquema [de corrupção] por meio do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o ‘Careca’, que atuaria como um dos funcionários do doleiro Alberto Yousseff”.

Não se sabe, ainda, a quantidade exata de políticos citados nas investigações, mas já se sabe que há nomes ligados ao governo e à oposição. Fala-se em até uma centena de parlamentares de TODOS os partidos, talvez com exceção do PSOL, que não governa nada e não tem qualquer peso político.

No caso de Cunha, a se confirmar essa denúncia ela atingirá muito mais a oposição do que o governo, já que o parlamentar de um dos partidos da base aliada atua em consonância com a oposição e é sua grande esperança para impedir Dilma de governar, caso se eleja presidente da Câmara.

Mas já se sabe que nomes graúdos da oposição devem aparecer na lista que o Procurador Geral da República deve divulgar no mês que vem, no reinício dos trabalhos legislativos e com o retorno do Supremo às atividades.

Cunha, por exemplo, se for denunciado e eventualmente cassado contribuirá para grande melhora do

Legislativo. É o grande despachante, na Câmara, dos lobistas de grandes conglomerados econômicos.

Tentou acabar com a internet no Brasil durante a votação do Marco Civil na internet, em prol dos interesses econômicos das empresas provedoras de serviços.

Apesar dos problemas para a economia que a Lava Jato pode gerar, pois as empresas envolvidas têm muito peso econômico e a forte redução ou paralisação de suas atividades por certo contribuirá para esfriar ainda mais a economia em um momento em que ela precisa crescer, se não fosse essa investigação picaretas envolvidos com Yousseff e companhia continuariam roubando o país e chantageando o governo, como faz

Cunha.

Além disso, a revelação dos nomes dos envolvidos servirá para desmascarar a oposição ao governo Dilma, que tenta vender ao país a teoria absurda de que só existe corrupção entre os governistas federais, apesar de que os oposicionistas federais são governo nos Estados e municípios, onde vicejam tantos casos de corrupção quanto na esfera federal.

Ironicamente, portanto, a aposta da mídia e da oposição em que a Operação Lava Jato seria ruim para o PT e o governo federal pode – e deve – sair pela culatra, pois essa operação deve atingir gente como Cunha, que atrapalha muito a governabilidade do país apesar de se abrigar em uma sigla governista.

Eis por que tanto Dilma quanto Lula, à diferença de seus antecessores, nunca impediram investigações de corrupção, mesmo quando atingem seus aliados e até correligionários de partido. Quando se limpa uma casa a fundo, há que bagunçá-la, tirar os móveis do lugar, mas, após a limpeza, os que nela residem passam a viver melhor.

A vocação de mosca de O Globo

A vocação de mosca de O Globo

 Fernando Brito
O mundo vive a maior tensão econômica desde 2008, com a queda de braço entre os produtores de petróleo convencional e o “fracking” do xisto que ameaça romper o equilíbrio energético do planeta.
O que está acontecendo com esta indústria, que só não quebrou porque seus contratos de hedge aliviam sua situação por algum tempo, tem as proporções de hecatombe, não só na economia mas no meio ambiente, porque torna inviável financeiramente a produção de energia limpa, que é cara.

Em três meses, o preço mundial do petróleo caiu mais de 50%.

Ontem, queda de 6%. Hoje, mais queda, quase igual.

E o que faz O Globo?

Zumbe como uma mosca em volta da Petrobras.

“Barril do petróleo a US$ 50 traz dúvidas sobre viabilidade do pré-sal”.

Poderia ser traduzida como “Vendam, entreguem, façam algo para se livrar deste mico”, não é?
E se não é viável para a empresa que já detém quase toda a outorga para explorar as jazidas conhecidas (ou semiconhecidas) da área, também não seria para as outras petroleiras?

A leitura da matéria mostra que nenhum dos especialistas consultados acha que é inviável a exploração do pré-sal, obvio.

Porque não é.

E não é desastroso para a Petrobras, mais que para outras petroleiras, a queda no preço do petróleo, porque a curva de produção está apenas no início de elevação, com pico a daqui a mais de  cinco anos.

A queda do preço permite conjugar, sem traumas, a elevação do dólar com a não-elevação do preço ao consumidor, internamente, aliviando suas pressões de caixa.

E, muito ao contrário, leiloar áreas do pré-sal, agora, seria entregar a preço de banana o que, ninguém tem dúvidas, vai coltar aos altos patamares de preço que tinha antes.

É tudo o que o Globo quer.

O Globo é a mais perfeita tradução da raposa que não alcançou as uvas.

Estavam verdes, aquelas porcarias, não é?

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Azenha: como a Globo reescreve a história Esse Bessinha… E esse Ali Kamel?

Jornalismo fraudulento: incerteza com as eleições gregas e corrida maluca da Rússia e Iraque para compensar queda nos preços do petróleo com aumento da oferta derrubam Bolsas e cotações das petroleiras em todo o mundo; no Brasil isso é veiculado como um' problema da Petrobrás'

As opções ao arrocho: 'uma taxação de 0,8% a 1,2% sobre fortunas acima de R$ 1 milhão renderia uma receita adicional de 1,7% do PIB, mais do que era obtido pela CPMF da saúde' (leia a análise completa do ex-ministro Alexandre Padilha nesta página)

Volks em greve: empresa demite 800 trabalhadores e assembléia na porta da fábrica decide paralisação por tempo indeterminado (leia editorial 'o Arrocho em marcha')8

É preciso rememorar o que foi feito da Caixa Econômica Federal no governo do PSDB para se ter a dimensão dos riscos embutidos no atual projeto de abrir seu capital:o país perderá um banco público estratégico, de tamanho só inferior ao do BB e Itaú (leia a análise do ex-presidente da CEF, Jorge Matoso, nesta pág)
Carta Maior.



Conversa Afiada reproduz excelente artigo-testemunho do Azenha sobre as patranhas da Globo com a História.

De Tim Maia a Ricardo Teixeira e o Golpe (aquele que nasceu em Washington)

CASO TIM MAIA NÃO É O PRIMEIRO EM QUE A GLOBO


 REESCREVE A HISTÓRIA EM SEU BENEFÍCIO OU NO 


DE PARCEIROS



Vi muita gente escandalizada com o fato de a Globo ter cortado, na minissérie que pretendia ser um resumo do filme sobre Tim Maia, os trechos em que Roberto Carlos desprezava o ex-colega de banda. O filme — e, portanto, a minissérie — foram baseados no livro Vale Tudo, de Nelson Motta.

Talvez por não envolver um ídolo tão popular, outros casos muitos parecidos e recentes de tentativas da emissora de reescrever a História não mereceram a mesma atenção.

Quando o Jornal Nacional completou 34 anos, por exemplo, exibiu um clipe registrando a presença do repórter Ernesto Paglia no comício das diretas, em 16 de abril de 1984, em São Paulo. Foi o suficiente para que Ali Kamel, que ainda estava em ascensão na emissora — hoje dirige o Jornalismo — fosse ao Observatório na Imprensa dizer que “uma pequena imagem do repórter Ernesto Paglia pode ter contribuído para rechaçar de vez uma das mais graves acusações que o JN já sofreu: a de que não cobriu o comício das diretas, na Praça da Sé, em São Paulo”.

Mais adiante, depois de contestar versões de outros autores sobre a cobertura da Globo naquele dia e de transcrever o texto da reportagem de Paglia, Kamel tenta justificar — como se a Globo estivesse no campo dos cerceados pela ditadura:

Esquecem-se de que a ditadura ainda estava forte, tão forte que as diretas foram votadas sob a vigência das medidas de emergência, um dispositivo constitucional, decretado nas vésperas da votação, que proibiu manifestações populares em Brasília (lembram-se do general Newton Cardoso, em seu cavalo, dando chicotadas em carros presos num engarrafamento?) e proibiu a transmissão por emissoras de rádio e televisão da sessão do Congresso Nacional que acabaria rejeitando as diretas-já. Não, a Globo não fez uma campanha, mas não deixou de fazer bom jornalismo.

Kamel provavelmente escreveu de ouvir dizer, após consultar arquivos. Eu, não. Eu trabalhei na Globo naquela época. Era da TV Bauru, mas cobria férias dos repórteres em São Paulo. Passava meses e meses hospedado num hotel e trabalhando na redação da Marechal Deodoro. Testemunhei pessoalmente ou ouvi relatos de colegas.

A tática de quem pretende recontar a História com outro viés quase sempre envolve focar no ponto mais positivo para sua narrativa e desconhecer o contexto.

O fato é que naquele período da História aconteceram as grandes greves do ABC, que a Globo praticamente desconhecia, quando não levava ao ar versões que o movimento operário considerava descabidas. Foi então que surgiu o “Fora Rede Globo, o povo não é bobo”, cantado por milhares de pessoas nas assembleias. Carros da emissora foram apedrejados. Lula costumava dizer aos companheiros para não confundir os jornalistas com os patrões e, portanto, aqueles deveriam ser poupados.

Na campanha das diretas, que surgiu antes do comício da Praça da Sé, a Globo simplesmente desconheceu as primeiras manifestações populares, algumas envolvendo milhares de pessoas. Era uma não notícia. A internet ainda não existia. Mesmo assim, era chocante ver as capas de jornais com fotos de manifestações e informações sobre a campanha e o Jornal Nacional absolutamente calado sobre o assunto.

Além disso, foi escancarado o apoio das Organizações Globo à ditadura militar, como porta-voz do regime. Os exemplos abundam. Um editorial escrito por Roberto Marinho em 7 de outubro de 1984, DEPOIS do comício das diretas, em que ele diz que a Revolução — isso mesmo, Revolução, não golpe — foi bem sucedida, é um deles.

É neste contexto que deve ser analisada a “reportagem” da emissora no comício de São Paulo.

A equipe da Globo, sim, esteve lá. Porém, a ênfase da reportagem foi no aniversário de São Paulo. Basta ler a própria transcrição do Ali Kamel. É o equivalente a noticiar primeiro que dois automóveis foram destruídos no centro de São Paulo e em seguida informar que caiu um Boeing sobre eles, matando os 200 ocupantes. Um absurdo que qualquer estudante de jornalismo é ensinado a nunca cometer é definido como “bom jornalismo”.

Para um exemplo mais recente, basta relembrar o Jornal Nacional de 12 de março de 2012, dia em que Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF.

Patrícia Poeta, num texto que obviamente não foi escrito por ela, na transcrição da CartaCapital: “Ao longo de uma gestão de mais de duas décadas, a seleção tricampeã se tornou penta. Teixeira colecionou vitórias, mas também desafetos. E enfrentou denúncias”. Uma forma nada sutil de tentar atribuir as acusações a Teixeira a rusgas pessoais.

No corpo da reportagem, narrada por um repórter que obviamente não tinha poder de decisão sobre o texto final, 22 segundos foram dedicados às denúncias num tempo total de 3 minutos e 39 segundos:

Ao longo da carreira, Ricardo Teixeira foi alvo de denúncias. Diante de todas elas, Teixeira sempre disse que as acusações eram falsas e tinham caráter político. A denúncia mais contundente foi a de que ele e um grupo ligado à Fifa teriam recebido dinheiro de forma irregular nas negociações de uma empresa de marketing esportivo, em 1999. Viu os processos serem arquivados pela Justiça.

Na Globonews, Merval Pereira foi além:

Esses problemas de denúncias contra o Ricardo Teixeira vêm de longe e ele enfrentou com tranquilidade e sempre conseguiu superar essas denúncias. [...] Então resolveu tirar o time porque viu que não tinha condições de recuperar, como várias vezes se recuperou, o prestígio político.

De novo, a sutileza: os problemas de Ricardo Teixeira foram com adversários pessoais e políticos, nenhuma relação com a corrupção que a Globo tanto gosta de denunciar na Petrobras.

Em primeiro lugar, não é verdade que todos os processos contra Ricardo Teixeira foram “arquivados pela Justiça”. Em O Lado Sujo do Futebol, descrevemos as manobras jurídicas utilizadas por ele para se desfazer de processos no Brasil. Descrevemos detalhadamente a relação histórica e incestuosa da Globo com João Havelange e seu sucessor, Ricardo Teixeira. Era apoio político em troca do monopólio nas transmissões da Copa e do futebol brasileiro. Ponto. O próprio Ricardo Teixeira, em entrevista à revista Piauí, disse que só ficaria preocupado quando as denúncias contra ele saissem no Jornal Nacional.

Nunca de fato sairam. Naquela noite de 12 de março de 2012 a principal omissão do JN foi sobre o fato de que a Justiça da Suiça decidiria em breve se seriam divulgadas ou não as provas obtidas na investigação de João Havelange e Ricardo Teixeira, provas definitivas de que ambos receberam milhões de dólares em propina da empresa de marketing ISL em contas no Exterior. Este, sim, o verdadeiro motivo da renúncia de Teixeira, que a Globo vergonhosamente escondeu.

A Globo pagava à ISL, que pagava escondido a Havelange/Teixeira, que protegiam e eram protegidos da Globo. É o círculo perfeito!

No livro também tratamos das relações da própria Globo com a ISL, empresa da qual a emissora brasileira comprou os direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006 depois de montar uma subsidiária, a Empire, nas ilhas Virgens Britânicas, com isso sonegando milhões de reais de imposto no Brasil, segundo a Receita Federal. A mesma Receita diz que a Empire serviu apenas de fachada, para justificar o falso investimento no Exterior do dinheiro usado para quitar os direitos. Como se vê, não foram apenas a ISL, João Havelange e Ricardo Teixeira que tiraram proveito de negócios obscuros em refúgios fiscais.

Como vimos no caso do comício das Diretas, também no caso Teixeira a Globo tirou proveito da descontextualização: focou nas “vitórias” em campo do cartola.

O que nos leva ao episódio Tim Maia.

Não só o filme sobre o cantor mostra Roberto Carlos numa luz não muito agradável. O livro em que o filme foi baseado também o faz, com menos dramaticidade. Sim, registra que Roberto Carlos, a pedido da mulher Nice, levou Tim Maia para fazer um disco na gravadora CBS. Mas também conta que Tim Maia ofereceu a Roberto Carlos a música Não Vou Ficar, 
que se tornou o primeiro sucesso de Tim, com proveito para ambos.

O livro, pelo menos, deixa claro que houve rusgas e ciumeira entre os dois:

“Ô mermão, o Roberto aprendeu tudo comigo, mas o Roberto é branco, mermão, branco não dá, o que ele tem é que me botar na Jovem Guarda, mas ele tem medo porque sabe que eu entro e acabo logo com a banca dele”. Se era difícil encontrar Roberto, era impossível falar com ele, sempre cercado por um monte de gente, secretários, seguranças e puxa-sacos. Tim achava que Roberto não queria chamá-lo porque a Jovem Guarda era um programa de bons moços e ele era o Tim que puxava cadeia e fumava maconha.

O primeiro problema entre eles, ainda segundo o livro, foi quando Roberto Carlos, integrante da banda Sputniks, de Tim Maia, decidiu cantar sozinho, “por fora”, sem consultar antes os parceiros. Deu briga.

Na minissérie da Globo, além de cortar o trecho do filme em que Roberto Carlos humilha Tim Maia, a emissora deu a seu contratado, segundo a Folha, a oportunidade de dizer que ajudou Tim. Mais que isso, numa cena inédita colocou o ator que encarna Tim Maia no cinema para dizer na minissérie: “E foi assim, rapaziada, que Roberto Carlos lançou o gordo mais querido do Brasil”.

Assim, a Globo transformou uma relação complexa de amor e ódio, ajuda e competição — pelo menos é assim que aparece no livro — numa simplificação que beneficia HOJE a imagem de seu parceiro de negócios. Como aconteceu com Ricardo Teixeira.

O três em um do Lula no Guarujá, 25 anos depois

raridades

por Luiz Carlos Azenha

Se você falar num “três em um” numa rodinha de jovens muitos vão fazer cara de paisagem. É o mesmo que falar em óleo de fígado de bacalhau, DKV ou Olivetti.

Em 1989 ter um “três em um” em casa era símbolo de status. Especialmente aqueles que vinham acompanhados de grandes caixas de som. Vitrola, toca-fitas e rádio, tudo num mesmo aparelho!

Eu morava, então, em Nova York. Era correspondente da TV Manchete.
Testemunhei um momento histórico, via satélite. A Globo colocou ao vivo o sinal do debate presidencial entre Lula e Fernando Collor para ser visto na cidade. Se não me engano, foi num restaurante da rua 46, então a rua dos brasileiros em Manhattan, hoje tomada por comerciantes coreanos.

Durante o debate, Collor “acusou” Lula de um pecado imperdoável para um operário “igualzinho a você” — era o slogan utilizado pela campanha de Lula: ter um “três em um” sofisticado.

O simbolismo era inescapável: o dirigente sindical teria dirigido as grandes greves do ABC em busca de vantagens pessoais. Era um aproveitador. Nos bastidores, dizia-se também que Lula tinha abandonado a cachaça e aderido ao uísque importado, como se isso fosse um crime lesa Pátria.

Na época, ninguém perguntou se Collor também tinha “três em um” em casa. Logo ele, filhinho de papai da oligarquia alagoana! Era o máximo da desfaçatez.
Lembrei-me do episódio ao receber, por e-mail, os links de várias reportagens de O Globo e da Folha sobre o triplex do Lula no Guarujá.

O ex-presidente declarou pagamentos feitos à cooperativa responsável pelo imóvel em 2006. Disse ao imposto de renda ter pago R$ 47.695,38 até então. O valor total foi quitado em 2010.

Em nota, o instituto Lula falou em “suposto apartamento”, já que o ex-presidente nunca ocupou o imóvel e nem assumiu oficialmente a propriedade. Esclareceu que a primeira dama Marisa Letícia comprou uma cota do prédio em 2005, da Bancoop, paga em prestações. O casal não decidiu ainda se fica com o imóvel.

Para turbinar a notícia, a Folha cita corretores não identificados que avaliaram o apartamento em R$ 1,5 milhão. Minha sugestão é que o Otavinho compre o imóvel por este preço. Dinheiro certamente não é problema para o 

dono da Folha. Nem para os bilionários irmãos Marinho, tão interessados no caso.

marinho

Independentemente da “avaliação” da Folha estar ou não correta, é óbvio que o imóvel é compatível com a renda de um presidente que cumpriu oito anos de mandato, pagou em prestações e hoje viaja o mundo dando palestras.

A questão aqui é outra: por que sabemos tudo sobre o apartamento de Lula e absolutamente nada sobre os imóveis de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Aécio Neves? Em nome de quem está o apartamento que Aécio ocupa em Belo Horizonte, por exemplo? FHC tem mesmo um apartamento na avenue Foch, em Paris?

A explicação é simples e repetitiva: dois pesos, duas medidas.

Vinte e cinco anos depois, com a perspectiva de Lula se candidatar em 2018, o “três em um” se tornou “triplex”.
É bala na agulha para enredar o ex-presidente com uma das acusadas na Operação Lava Jato, a empreiteira OAS, que concluiu as obras do edifício no Guarujá.

O ex-presidente deve estar acostumado.

Em 1989, na reta final da campanha, a ex-namorada de Lula, Miriam Cordeiro, apareceu no Jornal Nacional e na campanha de TV de Fernando Collor acusando Lula de ter sugerido a ela que abortasse a filha Lurian, além de falar mal dos negros.

O jornal O Globo chegou a produzir um editorial justificando a baixaria, intitulado O Direito de Saber. Trecho:
Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.
A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de ‘baixaria’.
É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.
Que ironia!

As mesmas Organizações Globo nunca acreditaram que o eleitor brasileiro tinha o direito de saber que Fernando Henrique Cardoso teve um caso com uma repórter da emissora, ANTES de ser candidato pela primeira vez ao Planalto.

Do caso teria nascido uma criança.

Ambos, mãe e filho, viveram “exilados” na Europa, uma notícia que só foi dada pela revista Caros Amigos no ano 2000! O filho, revelou muito mais tarde um exame de DNA, afinal não era, mas sempre foi tratado como herdeiro.

O brasileiro nunca teve — e provavelmente jamais terá — o direito de saber deste logro histórico! Pelo menos não nas páginas dos jornalões e nos telejornais da Globo.

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