Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Quem pagava “bolsa esmola” era o PSDB

Para entender por que o PSDB virou freguês do PT no século XXI, basta olhar o discurso dos tucanos sobre o Bolsa Família. Apesar de hoje estarem correndo atrás do prejuízo que o que disseram sobre o programa lhes causou, um olhar sobre as políticas de transferência de renda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mostra quem criou “bolsa esmola”.
O termo “bolsa esmola” é de autoria do PSDB, ainda que a mídia ligada a esse partido – bem como ele mesmo – já tenha tentado até atribuir esse mesmo termo ao ex-presidente Lula por ter criticado a distribuição de cestas básicas que o governo de seu antecessor direto usou como programa social até o penúltimo ano de seus oito anos.
Até 2001, o programa social mais vistoso do governo federal era a distribuição de cestas básicas. A crítica de Lula a esse programa foi feita durante a campanha eleitoral de 1998 porque, após quatro anos de governo, FHC não tinha nenhuma outra iniciativa em termos de transferência de renda.
Abaixo, um vídeo que os tucanos e sua mídia difundiram à larga durante a eleição presidencial de 2010 para tentarem distorcer os fatos. Vale conferir que, em nenhum momento, Lula se referiu a programas de transferência de renda como “esmola”, apesar de que criticava os baixíssimos valores que passaram a ser pagos à população carente na undécima hora do governo FHC, aparentemente visando a eleição de 2002.

De fato, os programas de transferência de renda criados por FHC de afogadilho no penúltimo ano de seu governo de oito anos – até então ele só distribuía cestas básicas, vale repetir – eram mesmo esmola.
O gráfico abaixo foi retirado do trabalho monográfico A assistência social nos governos FHC e Lula apresentado por Patrícia Taconi de Moraes Scotton Alves ao curso de pós graduação em Gestão de Políticas Sociais do INBRAPE-FECEA no ano de 2009. O material mostra que programa de transferência de renda tinha o governo FHC após 7 anos.
Como se vê, era esmola mesmo e paga com finalidade político-eleitoral de forma meio desesperada, haja vista a baixíssima aprovação do ex-presidente tucano naquele 2001 – FHC encerrou seu segundo mandato com apenas 35% de aprovação, enquanto que Lula encerrou o seu segundo mandato com 83% de aprovação.
Apesar dos valores absurdamente baixos e pagos a cerca de um quinto das famílias que hoje são beneficiadas pelo Bolsa Família, o PSDB, em editorial publicado em seu site em 2004, chamou o programa social petista de “bolsa esmola”. Abaixo, o texto – com o devido link para a página original.
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Bolsa Esmola – Editorial
13 de setembro de 2004 
Para um governo comandado por um partido que historicamente se fortaleceu sob a bandeira da redenção dos pobres de todo o país, o balanço das políticas federais de inclusão social tem sido profundamente desapontador.
O programa Fome Zero, eixo central do discurso de campanha do então candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, sofre de inanição desde a sua festejada criação e atabalhoada execução. Para superar as deficiências congênitas, o governo, sensatamente, uniu-o ao Bolsa Escola, formando o Bolsa Família – em resumo, a unificação de vários programas assistenciais, a maioria já existente na gestão de Fernando Henrique Cardoso, como o Bolsa Alimentação, o Cartão Alimentação e o Auxílio Gás. O que parecia uma saudável correção de rota tem sido enxovalhado pela evidência de que o governo deixou de fiscalizar, por exemplo, a freqüência em sala de aula dos alunos beneficiados pelo Bolsa Família.
O principal programa social petista reduziu-se, enfim, a um projeto assistencialista. Resignou-se a um populismo rasteiro. Limitou-se a uma simples distribuição de dinheiro, sem a contrapartida do comparecimento à escola, condição fundamental para que populações excluídas tenham maiores possibilidades de emprego no futuro, com elevação da renda de maneira produtiva. A ausência de controle também deixa o programa vulnerável a desvios e pouco propício à avaliação de resultados e correção de rumos. Uma expressão do senador Cristovam Buarque (PT-DF) resume o problema: “O Bolsa Escola virou Bolsa Esmola“.
Exposta a crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou, no fim da semana passada, que o chefe da Casa Civil, José Dirceu, assumirá o comando das discussões internas para resolver as falhas na execução do programa. Presidente da Câmara de Política Social, da Câmara de Desenvolvimento Econômico e de outros 19 grupos coletivos dedicados a reuniões na Esplanada dos Ministérios, Dirceu convocará os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Humberto Costa (Saúde) e Tarso Genro (Educação) com o objetivo de encontrar uma solução conjunta para a falta de controle. Deseja-se que novos rumos não sejam turvados pelo hábito palaciano de perder-se em extensos e contraproducentes debates internos.
Três exigências seriam originalmente necessárias para as famílias que recebem o benefício do Bolsa Escola: freqüência escolar, vacinação e acompanhamento de gestantes. A última checagem, admitiu o governo, é de 10 meses atrás. (Tais falhas, convém lembrar, vêm desde a gestão de FHC). Enquanto isso, os três ministérios envolvidos com o programa seguem batendo cabeça sobre as atribuições de cada um no controle das contrapartidas.
Trata-se de um símbolo tristonho da negligência governamental para aquela que seria prioridade absoluta da atual gestão. Os entraves dos programas sociais do governo federal são a evidência clara de uma política embotada pelo apego a números que podem render dividendos políticos musculosos, porém com eficácia social bastante questionável. São 4,5 milhões de famílias beneficiadas, orgulha-se o Palácio do Planalto. O risco é que, ao fim do mandato petista, boa parte delas continue à espera da esmola presidencial.
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O texto está cheio de mentiras. Antes de rebatê-las, porém, vale dar uma olhada no gráfico do Ministério do Desenvolvimento Social que mostra quanto o Bolsa família paga – e a quem.

Como se vê, o Bolsa família chega a pagar mais de 300 reais às famílias beneficiadas pela maior amplitude do programa, enquanto que as “bolsas” de FHC pagavam uma fração desse montante em condições análogas.
Não foi por outra razão que ao longo dos governos Lula e Dilma a pobreza caiu de forma tão mais acentuada do que durante os oito anos de FHC. O gráfico abaixo, extraído da Folha de São Paulo, mostra como a maior preocupação com o social de Lula e Dilma e a abolição das esmolas tucanas melhoraram a vida dos brasileiros.
FHC encontrou o país com 38,2 milhões de pobres e o entregou a Lula com 39,6 milhões; só no governo Lula, os pobres caíram de 39,6 milhões para 21,2 milhões. E só até 2011. Dali em diante, o tamanho da pobreza no Brasil continuou diminuindo e segue em queda até hoje.
O que fez a pobreza praticamente permanecer estática durante o governo FHC e ter caído tanto durante o governo Lula encontra explicação em uma das últimas manifestações do PSDB sobre o Bolsa Família, nas palavras de seu pré-candidato a presidente Aécio Neves.
Veja o que ele disse em novembro ao jornal O Estado de São Paulo:
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Um dos problemas que constatamos é que pais de família, mesmo com uma oferta de trabalho, têm receio de amanhã eventualmente serem demitidos e terem que voltar ao programa e não conseguirem rapidamente sua reinserção”, disse. Aécio deve apresentar ainda outras propostas “para que haja um esforço maior do que existe hoje para a qualificação daqueles beneficiários do Bolsa Família e um acompanhamento maior“.
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Esse enfoque da pobreza é o que torna o PSDB um partido danoso aos brasileiros também no que diz respeito ao combate a essa que é a maior chaga deste país. Em vez de se preocuparem em aumentar o tamanho do Bolsa Família para que a pobreza continue caindo, os tucanos se preocupam com “portas de saída” e outras artimanhas para desidratar o programa.
Eis por que Aécio não deslancha. Os brasileiros sabem quanto sofreram enquanto o PSDB mandava no país. Sabem como nascer pobre, no Brasil, era para sempre e sabem como após Lula, e agora com Dilma, a mobilidade social virou realidade. Por isso, dificilmente Dilma deixará de se reeleger. Quem bate, esquece. Mas quem apanha não esquece.

Superávit alcançado? Não importa, as razões do lobo não têm limites

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Autor: Fernando Brito
O Ministro Guido Mantega anunciou, hoje de manhã, o que a gente já tinha cravado aqui logo depois do Natal.
A meta de superavit primário do governo central foi alcançada e, até, ligeiramente superada: dos R$ 73 bilhões líquidos de economia, atingimos R$ 75 bilhões.
Mantega diz que antecipou o anúncio do resultado para responder à “ansiedade” do mercado.
Fez bem.
Mas não adianta muito.
Fez bem porque isso ajuda a desmoralizar os sabidos que diziam que ele não seria atingido, como Sua Sapiência, o comendador Merval Pereira, que no final de novembro afirmava:
(…) o governo central – composto pelo Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – também não está cumprindo a sua meta, que é de R$ 73 bilhões, o superávit primário este ano será bastante abaixo do previsto.
E não adianta muito, porque ele e sua trupe, amanhã, estarão dizendo que cumpriu, mas graças ao Refis e a Libra, como se Fernando Henrique Cardoso não tivesse feito superavits vendendo tudo, menos a alma, que não a tinha para entregar.
As razões do lobo são sempre assim: se não foi você, cordeiro, foi seu pai, seu avô, seu primo….
Os 73 bilhões de reais que o governo poupou para lançar na fogueira dos juros da dívida só não são mais por que o governo retirou, com as desonerações fiscais, o equivalente ao que ganhou com o leilão do campo de Libra, cerca de R$ 15 bilhões.
Mesmo assim, o Brasil poupou mais do que investiu em obras públicas.
Vale dizer, sem a obrigação do “pé do tripé” representado pelo superávit, poderiamos ter investido em serviços e infraestrutura o dobro do que fizemos e, com isso, aumentado a Formação Bruta de Capital Fixo. Com isso, talvez o PIB pudesse crescer em torno de meio por cento.
No quadro político econômico que vivemos, que não é o de ruptura, isso é o suficiente para, ao menos, reduzir o tamanho da dívida pública em relação ao tamanho de nossa economia.
E permite ir alongando prazos e ir administrando a faca no pescoço dos juros.
Mas sempre com o lobo arreganhando os dentes à nossa frente.
E apenas ir adiando a hora de sua refeição, torcendo para que o carneiro possa usar o tempo para crescer, criar chifres e dar, um dia, as necessárias marradas que o lobo merece levar.

MAINARDI VÊ BRASIL COMO TERRA DE QUADRÚPEDES

Os verdadeiros “aloprados” do PT

Entre a oposição a Dilma, só FHC ainda não tinha pedido ao “povo” que volte às ruas durante o processo eleitoral deste ano; não falta mais. Recentemente, em entrevista ao programa Manhattan Connection, juntou-se aos pré-candidatos à sucessão presidencial e a colunistas e editorialistas da grande mídia que estimulam protestos contra a Copa do mundo.
Na semana passada, em sua coluna na Folha de São Paulo, Marina Silva escreveu: “Desejo [a essa multidão que foi às ruas] mais força e criatividade para renovar a democracia no Brasil em 2014“. Seu provável companheiro de chapa nas eleições deste ano, Eduardo Campos, assim como ela, Aécio e FHC também tem feito reiterados pedidos pelos protestos.
Sem discurso e propostas concretas, a oposição vê os protestos contra a Copa – que vêm sendo preparados por partidos de esquerda brasileiros e por organizações estrangeiras como o grupo espanhol 15M – como panaceia eleitoral contra a reeleição de Dilma. Porém, se esses protestos não vingarem a presidente deve liquidar a fatura no primeiro turno.
Parece mais do que claro, portanto, o caráter desse movimento: será – ou seria – uma arma eleitoral da oposição. Aliás, a adesão em massa do PSDB e da grande mídia deixa claro que não acreditam que governadores e prefeitos de oposição seriam atingidos, o que faz todo sentido porque quem trouxe a Copa para o Brasil foram Lula e Dilma.
Como é possível, então, que até no PT exista gente literalmente entusiasmada com os protestos contra a Copa? Entre a Juventude do PT, por exemplo, há defensores ardorosos; entre movimentos sociais e até entre ativistas ligados ao partido e autoproclamados apoiadores do governo Dilma, idem.
São os mesmos “petistas” e simpatizantes do PT que, ao longo de junho, enquanto Dilma despencava nas pesquisas e as cidades eram tomadas por ataques violentos ao patrimônio público e privado tratavam meninos e meninas que mal sabiam contra o que protestavam como se fossem verdadeiros luminares da República.
Há poucos dias, em conversa informal com um ativista que sempre trabalhou pelo PT durante eleições, ouvi, perplexo, seu entusiasmo irracional com os protestos contra a Copa – irracional porque, não tenho dúvida, ele não quer que Dilma seja derrotada.
Apesar de ser pessoa ilustrada e titulada, parece estar com a mente absolutamente bloqueada para a realidade. Esse perfil de “petistas” está fazendo o trabalho de convencimento – inclusive dentro do PT – a favor dos protestos. E, quando essas pessoas ouvem que só servirão para ajudar Aécio ou Eduardo/Marina, fazem cara de espanto…
Acredite quem quiser.
Particularmente, penso que a maioria da sociedade brasileira acabou enxergando que esses protestos – e, sobretudo, os protestos contra a Copa – são movimentos mal-intencionados, descabeçados e que em nada ajudam o país. O quebra-quebra dos “black blockers” acabou enojando o país. Assim, suponho que esse movimento deva fracassar.
Contudo, chega a causar perplexidade que pessoas que estão sempre na aba do PT – quando não são filiadas ao partido – não apenas não consigam entender do que se trata esse movimento contra a Copa como ainda estejam insuflando outras pessoas a que entrem nessa onda. Esses, portanto, é que são os verdadeiros “aloprados” do PT.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

NY vai cobrar o cafezinho sabotado em SP

Novo prefeito de NY, Bill Blasio, prometeu taxar os endinheirados à razão de um cafezinho com leite no Starbucks por dia (US$ 3) para melhorar a vida dos pobres

por: Saul Leblon 

Arquivo














Endinheirados nativos adoram elogiar os ares cosmopolitas de NY - embora  se sintam espiritualmente melhor em Miami.

A mídia irradia preferências semelhantes.

O democrata Bill de Blasio, recém empossado prefeito de NY, ganha espaços e confetes  por aqui  pela ecumênica trajetória pessoal.

Blasio, um progressista à esquerda de Obama, e cuja eleição teve o apoio do Partido da Família Trabalhadora, que se autodefine como uma espécie de PT dos EUA, é casado com uma poetiza negra.

Chirlane não escondeu na campanha a adesão ao lesbianismo nos anos 70.

A cerimonia de casamento entre ela e Blasio foi oficiada por pastores gays.

Filhos afrodescendentes, Dante e Chiara, fizeram do candidato, que apoiou a causa sandinista na juventude e escolheu a América Latina como objeto de estudo acadêmico,  um símbolo de afirmação dos valores multirraciais.

A cabeleira black power exuberante de Dante tornou-se uma espécie de certificado de garantia dos compromissos progressistas do pai.

O conjunto galvanizou a Nova Iorque.

Formada por 26% de latinos e 25% de negros, a metrópole de 8,7 milhões de habitantes está cindida em duas cidades pela linha da desigualdade.

Blasio prometeu acabar com o conto dickensiano de um povo repartido em dois pelo dinheiro e o urbanismo excludente.

Artistas de seriados famosos trabalharam com afinco para arrastar votos de um pedaço da classe média branca e  dar a esse projeto  o apoio esmagador de 73% do eleitorado.

Não é pouca coisa.

Desde 1993  a população de NY não entregava a prefeitura a um democrata.

Temas como o mergulho de Blasio no alcoolismo --após o suicídio do pai, ademais de vídeos da filha discutindo abertamente a questão das drogas, reforçaram o apelo contemporâneo da candidatura.

Mas não só.

Tido como bom administrador, seu antecessor, o bilionário Bloomberg, provou que é possível ser eficiente na gestão sem alterar o apartheid de uma metrópole.

Há cinco anos ele se alarga em NY e em toda a sociedade norte-americana mergulhada na pior crise do capitalismo desde 1929.

A relação da Forbes de 2013, que atualiza o ranking dos 400 norte-americanos mais ricos do país, ilustra a expansão do fosso.

A riqueza total dos ‘400’ aumentou quase 20% sobre 2012.

Passou de US$ 1,7 trilhão para US$ 2,02 trilhões de dólares em dezembro último.

Equivale ao valor do  PIB da Rússia.

Estamos falando de apenas  400 cidadãos e uma fortuna equiparável à oitava economia do globo, ou 15% do PIB dos EUA.

Mas a coisa é pior que isso.

Em 2012, pela primeira vez desde 1917, os 10% mais ricos passaram a abocanhar mais da metade de toda a renda norte-americana (50,4% , segundo pesquisa feita pela Universidade de Berkeley).

Só há dois precedentes históricos no gênero: antes da Depressão de 1929; e antes da falência do Lehman Brothers, em 2007, gatilho da presente crise mundial.

A política de injeção de liquidez de Obama –lapidada pelos interditos do Tea Party— paradoxalmente ajudou a consumar esse feito.

A renda média nos EUA cresceu 6% no triênio finalizado em 2012.

Dentro dessa média, os ganhos do 1% mais rico aumentaram mais de 31% no período (recuperando assim quase completamente as perdas decorrentes da crise, da ordem de 35%).

Os demais 99% tiveram um ganho de apenas 0,4% em três anos. Estão hoje 12% abaixo da soleira em que se encontravam antes do colapso neoliberal.

O Ocuppy Wall Street tinha razão.

Não surpreende que muitos de seus integrantes tenham se engajado na vitória a Blasi, que emerge assim como uma segunda aposta, mais à esquerda, depois do fiasco de Obama.

O cabelo black power de Dante deu confiabilidade a quem batia forte na tirania do 1% sobre os 99%.

Mas Blasio não foi eleito apenas pela fiança familiar.

Para investir em escolas e serviços destinados aos subúrbios –que empobreceram adicionalmente desde 2007, ele a prometeu elevar o imposto sobre os ricos que lucraram com a crise.

Quem ganha entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão pagará um adicional em taxas municipais de US$ 973 por ano em sua gestão.

Significa menos que US$ 3 por dia – ‘um cafezinho com leite no Starbucks’, alfinetou o novo prefeito.

Não há como não enxergar nessa aritmética um espelho do que se passa na São Paulo dirigida pelo prefeito  Fernando Haddad.

Financiar a tarifa congelada dos ônibus na capital, modernizar  o transporte coletivo com 150 kms de corredores exclusivos (as faixas já passam de 290 kms) e investir em educação e saúde exigiriam um aumento do IPTU com atualização de valores venais defasados pela supervalorizados nos últimos anos.

Aqui como lá os ricos arcariam com a maior fatia do adicional arrecadado.

1/3 dos moradores mais pobres  não pagariam nada, conforme a proposta original de Haddad.

Os demais, em média, contribuiriam com  um adicional de R$ 15,00 ao mês.

Cinquenta centavos ao dia.

Para somar o preço de um café com leite no Starbuscks em São Paulo ( R$ 3,90 no Shopping Eldorado, na capital), seriam necessários quase o equivalente a  oito dias de  IPTU.

O prefeito Haddad foi ao STF solicitar apoio a uma contribuição 12 vezes inferior a de NY, vetada aqui pelo matrimônio de interesses que uniu a  Fiesp, a mídia, endinheirados, senhorios e o PSDB.

Ao contrário da cumplicidade selada entre afrodescedentes e Blasio, Haddad encontrou na Suprema Corte alguém que age e pensa aqui como aqueles que, em passado sombrio, destinaram a seus semelhantes a senzala e a chibata.

E depois delas, as periferias  conflagradas das grandes metrópoles.

Cerca de R$ 100 milhões arrecadados com o novo IPTU iriam financiar a construção de creches nos bairros mais pobres de SP, onde 150 mil crianças aguardam na fila.

Continuarão a aguardar enquanto os endinheirados, seus ventríloquos e serviçais tomam seu cafezinho no Starbucks.

CAI AMANHÃ O ÚLTIMO PILAR DA "GUERRA PSICOLÓGICA"

FOLHA: "ROLEZINHOS" SÃO PRODUTO DA DESIGUALDADE

Quem tem medo de mulheres negras de jaleco branco?

Médicos, imprensa e Conselho Federal de Medicina, é para vocês a grande lição deixada pela estudante de medicina em Cuba, Cíntia Santos Cunha.


Divulgação

(*) Publicado originalmente no Blog Negro Belchior, em 29 de agosto de 2013.
 
“Eu já desde muito nova queria fazer Medicina… só que Medicina é um curso impensável para as pessoas de onde eu venho, para as pessoas como eu sou, negra, mulher, pobre, Capão Redondo. Ninguém sonha ser médico lá. Eu insisti que queria fazer medicina.” – Cintia Santos Cunha
 


Em seu texto sobre a polêmica dos médicos cubanos no Brasil e a reação de uma jornalista potiguar que escandalizou as redes sociais ao dizer que médicos cubanos pareciam “empregadas domésticas”, e que precisariam ter “postura de médico”, o que não acontecia com os profissionais cubanos, o professor Dennis de Oliveira sintetizou:
 
“(…) ela expressou claramente o que pensa parte significativa dos segmentos sociais dominantes e médios do Brasil: para eles, negros e negras são tolerados desde que em serviços subalternos. Esta é a “tolerância” racial brasileira.”
 
Essa mentalidade racista que sempre pressupôs o lugar do negro em nossa sociedade, contaminou milhares de jovens estudantes nas últimas muitas gerações. Isso somado ao descaso com a qualidade da educação pública faz com que, em sua grande maioria, jovens negros e/ou pobres sequer sonhem com universidades ou profissões “diferentes” daquelas nas quais percebem seus iguais.

HERDEIROS DE NINA RODRIGUES

A classe médica (e média) que hoje não se constrange em manifestar seu preconceito racial é herdeira de Nina Rodrigues. Racista confesso, o renomado médico baiano tentava dar cientificidade à sua tese sobre as raças inferiores.
 
Acreditava ele que os negros tinham capacidade mental limitada e uma tendência natural à criminalidade.

No final do século XIX, Nina Rodrigues combatia a miscigenação por acreditar que qualquer mistura poderia degenerar a raça superior branca. Mais ainda, defendia a existência de dois códigos penais: uma para os brancos e outro para as raças inferiores. Esses e outros absurdos podem ser observados em seu livro “As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil’.

A população negra perfaz mais de 50% da população brasileira, mas entre os formados em medicina o percentual foi de 2,66% em 2010. Na USP, por exemplo, são comuns listas de aprovados nos vestibulares mais concorridos sem sequer um único auto-declarado negro, como foi o caso deste ano de 2013. Isso se repete na Bahia, onde mais 70% da população é negra. Simbólica e triste a foto ao lado,que traz a turma de 2011 da Universidade Federal da Bahia.

A DECLARAÇÃO DE CÍNTIA, DO CAPÃO

Cintia Santos Cunha foi uma exceção. E ao a ouvi-la falar, ao perceber a postura de dignidade que todo ser humano pode – se quiser, carregar, independente de sua profissão, é possível entender o porquê de tanta oposição por parte das classes dominantes em relação à presença dos doutores de pele preta: a descoberta de sua mediocridade.

Médicos, imprensa e Conselho Federal de Medicina corporativistas, reacionários, cínicos e racistas, é para vocês a grande lição deixada pela estudante de medicina em CUBA, Cíntia Santos Cunha, que retornou a Ilha para concluir o curso em Fevereiro de 2014.

É do povo que vocês tem medo! E devem mesmo ter medo! Toda sua riqueza não é suficiente para compensar os mais de 500 anos de opressão.

Assistam e assustem-se!

Aécio, vamos conversar sobre estradas e pedágios? Por que a MG-050 custa o dobro das federais?

050
O senador Aécio Neves resmungou que a Presidenta Dilma Rousseff não falou na situação das rodovias em seu pronunciamento de final de ano.
Não sou governo, não tenho cargo nem publicidade oficial – embora devesse, porque 2,5 milhões de pageviews mensais coubessem em qualquer mídia “técnica” – mas vou aceitar o desafio do senador.
Sirvo-me da insuspeita matéria do (aliás, ótimo) repórter Dimmi Amora, da Folha, que publica hoje texto mostrando, com dados, que a concessão de rodovias, no Governo Dilma, se deu por preços de pedágio ainda mais baratos que os do Governo Lula, ainda que com mais obras a serem realizadas.
Pena que a matéria de Dimmi não compare com os pedágios concedidos no governo FHC – com os valores da época, atualizados – ou os das rodovias paulistucanas, três ou quatro vezes maiores.
Os leitores paulistas sintam-se livres para fazer as contas com os pedágios daí: os de Lula ficaram em R$3,37 por cada 100 km e os de Dilma por R$ 3,34.
Mas vá lá, embora Aécio seja da família, não foi ele quem fixou aqueles preços.
Vamos, então,  senador, conversar sobre uma rodovia que o senhor privatizou como governador, em 2007: a MG-050, que liga Belo Horizonte a São Sebastião do Paraíso, na divisa com São Paulo.
São seis praças de pedágio, não é, senador?
Em cada uma, cobra-se do motorista, R$ 4,40.
Se não me falham as contas, R$ 26,40 por uma viagem pelos seus 406,7 quilômetros.
Ou R$ 6,49 por cada 100 km, quase o dobro da média dos pedágios federais.
Mas será que a MG-050 exigiu do concessionário investimentos pesados?
A concessionária Nascentes das Gerais, em cinco anos de contrato, não duplicou nem 20 km da rodovia.
Agora, o Governo do Estado vai pagar a duplicação de 37,2 km da rodovia, entre Matheus Leme e Divinópolis, com gastos de R$ 230 milhões de dinheiro público. A concessionária diz que assumirá investimentos de R$ 70 milhões na feitura dos acessos às cidades atravessadas pelo trecho a ser duplicado.
Vamos conversar, Senador, sobre os temas que o senhor mesmo sugerir.
Mas depois o senhor o senhor não reclame.

2014 será um ano histórico para o Brasil

O ano que o Brasil deixa para trás transcorreu sob o signo da convulsão social e da revolução política, mas, apesar dos eventos de expressiva importância que vimos eclodir ao longo desses 365 dias, 2013 não se compara ao que espera este país em 2014.
Dois fatos marcaram para sempre esta grande nação no ano que ora deixa nossas vidas para entrar para a história: a onda de protestos e o inédito encarceramento de políticos importantes.
Sobre os protestos de junho, o que impressiona é terem ocorrido em um momento em que a qualidade de vida nunca foi tão boa e tão promissora no país. Com salários crescendo e emprego farto, com distribuição de renda e com a pobreza despencando ano a ano, centenas de milhares de brasileiros foram as ruas protestar sem uma causa definida.
Não que todos os nossos problemas tenham sido solucionados. Muito pelo contrário. O nível de pobreza, de injustiça social, de violência urbana e rural e a péssima qualidade dos serviços públicos são, sim, razão muito mais do que suficiente para qualquer povo protestar.
Todavia, o que impressiona é que tais protestos tenham ocorrido em um momento em que a vida de todos melhorou tanto, ao passo que, há uma década, este país estava falido, todo mundo estava desempregado, os salários estavam cada vez mais aviltados e o povo não protestava.
Claro que não foi propriamente o povo que foi às ruas, mas um setor da sociedade que melhorou menos de vida do que a maioria empobrecida. Com efeito, a classe média viu os mais pobres avançarem bem mais do que si e esse foi o mote dos protestos.
Os brasileiros que foram às ruas em junho de 2013, pela primeira vez na história contemporânea não clamaram por mais empregos e por salários melhores, o que mostra que esses dramas o país deixou para trás; clamaram por melhores serviços públicos, como transporte.
Esse fenômeno é histórico, inédito e revelador de quanto a última década melhorou este país. Até a aurora do século XXI, as demandas dos brasileiros eram por empregos suficientes e salários decentes; o Brasil superou essas deficiências e poucos perceberam.
Já no campo estritamente político, o julgamento e o encarceramento relâmpago de políticos importantes em um país em que políticos de tal estatura só eram penalizados tão duramente pela lei durante ditaduras têm sido vistos como avanço, mas também como retrocesso.
É lícito dizer que a causa primeira da corrupção no Brasil – que, reconheçamos, é maior do que em nações em estágio civilizatório mais avançado – se deve à impunidade. Contudo, ao menos até o momento o encarceramento de políticos petistas soa muito mais como um golpe político do que como reversão da histórica impunidade que vige para os mais abastados neste país.
O que parece ter acontecido em 2013 não foram prisões de políticos, mas prisões políticas. Afinal, políticos envolvidos em processos análogos ao do mensalão do PT, só que da corrente política adversária – do PSDB –, foram beneficiados pelas rotas de fuga que o Judiciário sempre propiciou às elites.
O dito “mensalão do PSDB” ter sido tratado pela Justiça de forma tão diferente da que foi usada para o do PT, com o desmembramento do primeiro processo – que foi negado ao segundo – e com a demora muito maior para julgar o caso envolvendo tucanos desmonta a tese do “fim da impunidade”.
Não há perspectiva, pois, de ver políticos-símbolo da corrupção como um Paulo Maluf, um Demóstenes Torres, um Marconi Perillo, um Eduardo Azeredo e tantos outros serem penalizados como foram os petistas.
Qual é a novidade, então, na forma como a Justiça trata a classe política? Não é, infelizmente, a nossa Justiça tratar os membros das elites como trata o povão. A novidade é – durante suposta vigência da democracia – pessoas serem penalizadas por razões políticas.
É lícito dizer, pois, que 2013 não foi um bom ano para a democracia brasileira. Protestos políticos ocorrendo quando as razões para protestar diminuíram tanto e pessoas sendo encarceradas por razões políticas são fatos que desautorizam otimismo com 2014.
O pior é que os grupos políticos que engendraram e fizeram vingar protestos de rua e critérios políticos em um julgamento que, em respeito à democracia, deveria deixar a política de fora, prometem fazer tudo isso de novo em 2014, só que, agora, em ano eleitoral…
O que tornará 2014 um ano histórico para o país também tem relação com a Copa do Mundo. Passaram-se décadas e décadas desde que o Brasil sediou evento internacional de tal importância. Os olhos do mundo estarão voltados para nós no ano que entra.
Os protestos terão, reconhecidamente, potencial para apear do poder o grupo político que fez o Brasil avançar socialmente como nunca ocorrera em toda a sua história em período tão curto. E de desmoralizar o país perante o mundo.
Não é pouco.
A derrota imensurável que ameaça o país em 2014, porém, pode não ocorrer. O brasileiro poderá dar uma demonstração de maturidade premiando um governo – ou uma série de governos – que lhe melhorou a vida e poderá, assim, dizer não aos que pretendem sabotar a imagem do país e sua economia com fins eleitorais.
O caráter histórico de 2014, portanto, poderá decorrer não só da rendição do país aos interesses inconfessáveis que querem desmoralizá-lo internacionalmente e recolocar no poder os que tanto pioraram a vida do povo como poderá decorrer da recusa desse povo a se render.
A volta ao poder dos que fizeram o Brasil chegar ao século XXI de joelhos e que não se cansam de prometer o desmonte do Estado de Bem Estar Social que vai sendo construído a duras penas pode gerar, na segunda metade desta década, uma convulsão social.
A destruição da imagem do Brasil perante o mundo – via transformá-lo em um campo de guerra durante evento que deveria ser uma festa de reafirmação do país como potência emergente – aprofundaria o caos social e econômico que pode eclodir a partir de 2015.
O caráter histórico de 2014, portanto, estará em que este povo terá o próprio destino nas mãos como nunca terá tido antes. Teremos, no ano que entra, o poder de melhorar muito as nossas vidas, mas também teremos o poder piorá-las de forma dramática.
A decisão será nossa e só nossa. Assim sendo, o que de melhor se pode desejar para o povo brasileiro em 2014, além de “Muito dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender”, é, pura e simplesmente, muito, muito, mas muito juízo mesmo.
Um feliz e ajuizado 2014 para todos, pois.