Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 19 de março de 2014

Combate ao Marco Civil da internet é caso de polícia




Não é preciso ser um gênio da computação ou dos negócios para entender o que está dificultando a aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto de lei do Marco Civil da internet. É hora, pois, de alguém explicar a questão em linguagem bem simples e chamar as coisas pelo nome.
O governo federal enviou ao Congresso um projeto de lei que regulamenta o provimento de acesso à internet no Brasil. Antes de mais nada, esse marco regulatório é uma garantia para a sociedade de que o intenso processo de inclusão digital em curso no país não será dificultado.
O que pode dificultar fortemente esse processo é o encarecimento do acesso à internet e a quebra da neutralidade na rede, ou seja, o aumento do custo de hospedagem de sites. Para a blogosfera independente, por exemplo, a quebra da neutralidade seria mortal.
Como signatário de um site – este Blog, em verdade, é um site como o UOL, G1 ou qualquer outro –, digo que qualquer aumento no custo de hospedagem inviabilizaria meu trabalho, pois mal consigo suportar esse custo como está hoje.
Quem quer dificultar a vida dos brasileiros na internet são as ditas “teles”, as empresas provedoras de acesso ou de hospedagem de sites. E não é por maldade que essas empresas – em boa parte transnacionais – querem isso. É por lucro, claro, mas é, também, por interesses políticos.
Em primeiro lugar, a inclusão digital é uma ameaça aos tentáculos mais vorazes do capitalismo. As vozes dissonantes que a internet permite que pela primeira vez na história possam se fazer ouvir em qualquer parte e a baixo custo ameaçam àqueles que mantém este país tão desigual.
Ainda nesse aspecto político, a concorrência que blogs, sites e redes sociais fazem à mídia tradicional é uma pedra no sapato dela. Pense bem: que diferença há hoje entre acessar o portal UOL ou outros grandes portais e acessar um blog como este?
A velocidade de acesso é igual, o custo para acessar é igual. Só o que separa um site como este de um site como o UOL é o conhecimento desse site pelo público. Mas como a blogosfera é vasta, todo o público de um grande portal conhece ao menos um bom grupo de blogs e sites independentes.
E há outra questão. As reclamações do serviço das operadoras de acesso à internet são muitas. Essas empresas não entregam a velocidade de acesso contratada e o governo vem obrigando a que cumpram suas obrigações contratuais.
Essas empresas, para cumprir os contratos que descumprem, têm que fazer investimentos. Adivinhe, leitor, de onde querem tirar esses recursos para investir… Do seu bolso, claro. E, creia-me, sem garantia de que, agora, cumprirão o que prometem.
A função do Congresso deveria ser defender os brasileiros da esperteza dessas empresas e dos interesses políticos dos grandes meios de comunicação que não querem blogs, sites e redes sociais contradizendo suas “verdades”. Contudo, há um blocão de deputados fazendo o jogo dos tubarões.
Todos os especialistas sérios em internet defendem o Marco Civil que o governo está propondo. Inclusive, defendem um ponto desse marco regulatório do qual o governo está abrindo mão na tentativa de aprovar, pelo menos, a neutralidade na rede.
O ponto que o governo está negociando é a obrigatoriedade que pretende impor às teles para que mantenham os dados dos internautas brasileiros no Brasil. Isso, após a descoberta da espionagem dos EUA, parece uma medida mais do que lógica. Mas, pasme-se, há deputado que não quer.
E há muito deputado que tampouco quer neutralidade na rede, veja só.
Ora, ora, ora… A pergunta é, simplesmente, por que.
Como é possível que representantes eleitos pelo voto popular atuem contra o interesse do internauta brasileiro e em favor de empresas de telecomunicações – inclusive e sobretudo – de origem estrangeira? O que há por trás dessa conduta?
Vamos chamar as coisas pelo nome, caro leitor? Então vamos: o que tem por trás dessa conduta desses deputados é uma coisinha chamada suborno. É isso aí: as teles só podem estar subornando deputados. Não tenho provas, mas não pode ser outra coisa.
Contudo, falta de provas não é nada que uma boa investigação da Polícia Federal não resolva. Os deputados que estão atuando contra o interesse da sociedade por certo têm motivo$ muito forte$ para agir como estão agindo. Motivo$ que uma boa investigação poderia detectar.
***
Assista, abaixo, a uma dramatização do que ocorrerá com a internet no Brasil caso o blocão das teles consiga acabar com a neutralidade na rede e com a proibição de “fatiamento” em “pacotes” do acesso a essa rede.
* Dica do leitor Lucio


Matéria da TV dos Trabalhadores (TVT) sobre a interpelação de Gilmar Mendes

A revolução que não sai no jornal

Há uma revolução em marcha nos bastidores da sociedade venezuelana. Uma revolução pelo livro, ancorada em uma rede de editoras e livrarias públicas.

por: Saul Leblon

Divulgação



















 
Que uma feira de livros inaugurada em Caracas, na semana passada, tenha atraído tanto ou mais público que um protesto contra Cuba marcado para o mesmo dia, pode soar estranho ao discernimento de quem se informa apenas pela mídia conservadora.

Mas foi exatamente o que sucedeu na última sexta-feira, como relata o economista Pedro Silva Barros, que passa a colaborar com Carta Maior diretamente da capital venezuelana.

Seu oportuno texto de estreia (leia nesta pág.) informa não apenas que –pasmem-- existem venezuelanos mais interessados em literatura do que em rejeitar a parceria cubana nas áreas da saúde, educação etc.

O inusitado, quando se toma a emissão conservadora como norma, é mais amplo e profundo.

Pedro Silva Barros relata a existência de uma verdadeira revolução silenciosa nos bastidores da suposta conflagração irreversível da sociedade venezuelana, sugerida pelos despachos que o ‘jornalismo isento’ envia ao Brasil.

Erradicado o analfabetismo em 2005, feito atestado pela Unesco e graças à estreita cooperação entre Havana e Caracas, o governo venezuelano cuida de baratear o acesso à literatura, expandindo uma rede de livrarias públicas e semeando editoras pelo país.

Uma delas, informa Pedro Barros, a Editorial El Perro y la Rana, já reúne um catálogo de mais de 4.300 títulos.

A malha de livrarias públicas --Librerías del Sur, inclui lojas em todos os estados. A venda de livros subsidiados em locais de grande circulação pública, como estações do metrô, tornou-se trivial.

Não há notícia de ‘dirigismo autoritário’ na política editorial. A menos que se inclua nessa pauta conservador a distribuição gratuita de um milhão de exemplares de Don Quixote de La Mancha, obra-prima da literatura mundial, cujo quarto centenário foi festejado assim pelo então Presidente Chávez.

Essa revolução se entrelaça a outra, a do acesso à educação superior na Venezuela: o país tem cerca de 28 milhões de habitantes e dois milhões de universitários (o Brasil tem sete milhões para uma população de 190 milhões).

Nada disso diminui nem desmente a existência de uma polarização política nesse momento, extremada pela radicalização de uma parte da oposição venezuelana, e que já fez 29 vítimas fatais dos dois lados.

O que esses relatos ajudam a entender é por que um governo que teria contra si uma sociedade integralmente dilacerada, como ensina o martelete conservador, não caiu até agora .

A dificuldade de se obter maior transparência no noticiário relacionado aos conflitos e disputas vividos naquele país –razão do novo nome incorporado à equipe de colaboradores de Carta Maior-- fala diretamente ao momento brasileiro.
Não se trata de equiparar a radicalidade , nem os desafios contidos na agenda venezuelana.

Trata-se de chamar a atenção para o decisivo papel da informação plural quando do que mais se necessita é dotar a agenda do desenvolvimento de um razoável grau de coerência, que permita concentrar energias em processos e prioridades de interesse da maioria da população.

Essa é uma das mais delicadas operações da democracia: assegurar que o embate político gere a força, a legitimidade e o consentimento necessários à aglutinação das grandes maiorias requeridas às transições de ciclo histórico.

O oposto disso é o golpe. A crispação neoudenista. O comportamento vergonhoso de uma mídia que, à falta de cardápios defensáveis dedica-se a denunciar supostos privilégios no do ex-ministro José Dirceu.

Escandaliza-a a hipótese de que o ex-ministro possa, digamos, ter devorado um Big Mac na Papuda, mas não a sua retenção ilegal em regime fechado, depois do direito assegurado ao semiaberto.

Qual o passo seguinte dessa espiral da exasperação?

Aquilo que o conservadorismo brasileiro não hesitou em acionar há 50 anos.

Quando se viu na iminência de ceder espaço à hegemonia em formação em torno das reformas de base propostas por Jango, (como ficou documentado em pesquisas do Ibope, só recentemente divulgadas), golpeou a democracia a propósito de defendê-la.

É impossível exagerar a importância da mídia no processo de desenvolvimento de uma sociedade.

De qualquer sociedade. Mas sobretudo daquelas que, a exemplo da Venezuela, Brasil, Argentina, entre outras, vivem nesse momento a inflamável confluência de uma dupla travessia.

Ela inclui reformar o motor de desenvolvimento em meio à habitual escassez de recursos, agravada pela reordenação da economia mundial .

O conjunto estreita adicionalmente a margem de manobra do Estado para gerir as dilacerantes contradições do capitalismo na América Latina.

A alternativa ao golpismo é a repactuação política da agenda do desenvolvimento.

Seu requisito básico é facultar à sociedade o acesso a dados e análises que lhe permitam assumir o comando do seu destino.

Se nem o florescimento editorial na Venezuela é informado por aqui, o que esperar das questões mais agudas --e as graúdas- que envolvem as escolhas do desenvolvimento brasileiro?

terça-feira, 18 de março de 2014

Krugman vê Brasil: "não é vulnerável faz tempo"

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Economista Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008, passa o trator sobre avaliações pessimistas e previsões catastrofistas para a economia brasileira; "O Brasil saiu da crise mundial muito bem e não se justificam preocupações com sua economia", disse; colunista permanente do jornal The New York Times, ele participou de seminário promovido pela revista Carta Capital; "O Brasil não é vulnerável há muito tempo", cravou ele, citando reservas internacionais de US$ 360 bilhões e PIB superior a US$ 2 trilhões
18 de Março de 2014 às 16:43
247 - Economista, colunista permanente do jornal The New York Times e figura central no debate mundial, Paul Krugman tem algo que seus colegas de comentários não têm: um prêmio Nobel de Economia, ganho por ele em 2008, em razão de suas pesquisas sobre a nova geografia econômica mundial. O que ele fala se torna referencial.
Pois Krugman acaba de, aqui mesmo no Brasil, passar o seu trator sobre as atuais análises pessimistas e projeções catastrofistas sobre a economia brasileira. Atacando de frente uma palavra usada em relatório do Federal Reserve (Fed) sobre o País, o economista não fez rodeios:
- O Brasil não é vulnerável há muito tempo, disse Krugman nesta terça-feira 18, em São Paulo, durante seminário promovido pela revista Carta Capital.
- O Brasil saiu da crise mundial muito bem e não se justificam preocupações com sua economia, frisou. Para ele, o País apresenta um desempenho muito bom da economia, em meio à crise internacional. "Há maior confiança no País de que política fiscal será mais responsável", apontou. Ele destacou que a dívida externa do País, "perto de US$ 300 bilhões", não é mais um fator importante no caso do País, pois o PIB brasileiro é bem maior, pouco acima de US$ 2 trilhões, e o País possui reservas próximas de US$ 370 bilhões.
- Além disso, o País tem hoje uma menor exposição em dívida denominada em moeda estrangeira, detalhou.
Os problemas, segundo o premiado com o Nobel, estão em outra parte do mundo.
- Estou preocupado com um choque na economia chinesa, mas não seria catástrofe, analisou. "Como proporção do PIB no país, os investimentos atingem 50% e o consumo das famílias chega a 30%. Essa proporção precisa inverter".
Krugman criticou a manutenção do uso da expressão Brics para juntar, num mesmo saco, países como China, Brasil, Índia e Rússia.
- O conceito Brics é muito peculiar. Ele representa um conjunto de países que não têm semelhanças, refletiu.
Procurando corrigir o que considera ser o rumo errado do mercado, Krugman disse que, com Janet Yellen na presidência do Fed, os juros nos EUA tendem a continuar baixos.
- Yellen quer manter a taxa de juros bem baixas por muito tempo. Os mercados estão errados", comentou. "A política de afrouxamento quantitativo foi uma decepção como política monetária, disse, ressaltando que ela não ajudou a fortalecer o consumo norte-americano nos últimos anos.

Dines reforça: Veja cometeu crime de imprensa

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Jornalista e titular do Observatório da Imprensa, Alberto Dines diz que matéria de capa que aponta regalias a José Dirceu na prisão não é reportagem, "é pura cascata", que mistura "altas doses de rancor" com "velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas"; segundo ele, a revista cometeu "abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística"; para ele, jogada invadiu a seara da "formação de quadrilha, ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as, digamos, 'informações'"
18 de Março de 2014 às 17:21
247 - A capa da última edição da revista Veja foi alvo de mais uma crítica, desta vez por parte do renomado jornalista Alberto Dines. Em artigo publicado no Observatório da Imprensa, ele diz que a publicação da Abril cometeu "abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística" no texto que aponta regalias a José Dirceu na prisão. Matéria tem "altas doses de rancor", acrescenta. Leia abaixo:
Novo surto de vale-tudo
Por Alberto Dines em 18/03/2014 na edição 790
Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da primeira edição do Curso de Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da Veja, na condição de professor-convidado, declarou, para espanto dos 35 alunos presentes: "Tratamos o governo Lula como um governo de exceção". Na capa da última edição do semanário (nº 2365, de 19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua doutrina.
Para comprovar a ilegalidade das regalias que gozaria o ex-ministro José Dirceu no Complexo da Papuda, Veja cometeu ilegalidade ainda maior. Detentos não podem ser fotografados ou constrangidos, o ato configura abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística. Um bom advogado poderia até incriminar os responsáveis por formação de quadrilha ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as, digamos, "informações".
"Exclusivo – José Dirceu, a Vida na Cadeia" não é reportagem, é pura cascata: altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente com microcâmera, não comprovam regalia alguma.
Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado. Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald's supostamente servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente, redondo, corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do presídio, não há crime algum.
Agentes provocadores
A grande imprensa desta vez não deu cobertura ao semanário como era habitual. Constrangido, o Estado de S.Paulo foi na direção contrária e já no domingo (16/3) relatava, com chamada na primeira página, as providências das autoridades brasilienses para descobrir os cúmplices do vazamento (ver "Dirceu teria mais regalias na cadeia; DF nega"). Na segunda-feira, na Folha de S.Paulo, Ricardo Melo lavou a alma dos jornalistas que repudiam este jornalismo marrom-escuro (ver "O linchamento de José Dirceu").
O objetivo da cascata não era linchar Dirceu, o que se pretendia era acirrar os ânimos, insuflar indignações contra uma suposta impunidade, alimentar a agenda dos black-blocks (ou green-blocks?).
Os agitadores e agentes provocadores estão excitadíssimos às vésperas dos 50 anos do golpe militar. O violento quebra-quebra na sexta-feira (14/3), na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) – o maior do gênero na América Latina – não foi provocado pelos caminhoneiros que passariam a pagar pelo estacionamento. Foi obra de profissionais do ramo da agitação política com a inestimável ajuda da PM, que demorou três horas para chegar ao campo de batalha.
As convocações para atos e passeatas destinadas a homenagear o golpe de 1964 não falam na derrubada de Jango, falam em derrotar o PT. Convém lembrar que a rede Ceagesp é, desde 1997, federalizada, ligada ao Ministério da Agricultura.
Num governo de exceção vale tudo. Também no jornalismo de exceção.

O Brasil da mídia e o país real

Hoje quando abrimos jornais, ouvimos o rádio e vemos as TVs comerciais o retrato é de um país à beira do abismo, tudo vai mal. Há 50 anos ocorreu algo similar.



(*) Artigo publicado na Revista do Brasil (edição de março de 2014)
 
Hoje quando abrimos jornais, ouvimos o rádio e vemos as TVs comerciais o retrato é de um país à beira do abismo, tudo vai mal. Situação de quase pleno emprego, milhões de pessoas retiradas da miséria pelo Bolsa Família, pacientes atendidos em cidades que nunca haviam visto um médico antes são apenas alguns exemplos do Brasil ignorado pelo jornalismo “independente”.

Em março de 1964, o quadro era semelhante embora houvesse um fantasma a mais, além do descalabro administrativo: o “perigo vermelho” representado pelo comunismo. Para mídia ele estava às nossas portas.

A televisão e demais meios de comunicação se prestavam a esse serviço de doutrinação diária azeitados por fartos recursos vindos de grandes grupos empresariais canalizados por meio do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e do Instituto Brasileira de Ação Democrática (Ibad), em estreita colaboração com a agência de inteligência dos Estados Unidos, a CIA. O principal mensageiro televisivo dos alertas sobre a “manipulação comunista” do governo Goulart era o jornalista Carlos Lacerda. Apesar de afinados ideologicamente com os golpistas, os veículos de comunicação não faziam isso de graça.

Segundo o economista Glycon de Paiva, um dos diretores do Ipes, de 1962 a 1964 foram gastos nesse trabalho de desinformação US$ 300 mil a cada ano, em valores não corrigidos. Os dados estão no livro O Governo João Goulart, As Lutas Sociais no Brasil 1961-1964, do historiador Moniz Bandeira.

“O Ipes conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública, através do seu relacionamento especial com os mais importantes jornais, rádios e televisões nacionais, como: os Diários Associados (poderosa rede de jornais, rádio e TV de Assis Chateaubriand, por intermédio de Edmundo Monteiro, seu diretor-geral e líder do Ipes), a Folha de S.Paulo (do grupo de Octavio Frias, associado do Ipes), o Estado de S.Paulo e o Jornal da Tarde (do Grupo Mesquita, ligado ao Ipes, que também possuía a prestigiosa Rádio Eldorado de São Paulo)” relata René Armand Dreifuss no clássico “1964: a conquista do Estado”.
 
Foi um período longo de preparação do golpe, e quando ele se concretizou a mídia ficou exultante. O Globo estampou manchetes do tipo “Ressurge a democracia”, “Fugiu Goulart e a democracia está sendo restabelecida”. Sob o título “Bravos Militares”, o jornal da família Marinho, no dia 2 de abril de 1964, dizia que não se tratava de um movimento partidário: “Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira”. O Estadão seguia na mesma toada, enfatizando “o aprofundamento do divórcio entre o governo da República e a opinião pública nacional”.

Foram necessários 50 anos para termos a confirmação que o tal divórcio não existia. Pesquisa do Ibope, feita à época, e só agora revelada graças ao trabalho do historiador Luiz Antonio Dias, da PUC de São Paulo mostra que 72% da população brasileira apoiava o governo. Entre os mais pobres, o índice ia para 86%. E se Jango pudesse se candidatar nas eleições seguintes, previstas para 1965, tinha tudo para ser eleito. Pesquisa de março de 1964 dava a ele a maioria das intenções de voto em quase todas as capitais brasileiras. Em São Paulo, a aprovação do seu governo (68%) era superior à do governador Adhemar de Barros (59%) e à do então prefeito da capital, Prestes Maia (38%).

Dados que a mídia nunca mostrou. Para ela interessava apenas construir um imaginário capaz de impulsionar o golpe final contra as instituições democráticas.

Marcha assumidamente golpista ganha divulgação na TV Cultura

Os desmandos e a ingerência política dos governos de São Paulo na TV Cultura ao longo dos vinte anos – a se completarem em 1º de janeiro de 2015 – durante os quais o PSDB governa o Estado são bastante conhecidos e só não geram inquérito a partir do Ministério Público estadual por conta do aparelhamento desse órgão por esse grupo político.
Um dos maiores escândalos na utilização política dessa tevê pública foi a concessão ao Grupo Folha de São Paulo do horário mais nobre da tevê brasileira, as noites de domingo.
O escândalo reside no posicionamento político da Folha, sabidamente de oposição ao governo federal.
Essa postura política da Folha em relação aos adversários dos controladores da TV Cultura deveria ser impeditiva à entrega ao jornal de espaço na emissora, pois uma tevê pública tem que se pautar muito mais pela isenção política do que as tevês privadas, ainda que a estas caiba a mesma imposição.
No último domingo, porém, a TV Cultura extrapolou no uso político que faz de sua programação.
O programa “TV Folha”, concedido pelo governo Geraldo Alckmin à família Frias, deu um jeitinho de fazer propaganda de um protesto contra o governo Dilma Rousseff que está sendo prometido por um grupo de extrema-direita para o próximo sábado em São Paulo e em outras 200 cidades.
Para quem não sabe, uma explicação: um bando de socialites e empresários de classe média alta organizou uma segunda edição da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que, em sua primeira edição, ocorreu em março de 1964, há 50 anos, e foi usada como pretexto pelos militares para implantarem uma ditadura sangrenta que durou 21 anos.
Esse grupo de fanáticos prega abertamente uma “intervenção militar constitucional” – os integrantes do grupo inventaram o golpe de Estado “constitucional”, um contrassenso desde a denominação –, que deporia Dilma Rousseff à força.
Esse “movimento”, que envolve militares da reserva e até da ativa, chama o golpe de Estado que quer dar de “constitucional” com base no Art. 142 da Constituição de 1988, que versa sobre direitos e deveres dos militares e que define o papel das Forças Armadas.
O texto constitucional diz apenas que as Forças Armadas são “Constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica”, que são “Instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina” e submete os militares à “Autoridade suprema do Presidente da República”, restringindo a atuação deles “À defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Ou seja, o artigo constitucional que os golpistas invocam não dá licença aos militares para praticar “intervenção” alguma, golpe de Estado nenhum. Pelo contrário, prega que cabe a eles evitar golpes, caso algum golpista queira depor “Os poderes constitucionais”.
O baixíssimo nível intelectual dos golpistas os fez enxergarem uma “permissão” para que militares deem golpe no que, em verdade, é um veto a golpes de Estado, claramente determinado pelo artigo 142 da Constituição.
Veja só, leitor, o que é a burrice.
Mas a questão não é a estupidez e o caráter criminoso dos organizadores dessa “marcha da família”, ou seja, dessa “marcha” de famílias ricas e golpistas e militares de pijama.  A questão é que a pretensamente esperta Folha de São Paulo deu um jeitinho de divulgar essa cretinice –ilegal do começo ao fim – disfarçando a matéria com uma capa de ironia quase imperceptível.
A reportagem não chegou efetivamente a ironizar uma iniciativa que, acima do ilegal golpismo, é de causar vergonha alheia a qualquer pessoa minimamente sensata. A matéria mostra apenas respostas dos organizadores da marcha. A maior ironia que o programa fez foi colocar uma legenda sobre algumas das frases mais malucas dos organizadores: “Como assim?”.
Com a divulgação na tevê, muitos outros cretinos que nem sabiam dessa cretinice poderão aderir, pois as besteiras ditas pelos organizadores da marcha golpista ao “TV Folha” são ditas de forma séria por pessoas relativamente bem articuladas, ainda que uma delas tenha proferido a ridícula frase de que se considera “85%” politizada…
Pausa para rir.
Como gente desse naipe não tem senso de ridículo, parte da audiência do programa da TV Cultura, baseada no que assistiu, fará propaganda da tal marcha. E isso ocorrerá por toda parte, pois a programação da emissora pública paulista é transmitida para tevês educativas do Brasil inteiro.
Para a oposicionista Folha, pouco importa quem são ou a sandice que pregam esses imbecis dessa marcha ilegal – em nenhum país democrático é legal pregar golpes de Estado. O que importa é pôr gente na rua protestando contra Dilma Rousseff e o PT, para dar a impressão aos incautos de que a sociedade repudia a presidente e seu partido.
A reportagem da “TV Folha” até caberia após a marcha, de forma a captar um fato jornalístico; fazê-la com uma semana de antecedência e jogá-la na tevê, porém, serve para divulgar a manifestação e confere importância a ela.
Aliás, vale relatar que um movimento de anarquistas prometeu fazer uma “marcha antifascista” em São Paulo no mesmo dia e hora da marcha golpista e em local próximo, mas essa segunda manifestação – que pode transformar o centro da capital paulista numa praça de guerra, pois os dois grupos vêm trocando ameaças na internet – não apareceu no “TV Folha”.
Aconteça o que acontecer nessas marchas golpistas – sobretudo em São Paulo, onde pode haver confronto – prometidas para 200 cidades, a TV Cultura poderá ser considerada uma das responsáveis, já que deu publicidade a uma iniciativa inconstitucional e ilegal do começo ao fim. Mas que autoridade fará cumprir a lei e responsabilizará a emissora?

PIB, INDÚSTRIA E EMPREGO SUPERAM PREVISÕES. CRISE?

segunda-feira, 17 de março de 2014

PAÍS CRIA 260 MIL EMPREGOS E ISOLA PESSIMISTAS

Radicalização da campanha não é opção. É inevitável, pelas deformações brasileiras

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Eu fico impressionado, algumas vezes, com a  generosidade de quem acha  que uma campanha eleitoral para a presidência, no Brasil, pode ser tratada com completa serenidade, com a discussão de propostas e projetos e com a apresentação honesta de rumos para a administração do país.
Não pode, infelizmente, embora a gente deva tentar todo o tempo.
Porque existe um processo perverso no Brasil que transforma discordância em ódio, oposição em golpismo e comunicação em propaganda.
E um fator que explica e torna isso inevitável: a nossa mídia, onde mais que não haver pluralismo existe uma espécie de ditadura de um partido único, cada vez menos ético e mais agressivo.
Fossem apenas figuras como  Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Diego Mainardi e quejandos, nada de mais. Em todos os países existe uma direita hidrófoba, vide a  Fox nos Estados Unidos.
Mas não é isso: os jornais e as televisões se tornaram de uma pobreza tamanha que repetem, como uma só voz, as mesmas baboseiras, promovem as mesmas figuras esdrúxulas, repetem as mesmas “verdades” enunciadas por imbecis.
Basta uma rápida olhada no noticiário.
Não há absolutamente nada de positivo ou meramente razoável se passando no país.
Achamos um mar de petróleo, e nossa petroleira vai falir.
Contornamos o pior momento da seca no sistema hidrelétrico do Sudeste (que hoje acumula 35,9% de sua capacidade, 1,3%% a mais que no início do mês, e tivemos uma queda superior a 10% na demanda de energia) e os jornais estão lotados de análises sobre um agravamento  da crise no setor energético.
Em tudo é assim.
O desemprego nunca foi tão baixo, mas vai subir.
A inadimplência caiu, mas vai subir.
A inflação vai estourar, o governo não vai poupar.
Os automóveis vendem, os aviões enchem, os imóveis não baixam de preço.
Mas o país vive um crise profunda e uma estagnação total.
Não há mais jornalismo, mas uma “torcida” despudorada por um desastre econômico.
E por um desastre civilizatório.
Um presidente do STF transborda-se em autoritarismo e é saudado como o “salvador da ética”.
Um apresentadora de televisão defende linchamentos e é acolhida como símbolo da liberdade de expressão.
Um deputado de conhecidos interesses por negócios à sombra é usado como exemplo de que o Governo “desvaloriza” o parlamento, apenas porque não lhe cede á chantagem.
A mediocridade da mídia espalhou-se por uma parcela da classe média e ela própria trata de amplificar os rosnados caninos de grupelhos fascistoides – de direita assumida ou de pretensa esquerda – que advogam os meios mais violentos e autoritários de intervenção política: desde os quebra-quebras até o golpe militar.
Sob o beneplácito de uma elite que despreza seu país, uma sub-elite transforma-se numa feroz matilha a rasgar o tecido social ligeiramente mais justo que se vem tecendo.
Volta a imperar, pelo foco seletivo da mídia, a ideia de que “O Brasil é mesmo uma m…” e que, aqui, nada tem futuro.
Se baixarmos a guarda para isso, em nome de uma cândida tolerância, aí mesmo não o teremos: teremos passado.
Não baixar a guarda não se confunde com agressividade, mas muito menos ainda com a covardia.
Porque ser covarde é transigir com o direito do povo brasileiro a uma Nação e um futuro.
Tudo o mais é aceitável, menos isso.

São Paulo: sem água em 90 dias. Mas o Estadão faz editorial sobre tarifa de luz e superavit primário

jacarei
“Seca pode ocorrer em qualquer país, mas o problema se torna especialmente grave quando a chefe de um governo populista se empenha numa campanha de reeleição e insiste em disfarçar os fatos desagradáveis.”
O texto aí em cima é do furioso Estadão de hoje, em editorial.
Mas não se refere ao que está acontecendo em São Paulo, apesar de o próprio jornal publica que o comitê técnico que monitora o Sistema Cantareira estará seco até a Copa do Mundo, isto é, dentro de 90 dias.
E não pensem que o Estadão e os demais jornais, lotados de artigos, análises e protestos sobre a crise energética e, sobretudo, sobre a ação do Governo Federal de usar recursos públicos como “ponte” até que a situação hídrica do país se normalize.
Embora o “desconto” dado pelo Governador Geraldo Alckmin sobre as contas dos consumidores que economizarem água seja, mais ainda, subsídio estatal  - e que não será devolvido.
eletricasNão é apenas a predileção pelos tucanos que explica a forma diferenciada de tratar dos efeitos da crise sobre a geração elétrica e o fornecimento de água.
É que há dinheiro, e grosso, no lobby que se faz pela elevação das tarifas de energia elétrica.
De um lado, por conta dos controladores e acionistas das empresas do sistema, que são das mais lucrativas do Brasil. como você observa nesta tabela que vai ao lado.
De outro, porque esta operação toca num dos mais destacados santos do altar do capitalismo financeiro no Brasil: o superávit primário, que é o “resgate” que pagamos ao rentismo que sequestrou e sequestra, por décadas, a economia brasileira.
Um resgate que, quanto mais pagamos, mais prisioneiros ficamos.
Este blog tem enfadado, talvez, muitos de seus leitores com o acompanhamento diário da crise do sistema de abastecimento de água da Grande São Paulo.
E não o faz porque esteja, como se costuma dizer, mergulhado num “fla-flu” partidário.
Ao contrário, torce por chuvas de proporção bíblicas que amenizem a situação dramática de milhões de pessoas que sequer tem consciência da  gravidade do que está acontecendo, porque os olhos da coletividade, que são a sua imprensa, estão fechados ou distraídos para o que vem se passando.
Não é a primeira vez que se tem este tipo de cegueira seletiva.
No caso do vazamento de óleo da Chevron foi o mesmo. Como se tratava de uma empresa multinacional, tudo se resumia à divulgação de  ”press-releases” para uma imprensa amestrada, que aceitava até que o vazamento fosse uma “exsudação natural” de petróleo, coisa de que não se tem notícia desde os tempos do famoso Coronel Drake, nos primórdios da exploração exploração de petróleo, na metade do século 19.
Só que, desta vez, não há sequer a desculpa de que tudo se passava a centenas de quilômetros de nossas vistas, embora bastasse querer, como este blog o quis, e as imagens de satélite mostrariam a enormidade do acidente.
Os dados estão disponíveis, todos os dias, nas páginas da Sabesp e da Agência Nacional de Águas.
E repórteres, como Fábio Leite, do próprio Estadão, escrevam matérias como a publicada hoje pelo jornal (cujos chefes parecem não as ler) apontando a dramaticidade da situação, embora com dados ultrapassados (a matéria foi escrita sexta-feira) ou “otimistamente distorcidos” pelos dirigentes da Sabesp.
O “sistema” não tem 15,4% de seu volume preenchido. O “sistema” tem apenas, na melhor das hipóteses, apenas 8,8% de seu núcleo com água, porque sem o reservatório Jaguari-Jacareí o Cantareira deixa de funcionar como sistema e passa a ser apenas um quinto do que é.
E ninguém sabe como o reservatório irá se comportar acima do mínimo de 5%, considerado a margem mínima de operação normal.
O sistema equivalente também não tem mais aqueles 15,4%, mas 14,7%, não apenas porque de sexta para hoje caiu 0,4% como porque, cavilosamente, a Sabesp passou a agregar 0,2% a este cálculo, considerando a lâmina d’água mínima necessária à operação da represa de Paiva Castro (ex-Juqueri), o que não era feito antes.
A Sabesp diz estar instalando bombas para “chupar” a água do fundo dos reservatórios, que seriam 400 milhões de litros. Não são, porque não se poderá aproveitar os trechos empoçados e a água abaixo do limite das bombas de sugar detritos  junto com a água.
Mas a Sabesp não fala em que pé está a colocação destas bombas, que, mesmo sendo flutuantes,  exigem obras, inclusive para levar quantidades imensas de eletricidade para um conjunto mecânico capaz de sugar 20 mil litros de água por segundo.
E nem como e quando espera que os reservatórios, esvaziados até quase o fundo, irão recuperar seu nível normal, o que levará muitos meses ou mesmo anos, se o verão de 2016 não for espetacularmente chuvoso.
Se há algo que se possa dizer do relatório que previu para a Copa o esgotamento do Cantareira é que é um cálculo otimista.
E não basta apontar a irresponsabilidade demagógica do Governo do Estado.
A autoridade final sobre a água é federal, exercida pela Agência Nacional de Águas, que não pode se manter restrita a relatórios técnicos.
O corte de 10% na captação através do Cantareira determinado por ela no início do mês é insuficiente e isso precisa ser dito à população.
Se tivesse saído de seu silêncio tímido antes, exigindo de Alckmin providências mais drásticas, a situação poderia ser menos dramática, embora dramática ainda fosse.
Não se pode ter medo diante das responsabilidades públicas que temos, sejamos jornalistas ou governantes.
E a primeira delas é não mentir à população.

domingo, 16 de março de 2014

O que a Folha não deu sobre os organizadores da nova Marcha da Família


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Há cinquenta anos, a Folha de São Paulo assumia-se francamente em favor da derrubada do presidente eleito, João Goulart. Para isso, o jornal, assim como quase todos os grandes meios de comunicação da época, se valiam de uma verdadeira alquimia verbal: os golpistas eram chamados de democratas e o golpe foi chamado de movimento de retorno à democracia.
Foi o maior engodo da história do Brasil. E foi preparado meticulosamente, ao longo de muitos anos, contando com gordo financiamento dos Estados Unidos.
Agora sabemos que a cúpula militar foi subornada. Há relatos de generais recebendo “malas de dólares” pouco antes do golpe.
É curioso que a Folha, que jamais se desculpou pelo apoio ao golpe, agora dê tanto espaço a Bruno Toscano, um dos organizadores da Marcha da Família, a qual defende, entre outras coisas, justamente uma nova “intervenção militar”.
ScreenHunter_3506 Mar. 16 17.54
Entretanto, o problema maior não é dar atenção à Marcha, já que é um evento bizarro o bastante para despertar o interesse público e jornalístico. O problema é não dar ao leitor um mínimo de informação sobre o entrevistado, o senhor Bruno Toscano.
Os internautas nos ajudaram a fazê-lo, embora me pedindo que não divulgue seus nomes, porque, segundo eles, Toscano já os ameaçou de morte várias vezes. Já foi montado inclusive um “Dossier Kipedia” com fotografias sobre o comportamento de Toscano nas redes.
São ameaças de morte à presidente da república e militantes de esquerda de forma geral, incitações ao terrorismo político, homofobia descarada.
Vou reproduzir apenas uma dessas coisas:
ScreenHunter_3500 Mar. 16 17.28
Por que a Folha não pesquisa sobre o personagem antes de jogar tantas luzes sobre ele?
A reportagem diz ainda que um dos apoiadores da marcha no Rio é Maycon Freitas, “técnico em segurança do trabalho”. A Folha já foi mais profissional. Maycon Freitas trabalha para Globo, como dublê, conforme descobriu este blog. Freitas ganhou notoriedade ano passado, ao aparecer nas Páginas Amarelas da Veja, como a “nova voz que emergiu das ruas”. A matéria compunha uma das tentativas da mídia de manipular as manifestações em favor da direita e contra o governo federal.
maycon-freitas-veja
Um dos nossos amigos da blogosfera fez até um videozinho com a figura. Vale a pena ver de novo:

Tem mais: as mesmas figuras foram identificadas como os agressores de pessoas que participavam do Foro de São Paulo, no ano passado.
A nossa mídia agora se degenerou a tal ponto que vai promover terroristas?
PS do Fernando Brito: Miguel, a Folha poderia aproveitar o ensejo e perguntar sobre o que é a queixa-crime apresentada contra o Bruno Toscano Franco na 1a. Vara Criminal de São Paulo, no processo 00006262820148140401 do Tribunal de Justiça do Pará. 

Gilmar Mendes será interpelado por 214 pessoas no dia 21 de março


Após mais de um mês, finalmente chega ao fim uma verdadeira epopeia para reunir mais de duas centenas de pessoas dispostas a interpelar o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes por ter afirmado que os cidadãos que doaram recursos financeiros aos condenados pelo julgamento do mensalão estariam envolvidos em “lavagem de dinheiro”.
A iniciativa foi proposta por este Blog no dia 14 de fevereiro, no post Gilmar Mendes o caluniou e a mídia o amordaçou. Você quer reagir? O texto propôs interpelação judicial do ministro, para que explique suas acusações genéricas e sem provas. Essa proposta recebeu 532 comentários favoráveis.
Pela lógica, no entanto, como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha receberam milhares e milhares de doações, o número de interessados em interpelar Mendes deveria ter sido muito maior. Mas não é assim que as coisas funcionam. Interpelar judicialmente um ministro do STF não é igual a colocar seu nome em um abaixo-assinado na internet.
Enfim, diante dessas centenas de pessoas inconformadas com as declarações de Mendes, o Blog, com o auxílio de duas leitoras, fez uma triagem e chegou ao número de 411 pessoas que se mostraram dispostas a levar a cabo a iniciativa da interpelação.
Havia um sentimento difuso de que alguma reação se fazia necessária. Assim, o signatário desta página saiu em busca de um advogado que se dispusesse a levar essa iniciativa adiante. Não foi fácil. Três advogados consultados preferiram não se envolver por terem causas no STF que acreditaram que poderiam ser prejudicadas caso interpelassem um ministro daquela Corte.
É uma barbaridade ou não é advogados acreditarem que pode acontecer uma retaliação na Suprema Corte de Justiça do país? Isso diz muito – até demais – sobre a nossa democracia.
Seja como for, acabei encontrando um escritório de advocacia disposto a levar o processo de interpelação adiante. São três advogados jovens – dois com pensamento de esquerda e um de direita. E cobraram caro para promover a interpelação, até porque terão que organizar centenas de nomes, verificar centenas de documentos, dando tratamento individual a cada cidadão.
Por conta desse sentimento de que o cidadão brasileiro ainda não é totalmente livre para exercer seus direitos, das 411 pessoas que receberam e-mails deste Blog com a relação de documentos que deveriam enviar para participar da ação, após semanas 214 dessas pessoas enviaram tudo que foi pedido até o prazo final para adesão – o último dia 12.
A partir daqui, não poderá haver mais adesões.
As pessoas que se dispuseram a levar adiante essa iniciativa estão assumindo uma responsabilidade muito séria e é compreensível que essa maioria esmagadora dos doadores não tenha querido participar.
Contudo, foi um ato de extrema coragem e ousadia dos que aderiram, pois, neste país, ainda subsistem os efeitos deletérios gerados por duas décadas de ditadura militar.
Em uma democracia na acepção da palavra, um ministro do Supremo Tribunal Federal é apenas um servidor público. Não tem mais ou menos direitos do que o mais humilde dos cidadãos. Contudo, Mendes tem fama de ser vingativo e truculento. Pelo menos é o que dizem por aí. Sendo ou não justificada essa fama, foi o que bastou para intimidar as pessoas.
Claro que outros sentimentos também se fizeram presentes. Muitos julgam que não têm o que explicar e que se esse ministro vê alguma ilegalidade no processo de arrecadação aos condenados do mensalão, ele que prove. Afinal, apesar do famigerado Domínio do Fato – instrumento autoritário usado para condenar os réus do mensalão –, o ônus da prova ainda é de quem acusa.
Na semana que entra, portanto, o processo será finalizado. Na segunda-feira (17), enviarei nomes e documentos ao escritório de advocacia. Na terça-feira (18), irei até lá com cheque administrativo do valor arrecadado para pagar a ação. Como o advogado pediu dois dias para prepará-la, na sexta-feira (21) a interpelação será protocolada no STF.
Vale comentar, ainda, sobre pessoa de Minas Gerais que entrou antes com interpelação de Mendes. Uns 10 dias após eu ter encontrado um escritório de advocacia que aceitou representar as centenas de pessoas supracitadas, apareceu um advogado do interior dizendo que decidiu interpelar também o ministro, mas que a interpelação teria que ser “em seu nome”.
Não entendi direito o que propunha, mas, naquele momento, já havia enviado relação de documentos a centenas de pessoas e pelo menos uns 70% delas já havia retornado. Propus a esse advogado que esperasse terminarmos o processo de documentação dessas 214 pessoas, mas ele tinha pressa para chegar antes com a sua interpelação isolada.
Conforme vários advogados consultados por este Blog, porém, essa interpelação de uma só pessoa não terá legitimidade sequer parecida com a de outra que congrega 214 pessoas. Aliás, ação coletiva de 50 pessoas costuma ser considerada expressiva; de centenas de pessoas, então, mostrará ao Judiciário um sentimento latente na sociedade.
A medida que está sendo anunciada por esta página é histórica. Jamais grupo tão expressivo de cidadãos se organizou dessa forma para questionar tão alta autoridade da República por ter violado a honra de cidadãos comuns. Demorou para organizar toda essa gente, mas o processo chegou ao fim. 214 brasileiros exigirão satisfação de Gilmar Mendes.
Parabéns ao envolvidos. Vocês estão fazendo história.

20 anos do dia em que Brizola venceu a Globo. O milagre em que nem a gente acreditava

direito

Hoje, se completam 20 anos do dia em que Cid Moreira, com seu ar afetado e seus cabelos brancos (nem os muito velhos se lembram dele de cabelos pretos…), começou a ler o histórico direito de resposta de Leonel Brizola no Jornal Nacional.
Foi  a penúltima vitória do guri que saiu de Carazinho para enfrentar o mundo, um quixote gaúcho, do tempo em que os gaúchos eram quixotes e provocavam os versos geniais do pernambucano Ascenso Ferreira: Riscando os cavalos!/Tinindo as esporas!/Través das cochilhas!/Sai de meus pagos em louca arrancada!/— Para que?/— Pra nada!
Durante 22, 23 anos, convivi com ele, 19 dos quais diariamente.
Praticamente formei, com ele, a minha vida adulta, pois era um garoto de 22 anos quando esse contato começou, numa reunião num apartamento na Rua Cabuçu, no Lins de Vasconcellos, subúrbio da Zona Norte carioca.
Deste convívio, de muita coisa mantenho reserva.  Sei que estava ao lado de um mito – e via o mito nos raros instantes em que ele conseguia se despir do personagem que poucos minutos lhe deixava viver de outra maneira.
Mas chega a hora em que estes detalhes, que antes serviriam para a intriga e o desmerecimento político, só fazem enriquecer a trajetória de quem era, como ele próprio dizia, “o rei do improviso”.
Porque era assim: se tinha visão estratégica, Brizola não era um calculista, muito menos frio.
As coisas iam acontecendo e ele, certo ou errado, farejava os caminhos, alguns exatos, outros não, mas todos coerentes.
O impacto daquele texto – minto, não do texto, mas de Brizola obrigar a Globo a ler uma mensagem sua – também não teve nada de planejado, mas resultou do inconformismo que ele, com seu exemplo, injetou em alguns de seus companheiros.
Um pouco antes de sua segunda eleição, Brizola passou a ser atacado, sistematicamente, com artigos em O Globo, escritos – ou apenas assinados – por um certo Alcides Fonseca, um ex-deputado estadual eleito do nada pelo PDT e que se bandeou para a oposição a Brizola e, daí, para a poeira da história.
Por orientação do querido amigo Nilo Batista, Brizola passou a pedir, um por um, direito de resposta em O Globo. E, ao pedir, tinha-se já de oferecer o texto, e a tarefa me cabia, porque os anos e anos escrevendo com ele os “tijolaços”  me fizeram absorver um pouco do estilo e da alma inconfundíveis.
Dr. Nilo começou a vencer as causas, alguns artigos foram publicados e o “Fonsequinha” , como era chamado,  foi despachado do jornal.
Já no Governo, em 1992, Brizola dá uma entrevista, dizendo que por toda a sabotagem que a Globo fizera à Passarela do Samba, o prefeito da cidade, Marcello Alencar deveria negar à emissora a exclusividade da transmissão do Carnaval.
Foi o que bastou para que o jornal O Globo publicasse um editorial violentíssimo contra Brizola – o título era ”Para Entender a Fúria de Brizola”, acusando-o  de senilidade, “declínio da saúde mental”, e por suas relações, sempre institucionais, com o Presidente da República, Fernando Collor.
À noite, o Jornal Nacional reproduziu, na voz de Moreira, o texto insultuoso.
Naquela noite, Brizola conversou com dois advogados: Arthur Lavigne e Carlos Roberto Siqueira Castro, seu chefe da Casa Civil no governo estadual.
No dia seguinte, Siqueira me chamou e disse que Brizola tinha me encarregado de fazer o texto de resposta, que teria de ser apresentado ainda naquela tarde. Falei com ele, que se mostrou completamente cético em relação ao resultado do pedido judicial e, como fazia quando se sentia assim, despachava o auxiliar: “olha, Brito, você fala com o Dr. Siqueira e façam como acharem melhor.”
Lá fui eu fazer o texto: tinha que ter três minutos, não podia ter “compensação de injúria” – isto é, devolver na mesma moeda os impropérios – e tinha de sair rápido, porque era uma sexta-feira (7 de fevereiro) e havia prazo judicial.
Chamei dois companheiros de velha cepa, que  me auxiliavam na Assessoria de Comunicação do Governo, o Luiz Augusto Erthal e o Ápio Gomes, para cumprirem um dupla função: anotar o que eu ditava e “segurar” a minha “viagem”.
Porque – começo aqui as difíceis confissões, que não são um segredo porque uma boa meia-dúzia de companheiros sabem disso – quando eu tinha de escrever pelo Brizola, eu não escrevia, “incorporava” . Parece coisa de doido? Não, e ele próprio sempre dizia: o bem escrito é o bem falado. E, na hora destes textos carregados, era assim que eu fazia, ditando, falando no ritmo dele, com o milhar de vírgulas e os períodos longos com que se expressava.
Era um exercício extenuante, massacrante, do qual não raro eu saía às lágrimas, mal conseguindo falar, de tão embargada a voz.
Qualquer redator publicitário jogaria fora o que saía disto, e com razão.
Porque não era um texto jornalístico ou publicitário.
Era o Brizola, não eu.
Feito o primeiro texto, mandamos ao Dr. Siqueira que fez algumas correções de bom-senso e um veto.
Eu não podia devolver o “senil” com que Marinho brindara Brizola. Mas isso eu tinha de devolver, ah, tinha.
E aí saiu uma obra de engenharia redacional.
“Quinta-feira, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar editorial de ‘O Globo’, fui acusado na minha honra e, pior, apontado como alguém de mente senil. Ora, tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador Roberto Marinho, que tem 86 anos. Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que os use para si.”
Na verdade, eu tinha escrito “encanecidos”, mas o bom-senso do Erthal me travou: pô, Brito, ninguém mais sabe  o que é encanecido. É verdade, mas é o que o velho teria dito.
Bem, o texto foi para o Tribunal sem que Brizola  lesse o que ele estava “dizendo” na resposta.
Foram dois anos e um mês de espera pela Justiça.
Brizola levantava a sobrancelha, cético, quando Lavigne e Siqueira Castro, teimosos e dedicados,  diziam que íamos ganhar.
Passou tanto tempo que, dos 70, Brizola já tinha 72 anos e Marinho, 88.
No final do dia 9 de março chega a notícia da vitória no Superior Tribunal de Justiça, mas ainda havia um recurso possível e um “notificaram a Globo ou não notificaram?”. O ceticismo, confesso, era maior que a ansiedade.
No próprio dia 15, terça da semana seguinte, quando o texto foi ao ar, não críamos – nem eu, nem Brizola – que aquilo iria acontecer.
Tanto que nem montamos esquema algum para gravar o Jornal Nacional, senão o de um videocassete doméstico.
E foi o que se viu e que ficou na história.
Termina o texto, toca o telefone: ‘Olha, Brito, que maravilha. Nós acertamos o tiro no cu de um mosquito”.
E assim foi. Não fiquei aborrecido, ao contrário. Porque era nós, mesmo: era o Brizola introjetado em mim que escrevera.
Elogio mesmo – e maior não poderia haver – foi o de Roberto Marinho, falando ao querido amigo Neri Victor Eich, da Folha, por telefone, no mesmo dia do terremoto:
“Que nunca mais se reproduza isso. O direito de resposta teve o tom de Brizola.”
Teve sim.
Foi a última vitória de Brizola, em vida e em memória, despertando consciências que não se acovardam, não se ajoelham e não gaguejam, como a dele, a minha e a sua.
Até hoje, a não ser pelos testemunhos dos personagens desta história,  a ninguém tinha revelado estes detalhes. Faço-o agora, porque já são história e porque só aumentam o tamanho de um homem a quem eu devo grande parte do que sou.
Um homem que era tão grande que  estar à sua sombra foi também – e é para sempre –  estar sob sua luz.

Direito de Resposta

‘Todos sabem que eu, Leonel Brizola, só posso ocupar espaço na Globo quando amparado pela Justiça. Aqui citam o meu nome para ser intrigado, desmerecido e achincalhado perante o povo brasileiro.
Quinta-feira, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar editorial de ‘O Globo’, fui acusado na minha honra e, pior, apontado como alguém de mente senil.
Ora, tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador Roberto Marinho, que tem 86 anos. Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que o use para si.
Não reconheço à Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos, que dominou o nosso país.
Todos sabem que critico há muito tempo a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou na quinta-feira, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípios. É apenas o temor de perder o negócio bilionário, que para ela representa a transmissão do Carnaval.
Dinheiro, acima de tudo.
Em 83, quando construí a passarela, a Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar de todas as formas o ponto alto do Carnaval carioca. Também aí não tem autoridade moral para questionar. E mais, reagi contra a Globo em defesa do Estado do Rio de Janeiro que por duas vezes, contra a vontade da Globo, elegeu-me como seu representante maior.
E isso é que não perdoarão nunca.
Até mesmo a pesquisa mostrada na quinta-feira revela como tudo na Globo é tendencioso e manipulado. Ninguém questiona o direito da Globo mostrar os problemas da cidade. Seria antes um dever para qualquer órgão de imprensa, dever que a Globo jamais cumpriu quando se encontravam no Palácio Guanabara governantes de sua predileção.
Quando ela diz que denuncia os maus administradores deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante do seu poder.
Se eu tivesse as pretensões eleitoreiras, de que tentam me acusar, não estaria aqui lutando contra um gigante como a Rede Globo.
Faço-o porque não cheguei aos 70 anos de idade para ser um acomodado.
Quando me insulta por nossas relações de cooperação administrativa com o governo federal, a Globo remorde-se de inveja e rancor e só vê nisso bajulação e servilismo. É compreensível: quem sempre viveu de concessões e favores do Poder Público não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesma.
Que o povo brasileiro faça o seu julgamento e na sua consciência lúcida e honrada separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis, gananciosos e interesseiros.’