Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Todos os crimes da Veja. Quem manda no Congresso ?


Água mole em pedra dura … mais dia, menos dia o Robert(o) Civita vai ter um conversinha com alguém que não tenha medo dele.
O Requião chama o Robert(o) Civita de “agente do Diabo”.

O Collor chama a Abril de “coito de bandidos”.

Mas, não adianta: como demonstrou o Leandro Fortes na Carta Capital, os filhos do Roberto Marinho convenceram o (vice) Presidente Michel Temer de que “falar em Veja é falar em imprensa; falar em imprensa é falar em Globo”.

E o mesmo Leandro na mesma Carta demonstrou que há pegadas das Organizações Globo na Cachoeira do Carlinhos.

Água mole em pedra dura … mais dia, menos dia o Robert(o) Civita vai ter um conversinha com alguém que não tenha medo dele.

Por isso, não perca o que disse o professor Lalo no Blog o Miro:

Veja/Cachoeira: A mídia sob suspeita


Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil:


De narradora dos acontecimentos a revista semanal da Abril tornou-se personagem, revelando um envolvimento nunca visto de forma tão escancarada na cena política brasileira. Gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, não deixam dúvidas. O contraventor Carlinhos Cachoeira era mais do que fonte de informações.


Seu relacionamento com o diretor da sucursal de Veja em Brasília, Policarpo Junior, permitia a ele sugerir até a seção da revista em que determinadas notas de seu interesse deveriam ser estampadas. O pouco que se revelou até aqui permite concluir que a publicação tornou-se instrumento de Cachoeira para remover do governo obstáculos aos seus objetivos.


Um desses entraves estaria no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do Ministério dos Transportes, e dificultava a atuação da Delta Construções, empresa que teria fortes ligações com o contraventor.


Segundo o jornalista Luis Nassif, a matéria da Veja sobre o Dnit saiu em 3 de junho de 2011. “A diretoria estava atrapalhando os negócios da Delta. Foi o mesmo modo de operação do episódio dos Correios –que daria origem ao chamado “mensalão”. Cachoeira dava os dados, Veja publicava e desalojava os adversários de Cachoeira.” Com isso cumpria também os objetivos de situar-se como vigilante de desmandos e fustigar os governos Lula e Dilma, pelos quais nunca demonstrou simpatia alguma.


Basta lembrar a capa de maio de 2006 com Lula levando um pé no traseiro, juntando numa só imagem grosseria e desres­peito. Para não falar de outras, do ano anterior, instigando o “impeachment” do presidente da República. O sucesso dos dois governos Lula e os altos índices de aprovação recebidos até agora pela presidenta Dilma Rousseff parecem ter exacerbado o furor da revista. A proximidade do diretor da sucursal de Brasília com Cachoeira, e deste com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), sempre elogiado por Veja, veio a calhar. Até surgirem as gravações da Polícia Federal levando a revista a um recolhimento político só quebrado em defesas tíbias de seu funcionário e do que ela chama de “liberdade de imprensa”.


Veja diz-se “enganada pela fonte”, argumento desmentido pelo delegado federal Matheus Mella Rodrigues, coordenador da Operação Monte Carlo. O policial mostrou que o jornalista Policarpo Junior sabia das relações de Demóstenes com Cachoeira, mas nunca as denunciou, protegendo “meliantes”, como resumiu com propriedade a revista CartaCapital.


Livre, pero no mucho


Segundo Veja, a “liberdade de imprensa” estaria ameaçada se o jornalista, ou seu patrão Roberto Civita, fosse chamado a depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) aberta no Congresso Nacional para investigar o caso. Mas, na mesma edição em que supostamente põe o direito à informação acima de tudo, clama por um controle planetário da internet, agastada com a circulação de informações sobre seus descaminhos na rede. A internet foi o principal meio de exposição dos detalhes da suspeita relação Cachoeira-Demóstenes-Veja, e uma enxurrada de expressões nada elogiosas levaram a revista ao topo dos assuntos mais mencionados no Twitter.


Os principais veículos de alcance nacional silenciaram ou apoiaram a relação – exceção feita à Rede Record e à revista CartaCapital. Alguns, como O Globo, não titubearam em tomar as dores da Editora Abril. Por um de seus colunistas, Merval Pereira, o jornal isentou a revista de responsabilidades. Depois, em editorial, reagiu à comparação feita por CartaCapital entre o dono da Editora Abril e o magnata Rupert Murdoch, punido pela Justiça britânica pelo mau uso de seus veículos de comunicação no Reino Unido.


A Folha de S.Paulo, também em editorial, aliou-se a Veja. Mas sua ombudsman, Suzana Singer, que tem a incumbência de criticar o desempenho do jornal, pelo menos levantou uma dúvida ao dizer que “não se sabe se algo comprometedor envolvendo a imprensa surgirá desse lamaçal”. Para lembrar em seguida que ao PT interessa com o caso Cachoeira empastelar o “mensalão” a ser julgado em breve, e conclui dizendo: “A imprensa não pode cair na armadilha de permitir que um escândalo anule o outro. Tem o dever de apurar tudo – mas sem se poupar. É hora de dar um exemplo de transparência”. Mas a cobertura da Folha das relações Cachoeira-Demóstenes-Veja limita-se a notas superficiais.

Intocável


A ideia de que o caso Cachoeira seria uma forma de desviar as atenções sobre a campanha pelo julgamento dos acusados no caso do “mensalão” foi alardeada pela mídia. E utilizada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para se livrar da acusação de ter sido negligente. A PF encaminhou a Gurgel a denúncia sobre as relações promíscuas entre Cachoeira e Demóstenes em 2009. Se ele tivesse dado andamento à denúncia, o processo se tornaria público e poderia ter comprometido no ano seguinte a eleição de Demóstenes ao Senado, de Marconi Perillo (PSDB) ao governo de Goiás e de outros políticos suspeitos de servir a Cachoeira.


Em vez de explicar por que segurou o processo, Gurgel respondeu às acusações sob a alegação de que partiam dos envolvidos no processo do “mensalão”, temerosos diante da iminência do julgamento no qual ele será o acusador.


A CPMI começou em maio e tem seis meses para concluir as apurações. Ainda não havia mostrado, porém, o mesmo ânimo convocatório em relação aos governadores envolvidos com a Delta Construções e muito menos ao jornalista de Veja e seu patrão. Os governadores, por acordos político-partidários; o jornalista e o empresário, não se sabe bem as razões, embora possam ser formuladas hipóteses.


Uma delas é a de que o maior partido da base governista, o PMDB, estaria sendo sensível ao lobby da mídia por uma blindagem. Com uma CPMI em banho-maria, o partido não seria muito arranhado com a exposição de políticos peemedebistas a investigações. E o PT, concorrente na disputa por espaço no governo, não capitalizaria demais os resultados.


A concentração em poucos e poderosos grupos nacionais e transnacionais deu à mídia um poder nunca antes alcançado, muitas vezes superior aos próprios poderes republicanos. Assim, governos e outras instituições públicas tornam-se reféns dos meios de comunicação e temem enfrentá-los. Apenas em três ocasiões de nossa história veículos de comunicação foram alvo de investigações por parte de CPIs.


Em 1953, o dono do Última Hora, Samuel Wainer, sugeriu ao presidente Getúlio Vargas que seu jornal fosse investigado quanto às operações de crédito mantidas com o Banco do Brasil, como lembra o professor Venício Lima, da Universidade de Brasília. Dez anos depois, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) foi acusado de ter ligações com a CIA e receber recursos dos Estados Unidos para interferir nas eleições brasileiras. O instituto chegou a alugar por três meses, num período pré-eleitoral, o jornal A Noite do Rio, para colocá-lo a serviço da oposição ao presidente João Goulart. E em 1966 foi aberta investigação do acordo entre as Organizações Globo e o grupo de mídia estadunidense Time-Life. Uma operação de US$ 6 milhões, em benefício da TV Globo, acabou com o império dos Diários Associados de Assis Chateaubriand.


Testemunha de defesa


Há uma outra inquirição de jornalista que não se enquadra entre os casos mencionados, embora seja altamente significativa para os dias de hoje. Trata-se da ida a uma Comissão Parlamentar de Inquérito, em 2005, do mesmo Policarpo Junior. Na ocasião, o chefe de organização criminiosa se dizia vítima de chantagem por parte de um deputado carioca que estaria exigindo propina para não colocar seu nome no relatório final de uma CPI instalada na Assembleia Legislativa do Rio. Policarpo testemunhou em defesa do bicheiro e nenhum jornal nem a ABI alegaram tratar-se de uma intimidação à imprensa.


Uma das explicações para essa baixa exposição de jornais e jornalistas a investigações está no poder de interferência dos grupos midiáticos na política eleitoral. Exemplo clássico é a frase da viúva do proprietário das Organizações Globo referindo-se ao governo Collor: “O Roberto colocou ele na Presidência e depois tirou. Durou pouco. Ele se enganou”, disse com candura dona Lily no lançamento do seu livro Roberto & Lily, em 2005. Mas essa não foi uma ação isolada. Para derrotar Lula em 1989, Globo e Veja faziam dobradinha perfeita, como agora. Demonizavam Lula e exaltavam o jovem governador de Alagoas, “caçador de marajás”.


Essa articulação tornou-se hoje mais orgânica. A presidenta da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que representa os proprietários de veículos, Judith Brito, assumiu o papel de oposição ao governo Lula. De modo mais discreto, mas não menos eficiente, trabalha o Instituto Millenium, que reúne articulistas, jornalistas e patrões da imprensa. E realiza eventos em que os convidados aliam-se ao que há de mais conservador na sociedade para afinar suas linhas de cobertura. Em um deles estavam Roberto Civita (Abril), Otavio Frias Filho (Folha) e Roberto Irineu Marinho (Globo).


Vários colaboradores, exibidos no site do instituto, escrevem e falam contra as cotas raciais nas universidades, criticam a política econômica dos governos Lula e Dilma, seja qual for, louvam o governo Fernando Henrique Cardoso, discordam da atual política externa brasileira e fizeram campanha contra a criação da CPMI do Cachoeira. São ações orquestradas que lembram as do Ibad, antes mencionado.


As evidências atuais indicam a necessidade de uma investigação séria sobre o papel de setores da mídia no caso Cachoeira. Os indícios vão além do jogo político e apontam para conluios com o crime comum. No entanto, até o momento, a CPMI não mostrou disposição para enfrentar o poder da mídia, que, quando acuada, conta com a defesa não apenas dos proprietários como também de parte de seus empregados.


Cabe lembrar a observação frequente do jornalista Mino Carta sobre a peculiaridade brasileira de jornalista chamar patrão de colega. Com isso diluem-se interesses de classe e uma difusa “liberdade de imprensa” é utilizada para encobrir contatos altamente suspeitos.


Até entidades respeitáveis como a Associação Brasileira de Imprensa, por seu presidente, Maurício Azêdo, confundem as coisas. Em depoimento ao programa Observatório da Imprensa, da TV Brasil, Azêdo não admite a ida de jornalistas à CPMI para prestar depoimentos, sob a alegação de intimidação ao trabalho jornalístico, mas condena a promiscuidade de alguns profissionais com fontes próximas ou ligadas ao crime. Com isso dá ao jornalista uma imunidade que nenhum outro cidadão tem.


Nesse mesmo programa, o professor Venício Lima ressaltou o impacto do caso das escutas ilegais promovidas pelo jornal News of the World sobre as relações mídia-sociedade na Inglaterra. “Levou Murdoch (o dono do jornal) e seus jornalistas a depor não só na Comissão de Esportes, Mídia e Cultura da Câmara dos Comuns como na Comissão Leveson, que tem caráter de inquérito policial.” Nada disso ameaçou a liberdade da imprensa britânica.


Aqui, apesar da resistência com forte apelo corporativo da mídia e de parte dos seus empregados, vozes importantes lembram que ninguém está imune a convocações feitas pelo Congresso Nacional para prestar esclarecimentos. À Record News, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), foi direto ao ponto: “Todos devem ser investigados no setor público, privado e na imprensa. Sem paixões e sem arroubos. Nós vamos descobrir muitas coisas quando forem feitas as quebras de sigilo – o fiscal, por exemplo. Devemos apoiar sempre a liberdade de expressão. Mas não podemos confundi-la com uma organização criminosa. Para o bem da sociedade e da própria liberdade de expressão.”

A ditadura ainda tortura



Eu tinha 19 anos; eu fiquei três anos na cadeia e eu fui barbaramente torturada”. Foi assim que a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, respondeu ao senador José Agripino Maia (DEM-RN) ao ser afrontada por ele, em 2008, com insinuação de que poderia estar mentindo no depoimento que estava dando a uma comissão do Senado que a convocara para explicar acusações de que teria mandado fazer um “dossiê” contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A tese de Agripino era a de que lera declaração pretérita de Dilma de que mentira aos torturadores quando fora presa durante a ditadura militar e de que, por isso, poderia estar mentindo também agora ao negar a confecção de um “dossiê” contra FHC que jamais se comprovou ter existido, assim como o grampo sem áudio do Gilmar Mendes e de outras invenções que o esquema Veja-Cachoeira produziu ao longo da década passada.
Cortemos para o tempo presente.
No fim de semana, os jornais Estado de Minas e Correio Brasiliense publicaram relato que Dilma fez em 2001 em entrevista a Conselho de Direitos Humanos mineiro que o ex-presidente Itamar Franco criou para definir reparações a vítimas do regime militar no Brasil.
Note-se, assim, que não se tratou de uma jogada política que alguns andaram especulando que pretenderia vitimizar a presidente da República de forma a angariar simpatias a ela, até porque Dilma não está precisando de estratégias extremadas nesse sentido, haja vista que sua popularidade está no auge, batendo todos os recordes desde que assumiu o cargo.
Dilma fez aquele relato há mais de uma década e ele repercutiu internacionalmente no fim de semana após ser difundido por dois jornais absolutamente insuspeitos de serem simpáticos ao governo federal, pois um escreve o que Aécio Neves manda e o outro integra o que se convencionou chamar de Partido da Imprensa Golpista (PIG), um conluio entre impérios de comunicação e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) – ou, ao menos, as suas principais lideranças.
Suponho que todos os que se interessam por política, que são os que estão lendo este texto agora, já saibam do teor do relato de Dilma sobre as sevícias que verdugos do regime militar praticaram contra si, verdugos que tal regime encarregou de extrair informações daquela  bela jovem de 19 anos, de classe média, esclarecida, estudada, branca e de ascendência européia que não tinha motivos escusos para se envolver na política brasileira, tendo apenas, então, ideais libertários que a tantos como ela envolveram naqueles anos trágicos de nossa história.
O relato de Dilma é quase insuportável porque faz visualizar o que era praticado de hediondo nos porões de um regime que a grande imprensa brasileira incensou e com o qual colaborou durante boa parte da época em que vigeu até que descobrisse que ninguém ganha com ditaduras a não ser os próprios ditadores, pois nunca precisam respeitar as alianças que fazem já que têm um poder inquestionável e incontrastável com qualquer contrapeso democrático como a Justiça, por exemplo.
Pretendo poupar o leitor dos horrores que Dilma relatou porque, de domingo para segunda-feira, durante o sono, tive pesadelos com aqueles detalhes macabros. Todavia, escrevo porque os pesadelos não ocorreram só por isso. Na verdade, o tipo de tortura que policiais e militares aplicaram naquela menina de 19 anos entre 1970 e 1972, há cerca de quarenta anos, não foi o que de principal me fez acordar com o coração batendo forte e o suor escorrendo pelas têmporas.
Uma espécie de curiosidade mórbida fez com que, no domingo, após ler em vários portais e blogs a matéria que saiu nos dois jornais supracitados, resolvesse ler, também, os comentários a ela. O teor do que dezenas, talvez centenas de pessoas escreveram é digno de um filme de terror.
Também pretendo poupar o leitor do tipo de comentário que essas “pessoas” fizeram em blogs das Organizações Globo ou em portais como os de Terra, UOL, Veja etc. sobre o sofrimento físico que Dilma relatou, há mais de uma década, que sofreu durante o regime militar. Basta dizer que continham de uma insensibilidade desumana diante da imagem que aquela matéria produziu de uma bela menina de 19 anos sendo torturada com requintes de crueldade até verdadeiro prazer sombrio de chocar as pessoas.
Em vez disso, relato o que tentei fazer para purgar aqueles sentimentos e que acabou desembocando neste texto. Ao chegar ao escritório, na manhã posterior ao pesadelo, tentei, pela enésima vez, conversar sobre a ditadura com um conhecido já idoso que a viveu como vítima. E, mais uma vez, ele se negou a falar do assunto.
Apesar de lhe explicar que precisava escrever para agravar elementos que estão ironizando e até comemorando o sofrimento a que, como Dilma, fora submetido um dia, respondeu, apenas, que não queria saber de nada porque, à diferença de muitos dos que passaram o que passou, não pretendia se deixar torturar de novo.
Diante de tal argumento, não havia o que dizer. Quedou-me a alternativa de encerrar respeitosamente a conversa com um lacônico “entendo…”.
Sobreveio, assim, reflexão sobre o grau de sofrimento que a relativização, a ironia ou até a comemoração do sofrimento das vítimas da ditadura deveria provocar nas que sobreviveram. Se eu, que não estive entre as vítimas, tenho pesadelos após ler sobre o que era praticado contra belas meninas idealistas, contra idosos, religiosos, estudantes e, sobretudo, contra pessoas que nada mais fizeram além de discordar do regime de exceção, imaginei o que estaria se passando na alma de quem foi vitimado.
Nesse aspecto, lembrei-me de evento de que participei na semana passada. Estive em audiência pública na Assembléia Legislativa de São Paulo em que o Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, proferiu aula magna sobre o período autoritário que se abateu sobre este país e sobre as providências que o Estado brasileiro está tomando para ressarcir, moral e materialmente, as vítimas do… Estado brasileiro.
A mesa de palestrantes de que o doutor Paulo participou contou, por exemplo, com vítimas da ditadura como Ivan Seixas, hoje presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), que, aos 16 anos, viu o pai ser trucidado pela ditadura, tendo chegado a ler a notícia de sua morte em jornal coligado ao Grupo Folha antes mesmo de ele ser assassinado.
Durante a audiência a platéia também pôde se manifestar. Eu mesmo fiz ao doutor Paulo uma questão sobre o comportamento da mídia em relação ao período autoritário.  Mas isso não importa, agora. Foi Rose Nogueira, presidente da Organização Tortura Nunca Mais, que emocionou a todos. Ela deixou ver um fato que não chega a ser surpreendente, mas que exaspera.
Rose não falou do período de exceção ou do que fazer no futuro não só para indenizar ou reparar os crimes do Estado naquele período da história, mas para impedir que algo similar àquele horror volte a ocorrer. Ela, simplesmente, leu uma poesia. Como um lenitivo à própria alma que a cada dia, a cada noite, revive aqueles momentos – muitos deles intermináveis, que duraram anos -, Rose declamou.
Antes de escrever este texto, consegui visualizar seu olhar do alto daquela tribuna naquela Casa Legislativa. Imaginei-a lendo os comentários desumanos sobre a tortura da companheira Dilma e suportando as mentiras que a imprensa que ajudou a torturá-la ainda difunde e, de repente, o termo Comissão da Verdade fez todo sentido.
A ditadura ainda tortura Roses, Dilmas e Ivans. Daquele passado remoto, coloca-lhas as almas no pau-de-arara a cada vez que seus descendentes mentem descarada e impiedosamente, como quando pretendem criar “dois lados” que teriam cometido crimes de lesa-humanidade naquele período, quando o que houve de erros praticados pelo lado dos que resistiram ao regime ilegal que estuprou a vontade democrática dos brasileiros restringiu-se a casos isolados.
No último domingo, por exemplo, a concessão ilegal de espaço na tevê pública de São Paulo que o governo do Estado deu a um daqueles jornais que colaboraram com a ditadura, a Folha de São Paulo, torturou os sobreviventes da ditadura e amigos e familiares deles ou dos que não resistiram. A tal “TV Folha” apresentou matéria sobre supostos crimes praticados pela resistência à ditadura.
De fato, em algum momento ocorreram alguns poucos casos em que a resistência à ditadura militar matou quem colaborou com a ditadura ou integrou um regime de exceção que tanto aprisionava o Brasil que o impedia de escolher seu governo nas urnas. Todavia, o homem são entende que se o Estado desencadeia uma era de horror em que belas meninas de 19 anos são torturadas, desfiguradas, estupradas e até assassinadas, evidentemente que alguém pode perder a cabeça.
Contudo, a conta que a matéria da “TV Folha” apresentou dá bem a dimensão de como os excessos da resistência à ditadura foram isolados: o jornal buscou, buscou, mas só encontrou 4 (quatro!) casos, enquanto que, entre mortos e desaparecidos formais do lado que resistiu à ditadura, as baixas chegam às centenas, sem falar dos muitos torturados, perseguidos e encarcerados sem justa causa que sobreviveram para contar a história, tais como Dilma, Rose ou Ivan.

Campanha eleitoral irá obrigar Serra a explicar privataria tucana




“Esse livro é um Lixo. Por que vou comentar lixo?”. Foi assim que o ex-deputado, ex-senador, ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato a presidente por duas vezes (2002 e 2010) José Serra respondeu a setores independentes da imprensa que ousaram questioná-lo por conta das denúncias contidas no best-seller A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Apesar de a obra ter vendido centenas de milhares de exemplares, tornando-se um inequívoco best-seller, de continuar sendo um sucesso de vendas que segue frequentando à lista dos livros mais vendidos e, também, de ter produzido um requerimento de CPI aprovado pela Câmara dos Deputados, as denúncias contra Serra jamais foram tratadas em profundidade pela grande imprensa.
Todavia, entrevista que o candidato pelo PSOL a prefeito de São Paulo, Carlos Giannazi, concedeu à Folha de São Paulo, a qual foi publicada na edição deste domingo daquele jornal, mostra que a moleza do tucano está para acabar, ainda que pela mão de terceiros.
Abaixo, o trecho em que Giannazi promete cobrar o tucano pelo que a grande imprensa abafou:
– Vou cobrar do Serra o que está escrito no livro “Privataria Tucana”. Ele ainda não explicou isso. Não é apenas um livro, mas um dossiê com provas concretas. Ele disse que era um “lixo”, mas não explicou. Vou ler trechos do livro nos debates para ele explicar se vai fazer o mesmo com a Prefeitura de São Paulo.
Essa parte da entrevista do candidato do PSOL foi extirpada da edição impressa da Folha e só foi reproduzida na íntegra que o jornal publicou exclusivamente na internet. Como se vê, a mídia ainda acredita que pode esconder do eleitorado de São Paulo as denúncias recheadas de documentos comprobatórios contidas no livro da privataria tucana.
O esforço para blindar Serra será em vão. A mídia terá que tratar do assunto nem que seja para defendê-lo, pois não será só Giannazi que levará o assunto aos debates e até ao horário eleitoral gratuito no rádio e na tevê. É certo que o tema frequentará praticamente todas as outras campanhas.
A razão é muito simples: nova pesquisa Datafolha mostra Serra ainda à frente dos outros candidatos, ainda que com vantagem reduzida e com crescimento de Haddad.
Como em toda e qualquer eleição, portanto, o líder das pesquisas vira alvo de todos os outros candidatos, menos dos de mentirinha como Soninha Francine, do PPS, que apenas fará dobradinha com o tucano nos debates e nos programas eleitorais no rádio e na tevê.
Há especulações no sentido de que, até o segundo semestre, a CPI da Privataria Tucana, que já tem número suficiente de assinaturas, pode vir a ser instalada na Câmara dos Deputados.
A CPI tão temida pela oposição e pela mídia tucana estaria sendo guardada para funcionar paralelamente à CPI do Cachoeira, o que, de uma forma ou de outra, irá enfrentar o dilúvio do mensalão, o qual a mesma mídia colocará no ar em pleno processo eleitoral, valendo-se do julgamento do caso pelo STF.
Em um momento em que a mídia tentará carimbar o PT como “partido da corrupção”, dizem que podem surgir elementos adicionais aos do livro da privataria. Isso ocorrerá quando vier à baila, na CPI do Cachoeira, o envolvimento da Veja com o esquema criminoso. Tudo isso a partir de agosto, que, para os tucanos, também deverá ser um mês de muito desgosto.

MÍDIA INCONFORMADA: ERUNDINA DIZ A QUE VEIO

*Day after na Grécia, pior para a Espanha: nesta manhã de 2ª feira, mercados usam o alívio obtido nas urnas gregas para sugar ainda mais a Espanha ** menos de 24 hs depois do êxito ortodoxo na Grécia, credores apertam os cravos no pescoço espanhol** exigem juros de 7% para financiar o país --um multiplicador  insustentável que empurra a dívida para a insolvência**E agora, o que a direita fará na Grécia? (leia a reportagem do enviado a Atenas, Eduardo Febbro)
 
"Vou fazer campanha junto do povo, na periferia, nas favelas, nos cortiços. Não sei se o PP se encaixa porque não sei se eles concordam com nosso projeto. Eu derrotei Maluf em 88 e ele não vai fazer gestão nenhuma. Ele não vai ser o prefeito e nem o vice-prefeito. O prefeito será o Haddad e a vice-prefeita serei eu. Quem vai governar conosco é o povo organizado. Mais importante do que a pessoa é o projeto político (...) Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência (...) com todas as críticas que a gente pode fazer aos governos do Lula e da Dilma, eles foram governos voltados para o interesse da maioria. Mesmo que isso tenha exigido certas concessões ao outro polo da sociedade. A política é real. Não é algo que se dá no plano do ideal, da abstração" (Luiza Erundina, em entrevistas a uma mídia inconformada com o revés que a sua indicação a vice de Haddad representa para a coalizão em torno de Serra, na qual a direita tem hegemonia.
LEIA MAIS AQUI)

 

Medo e austeridade vencem as eleições na Grécia

Os coveiros da Grécia, agora conhecidos como os partidos pró-austeridade, voltarão a ter as rédeas do país. Os conservadores da Nova Democracia, um dos partidos que, junto aos socialistas do PASOK, conduziram o país à mais profunda desesperança, ganharam as eleições legislativas com 30% dos votos. A Nova Democracia, de Antonis Samaras (foto) se impôs à força emergente da coalizão da esquerda radical Syriza, que obteve 26%. Mesmo assim, a Grécia fez do Syriza a segunda força política do país. Isso é muito, diante do jogo sujo que enfrentou. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Atenas.

Atenas - A coalizão do euro ganhou. A Grécia restaurou nas urnas a calamitosa oferta política do passado. Os conservadores da Nova Democracia, um dos partidos que, junto aos socialistas do PASOK, conduziram o país à mais profunda desesperança, ganhou as eleições legislativas com 30% dos votos. A Nova Democracia se impôs à força emergente da coalizão da esquerda radical Syriza, que obteve 26%. O PASOK, com 13%, ficou em terceiro lugar e com amplas possibilidades de formar uma coalizão de governo com a Nova Democracia.

Assim, os coveiros da Grécia, agora conhecidos como os partidos pró-austeridade, voltarão a ter as rédeas do país. No entanto, se por um lado o Syriza não conseguiu os votos necessários para configurar uma maioria, confirmou sim, nas urnas, seu espetacular avanço : multiplicou sete vezes o seu coeficiente eleitoral desde 2009 e obteve 10 pontos a mais que nas eleições legislativas de seis de maio último (cujos resultados impossibilitaram a formação de um governo).

A Nova Democracia festejou a sua vitória na Praça Syntagma e a esquerda radical celebrou sua relativa derrota ao compasso de “Avanti Popolo”, na Praça do Metrô Universidade, distantes entre si 600 metros. “Salvamos o euro e o país de um vermelho delirante”, dizia um militante da Nova Democracia que passeava pela praça Syntagma com a bandeira azul de seu partido. “Em seis meses voltamos com 40%, dizia, por sua vez, um militante do Syriza no ato do Metro Universidade, uma explanada presidida por uma estátuta de Atenas, Deusa da Guerra, da civilização, da sabedoria, da estratégia e das artes, entre outros atributos. Mais filosófico, Evangelos, um porteiro que trabalha à noite na zona da Syntagma, dizia: “ganharam os ladrões, como sempre tem corrido neste país há mais de 40 anos”.

A Grécia votou no domingo sob a imensa pressão exercida por seus sócios europeus e pelos meios de comunicação do Velho Continente, que fizeram uma campanha feroz e desonesta a favor do continuísmo, apresentando a eleição com os mesmos argumentos que a direita da Nova Democracia: a favor ou contra o euro. Então, o medo e a austeridade venceram. Às dez e quarenta da noite o líder do Syriza, Alexis Tsipras, reconheceu a derrota. Quando chegou à sede do partido, os abraços e a emoção eram de uma noite de vitórias.

“É uma sorte para nós. Eles vão queimar as asas e nós tomaremos o poder mais legitimados”, dizia sem rodeios um militante do Syriza. A juventude estava feliz. Pela primeira vez em muitos anos surgiu do nada uma alternativa à cumplicidade destruidora entre a direita da Nova Democracia e os socialistas. Mas também emergiu a pior versão da extrema direita, quer dizer, os neonazis do partido Aurora Dourada, que reiteraram nesta consulta o percentual de 6 de maio passado, de 7%.

A vitória do líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, é estreita e o obriga a pactuar uma coalizão com o PASOK. Ambos os partidos começaram a negociar à noite. Os 30% da Nova Democracia equivalem a um mínimo de 75 assentos, aos quais há de se somar os 50 assentos que se outorga como prêmio ao partido mais votado. Isso representa 125 assentos e a eles pode se somar os 12% do PASOK (33 assentos), que forma uma maioria de 161 assentos num parlamento de 300. No entanto, a posição hipócrita do PASOK poderia fazer entrar em jogo a esquerda democrática do partido Dimar, que obteve 6,2% (17 assentos).

O primeiro a sair em defesa de uma solução política foi o líder do PASOK, o ex ministro de Finanças Evangelos Venizelos. “Um governo de responsabilidade nacional supõe a participação de várias forças de esquerda”, disse Venizelos, em alusão à inclusão do Syriza na coalizão.

Esta opção é impossível: Alexis Tsipras recusa logicamente entrar num governo composto pelas formações que provocaram a hecatombe, que aprovaram os planos de austeridade e que, acima de tudo, foram eleitos para impor ainda mais austeridade. O porta-voz do Syriza, Panos Skorletis, revelou à noite que Tsipras havia falado por telefone com Antonis Samaras, para dizer-lhe que ele terá de formar um governo “sem o Syriza”.

Não deixaram muitas opções aos gregos. O liberalismo europeu lhe pôs numa encruzilhada fatal: ou o rigor ou a quebra. O paradoxo é teatral: os responsáveis pela primeira quebra deverão aprovar novas medidas que se traduzirão por mais rigor. “Angela Merkel e seus bancos nos condenaram a morrer em fogo brando e com fome ou a pagar até uma eternidade comendo migalhas”, ironizava Nikolas, um militante do Syriza.

Até onde se pode ver, as contas são uma corda no pescoço da sociedade grega. Na sexta passada venceu o prazo para o pagamento da segunda parcela do empréstimo de 130 bilhões de euros que o FMI e o Banco Central Europeu decidiram outorgar a Grécia em 8 de março passado. A Grécia tem de receber um pacote de 8 bilhões de euros sem o qual, a partir de 20 de julho, não terá mais dinheiro para pagar aos seus servidores. Os bancos também estão sem caixa. Os gregos vêm retirando seus depósitos há dois meses e os bancos deixaram de financiar as empresas. O setor privado perdeu um milhão de postos de trabalho nos últimos cinco anos.

Atenas recebeu até agora 172 bilhões de euros mediante o resgate capitaneado por Bruxelas. Mas nada melhorou. O desemprego afeta 25% da população, os bancos necessitam de recapitalizarem-se e a sociedade existe e se move graças, em parte, à férrea solidariedade dos laços familiares.

“Faremos o que for necessário”, prometeu Samaras, à noite. Sem dúvida, será aquilo de que os bancos e a Alemanha necessitem, visto que o país exerceu uma pressão imensa para que os conservadores se mantivessem com as rédeas do poder. Um candidato “anti austeridade” como Alexis Tsipras seria um pesadelo para a Alemanha. Por isso o fizeram passar por um militante anti-euro, coisa que é totalmente falaciosa.

Angela Merkel usou a Grécia como modelo de penalização e conseguiu forçar, por meio de um golpe de medo, ameaças e intimidações e mentiras, a vitória de uma coalizão que não reflete em nada nem a voz das ruas nem situação angustiante em que se encontram as pessoas. Mas entre a nova ameaça – o Syriza – e as argúcias do velho conhecido – PASOK e ND – as urnas optaram pelos capitães de má fama. Para a esquerda do Syriza a derrota tem o sabor de um fruto doce e suculento.

Com o Syriza nasceu na Grécia e na Europa uma força potente à esquerda do socialismo de governo, clientelista e corrupto. 26% dos votos é um sonho. “Viver para sonhar, diz o refrão. Mas nós estamos vivendo o sonho na própria carne”, dizia à noite um militante do Syriza. A coalizão da esquerda radical grega não só enfrentou nas urnas os seus adversários políticos locais como a máquina liberal mais poderosa do planeta. A edição alemã do Financial Times reflete vergonhosamente a agressão que o povo grego sofreu. O Financial Times escreveu: “Gregos, resistam à demagogia de Alexis Tsipras. O país só permanecerá no euro com os partidos que respeitam os termos dos credores”. Pagar ou morrer.

Mesmo assim, a Grécia fez do Syriza a segunda força política do país. Isso é muito, diante de tanta manipulação de um jogo tão sujo. Atenas amanhecerá com a oligarquia política que levou o país à ruína, negociando um pacto de governo. A chamada “coalizão do euro” tem o destino em suas mãos. Angela Merkel e os mercados estão contentes. A esquerda também. Foi apenas uma batalha numa luta que está apenas começando.


Tradução: Katarina Peixoto


sábado, 16 de junho de 2012

Serra “invade” redações e exige retaliação a Maluf

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Antes de um relato espantoso que farei, quero esclarecer meu ponto de vista sobre a possível – mas, ainda, não confirmada – aliança entre o candidato pelo PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o ex-prefeito e ex-governador da capital paulista Paulo Maluf.
Na verdade, este texto deveria ter sido publicado na sexta-feira, mas decidi adiar porque recebi ligação de fonte que tenho em um grande jornal paulista e que discorda da atuação da imprensa local e que, assim, frequentemente me dá informações em primeira mão.
Foi-me relatado que Maluf estava para romper a aliança que mantém com o governo Geraldo Alckmin e com o pré-candidato do PSDB a prefeito da capital paulista, José Serra, de forma a se aliar a Haddad.
Muitos não entenderam, portanto, em razão do que, na sexta-feira, este blog amanheceu com uma postagem sobre a atuação de Maluf durante a ditadura. Isso, porém, ficará claro mais adiante.
Desde o ano passado que Maluf é aliado do PSDB paulista. Isso se deu por ter ganhado do governador Geraldo Alckmin o direito de indicar um afilhado para dirigir a Companhia Estadual de Habitação de São Paulo (CDHU).
Por conta dos favores de Alckmin a Maluf ele estava fechado com Serra para levar o PP paulistano, um feudo malufista, a ceder ao tucano seu tempo de TV na próxima campanha eleitoral
O PT, porém, passou a assediar o PP da capital paulista para que apóie Haddad valendo-se do argumento de que o partido de Maluf já mantém coligação com o governo Dilma Rousseff e que, portanto, seria lógico manter essa aliança em nível municipal.
Em minha opinião, não é a mesma coisa. Maluf, hoje, tem muito menos influência no PP nacional, que tem lideranças mais respeitadas, como, por exemplo, Francisco Dornelles (RJ), que não segue a liderança malufista.
Fazer aliança com o PP paulistano, portanto, é fazer aliança direta com Maluf. Por 1m43s de TV, parece-me pouco. É um constrangimento enorme para candidata a vice na chapa de Haddad, a ex-prefeita Luiza Erundina, e para o próprio PT.
Por conta disso – e como as tratativas ainda não estavam sacramentadas –, publiquei neste blog, na última sexta e de forma açodada, notícia que pretendia publicar mais adiante e de forma  mais aprofundada no âmbito de postagens que ainda farei sobre a Comissão da Verdade.
Com o post sobre o apoio de Paulo Salim Maluf à ditadura militar, quis lembrar ao PT paulista quem é esse indivíduo, ainda que, por óbvio, seja desnecessário.
Julgo que a aliança com esse senhor é imprópria. Como eleitor e apoiador do PT, sinto-me constrangido.
Julgo que Haddad é, de longe, o melhor candidato para São Paulo e que o apoio de Maluf conspurca sua candidatura.
Julgo que o eleitorado malufista odeia mais o PT do que aprecia Maluf.
Julgo que a aliança com Erundina levará Haddad longe e que, esse sim, é um apoio vital.
Julgo, por fim, que Haddad não precisa de Maluf ou do desgaste que tê-lo em sua aliança irá gerar
Essa é a minha sincera opinião. Contudo, não farei disso um escarcéu. Todavia, o aviso está dado.
Apesar do extenso preâmbulo que você acaba de ler, o que tenho a relatar, prioritariamente, é outro fato que me foi confidenciado por aquela fonte que trabalha em um grande jornal paulista e que, vira e mexe, municia-me com informações de bastidores sobre a imprensa de meu Estado.
É revoltante e uma prova do partidarismo doentio da imprensa paulista o escarcéu que esta está fazendo diante da possibilidade de Maluf realmente vir a apoiar Haddad. E é ilógico. Até Maluf acenar com tal apoio, a imprensa local nem lembrava que ele existia.
O acordo do governo federal com Maluf – e não com o PP – para que este destine tempo de tevê em São Paulo a Haddad não difere do acordo entre tucanos e pepistas na capital paulista. Por que o que não é notícia quando o acordo é com tucanos vira notícia quando o acordo é com o PT?
Isso se deve a que Serra, irritado com o que chama de “ganância” de Maluf, que estaria aumentando o preço da fatura para os tucanos, passou a disparar telefonemas para os “aquários” (chefias de redação) da imprensa paulista exigindo “denúncia” do mesmo Maluf e de Haddad.
A imprensa – Folha de São Paulo à frente, pois Serra ligou para ‘Otavinho” – está “denunciando” que o PT está fazendo com o PP o mesmo acordo que este fizera com o PSDB.  De forma “inexplicável”, de repente a imprensa tucana descobriu que Maluf é Maluf.

Aref do Cerra é fruta cítrica. Coitado do Capitalismo !

Liga o Vasco, navegante de longo curso, da Lagoa de Marapendi.

Liga o Vasco, navegante de longo curso, da Lagoa de Marapendi.

–    O que você foi fazer aí, Vasco, na Barra da Tijuca ?, pergunta o ansioso blogueiro.
–    Vim ver se acho os Verdes da Rio+20.
–    Para que você quer achar os Verdes, Vasco ?
–    Para afogar eles aqui na Lagoa.
–    Calma, Vasco, isso dá processo.
–    Não, eu te liguei, porque queria saber se você viu na televisão a casa do Aref.
–    Do Aleph, aquele conto do Borges … o que é isso, Vasco ?
–    Aref, Aref, aquele que você disse que o Cerra ia abandonar na estrada.

–    Já sei ! Aquele que o Cerra nomeou e depois disse que não nomeou.
–    Exatamente ! Aquele que tem 106 apartamentos.
–    Isso. E por coincidência ele é que autorizava as construções em São Paulo.
–    Coincidência ! A força do destino.
–    Sim, Vasco, mas o que tem a casa dele ? Você viu na televisão ?
–    Foi, vi na televisão …
–    Na Globo é que não foi, Vasco. Você acha que o Ali Kamel ia dar atenção a essa bobagenzinha … O cara do Cerra e do Kassab aprova as edificações e  compra 106 apartamentos … isso não tem a menor importância … Na Globo …
–    É, então, não foi na Globo. Mas eu vi em algum lugar.
–    Mas, o que tem a casa do Aref, Vasco ?
–    Uma micharia, uma casinha de bairro, assim, nada demais …
–    Nada demais, como, Vasco ?
–    Casinha assim de primeira geração de emigrante, que chega duro ao Brasil, monta um negocinho … compra a primeira casinha assim …
–    E daí, Vasco ? O que tem a casa do Aref ?
–    Meu querido, ele só pode ser fruta cítrica …
–    Que Diabo é isso … fruta cítrica ?
–    Meu querido, como é que você compra 106 apartamentos de luxo e vai viver numa micharia daquelas …?
–    Sei lá, Vasco, vai ver que é mania de pobre.
–    Meu filho, no capitalismo, pobre quer mesmo é ser rico. Nunca vi um pobre querer ficar pobre … No capitalismo não funciona assim, diz o Vasco, com voz de colonista (*) do PiG (**).
–    Onde é que você aprendeu essas coisas, Vasco ? Você agora é o Schumpeter … teórico do Capitalismo ?
–    É esse aí mesmo, Schumpeter …
–    Você não tá confundindo com Johannpeter, Vasco ?
–    Não. Johannpeter é o Gerdau. Tô falando do Schumpeter.
–    Mas, o que tem o Schumpeter a ver com o Aref, Vasco ?
–    É que o Merval fez um seminário na Academia Brasileira de Letras sobre o Futuro do Capitalismo.
–    E o Schumpeter foi ?
–    Não, seu imbecil. O Schumpeter morreu …
–    Ah, desculpe … essa falsa cultura … Quem foi discutir o … Futuro do Capitalismo com o Merval ?
–    O André Lara Rezende e o Gustavo Franco.
–    Ah, eles sabem …
–    Sabe o que eu descobri ?
–    Que o Futuro não tem Capitalismo … ou será o Capitalismo não tem Futuro ?
–    Não, meu querido. Descobri que a Globo terceirizou a Academia Brasileira de Letras.
–    Como assim ?
–    No tempo do Dr Roberto, essas coisas eram no Auditório do Globo. Agora, são na Academia.
–    Coitado do Machado, Vasco …
–    Coitado do Capitalismo, meu filho …

Pano rápido.
Em tempo: Em tempo: liga o Vasco, irritado, lá de Marapendi, depois de ler a fiel reprodução do nosso diálogo: “Você se esqueceu de dizer que o Aref do Cerra também aprova construção de shopping …


Paulo Henrique Amorim
(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Ideologia & política: relendo Hannah Arendt

 



Hannah Arendt


Sempre que a retórica neoliberal e neoconservadora, cujo discurso ideológico, velado ou explícito, onipresente em todas as mídias, se torna demasiado absurda, cruel, intragável, esta colunista se “refugia” politicamente nas palavras e no pensamento de Hannah Arendt (1906-1975), esta pensadora política e humanista magistral, discípula de Karl Jaspers e Martin Heidegger, dos quais herdou a tradição culturalista alemã.
Arendt não usa nenhuma retórica, objetivamente vai logo ao ponto, revelando impiedosamente a face horrível das classes dominantes. Aliás, ela é especialmente precisa, quase cruel, ao se reportar ao filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), que considera o verdadeiro ideólogo não-reconhecido da burguesia (os atuais neocon e neoliberais). Diz ela: ”É importante observar que os modernos adeptos da força estão de acordo com a filosofia do único grande pensador que jamais tentou derivar o bem público a partir do interesse privado e que, em benefício deste bem privado, concebeu uma comunidade de estados cuja base e objetivo final é o acúmulo de poder”.
A doutrina de Hobbes é exposta com tanta crueza, que não admira que os ricos burgueses lhe tivessem horror: a imagem que projetava deles no espelho era monstruosa!
Segundo Hobbes, via Arendt, esse processo de acúmulo de poder, necessário à proteção de um constante acúmulo de capital, criou a ideologia “progressista” no final do século 19, prenunciando o surgimento do imperialismo (leia-se hoje “globalização”). A compreensão de que o acúmulo de poder era o único modo de garantir a estabilidade das chamadas leis econômicas, tornou irresistível o progresso. A noção de progresso do século 18, tal como concebido na França, pretendia que a crítica do passado fosse um meio de domínio do presente e de controle do futuro. Mas essa noção bem pouco ou nada teve em comum com a infindável evolução da sociedade burguesa, que não apenas desejava a liberdade e a autonomia do homem, mas estava pronta a sacrificar tudo e todos a leis históricas supostamente supra-humanas.
Como nas terríveis palavras de Walter Benjamin: “O que chamamos de progresso é o vento que impele o anjo da História irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas enquanto o monte de ruínas diante de si se ergue até os céus”. Somente no sonho de Marx – de uma sociedade sem classes que faria a humanidade despertar do pesadelo da História – é que surge um último vestígio, infelizmente utópico, do século 18.
“O empresário de mentalidade imperialista, a quem as estrelas aborreciam porque não podia anexá-las”, comenta Arendt, (lembram-se de Donald Rumsfeld, secretário de Defesa do governo Bush, que teria adorado privatizar o Sol?) “sabia que o poder organizado como finalidade em si geraria mais poder”, isto é, com força bastante para expandir-se além das fronteiras do Estado-Nação. E tal processo não poderia ser brecado, tampouco estabilizar-se, sem provocar catástrofes destruidoras.
Reiterando: embora nunca reconhecido, Hobbes foi o verdadeiro filósofo da burguesia, porque compreendeu que a aquisição de riqueza, idealizada como um processo sem fim, só pode ser garantida pela tomada do poder político, pois o processo de acumulação violará, cedo ou tarde, todos os limites territoriais existentes. Previu que uma sociedade, que havia escolhido o caminho da aquisição contínua, tinha que engendrar uma política dinâmica, um processo contínuo de geração de poder. E pode esboçar tanto os principais traços psicológicos do novo tipo de homem que se encaixaria nessa sociedade, quanto a tirania de sua estrutura política.
Hobbes previu que tal homem ficaria lisonjeado ao ser chamado “animal sedento de poder”, embora a sociedade o forçasse a renunciar a todas as forças naturais, suas virtudes e seus vícios, e fizesse dele o pobre sujeitinho manso que não tem sequer o direito de se erguer contra a tirania e que, longe de lutar pelo poder, submete-se a qualquer governo existente e não move um dedo nem mesmo quando seu melhor amigo cai vítima duma razão de estado incompreensível.
Assim, uma comunidade baseada no poder acumulado e monopolizado de todos os seus membros individuais, torna a todos necessariamente impotentes, privados de suas capacidades naturais e humanas. Degrada o indivíduo à condição de peça insignificante na máquina de acumular poder, máquina construída de forma a ser capaz de devorar o mundo.
O objetivo final de destruição dessa comunidade é indicado na interpretação filosófica da igualdade humana como “igual capacidade de matar um ao outro”!Vivendo com as outras nações “numa condição de guerra perpétua”, não tem outra lei de conduta senão “a que melhor leve ao seu benefício”, e gradualmente devorará as estruturas mais fracas até que chegue a uma última guerra “que dê a todos os homens a vitória ou a morte”.
Com “vitória ou morte” (traduzindo em tempos atuais, “vencer ou vencer”), o Leviatã, segundo Hobbes, pode suplantar todas as limitações políticas provenientes da existência de outros povos e envolver toda a terra em sua tirania. Mas quando vier a última guerra e todos os homens tiverem recebido seu quinhão, nenhuma paz final terá sido estabelecida no planeta: a máquina de acumular poder, sem a qual a expansão contínua seria impossível, precisará de novo material para devorá-lo em seu infindável processo.
E Arendt conclui: “Se o último Estado vitorioso não puder anexar os planetas, então passará a devorar-se a si mesmo, para começar novamente o infinito processo de geração de poder”.
(1) In Arendt, Hannah, As origens do totalitarismo II: imperialismo, a expansão do poder, uma análise dialética. Rio, Editora Documentário, 1976

Em que mundo Tourinho Neto vive ?????

Charge do Bessinha
Chico Caruso

Para desembargador, Cachoeira não é mais socialmente perigoso e merece liberdade.

Como todo acadêmico de Direito sabe, uma organização criminosa de matriz mafioso, como a operada por Carlinhos Cachoeira, é constituída por prazo indeterminado. Quando a organização se infiltra no poder do Estado, e está o senador Demóstenes Torres e deputados a confirmar, ela  ganha força, musculatura, ao seu chefão recuperar a liberdade.

Para o desembargador Tourinho Neto, o “capo” Cachoeira já não é mais perigoso socialmente pois seu negócio, com relação à exploração ilícita de jogos eletrônicos de azar, já foi fechado. Ele, evidentemente, não lembrou da lavagem de dinheiro, da cooptação de políticos e de Cachoeira explorar, além da jogatina, outras atividades ilegais, com a construtora Delta de ponta-de-lança.

Tourinho ainda não percebeu que Cachoeira comanda “um holding criminal”. Apesar de todo o noticiário e do revelado em conversas interceptadas, Tourinho continua míope e, pela visão curta, enxerga apenas a atividade da jogatina eletrônica.

Já na terça feira passada, ao votar pela anulação das provas da Operação Monte Carlo e soltura imediata de Cachoeira, o desembargador Tourinho Neto surpreendeu. Para ele, as interceptações telefônicas eram ilegais pois os motivos apresentados pelos policiais não eram suficientes para o deferimento.

Os motivos era tão insuficientes, data vênia,  que serviram para revelar, à sociedade civil brasileira, um mega-escândalo. Tem até governador sob suspeita.

Pano Rápido. Têmis, a deusa da Justiça, acaba de perder a cabeça, como na charge do Bessinha  e uma pergunta fica no ar: Em que mundo Tourinho Neto vive ?????

–Wálter Fanganiello Maierovitch–

Jurista e membro das Academia Paulista de História e Ac. Paulista de Letras Jurídicas; desembargador aposentado do TJ-SP.Colunista de CartaCapital, comentarista na CBN e assessor internacional para UE

A verdade sobre o auxílio-reclusão


Existem certas coisas que acontecem que  não sei como surgem. Parecem aquelas lendas urbanas que de tempos em tempos são repetidas por aí , sem ao certo saber de onde partem.
Estava eu em Niterói, no Rio de Janeiro, matando a saudade de minha terra, e passa ao meu lado um grupo  com com alguns garotos e duas senhoras , quando um deles aos gritos diz " Pô eu agora quero ser presidiário, o governo vai pagar para vagabundo preso 800,00 por filho , se eu tiver cinco , já pensou , vou pegar 4000,00!!!!!!!!" .
Estou agora aqui no sul , e vejo alguem  abrir uma página do facebook perto de mim e lá estava postado : " VERGONHA DE PAÍS , GOVERNO PAGA 812 PRA BANDIDO" , algo mais ou menos assim , mas tá correndo na rede.
Fiquei imaginado , como uma aberração de notícias destas cai no imaginário , sem ao menos a pessoa que coloca ali checar a sua veracidade , ou inteirar-se um pouco mais do assunto.De onde partem ? sei lá , mas ou é muita burrice ou muita má-fé. Eu acho que são os dois.
Nossa velha mídia golpista tá fazendo escola em parcela da população!!!!

coloquei abaixo, só para equilibrar as coisas:

A verdade sobre o auxílio-reclusão


Recebi hoje um e-mail entitulado “um pequeno absurdo…” no qual o autor (que dessa vez nem era o L. F. Veríssimo) protesta contra o “salário família presidiário”.
Refere o cidadão que o governo[bb]dá aos presidiários que tenham filhos o valor de R$ 810,18 por filho. Fazendo as contas, conclui que “bandido com 5 filhos, além de comandar o crime de dentro das prisões, comer e beber nas costas de quem trabalha e/ou paga impostos, ainda tem direito a receber auxílio reclusão de R$3.991,50 da Previdência Social“.
Bom, fechando um olho para o erro de matemática, esse e-mail é um amontoado ambulante de desinformação.
Certamente este pequeno blog não vai afastar essas distorções, mas talvez ajude alguém mais cuidadoso a não repetir essas baboseiras por aí.
O auxílio-reclusão é um benefício previdenciário previsto na Constituição (art. 201, IV) e no art. 80 da Lei 8.213/91, concedido aos dependentes do segurado[bb]de baixa renda que tenha sido preso e não receba nem auxílio-doença, nem outra aposentadoria, nem alguma remuneração da empresa na qual trabalhava.
Trocando em miúdos, para ter direito ao benefício o recluso precisa:
a) ter contribuído para a Previdência[bb]Social (ou seja, estar trabalhando ou ter perdido o trabalho recentemente);
b) não receber qualquer outra remuneração ou benefício;
c) ter baixa renda (quando em atividade, logicamente).
Baixa renda, nesse caso, equivale a um salário/remuneração de, no máximo, o definido ano a ano pela Previdência Social (em 2011, R$ 862,11). Se o segurado ganhar (em atividade) mais que isso, já perde o direito ao benefício.
Além disso, acho importante esclarecer que Previdência Social é um seguro pago por cada trabalhador para o caso de ocorrer algum dos fatos previstos na Lei (alcançar idade avançada, restar incapaz para o trabalho, falecer ou mesmo, ser condenado e preso).
Em sendo um seguro, na verdade o preso que recebe o auxílio-reclusão não está recebendo nada além do que aquilo pelo qual já pagou.
Logo, não se trata de um gracioso favor prestado pelo governo, mas sim o pagamento daquilo que estava antecipadamente previsto na legislação.
Por óbvio, nada contra discutir se é o melhor para a sociedade brasileira que esse benefício exista, mas pelo menos devemos nos pautar pelo que efetivamente está previsto, e não por um conceito imaginário do que seria essa benesse.
Qual sua opinião sobre o assunto?

Os mineiros espanhóis estão em pé de guerra

A consiga “se nossos filhos passarem o fome, o de vocês verterá sangue”, levantada pelos mineiros das Astúrias e da Galícia, dá uma mostra da radicalização do conflito e do profundo clima de mal estar que reina na sociedade espanhola, esgotada após quatro anos de crise e constantes cortes que não fazem mais do que piorar a situação econômica. O artigo é de Oscar Guisoni, direto de Madri.

Madri - A decisão do governo espanhol de reduzir em 200 milhões de euros os subsídios para a produção de carvão desataram o pior conflito sindical no setor no último meio século. A extração deste mineral é deficitária há anos e estava subsidiada pelo governo para evitar que fosse interrompida a produção da única fonte local de energia não renovável. A profunda crise econômica e os virulentos cortes de impostos pelo governo conservador para tentar reduzir o déficit terminaram afetando um setor que, nas últimas semanas, mostrou toda a virulência do protesto social protagonizando marchas gigantescas e violentas enfrentamentos de rua com as forças de segurança.

A consiga “se nossos filhos passarem o fome, o de vocês verterá sangue” dá uma mostra da radicalização do conflito e do profundo clima de mal estar que reina na sociedade espanhola, esgotada após quatro anos de crise e constantes cortes que não fazem mais do que piorar a situação econômica.

O setor do carvão é relativamente pequeno na economia espanhola. De fato, só há sete comarcas mineiras situadas em sua maior parte no norte do país (Astúrias e Galícia, região onde estourou o protesto). Das 45 mil pessoas que trabalhavam no setor em 1990, restaram cerca de 4 mil.

Desde 1986, o setor recebeu ajudas da União Europeia em troca da redução e da diminuição do tamanho das empresas, já que o carvão espanhol é de baixa produção calórica e de qualidade inferior ao que se produz em outras partes do mundo. Segundo os planos originais, os subsídios seriam suspensos definitivamente em 2002, concluindo com o fechamento de todos os estabelecimentos, mas o fracasso de planos alternativos de emprego e o grande impacto econômico que a atividade gera em algumas regiões fez com que os subsídios fossem prorrogados até pelo menos 2018. O estouro da crise econômica em 2008 mudou os planos e no início deste ano o governo de Mariano Rajoy considerou que havia chegada a hora de acabar com os incentivos.

Mas as contas não são o forte dos economistas ortodoxos que assessoram o governo conservador empenhado em fazer cortes a todo custo. Segundo um estudo realizado pela Faculdade de Economia de Castilla y León, outra região carbonífera, para cada euro que o governo dá ao setor de mineração recebe três em impostos, coberturas sociais, compras de bens, serviços e rendas. Por isso, ao cortar os 200 milhões de euros de subsídios o Estado deixa de receber 600 milhões. Estas contas, que não são admitidas pela ortodoxia econômica, demonstram a espiral perversa das políticas neoliberais que estão levando ao abismo uma das economias mais importantes do continente.

O conflito mineiro começou há três semanas e inclui corte de estradas, ferrovias e mobilizações massivas. Mas nos últimos dias ele se radicalizou, desde que apareceram em cena jovens armados com lança-foguetes e rostos cobertos por capuzes que dispararam contra as forças de segurança, deixando um saldo de quatro policiais e três jornalistas feridos. Esta semana, o protesto se estendeu para a entrada das grandes centrais termoelétricas que utilizam carvão importado para produzir eletricidade e uma manifestação tentou ocupar a sede do Partido Popular em Oviedo, Astúrias, mas foi rechaçada pela polícia. Como parte do protesto, os manifestantes jogaram suas calças nas ruas para assinalar que o governo está deixando-os pelados.

O grau de tensão foi aumentando até forçar o sindicato majoritário, Comissões Operárias, a advertir as forças de segurança para “que não contribuíssem para aumentar” o conflito, ao mesmo tempo que condenou os atos “descontrolados” que podem produzir danos às pessoas. Dias atrás, o secretário geral do Partido Socialista, Alfredo Pérez Rubalcaba advertiu o governo do PP sobre o aumento do descontentamento nas ruas.

O ponto crítico do conflito mineiro se dá em um contexto de extrema gravidade econômica. A Espanha teve que ser resgatada na semana passada com cerca de 100 bilhões de euros destinados a tapar o buraco dos bancos e nesta sexta-feira viu que o resgate não foi suficiente para acalmar os mercados. A taxa de risco segue disparando enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) insiste com suas receitas recessivas, pedindo o aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e uma redução do salário dos funcionários públicos, medida que só pode aumentar os conflitos sociais e a crise econômica.

Enquanto isso, os analistas esperam com ansiedade o resultado das eleições gregas que poderão abrir pela primeira vez uma fenda no consenso neoliberal que resiste na maior parte dos ministérios de economia da zona do euro.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Tourinho manda soltar Carlinhos Cachoeira. Viva o Brasil! Desembargador manda libertar bicheiro Carlinhos Cachoeira

Publicado em 15/06/2012

 

Reproduz G1:


Desembargador manda libertar bicheiro Carlinhos Cachoeira

O desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, concedeu nesta sexta-feira habeas corpus para a soltura do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso no complexo penitenciário da Papuda, em  Brasília.

O alvará de soltura deverá ser enviado ao presídio da Papuda ainda nesta sexta.

O habeas corpus foi impetrado pela defesa de José Olímpio de Queiroga Neto, do grupo de Cachoeira, libertado na última quarta.

Os advogados de Cachoeira pediram a extensão do benefício para o bicheiro, e o desembargador concedeu.

O advogado Augusto Botelho, que trabalha no escritorio contratado para a defesa de Cachoeira, afirmou que, apesar da revogação da prisão, relativa à Operação Monte Carlo, Cachoeira não será solto imediatamente.

Isso porque uma juíza da 5a Vara da Justiça Estadual de Goiás indeferiu nesta sexta pedido da defesa de revogação da prisão de Cachoeira referente à Operação Saint-Michel.

Botelho informou que a defesa de Cachoeira pretende ingressar com novo pedido de habeas corpus no plantão judicial em Goiás.



Quer dizer, então, que a Justiça brasileira vai condenar o José Dirceu ? É isso ?
E o Ministério Público vai recorrer da decisão do desembargador Tourinho ?
Ou vai demorar tanto que o Carlinhos terá tempo de se encontrar com o Dr Abdelmassih ?
Não deixe de ler: Desembargador Tourinho anula provas da Monte Carlo contra Cachoeira. Viva o Brasil !
Paulo Henrique Amorim
Em tempo: Saiu no Globo:


(…)


Nesta sexta-feira, enquanto Cachoeira ganhava um habeas corpus, perdia outro. Uma juíza da 5ª Vara da Justiça do Distrito Federal negou o pedido da defesa para que fosse revogada a prisão do contraventor referente à Operação Saint-Michel. O advogado Augusto Botelho informou que pretende ingressar com novo pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Distrito Federal.


(…)

Carlinhos diria assim: Viva o Brasil !

O Brasil de hoje não é a Espanha, embora muitos brasileiros ainda insistam em achar que os “desenvolvidos” são eles.

 


O RESGATE ESPANHOL E O BRASIL


Embora o Primeiro-Ministro Mariano Rajoy e líderes do PP - o partido que está no poder – façam de tudo para tentar tapar o sol com a peneira, o fato é que o “resgate”, aprovado no fim de semana, ficará na história como uma intervenção branca da Comissão Européia na economia espanhola, a fim de evitar a quebra do país.
O dinheiro aprovado pela Troika (Comissão Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), de 100 bilhões de euros, servirá para que, mais uma vez, se socializem os prejuízos para preservar os lucros privados, ou, em última instância, garantir, por mais algumas semanas ou meses, a sobrevivência de empresas que se confundem com a história recente do país, e que , se tivessem que sobreviver sem ajuda, em um ambiente de concorrência justa, já estariam definitivamente quebradas.
É como se, de repente, o governo brasileiro pedisse emprestado, em pleno sábado, 10% do PIB, ou, no nosso caso, 260 bilhões de dólares emprestados , só para cobrir o buraco de meia dúzia de bancos, aumentando, na mesma proporção, a dívida nacional, já que o responsável pelo pagamento do empréstimo será o próprio estado espanhol, que, para isso, fará novos cortes na educação, na saúde, na segurança, nas aposentadorias, nos investimentos. Isso, em um país no qual centenas de famílias, a cada dia são despejadas de seus lares, por não terem dinheiro para pagar a prestação da casa própria , pelos mesmos bancos “resgatados” no fim de semana.
O Brasil de hoje não é a Espanha, embora muitos brasileiros ainda insistam em achar que os “desenvolvidos” são eles. Temos 375 bilhões de dólares em reservas internacionais contra 35 bilhões de euros em reservas espanholas. Uma dívida externa de 13% do PIB, contra 165% da Espanha. Uma dívida interna líquida de 36% do PIB contra 80% (até dezembro) da Espanha, e isso sem nunca termos recebido, durante anos, bilhões de euros em ajuda da União Européia. Ou ter tido acesso a crédito farto e barato, a juros infinitamente menores aos cobrados aqui, na mesma época. Com esse dinheiro, adquiriram, na bacia das almas, com a cumplicidade de conhecidos entreguistas brasileiros, alguns de nossos maiores bancos e empresas, nos anos 90. E, se tiverem que sair do Brasil, depois de remeter para suas matrizes, durante anos, fabulosos lucros, os "capitais" "espanhóis" serão imediatamente substituídos por outros, como os chineses, como já está acontecendo.
Convertidos, de uma hora para a outra, - com sua entrada na Comunidade Européia e a transformação de suas pesetas em euros - em “europeus” e novos “ricos”, muitos espanhóis acreditaram, nos últimos anos, no mito da “marca Espanha”, vendido, em papel dourado, pela imprensa espanhola e os sucessivos governos que ocuparam o Palácio de la Moncloa.
Aznar recusou-se a entrar para o G-20, quando podia, porque achava que o lugar da Espanha era o G-8. Zapatero proclamava aos quatro ventos a condição da Espanha de “oitava potência econômica do mundo” e disse que o país já tinha conquistado, de pleno direito, seu lugar na “Champions League” da economia mundial. E todos, inclusive Mariano Rajoy, sempre apregoaram, baseados principalmente no marketing do BBVA e do Santander, seus bancos como os mais sólidos do mundo, quando na verdade, como se vê agora, o sistema financeiro espanhol apresenta – inclusive pela ausência de uma regulação e de uma fiscalização fortes - mais furos do que um queijo suíço.
Há dois dias, a Fitch rebaixou para BBB-, a um ponto do grau de especulação, os títulos da Repsol. E passou para negativas as perspectivas da Telefónica espanhola, que teve sua nota rebaixada também pela Moody,s e pela Standard & Poors. E ameaçou rebaixar de novo a nota do Santander, que já havia tido sua nota rebaixada em maio, apesar da venda de ativos como 51% de sua filial na Colômbia e de boatos de que estaria querendo vender também parte de sua filial no Brasil. Outras empresas também tiveram suas notas rebaixadas por agências de risco internacionais e a taxa de risco da Espanha voltou a passar dos 500 pontos, apesar do socorro aos bancos de 100 bilhões de euros que, afinal de contas, é equivalente aos capitais no valor também de aproximadamente 100 bilhões de euros que deixaram o país nos primeiros meses do ano.
No Brasil, no entanto, embora muitas empresas espanholas que atuam em nosso país estejam sendo diretamente afetadas pela crise, muita gente - como se estivéssemos na Terra e Madrid e Barcelona em outro planeta – prefere fingir que, nesse contexto, não existe nada de importante ocorrendo.
Encorajadas por essa atitude, as empresas espanholas que aqui operam fazem o mesmo. Mesmo com a crise roendo suas canelas, insistem em nos tratar como se fossemos um bando de otários que só pensa em praia, pandeiro e futebol.
Devendo mais de 57 bilhões de euros – é absurdo que marcas estrangeiras patrocinem selecionados esportivos oficiais brasileiros em apresentações no exterior - a Telefónica, controladora da Vivo, vai associar, pela bagatela de 15 milhões de dólares, sua marca às seleções brasileiras de futebol até 2015.
Só do BNDES, a Vivo pegou 3 bilhões de reais emprestados no ano passado . O Santander, que - pasmem - patrocina a Copa Libertadores da América, cujo nome homenageia quem derrotou as tropas espanholas em nosso continente, acaba de lançar uma campanha no Youtube. A campanha usa Pelé como garoto propaganda, para descobrir quem “mais entende de futebol na América Latina”. Vejam o link:

Postado por Mauro Santayana

O BRASIL DIANTE DE DOIS INIMIGOS

 


Mauro Santayana

Em discurso recente no Senado, Pedro Simon advertiu contra o perigo de que o crime organizado se aposse das instituições do Estado. Até o caso Cachoeira, disse o parlamentar gaúcho, havia sido comprovada a corrupção de setores da burocracia dos governos, mas não a da estrutura do Estado.
O governador Marconi Perillo se esquivou, com habilidade, das questões mais graves, em seu depoimento na CPMI. Registre-se que ele se encontrava mais do que tranqüilo, mesmo respondendo às indagações precisas do relator, até que chegou a vez do deputado Miro Teixeira. O experiente homem público, mesmo tendo como ponto de partida o caso menor, que é o da venda da casa de Perillo, deixou, na argúcia de suas perguntas, graves suspeitas.
Como pôde o governador receber o dinheiro de uma empresa e passar a escritura a um particular? Também ficou claro a quem ouviu o governador ser difícil que ele ignorasse as atividades ilícitas do apontado contraventor; ele conhecia, com intimidade, a sua vida empresarial, social e familiar.
O caso Cachoeira – e a advertência de Pedro Simon é importante – mostra como a nação está acossada por um inimigo interno insidioso, que é o crime organizado. Os recursos públicos são desviados para alimentar um estado clandestino, que está deixando de ser paralelo, para constituir o núcleo do poder, em alguns municípios, em muitos estados e na própria União. Essa erosão interna da nacionalidade brasileira, que se assemelha a uma gangrena, coincide com o cerco internacional contra o nosso país.
Enquanto parte da opinião nacional acompanha, indignada, as revelações do esquema Cachoeira, articula-se eixo internacional entre os Estados Unidos, a Espanha e todos os países da Costa do Pacífico, com a exceção do Equador e da Nicarágua, contra o nosso povo, mediante a Aliança do Pacífico. Não há qualquer dissimulação.
Como informa a publicação Tal Cual, da oposição venezuelana, o foro funciona ativamente e já celebrou seis reuniões de alto nível. “Os quatro países signatários da nova Aliança do Pacífico – revela a publicação – têm, todos eles, governos de centro ou centro-direita, crêem no capitalismo, são amigos dos Estados Unidos, e favorecem os tratados de livre comércio e o princípio do livre-comércio em geral. Une-os sobretudo um temor comum e impulso defensivo frente à ascendente potência hegemônica ou neo-imperial que é o Brasil”. E termina: “sentimo-nos satisfeitos e aliviados pelo surgimento do muro de contenção à expansão brasileira, que é a Aliança do Pacífico”.
Assim, os Estados Unidos cuidam de retomar a sua influência e presença militar na América Latina. Nesse sentido, procuram valer-se da Aliança do Pacífico para estabelecer bases militares cercando o Brasil, da Colômbia ao sul do Chile. Leon Paneta, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, acaba de acertar com o presidente do Chile, Sebastián Piñera, o estabelecimento de uma base norte-americana em Fuerte Aguayo, nas proximidades de Valparaíso. Entre outras missões dos militares americanos está a de treinar os carabineiros chilenos, a fim de coibir manifestações populares. Há, ao mesmo tempo, uma orquestração da imprensa e dos meios políticos e empresariais, a fim de reabilitar a figura do ditador Pinochet.
Os Estados Unidos, que mantêm uma base no Chaco paraguaio, quiseram também ocupar o aeroporto de Resistência, na província argentina do Chaco, e o governador Capitanich assentiu, mas o governo de Cristina Kirchner vetou o acordo.
A participação da Espanha nesse novo cerco ao Brasil é evidente. Em Madri, os embaixadores dos quatro paises maiores envolvidos (México, Colômbia, Peru e Chile) se reuniram, para defender a nova aliança, e coube ao embaixador do Chile, Sergio Romero, ser bem explícito. Ao afirmar que o bloco não nasce contra o Brasil, nem contra o Mercosul, aclara, no entanto, que o grupo recebe de braços abertos os investimentos europeus, especialmente da Espanha e dos Estados Unidos - que poderiam formalmente participar da Aliança.
Limpemos os nossos olhos, vejamos os perigos que ameaçam diretamente a nossa sobrevivência como nação independente, nas vésperas do segundo centenário do Grito do Ipiranga. Não temos que ficar abrindo mais divisões internas, e devemos nos unir para enfrentar, ao mesmo tempo, o inimigo interno, que é o crime organizado e suas teias nas instituições do Estado, e os inimigos externos.
Esses, sempre que estivemos avançando no desenvolvimento social e econômico, procuraram quebrar as nossas pernas, contando com traidores brasileiros. Não é preciso recuar muito no passado. Basta lembrar o cerco contra Vargas, em 1954, a tentativa de golpe de 1955, repetida em 1961 e, por fim, o golpe de 1964, com as conseqüências conhecidas. Registre-se que, apesar da vinculação com os Estados Unidos, durante o governo Castelo Branco, e a famosa doutrina das “fronteiras ideológicas”, vigente durante o governo Médici, a partir de Geisel os militares brasileiros não mantiveram a mesma subserviência diante de Washington.
Enfim, espera-se que o Itamaraty mantenha o governo da Sra. Dilma Roussef a par dessas manobras anti-brasileiras, comandadas a partir de Madri e de Washington, e que a CPMI vá até o fundo, nas investigações em curso. Elas não devem parar nas imediações de Anápolis, mas chegar a todo o Brasil, conforme os indícios surjam. É bom conhecer a verdade do passado, mediante a Comissão formada para isso. E se faz também necessário conhecer a verdade do presente, e impedir que o crime tome conta das instituições nacionais, como está ocorrendo no México de Calderón.
E não nos devemos esquecer que o sistema financeiro mundial é também uma forma – superior e mais poderosa – de crime organizado. E muito bem organizado.

Postado por Mauro Santayana 

UMA ALIANÇA COM A DIGNIDADE

*CARTA MAIOR DIRETO DA GRÉCIA: dentro de 24 horas, o povo grego vai às urnas na catarse  eleitoral da crise;leia a cobertura de Eduardo Febbro, em Atenas; nesta pág.  

 Uma grande frente da direita brasileira se move na ansiosa tentativa de preservar o comando da maior capital do país. O comboio transporta  interesses pesados; não perder sua maior vitrine política é um deles; propiciar ao candidato da derrota conservadora em 2002 e 2010 um holofote de sobrevida até 2014, outro Há também o orçamento: R$ 40 bilhões, maior que o de vários Estados. Serra teria hoje 30% das intenções de votos na corrida pela prefeitura de São Paulo; seu principal oponente, Fernando Haddad, 3%. Lula adoeceu no meio do caminho e já se recuperou. Mas a convalescença pode reduzir a decisiva participação em uma disputa com DNA  nacional.O conservadorismo atrelava vagões ao comboio e exultava a cada tropeço do outro lado. A frustrada tentativa de cooptar Kassab parecia ter subtraído ao PT até mesmo o discurso da polaridade ideológica. Com Marta ressentida e afastada, Serra chocava  a serpente ao abrigo de confrontos constrangedores. A incubação conservadora ia bem até que uma palavra que desequilibra o lado contra o qual ela se volta entrou no jogo: dignidade, ou Luiza Erundina. Essa mulher nordestina e socialista, que alguns criticaram pelo excesso de zelo com a causa popular, será a parceira de Haddad para devolver a São Paulo algo de  inestimável valor: o resgate do  voto como um engajamento que faz sentido outra vez na luta por uma cidade a serviço dos cidadãos. Bem-vinda.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Mídia continua apoiando Clube Nextel

Miguel do Rosário, O Cafezinho

Um desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Tourinho Neto, declarou as escutas envolvendo Carlinhos Cachoeira ilegais porque as justificativas do juiz foram “insuficientes”. Em artigo publicado na Folha, o professor de Direito Público, Joaquim Falcão, explica o negócio:
Indício, diz o dicionário, é sinal aparente de algo que existe. O juiz achou que havia desde o início aparência de ilícitos. Seu cálculo de probabilidade parece se confirmar. Mas o desembargador acha que os indícios só se confirmaram após a escuta.
Ou seja, a Polícia Federal consegue desbaratar uma das mais sinistas máfias políticas da República, e Tourinho Neto diz que “os indícios só se confirmaram após a escuta”. Se outros desembargadores seguirem Tourinho Neto, Carlos Cachoeira, um dos maiores bandidos do Brasil, será solto e a operação Monte Carlo, que desbaratou uma das maiores máfias políticas que já atuaram na república, estará praticamente morta, com reflexos óbvios sobre a CPMI em curso.

É como se os EUA descobrissem os reais autores do 11 de setembro, baseados em escutas telefônicas, prendessem-nos, e um juiz os mandasse soltar porque os “indícios só se confirmaram após a escuta”.

E a mídia, que pressionou o STF a julgar o mensalão às pressas, em pleno período eleitoral, tem dado um apoio tácito à posição de Tourinho Neto. Ninguém manifesta contrariedade. Ao contrário, Jânio de Freitas, para minha grande decepção, vem com aquela conversinha pra boi dormir sobre “uso abusivo de escutas policiais de telefones”.

É a mídia, mais uma vez, dando uma forcinha ao Clube Nextel.

Ora, ontem publicou-se notícia de que as escutas representam um percentual mínimo nas investigações da Polícia Federal! Todas as escutas da PF são autorizadas judicialmente, e embasadas em indícios levantados por competentes investigadores.

A situação é particualrmente absurda porque o esquema desbaratado caracterizou-se justamente por fazer escutas clandestinas.

O modus operandis da organização quadrilheira baseava-se na realização de grampos ilegais, com os quais abasteciam órgãos de mídia, cumprindo dois objetivos centrais:

1) Fortalecer seus prepostos políticos, como Demóstenes Torres, que ia para tribuna brandir discursos éticos contra adversários fragilizados pelos grampos clandestinos e pelas reportagens relacionadas.

2) Chantagear funcionários públicos, forçando-lhes a entrar no esquema.

3) Descobrir segredos de Estado que facilitavam suas operações.

Já se sabe hoje como funcionava a organização Cachoeira. Ela tinha três braços: o político, liderado por Demóstenes Torres, Marconi Perillo e vários outros políticos; o financeiro, liderado pela Delta, que obtinha contratos milionários e derrubava concorrentes a partir das ações da quadrilha; o administrativo, que era comandado por Carlinhos Cachoeira, seus assessores e arapongas.

Sendo que o braço político tinha ramificações no Executivo (Marconi Perillo), no Legislativo (Demóstenes), no Judiciário (Gilmar Mendes?) e na mídia (revistas Veja, Época e jornalistas a serviço). Os nomes entre parêntes são os mais importantes, mas a quadrilha era grande. Tinha no bolso muitos deputados, delegados, funcionários federais, jornalistas, etc.

A grande pergunta que se faz agora é: cade a pressão da opinião pública para impedir que membros corruptos ou incompetentes do judiciário apliquem um profundo golpe contra a democracia brasileira? Cadê os movimentos de corrupção? Onde estão os paladinos da ética? Nenhum estrela da mídia irá se manifestar? Quer dizer que agora só bandidos podem grampear?

Não, Merval Pereira hoje faz a sua bilionésima coluna sobre o… mensalão. Dora Kramer saúda a “concorrência salutar” entre petistas e tucanos, e Fernando Rodrigues repete que a CPMI “perdeu o rumo“.

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Na verdade, quem parece ter perdido o rumo são os jornalões, que voltaram a bater cabeça (o que é raro: em geral caminham sempre de mãozinhas dadas, com as mesmas opiniões, mesmos colunistas, mesmas fontes). Enquanto Dora Kramer elogia justamente o fato de haver concorrência política na CPMI, o que impede “acordões”, Ilimar Franco critica petistas e tucanos por terem transformado a CPI num ringue de “galos de rinha”.

O raciocínio de Franco, porém, traz um equívoco baseado no pressuposto de que há similaridade entre Agnelo e Perillo. Não há.

Ninguém jamais disse que Agnelo é santo, mas sim que não há nada que o ligue ao esquema Cachoeira. Muito pelo contrário. Ontem isso ficou bem claro, ao se fazer um levantamento dos fatos durante o seu depoimento. O Clube Nextel tentou derrubar Agnelo porque não conseguiu o que queria de sua administração. Pouco depois de Cachoeira e Dadá protestarem contra seus insucessos junto ao governo do Distrito Federal e externarem desejos de retalização contra Agnelo, Demóstenes Torres sobe a tribuna, pau mandado que era de Cachoeira, para pedir o impeachment do governador. E a revista Época inicia ataques sistemáticos a Agnelo.

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Os jornalões hoje repetem ainda a estratégia de levantar suspeitas sobre a casa de Agnelo Queiroz. Ora, em primeiro lugar, o caso não tem nada a ver com o esquema Cachoeira, então não é escopo da CPI. Se quiserem façam uma CPI da Casa do Agnelo. Para um profissional bem sucedido, médico, deputado federal, ministro, diretor de agência federal e depois governador, comprar uma casa própria para si próprio, com ajuda da esposa, no valor de 400 mil reais, não é evidentemente nenhum absurdo.

O caso Perillo é totalmente diverso. Ele vendeu a casa ao principal bandido investigado pela CPI! Carlos Cachoeira, o homem central da organização criminosa que é o foco da CPI, morava na casa que o governador lhe vendeu! Ou seja, a casa de Perillo tem obviamente ligação com o esquema Cachoeira. A casa de Agnelo, não.

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Assine a petição que pede à Justiça que não comete esse crime contra a democracia. Que não considere ilegal as escutas da Monte Carlo, o que praticamente anularia todo o inquérito e libertaria os principais bandidos.