Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

UMA 2º FEIRA COMO MANDA O FIGURINO NEOLIBERAL: AO SABOR DOS MERCADOS 'AUTORREGULÁVEIS'

**Londres enfrenta mais uma madrugada de conflitos de rua nesta 3º feira.Saques e incendios atingem também outras cidades (Leia nesta pág.) ** Obama faz pronunciamento para devolver confiança aos mercados: 'EUA serão sempre triple AAA'. Em seguida Wall Street desaba.

A calmaria na manhã desta 2º feira era do tipo que antecede as tempestades. O  anúncio de que o Banco Central europeu compraria títulos da dívida pública espanhola e italiana reverteu a espiral de juros que os investidores vinham impondo a Roma e Madrid. Ao final da manhã, porém, recomeçou o vento forte e quente. Era Angela Merkel acionando o lança chamas conservador: a dama de ferro avisou que não haveria recursos adicionais para acudir economias  incendiadas pela crise mundial. A reticência da dama-de-ferro a uma ofensiva estatal contra a crise atiçou as labaredas da incerteza que alimentam fugas e ataques de capitais. Mais que isso deu aos mercados financeiros nova evidência de que o dinheiro é Rei. Manda e desmanda porque a Política resignou-se ao papel de  vassala que lhe coube no enredo do neoliberalismo. Países e lideranças apequenaram-se ao longo de décadas de submissão à agenda dos mercados. Agora revelam seu despreparo, tropeçam, emitem sinais contraditórios. Obama fala em confiança nos EUA: em seguida Wall Street desaba mais de 5%. A única certeza é a falta de qualquer certeza, exceto uma: a economia capitalista não volta ao trilho do crescimento sem uma ação estatal coordenada e contundente. A agonia pode demorar anos em lenta espiral declinante porque faltam os atores principais desse enredo: líderes e partidos progressistas.  Quem tem dinheiro em ações e depende de  lucros para obter dividendos se acautela e  dispara ordens de vendas. Poucos se dispõem a aceitar o convite para a compra. Bolsas despencaram em todo o mundo nesta 2º feira. Caiu a ficha: a crise dos mercados financeiros desregulados requer ação política forte para devolver as manadas ao piquete. Se ninguém se apresenta para botar sela e bridão no dinheiro chucro ele continua a distribuir coices urbi et orbi.
(Carta Maior; 3º feira, 09/08/ 2011)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Uma catástrofe em múltiplos níveis

 

A rendição do Presidente Obama 
Não se iludam: o que estamos presenciando aqui é uma catástrofe em múltiplos níveis. 
Por Paul Krugman 
Tradução de Idelber Avelar 

Está sendo gestado um acordo para aumentar o teto da dívida federal. Se ele passar, muitos comentaristas dirão que se evitou o desastre. Mas eles estarão errados.

Porque o acordo mesmo, dada a informação disponível, é um desastre, e não apenas para o Presidente Obama e seu partido. O acordo vai causar danos a uma economia já deprimida; provavelmente tornará o velho problema do déficit estadunidense pior, não melhor; e, mais importante, ao demonstrar que a pura extorsão funciona e não traz custos políticos, ele leva os EUA mais perto ainda do estatuto de ´república bananeira´.

Comecemos com a economia. Temos, no momento, uma economia profundamente deprimida. É quase certo que continuaremos a ter uma economia deprimida ao longo do ano que vem. E provavelmente teremos uma economia deprimida ao longo de 2013, se não mais além.

A pior coisa que você pode fazer nestas circunstâncias é cortar os gastos do governo, pois isso deprime a economia ainda mais. Não preste atenção aos que invocam a fadinha da confiança, que argumenta que ações orçamentárias duras reasseguram os negócios e os consumidores, levando-os a gastar mais. Não funciona assim, isso é fato já confirmado por inúmeros estudos históricos.

Na verdade, cortar gastos quando a economia está deprimida não ajuda nem mesmo a situação orçamentária, e pode na verdade torná-la pior. Por um lado, as taxas de juros sobre os empréstimos federais são hoje bem baixas, portanto cortar gastos agora faz muito pouco para reduzir as futuras despesas com juros. Por outro lado, tornar a economia mais fraca agora também causa dano a suas chances a longo prazo, o que por sua vez reduz a receita futura. Portanto, aqueles que exigem cortes de gastos agora são como aqueles médicos medievais que tratavam os doentes sangrando-os, e assim adoecendo-os ainda mais.

Ainda por cima, há os termos do acordo, que se reduzem a uma rendição abjeta por parte do Presidente. Primeiro, haverá cortes de gastos, sem nenhum aumento de receita. Depois, um painel fará recomendações para mais redução de deficit – e se essas recomendações não forem aceitas, haverá mais cortes de gastos.

Os Republicanos supostamente têm um incentivo para fazer concessões desta vez, porque os gastos com defesa estarão entre as áreas a serem cortadas. Mas o Partido Republicano já demonstrou sua disposição de arriscar o colapso financeiro a menos que ele receba tudo o que seus membros mais extremos querem. Por que esperar que eles sejam mais razoáveis da próxima vez?

Na verdade, os Republicanos na certa se sentirão encorajados pela forma como Obama continua a se dobrar ante suas ameaças. Ele se rendeu em dezembro, ao estender os cortes de impostos de Bush; rendeu-se na primavera, quando eles ameaçaram fechar o governo; e acaba de se render de novo, em enorme escala, a uma pura extorsão no tema do teto do endividamento. Talvez seja só eu, mas vejo um padrão aqui.

O presidente tinha outra alternativa desta vez? Sim.

Em primeiro lugar, ele poderia e deveria ter exigido um aumento no teto do endividamento em dezembro. Ao ser perguntado por que não o fez, ele respondeu que tinha certeza de que os Republicanos agiriam com responsabilidade. Belo palpite.

E mesmo agora, a administração Obama poderia ter recorrido a manobras legais na questão do teto da dívida, usando qualquer uma de várias opções. Em circunstâncias normais, poderia ter sido um passo extremo. Mas, ante a realidade do que está acontecendo, ou seja, a extorsão crua por parte de um partido que, afinal de contas, só controla uma casa do Congresso, a medida teria sido totalmente justificável.

Pelo menos, Obama poderia ter usado a possibilidade de um impasse legal para fortalecer sua posição de barganha. Em vez disso, no entanto, ele eliminou todas essas opções desde o começo.

Mas será que uma posição mais dura de Obama não teria preocupado os mercados? Provavelmente não. Na verdade, se eu fosse investidor, eu me sentiria assegurado, não chocado, por uma demonstração de que o presidente é capaz de e está disposto a enfrentar a chantagem dos extremistas de direita. Em vez disso, ele escolheu demonstrar o oposto.

Não se iludam, o que estamos presenciando aqui é uma catástrofe em múltiplos níveis.

Trata-se, claro, de uma catástrofe política para os Democratas, que até poucas semanas atrás pareciam ter os Republicanos contra as cordas por tentarem desmantelar o Medicare: agora, Obama jogou tudo isso fora. E o dano ainda não acabou: ainda haverá mais pontos de estrangulamento com os quais os Republicanos podem ameaçar criar uma crise ao menos que o presidente se renda, e eles agora podem agir com a expectativa confiante de que ele se renderá.

A longo prazo, no entanto, os Democratas não serão os únicos perdedores. O que os Republicanos acabam de conseguir fazer põe em questão todo o nosso sistema de governo. No fim das contas, como a democracia estadunidense pode funcionar se o partido que está mais preparado para ser sangrento, ameaçar a segurança econômica da nação, ganha como prêmio o direito de ditar a politica? A resposta é: talvez não, talvez ela não possa funcionar.

Original  AQUI.

Via  O Esquerdopata

29/07/11

Os extremistas de direita nos EUA

luisnassif

Por Marco Antonio L.Da CartaCapitalExtremistas de direita estão em ascensão, apontam analistas
Redação Carta Capital 28 de julho de 2011 às 18:07h
Os atentados que aconteceram na sexta-feira 22 na Noruega provocaram questionamentos sobre a capacidade das agências policias federais dos Estados Unidos de reagir a possíveis reações similares da extrema direita americana. Com isso, policiais de todo o país têm reivindicado aumento no orçamento para poderem se dedicar à tarefa, segundo o Huffington Post.
Funcionários do Departamento de Segurança Interna afirmam que o nível de atividade desses grupos se manteve constante ao longo dos últimos anos. Mas analistas entendem que a ameaça representada por extremistas americanos de direita está em ascensão e que as agências federais podem não estar dando-lhes a atenção necessária.
De acordo com reportagem do Huffington Post, as atividades dos grupos de extrema direita nos Estados Unidos aumentaram entre 2008 e 2009. Para o ex-analista de terrorismo da DHS, empresa que acompanha atividades deles, Daryl Johnson, em 2009 a produção de um relatório causou furor entre os políticos porque o documento alertava para uma onda de extremismo com a eleição do primeiro presidente negro do país e da recessão econômica. Johnson disse que o movimento vem estocando “armas e fazendo conspiração para matar funcionários do governo em Michigan e no Alasca”.
Para o analista, um incidente como o que aconteceu na Noruega “definitivamente poderia acontecer nos EUA “. “Os extremistas são muito mais capazes de cometer atos violentos aqui devido a seu acesso a armas e munições, que eles não têm na Europa.”
Esta conclusão é contestada por um funcionário oficial do DHS, que diz que o aumento da percepção da atividade extremista é baseado na maior conscientização da ameaça por parte do governo e do público. E que agora o extremistas de direita estão interconectados. “Eles eram muito isolados e agora eles estão conectados através do ambiente de rede social. Johnson diz também que o relatório, que nunca foi formalmente retirado, deveria ter sido revisto e re-lançado, o que nunca ocorreu.
De acordo com o Southern Poverty Law Center, havia 824 grupos de milícias nos EUA no ano passado. Um aumento significativo a partir do 149 contados em 2008. No seu relatório, o centro observou que os militantes foram inspirados por causa da preocupação sobre a imigração e pelo temor de que a composição racial dos Estados Unidos está mudando na medida em que os brancos são projetados para estar em minoria em 2050.

A emboscada de Obama contra os direitos sociais

Wall Street sabe que para ter votos suficientes no Congresso para destruir o New Deal, o Social Security, o Medicare e o Medicaid, é preciso ter um presidente democrata no comando. Um congresso democrata bloquearia qualquer tentativa republicana de fazer o tipo de corte que Obama está propondo. Mas a oposição democrática fica paralisada quando o próprio presidente Obama – o presidente liberal por excelência, o Tony Blair americano – age como o chefe de torcida para cortar direitos e outros gastos sociais. O artigo é de Michael Hudson.

Você sabe que a outra face da dívida está tão melodramaticamente encenada como uma exibição da Federação Mundial de Luta-Livre quando Obama faz a sua flagrantemente vazia ameaça ao Congresso, de que se não “atacar os desafios mais difíceis dos direitos sociais e da reforma tributária” não haverá dinheiro para pagar o Social Security no próximo mês. Nessa fala sobre o déficit, na noite de 25 de julho, ele ameaçou que “se nos declararmos inadimplentes, não teremos dinheiro suficiente para pagar todas as nossas contas – as quais incluem os pagamentos mensais do Social Security, as pensões dos veteranos de guerra e os contratos do governo que assinamos com milhares de empresas”.

Isso não é verdade nem de longe. Mas se tornou o tema mais assustador há mais de uma semana, desde que o presidente usou quase as mesmas palavras nas suas entrevistas ao âncora do jornal da noite da CBS, Scott Pelley.

É claro que o governo terá dinheiro suficiente para pagar o Social Security mensalmente. A administração do Social Security tem seus próprios fundos – nas contas do Tesouro. Eu entendo que advogados (como Obama e na verdade a maior parte dos presidentes americanos) raramente entendem de economia. Mas esta é uma questão legal. Obama certamente deve saber que o Social Security é solvente, com ativos líquidos para pagá-lo por muitas décadas vindouras. Ainda assim, Obama pôs o Social Security lá no topo da lista.

A explicação mais razoável para essa ameaça vazia é que ele está tentando causar pânico nos idosos, na expectativa de que de alguma maneira a negociação do orçamento pareça ser sacada de sua manga para salvá-los. A realidade, claro, é que eles estão sendo levados para o abate. (E nem uma palavra corretiva lembrando ao presidente a realidade financeira, por parte do secretário da rubineconomia [1], secretário do Tesouro Geithner, do neoliberal presidente do Federal Reserve, Bernanke, ou qualquer outro na administração democrata de Wall Street, conhecida como Conselho de Lideranças Democrata).

É um engodo. Obama chegou a enterrar o Social Security, o Medicare e o Medicaid, não para salvá-los, mas para matá-los. Isso estava claro desde o começo dessa administração, quando ele designou sua Comissão para Redução do Déficit, liderada pelos inimigos confessos do Social Security, como o senador do Wisconsin, Alan Simpson e Erskin Bowles, outro nome da rubineconomia, da administração Clinton. As mais recentes escolhas de Obama, de republicanos e de democratas conservadores para serem delegados no Congresso a fim de reescreverem o código tributário num jogo bipartidário – para evitar sua rejeição – não passa de uma manobra para aprovar uma "reforma" fiscal impossível de aprovar por representantes democraticamente eleitos.

O diabo sempre está nos detalhes. E os lobistas de Wall Street sempre têm esses detalhes bem dobrados em suas pastas para pô-los à disposição dos seus representantes no Congresso e dos senadores dedicados. E neste caso eles têm o presidente, que tem aceitado seus conselhos ao ponto de convidar para fazerem parte de seu gabinete e agirem com factoides para capturar o governo em seu benefício e assim criarem o “socialismo para os ricos”.

Não há tal coisa, é claro. Quando os governos são dos ricos, a isso se chama oligarquia. Os diálogos de Platão deixam claro que, em vez de se tomar as sociedades como democracias ou oligarquias, era melhor observá-las em movimento. As democracias tendem a polarizarem economicamente (sobretudo entre credores e devedores) até se tornarem oligarquias. Estas, por sua vez, tendem a se tornarem aristocracias hereditárias. No tempo, famílias dominantes vão lutar entre si, e um grupo (como os Kleisthenes em Atenas em 507 a.C.) levaria “o povo para dentro da festa” e criaria uma democracia. E assim o triângulo eterno da política seguiria adiante.

É isso o que está se passando hoje. Em vez de aproveitar o que a Era Progressista antecipou – uma evolução na direção do socialismo, com o governo fornecendo a infraestrutura básica e outras necessidades com subsídio -, estamos vendo um lapso temporal de volta ao neofeudalismo. A diferença, claro, é que esse tempo para a sociedade não é controlado por garras militares no território. Hoje a finança obtém o que a força militar fazia em tempos passados. Em vez de amarrados à terra sob o feudalismo, hoje as famílias podem viver onde quer que queiram – contanto que levem uma vida inteira para pagar a hipoteca ou qualquer casa que venham a comprar.

E em vez da sociedade pagar tributos pelo uso da terra a conquistadores, paga aos banqueiros. Assim como o acesso à terra era precondição para as famílias se sustentarem durante o feudalismo, precisa-se ter crédito, para água, assistência médica, pensões ou Social Security e outras necessidades básicas, hoje em dia – e deve-se pagar juros, recompensar e monopolizar a renda para a oligarquia neofeudal que agora fazendo das suas, dos EUA a Irlanda e Grécia.

O governo dos EUA gastou 13 trilhões de dólares em resgates financeiros, desde a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Mas Obama alerta que, de trinta anos para cá, o fundo de ativos que financia o Social Security gerou um déficit de 1 trilhão de dólares. É para evitar isso que ele pede com urgência o desmantelo dos programas sociais para arcar com aqueles pagamentos, agora.

Parece que os 13 trilhões usados eram todo o dinheiro que o governo verdadeiramente tem. Os bancos e as empresas de Wall Street pegaram o dinheiro e se foram. Não há o suficiente para pagar o Social Security, o Medicare ou outro gasto social que os democratas conservadores e os republicanos planejam cortar, agora.

Não tão rápido. O plano será “mascarar” a crise atual, reduzindo os planos à “Comissão para a Redução do Déficit #2”, nomeada pelos membros do Congresso.

Finalmente, temos a “mudança em que podemos acreditar”. A mudança real é sempre surpreendente, afinal.

A falsa crise
Muitas vezes é necessário uma crise para criar um vácuo que alimenta esses detalhes tóxicos. Está claro que Wall Street não gosta de crises reais – exceto aquelas que fazem os computadores gerarem rápidos ganhos especulativos na fibrilação atual do ziguezague dos mercados. Mas quando o assunto é dinheiro vivo, a ilusão de uma crise tem preferência, elevada melodramaticamente ao estágio que mobilize emocionalmente ao máximo a audiência, tanto como um bom editor edita um plano sequência. O trem acelerado passará por cima da garota amarrada aos trilhos? Ela escapará a tempo?

O trem é o débito; a garota é para ser tomada como a economia estadunidense. Mas ela se mostra nada mais que Wall Street disfarçada. O exercício vira uma comédia nem tão divina. Obama oferece um plano que parece bastante republicano. Mas os republicanos dizem não. Há uma ilusão de que uma luta real se passa. Eles acusam Obama de socialista.

Os democratas expressam choque com o desconforto de serem ameaçados. Muitos dizem “onde está o real Obama?”. Mas parece que o Obama real se tornou um republicano de Wall Street disfarçado, vestido com roupas democratas. É isso o que o Comitê de Líderes Republicanos é, basicamente: Democratas de Wall Street.

Isso não é tanto um oximoro como pode parecer. Há uma razão por que os democratas pós-Clinton de hoje são partidários do desfazimento do que Franklin Delano Roosevelt e democratas de antanho defenderam. Um Senado democrata nunca deveria ceder aos constrangimentos impostos por Wall Street e trair sua constituição urbana, caso um presidente republicano propusesse o que Obama está lhes oferecendo.

Eis o que o próximo candidato republicano pode dizer: “Você sabe que o que quer que nós, republicanos, quisermos, Obama irá nos apoiar. Se você não quer uma política republicana, então vote em mim para presidente. Porque um Congresso democrata irá se opor a uma política republicana caso proponhamos essas medidas. Mas se Obama as propõe, o Congresso envelhecerá e não resistirá”.

É a mesma história na Inglaterra, onde o Partido Trabalhista é convocado para terminar o trabalho que os conservadores começaram, mas precisam agora do Novo Trabalhismo para acalmar a oposição popular à privatização de rodovias e parcerias público-privadas na administração das linhas do metrô de Londres. E é a mesma história na França, onde um governo socialista está dando apoio a programas de privatização ditados pelo Banco Central Europeu.

Revisitando as falácias de sempre
Quando se encontra representantes dos governos e a mídia repetindo erros econômicos como um mantra incessante, sempre há um interesse especial em operação. O setor financeiro tem interesse específicos em desviar os passos dos eleitores, fazendo-os crer que a economia afundará numa crise se Wall Street não tiver o que pretende – frequentemente por meio da isenção de tributos e da sua desregulação.

A primeira falácia de Obama é a de que o orçamento do governo é como o da família. Famílias não emitem títulos da dívida e obrigam o resto do mundo a lidar com isso como dinheiro fosse. Só governos podem fazê-lo. É um privilégio que os bancos agora gostariam de ter – a capacidade de criar créditos livremente nos teclados de seus computadores e cobrar juros sobre o que é quase de graça e que os governos podem na verdade criar gratuitamente.

“Hoje, todas as famílias sabem que uma pequena dívida de cartão de crédito é gerenciável. Mas se mantemos esse mesmo padrão, o crescimento de nossa dívida poderá nos custar empregos e causar um sério prejuízo à economia”. Mas economias necessitam do dinheiro do governo para crescer – e esse dinheiro é fornecido pela rolagem dos déficits orçamentários federais. Essa tem sido a essência do gasto anticíclico keynesiano por mais de meio século. Até hoje, essa era uma política do partido democrata.

É verdade que o presidente Clinton operou um superávit orçamentário. A economia sobreviveu por conta do sistema bancário comercial, que supriu o crédito necessário para a economia crescer – à base de juros. Para forçar a economia a se fiar Wall Street em vez de no governo, o governo precisa parar de gerar déficits orçamentários. A economia então terá uma escolha: encolher rapidamente ou se transferir quase todo o superávit orçamentário aos bancos, enquanto a economia rende com base no privilégio da criação de crédito.

Obama também finge que as agências de classificação de crédito estão prontas para agirem como mascotes de seus clientes, a maior parte dos seguradores financeiros, ao fazerem toda a economia pagar taxas de juros cada vez mais altas em seus cartões de crédito e bancos. “Pela primeira vez na história”, dissimula Obama, “nossa classificação com um triplo A estaria em queda, deixando os investidores ao redor do mundo a se perguntarem se os EUA ainda é uma boa aposta. As taxas de juros iriam disparar nos cartões de crédito, hipotecas e aluguéis de carros, o que implicaria uma grande alta de impostos sobre o povo americano”.

A verdade é que gerar um superávit orçamentário aumentaria as taxas de juros, porque forçaria a economia a ficar cativa do sistema bancário. A administração Obama agora está profundamente envolvida numa fase retórica orwelliana.

Durante a fala de Obama, não pude deixar de sentir que tinha escutado aquilo antes. E então me lembrei quando. Em 2008, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, disse, para contrapor o argumento de Sheila Blair, de que todos os clientes do sistema estadunidense de seguros dos depósitos bancários (FDIC) poderiam frear a crise de setembro, com só os jogadores temerários perdendo ganhos que só poderiam esperar obter no seu sistema de crédito livre. “Se o sistema financeiro for autorizado a colapsar”, ele alertou, no seu discurso na Biblioteca Reagan, “é o povo americano que pagará o preço. Isso nunca se tratou de bancos, mas sempre de oportunidade e prosperidade continuada para todos os americanos”.

Mas é claro que se trata de bancos. Wall Street sabe que para ter votos suficientes no Congresso para destruir o New Deal, o Social Security, o Medicare e o Medicaid, é preciso ter um presidente democrata no comando. Um congresso democrata bloquearia qualquer tentativa republicana de fazer o tipo de corte que Obama está propondo. Mas a oposição democrática fica paralisada quando o próprio presidente Obama – o presidente liberal por excelência, o Tony Blair americano – age como o chefe de torcida para cortar direitos e outros gastos sociais.

Dessa maneira, assim como a City de London deu sustentação ao Partido Trabalhista inglês nas suas diretrizes, quando o Partido Conservador não poderia dar esses passos radicais, como privatizar as autoestradas e o metrô de Londres, e só os social democratas da Islândia puderam afundar a economia na vassalagem da dívida em relação a Inglaterra, a Holanda, e o Partido Socialista Grego está à frente da luta pela privatização e pelos resgates bancários, assim nos EUA o Partido Democrata está entregando sua base eleitoral – trabalho urbano, especialmente as minorias radicais e os pobres que são os mais injuriados pelo plano de austeridade de Obama – a Wall Street.

Portanto, Obama está fazendo o que qualquer bom demagogo faz: entregando seu eleitorado ao seus financiadores de campanha de Wall Street. Yves Smith chamou a isso de “a ida de Nixon a China ao contrário”.

Os republicanos retribuem sem pôr uma alternativa confiável na candidatura à sucessão presidencial. O efeito consiste em dar a Obama espaço para ele se mover à vontade para a direita do espectro político. Longe o suficiente dos seus democratas, que estão mais interessados em resgatar o Social Security, não dos republicanos.

Isso se faz mais facilmente sob a pressão do pânico próximo. Isso funcionou depois de setembro de 2008 com o programa de resgate bancário (TARP), afinal de contas. O melodrama do resgate de Wall Street deveria ser visto como um ensaio geral para a atual não crise do teto da dívida.

[1] Um neologismo corrente hoje nos EUA, derivado do todopoderoso Rubin, Secretário do Tesouro no governo Clinton, ex-executivo do ban co Goldman Sachs e homem chave na implementação das contra-reformas neoliberais nos EUA dos anos 90.

(*) Michael Hudson é ex-economista de Wall Street. Professor da Universidade do Missouri, Kansas City (UMKC), é autor de muitos livros, incluindo Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire (new ed., Pluto Press, 2002) and Trade, Development and Foreign Debt: A History of Theories of Polarization v. Convergence in the World Economy. Email: mh@michael-hudson.com


Tradução: Katarina Peixoto

Publicado originalmente em New Economic Perspectives

A ‘Disneylandia’ do filho de FHC


A perseguição da mídia a Lula e à sua família não terminou depois que ele deixou o poder. Desde a semana seguinte à posse de Dilma Rousseff, em janeiro, que os ataques ao ex-presidente miram todo e qualquer aspecto de sua vida particular – desde os valores que cobra para dar conferências (como faz seu antecessor Fernando Henrique Cardoso desde que deixou o poder) até as atividades privadas de seus familiares.
Essa perseguição obstinada, irrefreável e interminável acaba de ganhar mais um capítulo. Neste domingo, o jornal Folha de São Paulo expõe uma neta do ex-presidente-operário, Bia Lula, de 16 anos, que integra o elenco de uma peça de teatro que recebeu financiamento de 300 mil reais da operadora de telefonia OI. A matéria insinua que o financiamento só ocorreu devido à influência de Lula.
Este post, porém, não pretende questionar a função fiscalizadora da imprensa nas democracias e, sim, a seletividade nessa fiscalização. Não é ruim que a imprensa fiscalize a vida privada dos políticos desde que não faça isso em benefício de outros políticos, tornando-se partícipe do jogo político-partidário, o que lhe retira a credibilidade, razão pela qual esses conglomerados de mídia negam até a morte que têm qualquer preferência política.
Mas o que explica, então, que as atividades privadas dos filhos de um ex-presidente de determinado partido sejam devassadas dessa forma – não poupando nem uma garota de 16 anos ao lhe reproduzir a foto em uma matéria em que, ao fim e ao cabo, chama seu avô de ladrão (nas entrelinhas) – enquanto não acontece o mesmo com os negócios para lá de esquisitos do filho de FHC Paulo Henrique Cardoso, por exemplo?
Fico imaginando o que teria acontecido se Lula tivesse feito em relação ao seu filho o que fez o antecessor em relação ao dele, enquanto ambos  governavam…
Em 1996, Paulo Henrique Cardoso era casado com a filha do dono do Banco Nacional, cuja falência foi evitada por medida provisória editada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Aquela medida tornou possível a venda de parte boa do Banco Nacional para o Unibanco. A parte podre — de seis bilhões de dólares — ficou para o governo pagar. Este blogueiro se cansou de ler editoriais do Estadão defendendo a negociata.
Em 2000, dois anos antes de deixar o poder, FHC autorizou financiamento do seu governo à empresa do próprio filho, Paulo Henrique Cardoso, para montar o pavilhão brasileiro na Expo 2000 na Alemanha, na cidade de Hannover. Foram doados pelo governo federal, então, 14 milhões de reais. O Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal chiaram, inclusive. A imprensa, porém, deu algumas raras reportagens sobre o caso e nunca mais tocou no assunto, sobretudo depois que FHC deixou o poder.
A boa e velha hipocrisia da mídia dirá que tudo isso aconteceu faz tempo e tentará convencer os incautos de que naquela época foi feito um barulho sequer parecido com o que se faz hoje sob meras especulações e não sob fatos concretos como aqueles que pesavam sobre o filho do ex-presidente tucano. Contra Fábio Luís Lula da Silva, por exemplo, afirmam que financiamento da OI à empresa dele seria escandaloso. Mas alguém viu algum jornalista chamar de escandalosos os fatos sobre o filho de FHC?
E o pior é que PHC continua se metendo em negócios estranhos, para dizer o mínimo. A mídia deveria ter curiosidade sobre seus negócios porque seu pai é o líder máximo do maior partido de oposição, partido que controla governos estaduais poderosos como os de São Paulo (o mais rico do país) e Minas Gerais, sem falar da ascendência do ex-presidente sobre a grande mídia, o que faz dele político a ser agradado por empresas privadas.
Veja só, leitor, o negócio fechado no fim do ano passado pelo filho de um dos políticos mais poderosos e influentes do Brasil, um negócio sobre o qual a grande mídia não especulou nada, não quis saber nada e não publicou nada. Em 29 de novembro do ano passado a Rádio Disney estreou oficialmente no Brasil na frequência FM 91,3 MHz de São Paulo. A emissora foi negociada no começo do ano, quando a Walt Disney Company se uniu à Rádio Holding Ltda. e comprou a concessão. A Holding pertence a Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e detém 71% do negócio.
Walt Disney Company é um dos maiores grupos de mídia dos Estados Unidos e esse será o seu maior investimento no Brasil. Teve que se associar minoritariamente ao filho de FHC porque a legislação brasileira não permite que empresas estrangeiras controlem veículos de comunicação. Por isso precisa de um brasileiro…
O filho de Lula, dito “Lulinha” pela mídia, recebeu acusações explícitas e incessantes por receber financiamento de uma grande empresa. Por que foi diferente com o filho de FHC? O caso deles é bastante parecido, ora. Ambos têm sócios poderosos em empresas de comunicação – “Lulinha” produz conteúdo para uma televisão UHF e Paulo Henrique é sócio de um tubarão internacional numa rádio.
É injusto dizer que há irregularidades nesses negócios de familiares dos ex-presidentes. Para expor as famílias da forma como a Folha fez com a neta de Lula, deveria haver mais do que especulações. Tanto para a família do ex-presidente petista quanto para a do tucano. Os valores que eles cobram pelas palestras, idem. Mas se a mídia quer investigar, que faça com todos os políticos e não só com aqueles dos quais não gosta.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

PiG + Murdoch. Só você, navegante, nos salva !

Eles não calam a voz das ruas
Extraído da Carta Maior artigo do professor Venício A. de Lima:

Mídia: as mudanças virão das ruas


Venício Lima


Esperava-se que os acontecimentos envolvendo o tablóide “News of the World” – que se espraiam não só para outros veículos do News Corporation, mas também para outros grupos de mídia na Inglaterra e, talvez, em outros países – provocassem algum tipo de reflexão crítica por parte da grande mídia brasileira, seus parceiros e defensores.


O que temos visto, no entanto, é uma postura quase agressiva de, sem mais (1) atribuir o ocorrido a ação criminosa de apenas alguns indivíduos que não representariam um comportamento rotineiro da grande mídia; (2) insistir que os fatos não podem servir de exemplo para a defesa da regulação do setor ou comprovar a ineficiência da autorregulação; e (3) acusar aqueles que discordam de pretenderem amordaçar a imprensa e cercear a liberdade de expressão.


Na verdade, a postura da grande mídia brasileira e de seus parceiros e defensores não deveria constituir surpresa. O histórico de rejeição sistemática à democratização do setor e de recusa ao diálogo tem sido uma de suas características. Hoje, tornou-se trivial executivos dos grandes grupos midiáticos darem declarações e/ou entrevistas acusando dispositivos da Constituição de 88 de serem normas autoritárias e de censura. Mas, no caso presente, o grau de resistência a enxergar o óbvio – que tem sido objeto de reflexões em todo o planeta – é realmente assustador.


Questões sem resposta

Por que a idéia de qualquer regulação do setor, a exemplo do que existe em outros países democráticos, incomoda tanto a grande mídia brasileira?


Por que o único critério para aferir a universalidade da liberdade de expressão é a não interferência do Estado no mercado oligopolizado de mídia e não a pluralidade de vozes que tem acesso ao espaço público?


Por que, diante de qualquer proposta de regulação, ressurge o argumento clássico liberal de que o melhor remédio é sempre mais liberdade quando se sabe que esse remédio, muitas vezes, sufoca o debate público e impede a manifestação exatamente das vozes que se oporiam ao discurso dominante?


Por que o debate dessas questões continua interditado na grande mídia brasileira que oferece espaço apenas para seus parceiros e aliados e não enfrenta o contraditório de suas posições?


Onde está a resposta?

A resposta a essas questões talvez esteja no poder de facto que a grande mídia consegue articular em torno de si mesma. Seus interesses estão de tal forma imbricados com aqueles das oligarquias políticas e de setores empresariais que permanecem intocáveis. E mais: são apresentados e justificados publicamente em nome de liberdades que são bandeiras verdadeiras da democracia.


Infelizmente, continuamos muito distantes do verdadeiro exercício democrático. O liberalismo brasileiro sempre foi excludente e continua tendo pavor de qualquer tentativa republicana do Estado no sentido de permitir maior participação popular na formulação e fiscalização das políticas públicas, em particular, nas comunicações. Por isso a idéia dos conselhos de comunicação – nacional, estaduais e municipais – é combatida de forma tão virulenta.


A consciência que vem das ruas

O que a grande mídia não consegue mais controlar, todavia, é o aumento da consciência sobre a importância do direito à comunicação nas sociedades contemporâneas. A exemplo das explosões populares que tem ocorrido em outras partes do planeta, sintomas do fenômeno começam a ocorrer aqui mesmo na Terra de Santa Cruz, com a fundamental mediação tecnológica das TICs.


Para além do entretenimento culturalmente arraigado – simbolizado pelas novelas e pelo futebol – cada dia que passa, aumenta o número de brasileiros que se dão conta do imenso poder que ainda está na mão daqueles que controlam a grande mídia e que, historicamente, sonega e esconde as vozes e os interesses de milhões de outros brasileiros.


É o aumento dessa consciência que vem das ruas que explica as pequenas e importantes vitórias que a sociedade civil organizada começa finalmente a construir em níveis estadual e local. O melhor exemplo parece ser a aprovação pela Assembléia Legislativa da Bahia do Conselho Estadual de Comunicação Social – o primeiro do país – que deve ser instalado em agosto, com participação majoritária dos movimentos sociais e dos empresários. Existe possibilidade real de que outros conselhos, já previstos nas constituições estaduais, sejam instalados em breve.


Esse parece ser o único caminho possível para a democratização da comunicação no nosso país: a consciência da cidadania. Esse caminho independe da vontade da grande mídia e de seus parceiros e defensores. Esses continuarão encastelados na sua arrogância, cada dia mais distantes das vozes excluídas que vem das ruas e que, felizmente, não conseguem mais controlar.


A ver.


Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.

EUA: a miséria bate à porta

 
Mais de 5 milhões de lares perderam toda a riqueza desde 2005 nos EUA
5,6 milhões de lares, ou 15 milhões de pessoas, tiveram toda sua riqueza completamente destruída durante a primeira parte da queda econômica
Por Andre Damon, na Revista Fórum
Tradução de Idelber Avelar

O lar típico dos EUA perdeu 28% de sua riqueza durante a crise econômica, com um terço tendo sido completamente destruído, de acordo com uma recente análise de números do Census Bureau realizada pelo Centro de Pesquisas Pew, intitulada “A diferença de riqueza entre brancos, negros e hispânicos sobe a um nível recorde”.

O estudo focaliza as disparidades raciais, mas as descobertas mais assustadoras dizem respeito ao empobrecimento geral de todos os setores da população. A porcentagem de lares dos EUA que tem ativos de zero dólares ou abaixo—ou seja, que têm mais dívidas que posses—subiu de 15% em 2005 para 20% em 2009. Isso significa que 5,6 milhões de lares, ou 15 milhões de pessoas, tiveram toda sua riqueza completamente destruída durante a primeira parte da queda econômica. Estes números vêm de uma pesquisa do Census Bureau para 2005 e 2009.

O estudo mostrou que, depois de ajustes de inflação, a riqueza média dos lares dos EUA caiu de US$96.894 em 2005 para US$70.000 em 2009, uma queda de 28%. A maior parte disso é atribuível à queda vertiginosa no valor dos imóveis, que foi da ordem de 30% entre 2006 e 2009 e até maior desde então.

A queda no valor das casas se combinou com a queda nos salários. Entre 2005 e 2009, a média recebida pelos trabalhadores por hora caiu 5%, depois de ajustada a inflação, de acordo com o Ministério do Trabalho.

O endividamento tem crescido de forma tão rápida como a riqueza tem caído. Entre 2005 e 2009, as dívidas não asseguradas cresceram 33% para a população como um todo, mostrou o estudo. Enquanto isso, a parcela da riqueza em mãos dos 10% mais ricos cresceu de 49% em 2005 para 56% em 2009.

As minorias raciais receberam um golpe particularmente duro, incluindo-se aí a queda no valor das casas. A riqueza líquida do lar hispânico caiu 56%, de US$12.124 em 2005 a US$5.677 em 2009. O valor líquido dos lares negros também desabou, 53%. Entre os hispânicos, as dívidas não asseguradas subiram 47%.

O nível de desigualdade entre brancos, negros e hispânicos é hoje o maior dos últimos 25 anos, e sem dúvida é mais alto do que antes desses 25 anos. A diferenciação racial é parcialmente atribuível à geografia. Enquanto que os brancos viram o valor de suas casas cair 18% e os negros, 23%, o valor das casas dos hispânicos caiu em mais de 50%.

Como nota o relatório, “em 2005, mais de dois em cada cinco lares hispânicos ou asiáticos se encontrava no Arizona, Califórnia, Flórida, Michigan ou Nevada, os cinco estados com declínios mais agudos nos preços das casas”. Para os hispânicos que moram nesses estados, nota o relatório, os ativos médios caíram de US$51.464 em 2005 para US$6.375 em 2009, uma queda de 88%.

Essas divergências raciais, no entanto, mascaram o aumento mais fundamental da desigualdade entre as classes trabalhadoras e os ricos de todas as raças. O relatório nota que os 10% dos negros mais ricos controlam 67% de toda a riqueza daquele grupo, comparado com 59% antes da crise. Para os hispânicos, da mesma forma, os 10% mais ricos controlam 72% da riqueza em 2009, por oposição a 59% em 2005.

O número de desempregados, enquanto isso, subiu de 7,9 milhões para 15,2 milhões entre 2005 e 2009. O crescimento do desemprego também afetou as minorias desproporcionalmente. O desemprego tem afetado negros e hispânicos de forma desproporcional, com a taxa atualmente em 16,5% para os negros e 11,6% para os hispânicos.

A tremenda queda na riqueza tem tido um efeito transformador na sociedade estadunidense, contribuindo para milhões de execuções de hipotecas e falências pessoais. De acordo com os números da Realtytrac.com, houve 10 milhões de execuções de hipotecas entre 2005 e 2009.

Original A*Q*U*I
Leia mais em: O Esquerdopata

As duas faces de Dilma


É  bem menos simples do que parece decidir se foi boa ou ruim para a presidente Dilma Rousseff a declaração do ministro Nelson Jobim de que votou em José Serra na eleição do ano passado. Há pelo menos duas formas de entender o fato e nenhuma delas pode ser considerada tão melhor ou tão pior do que a outra.
O primeiro e previsível entendimento é o de que foi ruim para a presidente que ministro de pasta tão sensível tenha achado Serra mais competente do que a candidata do governo que ele integrava. Jobim teria sido imposto a Dilma pelo PMDB, o que faz dela uma líder fraca. Essa visão está sendo inflada pela mídia, pela oposição e por parte da militância petista.
O segundo entendimento é o de que foi bom para Dilma, pois tendo a prerrogativa de escolher qualquer um escolheu alguém com quem não tem afinidades políticas, priorizando supostas melhores condições que Jobim teria para exercer o cargo. Esse ponto de vista, por sua vez, agrada à parcela mais contente da militância petista.
É o mesmo tipo de situação em que a presidente está por conta da crise no Ministério dos Transportes. O governo seria um antro de corrupção e Dilma o estaria “limpando”, mas a mesma Dilma participou ativamente do governo anterior, que tinha o mesmo ministro recém-demitido, e nada fez. Isso apesar do cargo de chefe dos ministros.
Em ambos os casos, Dilma se equilibra entre a imagem de líder sem liderança e a de gestora corajosa e sóbria que prioriza sempre a decisão técnica mais adequada em detrimento das injunções políticas. A grande questão, porém, é: como o povo está vendo tudo isso?
A mídia diz que o povo está gostando da “limpeza” de Dilma. Enquanto isso, nas entrelinhas, vai dizendo que ela está limpando a própria sujeira. Contudo, ontem o Estadão publicou editorial que dizia que, neste governo, é proibido roubar, mas que no anterior era permitido.
A intenção de jogar Dilma contra Lula é mais do que evidente, apesar de que, sempre nas entrelinhas, a própria mídia considera remota a chance de a presidente romper com o padrinho político. Mas então por que está sempre colocando os dois em campos opostos?
Parece óbvio que os alvos desse discurso são justamente aqueles que o estão comprando, a  militância ou os simpatizantes do PT mais descontentes com o atual governo. A relação conturbada de Dilma com setores do próprio partido e até da base aliada é que são os alvos. Fica difícil imaginar, no entanto, que o povão esteja dando bola para isso.
O diabo é que a militância é a caixa de ressonância na sociedade. No curto prazo, não deve haver maior problema. Mas essa militância que foi tão requerida durante o governo Lula pode ser de novo lá na frente e, então, pode ter se dividido profunda e irremediavelmente. A economia terá que continuar bem forte, pois.
BLOG CIDADANIA EDU GUIM

Breivik ‘mora’ em Higienópolis e odeia ‘gente diferenciada’


Além da diferença óbvia quanto a métodos, alguém sabe explicar a diferença ideológica entre o terrorista norueguês Anders Behring Breivik e os três mil moradores do bairro paulistano de Higienópolis que não querem dividir espaços públicos do seu bairro – que bem poderia ser um Estado ou um país – com “gente diferenciada”?
Tenho visto pessoas que reconheceram o “direito” dos moradores do bairro paulistano de não quererem pessoas “diferenciadas” onde vivem criticarem Breivik por exigir o mesmo “direito”. No fundo, portanto, é tudo a mesma coisa: o incômodo com pessoas de outras etnias, de outros credos, nascidas em outras partes, é o mesmo.
Ah, mas alguém dirá que Breivik é racista porque criticou a miscigenação no Brasil. É mesmo, é? Então ele é diferente, por exemplo, dos paulistanos de classe média alta – e, sobretudo, dos ricos – dos bairros nobres de São Paulo que chamam nordestinos (negros e mestiços) de “baianos” e que os dizem “raça indolente e burra”?
Alguém aqui tem a coragem de negar que, durante a vida, conheceu várias pessoas do Sul e do Sudeste do Brasil – não só, mas principalmente – que chegam a pregar que não se dê emprego a “baianos” ou “paraíbas” porque pessoas que cabem nesse preconceito não seriam confiáveis, não teriam inteligência ou não gostariam de trabalhar?
Cena meio recente: durante comemoração do aniversário de uma moça de classe média em um amplo apartamento de um bairro nobre de São Paulo, grupo de sete pessoas (três homens e duas mulheres de meia idade, uma jovem e uma mulher idosa) conversam sobre separatismo. Isso mesmo: querem separar o Estado do resto do país.
A garota diz que não suporta “baianada”, ao que os mais velhos aderem. “Baianada” seriam os costumes de qualquer nordestino descendente de negros, sobretudo se tiver sotaque pronunciado. Fala-se da cultura (música, forma de se comunicar, gosto por roupas), mas não só. Sobretudo, falam sobre degenerescência genética.
Faça um teste: procure se lembrar de onde já leu ou ouviu “idéias” como a do extremista norueguês de direita Anders Breivik sobre etnias (cor da pele e traços físicos) ou sobre a cultura de outro povo.
Reflita: o demente europeu, ao dizer que a “mistura de raças” no Brasil é responsável pela nossa suposta “falta de coesão interna”, mentiu? Não é verdade que setores da sociedade brasileira não aceitam conviver ou sequer dar emprego a “baianos”, a “paraíbas” ou a “veados”?
Qual é a diferença entre Breivik e a deputada carioca Myriam Rios, que exibiu outra das características do congênere ideológico europeu, a homofobia, pregando que se neguem empregos a homossexuais? Quantas pessoas por aqui, da mesma forma que Breivik, concordaram, sobretudo na internet, com o “perigo gay” dito pela deputada?
Não é verdade que há falta de coesão no Brasil entre a etnia indo-européia, de um lado, e, por exemplo, a afro-brasileira de outro lado? Não é verdade que há uma intolerância aberta e assumida à orientação homossexual igualzinha à de Breivik?
Sim, resta a diferença de que a maioria desses setores da sociedade brasileira não transforma seus preconceitos contra “gente diferenciada” em ações violentas. Todavia, a maioria não é o todo, ou seja, há uma minoria capaz de ações como a do terrorista noruguês, no Brasil. E, apesar de ainda agir em baixa escala, age.
É provável que alguém como o psicopata norueguês que viva em Higienópolis e odeie “gente diferenciada” tenha assinado o manifesto dos moradores do bairro pedindo que o Estado não construísse uma estação de metrô ali para não atrair esse tipo de gente. Será então que Breivik mentiu sobre falta de coesão interna no Brasil?
Ele apenas constatou o preconceito de setor minoritário da sociedade brasileira que separa etnias e culturas, pois todos sabem onde negros, homossexuais e nordestinos não entram.  A solução é a lei ser dura com pessoas como aqueles três mil moradores de Higienópolis que, como Breivik, odeiam “gente diferenciada”.

Pesquisa Ibope feita neste mês e divulgada nesta quinta-feira diz que 55% dos brasileiros são contrários à união estável entre homossexuais. Diante da notícia, eclodiram matérias nas redes sociais da internet que dão a entender que a pesquisa é negativa para a causa dos homossexuais de lutarem por direitos iguais aos dos heterossexuais. Todavia, é exatamente o contrário.
Em primeiro lugar, há que se ter presente que há alguns anos seria impensável que quase metade da população brasileira (45%) fosse favorável a que homossexuais pudessem se unir legalmente num cartório. Além disso, a pesquisa, em meio a vários dados  inúteis, detectou um fato que este blog divulgou no post Os três níveis de homofobia faz pouco tempo.
De maneira geral, a pesquisa identifica que pessoas que aceitam melhor a orientação sexual alheia são as mulheres, os jovens e os mais escolarizados. Mais de 2 mil brasileiros de todas as regiões foram entrevistados seguindo cotas proporcionais por idade, sexo e classe de consumo.
O mais importante dos dados é o de que entre aqueles que estudaram só até a 4ª série do ensino fundamental 68% são contrários à união civil entre homossexuais, enquanto que  apenas 40% dos que têm nível superior são contrários ao direito. Ou seja: quanto menor a instrução, maior a homofobia. Cada vez mais fica provado que preconceito não passa de ignorância.
BLOG CIDADANIA EDUGUIM

Petrobras, Globo, Folha ou Estadão. QUE AÇÃO VOCÊ COMPRARIA????

Saiu no Valor, pág D5, entrevista de Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, sobre o plano de negócios que acabou de anunciar.

É um plano estratégico de US$ 225 bilhões.

Explica Gabrielli (que admite se candidatar a governador da Bahia em 2014):

- é o maior plano de investimentos em curso no mundo;

- é  dez anos de investimento da NASA;

- maior que o Plano Marshall;

- até 2020, com o pré-sal, a produção vai passar de 2 bilhões para 5 bilhões de barris;

- a Petrobras vai encomendar 65 sondas de perfuração acima de 2 mil metros de lâmina d’água (a frota mundial, hoje, é de 70);

- até 2015, a empresa vai encomendar (no Brasil) 658 embarcações, como o petroleiro “João Cândido”, o Almirante Negro, o primeiro a sair de Suape.

Como se sabe, o esporte preferido do PiG (*), desde Assis Chateaubriand e o Dr. Roberto, é boicotar a Petrobras.
Os colonistas (**) do PiG não sabem , mas são, apenas , a versão contemporânea, medíocre, de Roberto Campos que, quando presidia a UNE, o Cerra devia chamar de Bob Fields.
Bib Fields atacava diariamente a Petrobras em todos os jornais do PiG.
Chamava-a de “Petrossauro”.
Queria ver ele dizer isso, hoje, em Pernambuco.
No Globo, por exemplo,uma contrafação do Bob anunciou recentemente uma mudança radical nos quadros da Petrobras.
Nem o cabineiro do elevador da diretoria do Gabrielli seria mantido na reforma do Globo.
Amigo navegante, você, se tivesse um dinheirinho, compraria ações do Globo ?
Da Folha, que vai fechar o capital, em nome da transparência ?
Ou do Estadão, que a família Mesquita terceirizou aos credores ?
Ou do “Petrossauro” ?

Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (*) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

LULA DESARMOU A BOMBA DO SENADO PARA DILMA.

Virgílio, Tasso e Maciel: a elite jamais perdoará o Lula

Saiu no Valor, pág. A14:

“Governo ganhou todas as votações no Senado”

Levantamento mostra que estratégia de investir na eleição da casa deu resultado.

A média de apoio aos projetos do Governo fechou o semestre com 55% dos votantes.

Das 18 votações no plenário do Senado, o governo não perdeu uma sequer.

Na Câmara, o Governo teve 54% dos votos.

Como se sabe, o Nunca Dantes empenhou-se pessoalmente para derrotar Arthur Virgílio Cardoso, no Amazonas; Tasso Tenho Jatinho Porque Posso, no Ceará; e Marco Maciel – “o que ele fez por Pernambuco?”
 Senado era a caixa de eco do Golpe que emanava do PiG (*).
Ali Lula perdeu a CPMF.
Naquela operação conjunta do Farol de Alexandria, o presidente da FIE$P (**) e o Arthur Virgílio Cardoso, que prometeu dar uma surra no Lula.
Ali o atual governador de Goiás, Marcone Perillo, instalou a CPI da Petrobras do Álvaro Dias.
(Que se afogou com a P-36 do FHC.)
Ali se montou o Golpe do impeachment, com a desestruturação do Sarney para que Perillo assumisse a presidência e virasse a maçaneta da porta para o Golpe entrar.
O Senado poderia paralisar o Governo da Presidenta.
Há ainda uma fonte ininterrupta de instabilidade.
São as “crises” que o PiG monta, todo dia, e o Álvaro Dias repercute no Senado como se descobrisse a pólvora sempre que o galo canta.
Mas, incomoda menos que uma paralisação do Governo.
Salvou-a o Nunca Dantes.
Esse Nunca Dantes …
A elite jamais o perdoará.

Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Este Conversa Afiada chama a FIESP de FIE P. Sem o “s”. É uma tentativa de identificar o verdadeiro propósito da campanha da FIE P contra a CPMF. Apagar o “S” de “$”.

BRASILEIRO VOA COMO NUNCA. É O CAOS AÉREO. QUE HORROR!!!!!

Que horror !
Saiu no Estadão online:

Setor aéreo no Brasil se expande 19% no 1º semestre

País registra a maior expansão aérea em 2011, superando China, Estados Unidos e Europa


Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo

O Brasil registra a maior expansão aérea em 2011, superando China, Estados Unidos e Europa. Os dados são da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo).


Entre janeiro e junho, o número de passageiros no mercado doméstico brasileiro aumentou em 19%. No mundo, essa taxa foi de apenas 4%. Nos Estados Unidos, alta foi de 2,5%, e a China teve um crescimento de 7%.


Para a IATA, a maior renda do brasileiro é o principal motivo da expansão.

(…)

Risco de calote dos EUA faz mercados falarem em "cataclismo"



Os Estados Unidos estão a uma semana de serem obrigados a suspender os pagamentos à sua administração pública, aos veteranos de guerra e a credores estrangeiros se o governo Obama e o Partido Republicano não resolverem a queda de braço em torno do limite da dívida pública. Fundo Monetário Internacional e Wall Street falam em "cataclismo" de âmbito mundial se esse cenário se concretizar. A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB do país.

Existe a convicção de que as duas partes não irão até à ruptura mas reina o nervosismo nos mercados financeiros e respectivos símbolos, desde a diretora geral do FMI a Wall Street, que não hesitam em recorrer à palavra “cataclisma” de âmbito mundial se o cenário se concretizar.

São muitas as divergências entre Obama e os democratas de um lado e os republicanos, que dominam a Câmara dos Representantes, do outro. No entanto, que impede verdadeiramente o acordo é o calendário para integração do limite do déficit no orçamento. A Casa Branca insiste que a alteração deve fazer-se de uma só vez, válida até 2013, portanto já depois das eleições presidenciais do próximo ano. Os republicanos, através do presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, pretendem que a operação seja a dois tempos: um aumento até fevereiro ou março de 2012 e o outro até 2013.

Obama contesta porque, em seu entender, uma crise do mesmo tipo seria reaberta dentro de nove meses, praticamente já em plena campanha eleitoral; Boehner argumenta que o presidente “quer um cheque em branco”. Analistas políticos norte-americanos consideram que o duelo é uma verdadeira queda de braço com um conteúdo eleitoral em que ambas as partes testam reacções perante as suas próximas linhas econômicas e orçamentárias.

Na sequência de uma mensagem televisiva presidencial pedindo aos cidadãos para que pressionem seus representantes sobre a necessidade de se entenderem, Washington tem estado nas últimas horas sob uma tempestade de chamadas telefônicas e mails, sufocando comunicações, websites de representantes e agitando o Twitter através da campanha “Fuck You Washington”.

A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB, e, mais do que a definição do limite da dívida, o que divide os dois partidos do sistema de poder norte-americano são os conteúdos das reduções de gastos que devem acompanhar esse aumento. Os republicanos pretendem cortes entre 2,7 e 3 trilhões e os democratas vão até 1 trilhão contando com mais 1,2 trilhões que viriam da retirada de tropas do Afeganistão e do Iraque.

Os números nem sempre dão uma ideia da envergadura dos montantes envolvidos, o que levou um website a defini-la graficamente a partir da acumulação de notas de cem dólares de modo a perfazerem o total da dívida do Estado federal norte-americano. Os resultados podem ser encontrados aqui.

As agências de classificação de risco, que mantêm a dívida norte-americana sob pressão, consideram que sem cortes de despesas de 4 trilhões de dólares não haverá condições para travar a “indisciplina orçamentária”.

A imprensa norte-americana recorda que desde que o aumento da dívida norte-americana se tornou vertiginoso, a partir das administrações Reagan nos anos oitenta, os limites já foram alterados cerca de 40 vezes, o que torna inusitado o prolongamento da resistência republicana em relação ao teto. Alguns órgãos da imprensa europeia lembram também que os alargamentos dos limites das dúvidas públicas são frequentes em Estados da União Europeia, inclusivamente na Alemanha, que em 1949 estabeleceu na sua Constituição um limite para o déficit e logo deixou de cumprir essa norma.


Fotos: Visualização da dívida norte-americana em notas de 100 dólares. Foto Christopher Rasch/Flickr

O PONTO A QUE CHEGAMOS:O MUNDO NAS MÃOS DO TEA PARTY

Os republicanos querem manter Obama sob rédea curta e aprovar uma elevação do endividamento público dos EUA suficiente para mais seis meses à base de pão e água. Depois, negociam mais meia cuia de água. Assim por diante, até Obama chegar às eleições de 2012 como um cachorro velho, mudo e sem dente. Um cão arrastado pelo rabo. Mas a extrema direita do partido, meia centena de membros do Tea Party, acha pouco e entornou o caldo da votação do pacote conservador na Câmara, deixando as finanças do mundo de cabelos em pé. O Tea Party quer recolher Obama/'a gastança' na carrocinha e é já. Um clamor uníssino de vozes  cortou a narrativa dominante do Financial Times ao Globo, qualificando os indômitos seguidores de Sarah Palin de demenciais. É preciso cautela. O  Tea Paty pode ser tudo, mas não é um hospício encastoado na alavanca republicana que embalou Bush, concluiu a desregulação das finanças até o colapso de 2008, dizimou o Iraque, retalhou o Afeganistão e agora incendeia a Líbia, entre outras miudezas do ramo. O neonazista norueguês que encravou balas dum-dum nas vísceras de um pedaço da juventude progressista do seu país tampouco é um demente, como querem rapidamente resolver o caso certos veículos e personagens do conservadorismo urbi et orbi. Tea Patty e Andres Behring Breivik  são um produto refinado da história. De anos --décadas--  de ódios e pregação conservadora contra o Estado, contra a justiça fiscal; contra o pluralismo religioso; contra os valores que orientam a convivência compartilhada. Sobretudo, o princípio da igualdade e da solidariedade que norteia a destinação dos fundos públicos à universalização do amparo aos doentes, à velhice, aos desempregados, aos famintos, aos loosers brancos ou negros, nacionais ou imigrantes. Breivik e o Tea Party assimilaram o cânone.  Se agora escapam ao criador, louve-se a competência da madrassa  neoliberal. Na crise, ambos apenas confirmam a esférica densidade da formação que receberam e investem contra a desordem. Com fé no mercado e o dedo no gatilho.
(Carta Maior; 6º feira, 29/07/ 2011)

Paulo Pimenta: O uso político da imprensa

O uso político da imprensa
do deputado Paulo Pimenta, via e-mail
Na última sexta (22), o Jornal O Estado de São Paulo fez mau uso do jornalismo, ao trazer uma matéria tendenciosa aos seus leitores sobre a BR 448 no Rio Grande do Sul e a construção de moradias para as famílias que viviam no local por onde está sendo construída a rodovia.
Na corrida por manchetes, o Jornal Estado de São Paulo elaborou um grande factóide: “Petista do Dnit liberou R$ 30 milhões para prefeito aliado construir casas”.
No texto, o Jornal O Estado de São Paulo, sob tom de denúncia, tratava por irregularidade as exigências feitas pelo Governo Yeda Crusius para a construção da BR 448 no Rio Grande do Sul. Entre elas, a licença ambiental elaborada pela FEPAM, que só autorizaria a obra a partir da remoção com segurança das famílias da Vila Dique, local por onde passará a rodovia. O DNIT fez o repasse dos recursos para a Prefeitura de Canoas, que cedeu as áreas para a construção das novas residências.
Com um jornalismo superficial, sem comprometimento com a informação e por falta de conhecimento, o Jornal O Estado de São Paulo agiu de má-fe ou deixou-se manipular e usar politicamente, algo imperdoável no meio.
Dizia: “O dinheiro do contrato, celebrado em 2010 pelo prazo de dois anos, não é para melhoria de estradas. É destinado à construção de 599 unidades habitacionais para 2 mil sem-terra que ocupam a chamada “Vila do Dique”, um terreno próximo à construção da BR-448, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que liga Porto Alegre a outras cidades gaúchas. Dos R$ 30 milhões previstos, R$ 28 milhões são do Dnit”.
O que o Jornal O Estado de São Paulo omitiu é que a própria Constituição Federal previu a desapropriação nos casos de “necessidade ou utilidade pública” e “interesse social”. Aliás, talvez saiba sim! Talvez o equívoco tenha ocorrido por falta de disposição em sair do ar-condicionado das modernas redações e procurar conhecer mais de perto a realidade dos brasileiros. Hoje, as matérias são feitas por telefones, emails, a quilômetros de distância. E os eventuais equívocos não são por culpa dos avanços tecnológicos.
Ao ignorar alguns dos princípios básicos do jornalismo, como falta de apuração criteriosa e ao omitir de seus leitores o outro lado da história, para que os próprios fizessem suas análises, e não os induzindo a certas conclusões, o Jornal O Estado de São Paulo fez o que o próprio jornal e a grande imprensa brasileira vivem condenando: a falta de transparência e a omissão de quem pode contribuir para uma melhor formação no país.
Veja a verdade: